A relação entre o preço recebido pelo produtor e o pago pelo consumidor de carne bovina no Rio Grande do Sul Coordenador: Vicente Celestino Pires Silveira Colaboradores: Abel Panerai Lopes Alessandro Porporatti Arbage Renato Santos de Souza Paulo Ramon Pedrazzi Adriana Ferreira da Costa Vargas Carolina Balbé de Oliveira Participantes: João Garibaldi Almeida Viana Inajara Martins Batista Fernanda Flores 1. Caracterização do Problema O agronegócio é visto como a cadeia produtiva que envolve desde a fabricação de insumos, passando pela produção nos estabelecimentos agropecuários e pela sua transformação, até o seu consumo (GASQUES et al, 2004). No caso da bovinocultura de corte, existem basicamente quatro pontos de processamento nesta cadeia: insumos, agropecuária (produtores), indústria (frigoríficos), distribuição/varejo. A estrutura de comercialização da carne é basicamente dividida em 3 tipos de estabelecimentos: supermercados/hipermercados, açougues e boutiques de carnes, onde conforme TELLECHEA (2001) os supermercados/hipermercados correspondem por aproximadamente 60% das vendas de carne. As exigências dos consumidores têm influenciado o desenvolvimento de alguns tipos de cortes de carne, causando revisões nos conceitos de carcaças, com o objetivo de fornecer uma extensa seleção de peças para açougue, variando em peso, preço e qualidade, para atender aos pontos de venda, às indústrias ou à exportação (LEDIC et al., 2000). Como a cadeia é desarticulada e os supermercados são os responsáveis pela distribuição da grande maioria do produto ao consumidor (TELLECHEA, 2001), de uma forma geral, são eles que estabelecem as regras na cadeia da carne bovina e tem um papel muito significativo na definição dos preços praticados em todos os segmentos dessa cadeia. Esta afirmativa está baseada no fato de que o consumidor é o regulador de preços. O aumento do preço do produto ao consumidor final imediatamente reflete na redução ou, até mesmo, na estagnação das vendas. O consumidor é sensível aos aumentos de preços, e como estes mantém uma relação muito próxima dos supermercados, estes passam a repassar os efeito da “ponta” para os demais elos da cadeia produtiva (RIO GRANDE DO SUL, 2003). O Estado do Rio Grande do Sul apresenta inúmeras diferenças no aspecto geográfico-econômico-ambiental. Com relação às diferenças econômicas, as mesmas podem ser percebidas ao analisar o Produto Interno Bruto (PIB) e as atividades pecuárias desenvolvidas nos 497 municípios distribuídos em 281.734 km² da área, onde se verifica que o Estado apresentase dividido em regiões economicamente distintas. Com relação a área total e o PIB do Rio Grande do Sul, a Área Sul do Estado corresponde a 48,41% da 1 superfície total e 18,78% do PIB, a Área Norte com 35,51% da superfície total e com 23,70% do PIB e a Região Industrial Diversificada (RID) com 16,07% da superfície total e 57,52% do PIB. Tendo como o PIB per capita respectivamente R$ 6.786.74, R$ 8.980,61 e R$ 10.895,80 (SILVEIRA et al., 2004). Para produzir o seu produto, ou seja, o animal para abate, o produtor tem um custo de produção que no momento da venda é “repassado” para a indústria. Por sua vez, a indústria é responsável pela transformação em produto carne, que será distribuído ao estabelecimento varejista. Durante este processo há custos para que o produto vivo (boi/vaca) se transforme em alimento para o consumidor (carne bovina), a situação está em verificar em que medida os preços praticados pelos varejistas são repassados ao produtor. Por outro lado, o consumidor final é sensível a variação de preços, que diretamente esta relacionado com o poder aquisitivo do mesmo. Assim, podemos inferir que o preço ao nível de varejo é diferente nas distintas regiões do estado. 2. Objetivos 2.1 Geral Levantar dados primários junto aos agentes produtivos, visando estreitar a relação UFSM/Setor privado da cadeia produtiva da Bovinocultura de carne do Rio Grande do Sul. 2.2 Específicos - Criar uma série histórica de preços no varejo dos diferentes cortes de carne bovina no estado do Rio Grande do Sul. Estabelecer cortes indicadores da variação de preços da carcaça bovina Verificar a influência do poder aquisitivo do consumidor na determinação do preço dos diferentes cortes ao nível de varejo. 