EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM GESTÃO: UMA EXPERIÊNCIA BEM SUCEDIDA NO ABC PAULISTA Mônica Maria Martins de Souza – Faculdade Anchieta [email protected] Resumo: A pesquisa realizada em uma faculdade do ABC paulista demonstrou que os cursos superiores de curta duração, parcialmente a distancia, de tecnologia em gestão, liberados pelo MEC em 1996, veio atender a demanda brasileira para que o ensino superior se popularizasse. Assim maior parte da população pode ingressar nesses cursos e ampliar sua empregabilidade. A pesquisa quantitativa e qualitativa demonstra que tanto o grupo que se matriculou desempregado quanto os empregados que entraram para mudar a postura profissional, em curto espaço de tempo teve sua expectativa atendida. Palavras-chave: ensino; superior; tecnologia. INTRODUÇÃO O ensino superior é ideologicamente comprometido em formar cidadãos e tem uma responsabilidade social de desenvolver suas competências e habilidades a fim de que estes possam criar soluções para os problemas do seu entorno. Ou seja, profissionais tecnológica e culturalmente capazes de propiciar a construção de uma sociedade independente e auto suficiente. Essa responsabilidade social, depois de 1996, ganhou fortes aliados com a parceria da educação a distância - EAD, atrelada ao curso superior de tecnologia em gestão de curta duração. Com essa parceria a educação superior conseguiu atingir um número muito maior de pessoas de diversas classes sociais e passou a cumprir o seu papel com maior eficiência e eficácia. Há muito se falava a respeito da importância da educação superior para o desenvolvimento social e econômico no Brasil e da necessidade de aumentar o estímulo à criação cultural do seu povo, mas, apenas uma pequena elite acessava essa informação. A década de 90 constituiu-se num momento histórico de significativas transformações sócio-econômico-culturais. A partir do momento em que o país abriu as portas para o mercado internacional, ele proporcionou oportunidades de crescimento e livre concorrência e, como conseqüência, a melhoria para muitos segmentos econômicos incluindo o da Educação. Para o ensino superior brasileiro esse foi um grande marco, pois, a partir dessa decisão, foram superadas as barreiras para novas oportunidades no ambiente educacional e começou-se uma disputa de mercado nesse segmento que passou a ser considerado um negócio lucrativo. Nesse momento a educação superior brasileira venceu a fronteira entre o espaço público e o espaço privado, sofrendo significativas modificações e sucessivas adaptações. Economicamente, ela contribui direta e indiretamente para a produção de riquezas por meio da geração de emprego e de renda. É um setor econômico que movimenta aproximadamente 9% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro (CUNHA, 2000). Do seu surgimento até os anos 60 a presença da educação superior brasileira se restringiu ao âmbito público, principalmente em função do processo de federalização, do incentivo dado às universidades federais no regime militar, inclusive no nível da pósgraduação. A partir de 1960, iniciou-se um movimento em favor de criação e manutenção de IES privadas, tendo como principal articulador o Conselho Federal de Educação CFE. Este, constituído em sua maioria por dirigentes de IES privadas, pôs fim ao processo de federalização e articulou o afrouxamento das normas de criação de cursos, a ampliação de vagas e concessão do status universitário às instituições privadas. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB (Lei n. 9394/96) promoveu a ampliação do acesso público ao ensino superior, aumentando a concorrência num mercado até então adormecido e carente de oportunidades. Com essa medida, as instituições, universidades, centros universitários, institutos, faculdades integradas ou isoladas tornaram o ensino superior mais acessível em vários sentidos, especialmente no que se refere ao acesso e ao preço. Essas medidas permitiram às novas instituições, desobrigadas da prática de ensino-pesquisa-extensão de disporem de professores em tempo integral, oferecerem o ensino superior a preços mais viáveis para a maioria da população (QUEIROZ, 2003). Nesse pacote de ofertas delegou-se credibilidade aos cursos superiores nos moldes da educação à distância – EAD, e cursos superiores de tecnologia em gestão – cursos de curta duração. Esses cursos podem ser ministrados totalmente à distância, ou compostos por um percentual de aulas presenciais e outro percentual à distância. Com essas medidas as instituições de ensino superior, aproveitando a abrangência do