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AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE
RADIOPROTEÇÃO EM LEITO DE UTI
EVALUATION OF THE CONDITIONS OF
RADIOPROTECTION IN BEDS OF ICU
Dirceu Costa dos Santos 1
Michele da Silva Rodrigues2
Resumo
A necessidade de se assegurar serviços radiológicos de qualidade e a padronização de requisitos de proteção
radiológica nos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) ressalta a importância de quantificar o nível de
exposição e a quantidade de exames radiológicos que os pacientes internados são submetidos. Nesse sentido,
este trabalho visa avaliar quantitativamente os riscos associados às atuais condições de radioproteção aplicadas
em pacientes internados na UTI de um hospital público de grande porte do Estado do Pará. Para tal, uma pesquisa
descritiva exploratória foi planejada e executada com o objetivo de mensurar o nível de exposição à radiação dos
pacientes internados nos leitos de UTI, o número de exames de raios-X efetuados em cada paciente, além de
associar os dados obtidos nas leituras dosimétricas com os possíveis efeitos deletérios aos pacientes internados.
Para coleta de dados, foram utilizados 14 dosímetros no total, sendo que 8 dosímetros foram utilizados para
a determinação experimental de doses e 6 dosímetros foram distribuídos aleatoriamente entre os 20 leitos
da unidade de terapia intensiva na qual foi realizada a avaliação mensal dosimétrica pela empresa TEC-RAD.
Foi utilizado também um questionário, respondido pelos acompanhantes, após a sua autorização. A partir da
determinação experimental da dose absorvida, pôde-se constatar que quanto mais radiação é emitida pela
fonte maior será a sua dose absorvida. A partir das leituras dos dosímetros que se encontravam na UTI, verificouse a existência de doses acima do padrão permitido de dose anual e mensal segundo o CNEM. Do ponto de
vista prático, três fatores devem ser levados em conta para diminuir o risco devido a essas exposições: (1)
tempo de permanência e (2) distância relativa a fonte de radiação e (3) blindagens apropriadas. Nesse sentido,
é importante implementar um Plano de Proteção Radiológica (PPR) específico para leitos de UTI nas diretrizes
das normas do CNEM como a adaptação de blindagem das salas de raio-X nas salas de UTI, devido ao grande
número de exames que são realizados nessas unidades, de forma que minimizasse a exposição dos pacientes e
dos profissionais que trabalham nesse local.
Palavras-Chave: Radioproteção. Unidade de Terapia Intensiva. Raios-X. Dosímetro.
Abstract
The need for ensure high quality radiological services and standardization of radiation protection requirements
in the Intensive Care Unit (ICU) beds underscores importance to quantify the radiation exposure level and the
number of radiological examinations that hospitalized patients are submitted. In this sense, this work aims to
quantitatively assess the risks associated with the current conditions of radiation protection applied to patients
in the ICU of a public hospital in the State of Pará. For this, it was planned and performs a descriptive exploratory
research in order to quantify the radiation exposure level of patients admitted in ICU beds, the number of
X-ray examinations performed in each patient, in addition to associate data obtained in dosimetric readings
with the possible deleterious effects in ICU patients. For data collection, 14 dosemeters had been used, being
8 used for the experimental determination of doses and 6 randomly distributed among 20 ICU beds, which
were dosimetric evaluated monthly for the TEC-RAD company. Additionally a questionnaire was answered by
patients companion, after its authorization. From the experimental determination of the absorbed dose can
be verified that how much more radiation is emitted by the source more will be the absorbed dose. In the
dosimetric readings were found doses above the allowed standard to annual dose defined by the CNEN. From
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the practical point of view, three factors must be taken into account to reduce the risk from these exposures:
(1) time and permanency (2) distance related to the radiation source, and (3) shielding appropriate. This way,
the implementation of a Radiological Protection Plan (RPP) specific for ICU beds according with the standards
of CNEN, as the shielding of X-ray rooms in the ICU rooms, is relevant to minimize the exposure of patients and
professionals who work at this location.
Keywords:Radiation Protection. Intensive Care Unit. X-Ray. Dosimeter.
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Introdução
A proteção radiológica se faz necessária por ser um conjunto de diretrizes com o intuito de se atingir
padrões aceitáveis de segurança e qualidade a curto, médio e longo prazo na área do radiodiagnóstico,
objetivando-se minimizar a exposição de pacientes e profissionais da saúde a possíveis efeitos resultantes das
exposições a radiação ionizante (BRASIL, 1998).
