O PROCESSSO DE ENVELHECIMENTO NO CENÁRIO DA SOCIEDADE CAPITALISTA Esp. Sheila Fabiana de Quadros (UNICENTRO) Dra. Rita de Cássia Oliveira (UEPG) RESUMO. O trabalho que aqui se encontra propõe repensar acerca dos conceitos de idoso, velhice e envelhecimento, situando-os na dinâmica da sociedade capitalista. Pensar o envelhecimento populacional significa pensar também sobre o modelo de sociedade gestado atualmente sob o foco capitalista, que de certa forma retira do sujeito a sua condição como idoso, fazendo-o objeto do capital, e como não mais produz aos olhos do capital, não recebe o atendimento que necessita. A sociedade, condicionada a se observar tudo pela força de trabalho, acaba por perder a condição de humano, no sentido de não valorizar a pessoa nesta condicionalidade, muito menos quando se trata daqueles que já atingiram idade superior a 60 anos, deixando de ser mão-de-obra. Existem sensíveis mudanças em relação ao previsto nas atuais Políticas Públicas, mas infelizmente o cumprimento de tal legislação ainda é precário, tampouco garante efetivamente a participação ativa deste segmento da população no meio social. Ainda, cabe citar que as transformações demográficas mais significativas ocorreram a partir da década de 70, com o avanço da industrialização e modernização do campo, porém, não foi suficiente para garantir a participação do idoso nos espaços que seriam de seu direito. Em resumo, o presente texto procura incitar o leitor a refletir acerca do idoso no contexto atual, permeado pela historicidade da construção de sua identidade. Palavras-chave: Idoso. Velhice. Envelhecimento. Sociedade. ABSTRACT. The work proposed here is to rethink about the concept of elderly people, age and aging, placing them in the dynamics of capitalist society. Thinking aging population also means thinking about the model of society gestated currently under capitalist focus, which somehow takes the subject to his condition as elderly, making the object of capital, and as no longer produces the eyes of the capital, not receive the care they need. The society conditioned to observe all the labor force, ultimately losing the human condition, to not value the person in this conditionality, much less when it comes to those who have reached the age of 60 years, leaving to be hand workforce. There are sensitive changes in relation to what is predicted in current public policy, but unfortunately the enforcement thereof is still precarious, nor effectively ensures the active participation of this segment of the population in the social environment. Still, it is worth mentioning that the most significant demographic changes occurred from the '70s, with the advance of industrialization and modernization of the countryside, however, was not enough to ensure the participation of the elderly in the spaces that would be their right. In summary, this paper seeks to encourage the reader to reflect on the elderly in the current context, permeated with the historicity of the construction of their identity. Revista Interlinguagens 2013 4ed v.1 ISSN 2178-955X Página 205 Keywords: Elderly. Age. Aging. Society. Introdução Idoso, segundo o Estatuto do Idoso é todo indivíduo que possui idade igual ou acima de 60 (sessenta) anos. A implantação das Políticas de Atendimento ao Idoso surge para que esta camada possa participar ativamente da vida em sociedade, respeitadas as condições próprias para tal. Remetendo-nos ao Estatuto do Idoso, percebemos que ele visa a normatização dos cuidados e atendimento para com a pessoa idosa, de maneira a garantir-lhes condições de qualidade de vida, especialmente diante do pressuposto fundamental da proteção integral. A sociedade contemporânea revela uma trajetória histórica e política do atendimento aos idosos, que prima por uma nova concepção de velhice, bem como a percebe como uma fase diferenciada, e que, portanto, exige procedimentos para atendê-los ou inserilos em programas específicos. Assim, evidenciamos que o atendimento a esta demanda se constitui como preocupação no cenário nacional, e é também a partir do que se orienta e delimita as ações em âmbito municipal. Desde o século passado, presenciamos uma nova percepção da velhice enquanto uma fase da vida bem como do conceito de idoso. A partir de então, uma nova perspectiva em relação ao idoso se estabelece, é certo, gradativamente, como toda mudança na esfera social. Os dados demográficos demonstram o crescimento considerável da população idosa bem como apontam uma nova forma de atender esta população, visto que os próprios meios de comunicação de massa enfocam o idoso num novo prisma, visto como uma categoria social. Em outras palavras, a velhice começa a assumir um novo espaço social, que, segundo Barros (2003, p.9) ultrapassa os limites das vidas particulares de cada um e de cada família, para, com