Além do Primeiro Lugar em Exportações de Carne Bovina:

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XLV CONGRESSO DA SOBER
"Conhecimentos para Agricultura do Futuro"
OS MODELOS DE EQUILÍBRIO PARCIAL COMO APOIO À TOMADA DE
DECISÃO NO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO: UMA ANÁLISE A PARTIR DOS
MODELOS DE VANTAGENS COMPARATIVAS REVELADAS E ORIENTAÇÃO
REGIONAL
DANIEL ARRUDA CORONEL; JOÃO ARMANDO DESSIMON MACHADO;
ALBERTO DA SILVA DUTRA.
UFRGS, PORTO ALEGRE, RS, BRASIL.
[email protected]
APRESENTAÇÃO ORAL
ADMINISTRAÇÃO RURAL E GESTÃO DO AGRONEGÓCIO
OS MODELOS DE EQUILÍBRIO PARCIAL COMO APOIO À TOMADA DE
DECISÃO NO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO: UMA ANÁLISE A PARTIR DOS
MODELOS DE VANTAGENS COMPARATIVAS REVELADAS E ORIENTAÇÃO
REGIONAL
Grupo de Pesquisa: Administração Rural e Gestão do Agronegócio:do
Agronegócio:
Resumo: O objetivo deste trabalho é demonstrar a importância dos modelos de equilíbrio parcial
de Vantagens Comparativas Reveladas e Orientação Regional, geralmente utilizados em trabalhos
de economia internacional, como apoio à tomada de decisão. Neste sentido, discute-se alguns
trabalhos que se utilizaram desses modelos e, a partir dos resultados encontrados, constata-se que
os modelos podem ser instrumentos úteis de tomada de decisão para a formulação de políticas de
comércio internacional, a fim de que o país tenha estratégias amplas para uma maior
competitividade nos mercados internacionais de produtos agroalimentares. Além disso, o país
poderá desenvolver estratégias específicas para os principais parceiros comerciais e também em
relação aos seus principais concorrentes no mercado internacional de determinado produto.
Palavras-chave: equilíbrio parcial; tomada de decisão; agronegócio
THE PARCIAL EQUILIBRIUM MODELS AS SUPPORT TO THE DECISION
MAKING IN BRAZILIAN AGRIBUSINESS: AN ANALYSIS FROM THE
MODELS OF THE REVEALED COMPARATIVES ADVANTAGES AND
REGIONAL ORIENTATION
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Londrina, 22 a 25 de julho de 2007,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
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"Conhecimentos para Agricultura do Futuro"
Abstract: The goal of this work is to demonstrate the importance of the parcial equilibrium models
of Revealed Comparative Advantages and Regional Orientation, usually used in works of
international economy, as support to the decision making. Therein, one discusses few works that
have made use of these models and , from the results found, one evidences that the models can be
useful tools of decision-making for the policies making of international trade in order that the
country gains wide strategies for a bigger competitivity in the agri-food international markets.
Moreover, the country will be able to develop specific strategies for the main comercials partners
and also concerning its main competitors in the international market of a specific product.
Keywords: parcial equilibrium; decision making; agribusiness
1 Introdução
A abertura econômica ocorrida no Brasil a partir do início da década de 1990
alterou sensivelmente as condições de competitividade dos mais diversos setores da
economia nacional, estando o setor agrícola incluído neste processo. Neste cenário de
maior competição, cabe aos agentes envolvidos nas cadeias produtivas agroindustriais o
desenvolvimento de estratégias de ação que possibilitem o incremento da participação do
Brasil no âmbito do comércio internacional, não somente de commodities agrícolas, como
também de produtos agroalimentares com maior valor agregado.
Em função da complexidade das relações comerciais, sociais e econômicas
características ao ambiente globalizado, bem como às peculiaridades inerentes à produção
e comercialização de produtos agrícolas e a representatividade desses produtos para os
resultados da balança comercial e economia brasileira, os modelos de subsídio às tomadas
de decisão, no que tange ao comércio internacional, destacam-se como importantes
ferramentas de apoio ao decisor.
