O LETRAMENTO E A PRODUÇÃO ESCRITA DAS PESSOAS SURDAS Elenir Guerra1 - UNICENTROPR Janete de Fátima Ferreira Caldas2 - UEPGPR Grupo de Trabalho – Diversidade e inclusão Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo Este trabalho apresenta um recorte histórico de um estudo acerca da trajetória da educação dos surdos, aonde se tentou enfocar de maneira mais específica e em especial a questão da escrita do surdo. Contém análises de textos e estrutura gramatical apresentada por alguns autores, por meio das quais procuramos apontar algumas evidências das principais diferenças entre a escrita do aluno surdo e do aluno ouvinte. Nesse sentido, destaca-se que a grande maioria das línguas orais tem escrita própria o que não é o caso das línguas gestuais, o que acaba dificultando o processo de aprendizagem de escrita do aluno surdo, haja vista que o aluno surdo fala em uma língua (LIBRAS) e escreve em outra (Língua Português). Tomamos por base para este estudo a Lei nº 10.436/2002 Parágrafo único. “A Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS não poderá substituir a modalidade escrita da língua portuguesa”. A pesquisa inclui-se no âmbito da pesquisa Qualitativa, uma vez que analisa acontecimentos sociais com o propósito de conhecer o universo escolar com ênfase nos sujeitos envolvidos na questão investigada Vilela (2003). Com o propósito de despertar novos olhares sobre esse campo de investigação, o processo de análise e a coleta de dados foram realizados no Centro Estadual de Educação Básica para jovens e Adultos – CEEBJA Ensino Fundamental e Médio localizado na cidade de Chopinzinho- PR. Tal processo pautou-se em relato de experiência de um aluno que frequenta a instituição. A fim de compreender as dificuldades na produção escrita do aluno surdo, e na tentativa de trazer à tona aquilo que experimentam, interpretam e como dão sentido àquilo que é vivido por esses sujeitos, constitui-se objetivo da pesquisa proposta. Palavras-chave: Inclusão. Libras. Língua. Escrita. 1 Mestranda em Educação /Formação de professores pela Universidade Européa Miguel de Cervantes (UEMC). Participa do grupo de pesquisa: Educação, Saberes, Linguagem e Multiculturalidade; Líder do Grupo de pesquisa: Educação, Inclusão e Diversidade. Coordenadora do Curso de Especialização em LIBRAS E-mail [email protected] 2 Mestranda em História e Políticas pelo PPGE da Universidade Estadual de Ponta Grossa. E-mail: [email protected] ISSN 2176-1396 21714 Introdução O processo de elaboração da escrita dos alunos surdos tem como base a compreensão da língua de sinais a qual é o tema do presente artigo. O artigo comtempla um recorte histórico, relatando sobre as interferências ocorridas no processo de escrita do aluno surdo decorrentes da metodologia do oralismo imposta pelo Congresso de Milão, na Itália em 1880, da Comunicação total e do Bilinguismo discussões estas que influenciam até os dias atuais. Hoje reconhecida e legitimada pela Lei 10.436/2002 que reconhece a Língua Brasileira de Sinais como língua materna dos surdos L1(primeira língua) e a língua portuguesa como L2 (segunda língua) e regulamentada pelo decreto 5.626/2005. A educação dos surdos como diferença linguística ganha destaque ao tratar o processo de escrita do aluno surdo como parte da construção do letramento e alfabetização no ensinoaprendizagem. Silva (2001, p.48) complementa essa ideia ao apontar que: A Língua escrita é um objeto linguístico construído a partir de seu lugar social assim, tanto o surdo quanto o ouvinte terão como pressuposto a língua que já dominam para ter acesso à língua escrita. A língua que o surdo tem como legitima e usa não é a mesma que serve como base ao sistema escrito, por ser um sistema visual-manual, portanto muito diferente do oral auditivo. Neste sentido, atendendo o que preconiza o Decreto nº 5.626/05 a educação bilíngue para os surdos deve ser completa. Compreendendo melhor a função semiótica no estudo da língua de sinais e de suas formas variadas, com a prática e as dificuldades de aquisição da