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J. Bras. Nefrol. 1996; 18(1): 6-13
Ponto de Vista Histórico: Centros de Nefrologia da Grande São
Paulo e região Central do Brasil
MarliCavalheiroGregório
Atualmente só na Grande São Paulo há mais de
cinquenta centros e ou serviços de Nefrologia. Alguns
funcionando há mais de 30 anos, outros comemorando
cinco anos. De uma época em que poucos médicos
eram interessados em rim, o doutor Emil Sabbaga lembra do primeiro rim artificial que chegou ao Hospital
das Clínicas. O ano era 1957. Hoje a Unidade de
Transplante Renal do HC contabiliza mais de 2.000
transplantes. A história da Nefrologia da Escola
Paulista de Medicina começou em 1955. O doutor
Horácio Ajzen conta que naquela época o líquido de
diálise era preparado na hora, sendo necessário a cada
duas horas dissolver os sais no banho de diálise.
Nesta edição, o leitor vai conhecer as diferentes
realidades dos centros de Nefrologia da Grande São
Paulo, além das histórias dos serviços nefrológicos
prestados em algumas cidades da região central do país
como Anápolis, Campo Grande e Cuiabá.
Em 20 anos mais de 2.000
transplantes
(Unidade de Transplante Renal do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP)
Passados 33 anos de ter pertencido à equipe do
renomado nefrologista americano John Merriel, o doutor Emil Sabbaga -“atualmente Chefe da Unidade de
Terapia Renal e de Diálise do Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina da USP”-, diz que sente-se
“orgulhoso” de pertencer à John Merriel Memorial
Society, e de ter sido um dos poucos médicos brasileiros que atuaram com o precursor do transplante de
rim.
Relembrando sua época de iniciante como médico,
ele conta que em 1952 quando começou a residência
no Hospital das Clínicas, de São Paulo, trabalhava num
enfermaria chamada 3ª Clínica Médica. “Em 1953, com
o apoio do professor Otávio Rodovalho foi criada na 3ª
Clínica uma subdivisão de áreas e, por sugestão nossa,
foi instalada a área de doenças renais. Eu era residente
e a área foi assumida pelo professor José Barros
Magaldi, de saudosa memória e que muitos anos depois
se transformou no primeiro professor de Nefrologia da
Universidade de São Paulo”.
Segundo o professor Sabbaga, naquela época existiam alguns médicos interessados em rim, mas que não
se constituíam em unidades específicas. Posteriormente, com a eliminação de diversas áreas de Clínica Médica e a formação de uma área só, foi oficializado esse
grupo de doenças renais sob a chefia do professor
Magaldi, com a colaboração de alguns médicos, entre
eles os doutores Carlos V. de Faria, Israel Nussenzveig,
Homero Pastore. Depois, muitos médicos se associaram ao serviço, como os doutores Jenner Cruz e Tito
Ribeiro de Almeida.
Em 1957, lembra ele, o Serviço do HC importou o
rim artificial, que foi o primeiro rim realmente a funcionar em São Paulo e, em torno dele, criou-se uma
especialidade de tratamento da insuficiência renal aguda. Nessa época, a biópsia renal já era feita nesse hospital e o professor Lopes de Faria (já falecido) era o
patologista da unidade.
O doutor Sabbaga assinala que o rim artificial passou a ser um chamariz para os casos de insuficiência
renal aguda e eram feitas muitas diálises. Porém, ainda não existiam fístulas, as diálises eram feitas através
de cirurgia, com no máximo quatro vias de acesso (braços esquerdo e direito, e pernas esquerda e direita). E,
por isso, as diálises estavam limitadas às vias de acesso;
só eram feitas em último caso. Portanto, eram
dialisados os doentes agudos, uma vez que os crônicos
exigiam mais diálises. “Era um procedimento mais trabalhoso, pois era necessário um cirurgião para secar a
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veia. O rim artificial foi sendo aperfeiçoado e hoje
temos máquinas ultra modernas, que proporcionam
uma hemodiálise muito segura e tranquila”.
Por volta de 1960, as áreas de insuficiência renal
aguda, hipertensão e glomerupatias já estavam bem
estabelecidas. Em 1962, foi iniciado o tratamento do
crônico, com diálise peritoneal de repetição e, só alguns
anos mais tarde com o advento da fístula arterovenosa
é que os doentes crônicos passaram a fazer diálise de
repetição.