Nos últimos anos, tem-se acentuado o desenvolvimento de estudos envolvendo o
processo de tomada de decisão, já que este envolve várias áreas do conhecimento, tais
como Economia, Sociologia, Administração, Psicologia, Antropologia e Filosofia, além de
utilizar-se de vários modelos matemáticos, econométricos, de programação linear,
equações lineares e de equilíbrio geral e parcial.
Neste sentido, os modelos de equilíbrio parcial de Vantagens Comparativas
Reveladas e Orientação Regional indicam se o país ou bloco analisado apresenta
Vantagens Comparativas Reveladas no comércio internacional de determinado produto,
bem como revelam a tendência e o comportamento de suas exportações. Com base na
utilização destes modelos pode-se fazer observações e ponderações visando o processo de
tomada de decisão de comercialização dos produtos da pauta do agronegócio brasileiro
junto aos mercados internacionais.
Neste contexto, este trabalho tem como objetivo demonstrar como a utilização dos
modelos de equilíbrio parcial de Vantagens Comparativas Reveladas e Orientação
Regional podem vir a constituir-se em ferramenta de apoio à tomada de decisões no âmbito
das exportações brasileiras de produtos agroalimentares. Para isso, procedeu-se de forma
analítica, visto que, após organizar e selecionar os materiais bibliográficos, observaram-se
as possibilidades de utilização dos modelos de Vantagens Comparativas Reveladas e
Orientação Regional como apoio à tomada de decisão.
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O presente trabalho está estruturado em quatro seções, além desta introdução.
Primeiramente, faz-se uma abordagem conceitual da Teoria da Tomada de Decisão e, após,
expõem-se os modelos de equilíbrio parcial de Vantagens Comparativas Reveladas e
Orientação Regional, bem como alguns trabalhos que se utilizaram desses modelos. Na
seção seguinte, procura-se demonstrar, com base em alguns exemplos, a importância
desses modelos para a tomada de decisão e, por fim, expõem-se os principais resultados da
pesquisa.
2 Tomada de decisão: uma abordagem conceitual
De acordo com Pereira e Fonseca (1997), a tomada de decisão vem sendo utilizada
desde os primórdios da civilização, visto que os homens utilizavam-se do vento, da lua, do
sol, das estações do ano e de magias para tomarem decisões relacionadas à plantação, às
colheitas, às festas e aos sacrifícios.
Spinelli (1998) lembra um caso que ocorreu na Grécia antiga, envolvendo o
filósofo e matemático Tales de Mileto, no qual se observam vários elementos de tomada de
decisão. Tales, com base em seus estudos de Astronomia, concluiu que a próxima colheita
de oliva seria abundante. Então, dado que era inverno, ele aplicou todo seu dinheiro com o
objetivo de garantir a locação de todas as prensas de oliva das cidades de Mileto e Quio, o
que conseguiu por um bom preço. Quando da colheita, ocorreu uma forte procura por
prensas e ele as sub-alugou sob o preço e condições que julgou adequado, visto que ele
detinha praticamente o monopólio das prensas. Neste caso verifica-se que Tales de Mileto,
ao prever, com base em seus estudos, a ocorrência de uma grande safra de oliva, decide
obter ganhos através do aluguel de prensas, o que ele realiza devido à sua antecipação em
relação aos fatos que estavam por ocorrer, caracterizando uma acertada tomada de decisão.
Na teoria econômica clássica, a tomada de decisão é baseada em um processo de
escolha que conduz àquela alternativa que for considerada ótima para a organização, onde,
por meio de regras e modelos, o tomador de decisão efetua uma escolha racional, ou seja,
ele escolhe a melhor alternativa entre as existentes.
De acordo com o modelo de escolha racional de tomada de decisão, os indivíduos
tomam suas decisões visando a maximização de algo, adotando, para isto, um processo
seqüencial e linear. Nesses modelos, os tomadores de decisão identificam um problema,
coletam e selecionam informações acerca das potenciais alternativas de solução do
problema, comparam cada possibilidade de solução com alguns critérios pré-determinados,
ordenam as soluções de acordo com uma ordem de preferência e selecionam a opção
ótima.
