DEPRESSÃO (Texto Adaptado) Prof. Domingos de Oliveira A depressão por ser uma das maiores ameaças do equilíbrio do bem-estar humano é apontada como um dos principais transtornos da atualidade para a saúde pública, podendo ocorrer em todas as faixas etárias (COUTINHO et al., 2003). Acredita-se que a depressão seja a principal causa de incapacidade mental em termos mundiais, cuja estimativa pressupõe que seja a segunda causa de incapacidade para a saúde até 2020 (ROMBALDI et al. 2010). Essa patologia pode afetar de maneira distinta cada individuo, devido a pluralidade da origem da depressão, bem como à dificuldade quanto a identificação de seus sintomas, por estar conectado a diversos fatores tais como: genéticos, psicológicos, ambientais e sociais (CUNHA; BASTOS; DUCA, 2012). A fase adulta é a faixa etária com maior frequência de depressão, isso se dá pelo fato dos indivíduos sofrerem várias transformações no decorrer da vida, tanto físicas, com psicológicas, propiciando a eclosão de comportamentos irreverentes e desafiantes (BOTTI et al., 2010). Neste sentido, é necessário levar em conta, que é na adolescência que ocorre o desenvolvimento do autoconceito, autoestima e de conceitos mais complexos, daí a importância do suporte familiar, como fator determinante na vida destes indivíduos (BAPTISTA; BAPTISTA; DIAS, 2001). Depressão pode ser definida dentro do campo biológico como uma doença orgânica, cuja etiologia está associada principalmente a fatores hereditários e, consequentemente, o tratamento mais indicado estaria atado à terapia farmacológica. Os transtornos são diagnosticados através do aparecimento de sintomas, cuja diferenciação entre a classificação de uma depressão maior ou uma reação de adaptação depressiva habitualmente é realizada através do preenchimento ou não dos critérios diagnósticos arrolados (MONTEIRO; LAGE, 2007). Segundo a Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde - CID10, existem 36 subdivisões e a referência à manifestação do humor depressivo não está limitado somente aos transtornos de humor, mas em outros transtornos psiquiátricos, como, por exemplo: os fóbico-ansiosos, ansiedade generalizada, obsessivo-compulsivo e os transtornos depressivos de conduta. Já no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - DSM-IV, existem 29 subdivisões para os transtornos do humor. As outras classificações limitam-se à mera observação do comportamento e dos fenômenos sem remeter-se a nenhuma etiologia (MONTEIRO; LAGE, 2007). A característica fundamental do transtorno depressivo maior é um curso clinico caracterizado por um ou mais episódios depressivos maiores, sem história de episódios maníacos, mistos ou hipomaníacos. Às vezes é difícil diferenciar entre um episodio único com sintomas que vêm e vão e dois episódios separados. No que concerne ao DSM-IV (1995) um episódio é considerado findo quando não mais são satisfeitos todos os critérios para o transtorno depressivo maior por pelo menos 2 meses consecutivos. A remissão parcial ocorre se durante esse período de 2 meses ocorrer a resolução completa dos sintomas ou a presença de sintomas depressivos que não mais satisfazem os critérios completos para um episódio depressivo maior (DSM-IV, 1995). O transtorno depressivo maior pode começar em qualquer idade, situando-se em média em torno dos 25 anos, no entanto, dados epidemiológicos sugerem que a idade de inicio está baixando para aqueles nascidos mais recentemente. Esses episódios frequentemente se seguem a um estresse psicossocial severo, como a morte de um ente querido ou divórcio. Condições médicas gerais crônicas e dependência de substâncias podem contribuir para ao inicio ou a exacerbação deste transtorno (DSM-IV, 1995). Já a característica fundamental do transtorno distímico é um humor permanentemente deprimido que ocorre por pelo menos 2 anos, predominantemente todos os dias, bem como na maior parte do dia. Os indivíduos com esse transtorno relatam seu humor como triste ou “na fossa”. Em crianças, o humor pode ser irritável ao invés de deprimido, e a duração mínima exigida é de apenas 1 ano, ocorrem igualmente em ambos os sexos e com frequência acarreta um comprometimento do desempenho na escola e na interação social (DSM-IV, 1995). O transtorno distímico tem frequentemente um curso precoce e insidioso, além de crônico, acarretando a presença proeminente de baixo interesse e de autocrítica, frequentemente vendo a si mesmos como desinteressantes ou incapazes. As crianças e adolescentes, geralmente se mostram irritáveis e ranzinzas, bem como deprimidos, e podem ter baixa autoestima e fracas habilidades sociais, sendo também pessimistas. Já na idade adulta, as mulheres estão duas a três vezes mais propensas a desenvolver esse transtorno do que os homens (DSM-IV, 1995). Colavite et al. (2013) apontam como fatores de risco que propiciam a depressão, histórico de depressão, ser mulher, viver em uma família disfuncional, baixa educação dos pais, suporte social, baixa autoestima, problemas de saúde, entre outros. Segundo o CID-10 (1998) os episódios depressivos devem apresentar critérios como: duração de pelo menos duas semanas de humor rebaixado; não haver sintomas hipomaníacos ou maníacos, em qualquer época na vida do individuo; não ser atribuído ao uso de substância psicoativa ou qualquer transtorno mental orgânico. Esses critérios devem ser satisfeitos em todas as classificações de episódios depressivos: Episódio depressivo leve: apresenta os critérios gerais e pelo menos dois dos três sintomas básicos: humor deprimido em um grau que é definitivamente anormal para o individuo; perda de interesse ou prazer em atividades que habitualmente são agradáveis; energia diminuída ou fatigabilidade aumentada. Apresentam ainda pelo menos quatro dos sete sintomas adicionais: perda de