XLIII CONGRESSO DA SOBER “Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial” Comportamento dos agentes no processo de compra de carne bovina em açougues da cidade de Unaí/MG: uma análise a luz da economia dos custos de transação Nívia Guimarães Da Costa CPF: 040.861.276-28 Mestranda em Agronegócios pela Universidade de Brasília Endereço: SHCES – Q.203 – Bl.E – Apto 406 – Cruzeiro Novo - Brasília/DF CEP: 70.650.235 / Tel: (61) 234.6312 e-mail: [email protected] Marlon Vinícius Brisola CPF: 491.934.306.04 Mestre em Ciências Agrárias / Agronegócios pela Universidade de Brasília Prof. Assistente do Instituto de Ensino Superior Cenecista / INESC GEMA: Grupo de Estudos Multidisciplinar em Agronegócios - INESC Endereço: Rua Das Açucenas, 389 - Bairro Jardim – Unaí/MG CEP: 38610.000 / Tel: (38) 3676.8606 e-mail: [email protected] Área Temática: 1. Comercialização, Mercados e Preços Agrícolas Forma de Apresentação: Em sessão, sem debatedor. TRABALHO BASEADO EM MONOGRAFIA DE GRADUAÇÃO 1 Ribeirão Preto, 24 a 27 de Julho de 2005 Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural XLIII CONGRESSO DA SOBER “Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial” Comportamento dos agentes no processo de compra de carne bovina em açougues da cidade de Unaí/MG: Uma análise a luz da economia dos custos de transação Resumo Neste estudo pretendeu-se identificar quais as variáveis que determinam o oportunismo do açougueiro e as limitações da racionalidade do consumidor, como pressupostos comportamentais, no processo de venda de carne bovina, na Cidade de Unaí/MG. A carne bovina oferecida no comércio varejista da Cidade de Unaí é um produto sem origem declarada e com baixo valor agregado. Neste mercado, é notório que um dos agentes da cadeia, o açougueiro, possui o maior número de informações sobre o produto que vende e, estas informações podem ser reveladas ou ocultadas ao consumidor no momento da compra do produto. O objetivo desta pesquisa foi analisar os aspectos comportamentais dos agentes, varejo e consumidor, da cadeia produtiva de carne bovina, na Cidade de Unaí/MG, seguindo os princípios da Nova Economia Institucional, postulada por Oliver Williamson. Os dados foram obtidos por meio de entrevistas semi-estruturadas aplicadas em duas fases, inicialmente foram entrevistados 240 compradores-consumidores de carne bovina, e após a tabulação dos dados obtidos na primeira fase, foi realizada a segunda fase da pesquisa com os representantes do comércio varejista de carne bovina. Ao final, os dados foram lançados no software SPSS (Statistical Package of Social Science), o qual apresentou as análises estatísticas descritivas e inferenciais. A partir da análise dos resultados, a pesquisa revelou algumas variáveis que determinam o oportunismo do açougueiro e as limitações na racionalidade se apresentaram em ambas às partes entrevistadas. PALAVRAS-CHAVE: Consumidor, ECT, Carne Bovina 2 Ribeirão Preto, 24 a 27 de Julho de 2005 Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural XLIII CONGRESSO DA SOBER “Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial” Comportamento dos agentes no processo de compra de carne bovina em açougues da cidade de Unaí/MG: uma análise a luz da economia dos custos de transação 1. Introdução Desde o início da década de 90 a economia brasileira vem enfrentando grandes transformações. A competição entre os diversos segmentos industriais modificou o ambiente mercadológico, onde as organizações individuais passaram a competir de forma integrada formando cadeias produtivas, exigindo ações conjuntas como forma de sobrevivência. Entretanto, o mesmo não acontece com a cadeia produtiva de carne bovina, uma vez que o relacionamento entre os agentes é marcado pela disputa constante por margens de comercialização, sendo um dos pontos de maior conflito. No caso do varejo é crescente o seu poder em relação aos frigoríficos, o que causa um descontentamento por parte dos mesmos, que reclamam das grandes margens praticadas pelo segmento. Desta forma, observa-se que as ações tomadas na cadeia são individuais. Tanto os elos situados a montante, como a jusante, atuam isoladamente, contribuindo ainda mais para a falta de coordenação em toda a cadeia (BARCELLOS; FERREIRA, 2000). No âmbito do agronegócio brasileiro a carne bovina é um produto sem diferenciação e com baixo valor agregado, sobretudo para o mercado interno. Os agentes da cadeia competem por preços, chegando o produto, à mesa do consumidor final, as vezes, com baixa qualidade, oriundo de processos produtivos com falhas no controle, nos diversos elos da cadeia produtiva. Os cortes ofertados no balcão dos açougues da Cidade de Unaí, onde este estudo se procedeu, não são identificados, isto é, não é possível visivelmente saber qual o nome do corte. Sabe-se apenas que determinados cortes têm diferenciação no preço. Este fato ocorre na maioria dos comércios varejistas de carne do país e, para o consumidor menos avisado, é possível levar “gato por lebre”. Barcellos e Callegaro (2002) comentam que a compra de carne bovina pode ser considerada como um processo de tomada de decisão limitada, em virtude das particularidades, tais como baixo envolvimento, pouca busca de informações e avaliação de alternativas. Neste processo o consumidor forma crenças sobre o produto, realiza a compra e procede a avaliação baseada no julgamento inicial. Isto acontece porque existe grande falta de informação disponível, bem como o desconhecimento dos consumidores em relação ao produto. A maioria destes não sabe diferenciar o tipo de corte, raça, idade, características da carne que determinam segurança do alimento e muito menos tem