Porém, de acordo com a teoria contemporânea de tomada de decisão, existem
outros elementos que influenciam neste processo, como o ambiente sócio-econômico, os
valores e crenças do tomador de decisão, seus aspectos comportamentais, entre outros. De
acordo com Rodriguez Ocaña (1996), a teoria da decisão orienta as atitudes humanas nos
mais variados aspectos, visto que as decisões envolvem aspectos culturais, econômicos,
políticos, sociais, antropológicos, filosóficos que, por conseqüência, acabam por
determinar a relação e a interação do homem com a sociedade e as organizações.
Aguiar (1995, p.23) escreve que “la teoría de la decisión se ocupa de analizar
como eligen los individuos aquella acción que, de entre un conjunto de acciones posibles,
les conduje al mejor resultado, dadas sus creencias e preferencias”.
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Simon (1970) propõe contemplar a existência de novos elementos no processo de
tomada de decisão, onde a escolha de alternativas é permeada por um conjunto de ações e
comportamentos que irão conduzir à opção mais satisfatória correspondente ao interesse do
decisor, podendo vir esta alternativa em detrimento a uma opção ótima para a sua
organização.
O tomador de decisão é limitado por sua capacidade cognitiva, sendo o processo
decisório também limitado por esta capacidade, ou seja, o tomador de decisão é um
indivíduo que possui uma racionalidade limitada, apresentando limitação no seu
conhecimento em relação aos aspectos sobre os quais as decisões serão tomadas. Aliado a
isso, o indivíduo é limitado pelos seus valores e pelos conceitos de finalidade que o
influenciam na tomada de decisão (SIMON, 1970).
A racionalidade limitada mostra que os tomadores de decisão, freqüentemente,
decidem com base em uma assimetria de informações, ou seja, os mesmos não percebem
todos os fatores que podem influenciar a natureza do problema e de suas possíveis
soluções. Isto deriva, entre outros fatores, da incapacidade do ser humano em organizar e
trabalhar com grandes quantidades de informação, o que se deve essencialmente aos seus
limites cognitivos. Assim, ao invés de buscar a decisão perfeita, ou ideal, os
administradores aceitam uma decisão apenas satisfatória, ao invés de maximizar ou
encontrar a decisão ótima (SIMON, 1970).
Ainda para Simon (1977) a decisão compreende três fases principais, as quais são
indivisíveis e complementares, estando também envolvidas por um constante feedback. A
primeira fase (inteligência ou investigação) compreende a análise do ambiente, na qual é
realizada a coleta e o processamento de informações de forma a se identificar as
oportunidades e ameaças do ambiente. Já a segunda fase (concepção ou desenho) consiste
de analisar os possíveis cursos de ação, formular o problema, construir e analisar as
alternativas viáveis para uma situação que requer decisão. A terceira fase (escolha) é
aquela onde se escolhe uma determinada linha de ação, dentre as alternativas disponíveis,
ou viáveis, sendo esta escolha determinada por um número restrito de informações
captadas, em função da limitação de racionalidade e de cognição. Esta também pode ser
chamada de fase da implementação da decisão escolhida. Por fim, a revisão consiste de
avaliar as escolhas passadas, de forma a retroalimentar o sistema futuro por meio do
aprendizado passado.
INTELIGÊNCIA
CONCEPÇÃO
ESCOLHA
FEEDBACK
Figura 1: O Modelo do Processo Decisório de Simon.
Fonte: Baseado em Simon (1977).
Audy, Becker e Freitas (2001) afirmam que um dos grandes problemas enfrentados
pelas organizações é a capacidade de obter o maior número significativo de questões
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relacionadas ao processo decisório e processá-las de maneira objetiva visando a maior
eficiência na tomada de decisão.
Lara (1991, p.177) ao analisar a racionalidade limitada, comenta que
Todo proyeto de racionalidad de la decisión ha de partir de la base que el
conecimento que tenemos del objeto, entorno o sitación es un conocimiento
incompleto, no exhaustivo. Lo cual viola ya las premissas fundamentales de
clarid y completitud requeridas por la racionalidad mecánica. Por ello, todo
intento de racionalización integral de las decisiones que tocan a la vida de la
persona o de la sociedad es no sólo prácticamente irrealizable, sino que es hasta
teóricamente infundado.
