SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE PROGRAMA DE APRIMORAMENTO PROFISSIONAL FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA FERNANDA GUERRA BERTI SUICÍDIO NA ADOLESCÊNCIA: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA MARÍLIA 2010 1 SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE PROGRAMA DE APRIMORAMENTO PROFISSIONAL FACULDADE DE MEDICINA DE MARÍLIA FERNANDA GUERRA BERTI SUICÍDIO NA ADOLESCÊNCIA: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Monografia apresentada ao Programa de Aprimoramento Profissional/SES, elaborada na Faculdade de Medicina de Marília em Enfermagem em Psiquiatria e Saúde Mental, sob a orientação do Prof. Dr. Antônio Carlos Siqueira Júnior. Área: Saúde Mental. MARÍLIA 2010 2 FERNANDA GUERRA BERTI SUICÍDIO NA ADOLESCÊNCIA: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Programa de Aprimoramento Profissional/SES, elaborado na Faculdade de Medicina de Marília em Enfermagem em Psiquiatria e Saúde Mental. Área: Saúde Mental. Comissão de Aprovação: _______________________________ Prof. Dr. Antônio Carlos Siqueira Júnior Supervisor/Orientador _______________________________ Profa. Dra. Roseli Vernasque Bettini Coordenador PAP (SES/Fundap) – Famema Data de Aprovação: _______________ 3 NÃO AO SUICÍDIO A morte não existe! O espírito é eterno e sobrevive... “O suicídio é o começo do maior tormento que a criatura humana pode sofrer, porque descobre que depois de matar seu corpo físico ela continua viva... porém sozinha, e sem socorro algum, descobre que seus males só se agravaram e que infelizmente cometeu um dos maiores crimes que a criatura pode cometer, tirar um empréstimo de Deus que serviria para a evolução de seu Espírito... seu corpo" O suicídio é um crime aos olhos de Deus... Richard Simonetti 4 AGRADECIMENTOS Agradeço os meus pais pelo apoio e incentivo em todas as etapas de minha formação, ao meu irmão pela paciência e disponibilidade por me ajudar sempre, ao meu orientador Prof. Dr. Antônio Carlos Siqueira Júnior por iluminar os meus caminhos de pesquisa, ao Aprimoramento em Saúde Mental da Faculdade de Medicina de Marilia pela oportunidade de almejar meus sonhos, e a todos aqueles que acreditaram em meu potencial. 5 RESUMO Esse estudo tem como finalidade o trabalho de conclusão de curso do Aprimoramento em Psiquiatria e Saúde Mental e foi realizado na Faculdade de Medicina de Marilia. Tem como objetivo analisar o Suicídio na Adolescência, os principais diagnósticos que acompanham o suicídio, os métodos freqüentemente utilizados, a prevenção para a ideação e a tentativa de suicídio na adolescência. A metodologia utilizada para realização deste trabalho foi à revisão bibliográfica, para a busca de fontes científicas publicadas para a pesquisa foi utilizada a base de consulta LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde). De acordo com a análise, o diagnostico mais comum para o suicídio na adolescência é o transtorno de humor em fase depressiva e freqüentemente é acompanhada de outros fatores, tais como: conflito familiar, uso de drogas, gravidez não planejada, etc. Ao se tratar dos métodos utilizados pelos adolescentes; destacam-se o envenenamento, que inclui a ingestão de medicamentos e outras substâncias químicas e os métodos violentos. Tratando-se de prevenção, é necessário que o profissional de saúde possa subsidiar estes adolescentes e trabalhar intervenções preventivas através da identificação de riscos e detecção precoce, contribuindo para estabelecimento da saúde dos mesmos. Descritores: 1.Suicídio. 2. Adolescência. 3. Enfermagem. 