língua portuguesa como segunda língua para os surdos, poderá ser minimizada, pois para a aprendizagem de uma L2 é fundamental que o aprendiz tenha uma base linguística estabelecida em sua primeira língua. Nesse sentido, Streiechen (2011, p.7) corrobora ao afirmar que “[...] ele fala uma língua e escreve em outra [...] são praticamente estrangeiros em seu próprio país.” Ao abordar temas referentes à alfabetização do aluno surdo, faz-se necessário vincular o uso da linguagem nesse processo. Seguindo essa linha de raciocínio e na concepção de Silveira (2003) a escrita fortalece a situação dos surdos como estrangeiros em seu próprio país. [...] o fato de os surdos não terem experiências linguísticas ricas em língua portuguesa e nem na de sinais e acabam por adquirir a LP escrita de maneira insatisfatória, trazendo para estes últimos aspectos característicos da língua de sinais, além das inadequações linguísticas vivenciadas na língua oral. (SILVEIRA, 2003, p.35) 21715 Portanto, a língua escrita é parte da linguagem, não sendo de uso individual e sim de uma determinação social, a qual atribui grande importância para essa modalidade, considerando que no processo de aquisição devem ser apresentados ao aprendiz contextos linguísticos e extralinguísticos para garantir um melhor resultado. Como fator determinante na escrita do surdo encontra-se a leitura, tendo em vista que esta constitui uma etapa fundamental na aprendizagem da escrita. Levando em consideração que, uma das dificuldades é a produção textual em português, principalmente, em fazer ligação entre palavras, segmentos, orações, períodos e parágrafos é importante que o leitor conheça essas limitações a fim de entender a mensagem a ser transmitida. Ao ressaltar o papel que a língua portuguesa desempenha na obtenção do português escrito, Silveira (2003, p.46), assegura que: “Textos em língua portuguesa, elaborados por surdos falantes de Libras, apesar de apresentarem algumas falhas na forma, não tem violado o princípio de coerência: os surdos conseguem expressar de modo inteligível suas ideias”. A partir dos enunciados acima se pretende realizar uma pesquisa com contribuições bibliográficas e verificações in loco a fim de identificar as fragilidades e as possibilidades nesse campo de estudo. Marcos histórico no processo de aprendizagem da pessoa surda. Os estudos na área da educação de surdos foram marcados por inúmeros desafios, na antiguidade e na idade média os surdos eram tidos como alvo da medicina e da religião, sofrendo falta de aceitação e compreensão de sua forma de comunicação, foram considerados incapazes de serem educados. Nesta época médicos e educadores desenvolveram práticas para ensinarem os surdos a ler e a desenvolver a fala, através da oralização e do alfabeto datilológico (manual) que era a única forma de comunicação aceita era, ou seja, a língua oral. A comunicação orofacial prevaleceu por décadas sobre a educação e alfabetização, entendida como única forma de comunicação aceita pela comunidade pensante daquele período e prevaleceu até meados dos anos 1960. “Até o final dos anos de 1980 a língua oral era entendida como instrumento de comunicação, usada na transmissão de informações, sendo que a mesma não está pronta de antemão, mas é reconstruída na atividade diária”. (PEREIRA, 2009. p.15) Durante um século os surdos sofreram a influência da educação ouvintista³ que determinaram a metodologia e a língua usada no processo de letramento e alfabetização dos alunos surdos. Para Zumthor (1993) as ideias dominantes, nos últimos cem anos, são um claro 21716 testemunho do sentindo comum, de acordo com o qual os surdos se encaixam e se adaptam ao modelo de oralização e aceitam com facilidade a medicalização imposta pela sociedade. Em 1880 [...] aconteceu o congresso de Milão [...] evento internacional que resultou no fortalecimento da filosofia oralista, sendo desta forma, um verdadeiro retrocesso da educação dos surdos do mundo. Essa tendência proibia os surdos de utilizar qualquer tipo de comunicação