1 SOCIEDADE BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA SOBRATI

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SOCIEDADE BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA
SOBRATI
MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM TERAPIA INTENSIVA
LIVIA MARTINS DANTAS
A ENFERMAGEM E OS CUIDADOS PALIATIVOS NA TERMINALIDADE EM UTI:
Revisão Bibliográfica
JOÃO PESSOA-PB
2014
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LIVIA MARTINS DANTAS
A ENFERMAGEM E OS CUIDADOS PALIATIVOS NA TERMINALIDADE EM UTI:
Revisão Bibliográfica
Tese de Mestrado apresentado à Sociedade Brasileira
de Terapia Intensiva- SOBRATI como requisito final
para conclusão do mestrado profissionalizante em
terapia intensiva.
Orientador: Professora Mestre Kércia Vitória de
Moura Rêgo.
JOÃO PESSOA-PB
2014
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DANTAS, L. M. A Enfermagem e os Cuidados Paliativos na Terminalidade em UTI:
Revisão Bibliográfica. 15 Págs. Tese de Mestrado orientada pela professora Mestre: Kércia
Vitória de Moura Rêgo. Mestrado Profissionalizante. João Pessoa, 2014.
LIVIA MARTINS DANTAS¹
KÉRCIA VITÓRIA DE MOURA RÊGO²
RESUMO
O objetivo deste estudo foi mostrar o avanço nas discussões na literatura sobre UTIs e a
enfermagem e os cuidados paliativos, além de contribuir para que estes sejam implementar na
forma de cuidar. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica feita através da busca eletrônica no
banco de dados SCIELO, abrangendo publicações nacionais no período de 2006 a 2014. Para
o levantamento dos artigos, foram utilizadas as palavras-chave “enfermagem”, “paciente
terminal”, “UTI” e “cuidados paliativos”, como descritores. Como critérios de inclusão foram
eleitas as publicações na forma de artigos. Identificou-se um total de 27 publicações, das
quais apenas 16 preenchiam os critérios de inclusão. Programas de cuidados paliativos têm
sido reconhecidos como estratégias fundamentais para melhorar a qualidade de vida de
pessoas, cujas doenças as levam a vivenciar a fase terminal. Controle dos sofrimentos físico,
emocional, espiritual e social é essencial nesta modalidade de cuidado, que tem a pessoa
doente, desde o diagnóstico até o momento da morte, como focos de atenção na busca pela
melhor qualidade de vida.
Descritores: Enfermagem. Paciente terminal. UTI. Cuidados paliativos.
ABSTRACT
The objective of this study was to raise articles on palliative cares whitin UTIs given by the
Nursing the patients in terminal phase and to describe the focus of these publications. One is
about a bibliographical research made through the electronic search in the data base SCIELO,
enclosing national publications in the period of 2006 the 2014. For the survey of articles,
nursing”, “terminal patient”, “UTI” e ““palliative” cares” had been used the word-key “and, as
describing. As inclusion criteria the publications in the article form had been elect. A total of
27 publications was identified, of which only 16 filled the inclusion criteria. Programs of
palliative cares have been recognized as basic strategies to improve the quality of life of
people, to whose they take them illnesses to live deeply the terminal phase. Control of the
sufferings physical, emotional, social spiritual and is essential in this modality of care, that
has the sick person, since the diagnosis until the moment of the death as focos of attention in
the search for the best quality of life.
Describers: Nursing. Terminal patient. UTI. Palliative cares.
Livia Martins Dantas¹ Enfermeira. Pós-graduada em Gestão em Saúde pela Universidade Estadual do Piauí. Mestranda em
Terapia Intensiva pela SOBRATI.
Kércia Vitória de Moura Rêgo² Enfermeira. Mestre em Terapia Intensiva pela SOBRATI. Especialista em Terapia Intensiva
pela UNINOVAFAPI.
4
SUMÁRIO
1.
