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J. Bras. Nefrol. 1996; 18(2): 143-145
E.David Neto / K.A. Abdallah - Infecção por CMV após transplante renal
Comentário Editorial
Infecção por CMV após o transplante renal:
hipótese comum de difícil comprovação
A infecção por CMV é extremamente comum após o transplante
renal e, em uma proporção de pacientes, muito grave com alta morbi-mortalidade quando não precocemente diagnosticada e tratada. Deste modo, todos os
esforços atuais são para um diagnóstico precoce e para a identificação de
fatores que prevejam se a doença tornar-se-á ou não invasiva e, portanto,
grave.
O estudo de Camargo et al. acompanha prospectivamente 20 pacientes nos primeiros 6 meses após o transplante renal com coletas seriadas de
sangue e urina, para cultura viral por “shell vial assay” (SVA) e sorologia
por ELISA, para o diagnóstico do CMV, estabelecendo a taxa de infecção e
analisando em conjunto as manifestações clínicas.
Os seus resultados confirmam que a infecção por CMV é praticamente universal no pós-Tx (90%) mas a doença não (10%). Novamente confirma-se que a virúria, embora frequente (83%), ocorre após os sintomas e não
prevê o desenvolvimento de doença e a sorologia detecta a infecção mas
muito tardiamente. 1 Portanto, os dados de SVA (virúria) ou sorologia são
pouco específicos para o CMV doença, e o SVA é pouco sensível no diagnóstico de viremia. 2,3
Curiosamente nenhuma viremia foi detectada pela técnica de SVA.
A literatura afirma que a viremia ocorre muito frequentemente, surge
antes dos sintomas e correlaciona-se com desenvolvimento posterior da doença e a gravidade desta. 2,4,5,6 A presença do vírus no sangue significa um
risco relativo: 7,1 vezes maior de desenvolver doença quando comparado a
apenas 2,1 e 1,8 vezes quando presente na urina e na saliva, respectivamente.
O vírus é isolado no sangue em média 16 dias antes do início dos sintomas.6
No entanto, a cultura pelo método de SVA mostra-se pobre no diagnóstico
precoce da viremia quando comparado ao PCR. 2
Também a antigenemia, método que consiste na contagem de células
polimorfonucleares positivas para antígenos virais (anticorpo monoclonal
contra o antígeno viral pp65-CMV), detecta viremia em 70% dos pacientes
transplantados. O surgimento abrupto de uma alta antigenemia se
correlaciona com o desenvolvimento de doença em 70% dos casos. A
antigenemia detecta o surgimento de doença antes dos sintomas, em 85%
dos casos e junto com o surgimento de doença no restante. 7, 3
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A detecção precoce de CMV parece estar dirigida ao reconhecimento
de antígenos virais no sangue (por ensaios de antigenemia ou PCR), 8,9 que
fornece respostas rápidas, com uma abordagem terapêutica precoce, reduzindo, então, o custo global da doença.
A redução da imunossupressão na fase aguda da doença, deve ser
ponderada. Na maioria das vezes, devido à leucopenia, suspende-se a
azatioprina e mantêm-se a ciclosporina e o corticóide, sendo discutível o
tratamento de episódios de rejeição.8 Estudos sem grupo controle mostram
que os pacientes que apresentam doença invasiva, beneficiaram-se de duas
a três semanas de tratamento com ganciclovir. 10,12 É também sugerida a
profilaxia com ganciclovir na viremia, na infecção primária e após o uso de
linfoglobulina (ATG ou OKT3). 8
Muito curiosamente, no trabalho de Camargo et al., ambos os pacientes que apresentaram doença, também apresentaram “herpes simples facial
extenso”, sendo que a associação do CMV infecção, com outros vírus de sua
família (Herpes simplex, Epstein-Barr e Varicella Zoster), foi recentemente descrita na literatura.13,14 A presença de infecção por vírus da família herpes deve
ser considerada como um marcador da infecção por CMV, mesmo
subclínica. 13
Elias David Neto
Assistente Doutor da Unidade de Transplante Renal do
Hospital das Clínicas - FMUSP
Kald Ali Abdallah
Pós-graduando da Unidade de Transplante Renal do
Hospital das Clínicas - FMUSP
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