através de sinais. (BARBOSA, 2011, p.3) O Congresso de Milão tornou-se um marco histórico que introduziu o oralismo como língua oficial dos surdos, proibindo terminantemente o uso de qualquer sinal. No oralismo, a ideologia dominante, é o desejo de ouvir que está por traz do modelo ouvintista. Estudos realizados a partir do descontentamento dos surdos e de suas famílias com a metodologia oralista deram origem a novas propostas de práticas pedagógicas de educação. Ao direcionar a discussão para a escrita do aluno surdo, não se pode separar as dificuldades sem estar atento ao que aconteceu com o processo de aquisição da língua e como ocorreu o processo de alfabetização, tendo em vista que entre meados de 1880-1960 a escolarização dos surdos teria sentido somente se os mesmos conseguissem falar. De acordo com Goldfeld (2002), se o surdo consegue compreender, dominar e articular palavras isoladas da língua oral (português) é aceito e bem sucedido na sociedade, ou seja, o surdo está apto para “integrar-se” na sociedade ouvinte. No entanto, a história nos mostra que a oralização dos surdos não dá conta de sua aprendizagem, no sentido de sua educação e inclusão social. Ainda de Acordo com Goldfeld (2002), a partir de 1970 motivados pelos resultados insatisfatórios do oralismo a escola passou a utilizar sinais na educação dos alunos surdos, primeiramente através do uso do português sinalizado junto com a fala, obedecendo à ordem frasal do português. Esta forma de comunicação está inclusa na filosofia da comunicação total. Criada nos EUA, esta modalidade dá status a libras, aproximando-se da linguagem oral, que em conjunto com os códigos manuais facilitam a comunicação com pessoas surdas, cabendo à família e não a escola decidir qual a forma de educação para criança surda. Denton (1999) define a comunicação total A comunicação total inclui todo o aspecto dos métodos linguísticos: gestos criados pelas crianças, língua de sinais, fala, leitura oro facial, alfabeto manual, leitura e escrita. A comunicação total incorpora o desenvolvimento de quaisquer restos de audição para a melhoria das habilidades de fala ou de leitura orofacial, através de uso constante, por um longo período de tempo, de aparelhos auditivos individuais e/ou sistemas de alta fidelidade para amplificação em grupo. (DENTON, apud FREEMAN, CARBIN, BOESE, 1999 p.170) 21717 A comunicação total abre espaço para novas formas de ensino na educação de surdos. Com a insatisfação dos surdos, das famílias destes e dos educadores de surdos deu-se inicio a metodologia bilíngue. Esta metodologia passa a entender e reconhecer a língua de sinais como língua dos surdos. A proposta bilíngue contribui significativamente para aprendizagem do surdo e considera a libras a língua materna L1 e o português a segunda língua L2, procurando entender os surdos em suas particularidades, considerando que a aprendizagem da língua oralauditiva é muito lenta devido à complexidade dos recursos orais e auditivos. No Brasil há um movimento que busca da organização de educação bilíngue para pessoas surdas. O estatuto da pessoa com deficiência no art.27, paragrafo IV determina a “oferta de educação bilíngue, em Libras como primeira língua e na modalidade escrita da língua portuguesa como segunda língua, em escolas e classes bilíngues e em escolas inclusivas”, atendendo os anseios da comunidade surda. O bilinguismo tem como pressuposto básico que o surdo deve ser bilíngue, ou seja, deve adquirir como língua materna a língua de sinais, que é considerada à língua natural dos surdos, e como segunda língua a língua oficial do seu país [...] os autores ligados ao bilinguismo percebem que o surdo aprende de forma bastante diferente dos autores oralistas e da comunicação total. Para os bilinguistas, o surdo não precisa almejar uma vida semelhante ao ouvinte, pode assumir sua surdez. (GOLDFELD, 1997, p. 38) O aluno surdo tem o desafio de ser alfabetizado em língua de sinais, sua primeira língua, e escrever na língua portuguesa. O ensino-aprendizagem da