UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL CURSO DE BACHARELADO EM CIÊNCIAS ECONÔMICAS JÔNATAS RODRIGUES DE ARRUDA O COMÉRCIO EXTERNO BRASILEIRO E A TAXA DE ABERTURA PÓS-PLANO REAL IJUÍ 2013 JÔNATAS RODRIGUES DE ARRUDA O COMÉRCIO EXTERNO BRASILEIRO E A TAXA DE ABERTURA PÓS-PLANO REAL Monografia apresentado ao Curso de Ciências Econômicas, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Ciências Econômicas. Orientador: Prof. Argemiro Luís Brum IJUÍ 2013 AGRADECIMENTOS Aos meus pais que sempre me apoiaram e colaboraram diretamente para que este sonho se tornasse possível A minha noiva que me ajudou e incentivou para a realização deste trabalho. À Universidade do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. Ao orientador Prof. Argemiro Brum, pelo acompanhamento pontual, por sua paciência e competência demonstrada em cada detalhe do trabalho. Aos colegas de turma de Ciências Econômicas pela amizade durante o curso. “Talvez não tenha conseguido fazer o melhor, mas lutei para que o melhor fosse feito. Não sou o que deveria ser, mas Graças a Deus, não sou o que era antes”. (Martin Luther King) LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1. Evolução da População Brasileira do ano de 1940 a 2010......................................21 Gráfico 2. Inflação Brasileira do ano de 1980 a 1994..............................................................26 Gráfico 3. Inflação brasileira do ano de 1994 a 2012...............................................................27 Gráfico 4. PIB Brasil do ano de 1995 a 2011...........................................................................30 Gráfico 5. Câmbio Brasileiro do ano de 1995 a 2012 ..............................................................33 Gráfico 6. Balança comercial brasileira do ano de 1995 a 2012...............................................35 Gráfico 7. Participação das Importações e Exportações entre o Mercosul na Balança Comercial Brasil do ano de 1989 a 2012..................................................................................37 Gráfico 8. Participação das Importações e Exportações entre a União Europeia na Balança Comercial Brasil do ano de 1989 a 2012..................................................................................39 Gráfico 9. Participação das Importações e Exportações entre e Estados Unidos na Balança Comercial Brasil do ano de 1989 a 2012..................................................................................40 Gráfico 10. Participação das Importações e Exportações entre e BRICs na Balança Comercial Brasil do ano de 1989 a 2012....................................................................................................41 Gráfico 11. Abertura econômica brasileira pós Plano Real do ano de 1995 a2012..................43 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Evolução da população brasileira do ano e 1940 a 2010..........................................46 Tabela 2. Evolução do PIB, Balança comercial e Inflação brasileira do ano de 1980 a 2012...........................................................................................................................................47 Tabela 3. Intercâmbio comercial brasileiro do ano de 1989 a 2012.........................................48 SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 6 1. A DINÂMICA DA ECONOMIA INTERNACIONAL ...................................................... 8 1.1. Mercantilismo .............................................................................................................. 9 1.2. Teoria Clássica ........................................................................................................... 10 1.3. Teoria Neoclássica ..................................................................................................... 11 1.3.1. Teorema da dotação relativa dos Fatores - Heckscher-Ohlin (H-O) ....................... 12 1.3.2. Teorema da equalização do preço dos fatores de produção - Heckscher-OhlinSamuelson .......................................................................................................................... 13 1.3.3. Teorema de Stolper – Samuelson ............................................................................ 13 1.3.4. Modelo dos fatores de produção específicos ........................................................... 13 1.4. Teoria contemporânea do comércio internacional ..................................................... 14 1.5. Teoria da política comercial....................................................................................... 15 1.5.1. Tarifa aduaneira ....................................................................................................... 16 1.5.2. Subsídios e contingenciamento ................................................................................ 16 1.5.3. Taxa de proteção ...................................................................................................... 16 1.6. Críticas ao comércio internacional............................................................................. 17 2. ASPECTOS DA EVOLUÇÃO DA ECONOMIA BRASILEIRA .................................... 18 3. A ABERTURA ECONÔMICA BRASILEIRA PÓS-PLANO REAL .............................. 29 4. GRAU DE ABERTURA COMERCIAL BRASILEIRA A PARTIR DE 1994 ................ 36 4.1. Relações comerciais do Brasil com o Mercosul............................................................. 36 4.2. Relações comerciais do Brasil com a União Europeia ................................................... 38 4.3. Relações comerciais do Brasil com os Estados Unidos da América .............................. 39 4.4. Relações comerciais do Brasil com os países do BRICS ............................................... 40 4.5. O grau de abertura da economia brasileira ..................................................................... 42 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 44 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 45 ANEXOS .................................................................................................................................. 46 6 INTRODUÇÃO A economia mundial se caracteriza por processo de globalização que assume cada vez mais um caráter mundial de integração produtiva, levando os países a procurar formas de ampliar sua inserção internacional. Segundo os economistas clássicos o livre comércio entre as nações é a melhor política, pois conduz ao uso eficiente de todos os recursos disponíveis. Frequentemente a escolha de determinada política comercial é condicionada pelo poder político. Em outras palavras, o mundo real não é gerido pela racionalidade econômica, mas pelo poder dos grupos de interesse. A condução do processo de abertura de uma economia é orientada pelo modelo macroeconômico adotado pela nação. As políticas que regulam este modelo e seus reflexos na atividade econômica são fundamentais quando nos referimos a economias em desenvolvimento ou subdesenvolvidas, que necessitam de constante fluxo do fator capital via investimento direto ou indireto. Este processo de abertura é determinado pela adoção de diversos instrumentos de política econômica que sinalizam ao mercado internacional a capacidade da nação em absorver novos negócios e investimentos, importar e exportar produtos, novas tecnologias e o risco do país; fatores estes inerentes ao processo e seus reflexos no desenvolvimento alcançado pela economia, na confiabilidade do sistema financeiro internacional, em seus governantes e no modelo macroeconômico adotado. Tendo 1994 como o ano base para a pesquisa, pois no mesmo se dá a implantação do Plano Real, no então governo do Presidente da República Itamar Franco, que tinha como Ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso. No alicerce deste plano há indícios de aplicação de políticas governamentais em direção a realização da abertura econômica, tendo como justificativa o fato de haver o temor de que o excesso de demanda por produtos e serviços causasse o desabastecimento e a remarcação de preços, pressionando a inflação (fato ocorrido durante o Plano Cruzado em 1986). Existia também a necessidade de forçar o aperfeiçoamento da indústria nacional, expondo-a a concorrência, o que permitiria o aumento da produção no longo prazo, fato que tenderia a acarretar uma baixa nos preços. Desde então o movimento das relações internacionais vividas se caracterizaram por um aumento nas importações e exportações de forma quase constantes, através do dinamismo 7 econômico entre empresas de diversos setores, sendo o potencial comercial brasileiro reconhecido mundialmente.1 O tema central do presente trabalho é observar o comportamento da abertura comercial brasileira a partir da implantação do Plano Real. Leva-se em conta, para a mensuração do grau de abertura o fato de que são considerados países com alto grau de abertura aqueles que possuem coeficiente superior a 0,70, e com baixo grau de abertura ou países ainda fechados, aqueles com coeficientes inferiores a 0,30.2 O problema e objetivo que movem o presente trabalho é detectar a evolução do grau de abertura comercial do Brasil a partir do Plano Real. Nesse contexto, o presente trabalho está dividido em quatro capítulos. O primeiro trata da dinâmica da economia internacional. O segundo evidencia aspectos da evolução da economia brasileira. O terceiro capítulo apresenta a evolução da abertura comercial brasileira no período estudado. Enfim, o quarto capítulo analisará o grau de abertura econômica do país, procurando identificar se no período estudado o Brasil se tornou uma economia aberta ou está em vias de sê-lo. 1 Cf. Markus Jaeger, analista do Deutsch Bank (Página Internet Publicado em 01/02/2012 - http://cbcsadvogados.com/blog/publicacoes/a-abertura-economica-do-brasil - ) 2 Cf. BRUM, A.L. et al. Comportamento Cambial Brasileiro e as Consequências sobre a Balança Comercial. Ijuí-RS : Ed. UNIJUI, 2010. 8 1. A DINÂMICA DA ECONOMIA INTERNACIONAL Este capítulo se propõe à apresentar as teorias econômicas construídas a partir da perspectiva da globalização/integração econômica. “Etimologicamente integrar significa “completar, totalizar, inteira, fazer parte de”. Como ato ou efeito de integrar, a integração pode ser compreendida como a reunião das partes para formar o todo, o conjunto, ou como relação do conjunto com as partes”. (CARDOSO, 2007) O mundo está globalizado, acontece graças ao avanço tecnológico e, principalmente a facilidade da comunicação que fora implantada. A partir disso o caráter econômico se torna cada vez mais dinâmico e interligado, fatos são registrados do outro lado do planeta terra, e quase que instantaneamente nos é repassado e de alguma forma, impacta nossas ações cotidianas. As relações internacionais baseia-se na perspectiva que uma nação não consegue produzir todos os bens que são necessários a população. A existência deste comércio permite que os países que estão realizando a troca se especializem no produto que são eficientes. Cada pátria possui características diferentes, podemos destacar que as riquezas naturais, o trabalho praticado, as diferenças na estrutura da população e o capital fazem com que haja diferença na produção e especialização destes. Ao longo da História, os diversos continentes foram divididos em territórios autônomos, muito diferentes entre si, com relação ao tamanho e aos recursos produtivos disponíveis. Assim, através de processos políticos complexos foram se conformando os atuais países. As nações independentes descobriram, muito cedo, as vantagens de trocar mercadorias, originando os fluxos do comércio internacional. (.....) Este fluxo no comércio gerado pelas nações fundamentava principalmente vantagens que existiam na troca de produtos entre nações, ou para suprir uma demanda interna ou para escoamento da produção. A economia se caracteriza por um processo de globalização que assume cada vez mais um caráter mundial de integração produtiva, levando os países a procurar formas de ampliar sua inserção internacional. Segundo os economistas clássicos o livre comércio entre as nações é a melhor política, pois conduz ao uso eficiente de todos os recursos disponíveis. 