INTRODUÇÃO .......................................................................................................05
1.1
Justificativa...............................................................................................................06
2.
OBJETIVOS...............................................................................................................07
3.
METODOLIGIA......................................................................................................07
4.
RESULTADOS E DISCUSSÃO..............................................................................08
4.1
Cuidados paliativos na UTI......................................................................................09
4.2
Enfermagem e o paciente Terminal..........................................................................10
5.
CONCLUSÃO...............................................................................................................13
REFERENCIAS.............................................................................................................14
5
1. INTRODUÇÃO
O verbo paliar, do latim palliare, pallium, significa em seu modo mais abrangente,
proteger, cobrir com capa. No entanto, paliar é mais usado no âmbito da saúde, como
sinônimo de aliviar provisoriamente, remediar, revestir de falsa aparência, dissimular, bem
como adiar, protelar. (HOUAISS, 2006).
Cuidados paliativos são aqueles que valorizam a vida dos pacientes e familiares,
ajudando-os a viver a doença na sua fase final, mediante a prevenção e alívio do sofrimento,
identificado precocemente. Estabelece, ainda, assistência ampla, com foco no tratamento da
dor e de outros problemas físicos, psicossociais e espirituais (WORLD HEALTH
ORGANIZATION, 2007).
O cuidar envolve atos humanos no processo de assistir ao indivíduo, à família ou à
comunidade, de tal forma, que envolve de maneira igualitária o relacionamento interpessoal
baseado em valores humanísticos e em conhecimento científico. O cuidar do outro por sua vez
apresenta procedimentos de maior complexidade do que a cura. Entretanto, apesar dessa
prática não ser prerrogativa de uma única profissão, inegavelmente a Enfermagem possui
mais oportunidade de efetivação do cuidar, em virtude de ser os profissionais que passam ás
24 horas do dia junto ao paciente (SILVA ; CAMPOS; PEREIRA, 2011).
Nesta proposta, a assistência de enfermagem é fundamental para o sucesso das
intervenções prestadas, pois os cuidados devem ser integrais, centrados nas necessidades do
paciente, com ações efetivas, respeitando a autonomia do paciente. Porém, é evidente a
carência de unidades hospitalares que possibilitem a oferta desse cuidado prestado de forma
individualizada, bem como uma notória deficiência no ensino ao tratar-se da atuação do
enfermeiro diante da temática “paciente terminal” (BARROS et al, 2012).
O paciente fora de possibilidades terapêuticas é rotulado como “terminal”. Isso traz a
falsa idéia de que nada mais pode ser feito. Porém, o paciente em fase terminal está vivo e
tem necessidades especiais que, se os profissionais de saúde estiverem dispostos a descobrir
quais são, podem ser atendidas e proporcionarão conforto durante essa vivência (SUSAKI;
SILVA; POSSARI, 2006).
Com o incremento das tecnologias na área da saúde, ao longo dos tempos, a morte do
indivíduo passou do ambiente domiciliar para hospitalar com o intuito de tentar evitar a morte
e promover maior tempo de sobrevida. No âmbito hospitalar é na Unidade de Terapia
Intensiva – UTI, que se concentra o maior número de pacientes críticos e dentre estes há
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pacientes com situações clínicas reversíveis, como também pacientes com doenças crônicas,
sem perspectiva terapêutica de cura e que evoluem para estágio de terminalidade.
No contexto da UTI, a luta pela vida de pacientes criticamente enfermos tem sido
permeada por técnicas e aparatos tecnológicos especializados, porém diante da terminalidade
há evidências do despreparo de profissionais ao implementar ações que se sobrepõe ao
conforto do paciente que está morrendo, com condutas fúteis que só lhe causam dor e
prolongamento do sofrimento (BARROS et al, 2012).