pessoa surda necessita estabelecer o mínimo de comunicação com o professor regente. Destaca-se neste contexto a necessidade da presença do interprete, que é o mediador da comunicação entre o professor ouvinte e o aluno surdo. Processo de aquisição da linguagem escrita No Brasil a aquisição da escrita é fator determinante para a aprendizagem das crianças. Os PCN’s - Parâmetros Curriculares Nacionais da Língua Portuguesa apontam como objetivo principal do professor o aperfeiçoamento do uso da língua portuguesa pelos alunos, sendo que as questões didáticas devem buscar a reflexão da língua e sua interpretação, sem fazer uso de atividades desvinculadas. (BRASIL, 2001) Segundo a lei 10.436, de 24 de abril de 2002 a Libras não poderá substituir a modalidade escrita da língua portuguesa. No entanto, os PCN’s apontam que o conteúdo curricular a ser desenvolvido pelos alunos surdo é exatamente o mesmo trabalhado com 21718 desenvolvido com os alunos ouvintes, onde o texto é apontado como recurso primordial na aquisição de novos conhecimentos e como instrumento nas práticas sociais. Conforme o decreto 5.626/2005 entende-se como Libras a forma de comunicação e expressão de natureza visual motora, com estrutura gramatical própria. O aprendizado do português como segunda língua na modalidade escrita é resultado da influência da língua materna (Libras) e da língua alvo (português). Inicialmente a escrita terá características da língua de sinais, no entanto, no final do processo estará mais próxima da língua portuguesa. [...] atualmente a aquisição do português escrito por crianças surdas ainda é baseada no ensino do português para crianças ouvintes que adquirem o português falado. A criança surda é colocada em contato com a escrita do português para ser alfabetizada em português seguindo os mesmos passos e materiais utilizados nas escolas com as crianças falantes de português. Varias tentativas de alfabetizar a criança surda por meio do português já foram realizadas, desde a utilização de métodos artificiais de estruturação de linguagem até o uso do português sinalizado. (QUADROS e SCHMLEDT, 2006 p.23). Para que haja verdadeira aprendizagem da construção da escrita torna-se fundamental o uso de materiais de apoio como, por exemplo: gravuras, imagens e tecnologias entre outras referentes aos conteúdos trabalhados em sala de aula ou nos ambientes escolares para que o conhecimento do senso comum transforme-se em conhecimento formal/científico. Ainda de acordo com a Lei nº 10.436/2002 e o decreto 5.626/2005, é possível perceber que tais documentos reconhecem a Libras, como meio legal de comunicação entre surdos, sistema linguístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria. Os mesmos também reiteram a necessidade dos surdos terem a presença de interpretes nos espaços formais e instituições. Considerando a realidade brasileira na qual as escolas públicas e particulares têm surdos matriculados em diferentes níveis de escolarização, seria impossível atender às exigências legais que determinam o acesso e a permanência do aluno na escola observando-se suas especificidades sem a presença de interprete de língua de sinais. Assim, faz-se necessário investir na especialização do interprete de língua de sinais da área da educação. (Quadros 2002, p.59) Com o intuito de conhecer referenciais teóricos que embasem o pensamento a respeito dessas práticas, destaca-se que alguns métodos de ensino mostraram-se infelizes no desenvolvimento da aprendizagem dos surdos. Um desses métodos é o analítico que teve como objetivo fornecer aos alunos estruturas de linguagem orais e escritas, simples e complexas, visando o aprendizado. Ao ensinar a língua portuguesa ao aluno surdo, primeiramente, o professor utilizava palavras e prosseguia com a utilização destas em estruturas frasais, iniciando com palavras simples e depois mais complexas. “A utilização de 21719 exercícios de substituição e de repetição fazia com que os alunos memorizassem as estruturas frasais trabalhadas e as utilizassem. Este