9 Quando uma economia deseja se integrar economicamente ao resto do mundo chamamos este processo de Abertura Comercial. A condução do processo de abertura de uma economia é orientada pelo modelo macroeconômico adotado pela nação. As políticas que regulam este modelo e seus reflexos na atividade econômica são fundamentais, que necessitam de constante fluxo do fator capital via investimento direto ou indireto. “A abertura comercial só foi possível em escala planetária graças ao avanço tecnológico das informações, o qual permitiu globalizar o mundo, em especial nas suas relações comerciais. O Mundo globalizado e economicamente aberto reforçou a interdependência entre os países, países esses que, na sua maioria, para poderem fazer frente à competição econômica que se instalou, passaram a construir parcerias traduzidas em blocos econômicos regionais. Essa interdependência acaba transferindo para todas as nações do mundo os acontecimentos ocorridos em qualquer parte da terra”. (BRUM, 2005) O comércio entre países pode ser analisado a partir de dois pontos de vista. Em primeiro lugar, ele permite que cada país tenha acesso a um leque muito amplo de bens e serviços, satisfazendo as necessidades diversificadas de seus cidadãos, sem perder as vantagens da especialização produtiva. Em segundo lugar, a possibilidade de vender seus produtos em outros mercados, permite que os volumes de bens produzidos em cada país sejam muito maiores do que seriam no caso de ficarem restritos aos mercados internos exclusivamente, sendo assim, é possível aproveitar os ganhos de eficiência conhecidos como economias de escala. A partir disso a teoria do comércio internacional surgiu da necessidade da explicação das trocas internacionais. Na sequência deste trabalho será feita uma releitura das principais ideias que explicam essa teoria. 1.1. Mercantilismo Este pensamento econômico que surgiu e se manteve na Europa entre os séculos XVI e XVIII, pode ser considerada um período de transição entre o feudalismo e o capitalismo. Podemos salientar que o mercantilismo constituiu uma coleção de atitudes similares a atividade econômica doméstica e ao papel do comércio internacional. (CARVALHO, 2007) Esta escola preocupava-se na acumulação de metais preciosos, pois havia o pensamento de quanto maior seus estoques de metais preciosos e maior fossem sua população a nação seria rica tanto quanto. Tendo em mente que o pagamento das exportações e importações nesta época era feito exclusivamente por ouro e prata, então para haver o acumulo de riquezas, deveriam ser tomadas algumas medidas, que teriam como base: 10 Aumentar as exportações – que deveriam ser fomentados pelo estado através de subsídios; Diminuição das importações – o estado deveria colocar tarifas nos produtos provenientes do exterior a fim de torna-los mais caros do que se fossem produzidos no próprio país, a fim de barra-los. Com esse pensamento fica claro que a ideia central é conseguir um superávit na balança comercial, contudo se todos os países utilizassem este método as economias se fechariam a ponto de nenhuma nação realizar importações nem exportações, não haveria comércio. 1.2. Teoria Clássica No início do século XVII Adam Smith criou a teoria das “vantagens absolutas” posteriormente David Ricardo no início do século XIX anunciou a lei das “vantagens comparativas”, com a finalidade de dar sustentação teórica à argumentação em favor da liberdade de comércio. A proposta dos dois autores assenta-se nos seguintes pressupostos: Existe um único fator de produção, o trabalho; A produtividade do trabalho nos vários países é diferente; contudo, a diferença tecnológica motivadora das diferenças internacionais de produtividade não é explicada pelos clássicos; Os custos de produção são constantes; o número de horas de trabalho por unidade de produto não se altera com a quantidade produzida, nem com o tempo; O trabalho é perfeitamente móvel entre indústrias de um mesmo país (pelo que o seu preço é o mesmo entre usos alternativos) mas imóvel entre países (pelo que o seu preço pode diferir entre os países antes do comércio); A dotação fatorial (de trabalho) de cada país é fixa; O trabalho é homogêneo (todas as unidades são idênticas); Existe pleno emprego; Existem rendimentos constantes à escala; Em livre troca não há quaisquer impedimentos ao comércio (ausência de tarifas e custos de transporte nulos); Todos os mercados são de concorrência perfeita; 11 Adam Smith demonstra as vantagens da livre troca, ao observar que a abertura ao exterior conduz a um ganho importante para os dois parceiros da troca e, portanto, também para a economia mundial. Para tal bastaria que cada país deve especializar-se completamente no produto que tem vantagens, deste modo, ele propõe que os países não façam tudo: devem apenas produzir e, portanto, exportar os produtos em que têm maior produtividade e eficiência e importar aqueles em que os outros são melhores. Nota-se ainda que a teoria das vantagens absolutas apresentam uma limitação séria. Com efeito, um país ineficiente em termos absolutos em ambos os bens não poderiam participar no comércio internacional. A análise Ricardiana começa com uma crítica ao princípio das vantagens absolutas de Adam Smith, ou seja, de que o comércio internacional seja determinado por diferenças absolutas na produtividade do trabalho. Em seu modelo, Ricardo supôs que as funções de produção são diferentes entre países e que elas apresentam retornos constantes de escala. A limitação é desmistificada a partir da teoria das vantagens comparativas de David Ricardo que diz: “Fosse absolutamente menos eficiente a produzir todos os bens, continuaria a participar no comércio internacional ao produzir e exportar os bens que produzisse de forma relativa mais eficiente”. (RICARDO, 1996) No livro de Ricardo ele tem a seguinte frase que explica claramente sua análise das relações externas: “Parece-nos, portanto, que um país que possua vantagens consideráveis em maquinaria e qualificação [do trabalho], e que, por isso mesmo, esteja apto à manufatura de bens com muito menos trabalho que seus vizinhos possa, em troca por tais bens, importar uma parte dos cereais necessários ao seu consumo, mesmo que sua terra seja mais fértil e que os cereais pudessem ser cultivados com a utilização de menos trabalho do que no país do qual ele é importado”. (RICARDO, 1996) Meados de 1930, Gottfriend Haberler, releu a teoria das vantagens comparativas utilizando a teoria dos custos de oportunidade. O custo de trabalho é substituído pelo custo de oportunidade, pois os países possuem recursos limitados, logo há limite para as quantidades a serem produzidas; 1.3. Teoria Neoclássica Com o tempo, os economistas substituíram a hipótese de custo constante por custo de oportunidade. Com isso, há a compilação da lei do Custo de Oportunidade Crescente, esta é mais realista, pois, os países se especializam apenas parcialmente, e os custos marginais 12 tendem a se igualar de um país para outro. Em outras palavras, a especialização será vantajosa até o ponto em que o custo de oportunidade do bem suplementar produzido terá alcançado o preço recebido em troca do mesmo bem no mercado mundial. Dessa maneira o comércio entre nações será vantajoso em todos os momentos, desde que estes se especializem nos produtos que possuem melhores benefícios em uma situação de exportação. Para os autores a seguir, os consumidores possuem as mesmas preferências nos dois países. Tendo como base esse pensamento podemos expor a teoria da proporção dos fatores ou teoria Heckscher-Ohlin. A partir de três teoremas 1.3.1. Teorema da dotação relativa dos Fatores - Heckscher-Ohlin (H-O) A teoria das vantagens comparativas apresentava algumas limitações que seriam superadas somente no século XX, com o surgimento da diferenças de custos de produção de uma mesma mercadoria produzida em diferentes países. A teoria da dotação relativa dos fatores escrita em 1919 por Eli Filip Heckscher, foi divulgada após ser traduzida para a língua inglesa pelo então discípulo Bertil Ohlin em 1933. Ela é considerada a mais importante e influente explicação para o comércio, depois da teoria de David Ricardo. Fundamentalmente H-O afirma que as nações trocam mercadorias porque não podem comercializar os fatores de produção já que não há a possibilidade de mobilidade destes. Então o comércio de bens é uma forma indireta de comercializar os fatores de produção contidas nas mercadorias. Já que em uma nação que o trabalho é relativamente escasso importar mercadorias que utilizam capital, seu fator abundante, em maior proporção. Segundo Carvalho (2007) “as linhas gerais, a teoria de Heckscher-Ohlin afirma que cada país se especializa e exporta o bem que requer utilização mais intensiva de seu fator de produção abundante. A teoria trabalha com dois fatores de produção o trabalho (L) e o capital (K) para produzir determinados produtos, diferentemente de Ricardo que utiliza apenas um fator de produção o trabalho (w). Porém dentro da sua linha de pensamento esbarramos em uma deficiência ou, simplesmente, dificuldade de calcular, pois é tido que a tecnologia em ambos países é idêntica, implica em dizer que o conjunto de técnicas utilizadas está disponível para os produtores de um mesmo bem, apenas difere a proporção em que os fatores são empregados. 13 1.3.2. Teorema da equalização do preço dos fatores de produção - Heckscher-OhlinSamuelson A diferença na dotação relativa de fatores entre os países tem como consequência a remuneração relativa. Os preços relativos dos fatores escassos são maiores do que os preços relativos dos fatores abundantes. Se fosse possível a completa mobilidade dos fatores entre os países, ambos os fatores, o capital e o trabalho migrariam em busca de melhor remuneração, esse processo eliminaria as diferenças nas dotações e, por consequência, nas remunerações relativas dos fatores entre os países. Tendo como base para estudo o teorema de H-O, Paul Samuelson em 1948 escreveu o teorema da equalização dos preços dos fatores de produção. Este demonstra que o comércio de mercadorias tem o mesmo efeito sobre as taxas de salários e de retorno sobre o capital físico. Ou seja, o comércio equaliza os preços dos fatores de produção. 