outras tantas questões, atrair a atenção de nossa sociedade. Uma nítida constatação do crescimento da população brasileira com faixa etária acima de 60 (sessenta) anos pode ser comprovada quando observamos os dados dos sensos demográficos, mas não se limita aos mesmos, podendo ser observados vários Revista Interlinguagens 2013 4ed v.1 ISSN 2178-955X Página 206 fatores que intervém consideravelmente no processo de envelhecimento e na forma com que esta condição vem sendo aceita e trabalhada nesta forma de sociedade da qual fazemos parte. Conceituando idoso, velhice e envelhecimento numa perspectiva dialética. Um dos trabalhos de referência quanto ao conceito de idoso se refere aos escritos de Beauvior, em sua obra A Velhice, desenvolvido na década de 70 na Franca. Tal obra considera que “[...] a imagem da velhice é incerta,confusa, contraditória” (BEAUVOIR, 1990. p.109). Assim, historicizando a velhice, podemos apontar algumas maneiras de concebê-la na dinâmica social, onde podemos encontrar as contribuições de outros autores, tais como Silva (2003) que ao se referir à dimensão histórico- social da velhice, nos relata que quando as sociedades começaram a se organizar, a concepção e o papel dos velhos era determinado por usos e costumes, encontrados em cada cultura, em referência a uma dada conjuntura histórica. Para algumas comunidades, eles eram os transmissores da cultura, como por exemplo, dos valores religiosos. Ainda, poderiam ser os guardiões do saber, os quais se responsabilizavam por educar os mais jovens. Desta forma, ocupavam um lugar de respeito e tinham um determinado status, que os permitia gozar de certos direitos e privilégios. Para Magalhães (1987) esse tipo de tratamento é denominado ‘função social da velhice’, cujas características sofriam variações em relação à cultura e ao espaço de tempo histórico vivido. Eram tidos como curandeiros, conselheiros, sábios ou feiticeiros, sempre associados ao respeito pela experiência de vida acumulada. Já para Burns (2005) o processo de envelhecimento nas sociedades antigas era basicamente de cunho individual, já que o número de pessoas velhas era insignificante, fazendo com que, consequentemente, fossem mínimas as possibilidades de se chegar a reunir um mero grupo cujos integrantes estivessem na faixa etária de 60 anos. A partir das revoluções, as quais ocorreram de maneira sucessiva, (como por exemplo, as de ordem comercial, industrial e econômica), desencadeando modificações consideráveis na estrutura social ao redor do mundo, uma nova maneira de conceber o idoso começa paulatinamente a assumir um novo perfil na sociedade. Revista Interlinguagens 2013 4ed v.1 ISSN 2178-955X Uma das Página 207 consideráveis mudanças foi a diminuição da taxa de mortalidade, a partir do que o conceito de velhice foi aparecendo e se delineando, historicamente, ainda que de maneira gradativa. Dentre outros, encontramos o trabalho sobre serviço social e idosos de Amaral (1991, p.13), onde considera que “[...] o conceito de velhice difere em cada sociedade, a partir da significação que o envelhecimento tem, o que acarreta uma pluralidade de conceituações [...]”. O que pretendemos não é apenas chamar a atenção para tais conceitos, mas sim, compreendê-los na construção da identidade do sujeito idoso e das fases em que estes se encontram, valorizando-os como um segmento social. Para Beauvior (1990) a velhice se caracteriza como um fenômeno biológico que acarreta consequências psicológicas, tendo sua dimensão existencial, não sendo estático, mas sim, o resultado de um processo. Ou seja, para a autora, a velhice se estabelece numa dinâmica de relações, tais como as de ordem social, e não se concentra meramente no acúmulo de anos vividos. Peixoto (2000) considera que a noção de velho é fortemente assimilada à decadência e confundida com incapacidade para o trabalho, que é o que mais se aproxima da discussão que propomos neste espaço. Silva (2003) acredita que a idade constitui um dado importante, mas na realidade não determina a condição da pessoa. Para essa autora, o essencial é analisar a vida numa perspectiva individual a partir da influência de fatores econômicos, políticos e sociais. É importante salientar que o processo de envelhecimento contém em si a fase da velhice1, mas não se esgota na mesma, pois a qualidade de vida e do próprio processo de envelhecimento se concentra atrelado aos fatores sociais e econômicos, principalmente. A qualidade de vida e, consequentemente, a qualidade do envelhecimento, relacionam-se com a visão de mundo do indivíduo e da sociedade em que ele está inserido, bem como com o “estilo de vida” conferido a cada ser, [...] (BRÊTAS, 1997. p.63). 