método, porém, mostrou-se pouco eficiente no ensino da língua majoritária (Português)”. (PEREIRA, 2009, p. 15) No que diz respeito ao processo de alfabetização dos surdos se pode mencionar a proposta curricular de deficientes auditivos de 1979, a qual recomendava que na educação de surdos os vocábulos fossem apresentados juntamente com representações concretas possibilitando que as crianças surdas pudessem vivenciar a situação para que através do uso fizessem associação entre significante e significado. Quando as crianças surdas já houvessem adquirido o vocabulário trabalhado, começava o trabalho com texto e frases, sendo possível obter uma sequência com início meio e fim. (PEREIRA, 2009,) Com base em práticas pedagógicas que tratam do ensino da língua escrita para os surdos observa-se que este ensino não pode estar desvinculado da linguagem, que se apresenta na relação do homem com o meio social, envolvendo tudo o que tenha significação e significância não se reduzindo apenas em forma de comunicação. Nesse sentido, os exercícios de linguagem, que compreendem textos e formações de frases possibilitam ao surdo a interação com o fenômeno social já aprendido. A seguir passamos a relatar sobre a pesquisa de campo a qual foi desenvolvida com o Centro Estadual de Educação básica para jovens e adultos – CEEBJA Ensino Fundamental e Médio – Na cidade Chopinzinho/Pr, em que foi realizada entrevistada com a professora Jussara Schneider. A presente entrevista teve como foco a escrita do aluno surdo. Destacam-se algumas características apontadas pela professora: A escrita do surdo no ensino regular é trabalhada conforme a LDB 9394/96 - Lei de Diretrizes e Bases por meio de produções textuais e gêneros de discursos. Destaca a professora que o visual não é enfatizado, já no CAES - Centro de Atendimento Especializado na Área da Surdez - toda produção é trabalhada por meio do visual. Ao estimular a escrita enfocamos o dia a dia do surdo, suas relações e todo seu meio social, por meio de textos que se embasam nos gêneros do discurso. No que se refere às metodologias, no ensino regular o professor utiliza de recursos como o quadro, DVD, materiais lúdicos, pois todos esses trabalhos são enfocados na oralidade. O surdo entende a escrita por meio do contexto em que está inserido, portanto, palavras isoladas ou mesmo silabas não são reconhecidas. Para que a escrita tenha sentido para o aluno surdo ela deve ter o contato visual de todo o contexto, considerando que o mesmo não tem a presença do som para fazer tais significações. 21720 Quando nos referimos à interferência da língua de sinais e da língua portuguesa na linguagem escrita do aluno surdo, a professora destaca que a língua de sinais tem relação com o português escrito, uma vez que é preciso entender a língua portuguesa pela Libras, o que ira facilitar a produção textual. Se existe uma dificuldade de percepção, elaboração e armazenamento, esta se dá muito mais pela falta de qualidade do ensino, de oportunidades múltiplas para que ocorra esforço mental e se garanta aprendizagem. É necessário que ocorra a descrição visual sinalizada de cada imagem, fenômeno, sentimento, provocando a duvida naquilo que se olha, curiosidade em aprender mais detalhes e significados, ter dúvidas quanto aos valores preconcebidos, e poderem, acima de tudo, questionar, errar, investir, ousar para acertar, errar, chegar perto, distanciar, e se aproximar do cognoscível sem desistir, e com todo o entusiasmo, consciente da necessidade de continuar, reiniciar, reestruturar com esperança e esforço pessoal, e como prérequisito à aprendizagem significativa. (FALCÃO, 2010 p.233) Um dos aspectos relevantes citados pela professora diz respeito ao acesso as informações de qualquer meio, pois como seres sociais irão influenciar na forma de escrever, afinal todos esses elementos fazem parte da língua. A partir disso, podemos destacar que a mediação dos conceitos visuais é muito importante, o professor deve aproveitar a situação para ensinar, esse acesso às informações se dá por