O professor Sabbaga conta que em 21 de janeiro
de 1965, em colaboração com a Clínica Urológica Prof.
Geraldo Campos Freire, foi feito o 1º transplante renal
no HC e na América do Sul. Posteriormente criou-se
uma Unidade de Transplante Renal, com a colaboração
dos especialistas em Nefrologia e Urologia, unidade
essa que hoje é a maior da América do Sul pelo número
de transplantes realizados (2.212). “Foi o transplante de
rim, através de todas as conotações de ordem clínica e
imunológica que propiciou o advento de outros transplantes de órgãos. Depois disso é que vieram os transplantes de coração, de fígado e de medula óssea”.
Ele ressalta que desde 1950, a Unidade de
Nefrologia tinha laboratório de investigação em pesquisa básica. Um dos pioneiros em hipertensão experimental foi o doutor José B. Magaldi em colaboração com o
doutor Carlos V. Faria. Eles fizeram os primeiros trabalhos na América sobre hipertensão experimental em
ratos. “Daí nasceram e cresceram os laboratórios de
pesquisas e hoje nós temos um grande laboratório na
USP fazendo pesquisas em Fisiologia, Fisiopatologia,
Glomerupatias e Hipertensão, em animal experimental”.
No entender do professor Sabbaga, os dois grandes
marcos da Nefrologia foi a descoberta do rim artificial
e o transplante renal. Antes disso, os doentes morriam.
Com o advento dessas duas áreas, o renal crônico, que
antes tinha sua vida limitada pela própria evolução da
doença, hoje pode optar pela diálise ou pelo transplante. “Temos hoje mais de 60 pacientes transplantados
com mais de 20 anos de transplante”.
O professor conta que em 1961 foi aos Estados
Unidos, porque estavam surgindo os primeiros casos de
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transplante renal de indivíduos não idênticos. “Acho
que foi esse o impulso básico da minha vida, porque eu
tinha esperança de que poderíamos resolver o caso de
um paciente com doença renal evolutiva com uma troca
de órgão”. Três anos depois de seu retorno, em 1962,
o professor Sabbaga já estava fazendo transplante de
rim.
Ele enfatiza que o pioneiro em diálise foi o doutor
Tito Ribeiro de Almeida, que criou um rim artificial
doméstico e estimulou o grupo a adquirir o rim americano. “O doutor Tito marcou uma época”, finaliza.
Antes um ato heróico, hoje uma
rotina
(Centro de Nefrologia e Diálise-Cened)
A história do Centro de Nefrologia e Diálise CENED- uma unidade-satélite que presta serviços ao
Hospital Cruz Azul, além de outros, não difere de
outras unidades criadas por nefrologistas para prestar
assistência ao paciente dialítico. Os espaços físicos e a
aparelhagem podem ser diferentes, mas as condições
difíceis devido aos baixos valores pagos pela Previdência
Social são semelhantes. Segundo o doutor Luiz Sérgio
F. Azevedo, um dos sócios do Cened, apesar de estarem no mercado desde 1980, o Serviço atualmente
não conta com máquinas sofisticadas. Porém, há oito
anos, a situação era diferente e o Cened tinha à disposição de seus pacientes aparelhagem de primeira linha.
Na opinião do doutor Azevedo - “da equipe do
doutor Emil Sabbaga” - os equipamentos utilizados, de
modo geral, nos hospitais e clínicas nefrológicas “causam espécie aos nefrologistas estrangeiros”. Quando
foi instalado, o Cened prestava serviço dentro do Hospital Santa Cruz, um dos primeiros na cidade de São
Paulo a oferecer tratamento dialítico para os pacientes
crônicos. Nessa época, devido à qualidade de seus serviços, o Centro era o “cheque especial do hospital”.
De uma época em que a remuneração das diálises
eram bem melhores e em que era possível trabalhar
com máquinas modernas através do sistema de leasing,
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o doutor Azevedo acentua que a redução no pagamento das diálises por parte da Previdência tem levado os
especialistas a administrar os serviços. “Muitos hospitais não têm o serviço de diálise porque trata-se de um
procedimento deficitário”.