confiança ou autoestima; sentimentos irracionais de autorreprovação ou culpa excessiva e inapropriada; pensamentos recorrentes de morte ou suicídio; queixas ou evidencias de diminuição da capacidade de pensar ou concentrar-se; alteração na atividade psicomotora; qualquer tipo de perturbação do sono; alteração no apetite. Episódio depressivo moderado: apresenta os critérios gerais e pelo menos dois dos três sintomas básicos e pelo menos seis dos sete sintomas adicionais. Episódio depressivo grave sem sintomas psicóticos: apresenta os critérios gerais, todos os três sintomas básicos e pelo menos oito sintomas adicionais. Não deve haver alucinações, delírios ou estupor depressivo. Episódio depressivo grave com sintomas psicóticos: apresenta os critérios gerais, todos os três sintomas básicos e pelo menos oito sintomas adicionais. Critérios não satisfeitos para esquizofrenia ou transtornos esquizoafetivo, tipo depressivo. Além de apresentar um dos dois sintomas: delírios ou alucinações; estupor depressivo. Outros episódios depressivos: esses episódios não se enquadram nos já descritos, mas para os quais a impressão diagnostica global indica que eles são de natureza depressiva, como por exemplo, misturas de sintomas depressivos com sintomas não diagnosticados e misturas de sintomas depressivos somáticos com dor ou fadiga. Episódio depressivo, não especificado. Já nos casos de episódios depressivos recorrentes os critérios são: houver pelo menos um episodio prévio, leve, moderado ou grave, separados por pelo menos dois meses; não houver um episodio satisfazendo os critérios para episodio hipomaníaco e maníaco, em qualquer época na vida do individuo; não ser atribuído ao uso de substância psicoativa ou qualquer transtorno mental orgânico. Esses critérios devem ser satisfeitos em todas as classificações de episódios depressivos recorrentes: Transtorno depressivo recorrente, episódio atual leve: apresenta todos os critérios gerais e o episodio atual satisfaz os critérios para episodio depressivo leve. Transtorno depressivo recorrente, episódio atual moderado: apresenta todos os critérios gerais e o episodio atual satisfaz os critérios para episodio depressivo moderado. Transtorno depressivo recorrente, episódio atual grave sem sintomas psicóticos: apresenta todos os critérios gerais e o episodio atual satisfaz os critérios para episodio depressivo grave sem sintomas psicóticos. Transtorno depressivo recorrente, episódio atual grave com sintomas psicóticos: apresenta todos os critérios gerais e o episodio atual satisfaz os critérios para episodio depressivo grave com sintomas psicóticos. Transtorno depressivo recorrente, atualmente em remissão: apresenta todos os critérios gerais e o estado atual não satisfaz os critérios para um episódio depressivo de qualquer gravidade ou para qualquer outro transtorno. Outros transtornos depressivos recorrentes. Transtornos depressivo recorrente, não especificado. Sinais e Sintomas: aa infância, os sintomas básicos de um episódio depressivo maior são os mesmo em um adulto, no entanto, segundo o DSM IV TR (2002) existem dados sugerindo que os sintomas característicos podem mudar de acordo com a idade. Segundo Colavite et al. (2013); Schwan; Ramires (2011) os sintomas mais comuns de depressão infantil são: humor depressivo ou irritável, falta de concentração, alteração do sono ou apetite, sentimentos de culpa ou inutilidade, diminuição de interesses, isolamento social, decadência escolar, retardo psicomotor, cansaço e pensamentos de morte ou suicídio, mesmo em crianças menores de 7 anos de idade que ainda não compreendem o que é a morte. Cerca de 3 a 15% dos adolescentes apresentam sintomas depressivos moderados e severos, e que por muitas vezes se assemelham aos apresentados pelos adultos, no entanto, existem características típicas nessa faixa etária como irritabilidade, a instabilidade, crises de explosão, raiva e graves problemas de comportamento, especialmente o uso abusivo de substâncias como álcool e outros tipos de drogas. Também há o isolamento e a dificuldade de concentração, acarretando os prejuízos no desempenho escolar, alterações no relacionamento familiar e o aumento das ideias e tentativas de suicídio (ARAGÃO et al., 2009; ALVARES; LOBATO, 2013). Cardoso (2011) ressalta que o desenvolvimento ou surgimento dos sintomas que caracterizam a depressão em adultos, comumente, está associado à presença de um evento aversivo, como situações de estresse, descontentamento na realização de atividades cotidianas (trabalho/casa/família), perda de algo ou alguém significativo para o indivíduo (morte de um ente querido/fim de um relacionamento/perda do emprego/aposentadoria, saída dos filhos de casa). Segundo Tier et al. (2007) os idosos apresentam características clínicas próprias dessa faixa etária, ocorrendo uma diminuição da resposta emocional (erosão afetiva) que acarreta sintomas como diminuição do sono, perda de prazer nas atividades habituais, ruminação sobre o passado e perda de energia. A depressão, numa definição geral tem sido reconhecida como um transtorno que tem como característica essencial à alteração do humor e perda do interesse pelas atividades cotidianas, podendo ocorrer em todas as faixas etárias (DSM-IV TR, 2002). Entretanto, em crianças e adolescentes esse transtorno só veio a ser reconhecido a partir dos anos setenta, pois se pensavam que a depressão infantil era rara ou inexistente, ou surgia em uma forma mascarada. A partir do reconhecimento oficial pelo Instituto Nacional de Saúde Mental dos EUA (NIMH) é que se começou a reconhecer que as condições depressivas dos adultos também podiam aparecer em crianças (LIMA, 2004). Durante os últimos anos, houve um crescente aumento de casos de depressão em todo o mundo, tanto em adultos, como em crianças e adolescentes, no