1 Aqui caberia uma conceituação do significado de velhice, e neste momento seria oportuno citar Martins (2002), a velhice pode ser considerada um conceito abstrato, porque diz respeito a uma categoria criada socialmente para demarcar o período em que os seres humanos ficam envelhecidos, velhos, idosos. Revista Interlinguagens 2013 4ed v.1 ISSN 2178-955X Página 208 Em outras palavras, o que se quer afirmar é que o processo de envelhecimento varia de sujeito a sujeito, de acordo com as condições individuais. O envelhecimento é um fenômeno que atinge todos os seres humanos, independentemente. Sendo caracterizado como um processo dinâmico, progressivo e irreversível, ligados intimamente a fatores biológicos, psíquicos e sociais (BRITO E LITVOC, 2004). Talvez as modificações menos perceptíveis sejam as de ordem social, pois são verificadas quando as relações sociais tornam-se alteradas em função da diminuição da produtividade ou isenção desta e, principalmente, do poder físico e econômico, sendo a alteração social mais evidente em países de economia capitalista, tal como o Brasil (MORIN apud SANTOS, 2003.) Dentre outros inúmeros fatores de envelhecimento, percebemos que os mesmos vêm intimamente articulados e relacionados e, para que o envelhecimento se aproxime de maneira saudável, os fatores que intervém direta ou indiretamente nesta fase são primordiais para uma velhice segura, com qualidade de vida. Aqui cabe salientarmos que qualidade de vida não é sinônimo apenas de saúde, mas de todos os fatores interligados à vivência de cada um em específico, tal como o âmbito educacional. Em geral, a velhice é vista como uma fase de inutilidade, de isolamento e até mesmo de decadência segundo a percepção social que a circunda. Em outras palavras, mesmo que existam várias concepções acerca da velhice como fase vivida pelos sujeitos idosos, estes são parte de um contexto social e protagonizam suas histórias no cenário real de suas vidas, e assim, com o aumento considerável da população idosa em termos mundiais, somos convidados a estudar esta temática contextualizando-a sob aspectos sociais, políticos, econômicos, culturais e educacionais, pois todos estes fatores são primordiais para que os compreendamos. Para que possamos situar o sujeito idoso num contexto politico e social, é necessário primeiramente que se extrapolem os limites de uma concepção simplista, na qual tudo se explica a partir de fragmentos e se justificam pela ordem natural das coisas, mas ao contrário, os aspectos de ordem social, econômica, cultural, dentre outros, são integrantes deste processo, e o constituem na totalidade. Revista Interlinguagens 2013 4ed v.1 ISSN 2178-955X Página 209 Assim, o idoso precisa ser reconhecido como uma categoria social, sujeito de direitos, que precisam estar, além de previstos, assegurados diante da lei. Ora, a população idosa constitui e representa a história da humanidade, das suas vivências, ações e demais poderes constituídos, que não podem ser silenciados pela Politica, tampouco continuar sendo reproduzidos pela forma de estrutura social posta, determinada por aqueles que detêm o poder. Pensando desta forma, o estado capitalista encontra representatividade pela hegemonia do poder bem como da produção do capital, o que demonstra de maneira muito nítida a necessidade de superação desta realidade. Ainda, é também nesta situação de divergências e contrapontos que encontramos no âmbito social, politico e econômico, executando as políticas públicas, as quais, vinculadas às esferas dominantes do poder, apenas corroboram para afirmar a desigualdade e a ausência de direitos assegurados. Ao contrário, deveriam tais políticas surgir como importantes aliadas à superação da lógica do capital, e desta forma, não podem estar vinculadas ao discurso da caridade, solidariedade, e sim, dos direitos. Mesmo quando se elabora ou se avalia os conceitos de velhice, envelhecimento e idoso, persiste uma estreita relação destes com a realidade social. Netto (2002, p.10) elaborou o seguinte conceito de envelhecimento: O envelhecimento (processo), a velhice (fase da vida) e o velho ou idoso (resultado final) constituem um conjunto cujos componentes estão intimamente relacionados. [...] o envelhecimento é conceituado como um processo dinâmico e progressivo, no qual há modificações morfológicas, funcionais, bioquímicas e psicológicas que determinam perda da capacidade de adaptação do indivíduo ao meio ambiente, ocasionando maior vulnerabilidade e maior incidência de processos patológicos que terminam por levá-lo à morte. (PAPALÉO NETTO, 1996). [...] Às manifestações somáticas da velhice, que é a última fase do ciclo da vida, as quais são caracterizadas por redução da capacidade funcional, calvície e redução da capacidade de trabalho e da resistência, entre outras, associam-se a perda dos papéis sociais, solidão e perdas psicológicas, motoras e afetivas. Em termos de Brasil, o desafio social do envelhecimento se dá principalmente pelo fato de que o crescimento