De onde vem o sal?

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Prática Pedagógica
De onde vem o sal?
Pesquisar o caminho do composto até a mesa tem tudo a
ver com dois conteúdos: o ciclo da água e a separação de
misturas
Camila Camilo
As respostas dos alunos para a pergunta do
título desta reportagem costumam ser as mais
diversas. No 5º ano da EEEF Doutor Aristides
Alexandre Campos, em Cachoeiro do
Itapemirim, a 139 quilômetros de Vitória, por
exemplo, os estudantes disseram à professora
Kátia Chiotto que o sal era inventado e
produzido pelo homem em indústrias. "Eles
não sabiam que se tratava de algo natural
nem como era extraído do ambiente."
Na EEEF Doutor Aristides Alexandre
Campos, as crianças compararam o sal
grosso e o refinado para pesquisar o
processo industrial do produto
Flávia Pereira Lima, professora de Ciências do
Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à
Educação da Universidade Federal de Goiás
(UFG), conta que uma menina do 5º ano
respondeu à mesma questão dizendo que um
grande navio ia até o fundo do oceano e sugava o sal nas profundezas. Outra
criança disse achar que a água do mar batia nas pedras do litoral e, com isso,
fazia furinhos, de onde o sal saía. Esses dois pensamentos indicam que a
meninada já conhece algo sobre a água do mar e a relaciona com a obtenção
do produto. De fato, existem milhões de toneladas desse mineral nos
oceanos, originário do processo de desgaste das rochas.
Como você pode notar, conhecer a origem e qual o caminho do sal até ele
chegar à mesa não é óbvio para os alunos. No entanto, as ideias que eles têm
podem revelar bons pontos de partida. Por isso, sondar o que a turma pensa
a respeito é essencial antes de começar a expor o conteúdo.
Mas por que vale explorar o assunto em sala? A validade do tema não se
encerra nele: um trabalho bem feito envolve conceitos estruturantes da
disciplina de Ciências. Dentre eles, o ciclo da água, a separação de misturas e
os estados físicos da matéria (sólido, líquido e gasoso), além das
transformações.
Vejamos: o sal usado no preparo de alimentos tem origem no mar. Está
diluído na água (por isso ela é salgada) e, de maneira simplificada, é por meio
da evaporação, ou seja, da separação da mistura formada por sal (sólido) e
água (líquida), que o homem obtém o produto.
Mais que planejar momentos de pesquisa a fim de que os estudantes
busquem informações sobre todo esse processo, é interessante proporcionar
o estudo na prática. Confira três sugestões de experiências para fazer com as
crianças nos quadros à direita e na página seguinte. Elas foram sugeridas por
Mara Rosana Cassas, pedagoga responsável pelo Laboratório de Ciências do
Fundamental I do Colégio Santo Américo, em São Paulo. "São ótimas
oportunidades para os alunos investigarem a relação do sal e de outros
materiais, como o açúcar e o óleo, com a água. A turma levanta hipóteses,
observando as ocorrências, toma notas e formula conclusões", diz Mara.
Todas as propostas são simples de serem realizadas e requerem ingredientes
caseiros.
Experiência 1
O que é capaz de se dissolver na água?
Proponha que os alunos analisem três misturas e as comparem à água do mar. O
sal e o açúcar, solúveis em água, dissolvem. O gesso não. Pastoso, ele fica no
fundo do recipiente.
Caso A: 2 copos
plásticos (de café)
de água e 1 colher
(de café) rasa de
sal. (à esq.)
Caso B: 2 copos
plásticos (de café) de água e 1 colher (de café rasa) de açúcar. (centro)
Caso C: 2 copos plásticos (de café) de água e 1 colher (de café) rasa de gesso.
(dir.)
