O USO DE ANTIDEPRESSIVO E DECLÍNIO COGNITIVO EM POPULAÇÃO DE 60 ANOS OU MAIS INTERNADOS EM HOSPITAL TERCIÁRIO Vanessa Mara Martins (Bolsista Fundação Araucária/Inclusão Social), Marcos Aparecido Sarria Cabrera, e-mail: [email protected] Universidade Estadual de Londrina/Departamento de Clínica Médica/CCS Área e sub-área do conhecimento: Medicina/Clínica Médica Palavras-chave: idoso; antidepressivo; declínio cognitivo. Resumo Com as melhorias na saúde, saneamento básico e escolaridade houve um aumento na expectativa de vida da população. Assim, tem-se aumentado o número de idosos. Estes são acometidos frequentemente por doenças orgânicas, degenerativas e que se tornam fatores de riscos para o desenvolvimento da depressão. Neste estudo objetivou-se analisar o uso de antidepressivo e observar se há relação com declínio cognitivo em população com 60 anos ou mais em hospital terciário – HU/UEL. Foram feitas entrevistas com os pacientes, além de análise de prontuários e medicação prescrita 24h anterior à coleta e aplicação do MEEM. Sendo que a análise de dados foi realizada utilizando o programa Epi Info 7.1.4 e Excel. A amostra constou de 120 pacientes, sendo que 9 destes faz uso de, no mínimo, um antidepressivo prescrito. Destes 7 são do sexo feminino e 2 do sexo masculino. Em 107 idosos foi possível obter dados sobre as doenças prévias: somente em 3 houve registro de depressão no prontuário no momento da admissão. Ao compararmos o score do MEEM entre os idosos que usavam antidepressivo e os que não usavam, não houve diferença estatística significante entre as médias do score do MEEM. A média do score do MEEM nos pacientes com uso de antidepressivo foi 15,44 e entre os idosos com uso de antidepressivo a média do score foi 18. Assim, notou-se que quando há uso de antidepressivo acompanhado de internação, não há um declínio cognitivo. Introdução e objetivo No Brasil, a população idosa, em 2002, perfazia um total de 14,1 milhões de pessoas e projetava-se para 2025 um total de 33,4 milhões, sendo que entre 1950 e 2025 a população idosa terá crescido 16 vezes contra 5 vezes a população total1. 1 A depressão consiste em enfermidade mental frequente no idoso, associada a elevado grau de sofrimento psíquico. Na população geral, a depressão tem prevalência em torno de 15%2; em idosos vivendo na comunidade, essa prevalência situa-se entre 2 e 14%3 e em idosos que residem em instituições, a prevalência da depressão chega a 30%4. . Enfermidades crônicas e incapacitantes constituem fatores de risco para depressão. Sentimentos de frustração perante os anseios de vida não realizados e a própria história do sujeito marcada por perdas progressivas - do companheiro, dos laços afetivos e da capacidade de trabalho - bem como o abandono, o isolamento social, a incapacidade de reengajamento na atividade produtiva, a ausência de retorno social do investimento escolar, a aposentadoria que mina os recursos mínimos de sobrevivência, são fatores que comprometem a qualidade de vida e predispõem o idoso ao desenvolvimento de depressão5. Os idosos são os principais consumidores de antidepressivos e aqueles mais velhos apresentam maior consumo que os seus pares mais jovens6,7. Assim, considerando o rápido envelhecimento da população brasileira e os desafios impostos por esse fenômeno à assistência farmacêutica, este estudo teve por objetivo analisar o uso de antidepressivo e sua correlação com o declínio cognitivo dos pacientes internados em hospital terciário com 60 anos ou mais. Procedimentos metodológicos Trata-se de um estudo transversal observacional de caráter quantitativo. Foi realizada a coleta de dados em hospital público terciário da região norte do Paraná – HU - UEL, que compõe a rede de assistência do SUS. A coleta foi realizada no segundo semestre de 2015 e primeiro semestre de 2016. Constituíram-se população do estudo todos os idosos admitidos no hospital e que permaneceram no mínimo 48 horas em internação. Foram excluídos os idosos sem condições de responder a entrevista, e que não possuíam cuidador habilitado após três tentativas de realização da coleta. Foi excluído, também, o acompanhante que não tivesse permanecido no mínimo 4 horas seguidas com o paciente, antes da realização da entrevista. As fontes de dados foram: prontuários, entrevista com o idoso ou acompanhante e aplicação do Mini Exame do Estado Mental (MEEM). Sendo que os medicamentos foram baseados na prescrição médica hospitalar 24h anterior à entrevista, cuja equipe médica pode ter incluído ou não àqueles utilizados rotineiramente baseando-se nas informações dos próprios