condições de diferenciar o sexo do animal, ficando, os mesmos condicionados a informações prestadas pelos açougueiros no momento da compra. Neste caso, no processo de compra de carne bovina, podem ocorrer ações oportunistícas por parte dos açougueiros, devido às limitações na racionalidade do consumidor ao adquirir um corte cárneo no balcão de um açougue. Frente a essa situação, a questão que motivou este estudo foi identificar “Quais são as variáveis que determinam o oportunismo do açougueiro e as limitações da racionalidade 3 Ribeirão Preto, 24 a 27 de Julho de 2005 Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural XLIII CONGRESSO DA SOBER “Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial” do consumidor, como pressupostos comportamentais, no processo de venda de carne bovina, na Cidade de Unaí – MG”. O estudo dos pressupostos comportamentais foi realizado utilizando-se como base teórica a Economia dos Custos de Transação (ECT), também denominada de Nova Economia Institucional (NEI), que tem como seus precursores, Ronald Coase e Oliver Williamson. 2. Revisão Bibliográfica 2.1 – O Agronegócio da Carne Bovina Os estudos relacionados às cadeias de produção agroindustrial têm contribuído para análises em diversos setores, com foco nos mecanismos de coordenação e nas estruturas de governança de uma determinada cadeia. Batalha e Silva (2001) comentam que a cadeia de produção agroindustrial pode ser vista como um sistema aberto. Assim, as cadeias produtivas em geral apresentam três segmentos principais: a produção de matérias-primas, a industrialização e a comercialização. A cadeia de produção da carne bovina, não diferente das outras, envolve um conjunto de componentes interativos, com vários sistemas produtivos, dentre eles: fornecedores de serviços e insumos, indústrias de processamento e transformação, distribuição e comercialização de produtos e subprodutos, bem como seus respectivos consumidores finais. Esta cadeia tem como principal objetivo, suprir o consumidor final de produtos em quantidade e qualidade, atendendo a suas necessidades e a preços acessíveis, de forma competitiva. O consumidor exerce forte influência sobre os demais componentes da cadeia, desse modo, conhecer as necessidades desses consumidores é muito importante para toda a cadeia, uma vez que a demanda do produto é essencial para garantir a sustentabilidade da mesma (BLISKA; GONÇALVES, 1998). Segundo IEL et.al. (2000), existe um grande número de agentes envolvidos em cada elo da cadeia de produção da carne bovina no Brasil. Sem contar os produtores, frigoríficos e distribuidores que exercem a liderança nacional, existem também várias associações e entidades de classe (de produtores, de industrias e de varejistas), o que se traduz em uma rede de interações e conflitos de interesses entre esses agentes. Bliska e Gonçalves (1998) destacam alguns fatores críticos constantes nos elos da cadeia produtiva de carne bovina no Brasil, os quais interferem diretamente na qualidade do produto final. Dentre eles destacam-se, no caso do produtor, a baixa adoção de tecnologia e poder de barganha menor do que outros segmentos da cadeia. Para os frigoríficos, a diminuição das margens financeiras, ociosidade do parque industrial, concorrência dos produtos substitutos, mudanças nos hábitos alimentares, deficiência da ausência da fiscalização de abates nos matadouros municipal, alta concorrência de abates clandestinos e sonegação de impostos, poluição ambiental, falta de integração entre o produtor, a indústria e o comércio são aspectos importantes relacionados ao setor. Ao nível de varejo, observam-se alguns fatores críticos: o sistema de distribuição praticamente não evoluiu, há problemas de higienização e sanitização, além da alta sonegação. Já por parte dos consumidores, observa-se que, em geral, apresentam baixo nível de exigência em 4 Ribeirão Preto, 24 a 27 de Julho de 2005 Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural XLIII CONGRESSO DA SOBER “Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial” relação à qualidade dos produtos. A ausência de organização e coordenação ao longo de toda a cadeia é evidente, o que prejudica a competitividade do setor, desde a montante à jusante dessa cadeia e, por esta razão, não atendem satisfatoriamente aos desejos dos consumidores finais. Um aspecto que carece de uma coordenação mais efetiva e que também tem causado conflitos na cadeia produtiva de carne bovina, é a participação dos supermercados na comercialização de produtos agroindustriais, estreitando os canais de comercialização nas últimas décadas (IEL et. al., 2000). Buscando a formação de alianças mercadológicas, com objetivo de reestruturar a cadeia produtiva de carne bovina no Brasil, instituições públicas e privadas estão atuando conjuntamente. Alguns programas já estão sendo executados, dentre eles estão o Programa de erradicação da febre aftosa e os programas estaduais de incentivo a produção de novilho precoce. Entretanto, com a dificuldade de obter uma coordenação efetiva ainda é cedo para afirmar que esses programas de melhoria da qualidade de carne e alianças mercadológicas, vão alcançar os resultados esperados. Há dificuldades de conscientização de que os agentes precisam ser integrados em alianças fortes e eficientes. É necessária também a mudança no comportamento de compra do consumidor final. Neste sentido, Verbeke (2001) concorda que as questões-chave para o sucesso futuro da industria de carne, estão relacionadas à adoção de novas tecnologias, inovações nos produtos, maior eficiência na produção e no processamento, gerenciamento da cadeia, uma eficiente e efetiva comunicação com os outros agentes envolvidos. A tradução de uma comunicação efetiva e eficiente entre os atores da cadeia e, mais especialmente, destes com o consumidor final, é uma tarefa difícil, a qual necessita de plena cooperação e atenção de todas as partes interessadas do setor. 