1.3.3. Teorema de Stolper – Samuelson Segundo o teorema de Stolper-Samuelson o comércio beneficia o fator de produção abundante de cada país, em detrimento do fator escasso. Para efeito de análise, os pensadores até aqui possuem um pensamento de pleno emprego, isso significa que não há trabalho nem capital ociosos. Então podemos deduzir que as diferenças nas dotações relativas de fatores provocam diferenças nas remunerações do trabalho e do capital, a remuneração dependerá de qual fator de produção for abundante e escasso. O comércio e especialização em uma situação relativamente parecida com essa, o preço do fator abundante aumenta enquanto o do escasso diminui, em ambos os países. O processo que ocorre é simples, ou seja, as mesmas quantidades de trabalho e de capital continuam empregadas, a parcela dos salários na renda aumenta, e diminui os juros, nos países onde o trabalho é abundante. O mesmo processo redistribui renda a favor do capital no países em que o trabalho é escasso. (CARVALHO, 2007) 1.3.4. Modelo dos fatores de produção específicos As teorias formuladas principalmente por Adam Smith, Ricardo e H-O consideravam os fatores de produção homogêneo, o trabalho e o capital, ou seja, qualquer trabalhador poderia alterar livremente o seu trabalho, não sendo considerado que estes trabalhadores 14 teriam de possuir especializações para exercerem suas atividades. Do mesmo modo o capital poderia se deslocar livremente de uma área para outra sem haver perda de rendimento. A imobilidade dos fatores de produção fora tratada por Paul Samuelson e Ronald Jones, esta contribuição ficou conhecida como modelo dos fatores de produção específicos. A teoria foi construída tendo como pensamento principal de que os fatores de produção não podem se deslocar de uma indústria a outra. Se caso existisse a possibilidade de fazer esta troca, haveria uma perda de produtividade a ponto de se tornar inviável o deslocamento dos fatores de produção. O estudo parte do pressuposto de que havendo um fator homogêneo, o trabalho, no qual os trabalhadores poderiam passar de um ramo a outro sem qualquer perda de produtividade, considerando que o único ganho que eles obteriam seria o aumento na renda. Enquanto o fator específico seria o capital, sendo difícil realizar a mobilidade um ramo a outro, por exemplo de uma construção civil ao têxtil. A relação de troca entre estes países é encontrada nas relações entre produção, consumo e preços, já que o consumo de um bem é igual a sua produção. Se levamos em conta os preços dos bens, podemos dizer que o valor do consumo é igual ao valor de sua produção. Com o comércio, as quantidades produzidas em um país podem diferir, porém não o valor de sua produção e de seu consumo, pois, no final das contas, as importações são pagas com as exportações. Os ganhos deste comércio é facilmente percebido, já que cada país poderia consumir além de sua produção interna. 1.4. Teoria contemporânea do comércio internacional No fim da década de 20 o mundo se encontrava diante de uma crise, resumidamente é caracterizada como crise de superprodução. A partir de então, a demanda passa a receber atenção nos estudos econômicos. O economista Jonh Maynard Keynes, analisa o nível de emprego na economia e a proporção da renda que é gasta em consumo e investimento, constatando que nem todo o dinheiro recebido pelas famílias é gasto em consumo, sendo parte deste poupado para preocupação e/ou especulação. Este pensamento é apresentado a partir das curvas de demanda e oferta, as quais permitem verificar os efeitos do comércio internacional sobre a produção, o consumo e o preço. A partir disto avança-se para a verificação dos efeitos, em termos de bem-estar, do 15 comércio internacional sobre os consumidores dos bens importados, sobre os produtores submetidos à concorrência das importações e sobre o conjunto da nação. A teoria contemporânea do comércio internacional questiona os fundamentos da teoria de Heckscher-Ohlin-Samuelson. Há um interpretação diferente com relação a concorrência perfeita, onde deixa-se de acreditar nesta hipótese. Consequentemente há o aceite de que o Estado deve estar parcialmente presente na economia, pois há concorrência imperfeita e que existem economias de escala. Mais recentemente Paul Krugman afirma que “(...) De maneira retrospectiva, nos parece evidente que a teoria do comércio internacional deveria repousar fortemente sobre os modelos de economia industrial. O essencial do comércio industrial é realizado por produtos de setores que nós consideramos, sem hesitação, como oligopólios quando nós os analisamos sob o aspecto doméstico.” (KRUGMAN, 1998) Para Krugman a melhor maneira de compreender o comércio internacional é a partir do estudo que se passa no interior dos respectivos países. Ou seja, estudar as características das empresas tais como: técnicas de produção e os comportamentos estratégicos das empresas. Dito isto, o papel do governo na economia seria de providenciar condições de haver trocas comerciais entre países sem haver protecionismo algum, livre comércio. 1.5. Teoria da política comercial Para os economistas clássicos o livre comércio é o melhor caminho a ser seguido, afirmam que a liberalização das trocas leva a ganhos líquidos tanto para as nações como para o resto do mundo, porém a preocupação com a economia interna continuou sendo característica dos governos contemporâneos, geralmente o governo intervém com o objetivo de favorecer o produto nacional quando há um concorrente estrangeiro, há intervenção estatal direta sobre o comércio. Esse processo é chamado de proteção e, embora predominante, vise reduzir importações, pode incluir também mecanismos de promoção às exportações. Esta proteção pode ocorrer de diversas maneiras, geralmente condiz com a política pública exercida pelos governantes. A seguir está exporto as principais medidas utilizadas pelos governos para conter o comércio internacional. 16 1.5.1. Tarifa aduaneira As tarifas aduaneiras correspondem ao imposto incidente sobre os produtos nas transações internacionais. Neste contexto há as tarifas sobre a exportação, que hoje, é utilizada por poucos países, já que os mesmos buscam a venda para fora na maior quantidade possível, quando utilizada é empregada em países em desenvolvimento para haver aumento das receitas. E também há tarifas para sobre a importação de mercadorias, esta é utilizada frequentemente visando a proteção dos produtos/empresas que não conseguem competir com empresas do exterior, tendo como princípio a elevação do preço desta a tal ponto que torne-se inviável a aquisição do produto vindo do exterior. (BRUM, 2005) 1.5.2. Subsídios e contingenciamento O Estado pode intervir diretamente sobre a produção mediante os subsídios, canalizando recursos do Tesouro para apoiar determinas atividades produtivas. Visando o comércio destes produtos com um preço abaixo do comercializado no exterior em função das vantagens recebidas na redução de custos. (BRUM, 2005) Outra maneira de beneficiar a produção interna é com a prática de contingenciamento às importações, também chamado de cotas de importação. Incide diretamente sobre a quantidade física de mercadorias importadas em um determinado período de tempo. 1.5.3. Taxa de proteção A taxa de proteção é uma medida para fazer os preços das mercadorias se equivalerem quanto na compra tanto na venda. As principais maneiras deste cálculo são: 1. Taxa de proteção nominal: compara o preço interno ao externo. 2. Taxa de proteção efetiva: atua diretamente no preço dos insumos, nacionais e internacionais utilizados na produção final. Sendo que o governo pode reduzir ou aumentar as tarifas de importação dos insumos dependendo do preço de cada produto, ela pode ser inclusiva para todas as mercadorias ou pode ser exclusiva apenas a algumas. (BRUM, 2005) 17 1.6. Críticas ao comércio internacional Conforme fora exposto há uma diversidade de teorias que visam o crescimento econômico a partir de uma liberalização ao comércio internacional, porém com elas vieram muitas críticas, e quase todas defendendo o protecionismo. As teorias do comercio internacional recomendam sempre buscar o livre comércio, afirmam que este é o melhor caminho para existir crescimento de uma nação. No entanto a integração econômica já fora defendida também com propósitos protecionistas, tendo como meta o desenvolvimento, esse foi o caso da criação do Zollverein em 1834. Tendo o argumento de que com uma abertura comercial elevada prejudicaria a indústria nascente, ou seja, para haver um desenvolvimento interno teria de controlar as importações. (BRUM, 2005) Outra teoria diz que havendo maior grau de exposição aos mercados internacionais e a maior fluidez de recursos reduz os graus de liberdade dos governos locais. 2 Autores como Servan Schreiber (1967) e Poulantzas (1974) manifestavam sua preocupação com essa menor liberdade dos governos nacionais, em função das características do capital estrangeiro e da subordinação das prioridades nacionais aos interesses multinacionais. Uma deficiência que impacta diretamente na abertura comercial está ligada diretamente ao sistema financeiro dos países, sendo esta gerada pela a volatilidade dos investimentos internacionais, e, a vulnerabilidade que significa uma baixa capacidade de resistência das economias nacionais diante de fatores desestabilizadores ou choques externos. A CEPAL, nesta época, defendendo a ideia de autonomia e soberania dos países latinoamericanos defendia a ideia do desenvolvimento via industrialização pela substituição de importações associada à integração regional. Enfim, Celso Furtado em sua obra diz que a crítica essencial a teoria do comércio internacional é que esta estabelece os critérios de racionalidade dos agentes econômicos em uma situação que é qualitativamente distinta da realidade. (FURTADO, 1983) Nesse contexto, cabe agora verificar como a economia brasileira evoluiu. Assim, se procura destacar alguns aspectos desta evolução a partir do término da Segunda Guerra Mundial, em 1945. 18 2. ASPECTOS DA EVOLUÇÃO DA ECONOMIA BRASILEIRA “O desenvolvimento da formação econômica é identificado através da expansão das trocas internacionais. Os mercados entre povoados ou nações existem há muito tempo, seja por escambo, seja por trocas monetárias, mas elas existem a partir do momento que há um excedente da produção, ou que haja algo que a outra nação tivesse que a economia interna não possuísse”. (BRUM, 2009) A transformação do comércio internacional fora gradual, na maioria das vezes seguidas pelos fatores de produção de cada período. A partir deste momento o mercado passa a ter maior influência o conjunto da vida econômica e social. No Brasil, as mudanças mais significativas ocorreram a partir do início do século XX, em duas direções. De um lado, se esgotam as possibilidades de crescimento da economia baseada na expansão da produção de bens primários destinados à exportação, particularmente o café. Todavia, a superprodução deste produto, associada à crise de 1929, leva à necessidade de sustentar esta atividade através de recursos públicos. A crise do café comprovava definitivamente a vulnerabilidade e inviabilidade da monocultura exportadora como sustentáculo da economia, fato que levou a uma pressão para a criação de novas fontes de riqueza. De outro lado, intensificou-se o processo de industrialização, iniciado ainda durante a primeira guerra mundial. Na prática, o bloqueio econômico internacional gerado pela guerra dificultou as importações de produtos industrializados. Isso, juntamente com a crise do café, levou o Brasil a voltar-se para o mercado interno. A partir do final da crise de 1929, ocorrido em 1935, o mundo conhece seu principal período de crescimento econômico, liderado pelas ideias keynesianas. Nesse momento, a lógica do livre comércio é relativizada, porém, não ignorada. As principais mudanças que ocorreram foram: Interdependência internacional; Intervenção dos Estados na economia; Busca de um sistema monetário, há surgimento da nova estrutura econômica mundial tendo início em 1944 com ponta pé inicial na Conferência de Bretton Woods. Era necessário se adaptar as novas tendências econômicas seguidas pelos novos pensamentos de crescimento. Há a criação do Bird (Banco Mundial) e o FMI (Fundo Monetário Internacional) com intuito de reconstruir o sistema internacional de intercâmbios comerciais e de pagamentos e facilitar recursos creditícios para atender à reconstrução da Europa e do Japão. 