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PREVISÕES METEOROLÓGICAS EMITIDAS PELA TELEVISÃO: A
CONFIANÇA DOS AGRICULTORES DO SEMIÁRIDO BAIANO
Natália de Brito Lima
[email protected]
Bacharelado em Geografia
Bolsista de Iniciação Científica - PROBIC
Universidade Estadual de Feira de Santana
Manuel Cabalar Fuentes
[email protected]
Universidade Estadual de Feira de Santana
Introdução:
Grande parte da população recebe as previsões meteorológicas por meio da
televisão. Isto, provavelmente, é decorrido pela grande facilidade de acesso que se
tem e sua grande difusão nos lares brasileiros. O mesmo acontece com os produtores
rurais do semiárido baiano.
Neste espaço, as condições climáticas não são tão favoráveis para a produção
agrícola. Por este motivo, é de grande importância o planejamento das diferentes
fases da produção, para que a safra tenha sucesso. Um dos principais fatores para
que tal circunstância aconteça é o clima, e neste contexto, dispor de informação
meteorológica acessível e compreensível tem a maior importância. Tendo isto em
vista, o presente trabalho visa analisar qual o nível de confiança que os produtores
rurais do semiárido baiano têm nas informações meteorológicas/climáticas que obtêm
através do meio televisivo e, ainda, se estes usam estas informações como base para
o planejamento do seu trabalho. O recorte espacial para o desenvolvimento da
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pesquisa foram os municípios de Retirolândia, Valente e São Domingos, componentes
do denominado Território de Identidade do Sisal.
Objetivos:
- Observar se as informações meteorológicas transmitidas pela televisão são
compreensíveis ou não para os produtores rurais;
-Verificar o nível de confiança destes produtores nas previsões meteorológicas obtidas
através da televisão;
- Analisar a utilização destas previsões meteorológicas para o planejamento dos
trabalhos agrícolas.
Fundamentação Teórica:
Atualmente, a televisão é um dos mais importantes meios de comunicação. Isto
é dado pelo fato de ser um meio de comunicação com grande facilidade de acesso. De
acordo com Campanella (2011, p. 254)
“Diferentemente dos seus primórdios, quando ela era quase
unicamente encontrada nas salas de estar de alguns domicílios
privilegiados das classes média e alta urbana, a TV, atualmente, é
uma tecnologia ubíqua em todas as camadas da sociedade nacional.”
Segundo a Pesquisa Brasileira de Mídia, realizada no ano de 2015, 95% dos
brasileiros assistem TV regularmente e 74% a veem diariamente.
O domínio climático semiárido ocupa um total de 86% do território brasileiro
(MARENGO, 2008) e o Estado da Bahia apresenta cerca de 70% de sua área sob este
domínio climático (Projeto Áridas/CAR. AOUAD, 1995). O que mais caracteriza este
domínio é a irregularidade na distribuição das chuvas, com frequente incidência de
secas persistentes; índices de aridez acentuados – entre o árido (0,05 a 0,20) e o
semiárido (0,21 a 0,50); assim como predomínio de depressões pediplanadas com
solos pouco desenvolvidos, por vezes rochosos ou pedregosos, recobertos por
caatingas arbóreo- arbustivas (AB’SABER, 1970, 1974, 1977, 2003). Este domínio
climático costuma não ser favorável às produções agrícolas, dado que a baixa
fertilidade dos solos une-se a escassez e incerteza da chuva.
Dadas estas circunstancias, para que os produtores agrícolas do semiárido do
estado da Bahia produzam em quantidades adequadas, é necessário que
anteriormente seja feito um planejamento das atividades a serem exercidas. Este
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planejamento é baseado em grande parte nas condições meteorológicas/climáticas
vigentes naquele período, assim como as previstas no futuro mais ou menos imediato.
Isto é importante para que os níveis de produção sejam suficientes.
Metodologia:
Para o desenvolvimento do presente trabalho, partiu-se da construção de um
arcabouço teórico-conceitual dos principais temas abordados: televisão como meio de
comunicação de massas, importância das previsões meteorológicas para o
planejamento agrícola, e características principais da região sisaleira.
Em seguida, foi realizado o trabalho de campo nos municípios de Retirolândia,
Valente e São Domingos (Fig. 1) para a aplicação dos questionários aos agricultores
para a obtenção das informações necessárias para a pesquisa. Após esta etapa, os
dados recolhidos no questionário foram tabulados e analisados.
Fig. 1: Mapa de Localização dos municípios de Retirolândia, São Domingos e Valente no estado da
Bahia.
Resultados Finais:
Foram aplicados um total de 100 questionários nos municípios de Valente,
Retirolândia e São Domingos. De início, questionamos aos agricultores se eles faziam
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um acompanhamento da previsão do tempo e por qual meio de comunicação tinham
acesso á informação. Dos 100 entrevistados, 24 não acompanhavam a previsão do
tempo, e 76 faziam esse acompanhamento com frequência. Destes 76, 90.78% (69
agricultores) utilizavam a televisão como meio principal para obter informações
climáticas/meteorológicas.