pacientes e de seus familiares. A análise de dados foi realizada utilizando o programa Epi Info 7.1.4 e Excel que avaliaram a associação entre o uso de antidepressivo e o declínio cognitivo na população com 60 anos ou mais. 2 Este projeto de pesquisa faz parte de um projeto mãe intitulado Indicadores de Qualidade de Assistência Hospitalar a Pessoa Idosa, já aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Estadual de Londrina, CAAE394013144.0000.5231, parecer de 16/12/2014. Resultados e Discussão Observou-se a partir dos 120 pacientes hospitalizados que apenas 9 deles faz uso de, no mínimo, um antidepressivo prescrito nas 24h anterior à coleta, ou seja, aproximadamente 7,5%. Sendo que 111 idosos (92,5%) não tinham prescrição de antidepressivo. Destes pacientes com uso do medicamento, 7 são do sexo feminino e 2 do masculino. Sendo a amitriptilina (tricíclico) a mais prevalente entre eles. Em 107 idosos foi possível obter dados sobre as doenças prévias: somente em 3 houve registro de depressão no prontuário no momento da admissão. Já no diagnóstico principal registrado no prontuário no dia da coleta de dados, depressão não apareceu relatada em nenhum deles. Ao compararmos o score do MEEM entre os idosos que usavam antidepressivo e os que não usavam, não houve diferença estatística significante entre as médias do score do MEEM. A média do score do MEEM nos pacientes com uso de antidepressivo foi 15,44 e desvio padrão 9,3155, com mediana de 19, entre os idosos com uso de antidepressivo a média do score foi 18, 14,98 com desvio padrão de 7,72 e mediana de 18. Assim, notouse que quando há uso de antidepressivo acompanhado de internação, não há um declínio cognitivo. No entanto, a amostra observada é pequena e isso pode limitar resultados e possíveis interpretações. Conclusões Em idosos que residem em instituições a prevalência do uso de antidepressivo chega a 30%. Portanto, no HU esta porcentagem está abaixo da prevalência nacional. Considerando que doenças graves e crônicas levam a um maior risco de quadro depressivo, parece haver um subdiagnóstico, mas também poderá ter havido uma subnotificação do uso de antidepressivos pelos pacientes ou familiares ou, até mesmo, uma não prescrição dos antidepressivos pela equipe médica durante a estadia do paciente no hospital, apesar do mesmo ter tido conhecimento desta utilização. Esta não utilização de antidepressivos em idosos internados pode comprometer a evolução do tratamento das enfermidades orgânicas que motivaram a internação hospitalar. Além disso, muitos destes pacientes não foram diagnosticados corretamente para depressão. Sendo que muitos deles, provavelmente, apresentam sintomas, no entanto, devido a doença orgânica, estes são despercebidos pelo médico e pela família. 3 A partir disso, faz a necessidade de haver uma atenção a esses pacientes com base em estratégias que identifiquem sintomas para que seja feito o diagnóstico correto para a efetivação do tratamento. Agradecimentos À Deus; aos meus pais; aos meus irmãos; ao meu namorado; ao meu orientador; à professora Mara e, por fim, aos pacientes meus mais sinceros e genuínos agradecimentos. Referências 1. Terceira idade: dados estatísticos sobre idosos. http://www.saudeemmovimento.com.br/conteudos/conteúdo_frame.asp? cod_noticia=91 (acessado em 26/Jun/2005). 2. Kaplan, H.I.; Sadock, B.J.; Grebb, J.A. (1997). Compêndio de Psiquiatria: Ciências do Comportamento e Psiquiatria Clínica, v. 7ª edição. Tradução: Dayse Batista. Porto Alegre: Artes Médicas. 3. Edwards, J. (2003). Dementia and Depression in older people. International Psychigeriatric Association. IPA, (oral presentation). 4. Pamerlee, P.A.; Katz, I.R.; Lawton, M.P.(1989). Depression among institutionalized aged: assessment and prevalence estimation. Journal of Gerontology, v. 44, p. 22-29. 5. Pacheco, J. L. (2002). Educação, Trabalho e Envelhecimento: Estudo das histórias de vida de trabalhadores assalariados e suas relações com a escola, com o trabalho e com os sintomas depressivos, após a aposentadoria. Tese de Doutorado – Educação / Gerontologia. UNICAMP, Campinas, SP. 6. Brunoni AR, Nunes MA, Figueiredo R, Barreto SM, Fonseca MJM, Lotufo PA, et al. Patterns of benzodiazepine and antidepressant use among middle-aged adults: the Brazilian longitudinal study of adult health (ELSA-Brasil). J Affect Disord. 2013; 151(1): 71-7. DOI:10.1016/j.jad.2013.05.054. 7. Rodrigues MAP, Facchini LA, Lima MS. Modificações nos padrões de consumo de psicofármacos em localidade do Sul do Brasil. Rev Saúde Pública. 2006;40(1):107-14. DOI:10.1590/S0034-89102006000100017 4