2.2 – A Economia dos Custos de Transação O estudo de Coase (The Nature of the Firm, de 1937) deu origem a Economia dos Custos de Transação, a partir da questão: “por que toda a produção não é realizada em uma única grande firma?”. Coase críticava a visão neoclássica que considera a firma como função de produção, uma relação mecânica. Ele considerava a firma como presente em uma relação orgânica entre os agentes que se realiza através de contratos implícitos (contrato de trabalho) ou explícitos (parceria informal) (ZYLBERSZTAJN, 2000, p.06). Esta corrente de estudo foi representada por Williamson e North entre 1989 e 1993. A E.C.T (Economia de Custos de Transação) é uma abordagem nova no agribusiness e tem apresentado expressivo crescimento nos estudos organizacionais com um enfoque microanalítico e institucional o que contribui para uma análise detalhada dos arranjos institucionais e suas relações com o ambiente institucional. Neste sentido, a E.C.T. tem sido um referencial teórico muito utilizado nos estudos agroindustriais, principalmente na análise de diversas formas de arranjos interempresas, considerando os pressupostos comportamentais dos agentes econômicos individuais inseridos em uma cadeia produtiva (NOGUEIRA, 2003). À medida que essas transações se concretizam aparecem os custos associados a todo esse processo de transferência, que são definidos por Williamson, citados por Zylbersztajn (1995, p.14-15), como: “[...] os custos ex-ante de preparar, negociar e salvaguardar um acordo bem como os custos ex-post dos ajustamentos e adaptações que resultam, quando a execução de um contrato é afetada por falhas, erros, omissões e 5 Ribeirão Preto, 24 a 27 de Julho de 2005 Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural XLIII CONGRESSO DA SOBER “Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial” alterações inesperadas”. Enfim, esses custos são considerados como os custos conduzem o sistema econômico. que Espírito Santo (2003) ressalta a importância do modelo analítico disponibilizado pela Economia dos Custos de Transação. Segundo este autor, o modelo tem sido utilizado freqüentemente nos estudos de agronegócios, o qual permite fazer análises das relações contratuais entre empresas, sendo também uma base importante para a análise sistêmica de cadeias produtivas e do relacionamento entre seus elos. Hayes et al. (2000) cometam que a literatura da E.C.T. está interessada em explicar os enlaces da integração vertical. De acordo com o argumento de Coase, a estrutura das indústrias evolui para minimizar os custos de transação, assim como os sistemas mecânicos evoluem para minimizar a fricção. A E.C.T. aborda os conflitos de interesses como sendo os fatores que interferem nas transações entre os agentes da cadeia produtiva de carne bovina. Dentre esses conflitos está o oportunismo, um determinante comportamental que representa a busca do auto-interesse. Outro determinante comportamental que interfere nas relações contratuais é a racionalidade limitada. Herbet Simon, citado por Williamson (1991 p.25), descreve que “[...] a capacidade da mente humana para formular e resolver problemas complexos é muito pequena em comparação com o tamanho dos problemas, cuja solução é necessária para um comportamento objetivamente racional em um mundo real”. Por esta razão, diz-se que a racionalidade limitada ocasiona os problemas econômicos, sendo que a mesma se eleva a cada contrato em condições contingentes. Quando as transações são realizadas em condições de incerteza e complexidade, os custos de uma transação se tornaram muito mais elevados. As transações apresentam ainda algumas características que se relacionam com os pressupostos comportamentais: a incerteza, freqüência e especificidades dos ativos. A incerteza é uma variável do ambiente, que se apresenta por não ter como prever com precisão o comportamento dos agentes. A freqüência é a constância pelo qual se efetua a transação, e a especificidade dos ativos representa o qual específica é a transação. 2.3 – O Comportamento do Consumidor de Carne Bovina O comportamento do consumidor é um estudo recente que surgiu a partir da década de 60. Pode ser definido como “[...] o estudo das unidades compradoras e dos processos de troca envolvidos na aquisição, no consumo, e na disposição de mercadorias, serviços, experiências e idéias”. (MOWEN; MINOR, 2003, p.03). Durante todo o processo de tomada de decisão, os consumidores são influenciados por numerosos estímulos em seu ambiente, e são estes estímulos que merecem atenção neste momento. Assim, durante todo o processo de tomada de decisão, os julgamentos e as escolhas são afetados por uma variedade de estímulos do ambiente. Nesta perspectiva, a tomada de decisão no momento da compra é considerada como um ponto em um curso de ações particulares empreendidas por um consumidor (VERBEKE, 1999). Mowen e Minor (2003) comentam que nem sempre os consumidores passam por um processo de decisão completo, o que pode ser chamado de baixo envolvimento ou tomada de decisão limitada, cujo estágio de busca de informação é reduzido. Deste modo, o estágio de avaliação de alternativas praticamente desaparece do processo de tomada de 6 Ribeirão Preto, 24 a 27 de Julho de 2005 Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural XLIII CONGRESSO DA SOBER “Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial” decisão. Assim, os