A radiação X vem sendo aplicada em larga escala como um método terapêutico e diagnóstico na
área da saúde. O exame radiográfico é um método de diagnóstico que possibilita auxílio aos mais variados
procedimentos clínicos, sendo que sua utilização deve ser feita com responsabilidade, para que os benefícios
sejam reproduzidos em detrimento aos danos que possam ocorrer ao paciente e ao meio ambiente (MACEDO;
RODRIGUES 2009).
Considerada como principal fonte artificial de radiação a que o ser humano pode ser exposto, a radiologia
diagnóstica é responsável por cerda de 14% do total da dose recebida anualmente em relação às outras fontes,
pois a exposição pode trazer riscos de efeitos deletérios, uma vez que a solicitação do exame não seja precedida
de uma análise correta de risco em relação aos benefícios (LACERDA et al, 2008).
As unidades de terapias intensivas adulta e neonatal, unidades de internações, centros cirúrgicos,
unidades coronarianas, entre outras, convivem frequentemente com exposições à radiação ionizante proveniente
dos equipamentos radiológicos portáteis. Esses equipamentos são utilizados para realizar os exames de raios-X
no leito quando da impossibilidade do usuário ser transferido para uma instalação com equipamento fixo (FLOR;
KIRCHHOF, 2010).
O atendimento aos pacientes internados na UTI impossibilitados de locomoção para a realização de
radiografias deve ser feito no leito do internado, considerando que os locais fora do setor destinado a esses
tipos de procedimentos são realizados em áreas não controladas no que diz respeito à segurança visível,
exceto a distância da fonte radiográfica realizada por aparelhos portáteis. Outras técnicas são utilizadas para
diminuir o campo de radiação, sem a diminuição da qualidade do exame e somando-se a isso o uso dos EPI’s –
equipamentos de proteção individual (FEITOSA, 2009).
A necessidade de se assegurar serviços radiológicos de qualidade e a padronização de requisitos de
proteção radiológica dos estabelecimentos que utilizam radiação X para diagnóstico foram estabelecidas a partir
de normas técnicas nacionais e internacionais, assim como a criação de órgãos para assegurar o estabelecimento
de limites máximos de doses de radiação que os indivíduos podem receber, haja vista que, se os valores das
doses estiverem acima do limite, isso resultaria em risco à saúde (FEITOSA, 2009).
A Portaria 453/1998, em seu item 4.27, normatiza que a realização de exames radiológicos com
equipamentos móveis em leitos hospitalares ou em ambientes coletivos de internação “[...] somente será
permitida quando for impossível ou clinicamente inaceitável transferir o usuário para uma instalação com
equipamento fixo”. Neste caso, deve ser adotada uma das seguintes medidas: os demais usuários que não
puderem ser removidos do ambiente devem ser protegidos da radiação espalhada por uma barreira protetora
com, no mínimo, 0,5 mm equivalência de chumbo; ou posicioná-los de modo que nenhuma parte do corpo
esteja a menos de dois metros do cabeçote ou do receptor de imagem.
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Com esses dados, é possível perceber que a população como um todo é exposta a esse tipo de radiação
sempre que existe a necessidade de se diagnosticar fraturas, processos de má formação anatômica, alterações
fisiológicas e também nos exames de raios-X que são frequentemente feitos em pacientes que se encontram
internados em leitos de UTI. Nesses últimos, a justificativa para tal rotina frequentemente é a utilização de
sondas nos pacientes que, em alguns casos, precisam ser localizadas radiograficamente ou o risco eminente de
comprometimentos pulmonares pós-cirúrgicos.
Quando não existe a necessidade real de rastreamento da sonda no paciente ou quando o paciente
é acompanhado segundo a sua evolução clínica, ocorre uma exposição dos profissionais e dos pacientes que
desobedece claramente ao princípio da justificação estabelecido pela portaria 453/1998. Além disso, não são
aplicados protocolos que minimizem essa exposição, como, por exemplo, a utilização de equipamentos de
proteção individual, a qualificação dos funcionários e a utilização de barreiras adequadas para limitar a radiação
apenas ao paciente que faz o exame de rotina na UTI.
Os serviços de saúde têm se especializado no atendimento a pacientes graves ou de risco, que necessitam
de tratamentos intensivos. A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) requer assistência permanente, com recursos
humanos especializados, com equipamentos específicos próprios e outras tecnologias destinadas a diagnóstico
e tratamento (FLOR; KIRCHHOF, 2006).
