Nota de Aula 02 - Estilos de Aprendizagem

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Disciplina: Aprendizado Organizacional - Nota de Aula 02
Líder da Disciplina: Evandro Prestes Guerreiro
Professora: Rosely Gaeta
ESTILOS DE APRENDIZAGEM
Por: Evandro Prestes Guerreiro
Continuando com nosso estudo, apresentamos que “a problematização, tanto como a percepção da
realidade, é condição básica para a aprendizagem espontânea; é, porém, apenas parte de uma
estrutura de constituição do ser no processo educacional. Para aprender a problematizar os
fatos e perceber criticamente a realidade, o indivíduo precisa de liberdade de ação e autonomia
para tomar decisões[1]. Porém, liberdade na aprendizagem significa estilo e, portanto, trata-se
do método que alguém usa para adquirir conhecimentos.
Estilo é o modo como a pessoa se comporta no processo de aprendizagem, assim, os estilos de
aprendizagem auxiliam na explicação das diferentes maneiras que uma pessoa aprende sobre um
determinado fenômeno de natureza desconhecida. Enquanto alguns usam uma lógica formal de
raciocínio, outros usam uma visão sistêmica e dialética para aprender, isto significa dizer, que
existem múltiplos estilos de se aproximar do desconhecido e decodificar sua estrutura. Na
atualidade existem sete estilos de aprendizagem[2] já identificados pela ciência cognitiva:
O primeiro desses estilos é o Físico, em que as pessoas acabam usando a expressão corporal
como recurso de aprendizagem passando a se comunicar de forma gestual com o mundo. No
segundo estilo, o Interpessoal, o indivíduo se revela de forma extrovertida e busca conhecer seu
ambiente se comunicando abertamente pelos meios que o deixam mais confortável na
aprendizagem. O terceiro estilo é oposto ao anterior e a pessoa se revela de forma introspectiva
e sua aprendizagem é silenciosa, sem alarde. Este é o estilo Introspectivo.
No quarto estilo, denominado Lingüístico, a pessoa usa com fluência a palavra. A verbalização é
sua ferramenta de apreensão do conhecimento e incorporação dos mecanismos explicativos do
mundo. Diferente da verbalização, as pessoas podem também, usar o raciocínio lógico e o
pensamento matemático para entender o desconhecido, este estilo é denominado como
Matemático.
Por outro lado, a criatividade e a sensibilidade para usar o sentido sinestésico vão caracterizar o
estilo Musical, em que as pessoas se interessam mais por sons e músicas. Finalmente, o estilo
Visual, sem sombra de dúvidas é o mais conhecido entre os ocidentais na modernidade, uma vez
que estas exploram a realidade em seu contexto visual.
Estes estilos de aprendizagem revelam o potencial humano para decifrar o desconhecido.
Reforçando esta teoria dos estilos, Howard Gardner[3] pesquisando sobre a inteligência humana,
anunciou que existe uma inteligência múltipla[4] que está sendo aos poucos revelada pela ciência
e que pode ser definida como: "um potencial biopsicológico para processar informações que pode
ser ativado num cenário cultural para solucionar problemas ou criar produtos que sejam
valorizados numa cultura". Precebe-se com isto, que as pessoas estão no mundo e interagem
entre si social, psicológico e culturalmente, promovendo mudanças em si mesmas e no ambiente
em que vivem, a partir de suas necessidades de solucionar problemas de diversas ordens e
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natureza. Partindo do referido estudo de Gardner, as inteligências múltiplas são definidas até o
momento em oito:
1)
Lógico-matemática: refere-se à capacidade para identificar, analisar e resolver
problemas, operações matemáticas e questões científicas. Os testes de Q.I. são comumente
usados para medir a qualidade lógico-matemática das pessoas e tal inteligência é mais explícita e
desenvolvida em matemáticos, engenheiros e cientistas, por exemplo;
2)
Lingüística: esta inteligência é qualificada a partir da maior disponibilidade e preparo
para usar a língua falada e escrita, demonstrando fluência na articulação das idéias e descrição
dos fenômenos, podendo ser também caracterizada por testes de Q.I., sendo melhor
identificada em oradores, escritores e poetas;
3)
Espacial: as pessoas que possuem esta inteligência mais evidente conseguem
compreender o ambiente e o espaço físico de forma tridimensional, com grande domínio e
detalhamento do mundo visual, inclusive, com projeções mentais a priorísticas do espaço .