entanto, Colavite et al. (2013) ressalta que ainda há uma grande dificuldade de se diagnosticar essa patologia, devido às diversas causas de ocorrência, podendo ser causas externas, hormonais, físicas ou ainda genéticas. Anteriormente, acreditava-se que as crianças e adolescentes tinham uma estrutura de personalidade imatura devido as diferentes abordagens, pois o desenvolvimento humano é visto sob diferentes perspectivas psicológicas, tanto aquelas relacionadas ao aparato cognitivo específico, quanto afetivo e socioambiental, de modo que a própria visão de homem e mundo pode ser bastante especifica e até adversa. O ser humano tem uma predisposição para a formação de vínculo, principalmente o afetivo, sendo uma necessidade primária, que se atrela com os ajustes da experiência, da qual se obtém o essencial na infância como a atenção e os cuidados para o desenvolvimento das capacidades, entre as quais, a afetiva e social (COLAVITE et al. 2013). A depressão em crianças é algo relativamente novo no que se refere a sua detecção ou identificação, e pode estar relacionada às estratégias que surgem no processo de desenvolvimento como uma forma de adaptação a condições externas desfavoráveis, podendo haver uma correlação entre experiências adversas na infância e o aparecimento de desordens psicológicas na fase adulta (COLAVITE et al. 2013). A depressão em um dos pais é considerada como fator de risco em crianças e adolescentes, assim como os estressores ambientais, perda de um dos pais, irmão ou amigo íntimo aumenta a propensão em pelo menos três vezes. Normalmente, a depressão maior em crianças surge em torno dos 9 anos de idade, já entre adolescente, ocorre por volta dos 13 aos 19 anos (COLAVITE et al. 2013). Crianças e adolescentes com depressão são mais vulneráveis a ter transtornos depressivos na fase adulta, sendo o suicídio o fator mais importante do quadro clínico da depressão, ocasionando um aumento significativamente no número de casos nas últimas décadas. Os casos de suicídio de meninos são mais que de meninas, no entanto, as meninas tentam mais que os meninos. A adolescência é um período de grandes mudanças a nível biopsicossocial, tornando esta fase mais vulnerável a alterações psicológicas, sendo os sintomas depressivos comuns nesta fase do desenvolvimento. A depressão em adolescente é frequentemente subdiagnosticada e subtratada, pois acredita-se que os sintomas possam estar disfarçados ou expressos em equivalentes depressivos como as queixas psicossomáticas, distúrbios do comportamento ou problemas escolares (RESENDE et al., 2013). A depressão no adolescente torna-se um problema cada vez mais sério, de acordo com Brito (2011) é considerada uma doença psiquiátrica com uma extensa morbidade, aguda e crônica e elevada taxa de mortalidade, portanto, a função primordial dos profissionais de saúde é a suspeição, intervenção e eventual referenciação. Segundo Resende et al. (2013) esta patologia pode manifestarse por sintomas inespecíficos, por isso é importante estar atento aos sinais, por vezes sutis, como por exemplo, a diminuição do rendimento escolar, tornando-o suscetível a reprovações. O suicídio no adolescente é uma manifestação particularmente dramática e grave, devido à tendência de comportamento autodestrutivo deliberado, sendo de três a quatro vezes mais comum em meninos, no entanto, em relação as tentativas de suicídio são mais comuns em meninas. O método mais utilizado são as intoxicações medicamentosas. Resende et al. (2013) ressalta que a identificação precoce dos adolescentes em risco potencial, tanto por parte dos profissionais de saúde, familiares e escola, é de suma importância para evitar tragédias futuras. O aumento das ideias e tentativas de suicídio é agravado devido à estimativa de que cerca de 70% dos adolescentes com depressão não recebem qualquer tipo de tratamento. Os sintomas da depressão em adolescentes estão correlacionados com baixos níveis de autoestima e isolamento social, alterações no relacionamento familiar, associado com frequência a comportamentos de risco como delinquência, promiscuidade, tabagismo, abuso de álcool e de drogas e risco de suicídio (ARAGÃO et al., 2009; RESENDE et al., 2013). A prevalência de depressão em crianças pré-escolares é dada em torno de 2% da população, o que é similar em idade escolar. Por ser um transtorno multifatorial, muitas vezes não consegue ser superada rapidamente e sem auxilio pessoal e profissional, causando extremo sofrimento para o indivíduo. Essa patologia compromete importantes funções sociais, emocionais e cognitivas, interferindo no desenvolvimento infantil, no entanto, a depressão na infância não pode ser confundida com o sentimento de tristeza, já que este faz parte da experiência normal do sujeito (SCHWAN; RAMIRES, 2011). Segundo Resende et al. (2013) em um estudo epidemiológico verificou-se um aumento progressivo do diagnostico de depressão em adolescentes ao longo dos anos, sendo sua prevalência estimada em cerda de 4 a 8%. Ainda segundo este autor em outro estudo realizado com adolescentes com idade entre 12 e 18 anos, a prevalência foi de 5%, com predomínio do sexo feminino, sendo os conflitos familiares o fator de risco de maior importância 38,5% para o desenvolvimento da depressão. A prevalência de depressão foi de 56,3% em estudos realizados por Botti et al. (2010) com homens adultos em situação de rua. A taxa bastante elevada revela a fragilização da saúde dos homens moradores de rua, que representa a linha final do processo crônico de exclusão social. A vulnerabilidade a essa patologia é causada por múltiplos fatores de risco, os quais estão associados à sua condição de extrema pobreza, que podem explicar em parte seus problemas físicos e mentais. A depressão é responsável por cerca de 850 mil mortes a cada