ANDERSON DA SILVA MACHADO ANÁLISE DO PERFIL IMUNOLÓGICO EM RECÉMNASCIDOS COM TOXOPLASMOSE CONGÊNITA APRESENTANDO DIFERENTES FORMAS CLÍNICAS DA DOENÇA OCULAR BELO HORIZONTE UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS 2014 ANDERSON DA SILVA MACHADO ANÁLISE DO PERFIL IMUNOLÓGICO EM RECÉMNASCIDOS COM TOXOPLASMOSE CONGÊNITA APRESENTANDO DIFERENTES FORMAS CLÍNICAS DA DOENÇA OCULAR. Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Parasitologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Parasitologia, como requisito parcial para obtenção do título de Doutor. Orientador: Dr. Ricardo Wagner de Almeida Vitor - Laboratório de Toxoplasmose/Departamento de Parasitologia do Instituto de Ciências Biológicas/UFMG Co-orientador: Dr. Olindo Assis Martins Filho – Laboratório de Biomarcadores de Diagnóstico e Monitoração/Instituto René Rachou/Fiocruz BELO HORIZONTE UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS 2014 i Colaboradores Dra. Gláucia Manzan Queiroz Andrade (Líder do grupo de pesquisa: UFMG – Grupo Brasileiro de Toxoplasmose congênita) Dr. Daniel Vítor Vasconcelos Santos Dra. Ana Carolina Aguiar Vasconcelos Carneiro Suporte Financeiro CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior FAPEMIG – Fundação de Amparo à pesquisa do Estado de Minas Gerais CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Apoio SES – Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais NUPAD – Núcleo de Ações e Pesquisa em Apoio Diagnóstico - UFMG Trabalho realizado no Laboratório de Biomarcadores de Diagnóstico e Monitoração do Centro de Pesquisa René-Rachou e no Laboratório de Toxoplasmose do ICB/UFMG. ii Dedicatória A toda minha família e amigos, pela paciência, amizade e incentivo em todos os momentos. iii "A vantagem de ter péssima memória é divertir-se muitas vezes com as mesmas coisas boas como se fosse a primeira vez." Friedrich Nietzsche “Você está se concentrando no problema. Se você focar no problema, não conseguirá ver a solução. Nunca se concentre no problema.” Patch Adams iv Agradecimento especial Ao professor Ricardo W. A. Vitor por todos os ensinamentos durante esses sete anos de convivência. Ensinamentos que não se restringiram ao campo acadêmico, e que certamente nortearão minha vida. Agradeço por todo carinho, paciência e dedicação. v Agradeço ao programa de pósgraduação em Parasitologia, na pessoa da professora Érika Martins Braga, coordenadora do curso de Pósgraduação do Departamento de Parasitologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais, pela oportunidade de desenvolver este projeto e pelo apoio recebido. vi Agradecimentos Ao Dr. Olindo A. Martins-Filho, por toda paciência e pelos diversos ensinamentos ao longo dessa jornada. Aos colaboradores desse projeto, sem os quais não seria possível a realização do mesmo. À Dra. Deborah Aparecida Negrão-Corrêa, por me mostrar que a imunologia não é um bicho de sete cabeças (só tem seis), e que o Toxoplasma gondii é o parasito mais “cabuloso” de todos. Aos professores do curso de Pós-graduação em Parasitologia, pelos valiosos ensinamentos recebidos durante a realização das disciplinas. Aos amigos da Parasitologia, em especial aos amigos do mestrado, pela amizade e pelos momentos de descontração que vivenciamos. Aos amigos do Laboratório de Toxoplasmose, pela agradável convivência, pelas viagens inesquecíveis e pelos ensinamentos constantes. À doutoranda Amanda Cardoso, do LBDM, pela amizade e pelo incentivo. À técnica do Laboratório, Rosálida E. N. Lopes, pela paciência, pelos conselhos e pelos inestimáveis ensinamentos. vii Índice de fluoxogramas e figuras Fluoxograma 1: Avaliação oftalmológica em crianças suspeitas de toxoplasmose congênita................................................................................................................... pg 35 Figura 1: Ilustração da análise convencional de linfócitos do sangue periférico por citometria de fluxo..................................................................................................... pg 42 Figura 2: Análise de monócitos pró-inflamatórios do sangue periférico.................. pg 43 Figura 3: Análise de monócitos CD14+CD32+ e CD14+CD64+................................ pg 44 Figura 4: Análise de subpopulações de linfócitos T ativados................................... pg 45 Figura 5: Análise das subpopulações de células NK................................................. pg 46 Figura 6: Análise convencional de produção de citocinas por monócitos................ pg 47 Figura 7: Análise das subpopulações de monócitos.................................................. pg 53 Figura 8: Subpopulações de células NK e células T NK.......................................... pg 55 Figura 9: Subpopulações e status de ativação das células T e células B................... pg 57 Figura 10: Assinatura de biomarcadores da imunidade inata a adaptativa............... pg 59 Figura 11: Assinatura de biomarcadores da imunidade inata a adaptativa (Radar).. pg 60 Figura 12: Produção de citocinas por células da imunidade inata............................ pg 62 Figura 13: Produção de citocinas por células da imunidade adaptativa.................... pg 64 Figura 14: Produção de citocinas por células da imunidade inata nos subgrupos de TOXO........................................................................................................................ pg 65 Figura 15: Produção de citocinas por células da imunidade adaptativa nos subgrupos de TOXO........................................................................................................................ pg 67 Figura 16: Assinatura de biomarcadores da produção de citocinas pelas células da imunidade inata e adaptativa..................................................................................... pg 68 viii Índice de quadros e tabelas Quadro 1 - Anticorpos monoclonais marcados com fluorocromos utilizados para análise de populações, subpopulações celulares e moléculas de superfície........................ pg 37 Quadro 2 - Anticorpos monoclonais utilizados para identificação das subpopulações leucocitárias na metodologia de citocinas citoplasmáticas...................................... pg 40 Tabela 1 - Registros hematológicos em recém-nascidos com toxoplasmsose congênita.................................................................................................................. pg 52 ix Lista de Abreviaturas AIDS - Acquired immune deficiency syndrome – Síndrome da Imunodeficiência Adquirida ACRL – Active and Cicatricial Retinochoroidal Lesion – Lesão retinocoroideana ativa e cicatrizada simultaneamente ARL – Active Retinochoroidal Lesion – Lesão retinocoroideana ativa CCL - Chemokine ligand – Ligante de Quimiocina CCR – Chemokine receptor - Receptor de Quimiocina CRL – Cicatricial Retinochoroidal Lesion – Lesão retinocoroideana cicatrizada DCs – Dendritic cells – Células dendríticas DNA – Deoxyribonucleic acid - Ácido desoxirribonucleico ELFA – Enzyme Linked Fluorescent Assay ELISA – Enzyme-Linked Immunosorbent Assay - Ensaio Imunoenzimático FITC – Fluorescein isothiocyanate - Isotiocianato de fluoresceína GM-CSF - Granulocyte-Macrophage Colony-Stimulating Factor – Fator estimulante de macrófagos e granulócitos IC – Intervalo de Confiança IEL - Intraepithelial lymphocytes – Linfócitos intraepiteliais IFN - Interferon IgA – Imunoglobulina da classe A IgG – Imunoglobulina da classe G IgM – Imunoglobulina da classe M IL- Interleucina kDa – kilodaltons LPS - Lipopolissacarídeo MCP - Monocyte Chemotactic Protein - proteína quimiotática de monócitos x MHC – Major Histocompatibility Complex – Complexo principal de histocompatibilidade MIP - Macrophage Inflammatory Proteins - Proteína inflamatória de macrófagos MyD – Myeloid differentiation primary response gene - Fator de diferenciação mielóide NETs – Neutrophil Extracellular Traps NI – Non Infected – Grupo não infectado (controle) NK – Natural Killer – Células Natural Killer NKT – Natural Killer T Cells – Células T Natural Killer NO – Nitrous Oxide - Oxido nítrico NRL – No Retinochoroidal Lesion – Sem lesões retinocoroideanas NUPAD – Núcleo de Ações e Pesquisa em Apoio Diagnóstico da UFMG PAMPs – Pathogen-Associated Molecular Patterns - Padrões moleculares associados a patógenos PCR - Polymerase Chain Reaction – Reação em cadeia da Polimerase PE – Phycoerythrin - Ficoeritrina PerCP – Peridinin Chlorophyll Protein - Cloreto de peridina Clorofila PETN – Programa Estadual de Triagem Neonatal PMN – Polimorfonucleares PRRs – Pattern recognition receptors - Receptores de reconhecimento padrão RE – Retículo Endoplasmático ROI – Reactive Oxygen Intermediate - Reativos intermediários de oxigênio RN – Recém-nascido SNC – Sistema Nervoso Central TC - Tricolor Th – T helper TGF – Transforming Growth Factor – Fator de transformação do crescimento TLR – Toll-like Receptors – Receptores Toll-like xi TNFR – Tumor Necrosis Factor Receptor – Receptor do fator de necrose tumoral TOXO – Recém-nascidos infectados com T. gondii T. gondii – Toxoplasma gondii UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais xii SUMÁRIO RESUMO......................................................................................................... ABSTRACT..................................................................................................... 1. INTRODUÇÃO.......................................................................................... 1.1. Biologia e transmissão............................................................................... 1.2. Infecção congênita..................................................................................... 1.3. Comprometimento ocular.......................................................................... 1.4. Resposta Imune.......................................................................................... 1.4.1. O epitélio intestinal é a primeira linha de defesa.................................... 1.4.2. O recrutamento de neutrófilos................................................................. 1.4.3. Células dendríticas e a produção de IL-12.............................................. 1.4.4. O papel dos macrófagos na resistência................................................... 1.4.5. O papel das células natural killer........................................................... 1.4.6. O papel do NO e das GTPases................................................................ 1.4.7. A importância da privação de ferro e do triptofano................................ 1.4.8. O papel das células T CD4+ e T CD8+.................................................... 1.4.9. Células B e a produção de anticorpos..................................................... 1.5. A influência da gravidez na infecção......................................................... 1.5.1. A gravidez aumenta a susceptibilidade................................................... 2. OBJETIVO.................................................................................................. 3. METODOLOGIA....................................................................................... 3.1. Pacientes e amostras biológicas................................................................. 3.2. Exames clínicos e grupos de estudo........................................................... 3.3. Coleta de sangue......................................................................................... 3.4. Imunofenotipagem de células mononucleares circulantes......................... 3.5. Preparo de antígeno.................................................................................... 3.6. Análise de marcadores de superfície e citocinas........................................ 3.7. Estratégias de análise................................................................................. 3.8. Análise dos dados....................................................................................... 4. RESULTADOS............................................................................................ 4.1. Registros hematológicos dos recém-nascidos............................................ 4.2. Análise de células monocucleares circulantes................................................. 4.2.1. Análise das subpopulações de monócitos............................................... 4.2.2. Análise das subpopulações de células NK e T NK................................. 4.2.3. Análise das subpopulações de células T e B........................................... 4.2.4. Análise da assinatura de biomarcadores.................................................. 4.3. Análise da produção de citocinas............................................................... 4.3.1. Citocinas produzidas por células da imunidade inata............................. 4.3.2. Citocinas produzidas por células da imunidade adaptativa..................... 4.3.3. Citocinas da imunidade inata (Análise nos subgrupos de TOXO).......... 4.3.4. Citocinas da imunidade adaptativa (Análise nos subgrupos de TOXO). 4.3.5. Análise da assinatura de biomarcadores.................................................. 5. DISCUSSÃO................................................................................................ 6. CONCLUSÕES........................................................................................... 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................... 8. ANEXOS...................................................................................................... xiv xvi 01 01 03 06 09 10 12 14 17 18 20 22 23 25 27 28 30 31 31 32 36 36 38 39 41 48 50 50 50 50 51 56 58 61 61 63 63 66 66 69 81 83 101 xiii RESUMO O desenvolvimento de uma resposta imune adequada é fundamental para o controle do T. gondii, mas também para reduzir as sequelas da infecção congênita. A toxoplasmose ocular é a principal manifestação clínica da toxoplasmose, e o entendimento dos mecanismos imunopatológicos envolvidos é fundamental para uma abordagem terapêutica mais adequada. Neste trabalho foi coletado o sangue de recémnascidos com toxoplasmose congênita apresentando diferentes formas clínicas da doença ocular para avaliar possíveis alterações do perfil imunológico através da imunofenotipagem de células mononucleares circulantes e da análise de citocinas intracitoplasmáticas após estimulação in vitro. Nossos resultados mostraram que, devido a infecção congênita, há aumento de linfócitos e monócitos nos recém-nascidos infectados. Numa análise mais detalhada, verificou-se aumento de monócitos próinflamatórios, indicando que a persistência da resposta pró-inflamatória pode estar relacionada com o desenvolvimento da patologia. Células NK e células T NK também estavam aumentadas em recém-nascidos infectados com T. gondii, sendo um fator importante na resposta imune contra o parasito. A análise da resposta imune adaptativa mostrou que linfócitos T CD4+ aparentemente estão associados com o fenótipo de lesão ativa. Adicionalmente, foi mostrado que as células T CD8+ podem ser um importante biomarcador de morbidade nos recém-nascidos infectados. Em conjunto, os resultados do perfil fenotípico das células mononucleares circulantes nos recém-nascidos com toxoplasmose congênita sugerem maturação da resposta imune. Finalmente, verificamos possíveis alterações na produção de citocinas por parte das células mononucleares circulantes dos recém-nascidos com toxoplasmose congênita. Na resposta imune inata verificamos um perfil misto com predominância de citocinas reguladoras em neutrófilos, perfil pró-inflamatório modulado por IL-10 em monócitos e perfil próinflamatório em células NK. A análise da produção de citocinas em células da imunidade adaptativa mostrou perfil pró-inflamatório nas células T CD4+ e T CD8+, e perfil regulatório em células B. A análise da produção de citocinas em subgrupos de crianças com diferentes manifestações oculares mostrou o aumento de IL-1 e TNF- somente nas células de recém-nascidos sem lesão ocular ativa. A citocina IL-17 apresentou aumento em neutrófilos e células T CD4+ somente nos recém-nascidos com lesão retinocoroideana ativa. As principais citocinas pró-inflamatórias no controle da toxoplasmose, IL-12 e IFN-, estavam aumentadas em monócitos e células T CD4+ de xiv todos os grupos com infecção congênita. O presente estudo apresenta-se como uma excelente oportunidade para o entendimento de alguns aspectos fundamentais da resposta imune durante a infecção congênita, além do levantamento de possíveis biomarcadores associados com a lesão retinocoroideana. xv ABSTRACT The development of an appropriate immune response is critical for control of T. gondii, but also to reduce the sequelae of congenital infection. Ocular toxoplasmosis is the major clinical manifestation of toxoplasmosis, and understanding of the pathogenic mechanisms involved is crucial for a more appropriate therapeutic approach. In this work we collected the blood of newborns with congenital toxoplasmosis presenting different clinical forms of ocular disease to assess possible changes in immune profile by immunophenotyping of circulating mononuclear cells and analysis of intracytoplasmic cytokines after in vitro stimulation. Our results showed an increase of lymphocytes and monocytes in infected infants. In more detailed analysis, there was an increase of proinflammatory monocytes, indicating that the persistence of the proinflammatory response may be associated with the development of pathology. NK and NK T cells which are important components in the immune response against the parasite were also expanded in infants infected with T. gondii. Analysis of the adaptive immune response showed that CD4+ T cells are apparently associated with the phenotype of active lesion. Additionally, our results demonstrate that CD8 + T cells may be an important biomarker of morbidity in infants infected with T. gondii. Together, results of the phenotypic profile of circulating mononuclear cells in infants with congenital toxoplasmosis suggest maturation of the immune response. Finally we analyzed possible changes in cytokine production by circulating mononuclear cells of infants with congenital toxoplasmosis. In innate immune response we found a mixed profile with a predominance of regulatory cytokines in neutrophils, pro-inflammatory profile modulated by IL-10 in monocytes, and pro-inflammatory profile in NK cells of infants with congenital toxoplasmosis. Analysis of cytokine production by cells of the adaptive immune system shows a