EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E CURSO SUPERIOR DE

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM
GESTÃO: UMA EXPERIÊNCIA BEM SUCEDIDA NO ABC PAULISTA
Mônica Maria Martins de Souza – Faculdade Anchieta
[email protected]
Resumo: A pesquisa realizada em uma faculdade do ABC paulista demonstrou que os cursos
superiores de curta duração, parcialmente a distancia, de tecnologia em gestão, liberados pelo
MEC em 1996, veio atender a demanda brasileira para que o ensino superior se popularizasse.
Assim maior parte da população pode ingressar nesses cursos e ampliar sua empregabilidade. A
pesquisa quantitativa e qualitativa demonstra que tanto o grupo que se matriculou desempregado
quanto os empregados que entraram para mudar a postura profissional, em curto espaço de tempo
teve sua expectativa atendida.
Palavras-chave: ensino; superior; tecnologia.
INTRODUÇÃO
O ensino superior é ideologicamente comprometido em formar cidadãos e tem
uma responsabilidade social de desenvolver suas competências e habilidades a fim de
que estes possam criar soluções para os problemas do seu entorno. Ou seja, profissionais
tecnológica e culturalmente capazes de propiciar a construção de uma sociedade
independente e auto suficiente.
Essa responsabilidade social, depois de 1996, ganhou fortes aliados com a parceria da
educação a distância - EAD, atrelada ao curso superior de tecnologia em gestão de curta
duração. Com essa parceria a educação superior conseguiu atingir um número muito
maior de pessoas de diversas classes sociais e passou a cumprir o seu papel com maior
eficiência e eficácia.
Há muito se falava a respeito da importância da educação superior para o
desenvolvimento social e econômico no Brasil e da necessidade de aumentar o estímulo à
criação cultural do seu povo, mas, apenas uma pequena elite acessava essa informação.
A década de 90 constituiu-se num momento histórico de significativas
transformações sócio-econômico-culturais. A partir do momento em que o país abriu as
portas para o mercado internacional, ele proporcionou oportunidades de crescimento e
livre concorrência e, como conseqüência, a melhoria para muitos segmentos econômicos
incluindo o da Educação.
Para o ensino superior brasileiro esse foi um grande marco, pois, a partir dessa
decisão, foram superadas as barreiras para novas oportunidades no ambiente educacional
e começou-se uma disputa de mercado nesse segmento que passou a ser considerado um
negócio lucrativo. Nesse momento a educação superior brasileira venceu a fronteira entre
o espaço público e o espaço privado, sofrendo significativas modificações e sucessivas
adaptações. Economicamente, ela contribui direta e indiretamente para a produção de
riquezas por meio da geração de emprego e de renda. É um setor econômico que
movimenta aproximadamente 9% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro (CUNHA,
2000).
Do seu surgimento até os anos 60 a presença da educação superior brasileira se
restringiu ao âmbito público, principalmente em função do processo de federalização, do
incentivo dado às universidades federais no regime militar, inclusive no nível da pósgraduação. A partir de 1960, iniciou-se um movimento em favor de criação e manutenção
de IES privadas, tendo como principal articulador o Conselho Federal de Educação CFE. Este, constituído em sua maioria por dirigentes de IES privadas, pôs fim ao
processo de federalização e articulou o afrouxamento das normas de criação de cursos, a
ampliação de vagas e concessão do status universitário às instituições privadas.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB (Lei n. 9394/96)
promoveu a ampliação do acesso público ao ensino superior, aumentando a concorrência
num mercado até então adormecido e carente de oportunidades. Com essa medida, as
instituições, universidades, centros universitários, institutos, faculdades integradas ou
isoladas tornaram o ensino superior mais acessível em vários sentidos, especialmente no
que se refere ao acesso e ao preço. Essas medidas permitiram às novas instituições,
desobrigadas da prática de ensino-pesquisa-extensão de disporem de professores em
tempo integral, oferecerem o ensino superior a preços mais viáveis para a maioria da
população (QUEIROZ, 2003).