Alunos precisam se apropriar do conceito de evaporação
Na EEEF Doutor Aristides Alexandre Campos,
depois de perguntar às crianças o que elas já
sabiam sobre a origem do sal, Kátia
apresentou o vídeo De Onde Vem o Sal?. Ao
assisti-lo, todas elas puderam conhecer a
cadeia completa de obtenção do composto,
desde as salinas - local onde ocorre a
evaporação da água do mar - até a chegada ao
mercado, passando pelas mais diversas etapas
industriais - dentre elas, a lavagem (exclusão
das impurezas), a centrifugação
Para compreender o processo de
obtenção do sal até o refino, a turma
assistiu a um vídeo e pesquisou o assunto
em textos informativos
(homogeneização do produto) e a secagem, a
aproximadamente 400 OC (eliminação da
água).
A professora também levou para a sala textos
informativos, fotos de salinas e de montanhas de sal na Região Nordeste,
além de sal grosso (mais próximo da forma natural) - e refinado. O objetivo
era fazer a criançada estudar mais sobre o tema e tirar eventuais dúvidas. "O
grupo aprendeu que o processo industrial tem como objetivo preparar o
composto a fim de que ele possa ser usado na alimentação", explica Kátia.
Na avaliação do que as crianças haviam aprendido, a educadora observou
que elas sabiam descrever o caminho feito pelo sal, do mar à mesa, e que
nesse processo ocorre a evaporação da água. É esperado que a meninada
não só compreenda o conceito de evaporação como também o utilize em
falas (um termo usado em muitos temas estudados até o Ensino Médio).
"Dizer que a água desaparece no ar é pouco", diz Flávia.
Vale destacar que o mais importante de tudo isso é que os alunos
abandonaram as suposições que tinham e se apropriaram da explicação
científica a respeito do tema, uma mudança significativa para tantas outras
investigações que são realizadas na escola.
É possível complementar o trabalho explorando outros dois pontos com os
estudantes. O primeiro tem a ver com o sal-gema. Diferentemente do
misturado à água do oceano, ele é encontrado em depósitos continentais,
formados pela evaporação da água salgada de lagos e mares que existiram
há milhares de anos. Vale propor uma pesquisa a respeito: ele pode ser
usado na alimentação? No território brasileiro, existem locais para a extração
desse tipo específico de sal?
O segundo tem a ver com o fenômeno causado pela grande quantidade de
sal na água em alguns lugares, como no mar Morto, na Ásia. Lá, a
concentração é cerca de dez vezes maior do que a dos oceanos, o que
impede que os corpos afundem. Que tal simular esse cenário? Mara diz que
basta colocar um ovo cru em um copo com água e acrescentar sal aos
poucos. Peça que todos observem. Inicialmente, o ovo fica no fundo do copo.
Depois, passa a boiar. Questione o motivo. Nessa etapa da escolaridade, não
é necessário mencionar detalhes sobre a densidade (relação entre massa e
volume). O essencial é que a turma conclua que é a grande concentração de
sal que provoca a mudança.
Experiências 2 e 3
O que é capaz de se misturar à água? E o que acontece quando a água
evapora?
Peça que as crianças analisem três misturas, desta vez, com líquidos. Nos casos
A e C, o corante e o álcool, respectivamente, se misturam com a água por
completo. Já o óleo, no caso B, não. A mistura fica dividida em duas partes: a
água na parte inferior do recipiente e, o óleo, na superfície.
Caso A: 1/2 colher
(de café) de corante
e 2 copos plásticos
(de café) de água.
(à esq.)
Caso B: 2 colheres
(de café) de óleo de
cozinha ou azeite e 2 copos (de café) de água. (centro)
Caso C: 2 colheres (de café) de álcool e 2 copos (de café) de água.(dir.)
Solicite que os estudantes observem uma mistura de sal e água, que deve
permanecer em repouso por 3 dias ou até que a água evapore por completo.
Vale pedir que todos tomem notas individualmente, dia após dia. Ao fim do
período, no fundo do pote, resta o sal. Com a ajuda de uma lupa, é possível
observar melhor os cristais desse composto. Peça que a criançada relacione o
experimento com o processo que ocorre nas salinas.
Caso: 1 colher (de café) de sal, 2 copos (de café) com água
e 1 lupa (opcional).
Endereço da página:
https://novaescola.org.br/conteudo/2056/de-onde-vem-o-sal
Links da página
http://abr.io/origem_sal
Publicado em NOVA ESCOLA Edição 257, 01 de Novembro de 2012
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