ensino, passaram a disponibilizar formação específica e educação geral por intermédio da Educação à Distância – EAD. Cursos voltados para o desenvolvimento de competências e habilidades e formação diversificada como é o caso dos cursos de curta duração (curso de tecnologia em gestão em dois anos, com status de curso superior). Esses cursos já são praticados em diversas instituições de ensino superior de São Paulo e o seu resultado já rende lucros para o mercado de recursos humanos, para as faculdades que os adotaram e às pessoas que os experimentaram. Infelizmente, no Brasil, ainda há um longo caminho por percorrer. O número de educadores e escolas brasileiras que investem no assunto é ainda muito pequeno comparado com a extensão territorial e à falta de acesso à tecnologia de um grande contingente da população. Em contrapartida, o número de alunos que sonham com essa possibilidade parece ser grande. Em muitas regiões as escolas brasileiras nem começaram a desbravar o terreno da virtualidade, mas o primeiro passo já foi dado. A EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA E SUA APLICAÇÃO NOS CURSOS DE TECNOLOGIA NO ABC PAULISTA: APROXIMANDO TEORIA E PRÁTICA No Brasil, as diretrizes reformuladas em 1996 pelo MEC – Ministério da Educação e Cultura, delinearam novos rumos para a educação no país e definiram as direções de esforços e recursos. Essas práticas abriram caminho para as Instituições de Ensino Superior a colocarem em prática o ensino virtual compartilhado com o presencial. Atualmente, quando se fala em ensino superior a distância, ou se faz referência ao ensino via Internet, não se disserta acerca de um novo ensino, mas de um ambiente de interatividade com novas ferramentas. A faculdade, ao transferir as suas carteiras para a Internet, propicia à sala de aula uma nova lousa com as características da terra vista do espaço. Só que, nela, o aluno acessa todo o conhecimento humano por intermédio de um toque. O aluno, munido apenas de um micro e uma conexão com a Internet, é levado às próprias fontes do conhecimento. Se o assunto for “animais”, ele poderá visitar um zoológico. Em uma aula de História ele será transportado para um museu bem na tela de seu computador. Em meio a uma aula de Física, ele poderá participar de um debate online com físicos ou acessar os últimos trabalhos publicados pelos maiores cientistas ou acessar o conteúdo dos livros disponíveis nas bibliotecas públicas virtuais. Assim, a universidade passa a fazer jus ao nome que recebeu no passado, abrangendo um conhecimento de amplitude universal” (FILHO, 1998). Passou o tempo em que o sistema virtual atingia apenas autodidatas sonhadores ou pessoas impossibilitadas de acessar as informações por uma universidade. Hoje o sistema disponibiliza para os mais diversos públicos acesso ao ensino superior virtual. Essa nova realidade, que traduzia antigos projetos educacionais e anseios de muitos educadores, começou a ser praticada, de fato e de direito, a partir de 1996 por diversas Faculdades que iniciaram a experiência dos cursos tecnológicos parcialmente presencial e parcialmente a distância. O sistema foi construído com foco na missão das universidades e em ações docentes resultantes de um trabalho reflexivo e participativo que apostava na clareza do percurso traçado como seu ponto forte. Com a possibilita de se educar maior contingente em menor tempo e com menor custo, os cursos de tecnologia em gestão, associados à educação à distância – sistema antigo - passou a contar com o auxilio dos mais avançados recursos tecnológicos. Ela ganhou uma nova face, tornou-se mais competitiva e passou a ser praticada em diversas faculdades e universidades de São Paulo. Assim, de roupa nova, a educação a distância tornou-se uma estratégia educacional e marcou o início de uma nova história em muitas faculdades particulares - a educação virtual: sistema que integra a inovação pedagógica e tecnológica (Filho, 1998). Nessa modalidade educacional a mediação didático-pedagógica - os processos de ensino e aprendizagem - ocorrem com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, entre estudantes e professores que desenvolvem atividades educativas em lugares e/ou tempos diversos” (Art. 80 da Lei 9394/96 -LDB). A sua prática, atualmente, tem recebido das universidades consideração especial, elas formaram um corpo docente especializado para atuar no sistema. É bem verdade que o professor, não raro, trabalha dobrado porque precisa corrigir todos os trabalhos e dar um feedback a cada aluno, individualmente, seja por correspondência, vídeo-conferência, ou internet (Marchessou, 1996). A metodologia se tornou popular graças ao grande alcance da televisão que facilitou o acesso do público aos telecursos do segundo grau, no ar há mais de 20 anos. O estilo, teatralizado e novelesco, das aulas agradou aos telespectadores e, com isso, preparou o terreno para a aceitação das tecnologias atuais - a educação virtual compartilhada (Balboa, 1996). A PARCERIA - EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA E OS CURSOS SUPERIORES DE TECNOLOGIA EM GESTÃO: O DESENVOLVIMENTO DO PROCESSO NA FACULDADE ANCHIETA Dentre as diversas universidades e faculdades que iniciaram os projetos experimentais de tecnologia a partir de 1996 destaca-se a Faculdade Anchieta, objeto desta pesquisa. O desenvolvimento de seu projeto mereceu delicada atenção com a compreensão do momento histórico, dos aspectos econômicos, sociais e culturais que o nortearam. Conscientes que precisariam de uma equipe envolvida e comprometida na sua construção, decidiram fazer um projeto piloto. A clareza do percurso a construir foi o foco da instituição que, ao demarcar a direção do projeto, delineou esforços, recursos, selecionou e mobilizou os docentes que participariam da sua construção. O primeiro passo foi efetuar uma pesquisa para investigar a necessidade e a aceitação do público acerca de cursos nesses moldes. Consideraram a importância da adaptação à diversidade regional e o respeito à cultura do local (ANDRADE, 2004). Os questionamentos levaram em conta a faixa etária, habilidades necessárias para as empresas locais e as aspirações e experiências e necessidades do público. A análise das respostas orientou a equipe no desenho das prospecções dos cursos. Neles o conhecimento das teorias da aprendizagem, da teoria da comunicação, da psicologia, do desenvolvimento social foram formulados e reformulados, ajustando projeto, público e cursos. De posse dessas informações, definiu-se a finalidade do projeto, os procedimentos a serem seguidos e as ferramentas a serem utilizadas. Consideraram a EAD e a sua legislação, o AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem, as TIC’s – Tecnologias de Informação e a Comunicação bem como o modelo da aula virtual. Estavam cientes de que, na construção das aulas, teriam que considerar o público ausente, mesmo que parcialmente. Esse fator mereceu grande atenção da equipe, pois a adaptação do público ao modelo da aula envolveria não apenas o domínio da técnica virtual e a adaptação do aluno ao sistema, como também a sua satisfação com o processo como um todo. Esse procedimento envolveria não apenas as aulas virtuais, mas as presenciais. Assim, iniciouse o “projeto Anchieta: a educação à distância e os cursos de tecnologia: uma parceria socializando o conhecimento respeitando a diversidade”. Grupo de trabalho: uma parceria socializando o conhecimento e respeitando a diversidade O trabalho iniciou selecionando-se para a tarefa um grupo de profissionais e docentes criteriosamente habilitados de dentro e fora do seu ambiente. Eram representantes tanto da área da Educação, Direito, Administração, quanto da Tecnologia. Uma consultoria educacional foi designada para preparar um grupo multidisciplinar composto por professores tutores, mediadores e Web-designers. Eles se reuniam sistematicamente para refletir, definir e criar os parâmetros iniciais do modelo de educação já praticado por outras universidades; o curso superior de tecnologia em gestão, 50% curso presencial e 50% à distância. Um curso de dois anos que permitiria ao aluno freqüentar a sala de aula apenas a metade da semana, fazendo as demais atividades em casa e enviando os trabalhos e as dúvidas ao professor, que responde virtualmente. A equipe destinada especialmente a compreender, preparar e implementar a educação à distância contou com o apoio de profissionais liberais especializados em diferentes áreas relacionadas à produção e difusão da EAD. Eram consultores externos que assessoravam os “docentes tutores” - os responsáveis pela construção das aulas virtuais e condução do aluno no processo de aprendizagem no novo sistema. Esses professores escolhidos para o estudo participaram de seminários e congressos nacionais e internacionais porque seriam os multiplicadores do sistema. Priorizou-se o papel do educador no sistema porque nele o segredo não era criar o conhecimento, mas levar seu aluno pela mão pelo caminho do saber (Flusser, 1998), indicando-lhe onde parar e como “cavar para desvelar o tesouro” que irá ajudá-lo em seu desenvolvimento intelectual. Assim, nesse sistema, o professor tutor é a figura essencial que indica ao aluno