Arquitetos, desenhistas e escultores, por exemplo, possuem maior desenvolvimento de tal
inteligência;
4)
Musical: a linguagem musical é dominada com capacidade para traduzir o mundo, a
partir da lógica harmoniosa de símbolos que se transformam em sons confortantes para a
sensibilidade auditiva das pessoas, usando a voz, a habilidade para tocar, compor e apreciar
padrões musicais, como é possível se deslumbrar com músicos, compositores e dançarinos;
5)
Físico-sinestésica: trata-se de uma inteligência desenvolvida de forma integrada com a
sensibilidade para se comunicar pelo movimento físico do corpo, a partir da vocação e do talento
individual para a dança, teatro e os esportes, conforme se observa em mímicos, dançarinos e
desportistas em geral, por exemplo;
6)
Intrapessoal: o auto-conhecimento e a percepção de estar no mundo, compreendendo
os meandros que envolvem o posicionamento da pessoa em um determinado contexto e ambiente,
possibilita o desenvolvimento da capacidade de empatia e sinergia para conhecer e traduzir de
forma estruturada os fenômenos de ordem pessoal do semelhente, como é forte nas narrativas,
descrições e explicações do desconhecido, pelos escritores, psicoterapeutas e conselheiros;
7)
Interpessoal: esta inteligência é muito comum na relação de aprendizagem na
educação, uma vez que exige a habilidade para entender as intenções, motivações e desejos dos
outros, traduzindo-as a partir de múltiplos significados e recursos didáticos para sua plena
compreensão pelo interlocutor. Os políticos, religiosos e professores são exemplos dessa
inteligência desenvolvida e;
8)
Naturalista: o desenvolvimento da sensibilidade para compreender e organizar os
fenômenos e padrões da natureza, estruturando as múltiplas condições de explicação,
classificação, catalogação, apresentação e comunicação da biodiversidade da fauna e flora da
natureza, a partir de sua própria lógica natural, harmonizando dimensões, muita das vezes no
olhar do leigo, consideradas opostas. Os profissionais que lidam com a ecologia, como as
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características dos paisagistas, arquitetos e mateiros (aquele que coleta material botânico para
a formação de um herbário), possuem esta inteligência mais explicitamente perceptível.
Além destas oito inteligências classificadas no estudo de Gardner, existem indicativos de que na
evolução da pesquisa, uma nova capacidade humana de desenvolvimento lógico seja revelada e
classificada em suas características como inteligência existencial ou espiritual, conforme o
próprio autor sinaliza.
Evidentemente que as pessoas em geral podem desenvolver tais inteligências[5], para tanto,
precisam de método, dedicação, disciplina e técnica. Estas condições objetivas de aprendizagem
são encontradas no preparo profissional do talento humano, como também, prefere Gardner
alertar para o fato de que as inteligências são potenciais humanos que podem se desenvolver com
apoio de orientações pedagógicas e referência familiar, dependendo das condições de
permissividade criativa, psicológica e sócio-econômica, o que está sujeita a própria cultura
situacional do indivíduo em situação de aprendizagem. Na figura a seguir, temos os hemisférios
cerebrais e suas aptidões.
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Fonte: www.geranegocio.com.br/imagem/peqneg/mensag2.gif (acesso em 15/05/2009)
A aprendizagem neste contexto das múltiplas inteligências humanas não se define
conceitualmente de forma monotemática, mas, está associada à dinâmica da mudança e da
própria inteligência emocional ou como prefere analisar Daniel Goleman, fazendo menção ao
estado de “fluxo” que ”surge em zonas nas quais uma atividade desafia as pessoas a exercer o
mais pleno de suas capacidades, à medida que suas aptidões aumentam (...). O fluxo é um prérequisito para a maestria num ofício, profissão ou arte (...)”[6]. Quer dizer, prossegue o autor, “o
fluxo sugere que a conquista de maestria em qualquer ofício ou corpo de conhecimento deve se
dar, idealmente, de uma maneira natural, à medida que a criança é encaminhada para as áreas que
a atraem espontaneamente – que, em essência, ela ama”[7].