6 ABSTRACT This study aims the completion of the Improvement in Psychiatry and Mental Health class and it was done in Marilia’s Medical School. Its goal is making an analysis in Suicide among Teenagers, the main diagnoses that accompany suicide, the methods that are frequently used, idealization and suicide attempt prevention in adolescence. The methodology used in this work was Bibliographic review (Literature), to the search for scientific sources published in the research the consultative basis LILACS (Latin American and Caribbean Literature about Health Sciences) was used. According to the analyzes, the most common diagnosis to Suicide in Adolescence is mood disorder in a depressive phase and is often accompanied by other factors such as family conflict, drug usage, unplanned pregnancy, etc. About the methods used by the teenagers, poisoning stands out. It includes ingestion of medications and other chemical substances and there are also the more violent methods. Regarding prevention, it’s necessary that the health practitioner can subsidize the teenagers and make preventive interventions through early detection and risk identification, contributing to establish their health. Keywords: 1. Suicide. 2. Adolescence. 3. Nursing. 7 SUMÁRIO Página 1 – INTRODUÇÃO.....................................................................................................08 2 – OBJETIVOS.........................................................................................................12 3 – JUSTIFICATIVA...................................................................................................13 4 – METODOLOGIA...................................................................................................14 5 – CARACTERIZAÇÃO DOS ARTIGOS..................................................................18 6 – ANÁLISE..............................................................................................................21 7 – CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................29 8 – REFERÊNCIAS....................................................................................................30 8 1- INTRODUÇÃO Por ser uma profissional que atua na área da saúde, uma melhor compreensão da autodestrutividade humana, que tem o suicídio como expressão máxima, tem me interessado. Meu primeiro contato com pacientes com ideação suicida e tentativa de suicídio frustrada foi na Internação psiquiátrica do Hospital das Clínicas de Marília-SP. Durante o estágio, me chamou a atenção adolescente suicidas. Motivei-me a desenvolver esse estudo, pois emergiu o desejo de compreendê-los a fim de contribuir com o atendimento das necessidades específicas destes pacientes. Segundo afirma Cassorla (1985) “suicídio é, traduzindo-se em palavra: morte de si mesmo”. De acordo com Botega (2000, p. 157): O comportamento suicida é todo ato pelo qual um indivíduo cause lesão a si mesmo, qualquer que seja o grau de intenção letal e de conhecimento do verdadeiro motivo desse ato. A Organização Mundial de Saúde, define adolescência entre a faixa etária de 10 a 19 anos (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2008). Já o estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), crianças são classificadas até 12 anos de idade incompletos, e adolescentes aquelas entre 12 e 18 anos de idade. (BRASIL, 2001). Uma forma de entender a adolescência é a partir do seu desenvolvimento biopsicossocial. De acordo com o Brasil (2009) a adolescência é a etapa do desenvolvimento humano marcada por mudanças e transformações fisiológicas, anatômicas, sociais e psicológicas e, refere que a puberdade é o elemento biológico 9 da adolescência, um conjunto de modificações corporais marcantes, relacionadas ao desenvolvimento físico e maturação sexual. A juventude é a passagem entre a infância e a idade adulta, com faixa etária entre os 15 e 29 anos que propõe o desenvolvimento social e individual dos jovens e a forma como se relacionam com o mundo através de conhecimentos políticos, econômicos, sociais e culturais. (CARA; GAUTO, 2007). Segundo Cassorla (1984) os jovens estão cada vez mais vulneráveis a dificuldade de viver o mundo devido as suas inseguranças, impotências, obstáculos, frustrações e falta de oportunidades etc; eles se vêem a mercê de seus impulsos, e espera-se que superem essas dificuldades com vigor, porém os jovens variam de momento a momento reagindo de varias formas, numa facilidade de oscilação de sentimentos opostos. Sabe-se que executar qualquer ato autodestrutivo, ou tirar a própria vida, já foi pensado seriamente por ¼ dos jovens. Culturalmente não se espera que o adolescente seja capaz de cometer um ato violento