O enfermeiro acompanha e participa desse processo inevitável da vida chamado morte,
prestando cuidados de enfermagem de qualidade e ao mesmo tempo vivenciando angústias,
desconforto, insegurança de pacientes e familiares até que finalize o ciclo vital. A morte é
uma possibilidade presente na vida de todos, principalmente em pacientes com estado de
saúde grave nas UTIs. Para Associação de Medicina Intensiva Brasileira AMIB (2009, p.3)
“Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é uma unidade destinada à internação de pacientes
graves, que requerem atenção profissional contínua, materiais específicos e monitorização”
(SILVA et al, 2014).
Apesar do debate, de âmbito mundial, visando à definição do melhor atendimento ao
paciente com doença terminal, esse questionamento ainda permanece sem resposta definitiva.
Porém não há dúvidas que as práticas de final de vida devem priorizar o melhor interesse do
paciente, respeitando seus sentimentos e desejos de seus familiares e a adequada comunicação
entre todos os envolvidos no processo (MORITZ, et al., 2009).
1.1 Justificativa
Os complexos problemas que emergem com os cuidados no fim da vida dentro de
UTIs colocam-nos diante da necessidade de aprofundar o debate em torno deste momento
crítico da existência humana.
Os cuidados paliativos, por terem pouca articulação nacional, têm pela frente um
árduo caminho de legitimação em nosso país.
Os cuidados paliativos têm como objetivo a prevenção e o alívio do sofrimento,
melhorando a comunicação e o sinergismo com a terapêutica curativa. Esta filosofia de
tratamento conjuga os valores dos pacientes e de seus familiares, facilitando as transferências
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entre os vários setores intra-hospitalares, que possam estar conduzindo um paciente com
grave risco de vida.
Apesar de ainda estar se desenvolvendo em todo o mundo, os cuidados paliativos estão
progressivamente integrando-se aos cuidados curativos.
Entretanto, várias evidências têm demonstrado que esta abordagem ainda precisa
melhorar, seja para os pacientes com sintomas de desconforto significativos ou dores físicas,
ou na percepção dos familiares, que também é falha, sobretudo no que concerne às
recomendações básicas como as intervenções diagnósticas, prognósticas e terapêuticas.
2. OBJETIVOS
Desta forma, os objetivos do presente estudo são: mostrar o avanço nas discussões na
literatura sobre UTIs e a enfermagem e cuidados paliativos, além de contribuir para que estes
sejam implementados na forma do cuidar.
3. METODOLOGIA
O presente trabalho utiliza o referencial da pesquisa bibliográfica como meio de
obtenção de dados relativos ao assunto em discussão. Para a elaboração do estudo, seguiu-se o
percurso metodológico sugerido por Marconi et al. (2000), que consiste nos seguintes passos:
escolha do tema; elaboração do plano de trabalho; identificação; localização; compilação;
fichamento; análise e interpretação; redação.
A busca eletrônica foi feita no SCIELO (Scientific Eletronic Library Online),
abrangendo apenas publicações nacionais feitas no período de 2006 a 2014. Para o
levantamento dos artigos, foram utilizadas as palavras-chave “enfermagem”, “UTI”, “paciente
terminal” e “cuidados paliativos”, usadas isoladamente e em combinação como descritores.
Como critérios de inclusão foram eleitas as publicações na forma de artigos (ensaio, revisão,
pesquisa, relato de experiência e estudo de caso), independentemente da formação
profissional do autor, publicados no período de 2006 a 2014. Ao utilizar as palavras-chave
citadas no banco de dados SCIELO, encontraram-se 27 trabalhos publicados no período
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escolhido, mas ao analisar as listas de referências, realizando a leitura seletiva dos artigos,
somente 16 trabalhos se enquadraram nos objetivos do presente estudo. Foi utilizado como
fonte de pesquisa também um livro que aborda questões metodológicas para melhor
confecção de uma revisão bibliográfica. A análise se deu através da construção subjetiva dos
principais focos apresentados nas publicações selecionadas.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dos 16 artigos selecionados a partir do banco de dados SCIELO, verificou-se que
todos tratam os cuidados paliativos como uma abordagem que melhora a qualidade de vida
dos indivíduos e familiares na presença de doenças terminais dentro de uma UTI.