ano, sendo o quarto maior agente incapacitante das funções sociais e outras atividades da vida cotidiana. Fatores como desemprego, baixo nível de instrução, falta de moradia e alimentação inadequada ou insuficiente, favorecem o desenvolvimento de um estado de desesperança, cujo efeito imediato é a redução da capacidade de lidar com situações estressoras de maneira adequada (BOTTI et al., 2010). A prevalência de depressão identificada por profissionais de saúde atinge cerda de 7,8 milhões de brasileiros de ambos os sexos, ou seja, aproximadamente 4,1% da população em geral. Já em relação os transtornos depressivos a prevalência é entre 4 e 10%, com maior ocorrência em mulheres 10 a 25%, nos homens esse percentual é de 5 a 12%. Outro fator importante destacado por Cunha; Bastos; Duca (2012) é que 1 em cada 20 pessoas é atingida por um episódio depressivo durante o curso da vida, dentre 50 casos diagnosticados um necessita de internação e 15% dos deprimidos graves cometem suicídio. Segundo estudos realizados por Cunha; Bastos; Duca (2012) há uma tendência no aumento da prevalência de depressão conforme o avanço da idade, com risco mais elevado maior 75% entre os adultos de 50 a 59 anos em comparação a adultos de 20 a 29 anos. Em Portugal, dentre os mais de um milhão e meio de pessoas com 65 ou mais anos, 60 mil pessoas são portadoras de demência e 100 mil de depressão, esse alto índice deve-se ao fato de que muitos desses casos são mal diagnosticados e insuficientemente tratados (DRAGO; MARTINS, 2012). O conceito qualidade de vida pode estar associado à condição ou estado de saúde e bemestar, por não existir uma definição única, clara e universal para este termo. O estado de saúde correlaciona-se com prejuízos e incapacitações, conduzindo-se a uma perspectiva mais funcional do sujeito, enquanto o bem-estar é compreendido a partir do estado psicológico ou emocional, no entanto, não há um consenso na literatura em relação à associação entre depressão e qualidade de vida, se ela ocorre de fato ou se há uma sobreposição entre essas medidas (LIMA; FLECK, 2009). Segundo Lima; Fleck (2009) existem evidências empíricas de que a qualidade de vida dos sujeitos deprimidos não está somente associada ao aparecimento de sintomas depressivos, variáveis psicológicas como autoestima, humor depressivo, subtipos de depressão, dimensões de personalidade e suporte social, sugere que depressão e qualidade de vida são conceitos correlacionados, mas distintos. A redução nos sintomas depressivos não se traduz necessariamente em uma melhora na qualidade de vida em todos os domínios, pode-se obter uma melhora no funcionamento social e ocupacional, mas o prazer no envolvimento em atividades de lazer podem permanecer prejudicados. A desesperança, segundo Botti et al. (2010) pode possibilitar o estabelecimento de estados depressivos, ansiedade e redução drástica de autoestima. Em relação à qualidade de vida, sabe-se que quanto maior for à desigualdade social de um país, maior será a repercussão na qualidade de vida, consequentemente na saúde, da sociedade de forma geral, do sujeito e/ou de sua família em particular. A depressão acarreta prejuízos à qualidade de vida, pois existe uma relação inversa entre percepção de qualidade de vida e intensidade de sintomatologia depressiva, ou seja, a percepção de um baixo nível de qualidade de vida é expressa por pacientes com altos níveis de depressão. Lopez et al. (2011) ressalta que a qualidade de vida é a percepção do individuo sobre a sua posição na vida, no contexto da cultura e dos sistemas de valores nos quais ele vive e em relação a seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações. Segundo Silva et al. (2012) a qualidade de vida do idoso é alterada, afetando globalmente seus domínios, devido a negligencia quanto ao diagnóstico e o tratamento da depressão. Essa patologia provoca mais prejuízos em tarefas diárias do que doenças cardíacas, artrite, hipertensão e diabetes. O transtorno depressivo afeta todas as dimensões da qualidade de vida, acarretando um comprometimento que pode ser considerado 23 vezes maior do que aquele causado por outras doenças físicas (LIMA; FLECK, 2009). No tratamento da depressão infantil deve-se levar em conta os efeitos colaterais, o perfil de segurança e a baixa toxidade dos antidepressivos. Colavite et al. (2013) ressalta a importância da atenção de clínicos e pesquisadores no que se refere ao diagnóstico precoce da presença de transtorno depressivo durante a infância, pois apesar das manifestações clínicas serem semelhantes, é necessário a observação das características próprias de cada fase do desenvolvimento humano, já que devido à presença de comorbidades, muitas vezes o diagnóstico é afetado. Deve-se juntar a psicoterapia e a intervenção junto à família e da escola no tratamento da depressão em adolescentes, associado ao uso de medicamentos estabilizadores do humor. A medicação preconizada são os antidepressivos, pois estes são inibidores seletivos da recaptação da serotonina, iniciando-se com doses baixas e aumentando progressivamente. Deve-se levar em conta ainda que a intervenção na depressão deve ser recorrente (BRITO, 2011). Uma das primeiras atitudes terapêuticas que os profissionais de saúde devem assumir é a partilha de conhecimentos com o adolescente e a família, sobre a depressão e os danos que pode causar, bem como as expectativas em relação ao tratamento. O plano de tratamento deve ser sempre plurimodal, incluindo psicoterapia, medicação e o envolvimento da família, e quando o tratamento não surtir o efeito, comorbidade com o uso de drogas, psicose ou ideação suicida o doente deve ser encaminhado a um especialista de saúde mental (BRITO, 2011). A Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) é um tratamento para depressão, com