pro-inflammatory profile in CD4+ and CD8+ T cells, and regulatory profile in B cells. Analysis of cytokine production in subgroups of TOXO showed increased IL-1 and TNF- levels in cells of infants without active lesions (NRL and CRL) whereas IL-6 and IL-17 cytokines are expanded only in cells of infants with active retinochoroidal lesions (ARL). The major pro-inflammatory cytokines in the control of toxoplasmosis, IL-12 and IFN- were elevated in all groups of cells from children with congenital infection. The present study is an excellent xvi opportunity to understand key aspects of the immune response during human congenital infection and highlighted possible biomarkers associated with retinochoroidal lesions. xvii 1. INTRODUÇÃO 1.1 Biologia e Transmissão Toxoplasma gondii é um protozoário parasito intracelular obrigatório, de distribuição mundial, que pode ser encontrado em uma grande variedade de hospedeiros vertebrados (Dubey, 2010). Foi descrito por NICOLLE E MANCEAUX isolado de um roedor no norte da África (Ctenodactylus gondi) em 1908. O protozoário apresenta organelas citoplasmáticas características do Filo Apicomplexa, classe Sporozoa, subclasse Coccidea, ordem Eucoccidiida, subordem Eimeriina e família Sarcocystidae (Pfefferkorn, 1990). O ciclo de T. gondii é heteroxeno facultativo, com uma fase sexuada que ocorre nas células intestinais dos hospedeiros definitivos, membros da família Felidae, e outra fase assexuada, que pode ocorrer nos hospedeiros definitivos e nos hospedeiros intermediários – mamíferos, incluindo o homem, e aves. No ciclo sexuado o parasito invade os enterócitos e sofre merogonia, formando os merozoítos que são liberados após o rompimento da célula hospedeira. Esses merozoítos invadem as células epiteliais adjacentes e sofrem gamogonia, formando os gametócitos. Os gametócitos originam os gametas masculinos (microgametas) e os femininos (macrogametas). Os microgametas, que são formas móveis extracelulares, fecundam os macrogametas localizados dentro dos enterócitos formando o zigoto, que fica envolto por uma parede resistente, sendo chamado de oocisto. Os felídeos eliminam em suas fezes oocistos não esporulados, que em condições ambientais propícias como temperatura, umidade e oxigenação ideais, se tornam infectantes, podendo ser ingeridos por outros animais, até mesmo pelo ser humano. Cada oocisto esporulado infectante de T. 1 gondii possui em seu interior dois esporocistos, cada um contendo quatro células denominadas esporozoítos (Tenter et al., 2000; Robert-Gangneux & Dardé, 2012). O ciclo assexuado ocorre nos hospedeiros intermediários e definitivos, e tem início com a ingestão de oocistos eliminados pelas fezes dos gatos ou cistos teciduais, contendo bradizoítos, presentes na carne crua ou mal cozida de alguns animais. Após ingestão, a parede externa dos cistos ou oocistos é rompida por degradação enzimática e as formas infectantes, bradizoítos ou esporozoítos, respectivamente, são liberadas no lúmen intestinal onde rapidamente invadem as células do hospedeiro e se diferenciam em taquizoítos (formas de multiplicação rápida), por divisão assexuada. Os taquizoítos penetram em qualquer célula nucleada, formando um vacúolo parasitóforo. No interior do vacúolo parasitóforo sofrem rápidas e sucessivas divisões por endodiogenia, formando novos taquizoítos, que rompem a célula parasitada e invadem novas células (fase proliferativa). A disseminação do parasito no organismo ocorre através de taquizoítos livres ou intracelulares na linfa, ou no sangue circulante, podendo provocar um quadro polissintomático, cuja gravidade dependerá da quantidade de formas infectantes adquiridas, da cepa do parasito e da susceptibilidade do hospedeiro (Tenter et al., 2000). Embora o parasito seja intracelular, pode sobreviver por breves períodos nos líquidos intersticiais e exsudatos (Chiari, 1981) já sendo comprovada, por exemplo, a presença de taquizoítos na saliva, urina e no leite de cabra (Chiari & Neves, 1984; Vitor et al., 1991). O período inicial da infecção – fase proliferativa – caracteriza a fase aguda da doença. Neste ponto, a toxoplasmose pode evoluir até a morte do hospedeiro, o que pode ocorrer em fetos ou em indivíduos com comprometimento imunológico, ou se tornar latente pelo aparecimento de resposta imune específica. Com o desenvolvimento da resposta imune a proliferação dos taquizoítos é controlada, os parasitos extracelulares desaparecem do 2 sangue, da linfa e dos órgãos viscerais, ocorrendo uma diminuição de estágios intracelulares. Alguns taquizoítos, no entanto, invadem as células e desenvolvem uma cápsula cística a partir da parede do vacúolo parasitóforo, diminuindo seu metabolismo e transformando-se em bradizoítos. Os bradizoítos multiplicam-se lentamente e permanecem no interior do cisto sem desencadear sintomatologia significante no hospedeiro (Dubey & Frenkel, 1976; Montoya & Liesenfeld, 2004; Robert-Gangneux & Dardé, 2012). A resposta imune limita a progressão da infecção e o desenvolvimento de novas lesões, porém não erradica os cistos já existentes localizados em diversos órgãos, que caracterizam as formas de resistência do parasito. Os cistos podem se romper ocasionalmente, liberando bradizoítos, que podem evoluir para taquizoítos e reinfectar células vizinhas, despertando uma reação inflamatória, e sendo rapidamente controlados pelo sistema imune. Se o hospedeiro apresentar comprometimento na resposta imune, o bloqueio dessa proliferação pode não ser eficiente, ocasionando num processo localizado ou sistêmico de recaída da toxoplasmose (Tenter et al., 2000). 1.2 Infecção congênita Quando uma mulher grávida adquire toxoplasmose, ela pode transmitir o parasito para o feto. Raramente a transmissão transplacentária ocorre se a gestante se infecta imediatamente antes da concepção ou se engravida já na fase crônica da doença (Dubey, 2010). A transmissão congênita ou transplacentária tem sido responsabilizada pela ocorrência de abortos, natimortos, debilidade e mortalidade neonatal (Dubey, 2010). O risco de transmissão congênita aumenta progressivamente com a idade gestacional da 3 soroconversão materna. Aproximadamente 5% das mulheres que tiveram sua soroconversão até 12 semanas de gestação e 80% daquelas que tiveram a soroconversão pouco antes do parto, transmitem a infecção para o feto. Inversamente, o risco de sinais clínicos (lesões cerebrais ou na retina) numa criança infectada decresce de 60% para fetos de mulheres que tiveram a soroconversão até a 12ª semana de gestação, para aproximadamente 5% para aquelas que tiveram a soroconversão próximo do parto (Desmonts et al., 1985). Roberts & Alexander (1992) demonstraram que a maioria das infecções do primeiro trimestre resultam em aborto ou reabsorção fetal. O balanço intrigante de maior gravidade dos sinais clínicos no início da gravidez contra maior frequencia de transmissão congênita de T. gondii ao final da gravidez motivou Roberts et al. (2008) a especular que a capacidade do T. gondii em causar uma resposta pró-inflamatória potente poderia provocar aborto no primeiro trimestre de gravidez. Entretanto, quando as alterações anti-inflamatórias hormonais e imunológicas que caracterizam a gravidez finalmente se estabelecem, o feto é protegido de danos causados pelas reações imunológicas, mas, ao mesmo tempo, é mais susceptível de ser exposto, e infectado pelo parasito. Sabe-se que a transmissão congênita do T. gondii ocorre por via hematogênica e a infecção placentária é etapa obrigatória. Após a infecção da placenta, ocorre um intervalo de dias a semanas até a infecção fetal. A duração desse período não é completamente conhecida e estima-se que seja mais longo no início da gravidez do que no final. A infecção fetal é mais comum na fase da parasitemia materna associada com a infecção aguda, mas, após a fase aguda podem persistir focos de parasitos na placenta, que podem ser liberados na circulação fetal em fase tardia da infecção materna. Esse é o conceito que justifica a manutenção do tratamento durante toda a gestação, mesmo quando o feto não está infectado (Gilbert & Peckham, 2002; Kaye, 2011). Aproximadamente 90% das crianças com toxoplasmose congênita desenvolvem-se aparentemente normais (Desmonts & Couvreur, 1974). Natimortos ou mortes pós-natais 4 ocorrem em aproximadamente 1% dos casos de bebes infectados e aproximadamente 2% tem sequelas neurológicas graves. A prevalência de sequelas menos graves, que pode não ser detectada até a idade escolar, não é conhecida, devido ao fato de não existir estudos que acompanharam as crianças por esse longo período após o nascimento. Existem evidências de que a intensidade de sintomas clínicos da toxoplasmose congênita é menor em países da Europa e nos Estados Unidos, quando comparado com países da América do Sul (Gilbert, 2009). Dados obtidos na Europa demonstram que os sinais clínicos no cérebro ou nos olhos são encontrados em aproximadamente 17% das crianças infectadas. Calcificação intracraniana pode ser detectada ao nascimento, e estima-se que afete 9% das crianças infectadas e aproximadamente 2% das crianças infectadas tem dilatação ventricular detectada no ultrasom cerebral. Lesões oculares (retinocoroidite) causadas por reativação de cistos latentes (bradizoítos) na retina e a reação inflamatória associada, podem aparecer em qualquer momento da infância, ou mesmo durante a fase adulta. Estudos de “coorte” baseados em crianças que foram tratadas para toxoplasmose durante o pré-natal e pós-natal mostram que 10% das crianças tiveram retinocoroidite detectada durante a infância, e 23% tiveram pelo menos uma lesão até os 7 anos de idade. Além disto, mais da metade tiveram algum grau de prejuízo ocular unilateral (Gilbert & Peckham, 2002; Jones et al., 2003). Um estudo realizado com crianças nascidas com toxoplasmose no estado de Minas Gerais demonstrou que aproximadamente 65% das crianças nascidas com toxoplasmose apresentavam retinocoroidite ao nascimento, das quais 63% apresentavam lesão ativa. Aproximadamente 17% das crianças nascidas com toxoplasmose apresentavam alteração neurológica ao nascimento. Analisados em conjunto, estes dados demonstraram que cerca de 80% dos nascidos com toxoplasmose no estado de Minas Gerais demonstravam algum 5 sinal clínico no momento do nascimento (Andrade et al., 2008; Vasconcelos-Santos et al., 2009; Machado et al., 2010). A associação do T. gondii com lesões das vias auditivas é relatada desde a década de 50. Em aproximadamente 20% dos casos de toxoplasmose congênita ocorre relato de déficit auditivo, principalmente nas crianças não-tratadas ou tratadas por períodos curtos. Num estudo realizado em Belo Horizonte entre 2003 e 2004, 20 recém-nascidos foram identificados com toxoplasmose pelo programa de Triagem Neonatal. Destas, 4 crianças apresentavam déficit auditivo, e 3 delas não apresentavam nenhum outro motivo, exceto a toxoplasmose, que justificasse o déficit apresentado (Andrade et al., 2008). Posteriormente este estudo foi ampliado para todo o estado de Minas Gerais, onde 43,4% das crianças com toxoplasmose congênita apresentou algum tipo de déficit auditivo (Resende et al., 2010). 1.3 Comprometimento ocular Atribui-se à infecção congênita a maioria das lesões oculares causadas pelo T. gondii (Remington et al 1994; Holland, 2009). Entretanto, elevadas prevalências da infecção adquirida e da lesão ocular (18% da população) em Erechim, ambas aumentando com a idade (Glasner et al. 1992), associadas ao relato de que a doença ocular adquirida pode ser tardia e não simultânea com os sintomas sistêmicos, sugerem que a frequência da lesão ocular devido à infecção adquirida esteja sendo subestimada. (Gilbert & Stanford, 2000). A prevalência das lesões oculares na toxoplasmose congênita foi investigada por vários pesquisadores, mas muitos desses estudos são constituídos por séries de casos encaminhados a um centro de referência pela presença de manifestações clínicas e 6 possibilidade de comprometimento ocular. Nessas casuísticas tem sido observado comprometimento ocular em 60-80% das crianças, dependendo do tempo de seguimento dos casos (Gilbert et al., 1999). Observa-se diferença na frequência das lesões oculares de acordo com o local de realização do estudo, sendo as maiores prevalências observadas na América do Sul. Nos EUA (Massachusetts) foi relatado acometimento ocular em 27% (28/103) dos recém-nascidos infectados e identificados pela triagem neonatal (Couvreur et al., 1993). As coortes realizadas na América do Sul mostraram prevalência de lesão ocular em 47% (18/38) dos infectados, enquanto na Europa ocidental observou-se sua ocorrência em 14% (79/550) (Thiebaut et al., 2007). A lesão ocular mais comum na toxoplasmose é a retinocoroidite. O diagnóstico da lesão ocular é clínico, depende do aspecto da lesão retiniana, e, na forma clássica, é facilmente diagnosticável pelo seu formato tipicamente oval e cor creme, durante a fase aguda (Nussenblat & Belfort, 1994). Acredita-se que a lesão se inicie com uma retinite e, posteriormente, afete o epitélio pigmentar da retina e coróide. A lesão aguda apresenta-se como um foco bem definido de necrose de coagulação na retina. Como essa lesão é decorrente da proliferação do parasito, detecta-se com frequência os antígenos de T. gondii na área de necrose, por imunohistoquímica (Roberts & McLeod, 1999). As reações de hipersensibilidade ao parasito desencadeiam os sinais inflamatórios, incluindo a vasculite da retina, uveíte anterior, reações inflamatórias do vítreo e edema de retina. A cavidade vítrea pode ficar repleta de células inflamatórias, tornar-se turva, e evoluir para opacidade devido a alterações no colágeno causadas pela inflamação. Quando ocorre em crianças maiores, observa-se diminuição da acuidade visual no olho afetado e, geralmente, não há queixa de dor. Se a lesão envolve a mácula, a visão se torna nitidamente pior. A lesão costuma ser auto-limitada nos indivíduos imunocompetentes, mesmo sem medicação, e progressivamente se torna pálida, atrófica e menos elevada. Em consequência da 7 inflamação, as células da camada pigmentar da retina migram para o entorno da lesão atrófica formando um halo hiperpigmentado. Essa alteração é típica, mas nem sempre é verificada. Lesão satélite, próxima à lesão principal, geralmente é evidência de episódio repetido de doença ocular. Essa proximidade de lesões é atribuída ao fato de organismos encistados estarem próximos das lesões antigas (Holland, 2009). A lesão cicatricial apresenta morfologia variável, de acordo com a virulência do parasito, da resposta imune do hospedeiro e da precocidade do tratamento. Apresenta-se geralmente como lesão de bordas nítidas, bem pigmentadas e com área central atrófica. Quando se observa o aspecto de uma coroa radiada de pigmento dirigindo-se a uma zona central de necrose, a lesão é denominada “roda de carroça” e considerada muito sugestiva de toxoplasmose ocular congênita, principalmente quando não tratada. A lesão ocular precocemente tratada pode se apresentar com aspecto âmbar e sem grande pigmentação em suas margens. A baixa acuidade visual decorre do envolvimento da mácula pela inflamação. Observa-se com frequência, traves fibróticas que se iniciam na lesão e se estendem até outras regiões da retina, representando comprometimento retiniano grave (Oréfice & BahiaOliveira, 2005). A lesão ocular de aparecimento tardio pode ocorrer em qualquer idade e tem sido atribuída à persistência de parasitos latentes em cistos tissulares, não suscetíveis à terapia antimicrobiana disponível e com potencial para reativar após longos períodos da infecção inicial. Quando as crianças apresentam exame oftalmológico normal durante os primeiros dois anos de vida, os dados disponíveis sugerem que o risco de aparecimento de lesões tardias seja pequeno (Gilbert, 2009). 8 A reativação da doença ocular crônica é comum na infecção congênita, ocorre no período de alguns anos após o primeiro episódio e não é previsível. Modelos experimentais têm evidenciado que a reativação ocorre devido a cistos tissulares localizados nas bordas da cicatriz. Determinadas condições seriam responsáveis pela conversão de taquizoítos em bradizoítos e vice-versa e os estudos in vitro parecem associar fatores ao stress do parasito (Roberts & McLeod, 1999). A toxoplasmose induz uma forte resposta imune mediada por células e tem sido relatado diferenças nessa resposta e na produção de citocinas entre pacientes com toxoplasmose ocular adquirida e congênita (Yamamoto et al., 2000), embora esse achado não seja confirmado por outros pesquisadores (Fatoohi et al., 2006). Os episódios de reativação da retinocoroidite geralmente têm resolução espontânea em 6-8 semanas e sua evolução pode ser atenuada pelo tratamento (Rothova et al., 1993). 1.4 Resposta Imune A resposta imune contra o T. gondii é individual, complexa e compartimentalizada (Filisetti & Candolfi, 2004). Existe um delicado equilíbrio entre a reposta imune do hospedeiro, que tenta eliminar o parasito, e as estratégias de evasão imune ou imunomodulação provocadas pelo parasito, que permitem a sobrevivência final de ambos, o parasito e o hospedeiro. Um desvio desse equilíbrio em qualquer direção é deletéria, como exemplificado em pacientes com AIDS, em que a perda ou diminuição de um funcionamento do sistema imune resulta na replicação descontrolada de parasitos recrudescentes e a morte do hospedeiro devido principalmente a neurotoxoplasmose, se não tratado adequadamente. Segundo Filisetti & Candolfi (2004) a reposta imune celular é o elemento chave na resistência do hospedeiro contra a infecção pelo T. gondii e os anticorpos exercem um papel secundário nessa resistência. 9 Um grande número de células hospedeiras diferentes estão envolvidas na resposta ao T. gondii e a interação entre essas células é crucial na resistência ao parasito. T. gondii é mais comumente adquirido através da ingestão de cistos teciduais contendo bradizoítos ou oocistos abrigando esporozoítos. Assim, as células epiteliais do intestino fornecem a primeira linha de defesa contra o parasita. No entanto, apesar dos mecanismos existentes no intestino para controlar o T. gondii, um grande número de parasitos ainda são capazes de migrar através do epitélio e disseminar-se para outras células, tecidos e órgãos. T. gondii pode invadir e sobreviver muito bem dentro das células tais como células dendríticas e macrófagos, e aproveitando de suas propriedades migratórias para disseminar por todo o corpo (Buzoni-Gatel et al., 2006; Sullivan & Jeffers, 2012). A migração de células do sangue para o local da infecção nos tecidos periféricos segue uma série de eventos rigidamente controlada, mediada por fatores quimiotáticos difusíveis e moléculas de adesão de superfície celular. 