Nesse sentido, é importante compreender que a utilização de proteção radiológica se faz necessária e
requer um esforço contínuo de todos os profissionais envolvidos, que atuam na UTI para que não haja riscos
desnecessários tanto para si e aos pacientes.
A radioproteção vem sendo objeto de estudo, contudo, no que diz respeito à condição da radioproteção
de pacientes internados na unidade de terapia intensiva, pouco se tem pesquisado. Esses pacientes, por
terem limitação em sua locomoção, executam os exames de raios-X em seu próprio leito e recebem radiação
proveniente de equipamento radiológico portátil. Frequentemente, a falta de conhecimento dos aspectos
relevantes de proteção radiológica tem contribuído para a exposição de profissionais, assim como pacientes, a
riscos desnecessários ( LIMA; CARVALHO; AZEVEDO, 2004).
Logo, todos os profissionais que trabalham em leitos de UTI precisam estar cientes dos riscos que as
radiações ionizantes podem levar aos pacientes e aos colaboradores do setor, quando não há o conhecimento
adequado das regras de proteção radiológica e o acompanhamento de um Plano de Proteção Radiológica (PPR).
A proposta de realização deste estudo surge a partir de situações observadas em grande parte dos
hospitais que dispõem de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e que prestam assistência a pacientes graves,
ocasião em que foi possível constatar que, na realização de exames de raio-X, não há a devida preocupação com
as medidas de proteção radiológica nos pacientes internados.
Este estudo será de grande valia para evidenciar as possíveis dificuldades na utilização de medidas de
radioproteção na realização desses exames, e para sugerir novas práticas que conciliem o acompanhamento da
evolução do paciente, sem que para isso haja a exposição demasiada do mesmo às radiações ionizantes.
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1-MATERIAIS E MÉTODOS
Para a realização da pesquisa, foi adotado um estudo do tipo descritivo exploratório de cunho
quantitativo. A pesquisa quantitativa aplica-se à dimensão mensurável da realidade, origina-se da visão
newtoniana dos fenômenos e transita com eficácia horizontalidade dos tratos mais densos e materiais da
realidade. Seus resultados auxiliam o planejamento de ações coletivas e produzem resultados passíveis de
generalização, principalmente quando as populações pesquisadas são fidedignas ao coletivo (SILVA, 2004).
A pesquisa exploratória tem como finalidade proporcionar maior familiaridade com o problema, com
vistas a torná-la mais explícita. Pode envolver levantamento de dados bibliográficos, entrevistas com pessoas
experientes no problema pesquisado (SILVA, 2004).
Quanto à pesquisa descritiva, apresenta como objeto primordial a descrição das características de
determinadas populações ou fenômenos. Uma das características está na utilização de técnicas padronizadas
de coletas de dados, tais como o questionário e a observação sistemática. Destacam-se também na pesquisa
descritiva aquelas que buscam descrever características de grupos (idade, sexo, procedência etc.), bem como a
descrição de um processo numa organização, o estudo de nível de atendimento de entidades, levantamento de
opiniões, atitudes e crenças de uma população (SILVA, 2004).
O estudo foi realizado em um Hospital Metropolitano de Urgência e Emergência, especificamente
na Unidade de Terapia Intensiva, após a avaliação e a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa em Seres
Humanos do Hospital de Clínicas Gaspar Viana, segundo a Resolução no 196/96 do Conselho Nacional de
Saúde, bem como a autorização da Secretaria Executiva de Saúde Pública. A Unidade de Terapia Intensiva desse
hospital possui capacidade para 20 leitos distribuídos em duas salas com 10 leitos em cada, onde trabalham 1
médico intensivista, 2 enfermeiros, 2 fisioterapeutas, 6 técnicos de enfermagem e 2 agentes administrativos que
trabalham por turno de serviço. A rotina de raio-x nessa unidade ocorre todos os dias às 05:00 h. O hospital fica
localizado na Rod. BR 316, KM 03 S/N, bairro do Coqueiro, no município de Ananindeua-PA.
Foram incluídos na pesquisa pacientes internados na unidade de terapia intensiva, de ambos os sexos,
com idade superior a 18 anos e oriundos de vários municípios do Pará. Foram excluídos da pesquisa os pacientes
menores de 18 anos, mulheres grávidas ou com suspeita de gravidez e aqueles que não concordaram em
participar do estudo ou que não receberam autorização da família.
