Hemorragia digestiva alta Definição: perda de sangue para a luz gastrointestinal de qualquer sítio localizado entre o esôfago e a flexura duodeno-jejunal (ligamento de Trietz). O volume é variável, desde sangramento oculto até choque hipovolêmico O sangramento do TGI pode se apresentar de 5 maneiras (exteriorização): a) Sangramento agudo 1. Hematêmese – vômito de sangue vivo ou material em borra de café 2. Melena – eliminação de fezes negras, viscosas, de odor fétido 3. Hematoquezia – passagem de sangue vermelho vivo ou marrom pelo reto, com ou sem fezes b) Sangramento crônico 4. Sangue oculto nas fezes – identificada na ausência de sangramento franco, por exame especial das fezes c) Sintomas de perda de sangue ou anemia – tontura, síncope, angina ou dispnéia Abordagem inicial: 1º passo: avaliação do estado hemodinâmico – visa analisar a severidade do sangramento PA FC 2º passo: Ressucitação uso de 2 cateteres endovenosos de grosso calibre infusão de soluções cristalóides (SF ou Ringer Lactato) cateter nasal ou máscara de O2 TOT eletivo – hematêmese, agitação, alteração do estado mental, depressão respiratória débito urinário hemotransfusão CTI Avaliação Clínica: 1. História clínica Idade Sangramento ou DGI prévia Cirurgia prévia Doença hepática Uso de AINE / aspirina Dor abdominal Vômitos ou “retching” Perda ponderal / anorexia Doença da orofaringe ou pulmonar 2. Exame físico a) Evidências de doença hepática (hipertensão portal) – telangiectasias, ascite, esplenomegalia, circulação colateral abdominal b) Massa abdominal e linfonodomegalias – neoplasias c) Dor abdominal – úlcera Avaliação laboratorial: 1. Sangramento agudo Hematócrito – o inicial não traduz a real situação do paciente, servindo apenas como ponto de partida. Imediatamente após o sangramento, o volume plasmático também cai, assim como o volume de hemácias, mas nas primeiras 24-72h após o sangramento ocorre hemodiluição do espaço intravascular e queda do hematócrito. Ureia x Creatinina plasmáticas 2. Sangramento crônico de pequenos volumes: anemia por deficiência de ferro Hematócrito – baixo VCM (volume corpuscular médio) – baixo Ferritina – baixa Pesquisa de sangue oculto nas fezes positiva 1 Endoscopia digestiva alta É o método de escolha para o diagnóstico etiológico. Além disso, estratifica o risco de sangramento de possíveis lesões GI e permite o tratamento da maioria delas. Esse exame só deve ser realizado após estabilização hemodinâmica do paciente e proteção das vias aéreas superiores. Realiza-se a lavagem gástrica com tubo naso ou orogástrico antes do exame. Fatores de mau prognóstico: Idade avançada Co-morbidades Causa do sangramento (varizes > outros) Sangramento vivo Choque ou hipotensão Sangramento ativo na EDA Sangramento por úlceras grandes (>2cm) Sangramento durante hospitalização Necessidade de cirurgia de emergência Causas possíveis: 1. Comuns Úlcera duodenal Úlcera gástrica Varizes de esôfago Lacerações de Mallory-Weiss: são lacerações na região da junção esôfago-gástrica, que geralmente (90-80%) acometem a mucosa gástrica. É uma importante causa de sangramento GI, mas cessa espontaneamente em 8090% dos casos. Geralmente é antecedido de vômitos, ânsia de vômitos ou tosse, “retching” e ingesta alcoólica. 