Queridos alunos da turma Luis Malcher do IE/UFRJ

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Queridos alunos da turma Economista Luis Malcher do IE/UFRJ
Em primeiro lugar gostaria de agradecer a lembrança de vocês ao me
escolherem como patrono da turma Luis Malcher. Comecei a dar aulas no
IE em 1977 e foi preciso esperar 30 anos para que uma turma me
escolhesse como patrono. Valeu a espera. Isso me deixa muito honrado e
ao mesmo tempo agradecido.
Creio que minha escolha, além de representar um reconhecimento daqueles
que foram meus alunos de Macro, pelo trabalho que desenvolvi com vocês
durante as aulas, também reflete um reconhecimento pelo trabalho que
minha diretoria tem feito para melhorar o curso de economia do IE, em
especial o atual diretor de graduação Marcelo Paixão e do anterior Fred.
Ao me dirigir a vocês não posso me esquecer de mencionar o principal
homenageado da turma, nosso querido e saudoso Luis Malcher, que foi
retirado de nosso convívio de maneira tão trágica e violenta. Tendemos a
nos acostumar com a violência que se banalizou em nossa cidade nos
últimos anos, mas quando perdemos um ente próximo somos obrigados a
parar e perguntar porque isso está ocorrendo.
Não tenho dúvida que o baixo crescimento econômico do último quarto de
século associado à má distribuição da renda estão por trás dos graves
problemas sociais que estamos enfrentando. Mais do que nunca é preciso
que o país retome o crescimento econômico que era nossa marca registrada
até o início dos anos 80.
Aqueles que foram meus alunos devem se lembrar de nossas discussões
sobre política econômica a partir do modelo IS-LM e minhas reclamações
sobre as elevadas taxas de juros. Pois é, passados mais de 3 anos desde
nossas aulas, as taxas de juros continuam as mais elevadas do mundo e o
crescimento econômico continua patinando.
Eu posso desanimar com a desculpa da minha idade. A idade nos dá esse
direito. Mas vocês não têm esse direito. É preciso que vocês acreditem que
o Brasil pode melhorar e como economistas vocês têm um importante papel
a cumprir.
Tenho plena consciência das limitações do curso que vocês tiveram na
UFRJ. Uma de nossas características é um grande pluralismo na formação
de nosso quadro docente e creio que é assim mesmo que deve ser uma
universidade pública. Isso, entretanto, trás vantagens e desvantagens.
Por trás de uma aparente desorganização, com turmas distintas de uma
mesma matéria muitas vezes tendo professores com visões diferentes, se
esconde o fato que vocês tiveram contato com pessoas que lhes abriram um
leque de informações que dificilmente vocês encontrariam em outra escola
de economia do país.
O desafio que se coloca para vocês a partir de agora é como organizar em
suas cabeças todos os ensinamentos que lhes foram passados e utilizá-los
da melhor forma possível.
Meu conselho para vocês é que ajam de acordo com suas consciências
procurando sempre a melhoria da sociedade e não apenas seus interesses
próprios imediatos. A atividade econômica não é obrigatoriamente um jogo
de soma zero onde para que um ganhe outro deve perder. Pelo contrário,
pode e deve ser um jogo de soma positiva onde todos ganhem e aqueles
mais necessitados têm o direito de ganhar mais que os demais.
Se caminharmos nessa direção certamente teremos um país mais justo, com
maior crescimento econômico, melhor distribuição de renda e menores
níveis de violência.
Esse foi o sonho de minha geração. Espero que venha a ser a sua realidade.
A bola está com vocês.
Obrigado,
João Saboia
02/09/2006
Discurso dos Alunos
Hoje é um dia muito especial para todos nós aqui presentes:
formandos, amigos, pais, familiares e professores. É o dia da tão sonhada e
esperada formatura dos alunos do Instituto de Economia da UFRJ / 2º
semestre de 2002, agora, formandos da Turma Economista Luis Malcher
2006.
Hoje é o dia em que oficializamos o ponto de chegada da carreira
que escolhemos, e que representa muito para nós. Porém é apenas a
primeira das muitas outras conquistas que ainda obteremos na longa
jornada de nossas vidas.
Ontem, éramos apenas vestibulandos, que se agarravam na luta por
uma vaga em uma universidade pública, e que, em muitos casos, nem
sabiam qual carreira seguir, e buscávamos dentro de nós mesmos uma
resposta para essa escolha. Na verdade, nos encontrávamos com uma
decisão de suma importância em nossas mãos: tínhamos de decidir o que
seríamos para o resto de nossas vidas. Puxa, que ano difícil...tantas foram
as conversas com os amigos, parentes e professores sobre cada profissão, e,
ao final, a maioria escolheu por seguir os passos de seus pais ou parentes,
ou então, decidiu a carreira baseado em matérias com as quais mais se
identificava na escola.