1.4.1 O epitélio intestinal é a primeira linha de defesa contra T. gondii Após a ingestão de cistos teciduais ou oocistos de T. gondii, bradizoítos ou esporozoítos são liberados no intestino delgado e ativamente invadem enterócitos. As células infectadas então secretam moléculas estimulatórias, em particular MCP-1, (MIP-1α; CCL3) e MIP-1β (CCL4), que atraem células do sistema imunológico, tais como neutrófilos, células dendríticas, macrófagos, monócitos e células T (Mennechet et al., 2002). Essas células, por sua vez, secretam citocinas como IL-12, que estimula a resposta imune adaptativa via células T CD4+. As células dendríticas da lâmina própria são responsáveis por capturar os antígenos do parasito e processá-los para a apresentação, afim de estimular as células T. As células T CD4+ da lâmina própria, por sua vez, sinergizam 10 com enterócitos infectados para secretar citocinas pró-inflamatórias como IFN-γ e TNF-α. IFN-γ ativa os macrófagos, as células dendríticas e os enterócitos para produzirem moléculas microbicidas, tais como NO, e eliminar o parasita (Buzoni-Gatel et al., 2006). Enterócitos infectados com T. gondii também produzem IL-15, que participa dos processos iniciais da resposta imune, mas, se não for regulada, resultará em patogênese. As células NK e NKT são o alvo da IL-15, resultando na produção de IFN-γ (Buzoni-Gatel et al., 2006). Camundongos IL-15-/- exibem uma reação inflamatória mais branda na infecção por via oral de T. gondii e aumento da sobrevida devido à redução da patologia do intestino, apesar do aumento da carga parasitária (Combe et al., 2006). A transferência passiva de células T CD4+ normais em camundongos IL-15-/- resulta num aumento da resposta inflamatória nos camundongos recipientes, o que leva à sua morte. A redução na resposta CD4+ observada nos camundongos IL-15-/- é justificada pela redução da capacidade de células dendríticas em produzir IL-12 e, consequentemente, as células CD4+ em produzirem IFN-γ (Combe et al., 2006). Além disso, a resposta T CD8+ fica comprometida, indicando que a IL-15 também desempenha um papel no desenvolvimento da resposta T CD8+ de memória antígeno-específica (Khan et al., 2002). No entanto, esta resposta parece ser limitada a infecção oral, uma vez que camundongos IL-15-/- infectados por inóculo intraperitoneal mostram uma mortalidade semelhante à observada em camundongos selvagens (Lieberman et al., 2004). Linfócitos intraepiteliais (IEL) também desempenham papel importante tanto na resistência quanto na imunopatologia da toxoplasmose intestinal. A secreção de MIP-1α e MIP-1β por enterócitos estimula a expressão de CCR5, o que resulta na migração de IEL. Linfócitos intraepiteliais são principalmente células T CD8+ e, numa infecção por T. gondii, são citotóxicos para enterócitos infectados. Os linfócitos intraepiteliais também são capazes 11 de limitar a resposta inflamatória através da produção de citocinas reguladoras como IL-10 e TGF-β (Kasper et al., 2004). O TGF-β é vital na proteção contra ileíte, sendo sua proteção mediada pela inibição da produção de IFN-γ por células T CD4+ intestinais. Linfócitos intraepiteliais de camundongos imunizados produzem grandes quantidades de TGF-β e a sua inibição anula o efeito protetor, o que resulta no desenvolvimento de doença intestinal em linhagens de camundongos resistentes (Kasper et al., 2004). A transferência adotiva de linfócitos intraepitelais de camundongos imunizados para camundongos naive pode fornecer proteção a longo prazo contra a infecção adquirida por via oral, como demonstrado pela redução da mortalidade (Lepage et al, 1998). Além disso, linhagens de camundongos sensíveis, podem ser protegidas contra o desenvolvimento da ileíte pela administração de adenovírus expressando TGF-β (Buzoni-Gatel et al., 2001). 1.4.2 O recrutamento de neutrófilos ao local da infecção por T. gondii Neutrófilos estão normalmente presentes na corrente sanguínea, onde só sobrevivem por algumas horas após serem liberados da medula óssea. Eles são as primeiras células fagocíticas recrutadas ao local da infecção, onde fagocitam e matam agentes patogênicos pela liberação de compostos anti-microbiais de seus grânulos e pela produção de ROI e NO (Van Gisbergen et al., 2005). Assim como as funções anti-microbiais, os neutrófilos têm uma função imuno-regulatória mediada pela liberação de uma série de quimiocinas e citocinas pró-inflamatórias que atraem e estimulam outras células do sistema imunológico (Munoz et al., 2011). Após uma inoculação intra-peritonial de taquizoítos, há o recrutamento local de uma grande população de neutrófilos, cujo fluxo é dependente de receptores de quimiocina CXCR2 (Del Rio et al., 2001) e CCR1 (Khan et al., 2001). Assim, camundongos CCR1-/- 12 apresentam déficit na proliferação de neutrófilos e são mais suscetíveis à infecção pelo T. gondii. Isto é associado com um aumento de parasitos no tecido e é independente de uma resposta imune efetiva mediada por células T (Khan et al., 2001). Nos seres humanos, CXCR2 juntamente com CXCR1 são receptores de alta afinidade para IL-8 que, juntamente com CXCL1, são importantes para o recrutamento de neutrófilos (Bliss et al, 2000). A depleção de neutrófilos no início da infecção resulta no aumento da susceptibilidade e exacerbação da toxoplasmose, exemplificado pela reversão da resposta Th1 para uma resposta predominantemente Th2. Quando a depleção é feita em estágios mais avançados da infecção nenhum efeito é observado, indicando um papel importante destes na resposta inicial ao T. gondii (Gisbergen van et al, 2005). Outra evidência da importância de neutrófilos na resistência ao T. gondii vem de estudos com camundongos que são deficientes na citocina IL-17. IL-17 é a principal citocina responsável pelo recrutamento e desenvolvimento de neutrófilos, e os animais deficientes em IL-17 são mais suscetíveis à infecção oral com T. gondii do que os camundongos selvagens (Kelly et al., 2005). Camundongos IL-17-/- têm aproximadamente 100 vezes mais parasitos no baço, fígado, intestino e cérebro em comparação com camundongos selvagens, e taquizoítos são observados na lâmina própria de camundongos IL-17-/-, mas não nos camundongos selvagens. Apesar disso, os animais do tipo selvagem apresentam patologia mais grave no fígado e no intestino, devido à produção excessiva de IFN-γ. Animais IL-17-/- desenvolvem imunidade antígeno-específica por célula T e resposta celular NK normal, mas o recrutamento de neutrófilos e leucócitos polimorfonucleares (PMN) para a cavidade peritoneal após o inóculo intraperitoneal de T. gondii é significativamente reduzido. Isto é acompanhado por uma redução no nível da MIP-2 em camundongos IL-17-/-, especialmente no início da infecção. Assim, durante a infecção por 13 T. gondii, a indução precoce de neutrófilos é dependente da sinalização de IL-17, e os neutrófilos eliminam uma grande quantidade de parasitos durante as fases iniciais. O resultado da deficiência na sinalização de IL-17 é que a atividade inicial anti-T. gondii fica prejudicada, levando à incapacidade da resposta imune adaptativa em controlar a carga parasitária subsequente, resultando em aumento da mortalidade (Kelly et al., 2005). Embora seja importante no recrutamento e indução de neutrófilos durante a infecção por T. gondii, o papel da citocina IL-17 ainda é controverso, com alguns estudos mostrando seu papel deletério durante a infecção e na toxoplasmose ocular (Guiton et al., 2005; Sauer et al., 2012) 1.4.3 Células dendríticas e a produção de IL-12 em reposta ao T. gondii A maturação e a ativação das células dendríticas em resposta à infecção por T. gondii desempenham um papel importante no início da imunidade inata e subsequente desenvolvimento da imunidade adaptativa. A maturação é descrita como o aumento da expressão do complexo principal de histocompatibilidade (MHC) e outras moléculas coestimulatórias que aumentam a proliferação de células T naïve, enquanto a ativação é descrita como a produção de citocinas inflamatórias que regulam a diferenciação das células T. Em resposta a sinais locais, células dendríticas que carregam antígenos microbianos migram do local de infecção para o baço onde se acumulam nas áreas de células T e são responsáveis por grande parte da atividade apresentadora de antígenos nesse órgão, dirigindo a polarização da resposta Th para Th1 através da produção de IL-12 (Reis e Sousa et al, 1997). 14 As células dendríticas são as principais fontes de produção de IL-12 em resposta a infecção por T. gondii e são vitais para a resistência contra a infecção in vivo (Scott & Hunter, 2002). A depleção das células dendríticas suprimem a produção de IL-12 e aumenta a susceptibilidade de camundongos à infecção aguda, enquanto que, a transferência de células dendríticas de camundongos selvagens para camundongos que sofreram depleção de células dendríticas antes da infecção restaura a produção de IL-12 e IFN-γ, e consequentemente aumenta a resistência à infecção (Liu et al., 2006). A produção de IL-12 por células dendríticas é rápida. Poucas horas após a infecção, a maioria das células dendríticas presentes no baço migraram a partir da polpa vermelha e da zona marginal para as áreas de células T e estão produzindo IL-12 (Aliberti et al., 2004). IL-12 é de importância crucial na ativação de células natural killer (NK) para a produção de IFN-γ, bem como na direção da proliferação de células T CD4+ e CD8+ do tipo Th1, que também produzem IFN- γ (Reis e Sousa et al., 1997; Pifer & Yarovinsky, 2011). A neutralização de IL-12 em camundongos infectados com T. gondii resultam na diminuição da produção de IFN-γ e aumento da susceptibilidade à infecção aguda com camundongos sucumbindo devido à proliferação de parasitos (Denkers & Gazzinelli, 1998). Um receptor, cujo envolvimento foi demonstrado na mobilização de células dendríticas e na produção de IL-12 após a infecção por T. gondii, é o receptor de quimiocina CCR5. Durante uma infecção, as células dendríticas migram para locais de inflamação em resposta a ligantes de quimiocinas CCR5 como (CCL3, 4 e 5), secretados por neutrófilos. Baços de camundongos CCR5-/- e camundongos tratados com um antagonista do CCR5 (Met-RANTES), mostraram um padrão alterado na mobilização esplênica de células dendríticas, sendo que estas não conseguem congregar em áreas de células T como fariam normalmente. Animais CCR5-/- também apresentam uma grande redução na produção de IL-12 pelas células dendríticas em resposta ao T. gondii em 15 comparação com camundongos selvagens. Estes animais apresentam uma quantidade maior de cistos teciduais que se correlacionam bem com os níveis séricos mais baixos de IL-12 e IFN-γ (Aliberti et al., 2000). Os receptores toll-like sinalizando através da proteína adaptadora MyD88 desempenham um papel igualmente importante na produção de IL-12. As células dendríticas de camundongos MyD88-/- mostram uma redução significativa na produção de IL-12 em resposta a taquizoítos de T. gondii ou antígenos solúveis de taquizoítos em comparação com células dendríticas de camundongos selvagens (Scanga et al., 2002). A sinalização de membros da superfamília TNFR (tumor necrosis factor receptor) tais como CD40 também contribuem para a regulação da ativação de células dendríticas. A interação CD40-CD40L é exigida por algumas células dendríticas humanas para produzir IL-12, quando induzida por T. gondii (Subauste & Wessendarp, 2000). Acredita-se que esta exigência de dois sinais tenha um papel regulador contra a liberação excessiva de IL-12 (Denkers et al., 2004). T. gondii também pode induzir a produção de IL-12 por células dendríticas na ausência de CD40 ligante. Assim, os camundongos CD40L knockout são capazes de produzir IL-12, embora a um nível mais baixo do que os camundongos do tipo selvagem. Esses eventos são suficientes para promover o IFN-γ necessário para sobreviver à infecção aguda (Reichmann et al., 2000). 16 1.4.4 O papel dos macrófagos na resistência ao T. gondii Macrófagos são as células fagocíticas mais importantes no corpo dos vertebrados e desempenham um papel fundamental na detecção e eliminação de patógenos. Juntamente com as células dendríticas, eles fornecem a primeira linha de defesa mediada por células, sendo cruciais para limitar a disseminação inicial e o crescimento de organismos infecciosos e na modulação das reações imunológicas resultantes (Stafford et al., 2002). As funções dos macrófagos incluem a produção de citocinas, como IL-12, e apresentação de antígenos às células T através do MHC e moléculas co-estimulatórias que ajudam a desencadear as respostas imune-adaptativas, bem como mecanismos microbicidas efetores tais como fagocitose e degradação fagolisossomal, além da produção de ROI e NO (Butcher & Denkers, 2002; Stafford et al., 2002). Macrófagos infectados com T. gondii são uma importante fonte de IL-12 no início da infecção (Aliberti, 2005). Este IL-12 atua sobre as células NK e, mais tarde, nas células T, promovendo a produção de IFN-γ, e criando um ciclo de feedback positivo pelo qual IFN-γ promove ativação clássica dos macrófagos. Esta ativação desempenha um papel fundamental no controle da infecção intracelular, como parte de uma resposta imune Th1. Dois sinais são necessários para isso. Primeiro, IFN-γ, secretado por NK e pelas células T ativam o macrófago e segundo, TNF endógena, produzida pelo macrófago em resposta a padrões moleculares associados a patógenos (PAMPs) ligando aos receptores de reconhecimento padrão (PRRs) na superfície do macrófagos, completam a ativação. Macrófagos ativados proliferam no local da infecção, onde fagocitam e destroem os microorganismos pela liberação de enzimas lisossomais, ROI e NO, bem como mecanismos de privação de nutrientes (Stafford et al., 2002; Mosser, 2003). 17 A produção excessiva de citocinas inflamatórias e NO podem resultar em imunopatologia grave e assim, a atividade dessas células precisa ser bem regulada. Sinais dos macrófagos ou células vizinhas regulam a ativação de macrófagos e resultam na produção de citocinas reguladoras, como IL-10 e TGF-β. Camundongos deficientes para qualquer uma dessas duas citocinas são mais suscetíveis a patologias inflamatórias do que camundongos selvagens (Mosser, 2003). A fagocitose de células, infectadas ou inflamatórias em apoptose, pelos macrófagos também desempenha um papel importante na resolução da inflamação, bem como promove a produção de TGF-β (Zhang & Mosser, 2008). 1.4.5 O papel das células natural killer na produção de IFN-γ em resposta ao T. gondii As células natural killer (NK) são linfócitos da resposta imune inata que contribuem para a resistência precoce ao T. gondii (French et al, 2006; Goldszmid et al, 2007). Células NK reconhecem e matam as células infectadas e, mais importante, são a principal fonte de IFN-γ no início da infecção (French et al., 2006). A citotoxicidade celular da NK é estimulada pela IL-18 produzida por macrófagos e células dendríticas, e aumenta a proliferação através das ações combinadas de IL-18 e IL-15 (French et al., 2006). Estas células são produzidas na medula óssea e circulam no sangue. Após a infecção elas migram para o linfonodo e depois para o local da infecção onde liberam IFN-γ, ativando classicamente os macrófagos e aumentando a expressão de MHC II. Células NK possuem uma série de receptores de quimiocinas que facilitam esse processo, o mais importante dos quais parece ser CCR5. A diminuição da migração de células NK para o local da infecção é 18 observada em camundongos CCR5-/- infectados com T. gondii. Embora isso leve a uma diminuição da resposta inflamatória frente à infecção, o camundongo CCR5-/eventualmente sucumbe devido ao aumento da parasitemia (Khan et al., 2006). A produção de IFN-γ pelas células NK é estimulada por IL-12 produzida pelos neutrófilos, macrófagos e células dendríticas (French et al., 2006). Em particular, interações diretas entre células dendríticas e células NK aumentam a produção de IFN-γ por células NK, bem como aumentam a produção de IL-12 por células dendríticas (Guan et al., 2007). Isto é mediado através do receptor NKG2D das células NK ligando a ligantes na superfície da célula dendrítica. Estes ligantes são fracamente expressos por células normais, mas são estimulados nas células infectadas. A neutralização do receptor NKG2D com anticorpos resulta em diminuição da produção de IFN-γ (Guan et al., 2007). As células NK também têm um papel importante no condicionamento da resposta imune adaptativa. Assim, a neutralização do receptor NKG2D ou a depleção das células NK resulta em redução na resposta das células T CD4+ e T CD8+(Combe et al, 2006; Guan et al, 2007). A produção contínua de IFN-γ é fundamental para o controle da infecção aguda e crônica com T. gondii (Aliberti, 2005). IFN-γ desempenha um papel importante na diferenciação das formas de replicação rápida, os taquizoítos, característicos de fase aguda, para as formas de replicação lenta, os bradizoítos, característicos de infecção crônica (Bohne et al., 1993), além de suprimir a conversão de bradizoítos a taquizoítos, durante a infecção crônica (Jones et al., 1986). Camundongos deficientes para IFN-γ rapidamente sucumbem à infecção (Silva et al., 2009), apesar de apresentarem resposta IL-12 intacta, e a mortalidade é associada com a replicação descontrolada de taquizoítos (Scharton-Kersten et al., 1996). Por outro lado, a administração de anticorpos anti-IFN-γ a animais cronicamente infectados resulta em rápida reativação da infecção e subsequente mortalidade dos 19 hospedeiros infectados (Yap & Sher, 1999). A produção de IFN-γ também ativa macrófagos que passam a produzir TNF-α que sinergiza com IFN-γ para iniciar a produção da molécula microbicida, óxido nítrico (NO). Há uma série de outros mecanismos efetores sob o controle de IFN-γ que foram previamente descritos como importantes no controle de T. gondii, incluindo a geração de intermediários reativos de oxigênio (ROI), privação de ferro, privação de triptofano e ativação da p47 GTPases. 