Outro importante aspecto relacionado à tomada de decisão é o fato de que o tempo
e a energia necessários para o decisor efetuar a sua escolha são limitados. Em um ambiente
competitivo e dinâmico, onde a rapidez, em determinados casos, é uma imposição ao
decisor, a necessidade de um longo período de tempo para a tomada de decisão poderá
acarretar em um resultado apenas satisfatório, porém não o melhor resultado possível. Isto
é corroborado pela contribuição de Janis e Mann (1976), que salientam que um fator
relevante é o estresse ao qual os decisores estão submetidos. Segundo eles, a maioria das
decisões é tomada sob elevado nível de pressão, o que influi no comportamento presente e
futuro dos decisores.
Dada a importância do tema, bem como do setor agropecuário, tem-se intensificado
os estudos envolvendo tomada de decisão na agricultura familiar e no agronegócio para a
exportação. Neste sentido podem ser citados os trabalhos de Rodriguez Ocaña (1996), que
propôs uma metodologia para avaliar a tomada de decisões dos agricultores da região de
Córdoba, na Espanha; Machado (1999), que analisou o sistema informação-decisão dos
produtores del Valle Médio Del Guadalquivir, na Espanha; Fernandes et al. (2004), que
analisaram os fatores inerentes à tomada de decisão pela China ao alegar que as
exportações brasileiras de soja, em 2004, estavam com ferrugem, caso esse que envolveu,
além de vários elementos de Política Econômica Internacional, questões relacionadas ao
Direito Internacional e à moderna Teoria do Comércio Internacional.
Quando se estuda tomada de decisão, não existe um receituário a seguir, no entanto,
um modelo que tem sido utilizado com contribuições à compreensão do processo é o
proposto por Simon.
Segundo Machado (1999), os modelos se configuram em uma ferramenta para o
suporte e auxílio à tomada de decisão. Neste sentido, podem ser utilizados modelos de
programação linear, programação dinâmica, sistemas de equação, modelos matemáticos,
econométricos, de equilíbrio geral e parcial, entre outros.
Um dos modelos que vem sendo utilizado por pesquisadores das Relações e
Políticas Internacionais é o modelo de Vantagens Comparativas Reveladas e Orientação
Regional, pois pode colaborar para a formulação de estratégias envolvendo questões de
políticas de comércio internacional e competitividade das exportações.
3 Os modelos de equilíbrio parcial de Vantagens Comparativas Reveladas e
Orientação Regional
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Atualmente, vários pesquisadores têm feito estudos usando os modelos de
equilíbrio parcial de Vantagens Comparativas Reveladas (VCR). Merecem destaque os
trabalhos de Maia (2002), Ferreira e Carvalho (1998), David e Nonnemberg (1998),
Waquil et al. (2004), Rubin e Rondinel (2004) e Ilha e Souza (2005). Nestes estudos,
foram feitas análises no intuito de mensurar as vantagens comparativas reveladas das
principais commodities do agronegócio brasileiro em relação à ALCA ou à União
Européia.
Na maioria destes trabalhos também foi utilizado o modelo ou Índice de Orientação
Regional (IOR) para verificar a tendência e a orientação das exportações do agronegócio
brasileiro. O modelo de Orientação Regional foi proposto por Yeats (1997) a fim de
observar qual a orientação das exportações do Mercosul e se a mesma se modificou ao
longo do tempo. Para Rubin e Rondinel (2004, p.155), “o cálculo do Ìndice de Orientação
Regional permite avaliar se as exportações de um determinado país estão sendo
direcionadas para uma determinada região ou bloco econômico”.
Dentre os trabalhos que usaram o Ìndice de Orientação Regional, merecem
destaque os de Yeats (1997), Ilha e Coronel (2003), Waquil et al. (2004), Rubin e Rondinel
(2004) e Ilha e Souza (2005). Esses autores usaram o IOR para mensurar a tendência das
exportações para a União Européia de alguns produtos do agronegócio brasileiro, dentre
eles soja e derivados, açúcar, suco de laranja, café, frango e carne bovina. Os resultados
indicam uma orientação das exportações para a União Européia, exceto para frango e
açúcar.