como o suicídio, porém através dos índices essas informações mostram-se contrárias. Entre adolescentes de 15 a 19 anos, em todo o mundo, a segunda principal causa de morte é o suicídio. (BALLONE, 2004). De acordo com Stuart (2001, p. 419) diariamente ocorrem 1000 suicídios no mundo. Nos Estados Unidos são mais de 30 mil pessoas a cada ano e estima-se o número de 650 mil tentativas de suicídio. A taxa para jovens esta em terceiro lugar e este número triplicou no passar de 30 anos. No Brasil, em 2005, ocorreram 4,62 suicídios por 100 mil habitantes, num total de 8.501 óbitos. (BRASIL, 2005). As taxas aumentadas de tentativa de suicídio e suicídio elevam a intensificação da procura de possíveis fatores de risco para tais acontecimentos, 10 dentre esses, atualmente, destacam-se os eventos estressores, o alcoolismo, a toxicomania, a violência, a ausência de tratamentos médicos e determinados estilos de vida. (CASSORLA; SMEKE, 1997). Conforme menciona Sadock (2007, p. 1365) o suicídio em adolescentes esta relacionado à falta de capacidade de resolução dos problemas e estratégias para saber lidar com estressores, geralmente a falta de opções para lidar com discórdia familiar, fracassos e rejeições, auxiliam na decisão do ato. Segundo o mesmo autor, quando observada à relação entre os sexos, mulheres tentam suicídio duas a três vezes mais que os homens, porém, estes são mais eficazes, devido ao fato de utilizarem métodos mais agressivos e potencialmente letais nas tentativas, tais como: precipitação de lugares elevados, arma de fogo, enforcamento, superdosagem de drogas e monóxido de carbono, ao passo que as mulheres em geral tomam uma superdosagem de substâncias psicoativas ou veneno. Isso pode ser comprovado também pelo Ministério da Saúde, que menciona 48% dos óbitos entre mulheres estar relacionados ao superdosagem de medicamentos e substancias biológicas não especificadas, são em media 3,5 óbitos por 100 mil habitantes e se concentra a maior parte da região Sul do Brasil. Quando se diz respeito ao sexo masculino, ocorrem em média 14 óbitos por 100 mil habitantes, com maior freqüência também na região Sul. (BRASIL, 2005) Quando se relaciona número de internações por suicídio por faixa etária e sexo, a maior taxa está entre adolescentes, observa–se aproximadamente 600 internações para homens e 500 internações para mulheres entre 15-19 anos. A mortalidade para esta faixa etária é em média de 6 óbitos para o sexo masculino e 4 para o sexo feminino devido ao suicídio. (BRASIL, 2005) 11 No que diz respeito as causas para o suicídio, tem-se: aproximadamente 90% dos pacientes que tiram suas vidas possuem doença psiquiátrica associada; traços de personalidade hostis, impulsivos e depressivos podem contribuir com desenvolvimento para o ato; perda de um relacionamento importante ou falta de apoio social são também importantes referências no potencial suicida; família com história suicida é um fator significativo para o comportamento autodestrutivo; fatores bioquímicos estão associados ao suicídio ou tentativas suicidas devido ao baixo nível de serotonina. (STUART, 2001). 12 2 - OBJETIVOS Realizar uma revisão bibliografia sobre suicídio em adolescentes, em artigos de periódicos nacionais no período de 2000 a 2009. 13 3 - JUSTIFICATIVA O fator de maior relevância e que me motivou a realização deste estudo foi, inicialmente, a convivência com pacientes adolescentes com ideação suicida e tentativa de suicídio. A dificuldade de encontrar literaturas, dados estatísticos e relatos de caso sobre suicídio nesta fase da vida, apesar de ser crescente o número de casos em todo mundo, foi o que me interessou a buscar textos sobre o assunto. Considerando a importância da pesquisa para enfermagem e, em especial, nesta área, pretendo, a partir da estruturação desses conhecimentos, contribuir com os profissionais que cuidam de adolescentes com risco de suicídio. 