o caminho das pedras - as trilhas que ele deve seguir para adquirir o conhecimento (Minarelli, 2000). Como o músico que depende do maestro, nesse sistema, o aluno depende da mediação do professor. Ele é o interlocutor atento às diferenças dos alunos, pessoas que constroem a partir dos seus experimentos vividos, ensaios e erros, socializando a técnicas e tecnologia da forma que dominam. O desafio da persuasão na produção do curso Os professores tiveram um grande desafio que envolveu conexões multidisciplinares, desenvolver nas disciplinas específicas, um material; adequado, persuasivo e criativo para capturar a atenção dos alunos. Produzir um material capaz de levar o curso a cumprir o seu objetivo - atingir o maior número de pessoas - e atender as múltiplas propostas do ensino aprendizagem respeitando a diversidade. Procuraram não perder o foco sobre a importância do material escolhido. Ele deveria ser de tal forma interessante que substituísse a presença física do professor ou se aproximasse o máximo disso. Consideraram que ele deveria ser interessante para atrair a atenção do aluno, despertando-lhe a curiosidade e o interesse, como o professor procura fazer no início e no decorrer das aulas presenciais. Assim, planejaram aulas que dialogavam ou suscitavam o diálogo interior mediante perguntas que obrigavam o aluno a reconsiderar o assunto estudado, promovendo um permanente exercício de reflexão e aprendizagem. O estilo de comunicação desenvolvido procurou adequação ao público alvo previamente definido pela analise da pesquisa. O material didático foi criteriosamente selecionado desde a escolha do tipo da letra que deveria ser clara até o cuidado com a elaboração e formatação do texto-base que deveria considerar as características da clientela. Foi observada a coerência com a linha pedagógica do curso atendendo os objetivos - construção e socialização de conhecimentos, além do resgate da teoria-prática. A estrutura do módulo cuidou atentamente da introdução, divisão do conteúdo em blocos de estudos, atividades de fixação, reflexão, auto-avaliação e avaliação à distância. O vocabulário e o tipo de linguagem foram definidos pela equipe que concebeu o curso, considerando o público ao qual o curso é destinado e não aos elaboradores dos seus conteúdos. Por esse motivo, os profissionais designados para a elaboração e organização dos módulos foram especialistas que dominavam o conteúdo a ser trabalhado. Eles tiveram acesso a todas as informações acerca do curso, das exigências do ensino individualizado e das características da clientela. Consideraram a identidade dos princípios norteadores do curso, a sua adequação à realidade do público alvo respeitando as suas diferenças socioculturais, econômicas e regionais. Levaram em conta que, mesmo considerando todos esses pontos, não existe uma receita mágica para se elaborar bons materiais que atenda às diversidades sem restrições e procuraram na elaboração a proximidade do texto com a presença do professor na sala de aula. Essa proximidade precisa ser tal que, ao entrar em contato com o material, o aluno tenha a impressão de estar ouvindo o professor, ou seja, nas aulas virtuais o texto precisa transportar o aluno para a sala de aula presencial (ANDRADE, 2004). As informações contidas na introdução do material reúnem mensagens incentivadoras e orientadoras do estudo com o objetivo de esclarecer o aluno para a aprendizagem e não confundi-lo. Os propósitos gerais e específicos foram elaborados com clareza. O desenvolvimento do tema foi organizado em forma de unidades e em blocos de estudo para levar a disciplina do curso ao aluno de forma metódica. A linguagem procurou ser clara e precisa, o menos formal possível, para que o aluno se sentisse como se estivesse conversando com o professor na sala se aula. O texto foi elaborado com o propósito de ser explicativo e apresentando ilustrações, gráficos, desenhos, fotos e tabelas esclarecedoras. Contaram com os recursos da computação gráfica e com os recursos tipográficos para atingir um nível satisfatório de clareza e persuasão a fim de contribuir com a aprendizagem do aluno. Para os exercícios ao final de cada aula, atividade fundamental para a fixação dos conceitos, os professores procuraram leituras complementares coerentes enriquecendo e aprofundando o conteúdo Os exercícios de auto-avaliação foram acompanhados do gabarito para que o aluno pudesse avaliar o seu progresso e verificar a sua aprendizagem e desempenho. Permitindo-o dessa forma caminhar avançando ou recuando, no seu percurso. Assim, as aulas foram desenhadas procurando