Belo Horizonte – MG • Junho de 2015 nº 06 Acordo bilateral Brasil-China Apresentando o segundo maior Produto Interno Bruto (PIB) do mundo e com elevada taxa de crescimento anual, a China conseguiu se desenvolver nos últimos anos, baseada principalmente na produção de produtos industriais. Hoje, cerca de 124 países tem a China como principal parceiro comercial e, dentre estes, o Brasil se configura entre os principais dependentes. As relações comerciais com o país asiático se intensificaram nos anos 2000. Ao final da década, a China se tornou a maior importadora dos produtos brasileiros, status esse que permanece até hoje. Quanto às importações brasileiras, a China foi, aos poucos, conquistando espaço no mercado tupiniquim. Ao fim de 2012 tomou a primeira posição entre as maiores economias exportadoras para nosso país, posição esta antes ocupada pelos EUA. País Participações - Exportações e Importações (2014) Principais parceiros Exportações (%) Posição Importações (%) Posição China 18,04 1 16,3 1 EUA 12,01 2 15,28 2 Argentina 6,34 3 6,17 3 Holanda 5,79 4 1,38 17 Japão 2,98 5 2,58 9 Alemanha 2,95 6 6,04 4 As trocas entre os dois países se dão, basicamente, entre alimentos e produtos industrializados: a China, com uma vantagem na produção desses produtos (eletroeletrônicos, máquinas, ferramentas e tecidos) cujo valor agregado é mais elevado, exporta-os ao Brasil. Em contrapartida, o Brasil exporta aos chineses uma pauta com predomínio de produtos primários, com valor agregado mais baixo (soja, minério de ferro e petróleo). O resultado esperado dessa troca seria um saldo negativo na balança comercial brasileira. Porém, o volume de exportações brasileiras à China é muito maior que o volume importado, e isso faz com que essa transação seja superavitária para o país. MILHÕES Exportações 50.000 40.000 30.000 44.315 32.790 25.595 11.524 5.190 Saldo 46.026 41.228 30.786 20.000 10.000 Importações 37.304 34.251 6.976 40.616 37.341 8.722 3.276 0 2010 2011 2012 2013 2014 Em maio deste ano, 35 acordos foram assinados por representantes do governo brasileiro e chinês. Tal parceria, confirma a China como principal parceiro comercial, e resulta em investimentos de especulados 50 bilhões de dólares, com abrangência nos mais diversos setores como tecnologia, infraestrutura, energia, cultura e agricultura. As expectativas são diversas. Em um momento sensível da economia brasileira, com um cenário de falta de recursos para grandes empreendimentos, sobretudo na área de infraestrutura, tais investimentos vêm em boa hora e possibilitarão "tapar os gargalos" na cadeia de produção, gerando um efeito multiplicador. ASPECTOS Fortalecimento da parceria comercial; Desenvolvimento da cadeia produtiva; Desenvolvimento científico e tecnológico; Injeção de recursos para setores como mineração, siderurgia e petróleo; Desenvolvimento cultural; A rica experiência da China na área de infraestrutura, somada às tecnologias avançadas e vantagens financeiras, irá gerar um novo desenvolvimento para o comércio bilateral entre os dois países. × Aumento da dependência, deixando o país mais vulnerável a qualquer oscilação nos preços das mercadorias primárias exportadas (commodities); × Desenvolvimento de indústrias de ponta e de bens de consumo "pode ficar de lado", uma vez que o foco é atender a demanda chinesa por commodities; ! A dimensão desse investimento oferece oportunidades para o Brasil absorver toda tecnologia transferida e maximizar o efeito multiplicador nos mais diversos setores. Em um momento de crise torna-se essencial o aproveitamento dos recursos estrangeiros. × Contrapartidas do acordo ainda não são claras; × Como os créditos anunciados vão lidar com questões com o risco cambial, uma vez que o acordo terá um mecanismo de pagamento em moeda local? A Fecomércio acredita que esses acordos irão dinamizar a economia brasileira, proporcionando o desenvolvimento de toda a cadeia produtiva e incentivando, até mesmo, atividades não contempladas no pacto através do efeito transbordamento. O progresso se dará em ramos essenciais para o desenvolvimento de longo prazo, como pesquisa e desenvolvimento, inovação e educação, e em áreas que carecem de recursos e são primordiais para o dinamismo da economia, como a infraestrutura. Essa parceria deve ser cuidadosamente otimizada e é de suma importância que o governo garanta as vantagens para as empresas nacionais. É um momento propício para o Brasil encontrar um novo canal de crescimento baseado no investimento. Minas Gerais Exportações (US$ milhões) 8.824 Importações (US$ milhões) 1.718 Saldo (US$ milhões) 7.106 Mato Grosso 4.983 133 4.850 Pará 4.709 51 4.658 Rio Grande do Sul 4.455 1.301 3.154 Goiás 1.884 242 1.642 Rio de Janeiro 3.367 2.121 1.246 UF Grande parte das economias estaduais se beneficiam com a expansão da economia chinesa, pois esta é uma potencial compradora de produtos presentes nas pautas de exportações