Houve também casos de pessoas que entraram na Economia por
acaso, pelo desejo de se transferir do curso onde haviam entrado no
vestibular, com o qual não se identificaram. Houve também pessoas que
passaram por dois cursos, não se identificaram, e vieram para a Economia
para enfrentar a terceira tentativa....puxa...esses realmente são dignos de
admiração! E o pior....houve aqueles que se transferiram, e continuaram
sem se identificar, mas que por forças do destino, ou mesmo o peso da
idade, aqui se mantiveram até o fim.
E tão logo vivenciamos o choque no primeiro período da faculdade:
microeconomia, macroeconomia, cálculo, nossa....que desespero! Muitas
vezes no perguntamos: o que seria uma demanda agregada? Alguém
acredita ser possível a Lei de Say? Por que tenho que aprender a Teoria
Lagrangeana? Para que serve a função Cobb-Douglas? Quantas angústias,
quanta insegurança, quanta reflexão...enfim....quantas que só foram
respondidas períodos mais tarde, quando nosso conhecimento foi,
gradativamente, se tornando mais sólido.
Aos poucos, nos acostumamos à loucura do curso de economia, com
tantos números, gráficos, inúmeros textos, e muitos em inglês. Com o
tempo, aprendemos a conviver com perguntas sem respostas, com teorias
que eram refutadas a todo o momento, e que se mantinham sem condizer
com a realidade, enfim, o conhecimento foi amadurecendo, e percebemos,
então, que esse é o contexto de um economista.
Um Economista vive em meio a várias perguntas, palpites, teorias,
gráficos, suposições, enfim, as incógnitas - as perguntas sem uma única
resposta - tudo isso reflete o dia-a-dia de um economista, e todo o
conhecimento adquirido em nosso curso nos mune de capacidade para
enfrentar isso tudo, e buscar soluções para as questões que concernem ao
nosso país, e ainda, ao mundo. Concluímos, assim, que somos “palpiteiros
graduados para tal”, e é essa ausência de exatidão que nos estimula a nos
preparar cada vez mais para as questões da vida.
Apesar de todas as dificuldades enfrentadas durante esses quatro
anos de muitas noites mal dormidas, de muita correria, sacrifício no
concílio do trabalho com a faculdade, e de muito estresse e desespero no
enfrentamento dos dragões como Econometria, Estatística II, Cálculo,
dentre muitos outros, conseguimos atravessar a ponte sobre as lavas
vulcânicas, e salvamos a princesa presa no calabouço. Conseguimos
concluir o nosso curso de Economia na tão renomada Universidade Federal
do Rio de Janeiro, com braços fortes!
E muitas serão as lembranças que levaremos daqui para o resto de
nossas vidas: as partidas de truco nos intervalos, os cochilos e bate-papos
no teatro de arena, os cafezinhos, lanchinhos e almoços no famoso bar do
“Seu Antônio”, os muitos Reais gastos na xerox do nosso eterno amigo
Domênico, as chopadas, o caderno mais que perfeito e completo de nossa
Daniela, os professores que marcaram nossa passagem por aqui sua
simpatia, dedicação e paciência, e, principalmente, as amizades. Estas serão
a nossa maior conquista dentro da UFRJ, e, um dia, num futuro distante,
veremos nossos filhos se conhecendo por nosso intermédio, e nos fazendo
as mesmas perguntas que nos fizemos no ano do vestibular!
Enfim, a partir de agora, nosso foco se torna outro: ingressar no tão
seletivo mercado de trabalho! Mas o faremos com uma certeza dentro de
nós: a de que não somos ordinários, uma vez que somos economistas
formados pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. E um grande selo
de qualidade em nosso currículo, é a certificação de um ensino de alto
nível.
Por isso vale ressaltar, que embora o Brasil não tenha sido o
campeão da Copa do Mundo de 2006, nós, aqui presentes hoje, levamos a
taça de hexacampeões para nossas casas, uma vez que nos esforçamos para
obter o título de economistas durante quatro anos.
Dessa forma, o grito que ecoa em nossos corações e em nossa
garganta hoje é: “vamos juntos todos, para frente Economistas 2006,
salve o Brasil!”
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