uma abordagem ativa, diretiva e estruturada, de curto prazo, entre 12 e 20 sessões estruturadas, orientado para o presente e guiado para a resolução de problemas atuais, por meio da modificação do pensamento e do comportamento disfuncional. Essa terapia pode ser individual ou em grupo e concentra-se em diversos tipos de crenças, como as expectativas, as avaliações e as atribuições de casualidade ou responsabilidade do paciente (FREITAS; RECH, 2010). O tratamento adequado de um episódio depressivo se inicia pelo diagnóstico preciso, pois o objetivo do tratamento não deve ser apenas a redução de sintomas e sim a resolução total do quadro. Os medicamentos antidepressivos são eficazes no tratamento da depressão aguda moderada a grave, melhorando os sintomas ou eliminando-os completamente, sendo fundamental o uso de medicações com baixo perfil de efeitos colaterais, ação colaborativa de médico e avaliação individual de cada paciente. Em caso de depressão acompanhada de ideação e comportamento suicida, os medicamentos antidepressivos proporcionam redução rápida e significativa desse sintoma em adultos (FLECK et al, 2011). Segundo Azevedo; Almeida; Moreira (2009) a abordagem psicológica no tratamento da depressão é o primeiro passo para se avaliar e perceber os possíveis sintomas, melhor caracterizado pela frequência de certos comportamentos, o segundo passo é entender os determinantes da ocorrência do comportamento, por meio de suas relações funcionais, no entanto, este tratamento proporciona uma melhor eficácia quando combinado com medicação antidepressiva. Existem diversas psicoterapias comportamentais aplicadas no tratamento da depressão, dentre elas temos a terapia comportamental ou analítico-comportamental, a terapia da aceitação e compromisso, a psicoterapia analítico funcional, ativação comportamental e terapia cognitivocomportamental. Essas terapias vêm apresentado resultados eficientes na modificação do comportamento de pessoas com depressão, reduzindo os sintomas e aumentando as interações sociais (CARDOSO, 2011). Rastreamento de Depressão: as escalas de avaliação são utilizadas com o objetivo de investigar a depressão, pois a avaliação dos sintomas é de suma importância tanto na fase do diagnostico em si, como no acompanhamento e mensuração mais objetiva das intervenções terapêuticas indicadas no decorrer do tratamento. Essa avaliação dos sintomas é imprescindível na elaboração do diagnóstico, podendo ser realizada por inúmeras escalas, entre as quais estão as de autoavaliação (aplicadas por observadores), as mistas (autoavaliação e observadores) e as de avaliação global. Para um diagnostico eficiente, essas escalas referem autoanálise do próprio paciente, de alguém que o conheça ou de um observador profissional (TIER et al., 2007). Existem diversos instrumentos que rastreiam e avaliam os sintomas da depressão, que variam no que se referem às questões culturais, ressaltando a necessidade de adaptação das escalas internacionais ou a criação de escalas nacionais com linguagem apropriada e maior quantidade de descritores. Segundo Baptista; Cardoso; Gomes (2012) essas escalas são simples, rápidas e constituem uma forma barata de detectar possíveis casos, no entanto, devem ser utilizadas com cautela, uma vez que o clinico precisa mensurar as várias informações que possui, chegando a um diagnóstico preciso sobre a avaliação psicológica. O Inventário de Depressão Infantil (CDI) foi desenvolvido nos Estados Unidos por Kovacs para detectar sintomas da depressão em crianças e adolescentes na faixa etária entre 7 e 17 anos. É um instrumento adaptado do Inventário de Depressão de Beck (BDI) para adultos, composto de uma estrutura unifatorial, constituída por 27 itens que avaliam sintomas afetivos, cognitivos e comportamentais da depressão. Os itens são oferecidos em três alternativas, onde atribui-se 0 para ausência do sintomas, 1 para a presença do sintomas e 2 para sintoma agravados (GOMES et al., 2013). A Escala Baptista de Depressão (Versão Adulto) – EBADEP trata-se de um instrumento de autoaplicação para avaliação de sintomatologia depressiva, composto de 45 itens, divididos em duas frases por item, utilizada em uma ampla faixa etária, que varia de 17 a 81 anos de idade. Estruturada em formato Likert de quatro pontos, variando de zero (pontuação mínima) a três, com pontuação máxima de 135 pontos, onde quanto menor a pontuação, menor a probabilidade de depressão. De acordo com Baptista; Cardoso; Gomes (2012) essa escala foi planejada por não haver na literatura o desenvolvimento de um instrumento construído para utilização em adultos, e sua construção deu-se a partir de indicadores oriundos de manuais diagnósticos tais como o DSM-IV-TR e o CID 10, e descritores sistematizados na Teoria Cognitiva de Beck e Teoria Comportamental de Depressão. Considerado padrão ouro, a avaliação global do Inventário de Depressão de Beck (Beck Depression Inventory, BDI, BDI-II) é um dos instrumentos de rastreamento mais utilizados para medir a severidade de episódios depressivos (BAPTISTA; CARDOSO; GOMES, 2012). Foi criado por Aaron Beck e consiste na soma das respostas de 0 à 3 do questionário de auto-relato. A escala é composta de 21 itens, com quatro opções de respostas, onde a soma de 0 a 9 é considerada normal, de 10 a 15 depressão leve, 16 a 23 depressão moderada e 21 ou mais pontos depressão severa. Tier et al. (2007) ressalta que a precisão de uma escala depende da motivação dos sujeitos para assinalarem de forma clara e precisa seu estado emocional. Uma das escalas de avaliação para a depressão mais utilizada a nível mundial é a Escala de Avaliação para Depressão de Hamilton (HAM-D), considerada a mais importante, pois inúmeras são as escalas modificadas baseadas em seus critérios de avaliação. Composta por 21 itens, cuja