das unidades federativas. Essa relação pode ser melhor visualizada na tabela ao lado: A seguir foram listados alguns dos 35 acordos firmados entre os governos brasileiro e chinês. Vale destacar que não foram aqui incluídos aqueles de teor cultural e esportivo, também contemplados nos investimentos. Outra observação é que existe a possibilidade de que os acordos fiquem só no papel, como ocorreu com os projetos de 2004. Agricultura e pecuária Fim do embargo na China: Plantas de produção de carne bovina brasileiras passarão a exportar carne para o país asiático; Assinado protocolo de requisito de saúde e quarentena, além de um acordo de cooperação sobre saúde animal e quarentena animal; Cooperação com o governo do Mato Grosso do Sul: instalação de uma fábrica de processamento de milho e soja – R$ 320 milhões. Irá proporcionar o crescimento das correntes comerciais entre os dois países. Além disso, a instalação da fábrica pode causar expansão do emprego e, consequentemente, da renda disponível no país, ampliando assim o consumo. Proporcionará também, uma diversificação da pauta exportadora brasileira com o retorno da venda de carne bovina, embargada desde 2012. Comunicação Memorando de entendimento sobre sensoriamento remoto, telecomunicações e tecnologia da informação; Colaboração: financiamento e operação de Projeto Free Wifi 4G; Parceria TIM e Huawei para criação de um centro de pesquisa e desenvolvimento de tecnologias de banda larga móvel, computação em nuvem e virtualização de redes no Brasil. Energia Instalação da primeira fábrica de painéis solares fotovoltaicos - R$ 150 milhões; Investimento de R$ 1 bilhão até 2017 para instalação de um centro de pesquisas e desenvolvimento com foco em estudos e tecnologias para veículos elétricos, baterias, smart grid, energia solar e iluminação; Cooperação na área de tecnologia nuclear. Investimentos em fontes alternativas de energia. Meio Ambiente Parceria da Odebrecht Defesa e Tecnologia com a China Electronics Corporation e o Industrial and Commercial Bank of China: desenvolvimento do Programa de Integração da Amazônia Legal (PIAL), que prevê uma evolução nos atuais sistemas de monitoramento e vigilância da região. Petróleo Três acordos de cooperação para financiamento de projetos da Petrobrás: um de US$ 5 bilhões financiado pelo Banco de Desenvolvimento da China; outro de US$2 bilhões com o China Exim Bank e o terceiro com valor não divulgado. Transporte Estudo de viabilidade do Projeto Ferroviário Transcontinental: 4,4 mil km de extensão, do Centro-Oeste brasileiro ao Peru. O objetivo é facilitar o escoamento de grãos e minério para a China pelo Pacífico custo estimado de US$ 10 bilhões. Barateamento da logística nacional. Relações Exteriores Plano de ação conjunta entre Brasil e China no período de 2015 a 2021, além da implementação de projetos para promoção de investimentos e criação de oportunidades de negócios entre os países. Ciência e tecnologia Cooperação científica para pesquisa e produção conjunta do satélite de recursos terrestres China-Brasil (Cbers); Memorando de entendimento sobre oferta de treinamento em TI à bolsistas do programa Ciências sem Fronteiras; Construção da nova estação científica Comandante Ferraz, na Antártica. Incentivos na área de Pesquisa e Desenvolvimento, reconhecido impulsionador para o desenvolvimento de um país. Comércio Exterior Contrato de compra e venda de ações do Banco BBM S.A.: Compra de 80% das ações do banco fundado em 1858 no Brasil. A operação, realizada pelo Banco de Comunicações da China, totalizou R$ 525 milhões; Acordo de financiamento de 22 aeronaves da Embraer (US$ 1,1 bilhão), além de um contrato de financiamento leasing operacional para a Azul Linhas Aéras (US$ 200 milhões). Indústria Memorando de entendimento para criação do Polo Automotivo de Jacareí (SP): Projeto encabeçado pela Chery e fornecedores. Instalação de um grande parque de fornecedores ao redor de sua nova fábrica – US$ 700 milhões; Instalação de um complexo metalúrgico no Maranhão. A criação do polo automotivo pode gerar mais empregos, elevando a renda disponível na economia e impulsionando o consumo. Pode também atrair mais investimentos devido ao efeito spillover, difusor de investimentos, da montadora. Isso ocorre quando a instalação de determinada fábrica atrai fornecedoras de insumos que se instalam próximas a esta. Um exemplo é o caso da FIAT, localizada em Betim. Os efeitos econômicos decorrentes dessa atração, gera um resultado benéfico para o dinamismo da economia regional. Minério - VALE Acordo de cooperação financeira global envolvendo a VALE (US$ 4 bilhões). Além disso, a mineiradora brasileira irá vender 8 navios de grande porte para companhias chinesas (US$ 445 milhões); Fornecimento de minério de ferro, principalmente da linha "premium" (de melhor qualidade). Impulso para o comércio de minério e reflexos positivos em toda cadeia produtiva.