CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE MINAS GERAIS Departamento de linguagem e tecnologia – Mestrado em estudos de linguagens Ana Luzia Marques de Vasconcelos Resenha do texto: A rede interacional no ambiente digital de aprendizagem Vicente Parreiras começa esta seção afirmando que tratará a interação de professor e aluno sob o ponto de vista de uma rede complexa. Cita Allwright (1984), que considera a interação como fundamento da abordagem comunicativa para o ensino de línguas e algo que perpassa as experiências em sala de aula. O que se contrapõe à comunicação unidirecional da “Era industrial” e do “Taylorismo”. Além de Allwright, outros autores apontam a importância da interação para a aprendizagem. A partir do foco de Piaget (1971) no estudo das relações entre sujeito e objeto, surge a teoria de que o conhecimento se origina do resultado da relação do sujeito com o objeto sem diferenças, como havia entre o professor (detentor do saber) e o aluno (mero receptor). Parreiras contrasta a teoria de Piaget com a de Vygotsky, uma vez que, para o segundo, a aprendizagem não se restringia ao desenvolvimento interno, acontecia também socialmente. Assim, a interação social impulsiona a aprendizagem. Essa teoria se baseia: no suporte biológico, no fundamento psicológico e na cultura. Freire (1987) também enfatiza o meio como fundamental na viabilidade da aprendizagem, dependendo da mediação do professor, abordando assuntos da realidade do educando. Figueiredo (2000) e Paiva (2002) interpretam Vygotsky no ensino e aprendizagem de línguas destacando a interação entre sujeito e objeto como a que possibilita a aprendizagem. Partindo da importância dos artefatos que a mediam (Donato e MC Cormik,1994), Figueiredo os confirma e aponta uma influência na Zona de Desenvolvimento proximal (ZDP). Sendo esta conceituada como a distância entre a solução independente e a solução interativa, encontrada pela criança ao longo de seu desenvolvimento. Paiva (2002) cita Figueiredo (2000) mostrando convergências entre Krashen (construto do input) e Vygotsky (construto da interação). Paiva, com base nessas convergências, propõe o “Modelo fractual de aquisição de língua”, que é um conjunto de conexões de um sistema dinâmico e de possibilidades infinitas analisado por Parreiras. Morin (1990) mostra as interações entre as partes do sistema proposto por Paiva. Mais tarde, pesquisadores como Ellis (1999) e Leffa (2003) investigam como acontecem essas interações em salas de aula de língua estrangeira, considerando condições favoráveis. A interação é mais uma vez destacada. Ainda para Ellis, o processamento da informação se dá pelos registros sensoriais e pelos armazenamentos na memória de curto e longo prazo. A partir de estudos como os de Craik e Lockart (1972), Ellis se fundamenta em respostas a questionamentos como: como a interação/input contribuem para a aquisição de segunda língua? Como a promovem? Que tipo de pedagogia é necessária para a aprendizagem de língua estrangeira? Confirmando a importância da interação para o processo de aprendizagem de língua se seguiram Jonassen (1999) e Chapelle (1997). A última enfatiza as interações aprendiz-aprendiz e aprendizprofessor influenciando, inclusive, na modificação de conteúdo. Warschauer (1998) examinou a interação online. Van Lier (1997) aborda a variedade de formas da interação na sala de aula, defendendo a superioridade reflexiva das interações assíncronas na aprendizagem de línguas. Parreiras atualiza os estudos da interação incorporando a sala de aula virtual. Começa com Greaves e Yang (1999) no uso da CMC. Cita também modos diferentes de comunicação via internet abordados por Jonsson (1998) – a natureza híbrida do discurso eletrônico; Souza (2000) – o chat com finalidade pedagógica e Khan (1997) aprendizagem cooperativa e colaborativa. Souza (2000) identificou e descreveu traços da oralidade em interações escritas. Conclui-se que Parreiras considera a aproximação entre escrita e fala neste ponto do trabalho. Alexander (1999) e Paiva(1999) concebem a interação eletrônica como mais segura aos alunos, no sentido de que se sintam menos ameaçados. Souza (2003) utiliza a metáfora da bicicleta de dois acentos ( “tandem” ) para explicar a interação na modalidade de ensino/aprendizagem . Parreiras retoma Morin quando este considera o fenômeno biológico e cognitivo da interação como mecanismo de evolução. Castells (1999) e Lévy (1999) consideram o ambiente de interação em seu aspecto multidisciplinar e Nuna (1989) no da necessidade do aluno. Parreiras sintetiza o contraste desses mais recentes estudos com a rigidez do ensino anterior, que permeava a relação professor/aluno. Cita exemplos de experiências em que o tradicional foi de alguma forma, desestruturado e dinamizado. Projetos, mediação do computador e outros suportes pedagógicos só confirmam que maneiras de agir e pensar, bem como os lugares dos sujeitos se ampliam, culminando “no modelo de escola transformadora proposto por Soares (1993).” Assim como em outras disciplinas, ensinar a língua é também uma tarefa política. Concluindo, de acordo com Lévy (1993) e Prigogine (1996), as TIC impõem uma fragmentação do tempo e do espaço, sendo necessária nova forma de gerenciar o processo de produção do conhecimento, com base na participação e integração entre alunos e entre estes e o professor. Belo Horizonte, 25 de outubro de 2011. PARREIRAS, V.A. A rede interacional no ambiente digital de aprendizagem. IN: A sala de aula digital sob a perspectiva dos sistemas complexos: uma abordagem qualitativa. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos da Universidade Federal de Minas Gerais. 2005. Cap.II. 61-79p.