Aspectos culturais, associados aos fatores sociais, como a dificuldade do tratamento de
um doente terminal em seu lar, levaram à morte institucionalizada. No mundo atual, mais de
70% dos óbitos ocorrem nos hospitais e, mais especificamente nas Unidades de Terapia
Intensiva (UTIs) (MORITZ et al., 2008).
A Organização Mundial da Saúde (OMS) conceitua cuidados paliativos como uma
abordagem que visa melhorar a qualidade de vida dos pacientes e de suas famílias ao
enfrentar problemas associados a doenças terminais. Essa abordagem é realizada por meio da
identificação precoce, avaliação religiosa e alívio da dor com base nos aspectos de ordem
física, espiritual e psicossocial.
O cuidado paliativo preocupa-se com as necessidades do paciente e não com o seu
diagnóstico. São cuidados integrais aos pacientes e familiares, realizados por profissionais
membros de uma equipe multidisciplinar, todos com sua importância, já que tal cuidado
planeja diminuir o sofrimento humano (BRASIL, 2008)
Os cuidados prestados a pacientes sem possibilidades de cura terapêutica integram
uma proposta de assistência humanizada. Neste sentido, o paciente deverá ter sua dor
amenizada, seu bem-estar priorizado e suas crenças consideradas, para que ele possa aceitar
sua condição como um processo natural da finitude. Para tanto, é indispensável que todas as
ações terapêuticas sejam planejadas com a participação do paciente, família e da equipe de
saúde (BARROS et al, 2012).
Ao tratar do tema, as publicações são unânimes em afirmar que estes cuidados
baseiam em seis princípios: valorizar a vida e considerar a morte como um processo natural;
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não acelerar a morte nem prolongar a vida; promover alívio da dor e outros sintomas; integrar
aspectos psicossociais e espirituais; prover suporte para a família durante a doença e no
período de luto.
No Brasil dispomos de poucas unidades dedicadas aos cuidados paliativos dentro de
hospitais. O pioneiro foi iniciado em 1983, pela Dra. Miriam Martelete, do Departamento de
Anestesiologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Em
1986, na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, surgiu o Serviço de Dor e Cuidados
Paliativos (FILHO et al., 2008).
4.1 Cuidados paliativos na UTI
A UTI tem sido palco da terminalidade humana nos dias atuais, decorrente dos
avanços técnico-científicos que permeiam esta assistência. No entanto, diante de sua
característica de resgatar vidas, há um indiscutível conflito entre a obstinação terapêutica e a
prática dos cuidados paliativos neste cenário, principalmente pela dificuldade da equipe de
profissionais intensivistas e dos familiares do paciente de reconhecer que este não tem mais
perspectivas de cura e que agora precisa de cuidados que o possibilite ter uma morte digna,
respeitosa e confortável (BARROS et al, 2012).
A UTI foi criada e mantém-se com o objetivo de concentrar três componentes críticos:
os doentes mais graves, o equipamento técnico mais caro e sofisticado e a equipe com
conhecimento e experiência para cuidar desses pacientes e lidar com essa aparelhagem
específica.
O emprego dos avanços tecnológicos na manutenção da vida do paciente internado na
terapia intensiva necessita de um repensar por parte da equipe que atua nesse setor. Deve ser
levado em conta, até que ponto estes avanços tecnológicos são benéficos para o paciente e
seus familiares. Não se trata de afastar a tecnologia no processo assistencial nas UTIs, mas o
que merece ser enfocado é a maneira do emprego desses recursos de forma mais ética,
humana e paliativista, percebendo o paciente em todas as suas dimensões, respeitando os
limites de intervenções terapêuticas e a autonomia do paciente.