14 4 - METODOLOGIA A pesquisa bibliográfica compõe-se em fonte secundária que busca levantar na literatura científica subsídios de interesse. Seu objetivo é oferecer aos autores informações relevantes sobre a temática escolhida (MEDEIROS, 2004). Para a busca de fontes científicas publicadas para a pesquisa utilizei a base de consulta Lilacs (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde). Por meio do formulário avançado desta base, foram utilizados os termos “suicídio” and “adolescente” no campo palavras e “BRASIL/2000 a 2009” no campo País, ano de publicação. Desta seleção, foram identificadas 52 publicações, sendo 40 em português, entre elas 06 teses e 12 em inglês. Após a leitura dos resumos dos 52 artigos, foram excluídos os que não contribuíram para o objetivo desta pesquisa, dentre eles, os que tratavam das vicissitudes da adolescência, as conseqüências fisiológicas da ingestão de cáusticos na tentativa de suicídio, a escala psicológica de dor, a questão do luto, suicídio em pacientes pediátricos e idosos e os publicados na língua inglesa e as teses. Desta forma, foram selecionados 19 artigos catalogados no quadro a seguir: 15 Quadro 1: Caracterização dos artigos analisados AUTOR PINTOR, E. A. S. ANO DE PUBLICAÇÃO 2000 TÍTULO Entre o desalento esperança, e a quantos caminhos trilhar. VERSIANI, M.; REIS, R e 2000 FIGUEIRA, I Diagnostico do transtorno depressivo na infância e adolescência BARROS, M. D. A.; 2001 Mortalidade por XIMENES, R e LIMA, externas em M.L.C. adolescentes: causas crianças e tendências de 1979 a 1995. DUTRA, E. M. S. 2001 Depressão e suicídio em crianças e adolescentes NUNES, S. O. V. 2001 História familial em tentativa de suicídio FREITAS, G. V. S e 2002 BOTEGA, N. J. Gravidez na adolescência: prevalência de depressão, ansiedade e ideação suicida BAHLS, S. C.; KELLER, A. 2003 Ideação suicida P. R.; MOURA, C. R.; adolescentes ZANONA, M. e SAKIYAMA, escola pública de Curitiba – R. R. PR. TOSCANO JÚNIOR, A. 2003 Depressão de em suicídio uma e transtornos por usos de drogas na adolescência AVANCI, R. C.; PEDRÃO, 2005 Perfil do adolescente que L. J e COSTA JÚNIOR, M. tenta suicídio em L. unidade de emergência uma 16 NUNES, S. O. V.; ABREU, 2005 Determinação dos R. E.; HIRATA, A. L.; diagnósticos de depressão, NUNES, M. V. A. ; tentativa FRANCO, R. M. e gravidez, BARBOSA, L. R. imunodeficiência humana (HIV) doenças de suicídio, vírus e da sexualmente transmissíveis (DST) em adolescentes e adultos jovens CASSORLA, R. M. S. 2005 Jovens que tentam suicídio e narcisismo destrutivo: dois modelos compreensivos do fenômeno suicida CHELLAPA, S. L e 2006 ARAÚJO, J. F. Relevância clínica pesadelos em de pacientes com transtorno depressivo BOCHNER, R. 2006 Perfil das intoxicações em adolescentes no Brasil no período de 1999 a 2001 BRASIL, K. T.; ALVES; P. 2006 Fatores de B.; AMPARO, D. M e adolescência: FRAJORGE, K. C. dados do DF BENINCASA, M e 2006 REZENDE, M. M. risco na discutindo Tristeza e suicídio entre adolescentes: fatores de risco e proteção OLIVEIRA, A. S e ANTONIO, P. S. 2006 Sentimentos do adolescente relacionadas ao fenômeno possibilidades bullying: para assistência de enfermagem nesse contexto 17 MONTEIRO, P. A. A e 2007 Características epidemiológicas CARVALHO JÚNIOR, P. M. dos atendimentos de intoxicações humanas no CEATOX – 79 (Marília – S.P) em 2004 PARENTE, A. C. M.; 2007 Caracterização dos casos SOARES, R. B; ARAÙJO, de suicídio em uma capital A. R. F.; CAVALCANTE, I. do Nordeste Brasileiro S e MONTEIRO, C. F. S. BORGES,V. R.; 2008 Ideação suicida WERLANG, B. S. G e adolescentes COPATTI, M. 17anos. de em 13 Para realizar a análise qualitativa, foram elaboradas as seguintes questões norteadoras: 1. Quais são os principais diagnósticos referidos nos textos pesquisados que levam os adolescentes a tentarem o suicídio? 2. Quais os métodos mais utilizados pelos adolescentes para cometer suicídio? 