meios que levam à tomada de decisão têm dois caminhos, o de alto envolvimento e de baixo envolvimento. Um dos aspectos relevantes para a compreensão do consumidor e do seu comportamento de compra é o processo de tomada de decisão de compra. O ativo, carne bovina representa um commodity, de baixa especificidade, que pode ser adquirida no mercado spot, por contratos tipicamente clássicos, que têm no mecanismo de preços incentivos e informações suficientes. Diversos estudos sugerem as peculiaridades do mercado de carne bovina no Brasil. Os consumidores são influenciados pelas variáveis sócio-demográficas e culturais, com isso o comportamento de compra do consumidor é diferente em cada continente. “Na Europa, o consumo está voltado para produtos de maior qualidade que não oferece riscos à saúde. Também considerados importantes aspectos da agricultura biológica em decorrência do aumento da faixa etária da população e no nível educacional” (IEL et al., 2000, p.104). Ferreira e Barcellos (2001) ressaltam que a carne bovina encontra-se em desvantagem em relação a outros produtos substitutos por apresentar falta de variabilidade e também pela inconstância na qualidade da matéria-prima. Este feito gera desconfiança por parte do consumidor pelo produto que adquire. Em pesquisa conduzida por Brisola et al. (2003) na cidade de Brasília/DF com consumidores de carne bovina, buscando conhecer a sua preferência quanto à forma da oferta de carne bovina, verificou-se que a maioria dos entrevistados (60,9%) prefere que o corte do produto seja realizado à sua frente. Esses dados demonstram a falta de confiança do consumidor. Souki et al. (2003) em pesquisa realizada na cidade de Belo Horizonte/MG sobre atributos do ponto de venda que afetam a decisão de compra dos consumidores de carne bovina, constatou que os dez atributos mais importantes na concepção dos consumidores foram: 1) a aparência e higiene do estabelecimento; 2) prazo de validade nos produtos; 3) selo de qualidade; 4) carimbo do Serviço de Inspeção Federal (S.I.F.); 5) selo de procedência (origem); 6) honestidade e transparência nas transações com clientes; 7) cordialidade no atendimento; 8) aparência dos funcionários; 9) preços; 10) padronização dos produtos. No Brasil o comportamento dos consumidores de carne é influenciado por variáveis do ambiente de compra, as quais interferem diretamente no processo de compra e na qualidade percebida pelo consumidor. O local de comercialização do produto, bem como os fatores relacionados com higiene, são considerados por muitos como indicadores de qualidade do produto. A variável conveniência também interfere: pontos de vendas que oferecem além de produtos cárneos, produtos de consumo complementar (sal, carvão, bebidas) ou até mesmo outros produtos, são mais preferidos. A busca de informações acerca de produto e formas de preparação passa a ser um diferencial apreciado pelo consumidor (IEL et. al., 2000). Pesquisa realizada por Barcellos e Callegaro (2002), na cidade de Porto Alegre/RS, com 400 consumidores, revelou que a sua fonte de informação a respeito da carne que compra é o açougueiro, em primeiro lugar (36%), e os amigos e a família (20,1%), em segundo lugar. Os dados coletados comprovaram que a informação informal ‘boca a boca’ é a fonte de conhecimento dos consumidores sobre o produto. Outro aspecto importante comprovado na pesquisa de Barcellos e Callegaro (2002), foi quanto à busca de 7 Ribeirão Preto, 24 a 27 de Julho de 2005 Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural XLIII CONGRESSO DA SOBER “Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial” informações sobre o animal, tais como idade, alimentação, sexo e raça, classificadas pelos consumidores como sem importância no momento da compra do produto. Em pesquisa realizada por Brisola (2004) com consumidores do Distrito Federal, ficou demonstrado que, nesta Unidade da Federação os consumidores, sem distinção de renda, preferem comprar a carne bovina em supermercados. 3. Metodologia A presente pesquisa teve caráter exploratório. Foi realizado um levantamento a respeito dos pressupostos comportamentais dos agentes da cadeia de produção de carne bovina na cidade mineira de Unaí/MG, assim como um levantamento bibliográfico necessário para dar suporte ao tema em relevância. A coleta de dados foi realizada em duas fases. Na primeira fase optou-se por realizar um Survey, por meio de um roteiro de entrevista composta de 13 questões, com consumidores de carne bovina da cidade. A amostra foi extraída da população total residente na sede do município. Para obter uma amostra significativa utilizou-se um nível de confiança compreendido em três desviospadrão, que por sua vez representa um nível de confiança de 99,7%. O número de consumidores de carne bovina, indicados na amostra foi de 240 indivíduos, segmentados em grupos, entre os diversos bairros da cidade, a partir de um sorteio prévio. A pesquisa foi aplicada durante os meses de julho e agosto de 2004, pela própria pesquisadora. O roteiro do formulário de pesquisa foi direcionado pelas seguintes questões: Qual a freqüência do consumo de carne bovina em sua residência?; Com que freqüência você compra carne bovina?; Você compra carne bovina no mesmo local?; Quais as informações que você busca saber quando adquire o produto carne bovina?; e Porque você compra carne bovina em um determinado local?. As questões foram respondidas a partir de uma escala ordinal, de freqüência (sempre, algumas vezes, nunca). Na segunda fase foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com 31 açougueiros (proprietários de 93,4% dos 61 pontos de venda de carne existentes na cidade). A estes foram atribuídas indagações que buscavam extrair aspectos relacionados ao comportamento dos açougueiros em relação aos consumidores no processo de venda de carne bovina. Para análise dos pressupostos comportamentais, utilizou-se das variáveis Freqüência, Especificidade dos Ativos e Incerteza. Uma vez coletados os dados (açougues e consumidores), os mesmos foram lançados no software SPSS (Statistical Package of Social Science), versão 11.0 for Windows, o qual apresentou as análises estatísticas descritivas e inferenciais. 