3. Metodologia e Estratégia de Ação O levantamento dos dados será realizado em três regiões no Estado do Rio Grande do Sul, baseado na participação do PIB total do estado, conforme descrito por SILVEIRA et al. (2004): a Área Sul, a Área Norte e a Região Industrial Diversificada (RID). A Área Sul e Área Norte serão subdivididas em duas regiões e em cada uma das regiões será feito o levantamento em três cidades, considerando uma cidade de pequeno porte, uma de médio porte e uma de grande porte, baseado na população. Na Área Sul, as cidades de Caçapava do Sul com 34.308 habitantes, Bagé com 116.999 habitantes e Pelotas com 329.833 habitantes compõem a região Sudeste. Rosário do Sul com 40.897 habitantes, Alegrete com 84.743 habitantes e Santa Maria com 251.825 habitantes compõem a região Sudoeste. Na Área Norte as cidades de Vacaria com 59.035 habitantes, Erechim com 92.878 habitantes e Passo Fundo com 174.855 habitantes correspondem à região Nordeste. Enquanto que, Três de Maio com 23.646 habitantes, Palmeira das Missões com 35.672 habitantes e Ijuí com 75.655 habitantes representam a região Noroeste. 2 A RID, por sua reduzida área, será considerada como região uniforme sendo coletados os dados em Santa Cruz do Sul com 111.581 habitantes, Caxias do Sul com 381.833 habitantes e Porto Alegre com 1.392.711 habitantes. Conforme estas diferenças, este trabalho irá pesquisar o preço médio do kg do boi/vaca que o produtor recebe e comparar ao preço médio do kg da carne bovina que o consumidor paga. Ou seja, um levantamento do preço médio da carne em dois pontos da cadeia produtiva da carne bovina: o produtor e o consumidor. A pesquisa será mensal, durante 24 meses, onde os dados serão coletados em quatro estabelecimentos varejistas, dando preferência ao setor supermercadista que comercializam carne bovina em cada cidade. A equipe do projeto acompanhara a coletará os dados uma vez por semestre em cada área. A EMATER-RS e a Fundação Maronna se responsabilizará pela coleta intermediária entre os mesmos. Os preços recebidos pelos produtores serão considerados os coletados pela EMATER-RS, criando uma série histórica da relação dos preços nas duas pontas da cadeia. O recolhimento de dados nos estabelecimentos comerciais consiste em um levantamento dos preços dos cortes da carcaça de um bovino (Tabela 1), Todos os dados coletados formarão parte de um banco de dados a ser desenvolvido em Microsoft Access. Os preços obtidos serão disponibilizados via Internet na página do Centro Integrado de Ensino Pesquisa e Extensão Rural – CIEPER (www.ufsm.br/cieper) Tabela 1. Cortes da carcaça bovina a serem coletados em Traseiro, Dianteiro e Costilhar. Traseiro Dianteiro Costilhar Alcatra Paleta com osso Costela Coxão de dentro Ponta de peito Vazio Coxão de fora Chuleta Picanha Maminha Com a finalidade de atender o segundo objetivo especifico do projeto, uma análise de regressão será realizada utilizando o valor obtido do preço dos cortes com relação ao preço total da carcaça e das suas partes. Assim, procura-se delimitar se possível, cortes ou conjunto de cortes, que expliquem a variação de preço da carcaça a nível de consumidor nas diferentes regiões e no estado como um todo. A influência do poder aquisitivo do consumidor sobre o preço pago pela carne, também será analisado através da análise de regressão entre o PIB dos municípios pesquisados e o preço pago pelo consumidor. 3 4. Principais Referências Bibliográficas FEE – Fundação de Economia e Estatísticas. Densidade Populacional dos Municípios Gaúchos. Disponível em http://www.fee.gov.br. Acesso em: 08 outubro de 2004. GASQUES, J.G., et al. Desempenho e Crescimento do Agronegócio no Brasil. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Brasília, 2004. Texto para Discussão, 1009. 43p. LEDIC, I.L., TONHATI, H.,FERNANDES, L. de O. Rendimento integral de bovinos após abate. Ciência agrotécnica, Lavras, v.24, n.1, p.272-277, 2000. RIO GRANDE DO SUL. Assembléia Legislativa. CPI DAS CARNES Relatório Final. Porto Alegre, 2003. 764 p. SILVEIRA, V.C.P, BATISTA, I.M., MACHADO, J. A. D. As Diferenças Econômicas no Rio Grande Sul e seus Reflexos no Setor Agropecuário. In: 20 ENCONTRO DE ECONOMIA GAÚCHA, 2004, PORTO ALEGRE. Anais ... Porto Alegre,2004. TELLECHEA, F. Análise dos custos de transação no setor industrial da cadeia produtiva de carne bovina no Rio Grande do Sul. Porto Alegre – RS. 2001. Tese (Mestrado em Economia Rural) – Curso de Pós-graduação em Economia Rural da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2001. 4