3. artigos? Como a prevenção de suicídio na adolescência é sustentada nos a 18 5 - CARACTERIZAÇÃO DOS ARTIGOS A caracterização dos artigos selecionados foi iniciada identificando o ano e publicação destes. Observa-se que nos 10 anos de publicação, houve um aumento considerável no ano de 2006, porém em 2004 e 2009 não foram encontradas publicações conforme demonstra o gráfico 01. Gráfico 1: Disposição dos artigos de acordo com ano de publicação 5 4,5 4 3,5 3 2,5 Artigos 2 1,5 1 0,5 0 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Observando-se a formação acadêmica dos profissionais, identifica-se que os artigos foram produzidos em sua maioria por docentes 58%, este dado indica que, os profissionais que estão ligados a academia são incentivados a publicação, valorizando sua produtividade, seguindo a política institucional em que estão inseridos. Já os profissionais que atuam na assistência observamos uma produção científica de 23%. E os discentes contribuíram com 19% dos artigos pesquisados. 19 Gráfico 2: Disposição dos artigos de acordo com a formação acadêmica do autor. 23% Doscentes 58% 19% Discentes Assistenciais Quanto à formação profissional dos autores, identificamos que os médicos foram os que mais publicaram, totalizando 44%. Outro dado observado é que 35% dos artigos foram publicados por psicológicos e enfermeiros obtiveram 21%. Gráfico 3: Disposição do artigo de acordo com a formação profissional dos autores. . 35% 44% Médic os E nfermeiros P s ic ólogos 21% 20 Para atender a caracterização destes artigos, foi levado em consideração que os artigos devem identificar a metodologia utilizada pelo autor. Em relação à coleta de dados, foi observado que 13 artigos referem-se à pesquisa de campo, que se justifica por ser mais indicado estudar o suicídio a partir de suas vitimas, do contato com pessoas que tentaram suicidar-se. A revisão bibliográfica foi trabalhada em 05 artigos e 01 artigo não refere à metodologia utilizada. Gráfico 4: Disposição dos artigos de acordo com metodologias utilizadas. 14 12 10 8 Referência Bibliográfica 6 4 2 0 Revisão Pesquisa de Bibliográfica Campo Não Refere 21 6 - ANÁLISE Ao observar quais são os principais diagnósticos referidos nos textos pesquisados que levam os adolescentes a tentarem o suicídio, dos 19 artigos pesquisados, apenas 01 não nos contemplam com a resposta, assim sendo, os autores Borges, Werlang e Copatti (2008); Monteiro e Carvalho Júnior (2007); Parente et al. (2007); Brasil et al. (2006); Benincasa e Rezende (2006); Oliveira e Antônio (2006); Chepalla e Araújo (2006); Bochner (2006); Avanci, Pedrão e Costa Júnior (2005); Nunes et al. (2005); Cassorla (2005); Toscano Júnior (2003); Freitas e Botega (2002); Nunes (2001); Dutra (2001); Barros, Ximenes e Lima (2001); Versiani, Reis e Figueira (2000) e Pintor (2000) respondem a questão. O transtorno de humor na sua fase depressiva é apontado como o principal diagnóstico relacionado a tentativa ou a ideação suicida. Isso fica evidenciado nos textos exceto nos autores Brasil et al. (2006); Bochner (2006); Cassorla (2005); Freitas e Botega (2002); Nunes (2001); Barros, Ximenes e Lima (2001) e Pintor (2000). Uma questão importante descrita por Borges, Werlang e Copatti (2008) e Versiani, Reis e Figueira (2000) é a intensidade da depressão. Estes autores descrevem esta intensidade como sendo: leve, moderada e grave, porém relacionam a presença de ideação suicida e tentativa de suicídio exclusivamente na depressão moderada e grave. Chepalla e Araújo (2006); Nunes et al. (2005) e Dutra (2001) concordam com os autores citados anteriormente, quanto à intensidade do quadro depressivo em relação ao índice de ideação suicida e historia de tentativa de suicídio, para estes autores, a depressão é das doenças psiquiátricas mais comuns entre os adolescentes e suas conseqüências podem abranger transtornos associados à 22 saúde mental, comportamento de risco, e prejuízo acadêmico, profissional e psicossocial. Toscano Júnior (2003) acrescenta que a depressão grave ocorre em 5 a 8% dos adolescentes, iniciando em idades cada vez mais precoces. Apresenta como fatores de risco: instabilidade afetiva, instabilidade e conflito familiar, baixo desempenho escolar, gravidez não planejada e dúvida quanto à orientação sexual, além disso, as ocorrências estressantes freqüentes da adolescência referentes as alterações físicas e psíquicas, busca de autonomia e identidade, relacionamento com pares e grupos e abuso de substâncias psicoativas, influenciam no desenvolvimento e manutenção dos transtornos depressivos. Barros, Ximenes e Lima (2001) ainda referem ao estigma