19 Juntamente com estes também há o surgimento do Gatt (Acordo Geral Sobre Tarifas e Comércio) que hoje foi substituído pela OMC (Organização Mundial do Comércio) tendo a função de regulamentar e liberar o comércio internacional. Igualmente nesta época, nasce a ONU (Organizações das Nações Unidas) cujo objetivo principal é criar e colocar em prática mecanismos que possibilitem a segurança internacional, desenvolvimento econômico, definição de leis internacionais, respeito aos direitos humanos e o progresso social. Nesse contexto mundial, o centro dinâmico da economia brasileira começou a deslocar-se. De uma economia fortemente agrária e orientada para o exterior, o país passa a transferir, progressivamente, seu eixo econômico em direção ao mercado interno, fortalecendo o crescimento industrial e urbano. O processo já estava iniciado, mas o apoio oficial a essa guinada só veio mais efetivamente a partir de 1930. (BRUM, 2010), A segunda guerra mundial (1939 – 1945), também criou condições favoráveis ao avanço da industrialização brasileira. As características foram parecidas à primeira guerra mundial, porém, com efeitos de escala maior. Com a guerra praticamente fecharam-se a possibilidade de acesso a créditos externos, a redução ao mínimo a importação de derivados do petróleo e escassez interna de produtos importados, consequentemente elevação dos preços internos. Segundo Brum (2010), isso obrigou o país a um extraordinário esforço interno próprio, para atender à demanda e manter a economia em funcionamento. Como resultado, instalaramse pequenos e médios empreendimentos artesanais. O governo, por sua vez, preocupou-se com a indústria básica de grande porte, uma vez que a iniciativa privada não possuía folego financeiro nem experiência empresarial, criou-se, com apoio financeiro e tecnológico norteamericano, a Companhia Siderúrgica Nacional (1941), que iniciou a implantação da usina de Volta Redonda, destinada à produção de aço em grande escala. Também foi criada em 1942 a Companhia do Vale do Rio Doce, destinada à exportação de minérios de ferro (bruto) para atender, inicialmente, a necessidade dos aliados na produção de armas e equipamentos para a guerra. A política econômica de substituição de importações foi crucial para o desenvolvimento da economia interna do país, implantada no Brasil a partir da proposta defendida pela CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe). A proposta de desenvolvimento visa substituir os produtos que são importados dos demais países e produzir progressivamente. 20 Na evolução desse processo destaca-se três fases de implantação, de acordo com as prioridades da nação: Produção de bens de consumos, bens de consumo duráveis e bens de capital e de insumos básicos. Sendo descritos a seguir. a. Produção de bens de consumo imediato (bens não duráveis), perpetuou do início do plano até meados de 1950. Buscou-se produzir para atender às necessidades mais imediatas dos consumidores, há a criação principalmente de empresas artesanais e oficinas nas cidades que não possui demanda em grande escala. As regiões que possuíam uma demanda razoável, há a fomentação de fábricas de pequeno porte, as indústrias de médio porte e mesmo as de grande porte nas áreas mais habitadas. Os principais ramos industriais desta época foram o têxtil, a alimentação e o vestuário. Outros setores que obtiveram um crescimento significativo foram os utensílios domésticos, instrumentos de trabalho, equipamentos simples de uso caseiro. b. Produção de bens de consumo duráveis, a segunda fase iniciou-se a partir da metade do ano de 1950 e foi até meados da década de 70, tornando-se o setor mais dinâmico da economia brasileira. A economia brasileira dá um salto qualitativo e quantitativo, pois, nessa nova fase de industrialização tornou-se possível concentrar a produção, em escala, numa determinada região do país, destaque para região de São Paulo, e posteriormente há a distribuição dos produtos para todo território nacional onde houvesse consumidores com suficiente poder aquisitivo. Tratava-se de bens sofisticados para os padrões brasileiros da época, cujo preço compensador garantia boas perspectivas de lucro, tanto para a indústria quanto para a rede de revendedores que progressivamente foi cobrindo toda extensão do país. Essa mudança passou a exigir a ampliação e o aperfeiçoamento da infraestrutura, tais como energia, comunicação e transporte. Produção de bens de capital e de insumos básicos. Neste período, mais precisamente em 1964, o Brasil, juntamente com os países subdesenvolvidos, passou a participar de um novo bloco econômico chamado “Países NãoAlinhados”. A nova política externa tinha pretensão de aproximar o Brasil aos países do Terceiro Mundo, e defendia a autodeterminação dos povos e condenava abertamente o colonialismo no mundo. c. A fase de produção de bens de capital e de insumos, foi a última fase de implantação das substituições de importações, teve início em 1974. Com dificuldades na importação de bens, por causa das duas grandes guerras mundiais, 21 alertaram a necessidade de ampliação da capacidade produtiva. Com isso, houve forte apoio oficial a fim de fomentar a implantação e a expansão das indústrias, tornando o Brasil o único país de industrialização tardia, ou de desenvolvimento emergente a completar com êxito razoável o processo de industrialização por substituição de importações. Esse fato colocou o Brasil na posição de país mais industrializado entre as nações em desenvolvimento, com um parque industrial relativamente moderno e diversificado. Paralelamente, a população brasileira apresenta um importante crescimento, passando de 41,2 milhões de habitantes em 1940 para 190,8 milhões de habitantes no ano de 2010. Porém, tal movimento se dá com um forte êxodo rural. A população rural brasileira, que em 1940 representava 68,8%, atinge apenas 15,6% do total no ano de 2010, ou seja, 29,9 milhões de pessoas (cf. gráfico 1). Gráfico 1. Evolução da População Brasileira do ano de 1940 a 2010 Fonte: O autor, com base nos dados do IPEA/IBGE No fim da década de 1970 a economia brasileira apresentava claros sinais de fraqueza, para manter o ritmo de expansão econômica. Entre outros exagero na concentração econômica e de renda, acentuado desequilíbrio no balanço de pagamentos, elevada dívida externa, crescimento dependente de ingresso de capital externo, inflação elevada e em ascensão e 22 conflitos trabalhistas. Para manter os níveis de crescimentos da economia, o governo utilizou as reservas cambiais disponíveis, usou o crédito externo no nível máximo obtido e apelou também para o endividamento interno. Porém isso culminou em uma crise interna e externa. A partir disso, a década de 1980 foi um período que o país enfrentou crise financeira e estagnação econômica, concomitantemente com uma economia fechada ao resto do mundo e a espantosa velocidade da revolução tecnológica, dos novos processos produtivos e da intensificação do comércio, no mundo, provocaram rápida defasagem da nossa capacidade produtiva. A ideia de que com a industrialização se construiria a independência econômica do país, contudo, não se efetivou plenamente. A expansão industrial aumentou a força e a superioridade da economia, mas, por outro lado, a dependência assumiu novas formas. Com o passar do tempo e com a diversificação industrial, algumas atividades passaram a ser mais rentáveis do que as outras. Consequentemente as empresas que possuíam maior experiência, capital e tecnologia garantiram um espaço. Estas empresas, quase em sua totalidade, eram de capital externo e buscavam os setores que possuíam maior rentabilidade, ou seja, a produção de bens de consumo duráveis e de bens de capital, destinados à população que possuía renda elevada. Assim, passava-se a produzir no país, mas através de empresas estrangeiras. O objetivo era abastecer o mercado interno brasileiro daqueles produtos que, antes, o Brasil importava, o que lhes permitia a continuidade do controle sobre o mercado brasileiro nos setores mais importantes da atividade econômica. Junto com o capital, ocorreu também acentuada dependência de tecnologia importada do exterior (BRUM, 2010) A fim de conter a crise que se instalou no país neste período, o governo foi obrigado a submeter-se ao FMI em fevereiro de 1983. Em outras palavras, era a falência, pois com o acordo transferia ao sistema financeiro internacional as decisões fundamentais sobre a gestão financeira do país. Logo, uma drástica alteração ocorreu a partir da dívida externa, que foi a inversão do fluxo de capital. Deixando de ser um receptor de capital externo que eram destinados a investimentos, passando a ser transferidor de capital líquido ao exterior, principalmente aos bancos credores dos países ricos. Os setores mais atingidos na economia após as medidas serem implantadas pelo FMI foram as indústrias de bens de consumo, de bens de capital, construção civil, comunicação e transporte. As empresas estatais também foram obrigadas a reduzir seus investimentos, o que gerou diminuição da produção e, consequentemente gerando desemprego em massa. 