No projeto piloto, foram utilizados inicialmente 10 dosímetros, distribuídos aleatoriamente nos vinte
leitos, sendo que os mesmos foram colocados no “espelho” de cada leito pelo período de 30 dias. Por dois
meses consecutivos, as leituras resultantes dos dosímetros mantiveram-se todas dentro dos limites estabelecidos
pelas normas vigentes, tendo esse modelo inicial se mostrado ineficaz para avaliar os riscos de exposição.
Posteriormente, 6 dosímetros foram distribuídos aleatoriamente entre os 20 leitos da unidade de terapia intensiva
na qual foi realizada a avaliação mensal dosimétrica pela empresa TEC-RAD - Tecnologia em Radiologia Ltda, da
dose absorvida, a qual foi dividida em duas partes: dose absorvida no leito e dose estimada para cada paciente
que passou pelo leito acompanhado.
No segundo modelo do projeto, cada dosímetro foi colocado sobre o úmero do paciente internado no
leito escolhido aleatoriamente, durante todo seu período de internação, sendo que cada leito era acompanhado
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por um período de 30 dias, independentemente do número de pacientes que ocuparam o leito nesse período.
Após esse período, era efetuada a troca dos monitores.
Inicialmente, foram repassadas todas as orientações aos funcionários que fazem parte da equipe
da Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) como: não retirar o dosímetro do braço do paciente, esterelizar o
dosímetro antes de colocar em outro paciente, não jogar fora o equipamento, assim como foram repassadas
todas as informações a respeito da importância do projeto e do risco ocupacional associado às exposições
radiográficas, ocasião em que ficou clara a necessidade de uma prática educativa de sensibilização quanto à
exposição à radiação ionizante com profissionais de saúde.
Durante essa rotina, o aparelho utilizado foi o raio-x móvel, com cacetes do tamanho 35 cm x 35 cm,
protegidos por um saco plástico e devidamente identificados para cada leito. Todos os pacientes fizeram a
rotina de raio-x para tórax com pelo menos uma incidência ao dia, mas dependendo de cada caso havia outras
solicitações médicas em menos de 24h.
A determinação experimental de doses foi realizada utilizando-se 8 dosímetros. Os valores de dose
irradiados diretamente nos dosímetros, sem a presença de pacientes, foram para uma simulação de raios-X
de tórax com o 52 Kv, 100 mAs e o tempo 0,7 seg., com a colimação de 35 x 35 cm, a mesma utilizada para
incidência de tórax. O aparelho de raio-X móvel 300 mA /120 Kv, modelo: RC 300D, foi utilizado para esse
experimento.
O dosímetro I recebeu o equivalente a 10 incidências de raios-X tórax, e a progressão das doses foi feita
em ordem aritmética, de maneira que a cada dosímetro o número de incidências aumentava em 10 incidências,
conforme a tabela 1.
Determinação Experimental da Dose
Dosímetro
No de Incidências
I
10
II
20
III
30
IV
40
V
50
VI
60
VII
70
VIII
80
Tabela1 – Determinação Experimental de Dose
Fonte: RODRIGUES, 2011
As leituras obtidas a partir da determinação experimental de dose foram posteriormente usadas como
parâmetro de comparação para as leituras dosimétricas de cada leito.
Pode-se constatar que, quanto mais radiação é emitida pela fonte, maior será a sua dose absorvida,
e para doses maiores do que 0,5 Gy o efeito da radiação é chamado determinístico ou, mais comumente, não
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estocástico. Esse tipo de efeito geralmente resulta na morte celular segundo Dimenstein e Hornos (2004). Caso
o paciente faça 40 incidências de tórax, o mesmo receberá o equivalente ao limite mensal máximo permitido de
4 mSv (FIGURA 1).
Figura1 – Gráfico da Determinação Experimental de Dose
O acompanhamento dos pacientes e a verificação dos dosímetros nos leitos de UTI foram feitos em média
quatro vezes na semana, nos horários de plantão, e nos horários de visita dos acompanhantes para coletar os
dados com os mesmos. Em todas essas visitas, foi verificado se os dosímetros se encontram no leito selecionado
para a pesquisa. Nos horários de visita aos pacientes internados, os acompanhantes eram informados sobre o
que tratava a pesquisa e, logo após, caso concordassem, os mesmo respondiam ao questionário e assinavam o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Apesar do acompanhamento frequente dos dosímetros, no período de julho a dezembro de 2011, vários
dosímetros foram extraviados em função da rotatividade do corpo técnico de enfermagem nesse período, o
que dificultou o processo educativo desses profissionais no que se refere às normas de proteção radiológica e
comprometeu parcialmente o número de leituras obtidas no período.