1.4.6 A importância do óxido nítrico, dos reativos intermediários de oxigênio e das GTPases na resistência ao T. gondii Óxido nítrico (NO) é produzido durante o metabolismo da L-arginina para citrulina pela NO sintase (NOS) e é sintetizado por muitas células envolvidas na resposta imune como macrófagos, linfócitos T, células apresentadoras de antígenos, neutrófilos e células NK. NO é produzido constitutivamente em baixas concentrações pela NOS-1 e NOS-3 e tem um papel importante em processos fisiológicos agindo como um agente de relaxamento vascular, um neurotransmissor e um inibidor da agregação plaquetária (Coleman, 2001). Uma terceira isoenzima, NOS induzível (iNOS ou NOS-2), é ativada em resposta a citocinas como IFN-γ, TNF-α e IL-1β para produzir altas concentrações de NO e esta é a forma comumente associada com a resposta à infecção parasitária. NO pode matar diretamente taquizoítos de T. gondii, inibindo enzimas mitocondriais e nucleares essenciais (Brunet, 2001). A produção de NO pode ser prejudicial ou benéfica ao hospedeiro dependendo do estágio da infecção por T. gondii. Na infecção aguda, a produção de NO excessiva contribui para a patologia associada com aumento de citocinas inflamatórias. Assim, os camundongos tratados com o inibidor de iNOS, aminoguanidina ou camundongos iNOS-/-, que não têm 20 capacidade para produzir NO, tiveram aumento da carga parasitária, mas diminuição da patologia no intestino e no fígado, além do aumento na sobrevivência. No entanto, a longo prazo, esses camundongos desenvolvem graves lesões necrosantes e replicação descontrolada de taquizoítos no SNC durante a infecção crônica (Khan et al., 1997; Scharton-Kersten et al., 1997). NO também é importante no direcionamento da conversão de taquizoítos à bradizoítos (Bohne et al., 1994). Assim, é possível que o NO possa também desempenhar um papel importante em manter o parasito em sua forma crônica latente. A produção de reativos intermediários de oxigênio (ROI) por macrófagos ativados por IFN-γ tem sido reconhecida por muitos anos como um mecanismo efetor anti-microbial importante do sistema imune inato. A família dos reativos intermediários de oxigênio incluem o radical superóxido, peróxido, radicais de hidrogênio e radical hidroxila, moléculas instáveis que podem reagir com uma variedade de constituintes celulares cruciais, causando dano. Ânions de superóxido podem também reagir com o NO para formar um agente oxidante potente, o peroxinitrito, levando a peroxidação lipídica das membranas celulares (Brunet, 2001). A importância de ROI na resistência ao T. gondii ainda não é bem esclarecido, uma vez que, enquanto a atividade parasiticida mediada por ROI tem sido demonstrada em macrófagos humanos (Murray et al., 1985), tem sido relatado que T. gondii pode ser bastante resistente a ROI produzido por macrófagos murinos (Chang & Pechere, 1989). Foi ainda demonstrado que camundongos com deficiência na explosão oxidativa controlam perfeitamente T. gondii na fase aguda e na fase crônica da infecção (Scharton-Kersten et al., 1997). As p47 GTPases são uma família de proteínas de 47-48 kDa de tamanho, induzíveis por IFN-γ, e que possuem atividade GTPase ligando-se a membranas subcelulares, como o retículo endoplasmático (RE) e as vesículas de Golgi (Butcher et al, 2005). Há pelo menos 21 seis membros dessa família em camundongos, embora apenas IGTP e LRG-47 sejam cruciais na resistência a infecção aguda por T. gondii in vivo. Assim, camundongos deficientes em IGTP ou LRG-47 sucumbem à infecção aguda de uma maneira semelhante aos camundongos IFN-γ deficientes (Collazo et al, 2001; Butcher et al, 2005). Além disso, a inibição IFN-γ dependente de T. gondii por macrófagos é dependente de IGTP e LRG-47 (Butcher et al., 2005). O modo como essas GTPases exercem seus efeitos protetores ainda é pouco compreendido, mas parece que quando ligadas a membrana são capazes de mediar disrupções e vesiculação do vacúolo parasitóforo deixando o parasito exposto no citosol. O parasito é posteriormente cercado por autofagossomas e lisado (Yap et al., 2006). Em contraste com IGTP e LRG-47, IGP-47 (um terceiro membro da família) não é importante na resistência à infecção por T. gondii e não é necessário na inibição mediada por macrófagos do parasito, mas desempenha um papel importante no controle da fase crônica da infecção (Collazo et al, 2001; Butcher et al, 2005). 1.4.7 A importância da privação de ferro e de triptofano na resistência ao T. gondii O ferro é um co-fator crucial em muitos processos metabólicos nas células eucarióticas, não sendo exceção para T. gondii. Tem sido demonstrado que o IFN-γ é importante na limitação da disponibilidade de ferro dentro de enterócitos infectados com T. gondii e, assim, inibe a replicação do parasita dentro dessas células (Dimier & Bout, 1998). O mecanismo para essa limitação não é bem compreendido e parece ser peculiar aos enterócitos. O triptofano é um aminoácido essencial para o T. gondii. A indução da viaindoleamina 2,3-dioxigenase, mediada por IFN-γ, que degrada o triptofano, efetivamente 22 priva T. gondii deste aminoácido, inibindo o seu crescimento em uma variedade de células in vitro, como fibroblastos fetais, células epiteliais e células endoteliais de várias espécies, incluindo humanos, camundongos e ratos (Pfefferkorn, 1990; Daubener & MacKenzie, 1999). 1.4.8 O papel das células T CD4+ e T CD8+ durante a infecção pelo T. gondii As células T CD4+ e CD8+ são cruciais para a sobrevivência do hospedeiro durante a infecção crônica, como demonstrado em pacientes com defeitos primários ou adquiridos na função das células T, que apresentam maior susceptibilidade ao T. gondii (Kang et al., 2002; Johnson & Sayles, 2002). Como mencionado anteriormente, as células T CD4+ são fundamentais na resistência ao T. gondii, sendo seu principal papel na regulação da resposta imune. Estudos demonstram que o surgimento da toxoplasmose grave é concomitante com o declínio do número de células T em pacientes infectados com HIV (Israelski & Remington, 1988), e em modelos com camundongos, o aumento da susceptibilidade durante a fase crônica está associado com a deficiência de células T CD4+ (Johnson & Sayles, 2002). Além disso, durante as fases iniciais da infecção, as células T CD4+ contribuem para otimização da resposta das células T CD8+ e B (Johnson & Sayles, 2002; Lutjen et al., 2006). A resposta pró-inflamatória desencadeada pela infecção é essencial para a resistência ao T. gondii. Porém, uma resposta descontrolada leva ao desenvolvimento da patologia, sendo necessário que o hospedeiro equilibre a resposta imune com o intuito de 23 eliminar o parasito, mas minimizar os danos causados a si mesmo (Shaw et al., 2006). Nesse cenário, a citocina IL-10 tem papel fundamental. Ela é produzida por uma variedade de células, incluindo macrófagos, células NK, células T e células B. Estudos com camundongos deficientes para IL-10 mostraram que apesar de exibirem carga parasitária normal, estes damundongos desenvolvem lesão hepática grave, aumento da produção de citocinas pró-inflamatórias, e sucumbem devido a uma resposta hiper-inflamatória mediada por células T CD4+ (Gazzinelli et al., 1996). Outro papel importante da citocina IL-10 é na desativação de macrófagos, facilitando a sobrevivência do parasito. Estes resultados fornecem evidências de que a imunoregulação induzida por IL-10 após a infecção com o T. gondii é benéfica tanto para o parasito quanto para o hospedeiro, favorecendo uma relação parasito-hospedeiro estável. Dado que T. gondii é um agente patogênico intracelular, não é surpreendente que as células T CD8+, que são especializadas em reconhecer e destruir células infectadas com parasitos, também tenham um papel crítico na resistência à infecção. As células T CD8 + podem controlar a infecção através da produção de citocinas pró-inflamatórias, através de interações CD40/CD40L, e através de citólise mediada pela perforina em células hospedeiras infectadas (Gazzinelli et al., 1992; Denkers et al., 1997; Reichmann et al., 2000). Camundongos deficientes em células T CD8+ apresentam aumento da susceptibilidade à toxoplasmose, sucumbindo aproximadamente 50 dias após a infecção (Denkers et al., 1997). Além disso, a transferência de células T CD8+ a partir de camundongos infectados cronicamente, ou de camundongos vacinados com uma cepa atenuada do T. gondii, é suficiente para conferir resistência (Parker et al., 1991; Gigley et al., 2009). 24 Como mencionado anteriormente, a resposta das células T CD8+ é otimizada graças às células T CD4+ (Combe et al., 2005; Lutjen et al., 2006). Embora a depleção de células T CD4+ não afete os estágios iniciais de expansão e ativação das células T CD8+, as células T CD4+ são necessárias para a manutenção das funções efetoras das células T CD8+ na fase crônica da infecção, e tal estímulo é fornecido ainda na fase aguda da doença (Lutjen et al., 2006). 1.4.9 Células B e a produção de anticorpos em resposta ao T. gondii O papel crítico dos anticorpos na imunidade ao T. gondii é demonstrado em experimentos com camundongos MT, que são deficientes para células B. Esses camundongos apresentam produção normal de IFN-, mas sucumbem a infecção dentro de 3-4 semanas após o desafio, associado com altas cargas parasitárias no SNC (Kang et al., 2002). O aumento de susceptibilidade é atribuído a falta de anticorpos, já que a transferência passiva de anticorpos confere proteção a estes mesmos camundongos (Johnson & Sayles, 2002). A imunoglobulina M (IgM) é produzida logo após a infecção pelo T. gondii. As IgM são as melhores ativadoras do sistema do complemento e, devido a sua estrutura, são capazes de excelente aglutinação e têm um alto nível de citotoxidade. Os principais antígenos alvo dessas imunoglobulinas são as proteínas de superfície do parasito (Filisetti & Candolfi, 2004). A imunoglobulina G (IgG) é uma classe de imunoglobulinas composta de várias subclasses, que aparecem em proporções desiguais durante a infecção. Em humanos estão presentes as subclasses IgG1, IgG2, IgG3 e IgG4. Vários estudos da toxoplasmose humana 25 têm demonstrado que IgG1 é a primeira a ser ativada e é dominante no plasma, enquanto que anticorpos IgG2 e IgG3 são observados em baixos níveis e os anticorpos IgG4 podem não ser detectados (Huskinson et al., 1989). Anticorpos IgG1 e IgG3 são induzidos por IFN-α e sua produção é aumentada por ação de IL -10 e TGF-β. A produção de IgG2 é induzida por IL-2 e aumentada por IL-6, enquanto IgG4 é induzida por IL-4 e IL-13 (Correa et al., 2007). Os anticorpos IgG e suas subclasses promovem a citotoxidade dependente de anticorpo ou opsonização, graças aos receptores de Fc presentes nos macrófagos e nas células polimorfonucleares, ou devido à citólise mediada por complemento ou por células NK. Ainda em humanos, foi mostrado que a síntese fetal de IgG3 e IgG4 está associada à gravidade dos sinais clínicos da toxoplasmose congênita, enquanto a produção de IgG1 está associada à menor gravidade das lesões (Canedo Solares et al., 2008). Souza e Silva et al (2013) estudaram a produção de IgG1, IgG2, IgG3 e IgG4 em 190 recém nascidos com toxoplasmose congênita no estado de Minas Gerais. Foi mostrado que a síntese de IgG2 e IgG4 anti-rMIC3 de T. gondii está associada a sintomas oculares e neurológicos da toxoplasmose. A imunoglobulina A (IgA) é observada em duas formas: IgA de mucosa que é encontrada nas secreções mucosas e IgA do plasma. Na toxoplasmose, a IgA pode ser encontrada no trato digestivo e no plasma de animais e de humanos . Segundo Chardès & Bout (1993), os anticorpos IgA constituem mais de 80% de todos os anticorpos associados a mucosa e tecido. Essa imunoglobulina persiste por seis a sete meses na toxoplasmose, entretanto varia bastante na quantidade e duração em adultos e recém-nascidos infectados pela via congênita. O sistema imune na mucosa possui extensa população de células linfóides que rapidamente entram em contato com o parasito durante sua penetração intestinal desencadeando a produção de citocinas e a produção de anticorpos que agem no local. Estudos indicam que IgA é um elemento importante da imunidade de mucosa contra a 26 infecção oral por cistos de T. gondii e, portanto, esse isotipo de anticorpo pode ser importante para evitar a reinfecção (Denkers & Gazzinelli, 1998). Segundo Defrance et al. (1992), a resposta de IgA regularmente surge antes de IgG e sua produção é aumentada por estímulo de IL-10 e TGF-β. 1.5. A influência da gravidez na infecção com T. gondii As respostas do hospedeiro descritas anteriormente são válidas em indivíduos normais imunocompetentes. No entanto, a situação que surge durante a gravidez é um pouco diferente, porque uma série de alterações imunológicas ocorrem, que são destinadas a favorecer a tolerância materna à aloantígenos paternos, ajudar a implantação bem sucedida de uma placenta e, posteriormente, garantir a sobrevivência do feto em desenvolvimento. Alguns hormônios apresentam aumento de concentração na circulação durante a gravidez, incluindo estrogênio, testosterona e, mais significativamente, a progesterona (Roberts et al., 2008; Lindsay & Dubey, 2011). Sabe-se que a progesterona inibe IL-12, TNF e a produção de NO pelos macrófagos (Miller & Hunt, 1996; Jones et al, 2008), aumenta a produção de IL-10 por células dendríticas (Huck et al, 2005), reduz a atividade das células NK (Roberts et al, 2001), inibe o desenvolvimento de respostas de células Th1 (Miyaura & Iwata, 2002) e incentiva o desenvolvimento de uma resposta Th2 (Piccinni, 2000). Essas alterações ocorrem porque, geralmente, uma resposta imunológica pró-inflamatória do tipo Th1 é incompatível com gravidez bem sucedida (Raghupathy, 1997). Isto, naturalmente, pode comprometer a capacidade do hospedeiro de controlar infecções intracelulares e, na verdade, a gravidade de várias doenças infecciosas pode ser maior durante a gravidez, incluindo as causadas por Plasmodium falciparum, Leishmania major, Leishmania donovani e T. gondii, só para citar alguns (Luft & Remington, 1982; Akingbade, 1992; Shirahata et al, 1992; Pagliano et al, 2005; Coutinho et al., 2012). Por outro lado, o sucesso 27 da gestação pode ser afetado da mesma forma pelas doenças infecciosas, como seria pela resposta pró-inflamatória, comprometendo a saúde da unidade feto-placentária, causando abortos espontâneos, reabsorção fetal e natimortos (Raghupathy, 1997; Carlier et al., 2012; Coutinho et al., 2012). 1.5.1 A gravidez aumenta a susceptibilidade ao T. gondii Alguns estudos mostran que camundongos grávidas são mais suscetíveis à infecção por T. gondii e isto é associado com uma redução na produção de IFN-γ (Luft & Remington, 1982;. Shirahata et al., 1992). Esta susceptibilidade inclui um aumento da mortalidade que, previsivelmente, pode ser revertida pela administração de IFN-γ e IL-2 (Shirahata et al., 1992). Camundongos IL-4-/- grávidas também mostram uma diminuição da susceptibilidade à toxoplasmose, indicando a importância do IFN-γ associado a respostas do tipo Th1 na resistência durante a gravidez (Thouvenin et al., 1997). Porém, existem estudos que também mostram que o aumento da resposta inflamatória está relacionado com o aumento da susceptibilidade em camundongos grávidas (Coutinho et al., 2012), demonstrando que o papel da resposta imune durante a infecção na gestação ainda é controverso. Embora o aumento da susceptibilidade à infecção primária com T. gondii seja amplamente aceita no período da gravidez, muito discute-se que a reativação de uma infecção crônica durante a gravidez seja um evento extremamente raro. No entanto, estudos recentes colocam esta questão em dúvida. Garweg et al. (2005) acompanharam 18 mulheres com infecção crônica e constatou-se que sete (ou seja, quase 40%) das mulheres sofreram reativação da infecção ocular. Roberts et al. (2007) acreditam que a real incidência de 28 reativação de infecção crônica durante a gravidez pode, portanto, ser muito maior, pois passaria despercebida caso ocorra em órgãos menos evidentes do que o olho. A escassez de estudos referentes a resposta imune durante toxoplasmose congênita, principalmente estudos com humanos justificam a realização de um estudo visando o entedimento do perfil do perfil da resposta imune em crianças com toxoplasmose congênita, bem como a sua associação com aspectos clínicos oftalmológicos da infecção. 29 2. OBJETIVO Objetivo geral: Analisar o perfil fenotípico e a produção de citocinas pelas células mononucleares circulantes de recém-nascidos com toxoplasmose congênita correlacionando com as lesões retinocoroideanas. Objetivos específicos: Avaliar possíveis alterações no perfil imunológico em recém-nascidos com toxoplasmose congênita. Verificar se possíveis alterações no perfil imunológico estão relacionadas com os achados clínicos da avaliação oftalmológica. Determinar qual tipo de resposta imune celular predomina em crianças infectadas pelo T. gondii. Verificar se existe relação entre a resposta imune celular de recém-nascidos infectados com a análise clínica oftalmológica. Avaliar possíveis biomarcadores da toxoplasmose congênita e das formas clínicas oftalmológicas da doença. 30 3. METODOLOGIA 3.1. Pacientes e Amostras biológicas As amostras de sangue periférico de recém-nascidos foram obtidas a partir de um estudo transversal realizado em Minas Gerais no período de 01 de Novembro de 2006 a 31 de maio de 2007. O estudo foi patrocinado pela Secretária Estadual de Saúde de Minas Gerais, e foi executado pelo Núcleo de Ações e Pesquisa em Apoio Diagnóstico (NUPAD), órgão responsável pela execução do programa de triagem neonatal em Minas Gerais. O projeto foi aprovado pelo comitê de ética da UFMG (COEP), parecer nº 0298/06 (em anexo). A triagem inicial foi desenvolvida com crianças participantes do Programa Estadual de Triagem Neonatal (PETN), utilizando-se a mesma amostra de sangue seco em papel filtro colhida para realização dos outros exames rotineiros na triagem neonatal, para pesquisa de IgM anti-Toxoplasma gondii através do kit Elisa Q-Preven®. Em casos positivos ou indeterminados na triagem neonatal, amostras do sangue periférico da criança eram recolhidas após a triagem para novos testes, sendo parte dessa amostra encaminhada ao Laboratório de Toxoplasmose do Departamento de Parasitologia da UFMG e parte encaminhada ao Laboreatório de Biomarcadores de Diagnóstico e Monitoração do CPqRR/FIOCRUZ. Após centrifugação do sangue, o soro obtido a partir das amostras foi armazenado a -20ºC. Na criança foram pesquisados anticorpos IgM através do kit ELFAVIDAS®. Estes ensaios foram realizados em um mesmo laboratório terceirizado pelo NUPAD. Após aproximadamente 12 meses foi realizada nova coleta de sangue periférico da criança, com o intuito de confirmar o diagnóstico pela persistência de anticorpos IgG 31 anti-T. gondii, metodologia que é considerada o padrão ouro para o diagnóstico da toxoplasmose congênita. Ao longo do projeto, 146.307 crianças foram triadas pelo Programa Estadual de Triagem Neonatal, sendo que, 235 apresentaram resultado positivo ou indeterminado na pesquisa de IgM anti-T. gondii através do kit Q-Preven®. Das 235 crianças, 227 realizaram consulta médica e exames sorológicos confirmatórios. Cerca de 83% (189/227) tiveram o diagnóstico de toxoplasmose congênita confirmado. A proporção de crianças que tiveram o diagnóstico excluído (falso-positivo) foi de 17% (38/227). Todas as crianças infectadas foram tratadas com sulfadiazina + pirimetamina + ácido folínico durante o primeiro ano de vida (ínicio do tratamento 24hs após os exames clínicos e a coleta de sangue), e foram acompanhadas por médicos especialistas por um período mínimo de cinco anos. 3.2. Exames clínicos e grupos de estudo Da amostra inicial de 227 crianças que apresentaram resultado positivo ou indeterminado pela triagem para toxoplasmose congênita, 147 foram selecionadas para este estudo, sendo que 98 tiveram amostras analisadas para imunofenotipagem de células mononucleares circulantes, 49 para análise de citocinas intracitoplasmáticas, e 19 tiveram amostras analisadas tanto para imunofenotipagem quanto para análise de citocinas. Todas as crianças selecionadas possuíam amostra sanguínea ao 12º mês de vida disponível no Laboratório de Toxoplasmose do Departamento de Parasitologia da UFMG. A relevância da amostra de sangue coletada no 12º mês de vida está relacionada com o padrão ouro no diagnóstico da toxoplasmose congênita, que é a persistência de anticorpos IgG anti-T. gondii ao final de 12 meses. 