Nesse pacote de ofertas delegou-se credibilidade aos cursos superiores nos moldes
da educação à distância – EAD, e cursos superiores de tecnologia em gestão – cursos de
curta duração. Esses cursos podem ser ministrados totalmente à distância, ou compostos
por um percentual de aulas presenciais e outro percentual à distância. Com essas medidas
as instituições de ensino superior, aproveitando a abrangência do ensino, passaram a
disponibilizar formação específica e educação geral por intermédio da Educação à
Distância – EAD. Cursos voltados para o desenvolvimento de competências e habilidades
e formação diversificada como é o caso dos cursos de curta duração (curso de tecnologia
em gestão em dois anos, com status de curso superior). Esses cursos já são praticados em
diversas instituições de ensino superior de São Paulo e o seu resultado já rende lucros
para o mercado de recursos humanos, para as faculdades que os adotaram e às pessoas
que os experimentaram.
Infelizmente, no Brasil, ainda há um longo caminho por percorrer. O número de
educadores e escolas brasileiras que investem no assunto é ainda muito pequeno
comparado com a extensão territorial e à falta de acesso à tecnologia de um grande
contingente da população. Em contrapartida, o número de alunos que sonham com essa
possibilidade parece ser grande. Em muitas regiões as escolas brasileiras nem começaram
a desbravar o terreno da virtualidade, mas o primeiro passo já foi dado.
A EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA E SUA APLICAÇÃO NOS CURSOS DE
TECNOLOGIA NO ABC PAULISTA: APROXIMANDO TEORIA E PRÁTICA
No Brasil, as diretrizes reformuladas em 1996 pelo MEC – Ministério da
Educação e Cultura, delinearam novos rumos para a educação no país e definiram as
direções de esforços e recursos. Essas práticas abriram caminho para as Instituições de
Ensino Superior a colocarem em prática o ensino virtual compartilhado com o presencial.
Atualmente, quando se fala em ensino superior a distância, ou se faz referência ao
ensino via Internet, não se disserta acerca de um novo ensino, mas de um ambiente de
interatividade com novas ferramentas. A faculdade, ao transferir as suas carteiras para a
Internet, propicia à sala de aula uma nova lousa com as características da terra vista do
espaço. Só que, nela, o aluno acessa todo o conhecimento humano por intermédio de um
toque. O aluno, munido apenas de um micro e uma conexão com a Internet, é levado às
próprias fontes do conhecimento. Se o assunto for “animais”, ele poderá visitar um
zoológico. Em uma aula de História ele será transportado para um museu bem na tela de
seu computador. Em meio a uma aula de Física, ele poderá participar de um debate online
com físicos ou acessar os últimos trabalhos publicados pelos maiores cientistas ou acessar
o conteúdo dos livros disponíveis nas bibliotecas públicas virtuais.
Assim, a universidade passa a fazer jus ao nome que recebeu no passado, abrangendo um
conhecimento de amplitude universal” (FILHO, 1998). Passou o tempo em que o sistema
virtual atingia apenas autodidatas sonhadores ou pessoas impossibilitadas de acessar as
informações por uma universidade. Hoje o sistema disponibiliza para os mais diversos
públicos acesso ao ensino superior virtual.
Essa nova realidade, que traduzia antigos projetos educacionais e anseios de
muitos educadores, começou a ser praticada, de fato e de direito, a partir de 1996 por
diversas Faculdades que iniciaram a experiência dos cursos tecnológicos parcialmente
presencial e parcialmente a distância.
O sistema foi construído com foco na missão das universidades e em ações
docentes resultantes de um trabalho reflexivo e participativo que apostava na clareza do
percurso traçado como seu ponto forte.
Com a possibilita de se educar maior contingente em menor tempo e com menor
custo, os cursos de tecnologia em gestão, associados à educação à distância – sistema
antigo - passou a contar com o auxilio dos mais avançados recursos tecnológicos. Ela
ganhou uma nova face, tornou-se mais competitiva e passou a ser praticada em diversas
faculdades e universidades de São Paulo.