Apesar de existir nas UTIs muitos pacientes com potencial de recuperação, há aqueles
mais graves com baixas perspectivas e que necessitam de um cuidado e um tratamento
adequado no final de suas vidas.
10
Têm sido cada vez mais discutidos os códigos civis em relação à autonomia dos
pacientes, onde se conclui que o paciente tem o direito de escolher ser ou não submetido a
tratamentos quando seu estado está crítico, sem grandes chances de cura (SANTANA et al,
2012)
Nas UTIs existem três fases no processo da assistência com recomendações quanto aos
cuidados paliativos a serem prestados a todos os pacientes admitidos na unidade. Na primeira
fase o paciente apresenta uma condição clínica na qual a equipe percebe uma maior
possibilidade para recuperação do que para o desfecho de morte ou para a condição de
irreversibilidade. Na segunda fase percebe-se uma falta de respostas ou uma resposta
insuficiente aos recursos utilizados, com uma crescente tendência ao desfecho de morte ou
irreversibilidade e na terceira fase é reconhecida a irreversibilidade da doença e morte
eminente, aceitando o desfecho para a morte.
Os cuidados paliativos em ambientes intensivos devem ser aplicados em todas as
fases, é importante manter os cuidados individualizados, suficientes para garantir o tratamento
físico, psicoemocional e sociocultural do binômio paciente-família, respeitadas as
perspectivas bioéticas, deontológicas e legais (SANTANA et al, 2012).
O enfoque maior dos cuidados paliativos não é a “cura” da doença, e sim acrescentar
qualidade de vida para os pacientes em fase terminal na terapia intensiva. Dessa maneira, são
evitados tratamentos que prolonguem a vida desnecessariamente, tais como: procedimentos
invasivos e dolorosos, exames desnecessários. Os profissionais envolvidos nesse cuidado
devem dar a esses pacientes apoio emocional, psicológico e espiritual, amenizando a dor,
melhorando os sintomas e diminuindo o sofrimento, tanto do doente quanto da família
(FALCO et al, 2012)
Refletir sobre a importância da comunicação em cuidados paliativos é resgatar as
ações afetivas em um ambiente de saúde em que o seu fazer é pautado em ações efetivas e, em
relação à UTI, ancorado no aparato tecnológico.
Os cuidados paliativos na UTI devem ter suas ações terapêuticas planejadas com a
participação da equipe, do paciente e de seus familiares, devendo manter uma forma adequada
de comunicação. Deve ser oferecido apoio aos familiares e flexibilização no horário de visitas
ou permissão para que um acompanhante permaneça com a pessoa doente, caso seja o seu
desejo. Todas as ações visam ao conforto e ao bem-estar do paciente (FALCO et al, 2012)
4.2 A Enfermagem e o paciente terminal
11
É errônea a suposição de que não há mais nada a se fazer pelo paciente sem
possibilidades de cura: enquanto há vida, existe a necessidade do cuidado de enfermagem.
Neste sentido, a atuação da equipe de enfermagem é primordial e indispensável para
proporcionar o máximo de conforto ao paciente sob cuidados paliativos, ajudando-o a
vivenciar o processo de morrer com dignidade, para que utilize, da melhor forma possível, o
tempo que lhe resta. Isto significa ajudar o ser humano a buscar qualidade de vida, quando
não é mais possível acrescer quantidade (ARAÚJO; SILVA, 2006)
Este é um desafio para as equipes de saúde responsáveis pelos cuidados paliativos,
pois elas devem promover mudanças no sentido de abandonar sua visão paternalista de que é
a detentora do saber e única responsável pela tomada de decisões. Elas devem, então, inserir o
paciente e a família no processo, adotando-se uma abordagem mais participativa e simétrica,
possibilitando que estes possam propor intervenções que melhorem aspectos da qualidade de
suas vidas. (REMEDI et al., 2007)
Algumas das publicações antagonizam cuidados paliativos dos cuidados curativos,
afirmando que o cuidado paliativo distingue-se do curativo pela noção médica de paciente
“terminal” ou “fora de possibilidades terapêuticas”, porém outras fontes deixam claro que o
maior desafio dos cuidados paliativos é integrar-se aos curativos e que podem e devem ser
oferecidos concomitantemente, pois não são excludentes para a prevenção e tratamento do
sofrimento de pacientes e seus familiares.