2-RESULTADOS E DISCUSSÃO
Após obtenção dos resultados referentes à relação experimental entre a dose equivalente e a
quantidade de incidências realizadas, foi feita uma comparação com os resultados da leitura dos dosímetros que
se encontravam na UTI. Constatou-se que houve doses acima do padrão permitido segundo o CNEM. No mês
de agosto, por exemplo, foram enviados para leitura os dosímetros V, VII e X. No dosímetro V, a dose equivalente
foi de 3 mSv, sendo considerado o permitido, porém é uma quantidade de dose próxima à dose máxima mensal.
Enquanto no dosímetro VIII a dose equivalente foi de 78,36 mSv, sendo considerado muito acima da dose anual
permitida, que é de 50,00 mSv. No resultado da leitura do dosímetro X, houve um registro de 5,16 mSv, sendo
considerado acima da dose mensal permitida. Os dosímetros VI, VII e IX foram extraviados, impossibilitando a
leitura dos mesmos. (Tabela 2).
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Relatório de Doses - Período: Julho 2011
Dose no período (mSv)
Observação
No de Incidências
V
3
NI
VI
0
DE
VII
0
DE
VIII
78,36
UA
IX
0
DE
X
5,16
UM
DE - Dosímetro extraviado | NI - Nível de investigação (1,00 mSv) | UM - Limite mensal ultrapassado (4,00 mSv) | UA - Limite anual ultrapassado (50,00 mSv)
Tabela 2 – Relatório de Dose
Fonte: Tec-Rad
Essas doses elevadas podem ter sido influenciadas por exames de tomografia computadorizada, à
qual esses pacientes eventualmente podem ter sido submetidos. A exposição nos equipamentos de tomografia
computadorizada não é uniforme ao longo do eixo do paciente, podendo variar dentro da seção irradiada. Para
um exame de TC de crânio, a dose de entrada é, no máximo, 40 mGy e , para o corpo, 20 mGy. Para um exame de
raios-X de tórax estima-se uma dose de entrada na pele de 0,2 mGy, porém a dose na saída do tórax é menor do
que 0,03 mGy e a radiação espalhada que atinge a tireóide é 10% da dose de saída. A dose gonadal é estimada
em 2 μGy, e a dose equivalente efetiva em 20 μSv. (DIMENSTEIN; HORNOS, 2004).
Todos os dias os pacientes fazem a rotina para tórax, na maioria das vezes para ser verificado o
posicionamento da sonda que se encontra no seu interior ou para o acompanhamento da função respiratório
do paciente. A incidência de tórax é realizada com o paciente em decúbito dorsal, sendo que os eletrodos
descartáveis do aparelho eletrocardiográfico são desconectados para evitar artefatos na imagem radiográfica
e, logo após, feita a incidência, são recolocados nos devidos lugares. Brunner e Suddarth (2009) ressaltam
que, quando o tecido reprodutivo é exposto à radiação, os efeitos de longo prazo podem não ser evidentes
no indivíduo, porém podem aparecer em duas descendências por mutação genética. Entre as mais sérias das
consequências tardias da lesão por irradiação, encontram-se maior suscetibilidade à metaplasia maligna e ao
desenvolvimento de câncer em locais de irradiação, como, por exemplo, os carcinomas de pele, osso e tireóide.
A quantidade de exame realizado em cada paciente depende dos dias que o mesmo passa na unidade
de terapia intensiva, pois todo dia o paciente realiza no mínimo 1 exame, podendo também realizar mais de um
exame radiográfico em outra parte do corpo, dependendo de cada prognóstico. De forma geral, pode-se dizer
que a exposição ao raio-X é diretamente proporcional ao tempo e inversamente proporcional ao quadrado da
distância em relação à fonte (OKUNO; CALDAS; CHOW, 1986). Assim a permanência do paciente era refletida
diretamente na quantidade de exames realizados (TABELA 3).