Assim, de roupa nova, a educação a distância tornou-se uma estratégia
educacional e marcou o início de uma nova história em muitas faculdades particulares - a
educação virtual: sistema que integra a inovação pedagógica e tecnológica (Filho, 1998).
Nessa modalidade educacional a mediação didático-pedagógica - os processos de ensino
e aprendizagem - ocorrem com a utilização de meios e tecnologias de informação e
comunicação, entre estudantes e professores que desenvolvem atividades educativas em
lugares e/ou tempos diversos” (Art. 80 da Lei 9394/96 -LDB).
A sua prática, atualmente, tem recebido das universidades consideração especial,
elas formaram um corpo docente especializado para atuar no sistema. É bem verdade que
o professor, não raro, trabalha dobrado porque precisa corrigir todos os trabalhos e dar
um feedback a cada aluno, individualmente, seja por correspondência, vídeo-conferência,
ou internet (Marchessou, 1996).
A metodologia se tornou popular graças ao grande alcance da televisão que
facilitou o acesso do público aos telecursos do segundo grau, no ar há mais de 20 anos. O
estilo, teatralizado e novelesco, das aulas agradou aos telespectadores e, com isso,
preparou o terreno para a aceitação das tecnologias atuais - a educação virtual
compartilhada (Balboa, 1996).
A PARCERIA - EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA E OS CURSOS SUPERIORES DE
TECNOLOGIA EM GESTÃO: O DESENVOLVIMENTO DO PROCESSO NA
FACULDADE ANCHIETA
Dentre as diversas universidades e faculdades que iniciaram os projetos
experimentais de tecnologia a partir de 1996 destaca-se a Faculdade Anchieta, objeto
desta pesquisa. O desenvolvimento de seu projeto mereceu delicada atenção com a
compreensão do momento histórico, dos aspectos econômicos, sociais e culturais que o
nortearam.
Conscientes que precisariam de uma equipe envolvida e comprometida na sua
construção, decidiram fazer um projeto piloto. A clareza do percurso a construir foi o
foco da instituição que, ao demarcar a direção do projeto, delineou esforços, recursos,
selecionou e mobilizou os docentes que participariam da sua construção.
O primeiro passo foi efetuar uma pesquisa para investigar a necessidade e a
aceitação do público acerca de cursos nesses moldes. Consideraram a importância da
adaptação à diversidade regional e o respeito à cultura do local (ANDRADE, 2004). Os
questionamentos levaram em conta a faixa etária, habilidades necessárias para as
empresas locais e as aspirações e experiências e necessidades do público.
A análise das respostas orientou a equipe no desenho das prospecções dos cursos.
Neles o conhecimento das teorias da aprendizagem, da teoria da comunicação, da
psicologia, do desenvolvimento social foram formulados e reformulados, ajustando
projeto, público e cursos.
De posse dessas informações, definiu-se a finalidade do projeto, os procedimentos a
serem seguidos e as ferramentas a serem utilizadas. Consideraram a EAD e a sua
legislação, o AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem, as TIC’s – Tecnologias de
Informação e a Comunicação bem como o modelo da aula virtual. Estavam cientes de
que, na construção das aulas, teriam que considerar o público ausente, mesmo que
parcialmente.
Esse fator mereceu grande atenção da equipe, pois a adaptação do público ao
modelo da aula envolveria não apenas o domínio da técnica virtual e a adaptação do
aluno ao sistema, como também a sua satisfação com o processo como um todo. Esse
procedimento envolveria não apenas as aulas virtuais, mas as presenciais. Assim, iniciouse o “projeto Anchieta: a educação à distância e os cursos de tecnologia: uma parceria
socializando o conhecimento respeitando a diversidade”.