Portanto, uma das consequências da utilização do modelo médico predominantemente
curativo para pacientes com doenças avançadas e terminais é a perpetuação de intervenções e
de tratamentos que não agregam benefícios substanciais para estes pacientes.
Nos artigos pesquisados há um consenso no tocante à necessidade de implantação ou
de aperfeiçoamento de um programa específico para cuidados paliativos em instituições
hospitalares ou não. De acordo com Silva; Hortale (2006), quando não inseridos em uma
instituição hospitalar, os programas de cuidados paliativos podem estar inseridos em asilos,
casas de repouso, moradias assistidas, clínicas e no domicílio (home care). Porém todos os
artigos são enfáticos em afirmar que modelos de programas para adultos não são considerados
adequados para atender às necessidades de crianças e adolescentes.
Já no contexto da interdisciplinaridade, é imprescindível que haja interação de
pessoas, com linguagem e objetivos comuns, reconhecimento de possíveis diferenças,
12
domínio de conteúdos específicos e síntese das questões abordadas, por meio de troca de
saberes e opiniões entre as competências (BENARROZ et al., 2009).
Para Salamonde et al. (2006), os cuidados paliativos exigem um tipo de
acompanhamento feito por uma equipe multiprofissional (anestesiologistas, psiquiatras,
clínicos, psicólogos, fisioterapeutas, enfermeiros, assistentes sociais, farmacêuticos) com o
objetivo de proporcionar melhor qualidade de vida ao paciente. Postulam a qualidade do
viver, em confronto com a quantidade de vida, objetivando uma diminuição do sofrimento. O
grau progressivo da dependência física, que acompanha o avanço da doença (perda da
mobilidade, alterações urinárias), piora a dificuldade em lidar com a dor, influenciando de
forma negativa a sua qualidade de vida.
Mas a discussão atual não se limita ao que foi posto pelo autor anteriormente, e voltase para a possibilidade de entender cuidados paliativos como um conceito que permeia todo o
cuidado, ou seja, do diagnóstico à morte, incluindo o processo de luto, compreendendo-se
então, que os cuidados paliativos transcendem um modelo assistencial, pois descrevem uma
abordagem holística.
Nos cuidados paliativos a ação não é movida apenas pela competência técnicocientífica, apoiada no processo diagnóstico e terapêutico; a ação é, também, determinada por
questões políticas, éticas, culturais, sociais e subjetivas. Assim, o desafio das equipes é
encontrar no trabalho cotidiano, junto aos que recebem cuidados paliativos, um equilíbrio
harmonioso entre a razão e a emoção (SILVA; HORTALE, 2006)
Os textos enfatizam também a importância da autonomia do paciente terminal na
elaboração do seu próprio programa de cuidados. Oliveira et al. (2006), afirma que a
autonomia do paciente é um direito que pouco faz parte da história da ética médica, pois a
idéia que norteava os médicos no início do século XIX, é a de que eles é que decidiam o que
devia ser feito e só a partir do segundo terço do século XX que os códigos de deontologia
médica e de enfermagem indicam a obrigação do profissional de conseguir o consentimento
do doente e, portanto, de informá-lo previamente.
Desta forma, ao não aceitar a autonomia dos pacientes fora de possibilidades
terapêuticas e agir segundo os próprios preconceitos religiosos e pessoais, o enfermeiro
reproduzirá o que foi denominado “próprio referencial”, de forma a limitar a possibilidade de
individualização
do
cuidado,
o
que
produz
a
descaracterização
do
doente
e,
consequentemente, as falhas observadas no respeito à sua autonomia, além de configurar-se
13
como um obstáculo à operacionalização prática dos cuidados paliativos. Então, se faz
necessário trazer à consciência que a participação do paciente no tratamento é de fundamental
importância, pois o tratamento não pertence aos profissionais de saúde, mas sim, ao próprio
paciente.