gravidade é anotada em escalas de 3 ou 5 pontos, escore total máximo de 50 para 17 itens, onde escores maiores que 25 identificam depressão grave, escores de 18 a 24 depressão moderada, escores de 7 a 17 depressão leve e escores menores que 7 são indicativos de remissão ou ausência do quadro de depressão (TIER et al., 2007). Segundo Tier et al. (2007) a Escala de Sintomas Depressivos de Zung (ESD-Z) surgiu nos Estados Unidos e foi construída com base em critérios diagnósticos mais comumente utilizados. Desenvolvida por Zung e colaboradores, essa escala é composta por 20 itens, divididos em quatro fatores (sintomas afetivos, físicos, cognitivos e psicológicos) e impulsiona a melhora na qualidade dos diagnósticos, onde os resultados dos escores acima de 70 pontos são considerados como depressivos. Os escores de 34 a 40 pontos indicam depressão acentuada, escores de 20 à 23 depressão moderada e escores de 10 a 19 depressão leve. A Escala de Depressão Geriátrica (EDG-30) criada por Yesavage, tem como objetivo contribuir na melhoria da qualidade de vida dos idosos. Nesta escala avalia-se de forma multidimensional o idoso, consistindo em 30 itens com questões sim ou não, cuja pontual total é de 30 pontos, onde pontuações maiores ou iguais a 11 pontos são indicativas de transtorno afetivo (TIER et al., 2007). Colavite et al. (2013) ressalta que é relativamente recente o reconhecimento da presença de depressão em crianças, pois apesar das manifestações clínicas de depressão em crianças, adolescentes e adultos serem semelhantes, é necessário a observação das características próprias de cada fase do desenvolvimento humano. Por isso é necessário mais estudos e pesquisas e avaliação clínica precoce, analisando várias fontes de informações, e ante as suspeitas, buscar formas de confirmação e encaminhamento. A falta de definição acerca da importância e gravidade da depressão na infância, que associada a outras patológicas dificulta o tratamento e a prevenção da cronificação do problema. Há uma vasta literatura que buscam investigar a identificação da sintomatologia da depressão e sua prevalência, no entanto, são raros os estudos voltados às intervenções, sobretudo, aqueles psicanaliticamente orientados, deixando grandes lacunas no que tange a eficácia dos tratamentos para a depressão em crianças e adolescentes. Também há a carência de diretrizes políticas voltadas para o desenvolvimento de estratégias de prevenção e enfrentamento desse problema (SCHWAN; RAMIRES, 2011). Em estudos realizados por Resende et al. (2013) a idade média dos adolescentes que apresentaram sintomas depressivos foi de 14,8 anos. Os autores também levantam a questão sobre a depressão nos adolescentes ser um mito ou uma realidade, enfatizando a necessidade da existência de suportes sociais como a família, o grupo de pares (grupo dos iguais/de amigos) e a escola, que são valores significativos para o adolescente, com o objetivo de minimizar o risco de depressão em adolescentes. A depressão em crianças e adolescentes só foi reconhecida a partir da década de 70, sendo considerada a nível mundial como um importante problema de saúde pública na atualidade, por isso é de suma importância uma intervenção do meio em que o adolescente está inserido de forma a minimizar os fatores desencadeantes. De acordo com Brito (2011) as perturbações da ansiedade e depressivas são frequentes na adolescência. A ansiedade pode interferir com a aprendizagem e com a inserção escolar, acentuar os conflitos familiares e conduzir ao isolamento do adolescente. Já a depressão é uma patologia ainda mais relevante, há evidência de que a perturbação ansiosa é percussora de depressão e que seu tratamento reduz o inicio e as recorrências da depressão. A prevenção da depressão deve-se levar em conta os fatores de risco nela implicados, sendo primordial a necessidade de uma maior partilha de conhecimentos e práticas entre os profissionais da área de saúde mental. Em relação à sintomatologia depressiva, Aragão et al. (2009) ressalta a importância se compreender as representações sociais da depressão entre adolescentes, devendo levar em conta que esta fase da vida possui peculiaridades próprias do desenvolvimento, que indicam mudanças corporais, alterações hormonais, aumento da socialização, exercício e descoberta da sexualidade, favorecendo a maturação física e mental desses jovens. A depressão foi descrita por jovens com idades entre 14 e 19 anos por palavras como tristeza, solidão, desânimo, choro, doença, morte, falta de apetite e angústia. A depressão em adolescentes foi caracterizada como uma doença altamente debilitante, que pode causar privação social, prejuízos funcionais, sofrimento psicológico, mudanças de comportamentos e levar à morte. A tríade escola – família – educadores faz-se necessária no sentido de contribuir com a proliferação de mecanismos de prevenção primária da depressão, através de um diagnóstico precoce e futuras intervenções na saúde mental destes adolescentes (ARAGÃO et al., 2009). A depressão vem ocupando posição de destaque entre os problemas de saúde pública, interferindo no funcionamento social do individuo, bem como em outras áreas significativas da vida, como trabalho e relações pessoais. Segundo estudos realizados por Botti et al. (2010) com 245 homens em situação de rua, o rastreamento da depressão detectou prevalência de 56,3%, cuja faixa etária predominante foi de 31 a 45 anos. Os autores ressaltam ainda que condição de morar na rua está intrinsecamente relacionada a uma série de questões sociais, onde a prevalência de quadros depressivos é fruto da uma situação de vulnerabilidade social, pois a própria condição de vida da população de rua pode ocasionar maior prevalência de sintomas depressivos. Estudos relatam que diversas patologias estão