DEPRESSÃO/ANTIDEPRESSIVOS - AULA 1 – Ricardo Pinheiro Prevalência e diagnóstico: A prevalência anual na população em geral varia entre 3% e 11%, lembrando que é maior em mulher do que em homens, e que varia de acordo com cada região. Os pacientes internados (por qualquer doença física) têm uma maior prevalência de depressão, variando de 22 a 33%. Já em populações específicas, como pacientes IAM recente é de 33% e 47% nos pacientes com câncer. Sendo assim, vale ressaltar que a maioria dos médicos vão ter pacientes com quadros depressivos. O episódio depressivo tem cura, já a depressão não, pois ela é um transtorno crônico e recorrente. Existe estudos que dizem que 50% dos pacientes que tem um episódio depressivo grave, tem um segundo episódio depressivo grave, e que 70% dessas vão ter um terceiro episódio depressivo grave e que 90% das que tem o quarto episódio depressivo grave, terão o quinto. Então se afirma que depressão não tem cura, sendo crônica e recorrente, e quanto mais episódios tiver, maior a chance de recorrer. A depressão é pouco diagnóstica por médicos não-psiquiatras, sendo que em média 30 a 50% dos casos não são diagnosticados, por isso temos que saber como fazer o diagnóstico, e classificá-las em leve, moderada ou grave. E vale ressaltar que a depressão é um transtorno incapacitante, que em 2020 será a quarta causa de abandono do trabalho (ele falou assim, mas acho que se enganou, e queria dizer que será a primeira). Critérios diagnósticos: Sintomas fundamentais: 1) Humor deprimido; 2) Perda de interesse; 3) Fatigabilidade. Sintomas acessórios: 1) concentração e atenção reduzidas; 2) auto-estima e auto-confiança reduzidas; 3) idéias de culpa e inutilidade; 4) visões desoladas e pessimistas do futuro; 5) idéias ou atos autolesivos ou suicídio; 6) sono perturbado; 7) apetite diminuído. 2 sintomas fundamentais + 2 sintomas acessórios = Episódio leve 2 SF + 3 a 4 SA = Episódio moderado 3SF + ˃4 SA = Episódio grave É importante saber essa classificação tanto para diagnóstico como para tratamento do paciente, pois no episódio grave sempre é usado psicofarmacos, o moderado às vezes, e o episódio leve só quando a tentativa de apoio psicoterápico, por +- 2 meses (no protocolo diz 6 meses), falhar, daí pode usar psicofarmacos. Saúde mental é intensidade e tempo, com no mínimo 2 a 4 semanas com os sintomas, não é porque ficou mal um dia que ta em depressão, pode estar deprimido, ou com sintoma de depressão, mas não com a doença. OBS: muitas vezes a depressão leve se mescla com distimia, e nesse caso é preciso 2 anos pra fechar o diagnóstico, então vai fazendo psicoterapia, se não melhorar, não é preciso esperar tanto tempo, depois de 4 a 6 meses pode começar com terapia medicamentosa. OBS: risco de suicídio também se subdivide = a pessoa queria morrer; a pessoa queria morrer e pensou como; paciente queria morrer, sabe como fazer, e tentou. OBS: o aumento do apetite pode ser um sintoma depressivo, mas não faz parte dos critérios diagnósticos. Todo o primeiro episódio de depressão é auto-limitado, ou seja, ele começa e vai ter recuperação ou remissão do quadro entre 6 a 24 meses, mesmo sem tratamento como psicoterapia ou psicofarmacos. Os episódios subseqüentes não são bem assim. Tratamento da depressão: Todos os antidepressivos são efetivos para o tratamento da depressão grave, porém não diferente do placebo pra depressão leve (tratamentos psicológicos específicos para episódio depressivo são efetivos com maior evidência para depressões leves a moderadas). Na depressão moderada, o tratamento vai ser ligado aos sintomas multifuncionais, por exemplo, ideação suicida, ou perda do apetite. Os diferentes antidepressivos têm eficácia semelhante para a maioria dos pacientes deprimidos, variando em relação ao seu perfil de efeitos colaterais e potencial de interação com outros medicamentos. A cada 3 pessoa que usa antidepressivo, 2 respondem ao tratamento farmacológico (e quando diz responde, não significa cura, e sim diminuição dos sintomas em 50%) e 1 não vai responder. A resposta ao tratamento não começa antes de 2 semanas (2 a 6s), por isso não adianta trocar de antidepressivo toda semana, a não ser que o paciente não suporte os efeitos colaterais, que aparecem antes (2 a 3d). Após iniciar com o antidepressivo, vai mantendo até diminuir os sintomas, +- 8 semanas, mas daí não deve nem diminuir, nem tirar a medicação, ela deve ser mantida por no mínimo 6 a 9 meses, com a mesma dosagem. E quem não seguir com esse tto de continuação tem 50% de chance de ter recaída. OBS: Se for um depressão com sintomas psicóticos, depois das 8 semanas, pode ser retirado o antipsicótico, mas o antidepressivo deve ser mantido. Recorrência é quando a depressão retorna após ter currado o quadro depressivo anterior, então é um novo episódio (+ de 1 ano depois). Já a recaída é quando a depressão retorna logo após a remissão dos sintomas, e pode ser por não aderência correta ao tratamento, entre outros. Como já havia dito, após iniciar com o antidepressivo, vai mantendo +- 8 semanas, e se tirar a medicação (ou dar placebo), ou seja, não fazer o tratamento de continuação, tem 50% de chance de ter recaída. Já de fizer esse tratamento de continuação, apenas 10% recaem (para esses pode aumentar a dose, mudar o fármaco...). Por isso, deve fazer o tratamento de continuação, assim 90% não recaíram. Os neurotransmissores envolvidos na depressão são principalmente serotonina, noradrenalina, e há hipótese também referente à dopamina. E os fármacos podem ter ação única ou dupla, agindo sobre os neurotransmissores Existe hoje, pelo menos 4 hipóteses para a depressão: 1-hipótese monoaminérgica; 2-hipótese dos receptores de neurotransmissores; 3-hipótese monoaminérgica da expressão gênica; 4-hipótese das neurocininas na disfunção emocional. Sendo a 1 e 2 hipóteses as mais atuais, que existe déficit de serotonina (5-HT) e noradrenalina (NA). Deve-se pensar que se a depressão tem alteração biológica é possível formas de manejo que interfiram nessa alteração. A ação do antidepressivo nada mais é do que auxiliar a deficiência de 5-HT e NA e pode-se dizer baseado nos sintomas se depressão é mais noradrenérgica ou serotoninérgica. Sendo isso importante para o manejo. Então a depressão é diminuição desses neurotransmissores, que vão causar o humor deprimido, assim, com essa alteração neurobiológica, vão surgir os sintomas da doença. A deficiência de NA não causa os mesmo sintomas da deficiência de 5-HT, sendo importante essa diferença na escolha do fármaco. Então temos que entender que depressão, o diagnóstico central é o mesmo, mas com sintomas diferentes, logo medicações com mecanismos de ação diferentes.