Ao valorizar o processo de comunicação entre a equipe de saúde e o paciente terminal
Araújo; Silva (2006), afirmam que manter o otimismo não significa que conversas sérias ou a
expressão de sentimentos negativos ou pessimistas não devam ocorrer. Essas situações podem
e devem acontecer, mas precisam ser seguidas pela busca construtiva e partilhada do lado
positivo da situação. No entanto, alguns dos estudos mostraram que profissionais de saúde
estão fechados à comunicação quando se sentem incapazes de oferecer ajuda prática ou
quando percebem sua incapacidade em administrar a preocupação do paciente.
Portanto, manter a esperança e o otimismo sem mentir, fingir ou ignorar as reais
preocupações e riscos do paciente sem possibilidades de cura e seus familiares é,
provavelmente, um dos aspectos mais difíceis do trabalho da enfermagem ao cuidar destes
doentes.
Quintana et al. (2006), dizem que o despreparo da equipe de saúde para lidar com
situações de terminalidade tem duas consequências para os profissionais. A primeira
representa a sensação de fracasso do que seria a sua missão: curar o doente, do qual decorre o
abandono do paciente a seu próprio destino. A segunda consequência se manifesta no
afastamento que impede o profissional de conhecer o universo desse paciente, suas queixas,
suas esperanças e desesperanças, em suma, tudo o que ele sente e pensa nesse período de sua
vida e cujo conhecimento o ajudaria a se aproximar do terminal.
Estes fatos tornam-se preocupantes ao lembrar-se que o enfermeiro e sua equipe são os
profissionais da área de saúde que interagem mais direta e constantemente com o paciente
durante sua estadia em uma instituição hospitalar.
5. CONCLUSÃO
À conclusão deste trabalho, identificamos que o foco das publicações está voltado ao
como devem ser prestados os cuidados paliativos nas Unidades de Terapia Intensiva, deixando
evidente por parte da equipe de saúde e de gestores, na elaboração de um programa efetivo
14
para a prática dos cuidados paliativos no Brasil. Esta prática, quando executada, é feita de
forma não sistematizada, negligente, discriminativa e até mesmo empírica.
Os estudos demonstram que os profissionais priorizam um cuidado humanizado aos
pacientes terminais, proporcionando uma melhor qualidade de vida ao tempo que lhe restam,
porem por não estarem totalmente preparados para o enfrentamento da morte, esse cuidado
pode ser confundido com sentimentos pessoais.
Foi possível observar que os cuidados paliativos são reconhecidos como uma
importante questão de Saúde Pública, pois envolve o sofrimento, a dignidade, o cuidado das
necessidades humanas e qualidade de vida das pessoas afetadas por uma doença crônica e
degenerativa ou que está em fase final de vida. Com isso a preocupação deve ser não só com o
paciente que está sob nossos cuidados, mas também com seus familiares.
Chama à atenção nos trabalhos a supervalorização dada aos cuidados técnicos, em
detrimento de um cuidado envolvendo as dimensões psicosocioespirituais. Vale ressaltar que
o conteúdo programático fornecido por muitas graduações multiprofissionais não integra de
forma significativa todos os conhecimentos necessários ao cuidado destes pacientes fora da
possibilidade de cura e que portanto venham a requerer cuidados paliativos.
Ressaltamos a urgência de se intensificar as investigações sobre estes cuidados para
pacientes terminais, com objetivo de trazer subsídios que permitam viabilizar a introdução
dessa ação nos serviços de saúde, e ainda, que os gestores e produtores de políticas públicas
utilizem evidências científicas no planejamento dessas ações em saúde.
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