23 Depois de uma dolorosa fase de recessão e ajustes às exigências externas ditadas pelos credores internacionais, a produção voltou a crescer e em 1984, puxada principalmente pelo aumento das exportações. Em fevereiro de 1986, o governo lança o Programa de Estabilização da Economia Brasileira, conhecido como Plano Cruzado. Suas principais diretrizes eram controlar a inflação e reorientar a econômica. O plano buscava conciliar o combate à inflação com a manutenção do crescimento econômico e do poder aquisitivo dos salários. O setor econômico do país não para, não há como pedir uma pausa para ser verificado qual as medidas que devem ser tomadas a fim de obter o maior crescimento, ou neste caso sair de uma crise inflacionária. Com isso o Plano Cruzado foi apenas uma medida emergencial a fim de corrigir distorções conjunturais da economia brasileira. Porém com prazo limitado e curtíssimo, entre três e seis meses. (BRUM, 2010) O governo não conseguiu realizar nenhum diagnóstico, e com isso nenhuma medida estrutural foi colocada em prática para frear a crise que ainda existia, que estava momentaneamente estabilizada. Com isso a crise financeira voltou com força redobrada depois que as medidas tomadas não surgiam mais efeito. (BRUM, 2010) Os benefícios que o Plano Cruzado havia conquistado até então, foram passageiros, as consequências do fracasso tiveram efeitos prolongados, tais como: desorganização do sistema produtivo e do sistema de preços, deterioração das contas externas, queda das exportações e aumento das importações, redução substancial das reservas internacionais, elevação da dívida púbica federal internacional, a inflação explodiu nos anos seguintes, a insegurança e incerteza nos agentes econômicos e na sociedade. (VELLOSO, 1996) Com o fracasso do Plano Cruzado, o governo ficou desacreditado, os empresários deixaram de realizar investimentos por causa das incertezas que havia no mercado e consequentemente a população desconfiava de todas as ações que o governo tomava. A econômica brasileira enfrentava uma nova crise, desta vez tendo como resultados a estagnação econômica, descontrole inflacionário, desequilíbrio nas contas externas e internas e incapacidade governamental. Segundo Brum (2010) A crise brasileira dos anos de 1980 e começo dos 90 foi talvez a mais longa, profunda e complexa da nossa história. E, consequentemente, de mais difícil superação. Na década de 1990, os brasileiros se deparam com o desafio central de viabilizar o país. Para acontecer isso, impõem-se quatro exigências principais: superar a crise, lançar as bases de uma nova etapa de desenvolvimento, desencadear o processo de erradicação das desigualdades sociais e aprofundar a democracia. 24 No final do século XX, mudanças profundas se iniciam no cenário mundial. Uma nova ordem econômica, com consequências na estrutura do poder, na conjuntura das nações e na vida das pessoas, se instala. Destacam-se: Hegemonia do neoliberalismo; Nova ordem mundial, com a consolidação de três centros econômicos dominantes (EUA, União Europeia e Japão); Globalização (financeira, da produção, dos mercados, do consumo, da cultura...) comandada pelas grandes corporações de empresas transnacionais; Nova revolução tecnológica está em marcha acelerada, liderada pela eletrônica e pela informática; Desenvolvimento de uma rede de comunicação instantânea abrangendo o planeta; Mudanças dos centros de decisão: não são mais os estados nacionais (governos), mas sim estruturas transnacionais que influenciam as grandes decisões no mundo em cada país; Ressurgimento do sentimento nacionalista; Agravamento das disparidades de renda e de padrão de vida entre os países, regiões e pessoas; O modelo econômico vigente, aprofundado na segunda metade do século XX, possibilitou o maior crescimento econômico da história da humanidade, mas é inviável no futuro. Além de concentrar a riqueza e o poder de decisão, restringindo a democracia, agride brutalmente a natureza e compromete o meio ambiente, tendendo a ameaçar a própria vida humana sobre a Terra. (BRUM, 2001) A economia brasileira passou por profundas transformações nos anos de 1990, a partir de uma série de mudanças estruturais e institucionais que buscaram inserir novamente o país no cenário econômico internacional, do qual fora “excluído” nos anos de 1980, juntamente com outros países latino-americanos, por conta da crise da dívida externa. Surgiu uma nova orientação das políticas, particularmente vinculada às ideias liberais, tendo enorme repercussão no setor externo brasileiro. 25 O Brasil se encontra em processo de organização, tanto na esfera econômica, quanto social e politicamente. O governo brasileiro neste período e nos posteriores passa a atuar no sentido de “arrumar o Brasil”, uma política que atua gerenciando a economia brasileira. Os primeiros anos da década 90 foram marcados no Brasil por um forte processo inflacionário, a superação da crise brasileira depende da capacidade do país em enfrentar um conjunto de desafios interligados cuja confluência converge na estabilidade econômica e na estabilidade política – bases para a viabilidade e o sucesso de um novo projeto nacional de desenvolvimento. (BRUM, 2010) A estabilidade econômica significaria no primeiro instante controlar a inflação, a população e os investidores não possuíam confiança necessária para transacionar a moeda brasileira da época, com isso buscando equilíbrio de preços e salários através de combinações de medidas governamentais, mecanismos de mercado, ação da sociedade organizada e comportamento dos indivíduos. A fim de mantê-los compatíveis com a retomada e a sustentação dos investimentos produtivos, o aumento e a qualificação da produção e a progressiva melhora do poder aquisitivo dos salários e das condições de vida da população. A inflação crônica e descontrolada torna-se o principal fator de estrangulamento da economia brasileira, afetando de forma direta os investimentos produtivos e consequentemente a geração de empregos. Alimentava a especulação financeira e distorcia a realidade econômica. A perda do poder de compra com a elevação constantes de preços que ocorria na economia tornava-se uma preocupação nacional. Entre 1980 e 1994 a inflação brasileira cresce significativamente, com destaque para o ano de 1993 quando bateu em 2.489% (cf. gráfico 2). Várias tentativas de combate à inflação, através de tratamento de choque, haviam fracassado, agravando as distorções na economia e provocando frustação e desconfiança na sociedade. Todavia, em 1993 o Brasil entra em uma nova etapa. Ganha força a ideia de que é preciso um plano econômico sustentável para controlar a crise que se instalou na nação no final da década de 1980. É nesse momento que nasce o Plano Real. 26 Gráfico 2. Inflação Brasileira do ano de 1980 a 1994 (%) Fonte: O autor, com base nos dados do IBGE/SNIPC (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Sistema Nacional de Índices de Preços ao Consumidor) O programa brasileiro de estabilização econômica é considerado o mais bem-sucedido de todos os planos lançados nos últimos anos para combater casos de inflação crônica. Combinaram-se condições políticas, históricas e econômicas para permitir que o Governo brasileiro lançasse. Organizado em etapas, o plano resultaria no fim de quase três décadas de inflação elevada e na substituição da antiga moeda pelo Real. O Plano Real foi implantado definitivamente no dia 1º de julho de 1994. Na ocasião a Unidade Real de Valor (URV) é substituída pela nova moeda, o Real. A implantação do Plano Real se deu através de três etapas: equilíbrio das contas públicas, criação da URV e o lançamento do Real. Durante o debate do nome da nova moeda, cogitou-se chama-la de Cristal, Coroa ou Cruzeiro-Cruzado, mas o nome Real vingou pelas possibilidades publicitárias que oferecia. O programa para estabilização da economia passou pela desindexação da economia, por um amplo processo de privatizações, pelo equilíbrio fiscal, pela abertura econômica, pelo contingenciamento e por políticas monetárias restritivas. Os efeitos imediatos do Real refletiram-se no aumento da capacidade de consumo da população e no amplo controle da inflação que caiu de taxas de 50% para 3%. 27 A reforma monetária que ocorreu com a implantação do Plano Real, derrubou a inflação sem a ocorrência de uma reforma fiscal. Desde então, a inflação foi dominada sem congelamentos de preços, confisco de depósitos bancários ou outros artificialismos da heterodoxia econômica. A estabilidade monetária em economias de mercado, se considerada em termos absolutos, correspondendo a inflação zero, é uma abstração. Porém, esta inflação igual a zero com crescimento econômico ocorreu apenas uma vez na história econômica, apenas em Portugal, no tempo de Salazar. Ou seja, agora há um padrão de bom comportamento que, limita a inflação, e estabelece metades inflacionárias a serem seguidas pelos governos. (LEITE, 2002) Com isso, a economia brasileira se estabilizou desde a implantação do Plano Real, com uma significativa redução da inflação (cf. gráfico 3). Gráfico 3. Inflação brasileira do ano de 1994 a 2012 (%) Fonte: O autor, com base nos dados do IBGE/SNIPC Em síntese, o Brasil, com o Plano Real e os ajustes nele realizados no transcorrer dos anos, conseguiu estabilizar sua economia e acelerar as relações comerciais internacionais. Todavia, esse movimento pode ser considerado como uma primeira etapa de um processo mais amplo. A complementação do mesmo requer a realização de reformas estruturais visando tornar o funcionamento da economia e do Estado mais ágeis, eficientes e 28 competitivos. Essa segunda etapa, que permitirá um crescimento econômico maior e mais sustentável, alavancando uma participação mais consistente do país no comércio internacional, ainda não foi realizado. Desta forma, a abertura comercial brasileira, embora tenha registrado melhorias no período pós-Plano Real, está longe de colocar o Brasil como uma nação de economia aberta, como se verá no capítulo seguinte. 29 3. A ABERTURA ECONÔMICA BRASILEIRA PÓS-PLANO REAL “Em economia não há truques ou milagres. É preciso fazer as ligações cuidadosas e persistentes. Em longo prazo, o desenvolvimento econômico depende do aumento da capacidade produtiva e da geração da correspondente demanda real para ocupa-la. Se isso ocorrer de forma equilibrada, esse processo poderá ter continuidade.” (LEITE, 2002) O crescimento econômico que ocorreu após a implantação do Plano Real no Brasil, será exposto o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro para o período de 1995 a 2011. O PIB representa a soma (em valores monetários) de todos os bens e serviços finais produzidos numa determinada região (quer sejam países, estados ou cidades), durante um período determinado (mês, trimestre, ano, etc). O PIB é um dos indicadores mais utilizados na macroeconomia com o objetivo de mensurar a atividade econômica de uma região. Na contagem do PIB, considera-se apenas bens e serviços finais, excluindo da conta todos os bens de consumo de intermediário. Isso é feito com o intuito de evitar o problema da dupla contagem, quando valores gerados na cadeia de produção aparecem contados duas vezes na soma do PIB. O objetivo prioritário foi restabelecer a estabilidade monetária, “A correlação de forças existentes na sociedade brasileira, na década de 1990, indicava a hegemonia da posição que defendia a implantação de uma etapa mais avançada do capitalismo brasileiro. O país, a economia e os agentes econômicos foram sendo submetidos a um “choque de capitalismo”. O estado reduziu sua presença e sua proteção, deixando as empresas mais expostas às leis do mercado e da concorrência.” (BRUM, 2011). Os investimentos passam progressivamente à iniciativa privada. Com isso o setor privado assume mais responsabilidade, tanto na realização dos investimentos na produção, inclusive na indústria básica e na infraestrutura, quanto no desenvolvimento tecnológico e na qualificação de mão de obra. A iniciativa privada passa a ter interesse em produzir certos produtos que antes não pareciam ser tão atrativos economicamente. Para buscar um crescimento elevado do PIB o governo terá de criar incentivos e propiciar acesso a recursos produtivos no território nacional, nas mesmas condições que as empresas com acesso ao mercado global. Somente a ação do estado na economia poderá dar condições para que as empresas brasileiras tenham acesso a recursos, formulando e implantando empresas que sejam competitivas com empresas do exterior. 