associadas à depressão como doenças cardiovasculares, endocrinológicas, neurologias, renais, oncológicas e outras síndromes dolorosas crônicas e quanto pior a qualidade de vida, maior a morbimortalidade, por isso deve-se propiciar conhecimento e denúncia social, possibilitando a visibilidade dessa situação, a fim de promover ações ou provocar discussões no sentido de estabelecer políticas públicas resolutivas (BOTTI et al. 2010). Estudos realizados com jovens de 18 a 24 anos sobre a associação entre a depressão e a qualidade de vida, mostraram uma relação entre a queda de todos os aspectos da qualidade de vida e a depressão em adultos jovens. Encontrou-se uma forte associação entre o uso de psicofármacos, abuso de derivados do tabaco e do álcool com os sintomas da depressão, igualmente o risco de ideação suicida ou suicídio, pois segundo Lopez et al. (2011) a depressão é um dos problemas psíquicos mais comumente associados ao suicídio, principalmente em adolescentes e mesmo que seja o mais frequente, não se pode concluir que seja a causa exclusiva do comportamento suicida, bem como salienta a importância do diagnostico precoce e do tratamento adequado da depressão como parte dos cuidados primários da saúde em adultos jovens. Cunha; Bastos; Duca (2012) enfatizam que desde o inicio do tratamento uma série de consequências psicossociais que perduram, alteram-se ou somam-se durante o quadro clínico do paciente. Ressaltam ainda, que a prevalência de depressão está associada ao sexo feminino e a indivíduos com idade avançada, já os fatores demográficos e socioeconômicos em adultos e idosos está associado ao baixo nível de escolaridade e renda. A baixa condição socioeconômica também como contribuir para a alta prevalência de depressão, ocasionada por condições sociais como desemprego, baixo nível de instrução, baixa qualidade de moradia e alimentação inadequada. Tais condições podem reduzir a capacidade de lidar com situações estressoras de maneira adequada, reduzindo a disposição para suportar acontecimentos adversos e frustrantes. De acordo com Drago; Martins (2012) envelhecer é um fato inevitável e irreversível, antigamente era encarado como um fenômeno natural, no entanto, atualmente associa-se a problemas, doenças, incapacidade e dependência. Em seus estudos os autores puderam constatar que a maioria dos idosos (70,6%) que fizeram parte da amostra do estudo (119 idosos) encontravam-se em estados depressivos do tipo ligeiro. Aspectos sócio-demográficos e a presença de doenças concomitantes influenciam no elevado índice de idosos com depressão, com maior incidência em idosos do sexo feminino, com idade média de 78 anos, viúvos ou divorciados. O grau de dependência nas atividades básicas da vida diária e o grau de insatisfação com a vida também estão associados à depressão nos idosos. A depressão entre idosos institucionalizados leva o indivíduo à perda da autonomia e ao agravamento das patologias preexistentes, segundo Silva et al. (2012), já que é frequente sintomas de depressão em idosos que possuem algum tipo de limitação/dependência e que estão insatisfeitos com a sua instituição. Este fato é explicado em parte, pelo fato do idoso ser obrigado a conviver com desconhecidos e perder parte de seu poder de escolha. Esses aspectos devem ser observados pela equipe multiprofissional, auxiliando na proposição de ações preventivas e na identificação precoce da depressão, favorecendo o estabelecimento de um tratamento eficaz, em parceira com outros profissionais de saúde. Em pesquisa realizada com idosos na faixa etária de 58 a 71 que apresentaram sintomas de depressão, em relação às implicações sociais da depressão na velhice, verificou-se que os mesmos precisam ser mais valorizados, sendo necessário medidas para mantê-los ativo e inserido na sociedade, com implementação de programas de incentivo que vivenciem a velhice de forma positiva, pois os mesmos sentem a necessidade de serem amados, valorizados e cuidados. A participação de idosos em movimentos assistenciais e sociais e o envolvimento com atividades culturais e desportivas auxiliam na prevenção de patologias, com a depressão (MARCHI; SCHNEIDER; OLIVEIRA, 2010). O Inventário de Depressão Infantil (CDI) é considerado uma importante medida para avaliação de sintomas depressivos em crianças e adolescentes. Essa medida de avaliação foi correlacionada a outros instrumentos para avaliar associação de sintomas depressivos a diferentes variáveis psicossociais. A dificuldade de identificação e diagnóstico da depressão em crianças e adolescentes deve-se a apresentação de variadas manifestações clínicas, em decorrência disso, são necessárias novas pesquisas para a construção, adaptação e validação de instrumentos específicos voltados para este público (GOMES et al., 2013). Estudos realizados por Baptista; Cardoso; Gomes (2012) avaliou-se evidências de validade convergente entre a Escala Baptista de Depressão (EBADEP-A) e o Inventário de Depressão de Beck (BDI-II), cuja amostra foi composta por estudantes universitários com idade entre 17 e 61 anos. Fez-se duas aplicações de cada instrumento, no EBADEP-A obteve uma maior percentual de participantes (90,2 e 89,2%) enquadrados na categoria sem sintomas de depressão, em comparação com o BDI-II (81,5 e 87,7%), havendo uma pequena variação entre a primeira e a segunda aplicação. Já em relação à sintomatologia severa (ou grave) o EBADEP-A não apresentou nenhum caso e o BDI-II o percentual 2,3 e 3,1%. Analisou-se variáveis com sexo, estado civil e idade, não sendo encontrado diferença estatisticamente significativas entre elas em nenhum dos instrumentos, tanto na primeira, quanto na segunda aplicação, por isso sugere-se estudos futuros realizados com amostras mais numerosas a fim de avaliar o índice de correlação divergente entre