Ainda nessa perspectiva, Ilha e Coronel (2003) analisaram a orientação regional das
exportações brasileiras para o Foro de Cooperação Econômica na Ásia e no Pacífico
(APEC), e constataram que as exportações brasileiras de soja não estão orientadas para o
bloco, no entanto elas vêm crescendo nos últimos anos, o que permite projetar que
brevemente as exportações também já estejam orientadas para esse bloco.
A importância desses modelos de equilíbrio parcial, os quais são muito utilizados
em pesquisas e estudos de comércio internacional, reside no fato de que eles dão uma idéia
de como vêm se comportando as exportações de determinada commodity, se o país ou
bloco apresenta Vantagens Comparativas Reveladas e Orientação Regional para
determinadas commodities em relação aos seus parceiros comerciais. Não obstante a isso,
esses modelos têm várias limitações, já que não incluem variáveis importantes relacionadas
à competitividade, tais como a taxa de câmbio, infra-estrutura e logística.
O modelo de Vantagens Comparativas Reveladas foi proposto por Balassa, em
1965, balizado na lei das Vantagens Comparativas, formulada por Ricardo1 em 1817.
De acordo com Maia (2002, p. 03), “o modelo de VCR fornece um indicador da
estrutura relativa das exportações de uma região ou país”.
O modelo ou índice de VCR é dado pela equação abaixo:
VCR j = (X ij /X i) / (X wj/Xw)
X ij = Valor das exportações brasileiras de determinada commodity;
X i = Valor total das exportações brasileiras;
X wj = Valor total das exportações mundiais de determinada commodity;
1
Gremaud, Vasconcellos e Toneto Júnior (2002, p. 531) sintetizam as vantagens comparativas formuladas por
Ricardo da seguinte maneira: “os países devem especializar-se na produção daqueles bens que façam com
maior eficiência, isto é, com menores custos relativos.”
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X w = Valor total das exportações mundiais.
De acordo com Maia (2002):
VCR j > 1 → O país possui vantagem comparativa revelada para as exportações de
determinada commodity;
VCR j < 1 → O país possui desvantagem comparativa revelada para as exportações de
determinada commodity.
O modelo ou Índice de Orientação Regional (IOR) é dado pela equação abaixo:
IOR= (X rj / X tr ) / ( X oj / X to)
X rj = Valor das exportações brasileiras de determinada commodity intrabloco;
X tr = Valor total das exportações brasileiras intrabloco;
X oj = Valor das exportações brasileiras de determinada commodity extrabloco;
X to = Valor total das exportações brasileiras extrabloco;
De acordo com Yeats (1997), o IOR situa-se num intervalo entre zero e infinito,
sendo que valores iguais à unidade indicam uma tendência para exportação intra e extrabloco. Valores crescentes do IOR, ao longo do tempo, indicam uma tendência para
exportar mais para dentro do bloco.
Esses modelos, ao indicarem se os países ou blocos apresentam Vantagens
Comparativas Reveladas e a tendência das exportações de determinada commodity, podem
servir como subsídio à tomada de decisão por parte dos exportadores e dos formuladores
de políticas públicas.
4 Os modelos de equilíbrio parcial e a tomada de decisão
Os modelos de equilíbrio parcial, ao indicarem se as exportações de determinada
commodity de um país ou bloco são competitivas ou não em relação a um parceiro
comercial, podem servir como um instrumento prático e analítico para a tomada de
decisão, com o objetivo de o país formular políticas específicas ou acordos regionais de
comércio, bem como montar estratégias em relação aos seus principais concorrentes.
Isso pode ser constatado tomando como base o estudo de Ilha e Coronel (2003),
que utilizaram os modelos de Vantagens Comparativas Reveladas e Orientação Regional
para verificar a competitividade das exportações da soja em grão em relação à União
Européia e ao Foro de Cooperação Econômica na Ásia e no Pacífico (APEC). Neste
trabalho eles apresentam elementos que indicavam que as exportações brasileiras de soja
em grão estavam crescendo significativamente para a China nos últimos anos, vindo esse
país a se tornar um importante parceiro comercial do Brasil.