Para aprender é preciso que o indivíduo se sinta desafiado em suas capacidades lógicas e esteja
motivado para buscar soluções inovadoras, o que significa atingir um estado de prazer em sua
busca pelo novo. O processo de aprendizagem é mais complexo do que possa parecer e muitas
teorias foram criadas com o objetivo de compreender e explicar como as pessoas aprendem. Para
a psicologia, existem dois grandes grupos de teorias de aprendizagem:
O primeiro grupo concentra as teorias do condicionamento em que a aprendizagem é definida
pelas conseqüências comportamentais motivadas pelas condições ambientais facilitadoras ou
dificultadoras da aprendizagem, a partir da estrutura estímulo-resposta.
No segundo grupo, as teorias cognitivas estabelecem que a aprendizagem ocorre, a partir da
relação entre o indivíduo e o mundo em sua volta, com conseqüências no contexto da estrutura
interna de conhecimento, implicando dizer que o comportamento é mantido pelo processo
cerebral central. Esta abordagem, como analisa Bock[8], diferencia aprendizagem mecânica da
aprendizagem significativa.
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A aprendizagem mecânica, no dizer de Bock[9] (1993: 102-03), são as “novas informações com
pouca ou nenhuma associação com conceitos já existentes na estrutura cognitiva”, enquanto a
aprendizagem significativa “processa-se quando um novo conteúdo (idéias ou informações)
relaciona-se com conceitos relevantes, claros e disponíveis na estrutura cognitiva, sendo assim
assimilado por ela. Estes conceitos disponíveis são os pontos de ancoragem para a aprendizagem”,
finaliza a autora.
Considerando este fundamento da psicologia, podemos dizer que a pessoa aprende a partir do
conhecimento já existente, o que se acumula desde criança e se prolonga ao longo da vida do
indivíduo, como se observa nos apontamentos teóricos de Piaget[10], em que o desenvolvimento
humano é demarcado por períodos significativos que formam a estrutura de personalidade e
define as matrizes de compreensão e apreensão do mundo.
Para entender a teoria piagetiana, basta atentar para o primeiro período, entre 0 e 2 anos de
idade, em que a criança vive o estágio sensório-motor, quando acontecem as conquistas do
universo exterior da criança, descobrindo o mundo a partir da percepção e dos movimentos. Este
período exige atenção redobrada dos pais, uma vez que a criança depende plenamente da
orientação pedagógica que minimize o risco de exposição de sua curiosidade.
O período seguinte, entre os 2 e 7 anos de idade, denominado pré-operatório, faz a criança
desenvolver a linguagem que afetará decisivamente nas dimensões psicológicas no âmbito
intelectual, afetivo e social. A qualidade da interação e da comunicação formará a estrutura de
personalidade do adulto, a partir da linguagem. Neste período a criança vive intensamente o
egocentrismo intelectual e social.
Entre os 7 até os 12 anos de idade, a criança encontra-se no período das operações concretas,
em que a construção lógica fica mais evidente e a coordenação do posicionamento individual com
opinião própria é desenvolvida em maior impacto, traduzindo a coerência de seus argumentos
diante das outras pessoas, o que facilita ou dificulta, a cooperação e o trabalho em grupo.
Integrado ao período anterior e ocorrendo simultaneamente, entre os 11 e 12 anos em diante, a
criança estabelece as operações formais, uma vez que o pensamento concreto se transforma em
pensamento formal. Neste período, o pré-adolescente desenvolve perceptivamente as idéias e
começa fazer operações abstratas, sem necessariamente, precisar do mundo concreto. A
imaginação e a criatividade ocupam de forma qualitativa o indivíduo e conceitos como liberdade,
prisão, paz, guerra, responsabilidades, justiça, valor, aprendizagem, são assimilados e
compreendidos com maior propriedade.