atender a proposta dos cursos EAD considerando todos os objetivos, as mídias educativas e de comunicação, a concepção e execução dos materiais didáticos, a metodologia de ensino, a dinâmica do atendimento tutorial, as ações ligadas à arquitetura das aulas na web, e a definição de estratégias de redação e estética do AVA (ambiente virtual de aprendizagem). Foram elaboradas a partir de um cronograma previamente estabelecido, planejado, vivenciado e compartilhado. Elas traduziam os conceitos básicos acrescidos de pesquisas e materiais de apoio como textos para leitura e exercícios de fixação de forma clara e envolvente. Em sua construção tomou como parâmetro a necessidade do público da região na qual seria oferecido – o ABC paulista, respeitando possíveis adaptações de acordo as necessidades que surgissem no percurso (Marchessou, 1996). Uma vez definidos todos os pré-requisitos e, a fim de se obter os resultados propostos, os projetos visaram transpor a burocracia para viabilizar a ação e foram implantados. O primeiro experimento foi com os próprios professores tutores que estariam envolvidos na prática do curso. O projeto piloto: técnica e pessoas caminhando juntas O curso aconteceu em forma de oficina 50% (cinqüenta por cento) do curso presencial e 50% (cinqüenta por cento) à distância. Através dessa vivência foi trabalhada a capacitação docente do “professor tutor” que utilizou as mesmas ferramentas e modelo do curso que seria posteriormente apresentado aos alunos. Os “professores tutores” utilizaram o sistema TELEDUC – a ferramenta da EAD, na disciplina Didática do Ensino Básico e Superior. As aulas lhes foram apresentadas virtualmente em cronograma previamente desenvolvido, eles respondiam os questionamentos, desenvolviam as atividades propostas e as reflexões de aprendizagem e as compartilhava com o “professor tutor” no “portfólio” – ferramenta de intermediação do sistema entre o aluno e o professor. Por meio do sistema também participaram do Fórum de debates com os colegas e o professor, momento em que todos tiravam dúvidas sobre o sistema virtual através do mesmo. Posteriormente se encontravam em uma oficina presencial para discutir as dificuldades encontradas no sistema ou no formato da aula virtual e apresentavam as possíveis soluções para as dificuldades encontradas. O exercício da tutoria mostrou que a função exige do profissional um extremo cuidado e muita atenção, pois se faz necessário o desenvolvimento de determinadas habilidades para conquista do aluno no ambiente virtual. Essa conquista pode ser por meio de um diálogo constante que estimule a sua curiosidade para o conhecimento. Os professores que participaram do projeto piloto também trabalharam na elaboração das aulas. Após a construção e adaptação das aulas ao sistema virtual eles partiram para a próxima tarefa não menos desafiadora que as anteriores: colocar o aluno em contato com o sistema e com a ferramenta, Software e Hardware, e capacitá-lo para usá-los e dominá-los. Implantação e acompanhamento – a realização de um sonho: na realidade um longo caminho A implantação ocorreu, de fato, em 2005, alicerçado nos anseios de seus educadores e coerente com projeto. Como planejado, o início da experimentação se deu com o sistema parcial, ou seja, 50% curso presencial e 50% a distância. Os cursos pioneiros foram Tecnologia em Gestão de Recursos Humanos, Tecnologia em Gestão de Marketing de Varejo e Tecnologia em Gestão de Logística. Dentro desses cursos apenas algumas disciplinas eram virtuais. Todas atendiam às concepções pedagógicas pré-definidas pela equipe multidisciplinar: professores especializados e treinados atentos aos objetivos propostos, desenvolvendo uma formação sintonizada com o contexto socioeconômico e cultural do aluno da região, num processo de ensino-aprendizagem voltado aos interesses, expectativas e necessidades dos estudantes de cada curso. A Tecnologia de Informação e Comunicação - TIC escolhida como ferramenta de suporte de EAD foi o TELEDUC, ambiente em que alunos, professores, tutores e equipe multidisciplinar se comunicavam utilizando fóruns de discussão e correio, para receber e enviar atividades - materiais didático-pedagógicos. Mantinha-se constante o desafio de manter o padrão de qualidade proposto, no qual as dimensões visuais, técnicas e operacionais estivessem a serviço do conteúdo específico. A preocupação com a manutenção do equilíbrio entre generalidades e especificidades dos materiais e a sua relação com o público-alvo. E, a atenção dos professores tutores e seus coordenadores, ao seu ajuste dos temas apresentados com a