3.1 – O Perfil dos entrevistados O perfil dos entrevistados estabeleceu-se como: 133 (55,4%) do sexo feminino e 107 (44,6%) do sexo masculino. A faixa etária dos consumidores esteve entre 26 a 40 anos (49,2%). O grau de instrução com maior prevalência entre os consumidores é o ensino médio (47,9%). A renda familiar foi predominante na faixa de 03 a 05 salários mínimos/mês (35,4%). O número de pessoas predominante na residência dos entrevistados foi de 03 a 04 pessoas (52,5%). Em relação à freqüência no consumo de carne bovina nas 8 Ribeirão Preto, 24 a 27 de Julho de 2005 Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural XLIII CONGRESSO DA SOBER “Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial” residências dos entrevistados, por semana, os dados revelaram que a maioria consome carne bovina ‘duas a três vezes por semana’ (40,8%). Co relação aos estabelecimentos analisados, estes são distintos como: açougues independentes (aquele que não pertencem a nenhum supermercado ou a outro açougue) (74%); 13% são açougues com outras filiais na cidade; e 13% são açougues pertencentes a um supermercado com outras filiais na cidade. Em relação aos produtos comercializados nos estabelecimentos pesquisados, observou-se, que a maioria dos estabelecimentos comercializam mais de um produto: ‘carne bovina, carne suína, frango e diversos outros produtos, como perfumaria, bebidas, carvão, frutas e verduras, dentre outros’. Apenas 01 é especializado na venda de carne bovina. O volume de vendas semanais nos açougues pesquisadas é de 200kg a 500kg por semana (74%), os demais 26% vendem mais de 500kg por semana. Nota-se que o volume de vendas de carne bovina na cidade de Unaí é elevado. Este fato se confirma com relação aos consumidores entrevistados, que afirmaram consumir o produto numa freqüência de ‘duas a três vezes por semana’ (40,8%); e ‘três a quatro vezes por semana’ (39,2%). O tempo de atuação no setor varejista apresentou um índice elevado, os dados revelaram que 20 dos estabelecimentos entrevistados já estão nesse mercado há mais de 05 anos. O fato desses açougues já se encontrarem a muito tempo no ramo, possuem uma clientela bem definida. Esse quesito se confirma com os dados coletados nas pesquisas com os consumidores, sendo que 52,5% dos entrevistados realizam suas compras sempre no mesmo local. 3.2 – A Cidade de Unaí A cidade de Unaí/MG foi fundada em 1.873 e o município em 1.943. De acordo com dados do IBGE Censo (2000), Unaí tem uma área de 8.438 Km quadrados. De acordo com o último Censo do IBGE (2000), a população é de 70.033 habitantes. O setor industrial é composto por indústrias de pequeno porte. Entre elas destacamse fabricações de telhas, tijolos, brita, calcário, móveis de madeira e aço, temperos, gêneros alimentícios, derivados do leite e milho, embutidos, beneficiamento e empacotamento de arroz e feijão. O comércio varejista é bem diversificado. A agropecuária é à base da economia unaiense. A região é agrária por excelência. Boas terras para pastagem e o plantio é certamente um fator decisivo para a ocupação do município que até então tem vivido quase que exclusivamente da agropecuária, fato que coloca o município em destaque em nível nacional, tendo Unaí o maior PIB-agropecuário do Estado de Minas Gerais (MINAS EM REVISTA, 2004). A pecuária foi à primeira atividade econômica de Unaí, se apresentado sempre em grande porcentagem nos negócios realizados no município, no decorrer de sua história; um expressivo rebanho, tanto leiteiro quanto de corte, totalizando mais de 291,8 mil cabeças. O rebanho de Unaí é Azebuado, proveniente das raças indianas (Gir e Nelore) e européias (Holandesa e Suíça), além do gado tradicional popularmente conhecido como curraleiro e está em segundo lugar como suporte econômico do município com a produção de carne e leite (MINAS EM REVISTA, 2004). A cidade de Unaí/MG conta com dois frigoríficos (Fribraz e União). O frigorífico Fribraz está assentado em uma área de 28 ha, com área construída de 3.000m2. Abate por 9 Ribeirão Preto, 24 a 27 de Julho de 2005 Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural XLIII CONGRESSO DA SOBER “Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial” dia aproximadamente 150 (cento e cinqüenta) animais. Possui 140 (cento e quarenta) funcionários. O Frigorífico União pertence a uma Cooperativa de Açougueiros de Unaí, está com sua inauguração prevista para o primeiro semestre de 2004, é uma projeto do IMA (Instituto Mineiro de Agropecuária). Área de construção de 8.768 m2 com capacidade de abate de 100 animais por dia. A inspeção da carne é feita em parceria com a Prefeitura do Município (MINAS EM REVISTA, 2004). O número de açougues é de 61, sendo que muitos estão localizados dentro de estabelecimentos comerciais supermercadistas, mas oferecem seus produtos e serviços sob contratos de terceirização. 