30 O PIB do Brasil no período de 1995 a 2012 cresce 31,1%., passando de US$ 770,4 bilhões para US$ 2,48 trilhões, sendo que o crescimento mais significativo se deu a partir 2005 (cf. Gráfico 4). Gráfico 4. PIB Brasil do ano de 1995 a 2012 (US$ Bi) Fonte: O autor, com base nos dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) Neste período pós Plano Real, o país voltou a acelerar sua industrialização conseguindo elevação acentuada e gradual da tecnologia, com as multinacionais elevando o seu potencial de produção. Grandes grupos econômicos nacionais se formaram. As empresas estatais, que em muitas vezes eram utilizadas para conter a inflação brasileira, sendo oferecidos bens de consumo com baixo custo, porém isso resultou em um endividamento governamental. A partir da década de 90, estas empresas foram passadas ao setor privado, sem qualquer benefício de subsídios ou ajuda, foram vendidas aos empresários por um preço compatível ao mercado e que tivessem interesse em adquiri-las e explorar a sua produção. O poder de compra da população interna, passa a ser uma das principais alavancas para o crescimento econômico, um recurso que era pouco explorado nas décadas passadas justamente pelo receio que havia pela alteração constante dos preços, então havia a preocupação de que poupar este dinheiro era motivo de segurança financeira pessoal. Segundo 31 Brum (2011), a realidade chocante é que éramos também o maior mercado interno em potencial do mundo a ser relegado a um plano inferior, em decorrência da péssima distribuição de renda. Corrigir as injustiças e os desequilíbrios sociais, além de um imperativo social e da cidadania, é também uma exigência da prosperidade econômica. Ampliar o mercado é um dos caminhos para fortalecimento da economia e da sociedade. A participação direta do Estado na economia diminui, com o governo passando um agente regulador sobre a economia. Segundo Brum (2011), historicamente o Brasil, é um país carente de capital. A população tem um limitado poder de poupança, consequentemente de poder de investimento. Sendo assim há uma eminente busca de capital externo para viabilizar empreendimentos ou implantar mudanças modernizantes em setores produtivos. É importante salientar a necessidade de se reduzir a dependência do capital externo em relação aos investimentos no país. Com o desenvolvimento da economia e crescimento da renda nacional se busca esta redução, sendo que a população e o Estado devem assimilar que é importante gerar poupança. No mundo globalizado atual o centro de decisões fica nos países centrais e nas corporações transnacionais, que controlam dinheiro, conhecimento, tecnologia, mercados, expandem seus negócios e acumulam lucros. O capital e tecnologia perdem identidade nacional, as empresam produzem, compram e vendem em âmbito mundial. A globalização é o reflexo do sistema capitalista. É uma etapa de domínio mundial do capital, que favorecem alguns e excluem muitos, agravando ainda mais os problemas sociais. “A questão da integração é extremamente complexa. O Brasil é um país desigualmente desenvolvido. Ou “um país injusto”, de acordo com o presidente Fernando Henrique Cardoso. Há vários “brasis”. Sob o ponto de vista econômico, coexistem no espaço territorial brasileiro um país agrário, um país industrial e um país cada vez mais informatizado (Batista, 1994, p. 48). Não é aceitável que apenas o Brasil industrializado, moderno e dinâmico se integre. A integração não pode se dar às custas da perpetuação do atraso dos “outros brasis”. Por isso, a efetiva integração nacional é uma imposição histórica que não pode mais ser adiada. Tratase de construir a Nação, base fundamental de sua projeção no mundo”. (BRUM, 2010) A abertura do mercado brasileiro, que se intensificou a partir de 1990, possibilitou o ingresso de bens de consumo e de produção. A entrada de máquinas e equipamentos industriais de última geração favoreceu a modernização do parque industrial, tornando-se mais competitivo. No entanto, esta nova fase da história econômica brasileira não ficou livre de problemas. Uma série de choques externos colocou em risco a sustentabilidade do Plano Real, 32 levando o governo a usar as políticas monetária e cambial no sentido de frear o consumo doméstico e apreciar a taxa de câmbio. Um dos pontos que ajudou o Brasil a dar um salto qualitativo quanto a consistência da moeda nacional foi a política cambial adotada em 1994, vinculando a nova moeda brasileira a moeda ao dólar (US$). Esse vínculo aumentou a credibilidade internacional, a relação de valor constituída na época foi de um real era igual a um dólar (R$ 1,00 = US$ 1,00). Mas o mercado acabou valorizando ainda mais o real, na prática: US$ 1,00 chegou a ser comprado por apenas R$ 0,83, alguns meses depois. Essa sobrevalorização do real teve consequências positivas e negativas. Entre as positivas está o fato de ter ajudado a derrubar drasticamente a inflação, a inflação teve queda pela seguinte maneira: provocou a redução dos preços dos produtos importados, forçando a queda dos preços internos; forçou a aceleração do processo de modernização das empresas estabelecidas no país, favoreceu as empresas na importação de máquinas e equipamentos, contribuindo para intensificar a modernização das indústrias e aumentar-lhes a produtividade, a eficiência e a competitividade. O comércio internacional ou comércio exterior é a troca de bens e serviços através de fronteiras internacionais ou territórios. Na maioria dos países, ele representa uma grande parcela do PIB. O comércio internacional está presente em grande parte da história da humanidade, mas a sua importância econômica, social e política se tornou crescente nos últimos séculos. O avanço industrial, dos transportes, a globalização, o surgimento das corporações multinacionais, o outsourcing tiveram grande impacto no incremento deste comércio. No acompanhamento das exportações e importações brasileiras por grau de elaboração do produto, o Brasil adota a classificação por fator agregado. Nesse conceito, as mercadorias são classificados como produto básico ou industrializados, sendo este último grupo subdividido em semimanufaturado e manufaturado. 33 Gráfico 5. Câmbio Brasileiro do ano de 1995 a 2012 (Média Anual) Fonte: O autor, com base nos dados do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) O comércio exterior brasileiro é descentralizado, não possuindo um órgão específico para a atividade. Em outros países, como na Itália, existe uma pasta exclusiva para os negócios internacionais, o Ministério do Comércio Exterior. Aqui, a gestão se dá por áreas de competências, como Política de Comércio Exterior, Política Fiscal, Política Financeira, Políticas Bilaterais de Relações Internacionais, entre outras. Nesse cenário do início do século XXI, o Brasil participa ativamente como protagonista regional estabelecendo várias alianças políticas, visando o fortalecimento do seu posicionamento político e da sua economia. Dessa forma, ele faz parte do chamado grupo dos BRICs, composto pelo Brasil, Rússia, Índia e China. Na cúpula de São Petersburgo (2006), o Brasil inseriu no conjunto dos principais itens do grupo os assuntos relacionados ao comércio internacional e dos fluxos financeiros. Os BRICs têm projeção reconhecida pelo seu porte demográfico, geográfico, econômico e político. Em conjunto, têm 43% da população mundial e representam 1/6 da demanda internacional por petróleo. O Brasil faz parte, também, do IBAS, grupo integrado pela Índia, Brasil e África do Sul, formado em 2003. Como visto no gráfico 6, a partir de 1995 a economia brasileira apresentou déficits comerciais até o ano de 1999. As importações neste período ganharam força em decorrência da elevação do consumo interno provocado pela estabilização da moeda com a implantação 34 do Plano Real, da maior abertura da economia brasileira à concorrência internacional, da sobrevalorização cambial que tornou mais baratos os produtos importados e do aumento na importação de máquinas e equipamentos para modernizar as indústrias. A balança comercial brasileira apresenta um potencial de crescimento no sentido das exportações, nos últimos 12 anos. Um dos motivos para o aumento das exportações fora a desvalorização do real em 1999 e em 2001 (gráfico 5). Destaca-se a alteração do tipo de cambio utilizado pelo Brasil. Em 15 de janeiro de 1999 o governo brasileiro altera a política cambial, deixando de utilizar as bandas cambiais e passando a adotar o sistema de “livre” flutuação do câmbio. O real sofre forte desvalorização em relação ao dólar, estimada em 40%. As exportações se tornam competitivas levando o Brasil a ganhar posições no mercado mundial. Com isso o déficit comercial foi eliminado e a economia começou a recuperar-se. Sendo assim, o período de 2001 a 2012, a balança comercial apresentou superávit em todos os anos até o final da série apresentada no gráfico 6, registrado crescimento de 316% nas exportações e 301% nas importações. Nota-se igualmente que a corrente comercial brasileira obteve um significativo crescimento a partir de 2003. Percebe-se igualmente que o superávit comercial recuou a partir de 2007, fato que pode estar ligado aos efeitos da crise econômico-financeira mundial que ali se iniciou e ainda persiste no mundo. Enfim, também houve um aumento significativo das importações a partir de 2001. Isso permite afirmar que existe um potencial de crescimento a ser explorado mediante a substituição de importações, particularmente em setores mais dinâmicos como o de produtos eletrônicos. Substituir importações competitivamente fechar a economia ao resto do mundo, e sim permite a reestruturação das empresas que aqui estão para poder melhor competir com as empresas externas. 35 Gráfico 6. Balança comercial brasileira do ano de 1995 a 2012 (U$ bi) Fonte: O autor, com base nos dados do MDIC Enfim, tal comportamento comercial brasileiro nos últimos dois anos estudados apresentou-se da seguinte forma: em 2011 as exportações somaram US$ 256 bilhões enquanto as importações atingiram a US$ 226 bilhões. Com isso, o saldo comercial daquele ano foi de US$ 30 bilhões. Já em 2012 as exportações obtiveram US$ 242 bilhões enquanto as importações US$ 223 bilhões, com saldo de US$ 19 bilhões. Resta agora detectar se o movimento de estabilização da economia brasileira, iniciado com a implantação do Plano Real em 1994, permitiu maior abertura da economia nacional. Esse tema será assunto do capítulo final a seguir. 