social que rodeia o ato suicida, e que os adolescentes, já estariam desistindo de suas vidas antes de iniciá-las. “Os comportamentos suicidas podem ser compreendidos como uma defesa à depressão, enquanto que a depressão pode ser uma defesa contra o suicídio." (DUTRA, 2001, p.34). De acordo com a minha experiência os transtornos depressivos devem ser considerados pois, pude observar que o quadro clínico na depressão trás complicações na vida particular, interferem no desenvolvimento interpessoal, social, e no vinculo familiar. Se o risco suicida esta presente os pais e profissionais de saúde devem estar atentos para que as intervenções sejam mais eficazes. Outro diagnóstico encontrado, de acordo com Monteiro e Carvalho Júnior (2007); Brasil et al. (2006); Bochner (2006); Nunes et al. (2005); Cassorla (2005); Toscano Júnior (2003); Nunes (2001); Dutra (2001) e Versiani, Reis e Figueira (2000) foi o de dependência de drogas. Os autores associam depressão e uso de 23 drogas e enfatizam que esta associação é comum na adolescência e a presença de comorbidade tende a ser uma condição crônica, aumentando o risco de suicídio. Para Freitas e Botega (2002) um dos acontecimentos trazidos com grande prevalência na ideação suicida, é a gravidez na adolescência. Ela é caracterizada como uma seqüência de eventos interligados a outros, que levam uma pessoa a tentar suicídio, tanto durante a gestação, quanto no pós parto. Concordando com o mencionado acima, Cassorla (2005) e Pintor (2000) ressaltam que as ideações suicidas neste caso estão relacionadas com as preocupações com os filhos, pouca idade da mãe, pouco apoio social e gravidez não desejada. Ao contrário do que pensa os autores acima, Parente et al. (2007) cita que a gravidez atua como fator de proteção, assim como a religiosidade e a presença de rede social, contribuindo desta forma para a diminuição do risco potencial de suicídio. Em relação a outros transtornos e patologias associadas, Parente et al. (2007) e Nunes et al. (2005) ressaltam que a presença de doenças crônicas como a síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS) e as doenças sexualmente transmissíveis (DST) são consideradas de risco para o suicídio. Versiani, Reis e Figueira (2000) acrescentam a esquizofrenia, a fobia social, transtorno de ansiedade generalizada e transtorno de conduta a este risco. Quanto ao estado civil, observou uma maior predominância o grupo dos adolescentes solteiros e separados, ou vivendo em uniões irregulares, estes tentam mais suicídio em relação a outros grupos. (PARENTE et al., 2007; AVANCI; PEDRÃO; COSTA JÚNIOR, 2005). 24 Ao analisar quais os métodos mais utilizados pelos adolescentes para cometer suicídio, foi possível identificar que os autores Monteiro e Carvalho Júnior (2007); Parente et al. (2007); Avanci, Pedrão e Costa Júnior (2005) e Bochner (2006) respondem à questão proposta. Com exceção de Parente et al. (2007), os autores acima citados referem que os métodos mais utilizados pelos adolescentes foram: o envenenamento, que inclui a ingestão de medicamentos e outras substâncias químicas e os métodos violentos. Em relação à medicação, segundo Monteiro e Carvalho Júnior (2007, p. 39), “as intoxicações são provocadas por medicamentos, principalmente os ansiolíticos, antidepressivos, analgésicos e anticonvulsivantes”. Ao se tratar de outras substâncias químicas, estas abrangem tintas e vernizes, colas e adesivos, álcool, inalantes, gases, cola de sapateiro, monóxido de carbono, derivados de petróleo, e adverte que, os inalantes ou solventes, interatuam este conjunto e necessitam de atenção especial ao considerar o perfil das intoxicações em adolescentes. (BOCHNER, 2006). Para Monteiro e Carvalho Júnior (2007) e Avanci, Pedrão e Costa Júnior (2005), a elevada presença das intoxicações agrega-se fortemente as características culturais de nossa população, que possuem o habito de automedicação, e na maioria das vezes o descuido no armazenamento de substâncias químicas e drogas permitindo acesso fácil aos adolescentes. Para Parente et al. (2007) e Avanci, Pedrão e Costa Júnior (2005), o sexo feminino e masculino se diferenciam