4. Resultados e Discussões 4.1 – Pressupostos Comportamentais dos Consumidores de Carne Bovina O presente estudo foi estruturado considerando a necessidade de responder ao objetivo proposto de analisar os comportamentos dos agentes da cadeia produtiva de carne bovina da cidade de Unaí/MG, a partir das transações realizadas entre o açougueiro e o consumidor/comprador de carne bovina. O questionário foi aplicado em diversos bairros da cidade, inicialmente procurou-se descrever o perfil dos consumidores entrevistados. Buscou-se conhecer a freqüência com que os consumidores procuram o mesmo local para comprar o produto carne bovina. As respostas revelaram que 52,5% dos entrevistados sempre procuram o mesmo açougue, conforme dados contidos na Figura 01. Freqüência que o Consumidor Procura o Mesmo Açougue para Comprar a Carne Bovina 150 100 50 0 Sempre Algumas vezes Nunca Figura 01: Freqüência que o consumidor procura o mesmo açougue para comprar a carne bovina Com a intenção de conhecer quais as informações consideradas importantes, sobre a carne que compram, a pesquisa demonstrou que são relevantes os aspectos raça, alimentação consumida, sexo, condição de abate e idade do animal, além de condições de manuseio e conservação do produto, por menos de 15% dos consumidores. O tempo de exposição do produto pós-abate, o registro do açougueiro no Serviço de Inspeção Sanitária e o nome do corte foram os aspectos considerados como mais importantes pelos 10 Ribeirão Preto, 24 a 27 de Julho de 2005 Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural XLIII CONGRESSO DA SOBER “Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial” consumidores, mas mesmo assim, não foram manifestados por nem 20% destes.(Tabela 01). Tabela 01: Quantidade e Percentual de consumidores de carne bovina, na cidade de Unaí, e o grau de importância dado por eles sobre aspectos do produto, no momento da compra. Aspectos Considerados Quantidade Percentual Alimentação do animal 07/ 240 2,9% Raça do animal 12 / 240 5,0% Sexo do animal 18 / 240 7,5% Condição de abate do animal 26 / 240 10,8% Idade do animal 29 / 240 12,1% Instruções de conservação e manuseio do produto 32 / 240 13,3% Se o açougue possui Registro de Inspeção Federal 37 / 240 15,4% Tempo após o abate do animal 37 / 240 15,4% Nome do corte 51 / 240 21,3% Fonte: Dados da pesquisa. De maneira geral, o resultado encontrado foi praticamente uma unanimidade. A maioria dos consumidores não se interessa em buscar informações a respeito do carne bovina que compram. Os dados coletados nesta pesquisa e demonstrados na Tabela 01, foram confirmamos também na pesquisa de Barcellos e Callegaro (2002), em relação à busca de informações sobre o animal, tais como idade, alimentação, sexo e raça, foram classificadas pelos consumidores sem importância no momento da compra do produto ‘carne’. Com a intenção de conhecer quais os motivos que levam aos consumidores a comprarem a carne bovina em determinado local, foram feitas vários questionamentos aos entrevistados. O Bom atendimento, a higiene nas instalações do estabelecimento, a confiança nos produtos oferecidos, a praticidade e comodidade na compra, e a boa conservação nos produtos foram os aspectos mais considerados pelos consumidores. (Tabela 02). 11 Ribeirão Preto, 24 a 27 de Julho de 2005 Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural XLIII CONGRESSO DA SOBER “Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial” Tabela 02: Atributos do açougue que os consumidores consideram importantes Atributos Sempre Algumas Nunca vezes Bom atendimento 86,3% 5,8% 7,9% Higiene nas instalações 84,6% 3,3% 12,1% Estabelecimento transmite confiança 82,9% 4,6% 12,5% Praticidade e comodidade na compra 72,5% 14,6% 12,9% Carne é bem conservada 72,1% 10,0% 17,9% Produto apresenta qualidade (cor, sabor, odor, suculência e maciez) 68,8% 11,3% 20,0% Produto fiscalizado 63,8% 10,8% 25,4% Entregas em domicilio 63,3% 15,0% 21,7% Laços de amizade com o proprietário do açougue 62,1% 12,9% 25,0% Vende a prazo 52,5% 12,1% 35,4% Fonte: Dados da pesquisa. A variável especificidade dos ativos relaciona-se com algumas questões sobre o estabelecimento, o produto e o serviço: 1) características do estabelecimento tamanho, mix de produtos ofertados, aparência (imagem, forma, etc.); 2) características do produto (aparência, promoção ou forma como é ofertada, embalagem, etc.); 3) características do serviço (atendimento, formas de pagamento, forma de entrega). De acordo com os dados coletados na pesquisa e apresentados na Tabela 02, tal análise permitiu identificar os atributos votados na opinião dos consumidores como sendo os determinantes na escolha de um açougue para adquirir a carne bovina. Observou-se portanto que os atributos: qualidade do produto; conservação da carne; fiscalização do produto; laços de amizade com o proprietário do estabelecimento; bom atendimento; praticidade e comodidade na compra; higiene nas instalações; confiança no açougue; vendas a prazo; entregas em domicílio; são os que caracterizam o estabelecimento como um ativo específico. Buscou-se ainda identificar o grau de racionalidade que os consumidores têm em relação ao produto que compram. Ao indagá-los se sabem diferenciar um corte de carne bovina de outro, os dados demonstraram que 52,1% (125) dos entrevistados nunca sabem diferenciar, 29,6% (71) sabem diferenciar algumas vezes e apenas 18,3% (44) dos entrevistados responderam saber diferenciar sempre um corte de carne bovina de outro (Figura 02). Observou-se que há evidências entre os dados coletados na pesquisa de campo com a definição da racionalidade limitada de Williamsom. Da amostra da pesquisa, mais da metade dos entrevistados nunca sabe diferenciar um corte de carne bovina de outro. 