36 4. GRAU DE ABERTURA COMERCIAL BRASILEIRA A PARTIR DE 1994 “As profundas mudanças ocorridas no cenário internacional nas últimas duas décadas – o colapso do sistema de planificação centralizada, a revolução da tecnologia de informações e a globalização dos mercados de mercadorias, de serviços e financeiros – permitem afirmar que a política da guerra fria ou, mais amplamente, a política das grandes potências em conflito, foi substituída pela nova política da globalização. Nesse novo quadro, em que as nações se tornam mais interdependentes, elas se tornam também mais competitivas comercialmente, de forma que, mais do que nunca, se torna necessária uma política consistente de defesa do interesse nacional nas diversas arenas de negociação internacional. Essas arenas são cada vez mais importantes, porque são nelas que os sistemas de cooperação são definidos e os conflitos resolvidos.” (LEITE, 2002) O processo de abertura comercial brasileira, a partir da implantação do Plano Real, depende de políticas internas adotadas pelo governo nacional, assim como das políticas protecionistas adotadas pelos demais países. A política comercial utilizada desde então possui duas frentes básicas: negociações agressivas de acordos bilaterais e miniaturais para abrir mercados e barganhar com parceiros comerciais utilizando alguns artifícios para conquistar novos parceiros, legais, tais como tarifa, anti-subsídio e antidumping. E a formulação de uma política de incentivos às exportações, integrada a uma política de crescimento industrial, a partir da elevação da taxa de investimentos, ou seja, aumentar a capacidade produtiva para poder realizar exportações sem inflação interna. “Há dez anos, estudos do Banco Mundial já mostravam que mais do que 90% do comércio mundial é regido por acordos negociados entre dois países, grupo de países ou setoriais. Na prática, isto significa que, apesar do sucesso da liberalização multilateral no pós-guerra, nas duas últimas décadas proliferaram acordos regionais e bilaterais contendo preferências comerciais. Portanto, o comércio mundial é quase totalmente uma avenida de duas mãos negociada.” (LEITE, 2002) Para se ter melhor ideia do comportamento comercial brasileiro no período estudado destaca-se a seguir a realidade comercial nacional com suas principais regiões parceiras. 4.1. Relações comerciais do Brasil com o Mercosul Dentre as relações mais importantes para o Brasil, tem-se o Mercado Comum do Sul. O Mercosul foi criado em 26 de março de 1991, tendo hoje os seguintes países membros: Argentina, Brasil, Uruguai, Paraguai e Venezuela. 37 O passo mais importante para esta relação se concretizar aconteceu em 1995, quando foi instalada a zona de livre comércio entre os países membros. A partir daquele ano cerca de 90% das mercadorias produzidas nos países membros poderiam ser comercializadas sem tarifas comerciais. Alguns produtos não entraram neste acordo e possuem tarifação especial por serem considerados estratégicos ou por aguardarem legislação comercial específica. Segundo Leite (2002), o Mercosul foi uma importante opção geopolítica de afirmação da liderança regional brasileira. Porém, na prática o bloco se depara com uma importante fragilidade e instabilidade econômica e política de alguns dos seus membros, fato que os leva ainda a medidas protecionistas nos dias de hoje, impedindo mesmo que a região concretize uma zona de livre-comércio. Tal realidade não impediu que o Mercosul se tornasse um instrumento geoeconômico internacional, pois possui economias em desenvolvimento, com destaque justamente para o Brasil. As exportações e importações no período de 1989 a 2012 indicam que não houve ganho substancial com a assinatura do acordo, apesar dos primeiros anos serem promissores. Gráfico 7: Participação das Importações e Exportações do Mercosul na Balança Comercial do Brasil entre 1989 e 2012 (em %) Fonte: O autor, com base nos dados do MDIC. O comércio do Brasil com os países deste bloco, no ano de 1998, chegou a ser de quase 20% do total das relações com o exterior. Porém, os problemas econômicos e 38 principalmente políticas internas a estes países, juntamente com a abertura da economia brasileira a outros blocos econômicos, resultou em redução dos produtos comercializados. No ano de 2012 o bloco representava apenas 8,63% e 9,4% respectivamente das importações e exportações totais brasileiras. 4.2. Relações comerciais do Brasil com a União Europeia A União Europeia (UE) é um bloco econômico, político e social hoje composto por 28 países europeus que participam de um projeto de integração política e econômica. Os países integrantes são: Alemanha, Áustria, Bélgica, Bulgária, Chipre, Croácia, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estônia, Finlândia, França, Grécia, Hungria, Irlanda, Itália, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Holanda, Polônia, Portugal, Reino Unido, República Tcheca, Romênia e Suécia. Macedônia e Turquia se encontram em fase de negociação. Estes países são politicamente democráticos, com um Estado de direito em vigor. A UE é resultado de um plano político bem sucedido, que prevê unir a Europa a fim de evitar guerras entre si e principalmente melhorar as condições de vida da população. Tendo como principal canal para o crescimento econômico o livre comércio entre as suas nações. O crescimento da produção pelo comércio leva ao desenvolvimento econômico e a consequente ampliação dos empregos e salários. Esta união conseguiu um feito único até hoje quando, em 2002, passou a operar com moeda única, viabilizando a unificação monetária fato que facilitou ainda mais o comércio entre países. Dos atuais países membros, apenas 17 (Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha, Finlândia, França, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Holanda, Portugal, Grécia, Eslovênia, Chipre, Malta, Eslováquia e Estônia) adotam o Euro como moeda nacional, proporcionando assim a livre circulação na chamada Zona do Euro. O Brasil foi um dos primeiros países com os quais a UE estabeleceu relações diplomáticas, iniciando esta relação em 1960 com a troca de missões diplomáticas formais. A UE e o Brasil também são parceiros estratégicos desde 2007, quando a UE reconheceu o Brasil como um dos seus principais interlocutores mundiais através da criação formal da Parceria Estratégica UE-Brasil. “Desde 2007, as duas partes realizam reuniões anuais de Cúpula, focando os principais desafios globais como as alterações climáticas; a crise financeira internacional; e a análise das situações regionais. Estes eventos têm sido muito bem sucedidos gerando uma dinâmica positiva no relacionamento e fornecendo orientação e estímulo para uma cooperação intensificada em nível mais técnico”. (Delegação da União Europeia no Brasil -11/10/2013) 39 Todavia, conforme o gráfico 8, a relação comercial entre o Brasil e a União Europeia registra um recuo no período de 1989 a 2012, tanto nas importações quanto nas exportações realizadas. As exportações passaram de 33,53% em 1989 para 20,14% do total em 2012. Já as importações recuaram menos, passando de 23,5% do total em 1989 para 21,4% em 2012. Gráfico 8: Participação das Importações e Exportações da União Europeia na Balança Comercial do Brasil entre 1989 e 2012 (em %) Fonte: O autor, com base nos dados do MDIC. 4.3. Relações comerciais do Brasil com os Estados Unidos da América Brasil e Estados Unidos mantêm uma antiga e extensa relação comercial. A mesma está entre as mais antigas do continente americano, sendo que os Estados Unidos foi o primeiro país a reconhecer a independência política brasileira. Os estadunidenses são os principais compradores de produtos e serviços brasileiros no exterior. Com o passar dos tempos a relação entre Brasil e EUA foi gerando uma cultura de trocas comerciais onde cada um foi aprendendo a cultura do outro para uma facilitação no modo pelo qual seriam feitas as negociações. Um fato importante para o estabelecimento dessa cultura são alguns dos costumes e o aprendizado dos respectivos idiomas. 40 Porém, com as alianças realizadas pelo governo brasileiro junto a outros países, numa clara mudança geoeconômica, a partir do governo Lula, em 2003, o Brasil perdeu participação no mercado estadunidense. Conforme o gráfico 9, tanto as importações quanto as exportações mostram uma redução da participação dos EUA nas relações externas com o Brasil. As exportações no ano de 1989 representavam de 23,94%, passando para apenas 11,01% em 2012. Já as importações, que no ano de 1989 eram de 20,42% do total, recuam para 14,5% em 2012. Nesse ínterim, o Brasil deixa de ser preferencialmente exportador para se tornar importador dos EUA, conforme o gráfico a seguir. Gráfico 9: Participação das Importações e Exportações dos Estados Unidos da América na Balança Comercial do Brasil entre 1989 e 2012 (%) Fonte: O autor, com base nos dados do MDIC. 4.4. Relações comerciais do Brasil com os países do BRICS O BRICs é um acrônimo criado em 2001 pelo economista Jim O’Neil para identificar os países que despontam como sendo emergentes na economia internacional, a saber: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Hoje, estes países procuram dar consistência ao grupo, desenvolvendo uma política de cooperação. Trata-se de um grupo de países e não um bloco econômico como a União Europeia e mesmo o Mercosul. Porém, há fortes indícios de que os seus cinco membros desejam formar um clube político para obter mais influência geoeconômica. 41 Como agrupamento, o BRICS tem um caráter informal. Não tem um documento constitutivo, não funciona com um secretariado fixo nem tem fundos destinados a financiar qualquer de suas atividades. Ainda assim, o BRICS tem um grau de institucionalização que se vai definindo, à medida que os cinco países intensificam sua interação. “O peso econômico dos BRICS é certamente considerável. Entre 2003 e 2007, o crescimento dos quatro países representou 65% da expansão do PIB mundial. Em paridade de poder de compra, o PIB dos BRICS já supera hoje o dos EUA ou o da União Europeia. Para dar uma ideia do ritmo de crescimento desses países, em 2003 os BRICS respondiam por 9% do PIB mundial e, em 2009, esse valor aumentou para 14%. Em 2010, o PIB conjunto dos cinco países totalizou US$ 11 trilhões, ou 18% da economia mundial. Considerando o PIB pela paridade de poder de compra, esse índice é ainda maior: US$ 19 trilhões, ou 25%.” (Ministério das Relações Exteriores - 11/10/2013). Conforme o gráfico 10, entre os anos de 1989 e 2000 as relações entre o Brasil e este grupo de países é inferior a 5% da balança comercial brasileira. Vale destacar que neste período ainda não havia acordos multilaterais comerciais com os mesmos. Com a definição do grupo em 2001, a interação entre os países membros do BRICS passa a ser de peso crucial na perspectiva de crescimento econômico brasileiro, buscando-se mais comércio com os mesmos. Tanto a importação quanto a exportação de produtos cresce constante, chegando a um recorde em 2012, quando as exportações representam 21,3% e as importações alcançam 19,2% do total da balança comercial brasileira. Gráfico 10: Participação das Importações e Exportações do BRICS na Balança Comercial do Brasil entre 1989 e 2012 (em %) Fonte: O autor, com base nos dados do MDIC. 42 4.5. O grau de abertura da economia brasileira O novo papel do Estado na economia tende a definir um subconjunto de estratégias de desenvolvimento que contemple um maior grau de abertura econômica. Mas, por enquanto, isso ainda não se concretiza suficientemente devido a fragilidade do setor privado nos últimos anos. Todavia, existem razões para acreditar que uma estratégia caracterizada por um maior grau de abertura ao exterior seja benéfica ao país, criando melhores condições de crescimento. O instrumental para medir o grau de abertura constitui-se na razão entre importação mais exportação em relação a produção interna do país (Gualda, 1995, p. 92). Sendo a fórmula: Onde: GA= grau de abertura; E= Exportações; M= Importações; PIB= Produto Interno Bruto. Como visto anteriormente, considera-se alto grau de abertura quando o comércio exterior, entendido como a corrente comercial, superar 70% do PIB do país, ambos medidos em dólares dos EUA. Já um baixo grau de abertura é representado por uma taxa entre comércio e PIB inferior a 30%.3 O resultado da aplicação deste cálculo, para o caso brasileiro, no período estudado, está exposto no gráfico 11 a seguir. Cf. BRUM, A.L. et al. Comportamento Cambial Brasileiro e as Consequências Sobre a Balança Comercial. Ijuí-RS : Ed. UNIJUI, 2010. 