Fonte: www.brazilianvoice.com (acesso em 01/ 08/ 2008).
O adulto é formado nestes períodos do desenvolvimento humano, segundo a teoria piagetiana. A
qualidade da aprendizagem na pessoa depende, portanto, da qualidade do seu processo de
desenvolvimento humano. Quer dizer, aprender precisa de condições objetivas (físico-ambiental
e relacionais) que favoreçam a assimilação do novo conhecimento. Estas condições, pelo que
pudemos observar até o momento estão condicionadas a qualidade da educação familiar nos
primeiros estágios de formação da personalidade da criança, que irão influenciar e, em casos
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mais extremos, determinar o comportamento e a maneira como o adulto irá lidar com os
fenômenos novos em sua vida.
A interação social e a dimensão psíquica do indivíduo, estruturando a formação da linguagem
construída na inteligência nas vertentes emocional e cognitiva, definem o padrão e a qualidade do
processo de aprendizagem. Segundo Vasconcelos (2007), aprender é um processo que está
associado à mudança e, portanto, “processo continuo de mudança de comportamentos na
organização, o que se dá a partir da articulação constante entre os valores e as capacidades dos
indivíduos e as suas experiências naquele contexto”, quer dizer, prossegue a autora, “o conceito
de aprendizagem relaciona-se à construção contínua da identidade dos indivíduos, que a
desenvolvem a partir da constante articulação entre seus valores e comportamentos passados e
novos estímulos e experiências adquiridas no cotidiano”[11].
Aprender significa mudar. Porém, as pessoas mudam quando são flexíveis em seus pensamentos e
convicções, dependendo de seus modos de verem o mundo e compreenderem que as verdades são
temporais e sócio-históricas. Conforme a teoria do conhecimento evolui, novas formas e
conteúdos se constituem para melhor traduzir a própria teoria da aprendizagem.
[1] Ibdem, 2006: 191.
[2] Ver site http://sitededicas.uol.com.br/art_estilos1.htm (acesso em 27/ 07/ 2008).
[3] GARDNER, Howard. Inteligência - Um Conceito Reformulado. Rio de Janeiro: Objetiva,
2000: passim.
[4] Nota do autor: A teoria das inteligências múltiplas foi desenvolvida na década de 1990, por
pesquisadores da Universidade de Harvard, sob a coordenação do psicólogo Howard Gardner.
Naquele momento foi identificado e descrito sete tipos de inteligências nos seres humanos, o que
obviamente gerou um garnde impacto nas teorias de aprendizagem, entretanto, era somente o
início de outras descobertas que estão em processo. Na atualidade, foi identificado mais um tipo
de inteligência, a naturalista.
[5] Nota do autor: sobre a aplicação da inteligência múltipla na aprendizagem e desenvolvimento
do talento vocacional das pessoas, sugere-se a leitura das obras de Celso Antunes, “Como
desenvolver conteúdos explorando as Inteligências Múltiplas” e “Jogos para a Estimulação das
Múltiplas Inteligências”. Petrópolis: Vozes, 2002.
[6] GOLEMAN, Daniel. Inteligência Emocional. 11ª edição. Rio de Janeiro: Objetiva, 1995: 106.
[7] Idem, 1995: 108.
[8] BOCK, Ana M. Bahia [et...all]. Psicologias – Uma introdução ao estudo de psicologia. 5ª Ed. São
Paulo: Saraiva, 1993.
[9] Idem, 1993: 102-03.
[10] PIAGET, Jean. A epistemologia genética: sabedoria e ilusões da filosofia; problemas de
Psicologia genética. Trad. Nathanael C. Caixeiro; Zilda A. Daeir e Célia E. A. Di Piero. 2ª Ed. São
Paulo: Abril Cultural, 1983 (Col. Pensadores).
[11] VASCONCELOS, Isabella F. Gouveia de [et...all]. Organizações em Aprendizagem. São Paulo:
Thomson Learning, 2007: 1. (Col. Debates em Administração).
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