XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL FENOLOGIA VEGETATIVA DE Kielmeyera coriacea MART. (CALOPHYLLACEAE) EM UMA ÁREA DE CAMPO RUPESTRE DE DIAMANTINA-MG Nathália Ribeiro Henriques – Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Departamento de Ciências Biológicas, Diamantina, MG. [email protected] Maíra Figueiredo Goulart – Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Departamento de Ciências Biológicas, Diamantina, MG. INTRODUÇÃO O gênero Kielmeyera Mart., pertencente à família Calophyllaceae, apresenta grande ocorrência nos Cerrados brasileiros, sendo endêmico da América do Sul, e de suas 46 espécies, 45 ocorrem em território nacional. As espécies são caracterizadas por perderem completamente suas folhas em certa estação do ano, geralmente em épocas secas, o que previne contra a excessiva perda de água pela transpiração foliar (FARIA et al., 2007). Os frutos de Kielmeyera são secos e geralmente abrem no período sem chuvas, quando ocorre a dispersão das sementes. As sementes são leves e aplanadas e, portanto, estão bem adaptadas para serem dispersas pela ação do vento. O fato de sua exploração ser intensa especialmente em Minas Gerais reforça a importância dos estudos sobre Kielmeyera para aumento do conhecimento e conservação de suas espécies (BOTELHO & CARNEIRO, 1992; FARIA et al., 2007). Das espécies de Kielmeyera, K. coriacea é a mais estudada. A planta adulta desta espécie chega a atingir uma altura de 3 a 6 m, com o tronco bastante suberoso. Seu desenvolvimento é lento, pois essas plantas são provenientes de sementes; este tipo de propagação acarreta na desuniformidade genética das plantas (NARDOTO, 1998; PINTO et al., 1994). K. coriacea é encontrada abundantemente no Cerrado, por sua larga distribuição, sendo uma das principais espécies lenhosas do bioma; pode ser encontrada tanto em ambientes abertos quanto em florestais, mas é típica de áreas abertas. As folhas concentradas no ápice dos ramos são simples e coriáceas (FARIA, 2004; NETO et al., 2008). OBJETIVO Descrever a fenologia de Kielmeyera coriacea durante a estação seca e investigar fatores que possam ter influência no processo de brotamento de folhas. METODOLOGIA Local de estudo O trabalho foi realizado em uma área de campo rupestre, Cerrado sensu lato, localizada dentro dos limites do Campus JK da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), na cidade de DiamantinaMG. Planejamento da amostragem 1 XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL Em uma área de vegetação nativa com grande abundância de Kielmeyera coriacea, foram determinadas nove parcelas de 5x5m, espaçadas entre si por 3m. Dentro de cada parcela, 10 indivíduos de K. coriacea foram marcados aleatoriamente, tendo como requisito único terem uma distância mínima de 1m entre eles, com a intenção de serem evitadas possíveis amostragens de brotamentos de um mesmo indivíduo. De maio a outubro de 2014, todos os 90 indivíduos foram acompanhados duas vezes por semana. Os indivíduos de três parcelas constituíram o grupo controle. Nas demais, foram desenvolvidos os seguintes tratamentos: em três parcelas os indivíduos tiveram todas as suas folhas retiradas previamente ao período de sua queda natural e nas três últimas os indivíduos foram molhados regularmente com 20L de água cada, durante o período do estudo. Tais tratamentos tiveram como objetivo investigar se os mesmos teriam influência na época do brotamento das plantas. RESULTADOS Os indivíduos apresentaram alta sincronia para as fenofases de senescência e brotamento de folhas. A queda de folhas ocorreu em maio e junho, com a deciduidade completa em julho. O brotamento de folhas novas ocorreu de agosto a outubro. O momento do início do brotamento de folhas não diferiu entre os tratamentos, indicando que a irrigação ou alteração no balanço hídrico devido à remoção precoce das folhas não são os principais fatores que desencadeiam o brotamento. No entanto, houve tendência a uma maior quantidade de gemas em brotamento nas plantas submetidas à irrigação ou remoção do que o controle. DISCUSSÃO O padrão de formação de novas folhas de K. coriacea caracterizou-se por estar associado à sazonalidade climática, tendo início ainda durante a estação seca, diferente do comportamento de outras plantas decíduas que necessitam do início das chuvas para a produção de folhas. O início do brotamento de folhas novas ocorre em agosto, continuando com menor intensidade até o final da estação seca. Este padrão se mostrou diferente do observado por Nardoto et al. (1998) e Faria (2004), onde as plantas analisadas por eles brotaram apenas no início da estação chuvosa. Entretanto, foi enunciado em ambos os trabalhos que a estação de chuvas nas respectivas épocas iniciouse no final de setembro. Considerando-se que observamos os primeiros brotamentos em agosto, a diferença não foi tão divergente em relação ao notado pelos autores. CONCLUSÃO Não foram observadas diferenças expressivas entre os tratamentos quanto ao momento do início do brotamento foliar. No entanto, a irrigação das plantas ou a remoção precoce das folhas aparentemente causa um pequeno aumento na quantidade de gemas que rebrotam após a deciduidade completa. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOTELHO, S. A.; CARNEIRO, J. G. A. 1992. Influência da umidade, embalagens e ambientes sobre a viabilidade e vigor de sementes de pau-santo (Kielmeyera coriacea Mart.). Revista Brasileira de Sementes, vol. 14, nº 1, p. 4146. FARIA, I. P. 2004. Efeitos da predação, sazonalidade climática e tipo de habitat no estabelecimento e 2 XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL desenvolvimento das lenhosas Kielmeyera coriacea (Spreng.) Mart. e Qualea grandiflora Mart. Dissertação de Mestrado, Departamento de Ecologia da Universidade de Brasília, Brasília. FARIA, I. P; ABREU, T. L. S., BIANCHI, C. A. 2007. Seed and fruit predation of Kielmeyera (Guttiferae) and Qualea (Vochysiaceae) species by six Psittacid species in the Brazilian Cerrado. Ecotropica 13: 75-79. NARDOTO, G. B.; SOUZA, M. P., FRANCO, A. C. 1998. Estabelecimento e padrões sazonais de produtividade de Kielmeyera coriacea (Spr) Mart. nos Cerrados do Planalto Central: efeitos do estresse hídrico e sombreamento. Revta. Brasil. Bot. vol. 21, n. 3, São Paulo. ISSN 1806-9959. NETO, O. C. D. et al. 2008. Estrutura de duas espécies vegetais de Cerrado em área queimada e não queimada, Caldas Novas GO. IX Simpósio Nacional: Cerrado e II Simpósio Internacional: Savanas tropicais. Brasília, DF. PINTO, J. E. B. P. et al. 1994. Uso de diferentes explantes e concentrações de benzilaminopurina na multiplicação in vitro de brotos de Kielmeyera coriacea. Pesq. agropec. bras., Brasília, v. 29, n. 6, p. 867-873. 3