12 Ribeirão Preto, 24 a 27 de Julho de 2005 Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural XLIII CONGRESSO DA SOBER “Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial” 125 Nunca 71 Algumas vezes 29,6% 44 Sempre 0 52,1% 18,3% 50 100 150 Figura 02: Conhecimento do consumidor sobre a diferença de um e outro corte de carne bovina No cruzando dos dados com o sexo dos consumidores entrevistados, constatou-se que os homens parecem entender mais do produto do que as mulheres, enquanto 30 (28,0%) homens afirmaram saber sempre diferenciar um corte de carne de outro, apenas 14 (10,5%) entre as mulheres o sabem. Curiosamente, ao contrário do que se pensa em relação às mulheres, em especial as donas de casa que lidam diretamente com a carne bovina, nesta pesquisa os homens demonstrou que entende mais do produto. De acordo com os estudos de Mowen e Minor (2000) sobre o comportamento de compra dos consumidores, foi observado nesta pesquisa que o consumidor de carne bovina da cidade de Unaí, não passa por um processo de decisão completo no momento da compra, o que pode ser chamado de baixo envolvimento ou tomada de decisão limitada, cujo estágio de busca de informação é reduzido. 4.2 – Pressupostos comportamentais dos açougueiros A pesquisa revelou que na opinião dos açougueiros, os consumidores ‘algumas vezes’; e ‘nunca’ conseguem diferenciar uma peça de carne bovina de outra. Durante a entrevista, alguns dos entrevistados ressaltaram que ‘os consumidores não preocupam em conhecer o que estão comendo’. Esses resultados se confirmam com os dados obtidos junto aos consumidores. Os dados coletados demonstraram que dos 240 consumidores entrevistados, apenas 18,3% sabem diferenciar ‘sempre’ um corte de carne bovina de outro. Frente às limitações na racionalidade dos consumidores, os açougueiros terão possibilidade de agir de forma ‘oportunista’. Segundo Williamson o oportunismo se refere a uma falta de sinceridade e honestidade nas transações, onde um dos agentes age com dolo buscando o seu próprio interesse. O oportunismo pode operar ainda mais em transações com números pequenos, devido à falta de informações de um dos agentes. Ao contrário do que acontece em transações que envolvem um número maior de agentes. Neste caso, a tendência é que as limitações na racionalidade tendem a ser menor. Com o objetivo de identificar ações oportunistas no processo de venda de carne bovina, buscou-se saber a opinião dos açougueiros, questionando aos entrevistados se as informações como: ‘nome do corte’; ‘corte dianteiro’; ‘corte traseiro’; ’coloração da carne’; ‘coloração da gordura’, são importantes para os consumidores no momento da 13 Ribeirão Preto, 24 a 27 de Julho de 2005 Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural XLIII CONGRESSO DA SOBER “Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial” compra. As respostas divergiram entre os respondentes. Vários deles afirmaram que estas informações não são importantes: ‘porque geralmente ele pede um tipo de carne, e se a gente fica ensinando, ele aprende e fica muito exigente’; ‘acho que o consumidor já está muito exigente, e se ficar informando, o consumidor ficará ainda mais exigente, uma vez que, existem outros cortes com a mesma finalidade e o consumidor quando aprende fica querendo apenas alguns cortes’. Entretanto, algumas dos entrevistados entraram em contradição, apesar de afirmarem que essas informações são importantes para o consumidor: ‘tem gente que acha que apenas a carne clara que é de qualidade, enquanto que a escura também é de qualidade’; ‘se a peça de carne for vermelha é suspeita, porque quando é abatida no frigorífico ela é mais clara’. Estes posicionamentos permitem dupla interpretação, embora as opiniões dos entrevistados sejam de que as informações são importantes, há indícios nestas respostas de ações oportunistas. Por um lado, um entrevistado afirmou que a carne escura é de qualidade; enquanto que o outro entrevistado, contradiz afirmando que a carne escura é característica da condição de abate do animal, ou seja, o animal não é abatido nas condições estabelecidas pela Vigilância Sanitária. Com o intuito de buscar dados sobre estas variáveis, os açougueiros foram questionados porque seus clientes procuram o seu açougue para comprar a carne bovina. As respostas giraram em torno de: busca pela qualidade, amizade e bom atendimento. Estas afirmações explicam a variável ‘especificidade dos ativos’, uma vez que os atributos qualidade, amizade e bom atendimento, caracterizam o estabelecimento como um ativo específico. Nota-se, no entanto, que outros entrevistados em suas repostas, argumentaram que seus clientes procuram o estabelecimento por outros motivos: ‘os clientes procuram este açougue porque ele faz parte do supermercado, então quem é cliente do supermercado é também do açougue’; ‘por causa da qualidade da carne bovina, na época da seca: confinamos o gado na fazenda e procuramos oferecer o animal castrado’; ‘ofereço o produto semi-pronto, este é o meu diferencial’.Estas afirmações também se relacionam com a especificidade dos ativos. Na última bateria de perguntas, buscou-se identificar a racionalidade dos açougueiros, quanto aos interesses dos consumidores. Conforme apresentado na Tabela 03, as variáveis ‘nível de dificuldade em manter clientes fiéis’ e ‘nível de dificuldade em satisfazer as necessidades dos clientes’ apresentaram o mesmo nível de dificuldade (nível alto) em 61,3% dos entrevistados. Acima destas, somente a variável ‘nível de dificuldade em receber das vendas realizadas a prazo’ revelou-se mais intensa entre os açougueiros (71,0%). Estes resultados se confirmam tanto em relação aos dados coletados com os consumidores, como na entrevista com os açougueiros. Quando indagados aos consumidores sobre o porque deles escolhem um determinado local para comprar a carne bovina, 52,5% dos entrevistados disseram que é ‘sempre’ porque vendem a prazo. De acordo com os dados já apresentados neste estudo, na entrevista com açougueiros em relação ao grau de exigência dos consumidores com as condições de pagamento, 58,1% dos açougueiros entrevistados se queixaram que os consumidores estão cada vez mais exigindo condições de pagamento mais flexíveis. 