32 Simultaneamente à coleta de sangue, realizada com aproximadamente 57 dias de vida, as crianças foram submetidas a exames para avaliar possível comprometimento oftalmológico (fundoscopia). A propedêutica foi realizada por profissionais do Hospital das Clínicas da UFMG, experientes no atendimento de crianças com toxoplasmose congênita. Todas as 147 crianças selecionadas para este projeto passaram por avaliação oftalmológica. As 147 crianças selecionadas foram divididas em dois grupos, tanto para a imunofenotipagem quanto para a análise de citocinas. Imunofenotipagem de células mononucleares circulantes Grupo NI (Não Infectadas - Controle): 22 crianças que apresentaram resultado negativo para anticorpos IgM pelo kit ELFA-VIDAS e negativo para IgG anti-T. gondii ao final de 12 meses. Grupo TOXO (Infectadas): 76 crianças, sendo 72 com persistência de anticorpos IgG anti-T. gondii ao final de 12 meses e 4 crianças com diagnóstico parasitológico positivo por inoculação em camundongos (Carneiro et al., 2013), apesar não ter sido coletada amostra de soro após 12 meses de vida. No grupo TOXO, 15 crianças apresentavam lesão retinocoroideana ativa (ARL), 24 crianças tinham simultaneamente lesão retinocoroidiana ativa e cicatrizada (ACRL), 15 crianças apresentavam lesão retinocoroidiana cicatrizada (CRL) e 22 crianças não apresentavam lesão retinocoroidiana (NRL). As crianças do grupo controle (NI) não apresentavam lesões oculares sugestivas de toxoplasnose. 33 Análise de citocinas intracitoplasmáticas após estímulo in vitro Grupo NI (Não Infectadas - Controle): 10 crianças que apresentaram resultado negativo para anticorpos IgM pelo kit ELFA-VIDAS e negativo para IgG anti-T. gondii ao final de 12 meses. Grupo TOXO (Infectadas): 58 crianças, sendo 56 com persistência de anticorpos IgG anti-T. gondii ao final de 12 meses e 2 crianças com diagnóstico parasitológico positivo por inoculação em camundongos, apesar não ter sido coletada amostra de soro após 12 meses de vida. No grupo TOXO 07 crianças apresentavam lesão retinocoroideana ativa (ARL), 16 crianças tinham simultaneamente lesão retinocoroideana ativa e cicatrizada (ACRL), 20 crianças apresentavam lesão retinocoroideana cicatrizada (CRL) e 15 crianças não apresentavam lesão retinocoroideana (NRL). As crianças do grupo controle (NI) não apresentavam lesões oculares sugestivas de toxoplasnose (Fluoxograma 1). 34 146.307 (Crianças triadas pelo PETN) 235 (Resultado positivo/indeterminado) 98 Selecionadas para imunofenotipagem Fluxograma 1. 68 Selecionadas para análise de citocinas 15 (Lesão retinocoroideana ativa ARL) 07 (Lesão retinocoroideana ativa ARL) 24 (Lesão retinocoroideana ativa e cicatrizada - ACRL) 16 (Lesão retinocoroideana ativa e cicatrizada - ACRL) 15 (Lesão retinocoroideana cicatrizada - CRL) 20 (Lesão retinocoroideana cicatrizada - CRL) 22 (Sem lesão retinocoroideana NRL) 15 (Sem lesão retinocoroideana NRL) 22 (Controle - NI) 10 (Controle - NI) Avaliação oftalmológica em crianças suspeitas de toxoplasmose congênita. 35 3.3. Coleta de sangue Além da avaliação clínica detalhada dos recém nascidos, foi realizada coleta de 1,5 mL de sangue com os seguintes propósitos: 0,5 mL (coletado em EDTA) para experimento ex-vivo de imunofenotipagem; 1,0 mL (coletado em Heparina) para cultura de sangue total visando análise do perfil da resposta imune celular específica para T. gondii. Parte do sangue foi enviado a um laboratório terceirizado pelo NUPAD para realização do hemograma. 3.4. Imunofenotipagem de células mononucleares circulantes Alíquotas de 50L das amostras de sangue total coletado a vácuo em tubos contendo anticoagulante EDTA (Vacutainer - BD, E.U.A), foram transferidos para tubos de poliestireno 5mL (Falcon - Becton Dickinson - BD, E.U.A) e incubadas com anticorpos monoclonais específicos para marcadores de superfície marcados com Ficoeritrina (PE), com isotiocianato de fluoresceína (FITC), tricolor (TC) e Cloreto de Peridina Clorofila (PerCP). Foram utilizados anticorpos monoclonais para os seguintes marcadores: CD3, CD4, CD5, CD8, CD14, CD16, CD19, CD23, CD32, CD56, CD64, HLA-DR, /, / (Quadro 1). As células e anticorpos foram incubados por 30 minutos à temperatura ambiente, ao abrigo da luz. Posteriormente, os eritrócitos foram lisados e fixados em 3mL de solução de lise, por 10 minutos à temperatura ambiente. Em seguida, foi adicionado às amostras 1mL de PBS-W (PBS pH 7.4, contendo 0.5% BSA e 0.1% de azida sódica) e estas 36 foram centrifugadas a 1300g por 7 minutos a 18ºC (Centrifuga Beckman Modelo j-6b, E.U.A). O sobrenadante foi descartado, as amostras lavadas com 2mL de PBS 1X e novamente centrifugadas a 1300g por 7 minutos a 18ºC. Em seguida, as amostras foram fixadas com 300L de solução fixadora - MFF (10g/L de paraformaldeído, 1% de cacodilato de sódio, 6,67g/L de cloreto de sódio, pH 7,2 - reagentes SIGMA, E.U.A). As amostras foram armazenadas a 4°C até a realização da leitura. A aquisição dos dados (30.000 eventos) e a análise dos resultados foram realizadas em citômetro de fluxo (FACScan - BD, E.U.A), utilizando o software do equipamento denominado CellQuestTM. QUADRO 1 - Anticorpos monoclonais marcados com fluorocromos utilizados para análise de populações, subpopulações celulares e moléculas de superfície. Anticorpos Fluorocromo Fenótipo Alvo no Estudo Anti-CD3 FITC Linfócitos T Anti-CD4 FITC ou TC Linfócitos T auxiliares Anti-CD5 FITC Linfócitos B1 Anti-CD8 FITC Linfócitos T citotóxicos Anti-CD14 TC Monócitos Anti-CD16 FITC ou TC Células NK Anti-CD19 TC Linfócitos B Anti-CD23 PE Sub-população de linfócitos B Anti-CD32 FITC Monócitos Anti-CD56 PE Células NK Anti-CD64 FITC Monócitos Anti-HLA-DR PE Linfócitos T ativados e Monócitos próinflamatórios Anti-/ PE Linfócito T Anti-/ PE Linfócito T 37 3.5. Preparo de antígeno solúvel total de T. gondii (STAg) O antígeno solúvel total de T. gondii (STAg) foi preparado segundo Gazzinelli et al., (1991) com modificações, no laboratório de Toxoplasmose do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (ICB-UFMG), a partir de taquizoítos da cepa RH do T. gondii (Sabin, 1941) obtidos por lavagem da cavidade peritoneal de camundongos previamente infectados, realizada com solução salina tamponada com fosfato (PBS) pH 7,2. O material foi centrifugado durante 20 segundos a 800g para eliminação de células contaminantes do camundongo. O sobrenadante foi coletado, homogeneizado e centrifugado por 10 minutos a 1400g. Em seguida, o sobrenadante foi descartado e o sedimento contendo os taquizoítos foi ressuspendido em PBS pH 7,2, homogeneizado e centrifugado por 10 minutos a 1400g. Os taquizoítos foram lavados três vezes com PBS pH 7,2, por centrifugações a 1400g por 10 minutos. Em seguida os parasitos foram contados em câmara hemocitométrica e a concentração destes acertada para 1x109 taquizoítos/mL. A suspensão de parasitos foi então processada por ultra-som (Ultrasonic Homogeneizer – 4710; Coler-Palmer Instrument Co.) em 5 ciclos de 40 hertz (em banho de gelo), durante 1 minuto e com intervalos de 1 minuto entre cada ciclo, sendo o rompimento dos parasitos acompanhados em microscópio óptico. Após a sonicação o material foi centrifugado a 15000g/4oC durante 30 minutos. O sobrenadante (STAg) foi então estocado a –80OC até o uso. A concentração de proteínas foi determinada pelo método de LOWRY et al. (1951). 38 3.6. Análise de marcadores de superfície e citocinas intracitoplasmáticas após estimulação in vitro Alíquotas de 1mL de sangue total coletado em heparina foram distribuídas em tubos de polipropileno de 12mL (Falcon, E.U.A). As células do sangue periférico foram incubadas na presença de 1mL de meio de cultura RPMI suplementado (L-glutamina 1,6%), recebendo a denominação de cultura controle (CC) ou na presença de antígeno solúvel de T. gondii (100L de STAg + 900L de RPMI suplementado), apresentando uma concentração final de 5g/mL, recebendo a denominação de cultura com estímulo específico (STAg). As células foram incubadas durante 12 horas em estufa de CO2 5% a 37ºC (Forma Scientific E.U.A). Em seguida, foi adicionado a cada tubo de cultura 20L de Brefeldina A (SIGMA, E.U.A), 1mg/mL (concentração final de 10g/mL). As amostras foram incubadas por mais quatro horas em estufa de CO2 5% a 37ºC. A utilização da Brefeldina assegura a retenção da citocina no interior da célula, mantendo a citocina no complexo de Golgi. Após a incubação, 220L de EDTA (SIGMA, E.U.A) 20mM, obtidos de uma solução estoque de 200mM, diluída 1/10 (concentração final de 2mM) foram adicionados diretamente às culturas. Os tubos contendo as amostras foram incubados por 10 minutos à temperatura ambiente. Esse procedimento bloqueia o processo de ativação posterior das células e garante a obtenção de resultados padronizados e comparáveis. Posteriormente, foi adicionado à amostra de sangue, 6mL de PBS-W e centrifugadas a 1300g por 7 minutos a 18ºC. O sobrenadante foi aspirado permanecendo um sedimento com volume final de 2mL. Foram transferidos 500L deste sedimento para tubos de poliestireno de 5mL (FALCON, E.U.A) previamente identificados e contendo os anticorpos correspondentes (CD4, CD8, CD14, CD16, CD19) (Quadro 2). Em seguida, estes tubos foram incubados por 30 minutos 39 à temperatura ambiente. Posteriormente, os eritrócitos foram lisados e as células fixadas em 3,5mL de solução de lise (Billig) por 10 minutos à temperatura ambiente, ao abrigo da luz. As células foram centrifugadas a 1300g, por 7 minutos à 18ºC. QUADRO 2 - Anticorpos monoclonais utilizados para identificação das subpopulações leucocitárias na metodologia de citocinas citoplasmáticas Anticorpos Fluorocromo Fenótipo Alvo no Estudo Anti-CD4 TC Linfócitos T auxiliares Anti-CD8 TC Linfócitos T citotóxicos Anti-CD14 TC Monócitos Anti-CD16 TC Neutrófilos e Células NK Anti-CD19 TC Linfócitos B O sobrenadante foi descartado e o sedimento homogeneizado em 500L de PBS-W. Para a detecção de citocinas intracitoplasmáticas foi acrescentado aos tubos 3,0mL de PBSP (PBS, pH 7,4 contendo 0,5% de BSA, 0,1% de azida sódica e 0,5% de saponina) por 10 minutos à temperatura ambiente e centrifugados a 1300g por 7 minutos a 18ºC. O sedimento foi suspenso com PBS-W e a suspensão celular distribuída em poços de placas com 96 orifícios. A cada 30L de suspensão celular foi adicionado 20L do anticorpo anticitocina marcado com PE (TNF-α, IFN-γ, IL-4, IL-12, IL-10, IL-5, IL-8, IL-1, IL-6 ou IL17), diluídos 1:50 em PBS-P nos respectivos poços da placa, e posteriormente incubados por 30 minutos à temperatura ambiente, na ausência de luz. Após a incubação, as células foram lavadas com 200L de PBS-P e em seguida, com 200L de PBS-W. No final, foram adicionados 300L de solução fixadora MFF. As amostras contendo a suspensão celular foram utilizadas para aquisição de dados em citômetro de fluxo (FACScalibur - BD, E.U.A). Foram analisados cerca de 20.000 eventos dentro da população de linfócitos totais. 40 A identificação de populações celulares de interesse, bem como a determinação do valor absoluto destas populações e sub-populações produtoras das diferentes citocinas foram feitas através do programa FlowjoTM. 3.7. Estratégias de Análise 3.7.1 Análise convencional A análise convencional foi realizada segundo estratégia proposta por Sathler Avelar (2003). A Figura 1 ilustra a seqüência de passos para a análise convencional. Esse tipo de análise consiste na seleção da população celular de interesse em gráficos de distribuição pontual de tamanho (FSC) versus granulosidade (SSC) (Figura 1A). Após a seleção da região de interesse (R1), a frequência de subpopulações celulares fluorescentes, dentro de R1, foi obtida em gráficos bidimensionais de distribuição pontual de fluorescência (Figura 1B). 41 Figura 1: Ilustração da análise convencional de linfócitos do sangue periférico por citometria de fluxo. A figura 1A demonstra o perfil de distribuição celular considerando tamanho versus granulosidade celular. A figura 1B demonstra o perfil de distribuição celular considerando a fluorescência 1 (CD4) versus a fluorescência 2 (CD8), da população selecionada na janela R1 do gráfico. 3.7.2 Análise de monócitos pró-inflamatórios A análise de monócitos pró-inflamatórios (CD14+CD16+HLA-DR++) foi feita segundo protocolo proposto por Belge et al. (2002). A Figura 2 ilustra a sequência de procedimentos para a análise das subpopulações de monócitos pró-inflamatórios. Após a seleção da região de interesse (R4), baseada em aspectos morfométricos, e imunofenotípicos, determinadas através de gráficos de distribuição pontual de CD14 versus granulosidade (SSC) (Figura 2A), foram construídos gráficos de CD14 versus CD16, onde uma região (Q2) foi determinada para a seleção da população CD14+CD16+ (Figura 2B). O próximo passo consistiu na combinação das regiões R1 e R2 através da fórmula “G2=R1 and R2”, onde “and” designa a interseção dos eventos presentes simultaneamente em R1 e 42 R2. Em seguida, gráficos de CD14 versus HLA-DR, contendo as células em G2, foram utilizados para quantificar o percentual de células CD14+CD16+HLA-DR++ (Figura 2C). Figura 2: Análise de monócitos pró-inflamatórios do sangue periférico. (A) Perfil de distribuição CD14 versus granulosidade, para seleção da populaçõde monócitos – R4. (B) Gráfico de distribuição celular CD14 versus CD16 para seleção da população CD14+CD16+ - Q2. (C) Gráfico CD14 versus HLA-DR contendo as células em G2, para quantificar o percentual de monócitos pró-inflamatórios. 3.7.3. Análise das subpopulações de monócitos CD14+CD32+ e CD14+CD64+ A análise das subpopulações de monócitos CD14+CD32+ e CD14+CD64+ foi feita por análise semi-quantitativa da intensidade média de fluorescência (IMF) conforme descrito a seguir: após a seleção da região de interesse (R4), baseado em aspectos morfométricos em gráficos de distribuição pontual de CD14 versus granulosidade (SSC), foram construídos gráficos de distribuição puntual de fluorescência CD14 versus CD32 (figura 3B) e CD64, contendo as células selecionadas em R4 (Figura 3A). 43 Figura 3: Análise de monócitos CD14+CD32+ e CD14+CD64+. (A) Perfil de distribuição CD14 versus granulosidade, para seleção da populaçõde monócitos – R4. (B) Perfil de distribuição celular considerando a fluorescência 1 (CD14) versus a fluorescência 2 (CD32). 3.7.4. Análise de linfócitos T ativados (HLA-DR+) A análise da freqüência de subpopulações de linfócitos T ativados (HLA-DR+) foi realizada utilizando-se da estratégia de análise convencional, seguida por cálculos adicionais para determinar a fração de células T ativadas dentro de uma subpopulação específica. Esse tipo de análise consistiu na seleção da população celular de interesse, baseada em aspectos morfométricos, através de gráficos de distribuição puntual de tamanho (FSC) versus granulosidade (SSC). Após a seleção da região de interesse (R1), o percentual de subpopulações celulares fluorescentes, dentro da população selecionada, foi obtido em gráficos bidimensionais de distribuição puntual da fluorescência CD4 ou CD8 e HLA-DR (Figura 4). 44 Figura 4: Análise de subpopulações de linfócitos T ativados (HLA-DR+). (A) Perfil de distribuição tamanho versus granulosidade, para seleção da populaçõde linfócitos – R1. (B) Perfil de distribuição celular considerando a fluorescência 1 (CD4) versus a fluorescência 2 (HLA-DR). 3.7.5 Análise de células NK A análise de subpopulações de células NK foi realizada segundo protocolo proposto por Gaddy et al. (1997). A Figura 5 ilustra a seqüência de procedimentos para a análise das subpopulações de células pré-NK (CD3-CD16+CD56-), NK maduras (CD3-CD16+CD56+) e NK ativadas (CD3-CD16-CD56+). Esse tipo de análise consistiu na seleção da população celular de interesse em gráficos de distribuição pontual de tamanho (FSC) versus granulosidade (SSC). Após a escolha da região de interesse (R1) foram construídos gráficos de CD3 versus CD16, onde uma nova região Q5 foi determinada para a população CD3CD16+ (Figura 5A). Posteriormente, gráficos de CD3 versus CD56 foram empregados, onde uma nova região (Q1) foi determinada para a população CD3-CD56+ (Figura 5B). Em seguida, após a combinação das regiões R1, Q5 e Q1 através das fórmulas “G2=Q5+Q1 e 45 G3=R1 “and” G2” onde “+” representa o somatório de células confinadas nas regiões R1 e R2 e “and” designa a interseção dos eventos presentes simultaneamente em G2 e R1. Posteriormente gráficos de CD16 versus CD56, contendo as células em G3, foram utilizados para quantificar os percentuais das populações CD3-CD16+CD56-, CD3CD16+CD56+ e CD3-CD16-CD56+ (Figura 5C). Figura 5: Análise das subpopulações de células NK. Primeiro foi selecionada a região de interesse (linfócitos) em gráfico granulosidade versus tamanho. (A) Gráfico de distribuição CD3 versus CD16, para seleção da populaçõde celular CD3-CD16+ – Q5. (B) Gráfico de distribuição CD3 versus CD56 para selecionar a população CD3-CD56+ - Q1. (C) Gráfico CD16 versus CD56, contendo as células em G3=R1 “and” G2 (Q1+Q5), para quantificar os percentuais das subpopulações de células NK. 3.7.6. Análise da produção de citocinas por linfócitos, monócitos, neutrófilos e células NK. A análise da produção de citocinas pelas células NK e pelos linfócitos T e B foi feita através da análise convencional. Em gráficos de distribuição pontual de tamanho (FSC) versus granulosidade (SSC) foi estabelecida a população celular de interesse. Após a seleção da região de interesse, a frequência das subpopulações celulares produtoras de citocinas foi obtida em gráficos bidimensionais de distribuição pontual de fluorescência. 