Segundo o doutor Azevedo, a evolução no tratamento dialítico foi enorme, enquanto há três décadas as
diálises eram preparadas manualmente, o corpo de enfermagem não recebia treinamento específico e o trabalho do médico era muito mais exigido, atualmente os
equipamentos são sofisticados e muito seguros, além de
os enfermeiros dessa área estarem bem treinados. “A
enfermeira de diálise é fundamental, pois ela é a executora do tratamento”, diz o doutor Azevedo que acrescenta: “também aprendemos a tratar clinicamente o
doente, aprendendo a controlar os problemas ósseos e
o alumínío da água, por exemplo”.
Para o especialista, este tipo de tratamento passou
por grandes transformações. Já foi um “ato heróico,
hoje é um ato rotineiro”.
Transplantes serão retomados em maio
(Hospital Santa Marcelina)
Trinta e cinco novas máquinas individuais acabam
de ser instaladas na ala também nova do Serviço de
Nefrologia do Hospital Santa Marcelina, que agora
conta com 29 leitos e uma unidade de transplantes com
seis leitos. Coordenado pelo doutor Ruy Barata, o Serviço foi implantado em 1976, sendo que a especialidade existia no hospital desde 1972.
Segundo o doutor Ruy Barata, nesse período apenas os transplantes foram interrompidos, em 1985, em
função de outras necessidades de tratamento dos pacientes da região Leste de São Paulo, onde está localizado o Santa Marcelina. “Com o novo centro instalado
numa área maior será possível voltarmos a fazer transplantes já a partir do mês de maio próximo” Ele
enfatiza que o Serviço tem capacidade para atender 100
pacientes por dia em programa de hemodiálise, CAPD
e diálise peritoneal. No hospital também funciona um
serviço de patologia renal em conjunto com o de
urologia.
Contando com uma equipe de 13 especialistas e
dois residentes, o doutor Ruy Barata considera que a
maior dificuldade para tocar um Serviço de Nefrologia
de qualidade é o treinamento dos profissionais, que
leva de três a quatro anos. “Nossa maior dificuldade é
com a formação, pois demanda recursos financeiros,
tempo e trabalho. Na minha opinião, o Nefrologista
deveria ser o melhor clínico geral, porque a insuficiência renal é uma das patologias mais complicadas, uma
vez que todos os sistemas do organismo ficam afetados”.
Reformas para atender mais
pacientes
(Santa Casa de Misericórdia de Santo Amaro)
Localizado numa região pobre da cidade de São
Paulo, o Serviço de Nefrologia da Santa Casa de Misericórdia de Santo Amaro vem prestando atendimento
aos pacientes nefropatas desde dezembro de 1982.
Atualmente passa por reformas, adequando suas instalações para atender um número maior de pacientes.
Segundo os doutores Luiz Antonio Lucarelli e José
Antonio de Lima, que dividem a responsabilidade do
Serviço, atualmente estão em programa 100 pacientes
em hemodiálise, 30 em CAPD e, em média, 12 pacientes são transplantados por ano em centros de referência. “Enfrentamos muitas dificuldades para recebermos
credenciamento e a luta continua, porque sempre nos
defrontamos com inúmeros problemas devido às características da região extremamente carente. Atuamos
num serviço surrealista”. Para se ter idéia desta situação, 21% dos pacientes atendidos no Serviço são desnutridos graves e a maioria é hipertenso severo.
Os doutores Lucarelli e Lima acrescentam que todos os pacientes recebem assistência integral através do
SUS, sempre norteada pelos princípios de um hospital
filantrópico, onde a atuação dos voluntários e do Serviço Social tem tido papel preponderante para
minimizar as dificuldades enfrentadas pelos pacientes
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renais crônicos. Por iniciativa dos voluntários é doada
uma cesta básica por mês para cada paciente.
Exigências não condizem com valores
pagos
(Hospital Jaraguá)
Quando começou, em 1980, o espaço era pequeno
para a demanda. Aos poucos o Serviço de Nefrologia
do Hospital de Jaraguá foi crescendo e hoje tem capacidade para fazer 850 diálises por mês, apesar de estar
realizando apenas 600. À frente do Serviço, desde sua
implantação, está a doutora Maria Margarida Galvão
que conta com outros quatro nefrologistas para atender
os 60 pacientes.