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Dosímetro
N° Absoluto de pacientes
N° de exames
Percentual
A
29
14,35%
B
8
3,96%
C
8
3,96%
D
8
3,96%
E
29
14,35%
F
31
15,30%
G
6
2,97%
H
8
3,96%
I
29
14,35%
J
3
1,48%
L
6
2,97%
X
M
37
18,31%
Total
12
202
100,00%
V
VI
VII
VIII
IX
Tabela 3 – Distribuição de pacientes por leito e n° de exames realizados no leito em n° absoluto e percentual internados na unidade
de terapia intensiva no mês de Julho de 2011.
Fonte: Pesquisa de campo
Ao observar as rotinas realizadas, foi verificado que não há nenhuma preocupação dos funcionários que
se encontram na sala de UTI em se afastar do paciente no momento do disparo da radiação, apesar dos técnicos
e estagiários avisarem que será disparado o feixe de raio-x.
De forma geral, o nível de exposição dos pacientes ficou acima da dose máxima anual e mensal permitida
segundo o CNEM. Apesar das variáveis da pesquisa que não puderam ser controladas, como o extravio de
dosímetros, os resultados foram bastante significativos, no sentido de confirmar a necessidade de um plano de
proteção radiológica (PPR) específico para leitos de UTI nas diretrizes das normas do CNEM como: adaptação
de blindagem das salas de raio-X nas salas de UTI, devido ao grande números de exames que são realizados
nessas unidades, de forma que minimizasse a exposição dos profissionais que trabalham nesse local, e também
para minimizar a exposição da radiação ionizantes entre os pacientes.
Além disso, seria indicada a utilização de cortinas plumbíferos móveis, articuláveis, juntamente ao
equipamento de raio-X portátil, para garantir que será menor a exposição do raio-X secundário para os leitos
vizinhos e até mesmo os funcionários da UTI.
Não foi possível associar os dados obtidos nas leituras dosimétricas com os possíveis efeitos deletérios
em função do curto período de internação dos pacientes.
Considerações Finais
É notório que precauções devam ser tomadas nessas unidades, a fim de limitar a exposição de todos os
profissionais que trabalham nessa rotina e de pacientes que se encontrem internados. Do ponto de vista prático,
três fatores devem ser levados em conta para diminuir o risco devido a essas exposições: tempo de permanência
dos pacientes, distância relativa à fonte de radiação e blindagens apropriadas.
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Quando há necessidade de estar próximo ao paciente durante a realização do exame, o profissional
deve utilizar o avental de chumbo de 0,5 mm, assim como protetores de tireóide, na forma de colar cervical, com
o objetivo de minimizar as doses de radiação, ele deve estar em boas condições físicas, ou seja, sem rachaduras,
garantindo assim a sua eficiência (GLAZE; LEBLANC; BUSHONG, 1984). Nos procedimentos radiológicos em
UTI, onde são utilizados os equipamentos portáteis, o operador deve permanecer a uma distância mínima de 2
metros do feixe primário, ou seja, do tubo do raio-X, e para manter a distância é requerido um cabo longo para
o disparador, para não acumularem doses superiores aos limites estabelecidos pelas normas. Para proteção dos
pacientes, o uso de acessórios blindados é obrigatório. O protetor de gônadas deve ser utilizado em pacientes
em idade reprodutiva (OKUNO; CALDAS; CHOW, 1986). São indicados esses protetores principalmente pelo fato
de não estarem próximos ao campo primário de irradiação, já que os exames executados na UTI são geralmente
de raio-X de tórax.
Todos os profissionais que trabalham na UTI devem ser preparados para minimizar o risco de exposição
ocupacional, sendo que, para isso, é necessário um programa de treinamento e capacitação que possa suprir a
falta de conhecimento específico sobre proteção radiológica não apenas nos leitos, mas em todos os ambientes
onde exista exposição.
Por fim, é relevante que a indicação médica do exame seja justificável e que a repetição do mesmo
seja evitada para que as doses de radiação possam ser efetivamente otimizadas. É de suma importância que
haja o acompanhamento da evolução clínica de cada paciente individualmente, para se detectar os que não
apresentam necessidade de acompanhamento radiológico diário. Do mesmo modo, é imprescindível que haja
um controle de qualidade do desempenho do equipamento radiológico, em atendimento às normas de proteção
radiológica segundo a Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde.
Notas
1 Msc.em Doenças Tropicais pela Universidade Federal do Pará, Coordenador do Curso Superior de Tecnologia em
Radiologia das Faculdades Integradas Ipiranga;
E-mail: [email protected]
2 Tecnólogo em Radiologia pelas Faculdades Integradas Ipiranga.
REFERÊNCIAS
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Brasília, DF, 1998.
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