46 A análise da produção de citocinas pelos monócitos foi feita a partir da construção de gráficos de fluorescência CD14 versus granulosidade (SSC). A análise da produção de citocinas foi determinada em graficos bidimensionais de distribuição pontual de fluorescência CD14 versus citocinas (figura 6). A análise da produção de citocinas pelos neutrófilos foi feita a partir da construção de gráficos de fluorescência CD16 ou CD14 ou CD14 versus granulosidade (SSC). A análise foi determinada em graficos bidimensionais de distribuição pontual de fluorescência (CD16, CD14 ou CD4) versus citocinas. Figura 6: Ilustração da análise convencional de produção de citocinas por monócitos. (A) Perfil de distribuição celular considerando o marcador fenotípico CD14 versus granulosidade celular, para seleção de monócitos – R4. (B) Perfil de distribuição celular CD14 versus TNF-, da população selecionada na janela R4 do gráfico A. 47 3.8. Análise dos dados Este é um estudo transversal descritivo no qual foram aplicadas três abordagens de análise de dados para a investigação observacional do perfil imunológico associado com manifestações oftalmológicas de toxoplasmose congênita: 1) Análise estatística e 2) Análise de assinatura de biomarcadores. A análise de assinatura de biomarcadores têm se mostrado importante para detectar, com elevada sensibilidade, pequenas alterações nos perfis imunológicos que não são detectáveis por métodos estatísticos convencionais. 3.8.1 Análise estatística O teste de Mann-Whitney foi empregado para a comparação das medianas, já que as variáveis de interesse apresentavam um comportamento não gaussiano, ou distribuição nãonormal, denominados de dados não paramétricos. A determinação da normalidade da distribuição dos valores individuais para cada variável bem como as análises estatísticas foram realizadas através do programa GraphPadPrism (GraphPad Software Inc.), versão 5.0. Para a análise comparativa entre três ou mais grupos, empregou-se o teste KruskalWallis seguido pelo teste de comparações múltiplas de Dunn’s, já que os dados apresentavam um comportamento não gaussiano, ou distribuição não-normal, denominados de dados não paramétricos. Os dados estão apresentados como dispersão dos valores individuais sobre os valores medianos (barras) para a análise de TOXO versus NI. Dados da análise de subgrupos TOXO foram apresentados em formato gráfico box plot destacando a mediana, juntamente com valores mínimo e máximo. Em todos os casos as diferenças foram consideradas significativas a p <0,05. 48 3.8.2 Análise de assinatura de biomarcadores A utilização desta abordagem para identificar diferenças relevantes nas assinaturas fenotípicas do sangue periférico entre os grupos foi adaptado a partir de um estudo pioneiro realizado por Luiza-Silva et al. (2011). Todos os recém-nascidos foram colocados num mesmo grupo e foi definida uma mediana global para cada biomarcador analisado. Diagramas em escala de cinza foram então, montados para determinar a frequência das crianças que mostram contagem alta de um determinado biomarcador. As frequências foram compiladas em gráficos de radar para resumir o perfil global da assinatura dos biomarcadores associado com manifestação clínica da toxoplasmose congênita. Dados relevantes (> 50%) foram destacados em negrito/sublinhado. O software GraphPad Prism 5.00 (San Diego, EUA) foi utilizado para artes gráficas. 49 4. RESULTADOS 4.1. Registros hematológicos dos recém-nascidos com toxoplasmose congênita. A análise de parâmetros hematológicos mostrou que os recém-nascidos do grupo TOXO são caracterizados por relevante leucocitose, com aumento da contagem de monócitos e linfócitos. A análise dos recém-nascidos de acordo com seus registros oftalmológicos mostrou que essas mudanças são particularmente observadas em pacientes do grupo ARL. Além disso, também foi observada uma importante monocitose em pacientes ACRL. Não foram observadas diferenças significativas nos subgrupos NRL e CRL (Tabela 1). 4.2. Análise de células mononucleares circulantes 4.2.1. Análise das subpopulações de monócitos em recém-nascidos com toxoplasmose congênita A análise das subpopulações de monócitos mostrou que os recém-nascidos do grupo TOXO apresentaram aumento nas populações de monócitos CD14+CD16+ e monócitos próinflamatórios CD14+CD16+HLA-DRhigh (Figura 7A). A análise da expressão de FC-R por monócitos é mostrado na Figura 7B. Os dados mostram que mudanças relevantes na expressão de CD32 e CD64 por monócitos ocorrem no grupo TOXO. 50 A análise das subpopulações de monócitos nos subgrupos dos recém-nascidos com toxoplasmose congênita mostrou que o aumento de monócitos pró-inflamatórios CD14+CD16+HLA-DRhigh é obsevado especificamente no grupo ARL, podendo ser um marcador importante de lesão retinocoroideana ativa (Figura 7A). Já a análise da expressão de FC-R por monócitos apresentou diferenças significativas no grupo CRL. Tais diferenças podem ser sugestivos de que esses marcadores biológicos estão associados à resolução da retinocoroidite (Figura 7B). A figura 7C mostra histogramas representativos da expressão de CD32 e CD64 obsersvados no grupo TOXO e no grupo NI. 4.2.2. Análise das subpopulações de células NK e células T NK em recémnascidos com toxoplasmose congênita A análise mostrou que as populações e subpopulações de células NK e de células T NK estão aumentadas nos recém-nascidos com toxoplasmose congênita (Figura 8). Os dados referentes à população total de células NK (CD3-CD16+/-CD56+/-) mostrou aumento nos recém-nascidos do grupo TOXO (Figura 8A). A análise das subpopulações de células NK mostrou aumento em todas as subpopulações nos recém-nascidos do grupo TOXO, incluindo CD3-CD16+CD56-, CD3-CD16+CD56+ e CD3-CD16-CD56+. A análise dos subgrupos de TOXO mostrou aumento na população total de células NK e na subpopulação de células CD3-CD16-CD56+ no grupo ARL. Os grupos ACRL e CRL mostraram aumento na subpopulação de células CD3-CD16+CD56+ quando comparados ao grupo NRL (Figura 8A). 51 Tabela1. Registros hematológicos em recém-nascidos com toxoplasmsose congênita NI (n=22) TOXO (n=76) Leucócitos Monócitos Neutrófilos 9.3 (5.3-17.3)x103 0.8 (0.1-1.9)x103 1.8 (0.7-4.0)x103 Linfócitos Eosinófilos Hemáceas Hb (g/dl) Hct (%) Plaquetas 6.2 (3.9-14.2)x103 0.4 (0.1-0.8)x103 3.5 (2.8-4.5)x106 10.8 (8.5-13.1) 31.0 (25.4-39.4) 4.8 (1.3-7.3)x105 Parâmetros Subgrupos de TOXO NRL (n=22) ARL (n=15) ACRL (n=24) CRL (n=15) 11.6 (5.6-22.9)x103 1.2 (0.1-2.3)x103 1.7 (0.5-5.7)x103 11.0 (6.2-17.3)x103 1.1 (0.2-2.1)x103 1.8 (1.0-3.0)x103 14.5 (7.6-23.0)x103 1.4 (0.5-1.7)x103 1.7 (0.8-3.6)x103 11.8 (5.7-19.4)x103 1.3 (0.2-2.3)x103 1.6 (0.4-5.3)x103 11.2 (5.7-18.2)x103 1.0 (0.1-2.4)x103 1.6 (0.9-5.7)x103 7.5 (1.0-18.8)x103 0.4 (0.1-1.7)x103 3.6 (2.9-5.1)x106 10.5 (8.1-13.9) 31.9 (22.1-45.4) 3,8 (1.1-7.9)x105 7.3 (4.3-14.2)x103 0.4 (0.08-0.8)x103 3.5 (2.5-4.4)x106 10.3 (7.8-13.0) 30.6 (23.0-39.1) 4.31 (1.4-6.7)x105 8.5 (5.4-18.1)x103 0.5 (0.2-1.1)x103 3.68 (3.1-4.1)x106 10.8 (8.3-12.2) 32.8 (27.1-37.3) 3.35 (1.4-6.3)x105 7.5 (3.9-13.9)x103 0.4 (0.003-1.7)x103 3.5 (2.4-4.5)x106 9.9 (7.7-12.9) 29.4 (20.8-37.7) 3.61 (1.4-6.3)x105 7.4 (1.0-13.9)x103 0.3 (0.06-1.1)x103 3.71 (2.5-4.2)x106 10.75 (7.2-12.9) 31.8 (23.0-36.9) 2.87 (1.7-4.9)x105 Resultados estão expressos em número de células/mm3. Diferenças signficativas (p<0.05) estão destacadas por negrito e sublinhado. O IC de 95% está entre parênteses. 52 Subpopulação de Monócitos Abs CD14+CD16+ CT x TOXO Abs Monócito pró-inflamatório CT x TOXO CD14+ CD16+ (células/mm3) 800 600 p<0.01 CD14+CD16+ HLA-DRhigh (células/mm3) A 400 0 NI TOXO NI NRL p<0.01 p<0.02 300 0 ARL ACRL CRL NI TOXO NI NRL Subgrupos de TOXO B Expressão de FcR por Monócitos IMF CD14+CD32+LOG CT x TOXO Histograma representativo da citometria de f luxo p<0.03 NI Cell Counts (#) 125 TOXO 40 30 20 15 0 100 0 IMF CD14+CD64+LOG CT x TOXO 600 CD64 em células CD14+ (MFI) p<0.01 C NI TOXO p<0.01 NI 101 NRL p<0.01 ARL ACRL CRL 300 102 103 104 TOXO NI NRL ARL ACRL CRL 101 102 103 104 103 104 TOXO 60 15 30 0 100 NI 100 NI 30 0 0 0 Intensidade de Fluorescência – Anti-CD32-FITC Cell Counts (#) CD32 em células CD14+ (MFI) 250 ARL ACRL CRL Subgrupos de TOXO 101 102 103 104 100 101 102 Intensidade de Fluorescência– Anti-CD64-FITC Subgrupos de TOXO Figura 7: Subpopulação de monócitos (A) e expressão de Fc-R por monócitos (B) no sangue periférico de recém-nascidos com toxoplasmose congênita (TOXO= ) e controles não-infectados (NI= ; ). O grupo com toxoplasmose congênita ainda foi classificado de acordo com a análise clínica oftalmológica, sendo: Sem lesão retinocoroideana (NRL= ), lesão retinocoroideana ativa (ARL= ), lesão retinocoroideana ativa e cicatrizada (ACRL= ) e lesão retinocoroideana cicatrizada (CRL= ). Os resultados estão expressos como dispersão dos valores individuais e mediana das contagens celulares absolutas/mm3 (lado esquerdo), ou no formato de box-plot (lado direito). Diferenças significativas são destacadas por linhas de conexão e os valores de p. (C) Histogramas representativos ilustrando a regulação descrescente de CD32 (painéis superiores) e da regulação crescente de CD64 (painéis inferiores) em monócitos circulantes de crianças com toxoplasmose congênita em relação aos controles não-infectados. As linhas tracejadas foram criadas para enfatizar a mudança na distribuição do histograma para a expressão crescente ou decrescente de Fc-R por monócitos. NI (n=22), TOXO (n=76), ARL (n=15), ACRL (n=24), CRL (n=15) e NRL (n=22). 53 Com o objetivo de caracterizar os principais fenótipos relacionados com as características funcionais distintas de células NK, investigamos a freqüência das subpopulações CD56dim citotóxica e CD56bright imunoreguladora. Os nossos resultados demonstraram que o decréscimo na percentagem de células CD56bright acompanhado do aumento na percentagem de células CD56dim foram observados no grupo TOXO, quando comparado com o grupo NI. Além disso, pode-se observar que embora CD56bright estivesse reduzida em todos os subgrupos TOXO, as células CD56dim estavam particularmente aumentadas em ARL, quenado comparado com o grupo NI (Figura 8A). A análise das subpopulações de células T NK mostrou um aumento significativo de ambas, CD3+CD16+ e CD3+CD56+, no grupo TOXO em comparação com o NI. As células CD3+CD16+ estão particularmente aumentadas nos grupos ARL e ACRL, enquanto as células CD3+CD56+ aumentaram nos grupos ARL e CRL em relação aos controles NI (Figura 8B). 54 A Subpopulações de células NK CD3- CD16+/- CD56+/- (células/mm3) Abs NK Total CT x TOXO 5,000 0 1,500 0 p<0.05 p<0.05 2,000 0 NI CD3- CD16- CD56bright (%células) CD3- CD16- CD56dim (%células) 5.0 p<0.01 TOXO INF NI NRL 0 NI TOXO INF NI NRL ARL ACRL CRL ARL ACRL CRL p<0.01 p<0.01 p<0.01 p<0.01 2.5 0.0 NI TOXO INF NI NRL ARL ACRL CRL Subgrupos de TOXO Subgrupos de TOXO B 400 p<0.01 7 0 p<0.05 Abs CD3-CD56High/CD3- CT x TOXO Abs CD3-CD56High/CD3- CT x TOXO p<0.01 p<0.05 800 p<0.05 CD3- CD16- CD56+ (células/mm3) 4,000 p<0.01 14 Abs NK Ativada CT x TOXO Abs NK Madura CT x TOXO CD3- CD16+ CD56+ (células/mm3) CD3- CD16+ CD56- (células/mm3) p<0.01 2,500 Abs Pré-NK CT x TOXO 3,000 p<0.01 Subpopulações de células T NK Abs CD3+ CD16+ CT x TOXO p<0.01 p<0.01 250 0 NI TOXO Abs CD3+ CD56+ CT x TOXO 400 p<0.01 CD3+ CD56+ (células/mm3) CD3+ CD16+ (células/mm3) 500 NI NRL ARL ACRL CRL Subgrupos de TOXO p<0.01 p<0.01 p<0.01 200 0 NI TOXO NI NRL ARL ACRL CRL Subgrupos de TOXO Figura 8: Subpopulações de células NK (A) e células T NK (B) no sangue periférico de recém-nascidos com toxoplasmose congênita (TOXO= ) e controles não-infectados (NI= ; ). O grupo com toxoplasmose congênita ainda foi classificado de acordo com a análise clínica oftalmológica, sendo: Sem lesão retinocoroideana (NRL= ), lesão retinocoroideana ativa (ARL= ), lesão retinocoroideana ativa e cicatrizada (ACRL= ) e lesão retinocoroideana cicatrizada (CRL= ). Os resultados estão expressos como dispersão dos valores individuais e mediana das contagens celulares absolutas/mm3 (lado esquerdo), ou no formato de box-plot (lado direito). Diferenças significativas são destacadas por linhas de conexão e p-valores. NI (n=22), TOXO (n=76), ARL (n=15), ACRL (n=24), CRL (n=15) e NRL (n=22). 55 4.2.3. Análise das subpopulações de linfócitos T e B em recém-nascidos com toxoplasmose congênita A figura 9 apresenta os resultados relativos à análise da resposta imune adaptativa. Esses resultados mostram que o grupo TOXO apresentou aumento nas populações de células T CD4+HLA-DR+, células T CD4+CD8+ (Figura 9A), células B CD19+ e células B1 CD19+CD5+ (Figura 9B) quando comparado ao grupo NI. Além disso foi observado que as contagens de células T CD4+ do grupo ARL estão aumentadas em relação ao grupo CRL. Adicionalmente, a contagem de células CD4+HLA-DR+ estão particularmente aumentadas nos grupos ARL e ACRL em comparação com o grupo NI (Figura 9A), sugerindo que o aumento de células T CD4+ ativadas está intimamente relacionado com a presença de lesões retinocoroideanas ativas. Nenhuma mudança nas subpopulações de células B foram observadas entre os subgrupos de TOXO (Fig. 9B). Foi também observado aumento na contagem de células TCR, T CD8+ e T CD8+HLA-DR+ particularmente no grupo TOXO (Figura 9A). A análise dos subgrupos de TOXO sugere que essas três subpopulações são bons biomarcadores de morbidade, já que estavam aumentadas em todos os grupos de recém-nascidos com lesão retinocoroideana (ARL, ACRL e CRL). 56 A 3,000 15,000 TCR+ (células/mm 3 ) 7,500 p<0.05 p<0.05 p<0.05 1,500 0 0 p<0.05 p<0.05 4,000 p<0.05 p<0.05 p<0.01 8,000 CD8+(células/mm 3 ) 8,000 CD4+(células/mm 3 ) p<0.01 CD4+CD8+(células/mm 3 ) TCR (células/mm 3 ) Subpopulações de células T 4,000 0 0 p<0.05 p<0.05 p<0.01 CD8+HLA-DR+(células/mm 3 ) CD4+HLA-DR+(células/mm 3 ) 1,500 750 0 NI TOXO NI NRL 5,000 p<0.05 p<0.01 p<0.05 p<0.05 2,500 0 ARL ACRL CRL B NI TOXO NI NRL p<0.05 3 CD19 CD5 (células/mm ) - 2,000 0 0 1,250 0 4,000 2,000 + + 3 CD19 CD23 (células/mm ) 2,500 + 3 4,000 + p<0.05 + 3 + 2,500 ARL ACRL CRL Subgrupos de TOXO Subpopulações de células B CD19 CD5 (células/mm ) 5,000 p<0.01 200 0 Subgrupos de TOXO CD19 (células/mm ) 400 0 NI TOXO NI NRL ARL ACRL CRL Subgrupos de TOXO Figura 9: Principais subpopulações e status de ativação das células T (A) e células B (B) no sangue periférico de recém-nascidos com toxoplasmose congênita (TOXO= ) e controles não-infectados (NI= ; ). O grupo com toxoplasmose congênita ainda foi classificado de acordo com a análise clínica oftalmológica, sendo: Sem lesão retinocoroideana (NRL= ), lesão retinocoroideana ativa (ARL= ), lesão retinocoroideana ativa e cicatrizada (ACRL= ) e lesão retinocoroideana cicatrizada (CRL= ). Os resultados estão expressos como dispersão dos valores individuais e mediana das contagens celulares absolutas/mm3 (lado esquerdo), ou no formato de box-plot (lado direito). Diferenças significativas são destacadas por linhas de conexão e p-valores. NI (n=22), TOXO (n=76), ARL (n=15), ACRL (n=24), CRL (n=15) e NRL (n=22). 57 4.2.4. Análise da assinatura de biomarcadores Com o objetivo de caracterizar o perfil imunológico associado com as manifestações oftalmológicas distintas de toxoplasmose congênita, nós usamos a abordagem não-convencional de assinatura de biomarcadores das respostas imune inata e adaptativa no sangue periférico de crianças com toxoplasmose congênita, como descrito na metodologia (Figuras 10 e 11). Os nossos dados mostram que no grupo NI a maioria dos biomarcadores estão com frequência abaixo dos 50%, sendo exceção MONCD32+, CD3-CD56bright e células T CD4+. Por outro lado, em todos os subgrupos de TOXO a maioria dos biomarcadores está com freqüência acima dos 50%. O grupo NRL mostrou aumento em biomarcadores relacionados com células B (BCD19+, BCD5+, BCD5-, BCD23+), além de TCD3+, TCR+, e de células T NK na resposta imune inata. Já o grupo CRL mostrou freqüência elevada de biomarcadores predominantemente da resposta imune inata (MONCD16+, MONCD16+DRhigh, MONCD64+, células NK, CD16+CD56-, CD16+CD56+, CD16-CD56+, CD3-CD56dim, CD3+CD16+, células T NK) e de biomarcadores relativos as células T (TCR+, TCD4+, TCD8+, TCD4+CD8+, TCD8+DR+). O perfil dos biomarcadores do grupo ARL chamou a atenção, pois todos os biomarcadores avaliados nessa análise estavam com frequência acima de 50%, com exceção de MONCD32+ e CD3-CD56bright. O grupo ACRL mostrou um perfil semelhante ao do grupo ARL, com algumas diferenças nos biomarcadores das células NK e das células B (Figura 11). 58 Assinatura de Biomarcadores na Toxoplasmose Congênita Imunidade Adaptativa MONCD16+ MONCD16+DRhigh MONCD32+ MONCD64+ NK-cells NKCD16+CD56NKCD16+CD56+ NKCD16- CD56+ CD3- CD56dim CD3- CD56bright CD3+CD16+ NKT-cells CD3+ TCRαβ + TCRδσ+ TCD4+ TCD8+ TCD4+CD8+ TCD4+DR+ TCD8+DR+ BCD19+ BCD5+ BCD5B CD23+ Imunidade Inata ND ND ND NI ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND MONCD16+ MONCD16+DRhigh MONCD32+ MONCD64+ NK-cells NKCD16+CD56NKCD16+CD56+ NKCD16- CD56+ CD3- CD56dim CD3- CD56bright CD3+CD16+ NKT-cells CD3+ TCRαβ + TCRδσ+ TCD4+ TCD8+ TCD4+CD8+ TCD4+DR+ TCD8+DR+ BCD19+ BCD5+ BCD5B CD23+ ND Subgrupos de TOXO ARL NRL MONCD16+ MONCD16+DRhigh MONCD32+ MONCD64+ NK-cells NKCD16+CD56NKCD16+CD56+ NKCD16- CD56+ CD3- CD56dim CD3- CD56bright CD3+CD16+ NKT-cells CD3+ TCRαβ + TCRδσ+ TCD4+ TCD8+ TCD4+CD8+ TCD4+DR+ TCD8+DR+ BCD19+ BCD5+ BCD5B CD23+ % 27 23 68 32 32 29 45 33 36 86 29 18 27 48 14 64 14 45 18 18 32 32 45 32 % 67 73 47 60 67 67 60 80 80 47 73 53 67 60 87 53 80 60 80 80 73 80 60 53 ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND CRL ACRL ND ND MONCD16+ MONCD16+DRhigh MONCD32+ MONCD64+ NK-cells NKCD16+CD56NKCD16+CD56+ NKCD16- CD56+ CD3- CD56dim CD3- CD56bright CD3+CD16+ NKT-cells CD3+ TCRαβ + TCRδσ+ TCD4+ TCD8+ TCD4+CD8+ TCD4+DR+ TCD8+DR+ BCD19+ BCD5+ BCD5B CD23+ MONCD16+ MONCD16+DRhigh MONCD32+ MONCD64+ NK-cells NKCD16+CD56NKCD16+CD56+ NKCD16- CD56+ CD3- CD56dim CD3- CD56bright CD3+CD16+ NKT-cells CD3+ TCRαβ + TCRδσ+ TCD4+ TCD8+ TCD4+CD8+ TCD4+DR+ TCD8+DR+ BCD19+ BCD5+ BCD5B CD23+ % 43 38 38 50 41 45 32 50 46 42 36 55 59 50 55 41 50 50 50 45 59 59 59 64 % 58 63 59 44 58 61 50 43 42 37 54 71 54 48 52 54 58 46 63 58 58 50 50 63 ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND % 60 60 29 71 60 53 73 53 53 41 67 53 47 47 53 33 60 53 47 60 27 33 33 33 Figura 10: Assinatura de biomarcadores da imunidade inata a adaptativa no sangue periférico de recém-nascidos com toxoplasmose congênita classificados como: sem lesão retinocoroideana (NRL), lesão retinocoroideana ativa (ARL), lesão retinocoroideana ativa e cicatrizada (ACRL), e lesão retinocoroideana cicatrizada (CRL), comparados com recém-nascidos que tiveram a infecção congênita descartada (NI). Os diagramas em escala de cinza foram montados utilizando o valor global da mediana de cada subpopulação celular como cut-off para determinar se cada um dos recém-nascidos apresentam “baixo” ( )ou “alto” (Inata= ; Adaptativa= ) nível de uma determinada população celular. A freqüência (%) dos recém-nascidos que apresentam alto nível de uma determinada população celular foi informada na figura e os dados relevantes (>50%) destacados com negrito e sublinhado. 