Segundo ela, o Serviço tem infra-estrutura para
atender até a sua capacidade. “Estamos aguardando a
expansão do teto pelo INSS, porque a procura é grande
e no momento não podemos atender mais ninguém”.
Apesar de estar capacitado para fazer transplantes, o
Serviço presta atendimento apenas em hemodiálise e
CAPD e, esporadicamente, em diálise peritoneal.
“Para realizarmos transplantes seria preciso a aceitação dos proprietários do hospital que pertence à
Amesp”, ressalta a doutora - que durante um ano atuou
em Paris, na equipe do professor Hamburger. Como
um Serviço terceirizado, a doutora Maria Margarida
conta que a grande dificuldade foi a organização dele,
pois foi preciso enfrentar muita burocracia. Segundo
ela, a manutenção é outro problema, porque “temos 14
funcionários e o material utilizado é muito caro. O SUS
aumenta as exigências, mas continua pagando a mesma
coisa”. A doutora Maria Margarida entende que qualquer especialidade exige dedicação, vivência e experiência.
A situação já esteve pior
(Hospital Panamericano)
Quando começou o Serviço, em 1976, a maioria
dos pacientes estava na faixa dos 20 anos. Hoje a média
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de idade dos pacientes do Hospital Panamericano é de
60 anos. Para o doutor Jalil Domingos, responsável
pela parte clínica e no Serviço desde o seu começo,
essa mudança de faixa etária ocorre porque atualmente
o acesso é mais fácil e o tratamento é mais simples
permitindo uma sobrevida boa.
“Nosso Serviço foi um dos primeiros da cidade de
São Paulo, numa época em que a hemodiálise era o filé
da medicina, do ponto de vista econômico”, assinala o
doutor Domingos. Com 58 pacientes em programa de
hemodiálise, sendo alguns em diálise peritoneal, ele
acentua que no Serviço não é realizado transplante, devido à dificuldade em se montar uma equipe que se
submeta ao valor pago pelo SUS, uma vez que a totalidade dos pacientes são atendidos pelo Sistema Único
de Saúde.
Ele conta que, em 1986, o cirurgião Waldemar
Ortiz fez um transplante naquele Serviço, “coroado de
êxito” e que permitiu ao paciente uma sobrevida de
alguns anos. “Atualmente esse procedimento está difícil, porque os convênios também não bancam os custos
de um transplante”. Otimista, ele diz que a situação já
esteve pior, mas existem perspectivas de melhora.
Com uma equipe de quatro especialistas e um corpo de enfermagem, o Serviço conta com sete máquinas
duplas e duas individuais. Desde 1990 o Serviço está
terceirizado e, no entender do doutor Domingos, isso
permite maior autonomia, principalmente quanto às
prioridades. Já do ponto de vista financeiro depende da
negociação, ressalta o doutor.
Padrão de atendimento de países
desenvolvidos
(Hospital Evaldo Foz)
Com uma taxa de mortalidade nos mesmos níveis
dos países de Primeiro Mundo, em torno de 7% ao ano,
o Serviço de Nefrologia do Hospital Evaldo Foz vem,
ao longo dos anos, se esmerando para proporcionar um
padrão de atendimento dos países desenvolvidos. Criado em setembro de 1983, presta assistência aos
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conveniados da Interclínicas.
O doutor Manuel Carlos M. Castro, responsável
técnico pela área de Nefrologia, conta que a primeira
hemodiálise aconteceu em fevereiro de 1984 e, atualmente tem 20 pacientes no programa de hemodiálise e
de diálise peritoneal. No começo eram três máquinas,
hoje são seis, além de uma instalada na UTI.
“Apesar de o hospital ter estrutura e equipe para
fazer transplantes, isso não acontece porque o convênio
não assume esse tipo de procedimento”, acentua o
doutor Manuel Castro. Os pacientes que necessitam ser
transplantados são encaminhados a quatro centros:
Hospital das Clínicas, Hospital São Paulo, Faculdade de
Medicina da Unicamp e Unesp de Botucatu. Entre os
anos de 1992 e 1993, 30% dos pacientes foram transplantados.