realidade do público que semestralmente se apresentava. A manutenção não apresentava grandes surpresas porque os professores tutores criaram e passaram pela experiência do modelo que agora apresentam aos alunos. A vivência que fizeram no projeto piloto foi com o propósito de facilitar mediação que agora pratica. Mas, lidar com a expectativa e as possibilidades e limitações de um público é inédito a cada dia de aula, e nesse espaço o prof tutor é o artista, o diretor de uma peça e o maestro que dá o tom. Mesmo assim o cotidiano sempre apresenta inúmeras surpresas. O primeiro contato do aluno com as aulas virtuais Esse procedimento no primeiro momento de trabalho trouxe à tona uma significativa dificuldade para os professores tutores. Eles se depararam com um fator comum ao ser humano: a resistência pelo que é novo e diferente do habitual. Quando falaram da ferramenta virtual houve uma resistência natural por parte dos alunos, por se tratar de uma situação diferenciada de ensino-aprendizagem. Essa dificuldade foi vencida no momento em que os professores os levaram aos laboratórios para conhecerem o sistema e as aulas virtuais. Nessa vivência eles adquiriram maior afinidade com o funcionamento e a função do sistema virtual, o que minimizou a indisposição na interação. Além disso, eles precisavam administrar com cerca de 50 (cinqüenta) alunos no laboratório, trabalhando simultaneamente em um novo sistema. Como cada um possui o seu tempo de aprendizado, os professores precisavam esclarecer as mesmas dúvidas em tempos diferentes, com o objetivo de despertar e alimentar o interesse para que o trabalho se concretizasse. Dois problemas precisaram ser gerenciados, a administração de um grupo de alunos que dominava o sistema e rapidamente concluía o seu trabalho e outro totalmente analfabeto digital que precisava de todas as formas de ajuda. Para minimizar a dificuldade do trabalho no laboratório, o professor tutor passou a dispensar a presença dos alunos que dominam a técnica da informática. Assim, eles compareciam 3 (três) dias às aulas nas disciplinas presenciais e nos demais eles respondiam aos exercícios pelo sistema virtual, interagindo com o professor também conectado. Eles respondiam os exercícios pelo sistema virtual e o professor tutor tirava as suas dúvidas, esclarecendo, sugerindo atividades extras e reflexões para despertar–lhes o interesse e fixar a aprendizagem. Para o aluno com dificuldade no domínio do sistema foi desenvolvido um suporte em ambiente de aulas de informática 100% presenciais, para capacitá-los às aulas virtuais. As aulas virtuais são utilizadas como suporte para as aulas presenciais, como material de pesquisa, exercícios de fixação dos conceitos e para ampliar os conhecimentos dos alunos. As aulas presenciais acontecem no formato de oficinas em que o professor pode explorar mais o desenvolvimento das competências e habilidades dos alunos. Neste contexto, a desmistificação do novo ocorreu de modo tranqüilo, facilitando a continuidade do projeto na Faculdade. Atualmente há uma preocupação com o acúmulo de trabalho do professor tutor, pois as aulas virtuais são extensas e com uma grande carga de informações, atividades e reflexões que os alunos precisam demonstrar nos exercícios que enviam ao professor. Os docentes envolvidos discutem alternativas para se chegar a um consenso em utilizar essa ferramenta como um instrumento de avaliação eficiente sem sobrecarregar seu trabalho como docente. A partir dessa experiência vislumbra-se na Faculdade Anchieta, um segundo momento no qual se discute a viabilidade de se adequar o curso superior de gestão nos moldes da EAD para os cursos reconhecidos pelo Ministério da Educação e cultura, ou seja, 100% (cem por cento) à distância. Um sonho a mais para mudar a vida dos cidadãos desse país, para melhor. Um ano depois Um ano depois dos cursos consolidados e superando todas as expectativas da instituição nos sucessivos vestibulares, uma professora começou a investigar, em sigilo, seis professores que ministravam as mais diversas disciplinas dos cursos de tecnologia em Gestão de Recursos Humanos, Tecnologia em Marketing e em Logística a respeito do resultado prático de suas disciplinas na vida dos alunos. Paralelamente, essa docente iniciou uma pesquisa qualitativa e quantitativa com os alunos dos mesmos cursos. O grupo A: formado por alunos que entraram na faculdade desempregados tendo os seus estudos financiados pelos familiares ou pelo PROUNI. O grupo B: formado por alunos que procuraram a faculdade a pedido das empresas que tinham como proposta desenvolver o seu