em relação ao método que utilizam. O uso de medicamentos é o método predominante entre as adolescentes do sexo feminino, seguido de substâncias químicas e uso de métodos violentos. Em relação ao sexo masculino, observa-se a predominância do uso de métodos violentos seguidos de medicamentos e substancias químicas[...] (AVANCI; PEDRÃO; COSTA JÚNIOR,2005) 25 Concordando com os autores acima, Bochner (2006), analisou separadamente cada agente tóxico, e constatou maior participação do sexo masculino nas intoxicações por agrotóxicos de uso agrícola, metais, produtos químicos industriais, produtos veterinários, drogas de abuso entre outras. Freqüentemente para os homens o suicídio tem mais êxito, pois utilizam-se de drogas mais eficazes, enquanto que, no sexo feminino, oferecem menos êxito por utilizarem drogas menos tóxicas. Ao identificar como a prevenção do suicídio na adolescência é sustentada nos artigos, os autores Borges, Werlang e Copatti (2008); Monteiro e Carvalho Júnior (2007); Parente et al. (2007); Brasil et al. (2006); Benincasa e Rezende (2006); Oliveira e Antônio (2006); Nunes et al. (2005); Bahls et al. (2003); Nunes (2001) e Dutra (2001), responderam a questão. Para Bahls et al. (2003, p. 89): [...] A investigação da ideação suicida em jovens se reveste de importância por representar o início de um processo que pode chegar a um desfecho trágico através de suicídio de vidas em fase precoce no círculo vital. Concordando com o autor acima, para Dutra (2001), é essencial conhecer a expansão do comportamento e idéias suicidas em adolescentes para trabalhar estratégias preventivas e programas de promoção e educação para a saúde destes adolescentes. Enfatiza também trabalhar não somente com os adolescentes, mas também com a população. Estes aspectos comprovam a necessidade e a importância da ação do profissional de saúde nessas questões, proporcionando estratégias para atuar na prevenção do suicídio. O autor ressalta que, o profissional 26 de saúde deve ser “o receptor e decodificador da mensagem implícita no ato suicida”. (DUTRA, 2001, p. 34). Em relação as intervenções preventivas dos profissionais de saúde junto a população, Parente et al. (2007) e Oliveira e Antônio (2006), sugerem que estas ações podem ser realizadas nas equipes de atenção básica, por já estarem introduzidas na comunidade, e também por oferecerem atendimento primário. As equipes podem contribuir como uma ferramenta, proporcionando informação e orientação à comunidade, seus moradores e seus órgãos. Outro aspecto de prevenção esta relacionado à estruturação familiar. De acordo com Parente et al. (2007): Em famílias estruturadas há maior possibilidade de proteger o indivíduo do risco de suicídio. Entretanto, a desestrutura ou conflito pode vir a provocar aumento no risco de suicídio de seus integrantes. Ressalta-se ainda, que o individuo que tem uma convivência entre amigos favorece a uma proteção do risco ao suicídio, diferentemente do indivíduo que vive solitário e isolado, associando-se diretamente ao risco de suicídio. Em concordância, Brasil et al. (2006) enfatiza que a convivência familiar proporciona estruturas saudáveis na construção de identidade dos adolescentes operando como parâmetros de proteção. Para Borges, Werlang e Copatti (2008); Monteiro e Carvalho Júnior (2007); Oliveira e Antônio (2006) e Nunes (2001) a intervenção terapêutica de profissionais de saúde mental, tais como: psiquiatras, psicólogos, enfermeiros, terapeuta de família, etc. são de grande importância para a prevenção do desenvolvimento da ideação suicida e de novas tentativas. Espera-se que estes profissionais tenham um olhar criterioso, trabalhando com o saber teórico e prático e, utilizando-se de instrumentos, tais como a comunicação, através abordagens diversificadas é possível proporcionar uma conversa educativa/ terapêutica não apenas ao 27 adolescente, mas também aos familiares, ampliando a atenção a saúde dos mesmos. De acordo com Benincasa e Rezende (2006), uma sugestão dada pelos adolescentes é oferecer um espaço de escuta, pois estes reclamam sobre a falta de oportunidade para refletir sobre seus