Segundo o nefrologista, o Serviço que coordena
apresenta um baixo índice de mortalidade e de
morbidade, com uma internação por paciente/ano, que
é índice de países do Primeiro Mundo. “Estamos nos
preparando e capacitando para estabelecer um programa de hemodiálise de curta duração, utilizando membranas mais biocompatíveis, que deverá reduzir o tempo de diálise”. O doutor Manuel Castro ressalta que
essa modalidade de tratamento deverá ser implantada
dentro dos padrões dos países desenvolvidos. “Oferecer um padrão de excelência é condição sine qua non da
equipe e da administração”, completa o especialista.
Hospital do Rim e Hipertensão
Arterial pronto neste semestre
(Escola Paulista de Medicina/Hospital São Paulo)
Até meados deste ano deve estar pronto o Hospital
do Rim e Hipertensão Arterial, que vai possibilitar a
assistência nefrológica dentro dos mais sofisticados
recursos tecnológicos. Sua construção foi iniciada em
1989 com auxílio de órgãos governamentais.
A história da Unidade de Diálise na disciplina de
Nefrologia da Escola Paulista remonta a 1955 com a
vinda de um rim artificial tipo Kolff Merril da
Travenol onde o líquido de diálise era preparado na
hora, sendo necessário a cada duas horas dissolver os
sais no banho de diálise. Quem conta é o professor
Horácio Ajzen, Coordenador do curso de pós-graduação em Nefrologia da UNIFESP/EPM, “o processo
era cansativo, pois além do cirurgião eram necessários
outros profissionais para controlar as condições clínicas do paciente”. Segundo o professor, devido às dificuldades, as diálises somente eram indicadas para pacientes com insuficiência renal aguda enquanto os pacientes com insuficiência crônica permaneciam em tratamento conservador.
“Entre 1956 e 1973 não realizamos hemodiálise no
nosso serviço, principalmente em virtude dos escassos
recursos financeiros e a limitada sobrevida dos renais
agudos”. O professor acentua que nesse período os
pacientes agudos e alguns crônicos eram transferidos
para o HC, onde eram atendidos “graças à amizade e
compreensão dos responsáveis por aquela unidade”.
O doutor Ajzen conta que a diálise peritoneal foi
iniciada em 1963 e cujos líquidos também eram preparados pela equipe no laboratório central. “Naquela
época o catéter era rígido e colocado na cavidade abdominal a cada sessão de diálise através de um trocater.
Somente em 1979 passamos a utilizar a Prótese de
Deane possibilitando a colocação do catéter por diversas vezes pelo mesmo orifício”. Esse procedimento
muitas vezes resultava na infecção do orifício ou mesmo na perda do catéter para dentro da cavidade abdominal o que exigia geralmente uma intervenção cirúrgica.
Segundo o professor, em 1973 foi iniciada a construção de uma unidade de diálise com rins Travenol
tipo RSP no Hospital São Paulo. “Enquanto a unidade
estava sendo montada e como não tínhamos experiência
com diálise crônica, solicitamos ao professor Emil
Sabbaga que recebesse nossos residentes em sua unidade
que já funcionava há algum tempo”. No HC os residentes
puderam aprender as técnicas relacionadas à instalação da
hemodiálise, as complicações que ocorriam e os meios
terapêuticos para contorná-las. Nessa época a via de
acesso já era o Schunt AV de Scribner.
Ele acrescenta que, com a volta dos residentes
agora treinados e a unidade instalada foi iniciado, além
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do atendimento eficiente aos renais agudos, um programa crônico de hemodiálise. “Como não podíamos estender o programa, devido ao número limitado de rins
artificiais, formou-se uma comissão que, por critérios
clínicos e sócio-econômicos, determinava quais os pacientes que poderiam ser admitidos no programa”. O
professor relembra que nem sempre esses critérios
eram aceitos pelo corpo de residentes. Por isso acontecia de alguns residentes “dialisarem escondido na calada da noite” um ou outro paciente que a comissão não
havia indicado para o tratamento.
Em 1976, segundo o professor Ajzen, é que começaram a utilizar a fístula AV, que facilitou o tratamento
dos pacientes crônicos. E, em 1980, com dialisadores
do tipo capilar foi instalada uma unidade satélite de
hemodiálise. O programa agudo e crônico estava em
pleno desenvolvimento, o que possibilitou a realização de
trabalhos científicos para teses de mestrado e doutorado
que foram posteriormente apresentados em congressos e
publicados em revistas especializadas.