da população idosa constitui uma preocupação mundial. Porém, esse crescimento em países em desenvolvimento causa uma ansiedade um pouco maior devido aos problemas acentuados de desigualdades sociais. Revista Interlinguagens 2013 4ed v.1 ISSN 2178-955X Página 210 O Brasil, em específico, apresenta características muito peculiares em relação ao crescimento e desenvolvimento de sua população idosa, sendo que as mudanças são muito rápidas e evidentes, ocorrendo numa dinâmica muito mais acelerada, apresentando alterações visíveis de uma década à outra. Nestas circunstâncias, é importante mencionar que o aumento da população idosa se dá em um período onde tudo é muito complexo, pois acentua uma contradição, enquanto nos orgulhamos da possibilidade de crescimento e expectativa de vida, há uma preocupação com o aumento da desigualdade social existente no país, perda de direitos, aumento do desemprego em virtude das transformações do mundo do trabalho, redução dos gastos públicos a partir de políticas que aprofundam a pobreza. Segundo Rodrigues & Rauth (2002), o nosso país não conseguiu resolver problemas clássicos do subdesenvolvimento e já se depara com uma massa de idosos necessitando de atendimento imediato. Essa mudança populacional, ainda de acordo com as autoras, produz desafios de toda ordem, ou seja, desafio para a família, a saúde, a pobreza e principalmente para as políticas sociais. Analisando os apontamentos acima, chegamos a uma ideia de que as questões de ordem social e econômica interferem diretamente junto às Políticas Públicas, pois num país em desenvolvimento as prioridades acabam sendo vinculadas à classe trabalhadora, deixando a demanda de idosos à mercê do que é possível realizar, como se o atendimento aos mesmos não fosse prioridade. As transformações conjunturais se refletem em todas as gerações, mas é o segmento idoso o que mais sofre as mazelas decorrentes da crise resultante do Estado Mínimo para as políticas sociais, onerando as famílias e a sociedade com os ônus decorrentes da velhice, rincipalmente no que concerne à seguridade social (GOLDMAN, 2004.p.61). Em âmbito social uma vida longa significa para as esferas sociais uma particular preocupação para os cofres públicos, em virtude das questões da Previdência Social. Pela lógica, um idoso que na atualidade possui 60 (sessenta) anos, poderá viver mais 10 (dez) ou 20 (vinte) anos, e estes últimos estarão seguros pelo sistema de Previdência Social. Revista Interlinguagens 2013 4ed v.1 ISSN 2178-955X Página 211 Nesta esfera da discussão, encontramos ainda outra problemática que diz respeito às questões de que o idoso é considerado numa sociedade capitalista como incapaz de produzir, ou seja, de trabalhar, o que interfere de maneira direta na questão da produção, típica deste tipo de sociedade. Segundo Camarano (2004), a maior parte da renda dos idosos provém das aposentadorias e pensões, tanto para os homens como para as mulheres, principalmente porque existem mais mulheres viúvas que homens. Embora a renda dos idosos venha basicamente das aposentadorias e pensões, os valores das mesmas são considerados muito baixos para quem nessa fase da vida precisa gastar mais. Mesmo diante das determinações previstas na Política Nacional do Idoso bem como no Estatuto do Idoso, que é o que preconiza e implementa a legislação específica para a pessoa idosa, estes não gozam de todos os direitos que lhes deveria ser acessível. Exemplo desta afirmativa são os destaques da literatura em relação aos idosos, pois a mesma se concentra em grande parte nas questões de saúde e assistência social, minimamente na questão educacional, visto que educação do idoso não é, ainda, prioridade no cenário nacional. Assim, estando num país de predominância da desigualdade social, o envelhecimento acaba representando um desafio considerável para as Políticas Públicas, tendo em vista as questões de proteção integral a este segmento social. Utilizamos neste espaço a palavra segmento justamente para fins de estudos, e não meramente como recorte desta demanda social. Os idosos se constituem novos atores no cenário social, visto as necessidades e possibilidades de intervenção em relação às controvérsias que podem emergir no cenário nacional no que tange aos aspectos da educação do idoso. Em seu estudo Camarano (2002) observou que as famílias brasileiras com idosos estão em melhores condições econômicas que as demais, isso porque estes contribuem com mais de 50% do orçamento familiar através dos benefícios da previdência ou da assistência social. De maneira resumida, ainda não há um interesse nem objetivo em promover os direitos dos idosos em sua totalidade, pois seria praticamente romper com os padrões estabelecidos historicamente, e como a sociedade ainda preserva um caráter Revista Interlinguagens 2013 4ed v.1 ISSN 2178-955X Página 