14 Ribeirão Preto, 24 a 27 de Julho de 2005 Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural XLIII CONGRESSO DA SOBER “Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial” Tabela 03: Níveis de dificuldade dos açougueiros na venda do produto Nível baixo Nível médio Nível alto Em manter clientes fiéis 22,6% 16,1% 61,3% Em satisfazer as necessidades dos clientes 22,6% 16,1% 61,3% Em diferenciar-se dos concorrentes 22,6% 35,5% 41,9% Em conquistar novos clientes 16,1% 45,2% 38,7% Em manter um volume de vendas mensal 19,4% 35,5% 45,2% Em receber das vendas realizadas a prazo 6,5% 22,6% 71,0% Fonte: Dados da pesquisa. 5. Considerações Finais A pesquisa revelou que a grande parte dos consumidores de carne bovina, em Unaí, não busca informações relevantes como raça, idade, alimentação, sexo, condição de abate, registro de inspeção, tempo de abate e nome do corte de carne do animal, e muito menos se atenta a estas informações ao adquirir o produto. Durante a pesquisa as pessoas demonstraram bastantes surpresas quando indagados se eles procuram saber tais informações e, em alguns momentos alguns disseram ‘nunca pensei nisto, vou passar a perguntar de agora em diante’. Este resultado confirma a elevada falta de racionalidade sobre o produto carne bovina. Atributos como qualidade do produto (cor, sabor, odor, suculência e maciez); conservação da carne; higiene nas instalações; produto fiscalizado; confiança no estabelecimento; bom atendimento; praticidade e comodidade; venda a prazo; entrega em domicílio; laços de amizade com o dono do açougue; foram os que mais se apresentaram como determinantes na escolha do local para comprar a carne bovina. Julgou-se portanto que elas definem o ativo específico ao consumidor, apesar de tratar-se de um produto de baixo valor agregado. Esta afirmação, se confirma com o elevado grau de retorno do consumidor ao ponto de compra: observou-se que mais de 50% dos compradoresconsumidores de carne bovina compram sempre no mesmo lugar. Estas informações reforçam o elevado grau de incerteza sobre os atributos do produto e do estabelecimento onde adquirem carne bovina. Apesar destas características, observou-se que há uma limitação da racionalidade, por parte do consumidor da cidade de Unaí. Os consumidores de carne bovina não passam por um processo de decisão completo no momento da compra, o que pode ser chamado de baixo envolvimento ou tomada de decisão limitada, cujo estágio de busca de informação é reduzido. Deste modo, o estágio de avaliação de alternativas praticamente desaparece do processo de tomada de decisão. Caracterizando assim uma tomada de decisão de compra de baixo envolvimento. Na segunda fase da pesquisa, ao ser entrevistado o comércio varejista de carne bovina, composto por açougues independentes, açougues pertencentes a outras filiais e açougues instalados dentro de supermercados, o pressuposto comportamental ‘oportunismo’ foi evidenciado: na opinião dos açougueiros, os consumidores não 15 Ribeirão Preto, 24 a 27 de Julho de 2005 Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural XLIII CONGRESSO DA SOBER “Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial” conhecem o produto que compram e, por esta razão, estes podem vender quaisquer corte de carne bovina sem que eles percebam. Observou-se, entretanto, que há limitações na racionalidade tanto dos consumidores, quanto dos açougueiros. Fato este que leva a transação a ser efetuada sob comportamentos oportunísticos. A utilização do mesmo ponto de compra pelos consumidores é coerente, uma vez que com o grau de conhecimento sobre os atributos da carne são reduzidos, no entanto, se contradizem com as intenções manifestadas pelos açougueiros, que reforçam seu oportunismo. Talvez, por esta razão, que a busca de crédito à informação do açougueiro não é plenamente manifestada como preferência ao ponto de compra, por parte dos consumidores. As informações reveladas por esta pesquisa devem se confirmar em cidades de pequenos e médios portes pelo Brasil, já que a oferta de carne bovina embalada é restrita e a relação dos consumidores com pontos de compra, onde os produtos cárneos são exclusivos (ou quase exclusivos) e a figura do açougueiro se faz presente, é muito comum. Dado o número reduzido de estudos sobre os comportamentos dos agentes da cadeia produtiva de carne bovina, em especial, aos pressupostos comportamentais da Economia dos Custos de Transação, buscou-se com este estudo contribuir para o preenchimento desta lacuna, assim como fornecer informações inéditas para discussões a nível institucional, empresarial e acadêmico, que tenham interesse pelo o assunto. 6 - Referências Bibliográficas BARCELOS, M. D. de.; CALLEGARO, Carlos A. M. A Importância da informação como indicador de qualidade: o caso da compra de carne bovina em Porto Alegre. In: ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO, XXVI., 2002. Salvador. Anais... Salvador: ENANPAD, 2002. 1 CDROM. BARROS, A.J da S.; LEHFELD.N.A.de S. Fundamentos de metodologia. 2 ed. São Paulo, Makron Books, 2000. BATALHA, M.O.; SILVA, A.L. da. Gerenciamento de sistemas agroindustriais: definições e correntes metodológicas In: BATALHA, M.O. (Coord.) Gestão Agroindustrial. 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