O programa de diálise para pacientes renais crônicos foi incrementado a partir de 1983, quando foi iniciada a CAPD. Também nessa época foi criado o Instituto de Estudos e Pesquisas em Nefrologia e Hipertensão (Ipepenhi), que permitiu a obtenção de um convênio com o SUS e a unidade satélite, que possibilitou
o incremento dos atendimentos.
O professor ressalta que, além da unidade satélite,
a disciplina de Nefrologia manteve uma unidade de
hemodiálise peritoneal, voltada a pacientes renais agudos e ao ensino dos alunos de graduação e de pós, além
de residentes. “Esta infra-estrutura permitiu agilizar o
programa de transplantes renais que havia iniciado em
1975. Em 1994 o Instituto transformou-se na Fundação Oswaldo Ramos, que junto com a disciplina presta
serviços de assistência, de ensino e de pesquisa”.
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(Hospital Evangélico Goiano, em Anápolis - GO)
O Serviço de Nefrologia do Hospital Evangélico
Goiano, em Anápolis, foi iniciado em 1983, tendo à
frente o doutor Ney Soares Souza. Em 1986, assumiu
a coordenação o doutor Sérgio Mota. Ele conta que
esse serviço foi uma das primeiras unidades de tratamento dialítico da cidade.
No final de 1989 foi realizado o primeiro transplante de doador vivo relacionado sob responsabilidade
dos doutores Fernando de Almeida e Elder Antonio,
tendo como clínico o doutor Sérgio Mota. Outro transplante e o último, foi feito em 1990. Por vários problemas os transplantes foram paralisados. “Estamos lutando para conseguirmos novo credenciamento junto ao
INSS”, diz o doutor Sérgio Mota. Segundo ele, os pacientes que precisam ser transplantados são encaminhados para Goiânia e Brasília.
Atualmente o Serviço atende 23 pacientes em programa de hemodiálise e diálise peritoneal. “Dentro da
realidade brasileira oferecemos um serviço de qualidade e o INSS é o nosso grande patrão, pois nenhum
convênio quer subsidiar o tratamento dialítico”. Segundo o doutor Sérgio Mota é com “muita dificuldade que
temos tentado melhorar a parte técnica. Porém, ainda
não conseguimos a melhoria do tratamento de água.
Nossa luta é para que tenhamos tratamento da água por
osmose reversa”.
Um pouco cético, o doutor Mota acentua que é
“muita luta para pouca glória”. Apesar de todas as
dificuldades, ele diz que o Serviço possui qualidade
satisfatória, com um corpo de enfermagem treinado em
São Paulo e Brasília.
Serviço tem padrão de grandes
capitais
(Clínica de Tratamento Renal, em Cuiabá - MT)
CENTROS DE NEFROLOGIA DA REGIÃO CENTRAL DO BRASIL
Tentando melhorar a parte técnica
O primeiro transplante de doador vivo relacionado
na Clínica de Tratamento Renal, em Cuiabá, do doutor
José Alberto Kalil foi realizado no mês passado. Com
uma área de 270 m2 e capacidade para 1000
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hemodiálises por mês, atualmente 55 pacientes recebem
tratamento de hemodiálise, diálise peritoneal e outros
procedimentos da área de Nefrologia.
“Por ser uma região de malária e acidentes ofídicos,
que também levam a insuficiência renal crônica, acabamos tendo um número grande de pacientes”. Atualmente são feitas entre 670/700 hemodiálises por mês.
Segundo o doutor Alberto Kalil, por estarem instalados
no interior do país, a clínica é de alto padrão. Foi implantada dentro dos padrões das grandes cidades, tanto
do ponto de vista técnico, do espaço físico e das normas hospitalares.
Prestando serviço ao Hospital Santa Helena, com
uma equipe de três nefrologistas, num total de 10 profissionais, ele conta que a maior dificuldade para a
instalação da clínica foi do ponto de vista burocrático,
porque a tramitação dos papéis foi muito lenta. Também considera a manutenção da clínica complicada,
porque além da equipe médica e de apoio, é necessária
uma equipe para manutenção das máquinas.