os instrumentos de avaliação. Os instrumentos Inventário de Depressão de Beck (BDI) e Escala de Avaliação de Depressão de Hamilton (HAM-D), segundo Oliveira et al. (2011) apresentaram desempenho satisfatório ao ser aplicado em conjunto no rastreamento da depressão, no entanto, o BDI foi o instrumento que apresentou maior sensibilidade e valor preditivo positivo, em comparação à HAM-D. Pacientes com prejuízo cognitivo ou baixa escolaridade apresentam dificuldades no preenchimento de inventários com o BDI, já a HAM-D pode ser aplicada por um entrevistador experiente e familiarizado com a entrevista em pacientes deprimidos. Os autores ressaltam ainda que, esses instrumentos não foram desenvolvidos originalmente para rastreamento ou diagnostico, mas sim como ferramentas de quantificação de sintomas depressivos em pacientes com depressão, por isso recomenda-se que, juntamente com a aplicação dos instrumentos, também sejam colhidos dados sobre a duração dos sintomas depressivos. A Escala de Sintomas Depressivos de Zung (ESD-Z) aplicada em estudos realizados com adolescentes com idade entre 12 e 18 anos, apresentou resultado inapropriado, mostrando diferenças significativas em relação ao sexo e a idade. Lezama (2012) ressalta quanto aos itens, o componente irritabilidade é um sintoma característico da adolescência, e está presente tanto nos fatores afetivos, quantos fisiológicos, podendo mostrar uma dupla interpretação do sintoma, exigindo assim, uma análise mais aprofundada. Essa dupla interpretação pode destacar a necessidade de se verificar se os itens da escala são suficientemente sensíveis à experiência depressiva na adolescência, pois deve-se considerar as transições biológicas, cognitivas, sociais e emocionais que se cruzam, limitando seu uso somente para a população adulta. A depressão é um problema de saúde frequente entre os idoso, devido a dificuldade de detecção desses sintomas, a avaliação sistemática pode contribuir para melhorar esse problema. A Escala de Depressão Geriátrica (EDG) mostra medidas válidas e confiáveis para o rastreamento dos transtornos de humor em idosos, cujas vantagens são ser auto-aplicável e composta de perguntas fáceis de serem respondidas, no entanto, apenas a aplicação do EDG não é o suficiente para diagnosticar o quadro depressivo do idoso. De acordo como Siqueira et al. (2009) na aplicação deste instrumento em 55 idosos, verificou-se que 51% apresentaram sintomatologia depressiva, essa alta prevalência favorece um decréscimo significativo em relação a sua qualidade de vida. A melhora do bem-estar, da condição física, independência, qualidade de vida e auto-estima dos idosos, está intrinsecamente associada na diminuição dos sintomas de depressão. Portanto, compreender os fatores que contribuem para a depressão como um problema de saúde pública, sendo este um fenômeno mundial que apresenta alta e crescente prevalência na população em geral, capaz de comprometer o desenvolvimento de importantes funções sociais, emocionais e cognitivas do indivíduo se faz necessário, cujo intuito é contribuir para a melhoria da qualidade de vida das pessoas acometidas por esta doença, a partir da implementação de ações que vão desde a infância até a terceira idade, nos três níveis de atenção à saúde, pois a depressão representa um dos mais graves problemas em saúde pública, causa prejuízos tanto para o indivíduo em si, para a família, como um elevado custo social, com relevantes impactos em todos os níveis da sociedade. É um transtorno psiquiátrico que devido a sua alta prevalência gera cada vez mais interesse por parte dos profissionais da área da saúde em conhecer e/ou elaborar ações de intervenções que mostrem resultados significativos na redução dos sintomas e na prevenção do reaparecimento do problema. Por outro lado, a palavra depressão é frequentemente usada para descrever nossos sentimentos, no entanto, o sentimento de tristeza não pode ser confundido com depressão, pois este faz parte da experiência normal do sujeito, pois a depressão quando mal diagnosticada pode favorece o aparecimento de sintomas mais severos, os quais podem ser fator contribuinte na elevada taxa suicídio entre adolescestes, adultos e idosos, sendo que muitas vezes esquece que o tratamento medicamentos com antidepressivos, a psicoterapia, a terapia ocupacional, a elaboração da atividades de vida diária, bem como as intervenções de enfermagem tem aumentado de forma significativa a melhora destas pessoas, evitando novas recidivas, diminuindo os ricos de adoecimentos prolongados e as tentativas de suicídios. O acompanhamento pela equipe multiprofissional tem trazido grandes benefícios, podendo ajudar esse individuo a atravessar momentos difíceis. Portanto, para prevenir e tratar a depressão deve-se buscar estratégias integradas entre família, comunidade, profissionais de saúde, que identifique a depressão em seu estágio inicial, dando-lhes suporte adequado em relação ao tratamento, não só medicamentoso, mas psicossocial ao doente e ao seu familiar (cuidador) com apoio, respeito, acolhimento, mas acima de tudo um tratamento digno e humanizado. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVARES, Amanda de Melo e LOBATO, Gledson Régis. Um estudo exploratório da incidência de sintomas depressivos em crianças e adolescentes em acolhimento institucional. Temas psicol. [online]. 2013, vol.21, n.1, pp. 151-164. ARAGÃO, Thais Araújo et al. Uma perspectiva psicossocial da sintomatologia depressiva na adolescência. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2009, vol.14, n.2, pp. 395-405. AZEVEDO, Lidiany Alexandre; ALMEIDA, Thiago César; MOREIRA, Ana Helena. "O resfriado da psiquiatria": a depressão sob o ponto de vista Analítico-Comportamental. TransForm. 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