Grupo de trabalho: uma parceria socializando o conhecimento e respeitando
a diversidade
O trabalho iniciou selecionando-se para a tarefa um grupo de profissionais e
docentes criteriosamente habilitados de dentro e fora do seu ambiente. Eram
representantes tanto da área da Educação, Direito, Administração, quanto da Tecnologia.
Uma consultoria educacional foi designada para preparar um grupo multidisciplinar
composto por professores tutores, mediadores e Web-designers. Eles se reuniam
sistematicamente para refletir, definir e criar os parâmetros iniciais do modelo de
educação já praticado por outras universidades; o curso superior de tecnologia em gestão,
50% curso presencial e 50% à distância. Um curso de dois anos que permitiria ao aluno
freqüentar a sala de aula apenas a metade da semana, fazendo as demais atividades em
casa e enviando os trabalhos e as dúvidas ao professor, que responde virtualmente.
A equipe destinada especialmente a compreender, preparar e implementar a
educação à distância contou com o apoio de profissionais liberais especializados em
diferentes áreas relacionadas à produção e difusão da EAD. Eram consultores externos
que assessoravam os “docentes tutores” - os responsáveis pela construção das aulas
virtuais e condução do aluno no processo de aprendizagem no novo sistema. Esses
professores escolhidos para o estudo participaram de seminários e congressos nacionais e
internacionais porque seriam os multiplicadores do sistema. Priorizou-se o papel do
educador no sistema porque nele o segredo não era criar o conhecimento, mas levar seu
aluno pela mão pelo caminho do saber (Flusser, 1998), indicando-lhe onde parar e como
“cavar para desvelar o tesouro” que irá ajudá-lo em seu desenvolvimento intelectual.
Assim, nesse sistema, o professor tutor é a figura essencial que indica ao aluno o caminho
das pedras - as trilhas que ele deve seguir para adquirir o conhecimento (Minarelli,
2000). Como o músico que depende do maestro, nesse sistema, o aluno depende da
mediação do professor. Ele é o interlocutor atento às diferenças dos alunos, pessoas que
constroem a partir dos seus experimentos vividos, ensaios e erros, socializando a técnicas
e tecnologia da forma que dominam.
O desafio da persuasão na produção do curso
Os
professores
tiveram
um
grande
desafio
que
envolveu
conexões
multidisciplinares, desenvolver nas disciplinas específicas, um material; adequado,
persuasivo e criativo para capturar a atenção dos alunos. Produzir um material capaz de
levar o curso a cumprir o seu objetivo - atingir o maior número de pessoas - e atender as
múltiplas propostas do ensino aprendizagem respeitando a diversidade. Procuraram não
perder o foco sobre a importância do material escolhido. Ele deveria ser de tal forma
interessante que substituísse a presença física do professor ou se aproximasse o máximo
disso. Consideraram que ele deveria ser interessante para atrair a atenção do aluno,
despertando-lhe a curiosidade e o interesse, como o professor procura fazer no início e no
decorrer das aulas presenciais. Assim, planejaram aulas que dialogavam ou suscitavam o
diálogo interior mediante perguntas que obrigavam o aluno a reconsiderar o assunto
estudado, promovendo um permanente exercício de reflexão e aprendizagem.
O estilo de comunicação desenvolvido procurou adequação ao público alvo
previamente definido pela analise da pesquisa. O material didático foi criteriosamente
selecionado desde a escolha do tipo da letra que deveria ser clara até o cuidado com a
elaboração e formatação do texto-base que deveria considerar as características da
clientela. Foi observada a coerência com a linha pedagógica do curso atendendo os
objetivos - construção e socialização de conhecimentos, além do resgate da teoria-prática.
A estrutura do módulo cuidou atentamente da introdução, divisão do conteúdo em
blocos de estudos, atividades de fixação, reflexão, auto-avaliação e avaliação à distância.