59 NRL MONCD16+ MONCD16+DRhigh ARL TCD3+ TCRαβ+ MONCD16 MONCD16+DRhigh TCRδσ + MONCD32+ MONCD64+ NI MONCD16+ MONCD16+DRhigh TCD3+ TCRαβ+ MONCD32+ TCD4+DR+ TCD4+DR+ CD3 CD56 TCD8+DR+ BCD19 bright CD3 CD56 BCD5 dim CD16+CD56+ TCD4+DR+ NKT-cells BCD5+ CD3 CD16 + BCD5 + % de recém-nascidos com contagens celulares altas NKT-cells BCD23+ Escala 100 - MONCD16 MONCD16+DRhigh + CD3-CD56dim BCD5+ CD3+CD16+ BCD5- NKT-cells MONCD16 MONCD16+DRhigh TCD3 TCRαβ+ MONCD32+ MONCD64 BCD23+ CRL + TCRδσ + NK-cells + TCD3+ TCRαβ+ TCRδσ + MONCD32+ TCD4 + + TCD8+ MONCD64 TCD4+ + NK-cells TCD8+ CD16+CD56- TCD4+CD8+ CD16+CD56- TCD4+CD8+ CD16+CD56+ TCD4+DR+ CD16+CD56+ TCD4+DR+ TCD8+DR+ BCD19+ CD3-CD56bright CD3-CD56dim 0 BCD19+ CD3-CD56bright BCD23+ CD16-CD56+ 50 + TCD8+DR+ CD16-CD56+ ACRL TCD8+DR+ CD3-CD56dim + CD16+CD56+ BCD5- CD3+CD16+ TCD4+CD8+ BCD19+ TCD8+ CD16+CD56+ CD16+CD56- CD3-CD56br ight NK-cells TCD4+CD8+ TCD8+ CD16-CD56+ TCD4+ TCD4+CD8+ CD16+CD56- - NK-cells TCRδσ + + CD16+CD56- - TCD4+ MONCD64+ MONCD64 TCD8+ CD16-CD56+ TCRδσ+ TCRαβ+ MONCD32+ TCD4+ NK-cells TCD3+ + BCD5+ CD3+CD16+ NKT-cells BCD5- CD16-CD56+ TCD8+DR+ CD3-CD56bright BCD19+ CD3-CD56dim BCD5+ CD3+CD16+ NKT-cells BCD23+ BCD5BCD23+ Subgrupos de TOXO Figura 11: Assinatura de biomarcadores da imunidade inata a adaptativa no sangue periférico de recém-nascidos com toxoplasmose congênita classificados como: sem lesão retinocoroideana (NRL), lesão retinocoroideana ativa (ARL), lesão retinocoroideana ativa e cicatrizada (ACRL), e lesão retinocoroideana cicatrizada (CRL), comparados com recém-nascidos que tiveram a infecção congênita descartada (NI). Os gráficos em forma de radar resumem a assinatura de biomarcadores da resposta imune inata ( )e adaptativa ( ), onde cada eixo exibe a proporção de crianças com altos níveis de uma determinada população celular. Os dados relevantes (> 50%) são ressaltados em negrito e sublinhado. 60 4.3 Análise da produção de citocinas Após a análise do perfil celular predominante na infecção pelo T. gondii e nas diferentes formas clínicas da doença ocular, realizamos a análise da produção de citocinas por células da imunidade inata (neutrófilos, monócitos e células NK) e da imunidade adaptativa (linfócitos T e B). Inicialmente a análise foi feita comparando os recém-nascidos do grupo TOXO e do grupo NI, e posteriormente comparando as sub-divisões do grupo TOXO de acordo com a apresentação clínica ocular (NRL, ARL, ACRL e CRL) com o grupo NI. Para apresentação dos resultados foi feito o cálculo do Index de Citocinas. O cálculo do Index de citocinas é feito através da divisão do resultado obtido na cultura estimulada com STAg pelo resultado obtido na cultura controle. 4.3.1 Perfil de citocinas produzidas por células da resposta imune inata A figura 12 mostra a análise da produção de citocinas por células da resposta imune inata. A análise de neutrófilos mostrou um perfil misto de citocinas, com predomínio na produção de citocinas reguladoras (aumento de IL-4, IL5-, IL-10) em comparação com as citocinas próinflamatórias (aumento de TNF- e IL-12) no grupo TOXO quando comparado ao grupo NI. Já a análise da produção de citocinas por monócitos mostrou um típico perfil pró-inflamatório (aumento de IL-1, IL-6, IL-12 e TNF-) modulado por IL-10. Interessantemente, a análise de células NK mostrou um perfil claramente pró-inflamatório, com aumento na produção das citocinas IFN- e TNF- no grupo TOXO. 61 NEUTRÓFILOS IL-8 + IL-6 + IL-1 + 8 TNF- + 4 14 IL-12 + 4 6 * * 4 0 7 NI TOXO 2 0 NI IL-4 + TOXO 2 0 NI TOXO 4 NI 2 0 TOXO NI IL-10 + 6 2 NI TOXO 2 0 NI TOXO 0 NI 0 TOXO NI NI IL-12 *** 4 2 0 NI 0 TOXO + 10 TOXO IL-4 + 0 TOXO 2 4 1 2 0 ** NI TOXO 0 TNF- + * 4 4 NI TOXO IL-10 + 0 * 2 2 5 NI TOXO IFN-+ TNF- + 5 10 0 * TOXO CÉLULAS NK IL-6 + 10 * NI 3 MONÓCITOS 20 0 * * 2 IL-1 + TOXO IL-17 + 4 * * Index de citocinas (STAg/CC) 3 IL-5 + 4 0 0 IFN-+ 4 NI TOXO 0 IL-4 + NI TOXO 2 * 1 NI TOXO 0 NI TOXO Figura 12: Análise da produção de citocinas por células da imunidade inata do sangue periférico de recém-nascidos com toxoplasmose congênita (TOXO= ) e controles não-infectados (NI= ). Os resultados estão expressos na forma de barras e mediana do cálculo de Index de Citocinas (Cultura estimulada com STAg / Cultura Controle). Diferenças significativas são destacadas por linhas de conexão e asterisco. *(p<0,05); **(p<0,01); ***(p<0,001). NI (n=10), TOXO (n=58), ARL (n=07), ACRL (n=16), CRL (n=20), NRL (n=15). 62 4.3.2 Perfil de citocinas produzidas por células da resposta imune adaptativa A figura 13 mostra o perfil de citocinas produzidas pelas células da resposta imune adaptativa. A análise do grupo TOXO mostra que, enquanto as células T CD4+ e T CD8+ apresentam um perfil pró-inflamatório, principalmente mediado pelas citocinas IFN- e TNF-, as células B desempenham papel modulador através da síntese de IL-10. Nenhum aumento de citocinas reguladoras foi observado nas células T CD4+ e TCD8+. 4.3.3 Perfil de citocinas produzidas por células da resposta imune inata nas diferentes formas clínicas da toxoplasmose ocular. A figura 14 mostra o perfil de citocinas produzidas por células da resposta imune inata levando-se em consideração as diferentes formas clínicas da toxoplasmose ocular. A análise dos neutrófilos mostrou aumento das citocinas pró-inflamatórias IL-12 no grupo ACRL e TNF- no grupo CRL, enquanto que as citocinas reguladoras estavam aumentadas nos grupos NRL (IL-4), ARL (IL-5) e CRL (IL-10). A análise de monócitos mostrou aumento das citocinas pró-inflamatórias nos diferentes grupos de TOXO. A citocina IL-1 estava aumentada nos dois grupos sem lesão ativa (NRL e CRL), enquanto que a citocina IL-12 estava aumentada em todos os grupos de TOXO. Convém ainda ressaltar o aumento de IL-6 no grupo ARL e de TNF- no grupo NRL. Por fim, a análise de células NK mostrou aumento de IFN- nos dois grupos com lesão ativa (ARL e ACRL), enquanto TNF- novamente estava aumentada no grupo NRL. 63 CÉLULAS T CD4+ CÉLULAS T CD8+ TNF- + IL-8 + 2 IFN-+ 4 IFN-+ TNF- + IL-8 + *** 4 4 2 2 1 * 4 * 0 Index de citocinas (STAg/CC) IL-4 + * 2 1 NI 0 TOXO IL-5 + 2 NI TOXO IL-10 + 0 NI 0 TOXO IL-17 + IL-4 + NI TOXO 2 0 IL-5 + NI TOXO 0 IL-10 + NI TOXO 2 2 2 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 0 NI TOXO 0 NI TOXO 0 NI TOXO 0 NI 0 TOXO NI 0 TOXO NI TOXO 0 NI TOXO 0 NI IL-17 + TOXO CÉLULAS B IL-4 + TNF- + IL-10 + 4 2 2 2 1 1 0 NI TOXO 0 NI TOXO 0 * NI TOXO Figura 13: Análise da produção de citocinas por células da imunidade adaptativa do sangue periférico de recém-nascidos com toxoplasmose congênita (TOXO= )e controles não-infectados (NI= ). Os resultados estão expressos na forma de barras e mediana do cálculo de Index (Cultura estimulada com STAg / Cultura Controle). Diferenças significativas são destacadas por linhas de conexão e asterisco. *(p<0,05); **(p<0,01); ***(p<0,001). NI (n=10), TOXO (n=58), ARL (n=07), ACRL (n=16), CRL (n=20), NRL (n=15). 64 NEUTRÓFILOS IL-8 + IL-1 + IL-6 16 10 5 4 8 0 NI NRL ARL ACRL CRL 0 NI 0 NRL ARL ACRL CRL IL-4 + NI NRL ARL ACRL CRL IL-5 + 0 * * 3 3 NI NRL ARL ACRL CRL IL-10 + 6 * 6 0 NI 12 NRL ARL ACRL CRL IL-17 + IL-1+ * 3 0 NRL ARL ACRL CRL ** ** 15 0 3 NI NRL ARL ACRL CRL NI 6 * * ** 0 NI ** NRL ARL ACRL CRL NRL ARL ACRL CRL 0 NI NRL ARL ACRL CRL 0 NI NRL ARL ACRL CRL NRL * 0 ARL ACRL CRL 0 NI NRL ARL ACRL CRL IL-10 + * * NRL ARL ACRL CRL 0 ** ** * 0 * * 3 NI NRL ARL ACRL CRL * 2 NI 6 3 4 2 NI IFN-+ 6 * * 3 TNF- + TNF- + 20 IL-4 + 4 ARL ACRL CRL CÉLULAS NK 10 + NRL 6 * 5 IL-12 0 IL-6 + 10 NI * MONÓCITOS 30 0 * 2 NI * IFN-+ IL-12 + 6 3 6 * Index de citocinas (STAg/CC) 6 2 4 0 TNF- + + 0 IL-4 + 2 1 NI NRL ARL ACRL CRL 0 NI NRL ARL ACRL CRL Figura 14: Análise da produção de citocinas por células da imunidade inata do sangue periférico de recém-nascidos com toxoplasmose congênita e controles não-infectados (NI= ). O grupo com toxoplasmose congênita foi classificado de acordo com a análise clínica oftalmológica, sendo: Sem lesão retinocoroideana (NRL= ), lesão retinocoroideana ativa (ARL= ), lesão retinocoroideana ativa e cicatrizada (ACRL= ) e lesão retinocoroideana cicatrizada (CRL= ). Os resultados estão expressos na forma de barras e mediana do cálculo de Index (Cultura estimulada com STAg / Cultura Controle). Diferenças significativas são destacadas por linhas de conexão e asterisco. *(p<0,05); **(p<0,01); ***(p<0,001). NI (n=10), TOXO (n=58), ARL (n=07), ACRL (n=16), CRL (n=20), NRL (n=15). 65 4.3.4 Perfil de citocinas produzidas por células da resposta imune adaptativa nas diferentes formas clínicas da toxoplasmose ocular. A análise da produção de citocinas pelas células T CD4+, T CD8+ e B são demonstradas na figura 15. As células T CD4+ apresentaram aumento de IFN- em todos os grupos de TOXO, enquanto que o aumento de TNF- só foi observado nos grupos sem lesão ativa (NRL e CRL) e o aumento de IL-17 somente no grupo ARL. Já a análise de células T CD8+ mostrou aumento de TNF- no grupo NRL, e aumento de IFN- no grupo ARL. Não foi observado aumento significativo em nenhuma das citocinas reguladoras. Por fim, a análise da produção de citocinas por células B não mostrou nenhuma diferença significativa entre os grupos analisados. 4.3.5 Análise da assinatura da Biomarcadores Nós utiltizamos a abordagem não convencional da análise da assinatura de biomarcadores com o intuito de verificar alguma diferença entre os grupos que não foi possível estabelecer através da análise estatística convencional. Os nossos resultados, demonstrados na figura 16, mostram uma participação importante de citocinas pró-inflamatórias produzidas tanto por células da imunidade inata quando da imunidade adaptativa no grupo sem lesão retinocoroideana (NRL). Resultado semelhante foi observado no grupo com lesão cicatrizada (CRL), porém também notamos uma participação importante principalmente de monócitos e neutrófilos na produção de citocinas reguladoras, como IL-4, IL-5, IL-10 e IL-17. Os grupos ARL e ACRL apresentaram perfil misto, com destaque na produção de algumas citocinas próinflamatórias como IFN- e IL-12 (principalmente o grupo ARL) e algumas citocinas reguladoras, como IL-4 e IL-10. 66 CÉLULAS T CD4+ IL-8 + TNF- + 2 IFN-+ 4 6 * 1 0 IL-4 + 2 NI NRL ARL ACRL CRL * * * 3 0 NI IL-5 + NRL ARL ACRL CRL IL-10 + 0 NI NRL ARL ACRL CRL IL-17 + 2 4 2 4 1 2 1 2 0 NI NRL ARL ACRL CRL 0 NI * * NRL ARL ACRL CRL 0 NI NRL ARL ACRL CRL 0 * NI NRL ARL ACRL CRL Index de citocinas (STAg/CC) CÉLULAS T CD8+ IL-8 + TNF- + 4 IFN-+ 4 4 * 2 0 * 2 NI 0 NRL ARL ACRL CRL IL-4 + NI * 2 0 NRL ARL ACRL CRL IL-5 + NI NRL ARL ACRL CRL IL-10 + IL-17 + 2 4 2 4 1 2 1 2 0 NI NRL ARL ACRL CRL 0 NI NRL ARL ACRL CRL 0 NI NRL ARL ACRL CRL 0 NI NRL ARL ACRL CRL CÉLULAS B TNF- + IL-4 + IL-10 + 2 2 2 1 1 1 0 NI NRL ARL ACRL CRL 0 NI NRL ARL ACRL CRL 0 NI NRL ARL ACRL CRL Figura 15: Análise da produção de citocinas por células da imunidade adaptativa do sangue periférico de recémnascidos com toxoplasmose congênita e controles não-infectados (NI= ). O grupo com toxoplasmose congênita foi classificado de acordo com a análise clínica oftalmológica, sendo: Sem lesão retinocoroideana (NRL= ), lesão retinocoroideana ativa (ARL= ), lesão retinocoroideana ativa e cicatrizada (ACRL= ) e lesão retinocoroideana cicatrizada (CRL= ). Os resultados estão expressos na forma de barras e mediana do cálculo de Index (Cultura estimulada com STAg / Cultura Controle). Diferenças significativas são destacadas por linhas de conexão e asterisco. *(p<0,05); **(p<0,01); ***(p<0,001). NI (n=10), TOXO (n=58), ARL (n=07), ACRL (n=16), CRL (n=20), NRL (n=15). 67 NRL M IL-12 + ARL M IL-12 + B TNF-a+ ACRL CRL B TNF-a+ M IL-12 + B TNF-a+ NI M IL-12 + 50 0 B TNF-a+ Escala 100 B TNF-a+ % de recém-nascidos com contagens celulares altas M IL-12 + Figura 16: Assinatura de biomarcadores da produção de citocinas pelas células da imunidade inata e adaptativa no sangue periférico de recém-nascidos com toxoplasmose congênita classificados como: sem lesão retinocoroideana (NRL), lesão retinocoroideana ativa (ARL), lesão retinocoroideana ativa e cicatrizada (ACRL), e lesão retinocoroideana cicatrizada (CRL), comparados com recém-nascidos que tiveram a infecção congênita descartada (NI). Os gráficos em forma de radar resumem a assinatura de biomarcadores de citocinas reguladoras ( ) e citocinas inflamatórias ( ), onde cada eixo exibe a proporção de crianças com altos níveis de uma determinada população celular. Os dados relevantes (> 50%) são ressaltados em sublinhado. 68 5. DISCUSSÃO Embora o estudo da resposta imune frente à infecção pelo T. gondii tenha tido grandes avanços nos últimos anos, a resposta imune durante a infecção congênita e a imunopatologia da lesão ocular continuam sendo grandes desafios. O entendimento dos mecanismos imunopatológicos envolvidos na infecção congênita e na toxoplasmose ocular é um prérequisito para o desenvolvimento de intervenções terapêuticas mais eficientes. Estudos como os de Safadi et al. (2003) e Vasconcelos-Santos et al. (2009) têm apontado a maior gravidade da infecção congênita nos recém-nascidos do Brasil. Outro estudo que compara crianças infectadas, identificadas por triagem pré-natal ou neonatal no Brasil e na Europa Ocidental, sugeriu que a geografia afeta substancialmente na ocorrência e gravidade do envolvimento ocular na toxoplasmose congênita. Em comparação com 281 recém-nascidos europeus, 30 crianças do Brasil tiveram risco significativamente maior de desenvolver retinocoroidite e sofreram inflamação recorrente. Para as crianças com lesões, a dimensão global média foi de lesões maiores com mais lesões múltiplas na coorte brasileira (Gilbert et al., 2008). Embora os trabalhos de genotipagem levantem a hipótese de que essa diferença seja principalmente devido às cepas encontradas no Brasil (Ferreira et al., 2006; Carneiro et al., 2013), não podemos descartar a resposta imune do hospedeiro como um fator determinante na maior gravidade das infecções. Sabe-se que a doença ocular é a principal manifestação clínica da toxoplasmose congênita (Berrebi et al., 2010), e que a ocorrência e a gravidade de lesões são mais comuns no Brasil do que em outras partes do mundo (Vasconcelos-Santos et al., 69 2009; Rey et al., 2013). Além da presença de lesões oculares clinicamente detectáveis ao nascimento, novas lesões geralmente aparecem ao longo de décadas em aproximadamente um terço das crianças que recebem tratamento anti-microbial pós-natal e três quartos das crianças que não recebem tal tratamento (Phan et al., 2008a; Phan et al., 2008b). Apesar da publicação de alguns trabalhos abordando a papel da resposta imune no controle da toxoplasmose ocular em modelos murinos, pouco foi estudado sobre o papel das citocinas circulantes na toxoplasmose ocular em humanos. O desenvolvimento de uma resposta imune adequada é importante não só para controlar a replicação do parasito, mas também para reduzir as sequelas da toxoplasmose, principalmente a lesão ocular. O presente estudo é uma excelente oportunidade para entendermos as principais mudanças na população e na atividade leucocitária do sangue periférico nos recém-nascidos com toxoplasmose congênita, e ainda, associar tais mudanças com as análises clínicas oftalmológicas. Inicialmente nós analisamos possíveis alterações no perfil fenotípico das células mononucleares circulantes dos recém-nascidos com toxoplasmose congênita. Nossos resultados mostraram aumento na população de linfócitos e monócitos desses recém-nascidos. Sabe-se que o recrutamento de monócitos é essencial na restrição da replicação de T. gondii em modelos murinos (Mordue & Sibley, 2003; Robben et al., 2005). Apesar da importância dos monócitos no controle da replicação do parasito, outros estudos mostram que os monócitos podem servir como “cavalos de tróia”, transportando o parasito para outros locais do organismo, inclusive sítios imunoprivilegiados (Lachenmaier et al., 2001). Além disso, a atividade dos monócitos precisa ser cuidadosamente controlada, uma vez que a produção 70 excessiva de citocinas inflamatórias e NO podem resultar em patologia grave (Mosser, 2003). Convém destacar que o aumento na população de monócitos só foi estatisticamente significativo no grupo de recém-nascidos com lesão retinocoroideana ativa (ARL), sugerindo que a persistência da resposta imune mediada por monócitos está diretamente relacionada com a patologia observada nestes recém-nascidos. Após essa análise inicial, nós verificamos se havia alguma mudança nas subpopulações de monócitos. Foi observado aumento de monócitos pró-inflamatórios (CD14+CD16+HLA-DR++) nos recém-nascidos com toxoplasmose congênita. Alguns estudos mostraram que os monócitos pró-inflamatórios são importante fonte de IL-12 quando estimulados por T. gondii (Mordue & Sibley, 2003; Dunay et al., 2010), e também foi proposto que estas células contribuem diretamente no controle de T. gondii através da produção de NO, o que inibe a replicação do parasito. O aumento de monócitos próinflamatórios nos recém-nascidos infectados, especialmente aqueles com lesão ativa, é indicativo de uma forte e persistente resposta pró-inflamatória. O atraso na modulação da resposta imune pode estar influenciando diretamente no desenvolvimento da patologia característica da toxoplasmose, principalmente a retinocoroidite, e talvez seja um dos motivos de maior gravidade nas infecções congênitas observadas no Brasil. Células NK e células T NK também estavam aumentadas em recém-nascidos infectados com T. gondii. Nossos resultados mostraram um significativo aumento na população de células NK citotóxicas CD56dim em recém-nascidos com lesão retinocoroideana ativa, e uma importante diminuição de células NK imunoreguladoras CD56 bright, quando comparados aos recém-nascidos não infectados. O aumento nas populações e sub-populações 71 de células NK e células T NK é um importante fator da resposta imune contra o parasito (French et al., 2006). A análise da resposta imune adaptativa mostrou alguns resultados interessantes. Linfócitos T CD4+ aparentemente estão associados com o fenótipo de lesão ativa. Apesar de diversos estudos demonstrarem a importância das células T CD4+ no controle da infecção, a produção de citocinas inflamatórias, principalmente por células T CD4+, está relacionado com a morbidade na toxoplasmose (Gazzinelli et al., 1996; Lu et al., 2004). Adicionalmente, nós observamos que o aumento de células T CD8+ está associado com a presença de retinocoroidite em recém-nascidos. As células T CD8+ desempenham papel efetor fundamental contra o parasito (Suzuki et al., 1998), além de matarem macrófagos infectados e macrófagos que foram expostos a antígenos solúveis do parasito (Hakim et al., 1991). Nossos resultados demonstram que as células T CD8+ podem ser um importante biomarcador de morbidade nos recém-nascidos infectados pelo T. gondii. Os resultados do perfil fenotípico das células mononucleares circulantes nos recémnascidos com toxoplasmose congênita sugerem maturação da resposta imune. O aumento nas populações e sub-populações de linfócitos, monócitos e células NK é importante no controle da replicação do parasito. Porém, a exacerbação da resposta inflamatória pode estar lesando os recém-nascidos, sendo um fator determinante na patologia observada. Somente os recémnascidos com lesões ativas tiveram aumento de leucócitos (especificamente monócitos, células NK e linfócitos). Mais do que isso, somente esse grupo de recém-nascidos mostrou aumento nas populações de monócitos pró-inflamatórios e células NK ativas. 