sentimentos e comportamentos de risco, fazendo com que se intensifiquem os sentimentos ruins e possivelmente o desejo do ato. Nunes et al. (2005) sugere intervenções que privilegiam o aumento da autoestima e favoreçam a prevenção pela educação e detecção precoce. Os profissionais de saúde devem considerar riscos do ato, precavendo comportamento de risco, motivando os adolescentes a desenvolver aptidões para a vida, habilidades interpessoais, e aprender a lidar com situações do dia a dia, propondo através destas intervenções auxiliarem os adolescentes a tomar suas decisões e adotar estilo de vida saudável, favorecendo a promoção de saúde. Ainda para o autor, é importante prevenir os fatores ambientais relacionados, e recomenda que a intervenção deva ocorrer no ensino fundamental para prevenir morbidade e também a mortalidade na adolescência. Isto se evidencia na afirmação de Monteiro e Carvalho Júnior (2007, p. 40). A prevenção referente ao trabalho em instituições escolares, por meio do levantamento de adolescentes em risco, treinamento para profissionais que trabalham nas escolas, dentre eles, principalmente os professores, que mantém contato direto e diário com os adolescentes, e encaminhamentos para tratamentos com profissionais de saúde. Portanto a formação inadequada, os preconceitos e até mesmo as dificuldades pessoais fazem com que o profissional da área da saúde ou excepcionalmente da área da saúde mental, apresentem dificuldades em manejar estes casos e muitas vezes menosprezam a gravidade do adolescente suicida. É 28 indispensável que o profissional da área de saúde saiba receber e entender a mensagem (que muitas vezes esta subentendida) destes pacientes. Para que isso ocorra, é necessário não somente estar baseado nos recursos técnicos e teóricos, mas sim sensibilizar e humanizar nossos sentidos. 29 7- CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir deste estudo foi possível analisar a amplitude do suicídio, e como se torna complexo estudá-lo, principalmente tratando-se de adolescentes. Trabalhar suicídio é um assunto delicado, já que esta temática ainda é tabu e desperta medo nas pessoas. Realizar este trabalho possibilitou ampliar meus conhecimentos sobre a temática e fornecer informações a todos que se interessam por ela, e também, compreender que é necessário amparar a saúde mental dos indivíduos com profissionais que possuam mais capacitação para tal cuidado. As Intervenções terapêuticas dos profissionais de saúde, considerando-se a importância da enfermagem em saúde mental, são de fundamental importância, que além de proporcionar o cuidado integral ao ser humano e atender suas necessidades biopsicossociais, também deverá atuar como uma ferramenta para disseminar informações aos pacientes e também aos familiares e agir na sociedade, fornecendo orientações sobre a temática e assim poder identificar riscos e prevenilos. É essencial que o profissional de saúde, e especificamente de saúde mental saiba reconhecer o comportamento e idéias suicidas em adolescentes para trabalhar intervenções terapêuticas e estratégias preventivas. Para que isso ocorra, é necessário não somente estar baseado nos recursos técnicos e teóricos, mas sim sensibilizar e humanizar nossos sentidos. Sendo assim, este estudo foi importante para identificar a necessidade de realizar novos estudos sobre esta temática, para aprimorar novas fontes de intervenções junto à população e aos serviços envolvidos. 30 REFERÊNCIAS AVANCI, R. C.; PEDRÃO, L. J.; COSTA JÚNIOR, M. L. Perfil do adolescente que tenta suicídio em uma unidade de emergência. Rev. Bras. Enferm., Brasília, v. 58, n. 5, p. 535-539, set./out. 2005. BAHLS, S.; KELLER, A. P. R.; MOURA, C. R.; ZANONA, M.; SAKIYAMA, R. R. Ideação suicida em adolescentes de uma escola pública de Curitiba-PR . Psiquiatr. Biol., São Paulo, v. 11, n. 3, p. 85-90, out. 2003. BALLONE, G. J. Suicídio na adolescência. [s.l], 2004. Disponível em: <http://www.virtualpsy.locaweb.com.br/index.php?art=59&sec=20>. Acesso em: 5 jun. 2009. BARROS M. D. A.; XIMENES R.; LIMA, M. L. C. 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Adolescência. 3. Enfermagem.