O vocabulário e o tipo de linguagem foram definidos pela equipe que concebeu o curso,
considerando o público ao qual o curso é destinado e não aos elaboradores dos seus
conteúdos. Por esse motivo, os profissionais designados para a elaboração e organização
dos módulos foram especialistas que dominavam o conteúdo a ser trabalhado. Eles
tiveram acesso a todas as informações acerca do curso, das exigências do ensino
individualizado e das características da clientela. Consideraram a identidade dos
princípios norteadores do curso, a sua adequação à realidade do público alvo respeitando
as suas diferenças socioculturais, econômicas e regionais.
Levaram em conta que, mesmo considerando todos esses pontos, não existe uma
receita mágica para se elaborar bons materiais que atenda às diversidades sem restrições e
procuraram na elaboração a proximidade do texto com a presença do professor na sala de
aula. Essa proximidade precisa ser tal que, ao entrar em contato com o material, o aluno
tenha a impressão de estar ouvindo o professor, ou seja, nas aulas virtuais o texto precisa
transportar o aluno para a sala de aula presencial (ANDRADE, 2004).
As informações contidas na introdução do material reúnem mensagens
incentivadoras e orientadoras do estudo com o objetivo de esclarecer o aluno para a
aprendizagem e não confundi-lo. Os propósitos gerais e específicos foram elaborados
com clareza. O desenvolvimento do tema foi organizado em forma de unidades e em
blocos de estudo para levar a disciplina do curso ao aluno de forma metódica. A
linguagem procurou ser clara e precisa, o menos formal possível, para que o aluno se
sentisse como se estivesse conversando com o professor na sala se aula.
O texto foi elaborado com o propósito de ser explicativo e apresentando
ilustrações, gráficos, desenhos, fotos e tabelas esclarecedoras. Contaram com os recursos
da computação gráfica e com os recursos tipográficos para atingir um nível satisfatório de
clareza e persuasão a fim de contribuir com a aprendizagem do aluno. Para os exercícios
ao final de cada aula, atividade fundamental para a fixação dos conceitos, os professores
procuraram leituras complementares coerentes enriquecendo e aprofundando o conteúdo
Os exercícios de auto-avaliação foram acompanhados do gabarito para que o aluno
pudesse avaliar o seu progresso e verificar a sua aprendizagem e desempenho.
Permitindo-o dessa forma caminhar avançando ou recuando, no seu percurso.
Assim, as aulas foram desenhadas procurando atender a proposta dos cursos EAD
considerando todos os objetivos, as mídias educativas e de comunicação, a concepção e
execução dos materiais didáticos, a metodologia de ensino, a dinâmica do atendimento
tutorial, as ações ligadas à arquitetura das aulas na web, e a definição de estratégias de
redação e estética do AVA (ambiente virtual de aprendizagem). Foram elaboradas a partir
de um cronograma previamente estabelecido, planejado, vivenciado e compartilhado.
Elas traduziam os conceitos básicos acrescidos de pesquisas e materiais de apoio como
textos para leitura e exercícios de fixação de forma clara e envolvente. Em sua construção
tomou como parâmetro a necessidade do público da região na qual seria oferecido – o
ABC paulista, respeitando possíveis adaptações de acordo as necessidades que surgissem
no percurso (Marchessou, 1996).
Uma vez definidos todos os pré-requisitos e, a fim de se obter os resultados
propostos, os projetos visaram transpor a burocracia para viabilizar a ação e foram
implantados. O primeiro experimento foi com os próprios professores tutores que
estariam envolvidos na prática do curso.