Como o foco da presente pesquisa são as previsões meteorológicas emitidas
pela televisão, em seguida, continuamos apenas com os 69 agricultores que faziam o
acompanhamento da previsão meteorológica por esta via. Perguntamos se eles
achavam confiável a informação: 39.13% (27 agricultores) afirmaram não confiar,
14.49% (10 agricultores) disseram que não tinham certeza do grau de confiança, e
39.13% (27 agricultores) responderam que confiavam na previsão do tempo
transmitida pelos telejornais. Mas, mesmo dizendo confiar, alguns ainda têm dúvidas e
acreditam que só Deus sabe das coisas. Os que alegaram não confiar ou não tinham
certeza, na maior parte, justificaram que a previsão do tempo não é certa e que só
Deus sabe quando deve chover.
Em seguida, indagamos se percebiam a forma como eram transmitidas as
informações do tempo de fácil entendimento. 71.01% (49 agricultores) declararam ser
sim de fácil compreensão. Porém, ao questionarmos o por quê de entenderem, a
grande maioria não quis justificar ou deram uma resposta muito ambígua. Já 17.39%
(16 agricultores) alegaram não entender e 5.79% (4 agricultores) disseram que
entendem só algumas vezes. O motivo disso, de acordo com suas opiniões, é que na
maioria das vezes a linguagem que é utilizada pelos meteorologistas nos telejornais é
de difícil entendimento. Nos telejornais com frequência são utilizados alguns termos
técnicos ou palavras mais “elaboradas” e as pessoas que não têm uma boa base
educacional acabam não compreendendo muito bem. Vale ressaltar que, do total dos
entrevistados (100), apenas 7 chegaram a concluir o ensino médio.
O seguinte questionamento foi se eles fazem uso das informações
meteorológicas para o seu trabalho. 57.97% (40 agricultores) revelaram fazer sim uso
das informações e que as utilizam para fazer o planejamento do cultivo. Já 42.02% (29
agricultores) reconheceram não utilizar as informações, pois preferem utilizar outros
métodos para fazer o planejamento de suas produções.
Por fim, pedimos aos entrevistados que indicassem sugestões de como poderia
vir a melhorar as informações climáticas/meteorológicas que são transmitidas pelo
meio televisivo. Quase metade dos entrevistados (47.82% - 33 agricultores) que fazem
o acompanhamento da previsão do tempo pelos telejornais não souberam dar
sugestões do que deveria ser melhorado. 8.69% (6 agricultores) fortaleceram a fé de
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que é Deus quem sabe das coisas. Os que colocaram alguma sugestão, disseram que
a linguagem como é passada deveria ser de mais fácil entendimento, que deveriam
dar a previsão com mais precisão e com maior detalhamento, que deveriam ser
instalados mais equipamentos climáticos na região semiárida do estado da Bahia, e,
ainda, que o conhecimento de quem produz e passa as informações deveria ser
melhorado.
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Conclusões:
Em vista dos resultados que foram mostrados aqui, conclui-se que, de acordo
com os agricultores investigados, as informações meteorológicas obtidas por meio da
televisão não são muito confiáveis. Logo, eles não costumam utilizá-las para fazer o
planejamento do cultivo. Isto por conta do deficiente entendimento que se tem. Muitos
reconhecem não compreender muito bem o que os meteorologistas dizem. O motivo
disso é o reduzido nível da escolaridade ligado ao uso de termos técnicos pelos
meteorologistas que apresentam os telejornais.
Bibliografia:
AB’SABER, Aziz Nacib. O domínio morfoclimático semi-árido das caatingas
brasileiras. Geomorfologia, n. 43. 1974.
AB’SABER, Aziz Nacib. Os Domínios de natureza no Brasil – Potencialidades
Paisagísticas. São Paulo Ateliê Editorial. 2003.
AB’SABER, Aziz Nacib. Províncias geológicas e domínios morfoclimáticos no
Brasil. Geomorfologia, n.20, 1970.
AB'SABER, Aziz Nacib. Problemática da desertificação e da savanização no Brasil
intertropical. São Paulo: Instituto de Geografia da USP. Geomorfologia, 53. 1977.
AOUAD, Marilene dos Santos. Desertificação. Salvador, CAR - Projeto Áridas Bahia,
1995.
CAMPANELLA, Bruno. A TV no Brasil: seis décadas e muitas histórias. jan./jun.
2011; Nº2: p. 253-259.
MARENGO, Jose A. Vulnerabilidade, impactos e adaptação à mudança do clima
no semi-árido do Brasil. BRASÍLIA,DF: PARCERIAS ESTRATÉGICAS, 2008.
PENNESI, Karen. Improving forecast communication: Linguistic and Cultural
Considerations. Ontario, Canadá. American Meteorological Society, July 2007 p.
1033-1044.
SECOM. Pesquisa brasileira de mídia 2015: hábitos de consumo de mídia pela
população brasileira. Brasília : Secom, 2014.
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