quadro de pessoal pelos mais diversos motivos. Os alunos do grupo A declararam que ainda no primeiro semestre do curso ingressaram como estagiários em diversas empresas da região. Os alunos do grupo B admitiram que, embora tenham entrado na faculdade por imposição da empresa, houve mudança em sua postura profissional com a aplicação prática das teorias aprendidas na faculdade, permitindo sua promoção a cargos de maior responsabilidade e melhores salários logo no início do curso. Concomitantemente a esses resultados, todos os alunos indistintamente declararam que suas vidas, tanto pessoal quanto profissionalmente, sofreram grande modificação a partir do contato com os professores e com as teorias, alegando que os docentes com exemplos e até conselhos (termo utilizado pelos alunos, que em sua maioria falou dos professores com carinho e gratidão) modificaram o rumo de suas vidas para melhor. Alguns alegaram que é outra pessoa após a sua entrada na faculdade. CONCLUSÃO Pode-se perceber que a década de 90 constituiu-se num marco histórico de significativas transformações sócio-econômico-culturais para o Brasil a partir da abertura para o mercado da educação. Depois das novas medidas do MEC em 1996, houve crescimento econômico em vários segmentos, mas, principalmente na educação superior que adquiriu melhores condições de responder à sua ideologia e responsabilidade social, além de criar possibilidades para a realização do sonho de grande parte dos jovens de baixa renda. O pacote de medidas aprovadas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB (Lei n. 9394/96) promoveu e ampliou o acesso público ao ensino superior, aumentando a concorrência no mercado acadêmico. Foi delegada credibilidade aos cursos superiores de curta duração, totalmente à distância – EAD, ou compartilhado com aulas presenciais voltados para o desenvolvimento de competências e habilidades. Tais medidas permitiram que o acesso ao ensino superior deixasse de ser privilégio de uma pequena elite e atingisse uma maior parcela da população. A partir de então, faculdades e universidades abriram suas portas aos alunos dos cursos de tecnologia em gestão em dois anos, com status de curso superior. Esta aliança, educação a distância e curso superior de tecnologia em gestão de curta duração, adquiriu importância e respeito das empresas e do povo de um modo geral. Conforme investigação realizada na Faculdade Anchieta, situada na região do ABC paulista, observou-se que uma significativa parte dos alunos que se matricularam nesses cursos, ainda desempregados, ampliou sua empregabilidade. Esses dados foram constatados a partir de entrevistas com dois grupos de alunos que freqüentaram os cursos de tecnologia de Gestão de Recursos Humanos, e Marketing de Varejo no ano de 2006 e no primeiro semestre de 2007. Um grupo foi formado por alunos que entraram na faculdade desempregados tendo os seus estudos financiados pelos familiares ou pelo PROUNI. O segundo grupo era constituído por alunos que procuraram a faculdade a pedido das empresas que tinham como proposta desenvolver o seu quadro de pessoal.Os alunos do primeiro grupo declararam que ainda no primeiro semestre do curso ingressaram como estagiários em diversas empresas da região e os alunos do grupo segundo grupo admitiram que, embora tenham entrado na faculdade por imposição da empresa, houve mudança na sua postura profissional e que levaram para a empresa a aplicação prática das teorias aprendidas na faculdade, permitindo sua promoção a cargos de maior responsabilidade e melhores salários logo no início do curso. Essa constatação permite inferir que, através dos cursos superiores de curta duração em tecnologia de gestão parcial ou totalmente a distância, a faculdade não apenas transferiu parte das suas carteiras para a Internet como também ampliou os horizontes e possibilitou a formação e a colocação profissional de uma significativa parte da população menos favorecida da região do ABC paulista. O que se pode observar como resultado parcial da pesquisa é que os alunos, por meio desses cursos e perante tais mudanças, puderam vislumbrar o status de possuidores de um curso superior em duas situações, um grupo realizando o sonho de arrumar um emprego e outros saindo do lugar que ocupavam na empresa para o sonhado, conforme o discurso de um dos alunos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÀFICAS ALVES, J. R. M. Educação a Distância e as Novas Tecnologias de Informação e Aprendizagem. Revista IPEP, v. 6, p. 9-10, 2006. ANDRADE, Arnon Alberto Mascarenhas. 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