O projeto piloto: técnica e pessoas caminhando juntas
O curso aconteceu em forma de oficina 50% (cinqüenta por cento) do curso
presencial e 50% (cinqüenta por cento) à distância. Através dessa vivência foi trabalhada
a capacitação docente do “professor tutor” que utilizou as mesmas ferramentas e modelo
do curso que seria posteriormente apresentado aos alunos. Os “professores tutores”
utilizaram o sistema TELEDUC – a ferramenta da EAD, na disciplina Didática do
Ensino Básico e Superior. As aulas lhes foram apresentadas virtualmente em cronograma
previamente desenvolvido, eles respondiam os questionamentos, desenvolviam as
atividades propostas e as reflexões de aprendizagem e as compartilhava com o “professor
tutor” no “portfólio” – ferramenta de intermediação do sistema entre o aluno e o
professor. Por meio do sistema também participaram do Fórum de debates com os
colegas e o professor, momento em que todos tiravam dúvidas sobre o sistema virtual
através do mesmo. Posteriormente se encontravam em uma oficina presencial para
discutir as dificuldades encontradas no sistema ou no formato da aula virtual e
apresentavam as possíveis soluções para as dificuldades encontradas.
O exercício da tutoria mostrou que a função exige do profissional um extremo
cuidado e muita atenção, pois se faz necessário o desenvolvimento de determinadas
habilidades para conquista do aluno no ambiente virtual. Essa conquista pode ser por
meio de um diálogo constante que estimule a sua curiosidade para o conhecimento.
Os professores que participaram do projeto piloto também trabalharam na
elaboração das aulas. Após a construção e adaptação das aulas ao sistema virtual eles
partiram para a próxima tarefa não menos desafiadora que as anteriores: colocar o aluno
em contato com o sistema e com a ferramenta, Software e Hardware, e capacitá-lo para
usá-los e dominá-los.
Implantação e acompanhamento – a realização de um sonho: na realidade
um longo caminho
A implantação ocorreu, de fato, em 2005, alicerçado nos anseios de seus
educadores e coerente com projeto. Como planejado, o início da experimentação se deu
com o sistema parcial, ou seja, 50% curso presencial e 50% a distância.
Os cursos pioneiros foram Tecnologia em Gestão de Recursos Humanos,
Tecnologia em Gestão de Marketing de Varejo e Tecnologia em Gestão de Logística.
Dentro desses cursos apenas algumas disciplinas eram virtuais. Todas atendiam às
concepções pedagógicas pré-definidas pela equipe multidisciplinar: professores
especializados e treinados atentos aos objetivos propostos, desenvolvendo uma formação
sintonizada com o contexto socioeconômico e cultural do aluno da região, num processo
de ensino-aprendizagem voltado aos interesses, expectativas e necessidades dos
estudantes de cada curso. A Tecnologia de Informação e Comunicação - TIC escolhida
como ferramenta de suporte de EAD foi o TELEDUC, ambiente em que alunos,
professores, tutores e equipe multidisciplinar se comunicavam utilizando fóruns de
discussão e correio, para receber e enviar atividades - materiais didático-pedagógicos.
Mantinha-se constante o desafio de manter o padrão de qualidade proposto, no
qual as dimensões visuais, técnicas e operacionais estivessem a serviço do conteúdo
específico. A preocupação com a manutenção do equilíbrio entre generalidades e
especificidades dos materiais e a sua relação com o público-alvo. E, a atenção dos
professores tutores e seus coordenadores, ao seu ajuste dos temas apresentados com a
realidade do público que semestralmente se apresentava.
A manutenção não apresentava grandes surpresas porque os professores tutores
criaram e passaram pela experiência do modelo que agora apresentam aos alunos. A
vivência que fizeram no projeto piloto foi com o propósito de facilitar mediação que
agora pratica. Mas, lidar com a expectativa e as possibilidades e limitações de um público
é inédito a cada dia de aula, e nesse espaço o prof tutor é o artista, o diretor de uma peça e
o maestro que dá o tom. Mesmo assim o cotidiano sempre apresenta inúmeras surpresas.