212 essencialmente capitalista, seria uma contradição investir na camada social que menos produz e, assim, não traria lucro aos cofres públicos. Diante da discussão aqui exposta, podemos concluir que, neste momento, há uma evidente e intrigante situação de descompromisso diante deste segmento social, e ainda há necessidade de inúmeras mudanças na maneira de perceber a pessoa idosa em sua totalidade, superando a lógica da sociedade capitalista. Considerações Finais Conceituar e analisar o idoso no contexto da sociedade capitalista contemporânea requer percebê-lo numa dinâmica impossível de ser separada da situação econômica, e em particular, daquelas que se referem ao mercado de trabalho, em específico no que se relaciona às forças produtivas. Neste ensejo, podemos perceber que existe uma articulação muito estreita entre a forma com que o idoso é percebido na sociedade com a questão da produtividade para a mesma. Assim, o que se pretendeu discutir neste texto são as questões de como o ser humano chega a um período que não exerça mais funções e estas funções seriam exatamente em favor de quem? Ora, diante da sociedade capitalista da qual fazemos parte, só há uma explicação para tal feito; para que interesse em focar ações numa demanda que não gera lucro e tampouco produz, ao contrário, por muito tempo não houve algum interesse em suprir as necessidades dos idosos, que dirá promover ações e demais feitos que promovam sua inserção em espaços diversificados. O que precisaria ocorrer de fato é que fosse superada a ideia de que o sujeito idoso é inativo, e, portanto, improdutivo. O idoso se encontra num dado contexto social, e assim, tem um papel a ser vivido no meio social, tanto quanto a criança, o adolescente, o adulto, cada um em um momento da vida. Assim, o idoso se encontraria numa situação em que não estaria mais promovendo a sociedade capitalista, pois por essa lógica, o mesmo estaria causando prejuízos a essa sociedade. Uma vez que não produz, e em sua maioria está em condição de aposentado, precisa que os recursos públicos os mantenham. Revista Interlinguagens 2013 4ed v.1 ISSN 2178-955X Página 213 Complementando, a partir do modelo econômico que nos encontramos, o qual propõe o trabalho como meio de sobrevivência, uma das premissas em se viver neste tipo de sociedade é produzir, e assim, o foco passa a ser o sujeito jovem, que dispõe de condições e capacidade de executar diferentes tarefas. Assim, o então trabalhador, quando chega à fase da velhice, acaba ficando à margem do mundo do trabalho. O idoso não pode se limitar a expectador de sua própria vida, percebendo sua identidade como sujeito social. Existe urgência em se perceber as determinações que expressam a vida social do idoso em virtude das inúmeras contradições sociais que permeiam o mundo do capital. É preciso ir além do conhecimento das Políticas que permeiam os direitos da pessoa idosa, pois não basta conhecê-las, e sim, compreendê-las na dinâmica da sociedade. Assim, destacar a Política Nacional do Idoso Lei N° 8.842, de 4 de janeiro de 1994; Benefício de Prestação Continuada (BPC – vigente na Lei Orgânica de Assistência Social – LOAS); Política Nacional de Saúde do Idoso, Estatuto do Idoso, dentre outros, não é suficiente quando nosso objetivo é compreender a dinâmica onde se estrutura a sociedade de classes. Em suma, o que propomos neste texto é refletir acerca do idoso na sociedade contemporânea, onde presenciamos uma situação bem particular, em que estes sujeitos não foram respeitados da maneira que deveriam. O surgimento da Politica Nacional do Idoso ficou de certa forma articulada à implementação do Estatuto do Idoso, que juntamente aos próprios idosos iniciaram um processo de mobilização em prol de seus direitos, principalmente enquanto aposentados. Sabemos que o próprio Estatuto do Idoso tramitou no Congresso nacional a partir de 1997, mas apenas no ano de 2000 é que foi instituída uma comissão para tratar do mesmo e em 2001 foram realizados dois seminários nacionais, quatro seminários regionais e mais um promovido pela Comissão de Direitos Humanos. Poderíamos concluir este primeiro momento dizendo que já houve avanços quanto ao atendimento ao idoso, porem, há muito que se fazer em prol desta camada social, principalmente a oferta de espaços educacionais. A educação tem como função social despertar nos homens a capacidade de intervenção no mundo, através de conhecimentos que possibilitem às pessoas deixarem Revista Interlinguagens 2013 4ed v.1 ISSN 2178-955X Página 214 de ser objetos para se transformarem em sujeitos da sua história, ou seja, o idoso se perceber fazendo história e participando ativamente desta. Referências ANDERY, M. A.../et al./ Para Compreender a Ciência. RJ: Espaço e tempo: EDUC, 1988. BEAUVOIR, S. A velhice. 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