72 Após a análise das modificações nos perfis fenotípicos celulares, nós verificamos possíveis alterações na produção de citocinas por parte das células mononucleares circulantes dos recém-nascidos com toxoplasmose congênita. Nossos resultados mostram um perfil claramente pró-inflamatório nas células NK dos recém-nascidos infectados, com aumento na produção de IFN- e TNF-Sabe-se que a produção de citocinas inflamatórias por parte das células NK é extremamente importante nos estágios iniciais da infecção, auxiliando no controle do parasito. Além de reconhecerem e matarem células infectadas, as células NK são a principal fonte de IFN- no início da infecção, sendo tais funções fundamentais para a sobrevivência do hospedeiro (French et al., 2006; Khan et al., 2006). A produção de citocinas pelos monócitos mostrou um perfil claramente próinflamatório, porém modulado por IL-10. Como já mencionado anteriormente, a resposta próinflamatória estimulada pelos monócitos é fundamental para controlar a replicação do parasito e favorecer a sobrevivência do hospedeiro, porém a exacerbação da resposta pró-inflamatória têm se mostrado prejudicial ao hospedeiro, sendo uma das principais causas da patologia observada. O aumento na produção da citocina reguladora IL-10 é fundamental para limitar a inflamação decorrente da atividade contra o parasito. Estudos em toxoplasmose experimental demonstraram que a ausência de IL-10 está diretamente ligada com a morte do hospedeiro pela exacerbação da resposta inflamatória e consequente patologia (Gazzinelli et al., 1996). Além disso, a IL-10 é uma potente antagonista de macrófagos ativados, e a infecção com patógenos como o T. gondii aumentam a expressão de IL-10 (Gazzinelli et al., 1992; Khan et al., 1995). 73 A análise da produção de citocinas por neutrófilos mostrou um perfil misto, com aumento na produção das citocinas pró-inflamatórias IL-12 e TNF-, mas com predomínio no aumento de citocinas reguladoras (IL-4, IL-5, IL-10 ). O aumento na produção de IL-12 tanto por monócitos quanto por neutrófilos é interessante, haja vista que o aumento na produção de IFN- anteriormente mostrado nas células NK, é estimulado por essa citocina (French et al., 2006). Embora o perfil observado na produção de citocinas por neutrófilos tenha sido misto, convém destacar a predominância de citocinas reguladoras, o que reforça aspectos já discutidos anteriormente, isto é, a importância dos mecanismos reguladores da resposta próinflamatória com o intuito de preservar o hospedeiro, mesmo que para tal, favoreça também a persistência do parasito. Confirmando isto, estudos com camundongos deficientes para IL-4 mostram que a mortalidade é significativamente maior do que em camundongos selvagens, embora uma resposta persistente de IL-4 a longo prazo também seja prejudicial para o hospedeiro (Roberts et al., 1996), o que reforça a importância do delicado controle da resposta imune na interação parasito-hospedeiro. Os resultados referentes a análise da produção de citocinas por parte das células da imunidade adaptativa também foram interessantes. As células T CD4 + e T CD8+ mostraram claramente um perfil pró-inflamatório, com aumento na produção de TNF-e IFN-. Não foi observado aumento na produção de nenhuma citocina reguladora por parte dessas células. É bem documentado na literatura o importante papel das células T, principalmente durante a fase crônica, no controle da infecção pelo T. gondii. A depleção dessas duas sub-populações é necessária para que ocorra a reativação da doença, sendo que o tratamento com anticorpos anti-CD4 ou anti-CD8 sozinhos não resulta em aumento da patologia ou da morbidade. 74 Ambas as sub-populações são capazes de produzir IFN- e acredita-se que CD4+ e CD8+ atuem juntas na prevenção da reativação da toxoplasmose (Gazzinelli et al., 1991). As células B apresentaram aumento de células produzindo a citocina reguladora IL-10. Em 2000, Sayles et al., demonstraram a importância das células B na resistência ao T. gondii através de experimentos com vacinas com taquizoítos atenuados e camundongos deficientes em células B. A maior susceptibilidade não era causada por deficiência nas funções das células T ou em menor capacidade de produção de IFN-. Os autores concluíram que a maior susceptibilidade dos camundongos deficientes em células B estava relacionada com a não produção de anticorpos que poderiam ter efeito protetor in vivo bloqueando a infecção de células do hospedeiro por taquizoítos. Em sua discussão, porém, os autores não deixaram de levantar a hipótese de que a mortalidade dos camundongos deficientes em células B estivesse relacionada com uma exacerbada produção de citocinas pró-inflamatórias do tipo Th1, e que outros componentes produzidos pelas células B poderiam de certa forma regular essa forte resposta inflamatória. De fato, nossos resultados reforçam essa hipótese. As células B foram as únicas células da resposta imune adaptativa que apresentaram aumento na produção de uma citocina reguladora, a IL-10. Conforme já discutido anteriormente, a citocina IL-10 é de fundamental importância no controle da resposta pró-inflamatória. Aparentemente as células T CD4+ e T CD8+ estão relacionadas com o controle da infecção após replicação dos estágios iniciais, através da produção de citocinas pró-inflamatórias, resultando no encistamento do parasito, enquanto as células B estão relacionadas com o controle da resposta próinflamatória, evitando maiores prejuízos ao hospedeiro. Os resultados de atividade celular observados nas células da resposta imune adaptativa reforçam a idéia de maturação da resposta imune nos recém-nascidos com toxoplasmose congênita. 75 Após a análise da produção de citocinas comparando os recém-nascidos infectados com aqueles sem infecção, foi verificado se havia diferença na produção de citocinas entre os recém-nascidos com diferentes formas clínicas da toxoplasmose ocular. O grupo NRL apresentou um perfil de citocinas predominantemente pró-inflamatório, mediado principalmente por TNF-. O grupo ARL apresentou um perfil de citocinas misto, mas com predominância de células produtoras de citocinas pró-inflamatórias, especialmente IFN-. Exceção feita nos neutrófilos, com aumento de células produzindo citocinas reguladoras. Já o grupo ACRL apresentou perfil de citocinas predominantemente pró-inflamatório, mediado por IFN-e IL-12, e modulado por IL-10 produzido por monócitos. Por fim, o grupo CRL também apresentou perfil predominantemente pró-inflamatório, mediado principalmente por TNF-, e modulado por IL-10 produzido pelos neutrófilos e pelos monócitos (Anexo 1). Interessantemente, a citocina pró-inflamatória TNF- estava aumentada somente nos grupos sem lesão ativa (NRL e/ou CRL) nas diversas células analisadas (células NK, neutrófilos, monócitos, células T CD4+ e células T CD8+). Outra citocina pró-inflamatória que apresentou aumento significativo somente nos grupos sem lesão ativa foi IL-1, embora dessa vez tenha se registrado o aumento somente na população de monócitos. Em trabalho realizado por Yamamoto et al. (2000), foi observada maior produção de IL-1 e TNF- nos pacientes com toxoplasmose ocular pós-natal em relação aos pacientes com toxoplasmose sem sintomatologia ocular, os pacientes com toxoplasmose ocular congênita ou pacientes sem infecção. Os autores sugerem que a susceptibilidade a lesão ocular, pelo menos nos pacientes com toxoplasmose ocular pós-natal, está associada com o aumento na produção de IL-1 e TNF-. Outros estudos também já mostraram que a persistente produção de TNF- está 76 associada com maior dano tecidual, principalmente via reativos de oxigênio, promoção da angiogênese e quebra da barreira ocular (Santos et al., 2001; Khera et al., 2010; Rey et al., 2013). De fato, acredita-se que o aumento de TNF- pode eventualmente resultar numa inflamação ocular mais grave com subseqüente envolvimento macular, levando a uma piora da visão (Rey et al., 2013). Embora nossos resultados tenham sido divergentes com os estudos apresentados acima, é necessário cautela ao analisá-los. O aumento de IL-1 e TNF- nos recém-nascidos sem lesão retinocoroideana (NRL) ou com lesão cicatrizada (CRL) pode realmente ser um indicativo de que, de alguma forma, essas citocinas estejam relacionadas com mecanismos preventivos e/ou resolutivos da lesão ocular. Uma outra hipótese seria de que tais recém-nascidos podem estar perto de desenvolver lesão ocular ou reativar lesões antigas, embora não tenhamos encontrado aumento de células produzindo tais citocinas nos grupos ARL e ACRL. IL-12 estava aumentada em todos os subgrupos de TOXO na análise da população de monócitos. Já IFN- foi encontrada aumentada em todos os subgrupos de TOXO na análise de células T CD4+, e especificamente nos grupos ARL e ACRL nas células NK e no grupo ARL nas células T CD8+. Não é surpresa o resultado referente as citocinas IL-12 e IFN-. São duas citocinas pró-inflamatórias sabidamente essenciais ao controle da infecção nos estágios iniciais, e manutenção de uma fase crônica assintomática no hospedeiro (Denkers & Gazzinelli, 1998). Poucas horas após a infecção, IL-12 já está sendo produzida por células dendríticas e posteriormente por monócitos, sendo fundamental na ativação das células NK e direcionamento das células T para um perfil Th1, com consequente produção de IFN- (Hunter et al., 1995; Pifer & Yarovinsky, 2011). Diversos estudos demonstram que a neutralização da citocina IL-12 é extremamente danosa ao hospedeiro, e impede uma resposta 77 pró-inflamatória mediada por IFN- eficiente, levando na maioria das vezes o hospedeiro a morte (Khan et al., 1994; Hunter et al.,1995). A produção de IFN- é fundamental tanto na fase aguda quanto na fase crônica da infecção, desempenhando papel importante na diferenciação de taquizoítos em bradizoítos na fase aguda, além de suprimir a conversão de bradizoítos em taquizoítos na fase crônica (Jones et al., 1986). Como já discutido anteriormente, a associação da resposta pró-inflamatória (IL-12 e IFN- no caso) com a patologia está relacionado com um descontrole da resposta imune, sendo fundamental a participação das citocinas reguladoras IL-10, IL-27 e TGF- para a proteção do hospedeiro (Jankovic et al., 2010; Cyktor & Turner, 2011). A citocina IL-17 apresentou aumento significativo no grupo com lesão ativa (ARL), quando as populações celulares de neutrófilos e células T CD4+ foram analisadas. A descoberta da resposta inflamatória Th17 aumentou o interesse no estudo da citocina IL-17, considerada fundamental nessa nova via da resposta inflamatória. Além do seu papel antiToxoplasma (Kelly et al., 2005), IL-17 estimula a produção de IL-6 e óxido nítrico, e amplifica a resposta inflamatória local em sinergia com outros mediadores, como IL-1, TNFe IFN-Afzali et al., 2007). Além disso, IL-17 amplifica a reposta inflamatória local recrutando neutrófilos e monócitos aos sítios de infecção através da produção de IL-8, MCP-1 e GM-CSF (Ye et al., 2001; Miyamoto et al., 2003; Kelly et al., 2005). A citocina IL-17 e sua resposta inflamatória correspondente já haviam sido reportadas durante a infecção por T. gondii (Kelly et al., 2005; Guiton et al., 2010) A expansão de células produtoras de IL-17 em toxoplasmose ocular humana foi demonstrada por Lahmar et al. (2009) que acompanhou padrões de citocinas no soro e humor 78 aquoso de indivíduos com toxoplasmose ocular, uveíte e catarata infecciosa ou não infecciosa. Níveis elevados de IL-17 foram relatados em amostras de humor aquoso de 70% dos pacientes que apresentavam toxoplasmose ocular. Este aspecto também foi observado com outro grupo que apresentava doença ocular inflamatória, mostrando que os processos inflamatórios podem desempenhar papel importante no estabelecimento de lesão ocular. Em outro estudo foi demonstrado o papel deletério de IL-17 em termos de patologia e controle parasitário, e que a neutralização dessa citocina está diretamente relacionada com o aumento de mecanismos reguladores, como as citocinas IL-27 e a expressão de foxp3 (Sauer et al., 2012). Nossos resultados corroboram os achados de Lahmar et al. (2009), já que somente o grupo de crianças com lesão retinocoroideana ativa (ARL) apresentou aumento significativo de células produtoras de IL-17. Nossos dados mostraram aumento na população de monócitos produtores da citocina pró-inflamatória IL-6 e de neutrófilos produtores da citocina reguladora IL-5 somente no grupo com lesão retinocoroideana ativa (ARL). IL-6 é uma citocina pleiotrópica produzida por diversos tipos de células, tais como monócitos ativados, fibroblastos, células endoteliais e linfócitos T e B (Van Snick, 1990). É altamente indutível e é produzida em resposta a uma série de estímulos inflamatórios, tais como a IL-1, TNF-, produtos virais e bacterianas (Terry et al., 2000). Além disso, IL-6 contribui para a diferenciação e/ou ativação de macrófagos e células T e para o crescimento e diferenciação terminal de células B (Van Snick, 1990). Na toxoplasmose ocular, a IL-6 foi anteriormente detectada no humor vítreo de gatos e seres humanos (Murray et al., 1990, Lappin et al., 1997). Estudos demonstraram que a infecção in vitro de células epiteliais do pigmento da retina humana com T. gondii induz IL-6 e inibe a apoptose destas células (Nagineni et al., 2000). A citocina IL-5 é principalmente 79 produzida por células T e mastócitos e desempenham um papel importante na imunidade da mucosa. IL-5 está principalmente associada com a capacidade de induzir eosinofilia, e têm se mostrado importante na indução de uma resposta do tipo Th2 através da habilidade dos eosinófilos de produzirem IL-4 nos estágios iniciais da infecção. Foi demonstrado que IL-5 não só atua em sinergia com IL-2 e IL-4 para induzir a produção de anticorpos pelas células B, mas também, juntamente com TGF- pode aumentar a produção de IgA pelos tecidos linfóides da mucosa, sendo reconhecida a importância de IgA na inibição da invasão de enterócitos pelo T. gondii (Mack & McLeod, 1992). Nossos achados corroboram Nickdel et al (2001), que relataram maior susceptibilidade a infecção aguda e patologia mais grave em camundongos selvagens, em relação aos nocaute para IL-5. Entre as perspectivas futuras após a realização deste estudo está a análise da resposta imune desses recém-nascidos após um ano de tratamento, comparando com os resultados obtidos aqui. Além disso, existe a possibilidade de novos recém-nascidos participarem do projeto, permitindo novas análises que não foram possíveis nesse estudo, como a análise de células dendríticas nos estágios iniciais da infecção. 80 6. CONCLUSÕES Recém-nascidos com toxoplasmose congênita apresentaram perfil fenotípico e funcional de leucócitos diferente daquele apresentado pelos recém-nascidos sem infecção. Foi observado nos recém-nascidos infectados: aumento de monócitos próinflamatórios; aumento das populações e subpopulações de células NK e células T NK; aumento de linfócitos, T CD8+, T CD4+CD8+, CD4+HLA-DR+, CD8+HLA-DR+, CD19+ e CD19+CD5+. Recém nascidos com toxoplasmose congênita apresentaram população de neutrófilos com perfil misto de citocinas, monócitos com perfil pró-inflamatório modulado por IL-10, células NK com perfil pró-inflamatório, células T CD4+ e T CD8+ com perfil próinflamatório e células B com papel modulador através da síntese de IL-10. Recém-nascidos apresentando diferentes formas clínicas da doença ocular também apresentaram diferentes perfis fenotípicos e funcionais de leucócitos entre si. Recém-nascidos com lesão ocular, seja ativa ou cicatrizada, apresentaram aumento de linfócitos TCR, T CD8+ e T CD8+HLA-DR+, indicando que tais células podem funcionar como importantes biomarcadores de morbidade. Recém-nascidos com lesão retinocoroideana ativa se caracterizaram pelo aumento de monócitos pró-inflamatórios, células NK, células NK ativas, células NKdim e linfócitos T 81 CD4+HLA-DR+. Além disso, apresentaram aumento de neutrófilos produtores de IL-5 e IL17, e linfócitos T CD4+ produtores de IL-17. Recém-nascidos que não apresentaram lesão retinocoroideana ativa se caracterizaram pelo aumento de monócitos produtores de IL-1 e de células produtoras de TNFindicando que o aumento na produção de tais citocinas pode ser um importante indicador de proteção ou resolução da lesão ocular. 82 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. 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