O primeiro contato do aluno com as aulas virtuais
Esse procedimento no primeiro momento de trabalho trouxe à tona uma
significativa dificuldade para os professores tutores. Eles se depararam com um fator
comum ao ser humano: a resistência pelo que é novo e diferente do habitual. Quando
falaram da ferramenta virtual houve uma resistência natural por parte dos alunos, por se
tratar de uma situação diferenciada de ensino-aprendizagem. Essa dificuldade foi vencida
no momento em que os professores os levaram aos laboratórios para conhecerem o
sistema e as aulas virtuais. Nessa vivência eles adquiriram maior afinidade com o
funcionamento e a função do sistema virtual, o que minimizou a indisposição na
interação. Além disso, eles precisavam administrar com cerca de 50 (cinqüenta) alunos
no laboratório, trabalhando simultaneamente em um novo sistema. Como cada um possui
o seu tempo de aprendizado, os professores precisavam esclarecer as mesmas dúvidas em
tempos diferentes, com o objetivo de despertar e alimentar o interesse para que o trabalho
se concretizasse.
Dois problemas precisaram ser gerenciados, a administração de um grupo de
alunos que dominava o sistema e rapidamente concluía o seu trabalho e outro totalmente
analfabeto digital que precisava de todas as formas de ajuda. Para minimizar a
dificuldade do trabalho no laboratório, o professor tutor passou a dispensar a presença
dos alunos que dominam a técnica da informática. Assim, eles compareciam 3 (três) dias
às aulas nas disciplinas presenciais e nos demais eles respondiam aos exercícios pelo
sistema virtual, interagindo com o professor também conectado. Eles respondiam os
exercícios pelo sistema virtual e o professor tutor tirava as suas dúvidas, esclarecendo,
sugerindo atividades extras e reflexões para despertar–lhes o interesse e fixar a
aprendizagem. Para o aluno com dificuldade no domínio do sistema foi desenvolvido um
suporte em ambiente de aulas de informática 100% presenciais, para capacitá-los às aulas
virtuais. As aulas virtuais são utilizadas como suporte para as aulas presenciais, como
material de pesquisa, exercícios de fixação dos conceitos e para ampliar os
conhecimentos dos alunos. As aulas presenciais acontecem no formato de oficinas em
que o professor pode explorar mais o desenvolvimento das competências e habilidades
dos alunos. Neste contexto, a desmistificação do novo ocorreu de modo tranqüilo,
facilitando a continuidade do projeto na Faculdade.
Atualmente há uma preocupação com o acúmulo de trabalho do professor tutor,
pois as aulas virtuais são extensas e com uma grande carga de informações, atividades e
reflexões que os alunos precisam demonstrar nos exercícios que enviam ao professor. Os
docentes envolvidos discutem alternativas para se chegar a um consenso em utilizar essa
ferramenta como um instrumento de avaliação eficiente sem sobrecarregar seu trabalho
como docente.
A partir dessa experiência vislumbra-se na Faculdade Anchieta, um segundo
momento no qual se discute a viabilidade de se adequar o curso superior de gestão nos
moldes da EAD para os cursos reconhecidos pelo Ministério da Educação e cultura, ou
seja, 100% (cem por cento) à distância.
Um sonho a mais para mudar a vida dos cidadãos desse país, para melhor.
Um ano depois
Um ano depois dos cursos consolidados e superando todas as expectativas da
instituição nos sucessivos vestibulares, uma professora começou a investigar, em sigilo,
seis professores que ministravam as mais diversas disciplinas dos cursos de tecnologia
em Gestão de Recursos Humanos, Tecnologia em Marketing e em Logística a respeito do
resultado prático de suas disciplinas na vida dos alunos. Paralelamente, essa docente
iniciou uma pesquisa qualitativa e quantitativa com os alunos dos mesmos cursos.
O grupo A: formado por alunos que entraram na faculdade desempregados tendo
os seus estudos financiados pelos familiares ou pelo PROUNI.
O grupo B: formado por alunos que procuraram a faculdade a pedido das
empresas que tinham como proposta desenvolver o seu quadro de pessoal pelos mais
diversos motivos.