3 43 Gráfico 11: Abertura econômica brasileira pós-Plano Real - 1995 a 2012 (%) Fonte: O autor, com base nos dados do MDIC. Apesar de o Brasil avançar num maior processo de abertura comercial a partir de 1990, quando do governo Fernando Collor de Mello, o gráfico demonstra que o país ainda possui uma economia bastante fechada. Nota-se que entre 1995 e 1998 o grau de abertura, mesmo com a estabilização da economia, esteve em seu ponto mais baixo no período estudado, não ultrapassando a 13%. Muito deste comportamento se deu em função de uma política cambial que sobrevalorizou o Real, prejudicando as exportações. Entre 2001 e 2008 o país vive seu melhor momento no que diz respeito a abertura comercial, com o grau de abertura variando entre 20% a 25%. Todavia, a partir de 2009 o quadro volta a piorar e a taxa de abertura comercial do país recua para níveis entre 17% e pouco mais de19%. Nesse último caso, a crise econômico-financeira influenciou para o resultado, porém, não tira do foco o fato de que o Brasil, apesar da estabilização econômica proporcionada pelo Plano Real, jamais deixou de ser uma economia relativamente fechada, mesmo diversificando seus mercados. Como hipótese, se pode inferir que a crise internacional de 2007/08, que dura até hoje, pode ter impedido que o país alcançasse finalmente o grau mínimo de abertura (30%) a julgar pelo comportamento do comércio internacional em relação ao PIB verificado entre 2001 e 2008. Todavia, isso precisa ser aprofundado e comprovado com análises mais completas sobre as políticas comerciais adotadas pelo país no período, assim como sua continuidade no auge da crise, a partir de 2009. Sem dúvida um tema para futuros trabalhos. 44 CONSIDERAÇÕES FINAIS Nas últimas décadas o comportamento do setor externo brasileiro ajuda a explicar o crescimento da economia nacional. Todavia, tal processo de crescimento ainda se dá com um pequeno grau de abertura da economia ao resto do mundo. Sem a pretensão de esgotar o assunto, o estudo se concentrou em apresentar o desenvolvimento do comércio brasileiro e o grau de abertura econômica existente. Considerando os fatos que foram demonstrados percebe-se que a economia brasileira, ao longo dos anos estudados, foi influenciada por políticas governamentais direcionadas à abertura econômica. Nesse contexto, vê-se que mesmo o Brasil abrindo seu mercado, e conquistando novos parceiros comerciais, a taxa de abertura comercial nacional ainda está insuficiente diante dos padrões internacionais. Se por um lado se dinamizou os negócios com os países do grupo BRICs, paralelamente se reduziu as relações com os EUA e mesmo com o Mercosul. Assim, em nenhum momento do período estudado, corroborando o conjunto dos anos anteriores a este interregno, o Brasil foi efetivamente uma economia aberta para o mundo. Em outras palavras, apesar da taxa de abertura melhorar no transcorrer do período, o país sempre foi uma economia fechada, pois jamais alcançou os 30%, valor convencionado como sendo o limite mínimo para caracterizar uma economia aberta. O maior índice alcançado pelo Brasil foi de 24% no ano de 2004, após constante elevação do mesmo desde 1995, quando era pouco superior a 12%. Todavia, após 2004 a taxa de abertura voltou a recuar, fechando em 19% em 2012. Para um país que buscou a abertura econômica a contar de 1990, procurando reforçá-la a partir da implantação do Plano Real em 1994, o Brasil, por enquanto, não obteve êxito. E, no momento, nada indica que poderá conquistá-la tão cedo. 45 REFERÊNCIAS BAUMANN, Renato. O Brasil e a economia global. Editora Campus, 1996. BRUM, Argemiro J. O desenvolvimento econômico brasileiro. Editora Unijuí, 2010. BRUM, Argemiro J. O desenvolvimento econômico brasileiro. Editora Unijuí, 2011. BRUM, Argemiro L. A economia internacional, Na entrada do século XXI, Transformações Irreversíveis. Editora Unijuí, 2009. BRUM, Argemiro L. Economia internacional. Editora Unijuí, 2005. BRUM, Argemiro L. O Comportamento Cambial Brasileiro e as Consequências sobre a Balança Comercial. Editora Unijuí, 2010. CARDOSO, Oscar. Integração na atualidade. Editora Unijuí, 2007. de CARVALHO, Maria A.. Economia internacional. Editora Saraiva, 2007. Economia internacional. Disponível em < http://www.ufrgs.br/decon/publionline/textosdidaticos/Textodid09.pdf>. Acesso em: 10 jul. 2013. FURTADO, Celso. Teoria e política do desenvolvimento. Editora Cultura, 1983. KRUGMAN, P. R. La mondialisation n’est pas coupable: vertus et limites du libre échange. Paris : Ed. La Découvèrte, 1998. 219 p. LEITE, Antônio D. O novo governo, e os desafios do desenvolvimento. Editora José Olympio, 2002. Relação Brasil e EUA. Disponível em < http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/relacoes_brasil_eua/contexto3.html>. Acesso em: 14 out. 2013. Relação comercial entre Brasil e EUA. Disponível em < http://www.trabalhosfeitos.com/ensaios/Rela%C3%A7%C3%A3o-Comercial-Entre-Brasil-eEua/526212.html>. Acessado em: 14 out. 2013. RICARDO, David. O princípio de economia política e tributária. Editora Nova Cultura, 1996. VELLOSO, João P. R. Crise do estado e retomada do desenvolvimento. Editora José Olympio, 1992. VELLOSO, João P. R. O real, o crescimento e as reformas. Editora José Olympio, 1996. 46 ANEXOS Tabela 1. Evolução da população brasileira do ano e 1940 a 2010 Período 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 Fonte: IBGE Urbana 12.880.182,00 18.782.891,00 31.303.034,00 52.097.260,00 80.437.327,00 108.714.709,40 137.953.959,00 160.925.792,00 Rural 28.356.133,00 33.161.506,00 38.767.423,00 41.037.586,00 38.573.725,00 36.110.442,60 31.845.211,00 29.830.007,00 Total 41.236.315,00 51.944.397,00 70.070.457,00 93.134.846,00 119.011.052,00 144.825.152,00 169.799.170,00 190.755.799,00 47 Tabela 2. Evolução do PIB, Balança comercial, Câmbio e Inflação brasileira do ano de 1980 a 2012. Período 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 PIB BRASIL EXP BRASIL IMP BRASIL US$ bi 237,8 258,6 271,3 189,5 189,7 211,1 257,8 282,4 305,7 415,9 469,3 405,7 387,3 429,7 543,1 770,4 840,3 871,3 844,0 586,8 645,0 553,8 504,4 553,6 663,8 882,4 1.088,8 1.366,5 1.650,9 1.625,6 2.143,9 2.475,1 2.391,0 US$ bi 20,1 23,3 20,2 21,9 27,0 25,6 22,3 26,2 33,8 34,4 31,4 31,6 35,8 38,6 43,5 46,5 47,7 53,0 51,1 48,0 55,1 58,3 60,4 73,2 96,7 118,5 137,8 160,6 197,9 153,0 201,9 256,0 242,6 US$ bi 23,0 22,1 19,4 15,4 13,9 13,2 14,0 15,1 14,6 18,3 20,7 21,0 20,6 25,3 33,1 50,0 53,3 59,7 57,8 49,3 55,9 55,6 47,2 48,3 62,8 73,6 91,4 120,6 173,0 127,7 181,8 226,2 223,2 Fonte: MDIC TAXA DE CÂMBIO SALDO INFLAÇÂO BRASILEIRO COMERCIAL ABERTURA R$ US$ bi % % 99,70 -2,8 18,12% 93,51 17,55% 1,2 100,31 14,59% 0,8 177,97 19,70% 6,5 209,12 13,1 21,57% 239,05 18,38% 12,5 59,20 14,12% 8,3 394,60 14,62% 11,2 993,28 19,2 15,83% 1.863,56 12,66% 16,1 1.585,18 11,10% 10,8 475,10 12,98% 10,6 1.149,06 15,2 14,55% 2.489,11 14,85% 13,3 929,32 14,11% 10,5 21,98 12,52% 0,92 -3,5 -5,6 12,03% 9,12 1,01 12,94% 4,34 1,08 -6,8 12,90% 2,49 1,16 -6,6 16,58% 8,43 1,81 -1,3 -0,7 17,21% 5,27 1,83 20,57% 9,44 2,35 2,7 21,35% 14,74 2,92 13,2 21,95% 10,38 3,08 24,9 33,8 24,03% 6,13 2,93 21,77% 5,05 2,44 44,9 21,05% 2,81 2,18 46,5 20,58% 5,16 1,95 40,0 25,0 22,47% 6,48 1,83 17,27% 4,11 2,00 25,3 17,90% 6,47 1,76 20,1 19,49% 6,08 1,67 29,8 19,4 19,48% 6,20 1,95 48 Tabela 3. Intercâmbio comercial brasileiro do ano de 1989 a 2012 (Bi US$) Ano 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 UNIÃO EUROPEIA Exportação Importação 11.530.200.546 4.290.994.180 10.597.283.499 4.864.172.511 10.407.668.794 5.203.830.460 11.030.518.840 5.060.118.232 10.516.240.079 6.132.761.542 12.627.822.215 9.248.259.373 13.377.128.711 14.303.517.372 13.432.009.592 14.607.341.701 15.049.944.906 16.238.973.221 15.253.423.897 17.240.413.192 14.199.869.262 15.339.078.765 15.346.022.583 14.535.470.801 15.487.553.299 15.445.712.628 15.608.902.484 13.495.827.451 18.816.320.902 13.053.369.738 24.675.714.303 15.990.157.812 27.039.479.914 18.235.583.831 31.044.979.748 20.202.544.640 40.428.035.649 26.733.920.999 46.395.287.328 36.178.697.601 34.036.682.109 29.223.554.954 43.134.813.540 39.127.437.161 52.945.637.739 46.425.628.517 48.859.641.610 47.661.649.903 Fonte: MDIC BRICs Exportação Importação 998.478.112 247.842.810 715.805.409 265.553.351 552.837.173 237.153.486 803.231.421 240.368.878 1.314.190.429 744.847.168 1.840.477.742 1.231.787.622 2.353.938.006 1.955.970.851 2.056.370.645 2.141.021.938 2.346.717.717 2.056.954.676 1.916.815.139 1.826.143.060 1.973.558.880 1.522.812.823 2.027.945.694 2.291.911.136 3.714.205.242 2.621.452.550 4.905.417.391 2.736.584.334 7.321.272.111 3.390.904.281 8.789.173.907 5.342.678.929 12.261.496.918 7.621.112.070 14.247.422.435 10.841.834.776 17.205.821.645 17.022.936.073 24.032.821.431 27.714.966.582 28.547.187.503 19.947.570.844 39.740.271.949 32.501.665.039 53.412.197.102 42.727.622.855 51.710.710.202 42.930.663.854 MERCOSUL Exportação Importação 1.379.717.221 2.191.679.110 1.320.244.279 2.311.826.777 2.309.352.601 2.242.704.519 4.097.469.283 2.228.563.468 5.386.909.641 3.378.254.340 5.921.475.981 4.583.270.397 6.153.768.222 6.843.923.909 7.305.281.948 8.301.547.326 9.045.110.950 9.426.133.443 8.878.233.843 9.416.203.081 6.778.178.415 6.719.244.536 7.739.599.181 7.796.208.525 6.374.455.028 7.009.674.042 3.318.675.277 5.611.720.224 5.684.309.729 5.685.228.972 8.934.901.994 6.390.492.978 11.746.011.414 7.053.699.272 13.985.828.343 8.967.386.709 17.353.576.477 11.624.752.344 21.737.308.031 14.934.111.721 15.828.946.773 13.107.441.700 22.601.500.959 16.620.151.158 27.852.507.305 19.375.753.337 22.801.529.665 19.250.590.513 EUA Exportação 8.231.202.141 7.594.263.027 6.264.436.712 6.932.757.328 7.843.335.397 8.816.241.304 8.682.812.161 9.182.584.604 9.274.987.124 9.747.316.066 10.675.124.224 13.189.576.929 14.208.572.954 15.377.822.589 16.728.079.047 20.099.235.400 22.539.731.875 24.524.748.523 25.065.048.412 27.423.048.799 15.601.628.031 19.307.295.562 25.804.628.156 26.700.844.268 Importação 3.728.968.465 4.160.683.895 4.687.570.150 4.538.666.763 5.062.251.046 6.674.390.616 10.519.498.419 11.818.422.203 13.706.094.568 13.514.742.008 11.741.047.942 12.899.226.083 12.905.492.013 10.287.452.316 9.569.454.702 11.357.061.637 12.666.508.176 14.657.479.678 18.723.280.625 25.627.961.850 20.032.145.355 27.044.361.398 33.969.916.138 32.357.065.136