APACO: uma proposta de desenvolvimento rural È inegável que o processo de degradação ambiental está atualmente na ordem do dia seja nos discursos políticos, na mídia, nas empresas que o utilizam para vender sua própria imagem e é claro em organizações que sempre estiveram e estão preocupadas realmente com os problemas ambientais. Uma questão que permeia todos os discursos em torno das questões ambientais é sem dúvida a relação entre meio ambiente e desenvolvimento socioeconômico, afinal, o ser humano também faz parte deste meio e é imprescindível pensar as questões ambientais interconectadas às questões que envolvem o desenvolvimento social e econômico. Nesta perspectiva, direcionamos nossa análise para o desenvolvimento no meio rural, especificamente em torno da Agricultura Familiar. Há algumas décadas, esta forma de produção vem passando por sérias dificuldades para se auto-sustentar nas formas convencionais de produção, desencadeando fortes êxodos do campo, comprometendo o desenvolvimento social e econômico dessas populações campesinas. Estas ressonâncias são resultantes da inserção dessas unidades de produção num modelo de agricultura convencional produtivista, que realiza dois processos simultâneos de degradação: um do ponto de vista ambiental com uma orientação indiscriminada em torno da produção a qualquer custo e o outro do ponto de vista social e econômico com a exclusão social gradativa do camponês. Diante deste quadro problemático, focamos nossa análise na região Oeste de Santa Catarina. Esta região historicamente se desenvolveu em torno da agricultura Familiar tendo como eixo de sustentação a relação de “parceria” entre os agricultores e as agroindústrias que se desenvolveram a partir desta relação econômica. Este processo a partir da década de 1980 foi apresentando seus primeiros sinais de crise, tanto na questão social e econômica com a exclusão de inúmeros agricultores diante das políticas empreendidas pelas empresas em função da própria lógica capitalista de produção e reprodução do capital, quanto na questão ambiental com a concentração desta produção em determinados espaços que causaram fortes impactos ambientais, principalmente na produção de suínos. A partir desses problemas evidenciados, a sociedade civil passou a dar algumas respostas através dos movimentos sociais e de organizações criadas com o objetivo de repensar o desenvolvimento no meio rural tendo em vista as questões sociais e ambientais interconectadas. Assim, surgiu no ano de 1989 a APACO (Associação dos pequenos agricultores do oeste catarinense). Funcionando como uma organização que visa promover o desenvolvimento no meio rural para evitar o êxodo crescente na região e para proporcionar aos agricultores a construção de formas alternativas de produção. Uma das principais iniciativas da APACO foi o desenvolvimento de pequenas agroindústrias familiares de produtos de origem animal e vegetal, tendo em vista a geração de emprego e renda no meio rural. A problemática que propomos analisar aqui é de que forma a APACO enquanto organização está pensando a relação entre desenvolvimento social e econômico com as questões ambientais a partir das suas políticas de atuação junto aos Agricultores familiares, afinal, temos que considerar que a construção de modelos alternativos de desenvolvimento perpassam por uma mudança de postura frente a realidade e a cultura a qual estes agricultores estavam condicionados a realizar sua relação com a terra e o mercado. A metodologia desenvolvida consiste basicamente em analisar os materiais produzidos pela APACO (panfletos, cartilhas e projetos desenvolvidos), concomitante a entrevistas realizadas com alguns membros da organização. Com base nesta análise, entendemos que ações e empreendimentos como os desenvolvidos pela APACO apresentam-se como formas alternativas de promover políticas de desenvolvimento no meio rural capaz de congregar questões socioeconômicas com questões ambientais. Estas ações já alcançaram significativos avanços, apesar das barreiras limitadoras no campo político-institucional (especialmente legislação) e mesmo culturais no meio rural (desafio de mudar uma cultura de produção e da própria falta de mão de obra diante do êxodo corrente) por parte dos próprios agricultores. No entanto, os resultados dessas iniciativas podem ser vistos como um caminho para promover um desenvolvimento humano e ambiental equilibrado no meio rural, principalmente na Agricultura Familiar. A atuação da APACO na construção e consolidação de Redes Familiares de Produção tem se mostrado um caminho alternativo e eficiente em suas proposições de proporcionar o desenvolvimento social e econômico da Agricultura Familiar a partir de uma perspectiva que leva em consideração à temática ambiental. Referências ABRAMOVAY, Ricardo. Paradigmas do capitalismo agrário em questão São Paulo: Edusp. 2007. GOHN, Maria da Glória. Teoria dos Movimentos Sociais: Paradigmas Clássicos e Contemporâneos. São Paulo; Loyola, 2000. MIOR, Luiz Carlos. Agricultores Familiares, Agroindústrias e Redes de Desenvolvimento Rural. Chapecó: ARGOS, 2005. RUSCHEINSKY, Aloísio. (org). Sustentabilidade: uma Paixão em Movimento. Porto Alegre: Sulina, 2004. TEDESCO, João Carlos. Agricultura Familiar: realidades e perspectivas. Passo Fundo: UPF. 2001.