Os alunos do grupo A declararam que ainda no primeiro semestre do curso ingressaram
como estagiários em diversas empresas da região. Os alunos do grupo B admitiram que,
embora tenham entrado na faculdade por imposição da empresa, houve mudança em sua
postura profissional com a aplicação prática das teorias aprendidas na faculdade,
permitindo sua promoção a cargos de maior responsabilidade e melhores salários logo no
início do curso.
Concomitantemente a esses resultados, todos os alunos indistintamente
declararam que suas vidas, tanto pessoal quanto profissionalmente, sofreram grande
modificação a partir do contato com os professores e com as teorias, alegando que os
docentes com exemplos e até conselhos (termo utilizado pelos alunos, que em sua
maioria falou dos professores com carinho e gratidão) modificaram o rumo de suas vidas
para melhor. Alguns alegaram que é outra pessoa após a sua entrada na faculdade.
CONCLUSÃO
Pode-se perceber que a década de 90 constituiu-se num marco histórico de
significativas transformações sócio-econômico-culturais para o Brasil a partir da abertura
para o mercado da educação. Depois das novas medidas do MEC em 1996, houve
crescimento econômico em vários segmentos, mas, principalmente na educação superior
que adquiriu melhores condições de responder à sua ideologia e responsabilidade social,
além de criar possibilidades para a realização do sonho de grande parte dos jovens de
baixa renda.
O pacote de medidas aprovadas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional – LDB (Lei n. 9394/96) promoveu e ampliou o acesso público ao ensino
superior, aumentando a concorrência no mercado acadêmico. Foi delegada credibilidade
aos cursos superiores de curta duração, totalmente à distância – EAD, ou compartilhado
com aulas presenciais voltados para o desenvolvimento de competências e habilidades.
Tais medidas permitiram que o acesso ao ensino superior deixasse de ser privilégio de
uma pequena elite e atingisse uma maior parcela da população.
A partir de então, faculdades e universidades abriram suas portas aos alunos dos
cursos de tecnologia em gestão em dois anos, com status de curso superior.
Esta aliança, educação a distância e curso superior de tecnologia em gestão de curta
duração, adquiriu importância e respeito das empresas e do povo de um modo geral.
Conforme investigação realizada na Faculdade Anchieta, situada na região do
ABC paulista, observou-se que uma significativa parte dos alunos que se matricularam
nesses cursos, ainda desempregados, ampliou sua empregabilidade. Esses dados foram
constatados a partir de entrevistas com dois grupos de alunos que freqüentaram os cursos
de tecnologia de Gestão de Recursos Humanos, e Marketing de Varejo no ano de 2006 e
no primeiro semestre de 2007.
Um grupo foi formado por alunos que entraram na faculdade desempregados
tendo os seus estudos financiados pelos familiares ou pelo PROUNI. O segundo grupo
era constituído por alunos que procuraram a faculdade a pedido das empresas que tinham
como proposta desenvolver o seu quadro de pessoal.Os alunos do primeiro grupo
declararam que ainda no primeiro semestre do curso ingressaram como estagiários em
diversas empresas da região e os alunos do grupo segundo grupo admitiram que, embora
tenham entrado na faculdade por imposição da empresa, houve mudança na sua postura
profissional e que levaram para a empresa a aplicação prática das teorias aprendidas na
faculdade, permitindo sua promoção a cargos de maior responsabilidade e melhores
salários logo no início do curso.
Essa constatação permite inferir que, através dos cursos superiores de curta
duração em tecnologia de gestão parcial ou totalmente a distância, a faculdade não apenas
transferiu parte das suas carteiras para a Internet como também ampliou os horizontes e
possibilitou a formação e a colocação profissional de uma significativa parte da
população menos favorecida da região do ABC paulista.
O que se pode observar como resultado parcial da pesquisa é que os alunos, por
meio desses cursos e perante tais mudanças, puderam vislumbrar o status de possuidores
de um curso superior em duas situações, um grupo realizando o sonho de arrumar um
emprego e outros saindo do lugar que ocupavam na empresa para o sonhado, conforme o
discurso de um dos alunos.
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