meio do professor e da família. Considerando que, para o surdo às informações aparecem fragmentadas, o professor deve trabalhar a língua de sinais e o português de forma intercalada, imagem (visual) – sinal – palavra, explorando os recursos visuais para ampliar o vocabulário do aluno, possibilitando a criação de frases ainda que muito simples. Não se pode esquecer, ainda, que trabalhar sob os pressupostos do bilinguismo significa estimular o desenvolvimento e utilização, pelo surdo, de duas línguas e não apenas a língua de sinais, que deve ser sempre a primeira língua e não apenas a língua de sinais, que deve ser sempre a primeira língua ou língua natural. A língua portuguesa deve ser desenvolvida como segunda língua, na modalidade oral ou escrita. (FALCÃO, 2010 p.226) Assim, a escrita, a fala e os sinais constituem-se como formas de expressão da linguagem. As línguas orais, na grande maioria possuem escrita própria, o que não é o caso das línguas gestuais, no qual os surdos têm de se valer da língua escrita do seu país, fazendo com que a escrita da pessoa surda represente os conhecimentos que ela possui da comunidade ouvinte, levando em consideração o processo de alfabetização a que foi submetida. Durante o processo de aquisição da escrita, o aluno surdo encontra grandes dificuldades, pois estes não sabem se expressar por meio de letras ou sons. O texto abaixo foi 21721 escrito por um aluno que trabalha em uma cerealista e que usa da escrita para se comunicar. O texto apresenta a importância da escrita na convivência social e profissional. *Texto produzido pelo aluno José Valdemir de Quadros Ao analisarmos o texto acima percebemos a dificuldade que o aluno surdo encontra ao escrever, não fazendo uso das ligações entre palavras, tornando o texto de difícil compreensão. Segundo os pesquisadores Perlin (2002), Silva (2001), Quadros (2004), os surdos podem se desenvolver linguisticamente desde que sejam expostos e estimulados através da língua de sinais o mais cedo possível, levando em consideração também o grau de surdez da criança, sendo que alguns casos possam desenvolver uma linguagem própria e próxima da ideal, porém, esses se constituem como um casos isolados. Ainda, segundo Quadros (1997), o processo de aprendizagem do surdo está vinculado diretamente ao processo organizado pela escola, a qual requer metodologias específicas, professores especializados, pois o ensino do Português para os surdos se assemelha com o aprendizado de línguas estrangeiras, tendo em vista que o surdo aprende o português como segunda língua L2. Conclusão A presente pesquisa indicou que quando a pessoa surda tem contato com a língua de sinais desde pequena se constitui como um sujeito de linguagem. Assim sendo, quando nasce 21722 em uma família de pais surdos tem desde criança surda adquire uma língua, o que acaba facilitando a aprendizagem do português escrito. Portanto a educação bilíngue faz com que os surdos aprendam de maneira mais fácil, na medida em que tem uma metodologia que predomina o visual, sem dispensar o português escrito. Para isso, faz-se necessário que se desenvolva a linguagem e que por meio do contato com os livros e leitura o aluno surdo adquira palavras para seu vocabulário, o que facilita a aprendizagem da escrita. Concluímos que durante o processo de alfabetização é de suma importância à presença de um interprete, na medida em que o aluno surdo irá aprender o sinal e em seguida a escrita, além disso, é preciso material didático e metodologias diferenciados, tendo o professor que partir da realidade social do aluno, considerando o contexto em que está inserido. Considerando a educação de modo geral, é indispensável o uso da linguagem, de maneira especial na educação de surdos devemos os envolver de maneira significativa no contexto social por meio da produção de pequenas frases, o que compreende um meio de comunicação além da língua materna. REFERÊNCIAS BARBOSA, Monica de Gois Silva, BARBOSA, Wagner dos Santos. 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