Falta de conhecimento leva a
complicações da doença
(Hiperrim - Instituto de Hipertensão Arterial e Doenças Renais, em Campo Grande - MS)
Mais do que atender a população de doentes renais de
Campo Grande, o Hiperrim - Instituto de Hipertensão
Arterial e Doenças Renais, ao longo de seus cinco anos,
vem atendendo pacientes até de cidades fronteiriças da
Bolívia e do Paraguai.
Criada pelo doutor Waldemar Silva Almeida com
outros quatro sócios, atualmente são feitas 1.050
hemodiálises por mês. Também são assistidos pacientes
em CAPD, diálise peritoneal, além de os especialistas
fazerem investigação das causas da hipertensão e estudo metabólico do cálculo renal.
Segundo o doutor Silva Almeida - que fez especialização na Escola Paulista de Medicina há 15 anos não é nada fácil manter a clínica hoje em dia, principalmente porque o SUS é o pagador, e além de enfrentar
os problemas do dia-a-dia, ele trata de uma população
de baixa renda que muitas vezes não tem dinheiro para
comprar remédios. “O nível de conhecimento é precário, com certeza pior do que São Paulo, cuja população
tem outro nível de esclarecimento. Aqui, por falta desse
esclarecimento, muitos doentes chegam com complicações da doença e aí o tratamento exige muito mais do
médico”.
Ele salienta que, como a maioria das clínicas, a sua
não é moderna, trabalha com 12 máquinas duplas, de
tecnologia antiga. O doutor Silva Almeida reclama que
as altas taxas para importação de novas máquinas mais
sofisticadas dificultam a aquisição.
No entender do doutor Silva Almeida, nos últimos
anos a especialidade evoluiu muito, tanto na parte técnica quanto no tratamento. “Enquanto há 12 anos fazíamos diálise em 15 pacientes, hoje atendemos 94”.
Ele acrescenta que houve grande melhora no diagnóstico e tratamento das doenças renais. Antes de se firmar como proprietário do Hiperrim, o doutor Silva
Almeida fez parte da equipe da Santa Casa de Campo
Grande, onde hoje presta serviço através de sua clínica.
Ele conta que em 1983 foi feito o 1º transplante de
doador vivo e, em 1990, foi criada a Central de Captação de Órgãos. Na Santa Casa são realizados cerca de
20 transplantes por ano. Sua equipe de oito médicos
presta assistência a 60 pacientes em programa de
diálise, sendo 20 em peritoneal e oito em CAPD.
Nota: Para a elaboração desta matéria também foram contatados por fax e/
ou telefone os seguintes serviços de Nefrologia:
Grande São Paulo
Hospital e Maternidade Jundiaí; Casa de Saúde Domingos Anastazio
(Jundiaí); Centro de Nefrologia e Hipertensão (Santo André); Instituto de Doenças Renais (Santo André); Santa Casa de Santos; Fundação do ABC/Fac. de Medicina do ABC; Hospital e Maternidade
Pereira Barreto (São Bernardo do Campo); Beneficiência Portuguesa
de São Caetano do Sul; Hospital Alemão Oswaldo Cruz; Hospital
Bandeirantes; Hospital Beneficiência Portuguesa (SP); Hospital Brigadeiro; Hospital da Amico; Hospital e Maternidade São Cristovão;
Hospital Gastroclínica; Hospital Nossa Senhora da Penha; Hospital
Presidente; Hospital Santa Catarina; Hospital Santa Isabel; Hospital
São Jorge; Hospital Sírio-Libanês; Hospital Sorocabano; Sociedade
Hospital Samaritano.
Distrito Federal
Hospital Santa Lúcia; Sociedade de Assistência Médica e Hospital
Regional do Gama.
Goiás
Hospital de Doenças Renais (Anápolis); Centro Médico de Rim e
Hipertensão (Goiânia); Hospital Urológico de Goiânia; Santa Casa
J. Bras. Nefrol. 1996; 18(1): 6-13
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de Misericórdia de Goiânia e Clínica Nefrológica de Rio Verde.
Santa Casa de Campo Grande e Universidade Federal de MS.
Mato Grosso do Sul
Mato Grosso
Santa Casa de Cuiabá
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