Apesar disso, em 2004, a China alegou que a soja brasileira estava com ferrugem e,
portanto, iria interromper as importações do grão. De acordo com a Organização Mundial
do Comércio (OMC, 2006), as impurezas em soja até 0,2 % por tonelada são toleráveis, e
as exportações de soja brasileira, conforme o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio (MDIC, 2006), continham apenas 0,06%, ou seja, estavam totalmente de acordo
com os padrões internacionais. Nessa situação, observa-se um típico caso de protecionismo
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disfarçado, ou seja, a aplicação de barreiras não-tarifárias2, com o pretexto de preocupação
com a saúde da população.
Como resultado desse embargo, os exportadores brasileiros de soja perderam vários
carregamentos e tiveram que baixar os preços. Nesse caso, observam-se vários elementos
da tomada de decisão, pois a China, ao saber da importância que as exportações de soja
têm na economia nacional, toma a decisão de não importar mais o grão até que a ferrugem,
que era de apenas 0,06%, fosse reduzida ainda mais. Com isso, além de provocar diversas
perdas econômicas, obrigou o Brasil a ter uma atitude passiva junto à OMC, como forma
de tentar evitar prejuízos futuros, dada a importância da China para as exportações de soja
brasileira.
A análise desse exemplo mostra a capacidade de tomada de decisão dos
governantes chineses, e, por outro lado, mostra como o Brasil estava suscetível a estas
questões. Ou seja, com estudos como os de Ilha e Coronel (2003), já se sabia da
importância da China para o agronegócio nacional, entretanto, os exportadores e o governo
brasileiro não tinham estratégias para se protegerem do embargo chinês, isto é, tinham a
percepção de que a China continuaria cada vez mais importando soja brasileira. Isso fica
claro com a passividade do Brasil junto à OMC, visto que o governo brasileiro não tinha
estratégias alternativas caso a China aplicasse alguma restrição às exportações brasileiras.
Isso também pode ser constatado em estudos como o de Fernandes et al (2004), na qual
apontam fatores componentes da decisão chinesa para a não importação da soja brasileira
Ainda nesse sentido, com o intuito de especificar melhor a importância dos
modelos de equilíbrio parcial para a tomada de decisão, de acordo com Waquil et al.
(2004) e Ilha e Coronel (2003), por meio dos modelos de Vantagens Comparativas
Reveladas e Orientação Regional foi possível constatar que as exportações brasileiras de
soja para a União Européia, apesar de estarem orientadas para o bloco, vêm caindo nos
últimos anos.
Portanto, a partir dessa constatação abre-se a possibilidade de que o governo e os
exportadores brasileiros tomem algumas decisões antecipadas, tais como acordos regionais
de comércio visando intensificar as relações comerciais com potenciais países
importadores; preços diferenciados; análise das estratégias que os principais concorrentes
brasileiros no mercado mundial de soja, ou seja, Estados Unidos e Argentina, estão
adotando, visando intensificar as relações comerciais com a União Européia.
Cabe salientar, ainda, que a aplicação de modelos como os discutidos neste artigo
não se restringe apenas à análise de competitividade de commodities agrícolas, podendo ser
estendida para produtos agroalimentares de maior valor agregado, servindo de ferramenta
para a adoção de estratégias que visem o incremento das exportações destes produtos.
Neste contexto, como se pode verificar na figura 2, os modelos de Vantagem
Comparativa Revelada e Orientação Regional configuram-se como ferramentas de subsídio
às tomadas de decisão relacionadas ao comércio internacional de produtos agroalimentares,
2
As barreiras tarifárias eram a forma mais utilizada para um país proteger a sua economia local. Os efeitos
da tarifa, de acordo com Salvatore (1999), eram distintos, pois os produtores se beneficiavam, contudo os
consumidores eram prejudicados, visto que pagavam um preço mais elevado pelas mercadorias. Segundo
Krugman e Obstfeld (1999), as tarifas diminuíram nos últimos tempos porque os governos preferem proteger
suas indústrias por meio de barreiras não-tarifárias, como a restrição voluntária às exportações, subsídio às
exportações e imposição de novas barreiras comerciais, que são técnicas, ecológicas, burocráticas e
sanitárias, como forma de evitar sanções junto à OMC.
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sendo que após a análise do ambiente e organização das informações junto aos modelos,
estes podem indicar possíveis alternativas de tomada de decisão.
FEEDBACK
MODELOS
VCR e IOR
INTELIGÊNCIA
CONCEPÇÃO
ESCOLHA
Figura 2: Os modelos de Vantagem Comparativa Revelada e Orientação Regional
como subsídio às tomadas de decisão no âmbito do comércio internacional.
Fonte: Elaborado pelos autores, com base em Simon (1977).
Com esses exemplos, buscou-se demonstrar como os modelos de equilíbrio parcial
de Vantagens Comparativas Reveladas e Orientação Regional podem ser importantes para
as tomadas de decisões no âmbito da política comercial internacional, sendo que a
intensificação da utilização desses modelos tem o objetivo de conferir uma maior pujança e
segurança às exportações agroindustriais brasileiras no contexto macroeconômico
internacional.
5 Considerações finais
Com este trabalho tentou-se demonstrar a importância dos modelos de equilíbrio
parcial, que seguidamente são utilizados em trabalhos de economia internacional como um
subsídio à tomada de decisão, a qual envolve uma perspectiva multidisciplinar.
O estudo da Teoria da Decisão mostra que o processo decisório remonta às
primeiras civilizações, que se utilizavam basicamente da Astronomia como instrumento de
auxílio, e que as pesquisas envolvendo tomada de decisão acentuaram-se na primeira
metade do século XX com os trabalhos de Simon, que coloca a racionalidade limitada
como um componente importante para a discussão do processo, além de que o mesmo
envolve várias áreas do conhecimento.
Um dos vários subsídios à tomada de decisão são os modelos e, neste trabalho, com
os modelos de Vantagens Comparativas Reveladas e Orientação Regional, foi possível
demonstrar que os mesmos, além de indicarem se o país apresenta vantagens comparativas
reveladas, também revelam que a tendência e o comportamento das exportações podem
servir como uma ferramenta analítica para a tomada de decisão envolvendo questões de
política internacional. Isso fica mais latente analisando a tomada de decisão da China, no
caso da ferrugem da soja brasileira, onde se observou que aquele país possuía estratégias e
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decisões bem definidas, enquanto o Brasil teve uma postura pacífica, pois não havia
analisado antecipadamente alternativas de decisão.
Fica evidenciado, neste contexto, que a utilização de modelos como subsídio às
tomadas de decisão visam, de certa forma, reduzir as limitações inerentes à racionalidade
dos indivíduos que estão envolvidos em processos complexos de tomada de decisões que
envolvam uma série de variáveis e elementos que se inter-relacionam e cujas
conseqüências são difíceis de serem mensuradas. Em um contexto macroeconômico
globalizado, dinâmico e turbulento, as estratégias e ações que visem a adoção de condutas,
sejam elas na esfera pública ou privada, pautadas pela utilização de modelos como os
discutidos neste artigo, podem vir a direcionar decisões antecipadas e, por conseqüência,
reduzir os potenciais impactos negativos oriundos de negociações internacionais.
Reconheça-se, entretanto, as limitações de tais modelos, uma vez que uma série de
variáveis importantes no processo não são levadas em consideração. Neste sentido,
destaca-se a importância do constante desenvolvimento e aperfeiçoamento destes, o que
inclui o constante incremento de variáveis relevantes aos processos decisórios de comércio
internacional, bem como de suas inter-relações com as demais variáveis e seu respectivo
impacto nos resultados das exportações de produtos agroindustriais brasileiros.
Enfim, com este trabalho procurou-se trazer para a discussão a importância de
modelos que geralmente são utilizados em estudos de economia internacional como um
suporte para a tomada de decisão, bem como a importância de novos estudos em que se
trabalhe com outros modelos, como os de equilíbrio geral, que são ferramentas analíticas
importantes para qualificar o processo decisório no âmbito do comércio internacional,
reduzir as limitações de racionalidade dos decisores e ampliar o número de alternativas
conhecidas e analisadas.
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