2. Menos frequentes Lesões vasculares Gastropatia hipertensiva Varizes gástricas Neoplasias Esofagite Erosões gástricas 3. Raras Úlceras de esôfago Duodenite erosiva Fístula aortoentérica Hemobilia Doença de Crohn Varizes esôfago-gástricas 90% dos pacientes que apresentam cirrose desenvolvem varizes esofagianas. O risco de sangramento é de 30-60%, principalmente no primeiro ano de diagnóstico, enquanto a taxa de mortalidade é de 50-70%. Já o risco de ressangramento é de 60-70% nos primeiros 6 meses após o primeiro evento. Os principais fatores de risco para o primeiro episódio de sangramento pelas varizes esofago-gástricas: Severidade da doença hepática (Child-Pugh) Calibre das varizes Presença de sinais vermelhos nas varizes HDA na Hipertensão portal – Tratamento a) Drogas vasoativas: Somatostatina e Octreotide b) Balão de Sengstaken-Blackmore c) EDA – confirmação diagnóstica e tratamento Estigmas de sangramento: coágulo aderido, manchas vermelhas, hematocistos, vasos sobre vasos Escleropatia, Ligadura elástica Terapia combinada d) TIPS – Shunt Porto-sistêmico Intrahepático Transjugular 2 Sangramento de difícil controle inicial Candidatos a transplante Pacientes sem condições cirurgicas e) Cirurgia Shunt porto-sistêmico Transecção esofágica e desvascularização Transplante hepático f) Profilaxia secundária de ressangramento Terapêutica endoscópica Beta-bloqueadores Úlcera péptica É uma solução de continuidade da mucosa que atinge ao menos a muscular da mucosa, sendo a causa mais comum de HDA aguda. A localização mais comum é no duodeno (a incidência de sangramento por úlcera duodenal é duas vezes maior que pela úlcera gástrica), acometendo mais homens 1,3:1,0, na idade adulta e idosos. Os locais mais frequentes de sangramento e recidiva são: a pequena curvatura alta do estômago e a parede pósteroinferior do bulbo duodenal. Ocorrem por desequilíbrio entre: - Fatores ulcerogênicos – secreção de ácido e pepsina - Fatores protetores da mucosa (mediados pelas protaglandinas) pré-epiteliais: muco e bicarbonato epiteliais: defesa e reparação sub-epiteliais: microcirculação O quadro clínico é assintomático em 20% dos pacientes (idosos e em uso de AINEs), mas pode ser caracterizado por: dor epigástrica em queimação, periódica e rítmica úlcera duodenal – em 3 tempos: dói >> come >> passa (ou seja, a dor ocorre antes da alimentação) úlcera gástrica – em 4 tempos: bem >> come >> dói >> passa (dor ocorre depois da alimentação) dor noturna aliviada por alimentos e anti-ácidos (úlcera duodenal) Apresenta como fatores predisponentes da própria úlcera e de seu sangramento: Acidez gástrica (Síndrome de Zollinger-Elison) Infecção pelo H.pylori Doença cardiovascular e cerebrovascular Doença pulmonar crônica Cirrose Internação hospitalar prolongada Drogas: AINEs / Aspirina, corticóides, alendronato, anticoagulantes Etanol Exames complementares: Radiologia (SEED) EDA: diagnóstico, biópsia para histopatologia da lesão, biópsia para pesquisa de H. pylori, tarepêutica Importante >> sempre biopsiar a úlcera gástrica para exclusão de câncer, mesmo com aspecto péptico // realizar revisão endoscópica obrigatória da úlcera gástrica 8-12 semanas pós-tto. Pesquisa do H.pylori Histopatológico (HE, Giemsa, Warthin-Starry) Teste da urease – transformação da uréia em amônia pela urease, elevação do pH e alteração da coloração do meio Métodos não invasivos: teste respiratório com uréia marcada sorologia pesquisa de antígenos fecais Dosagem de gastrina sérica Tratamento: 1. Anti-secretores: IBPs e BRH2 – omeprazol, lansoprazol, pantoprazol, rabeprazol, esomeprazol, ranitidina, famotidina 3 2. 3. 4. 5. 6. Citoprotetores – misoprostol (análogo da prostaglandina) Sitioprotetores – sucralfato Suspender AINEs Suspender tabagismo – retarda a cicatrização e aumenta a recidiva Erradicação do H.pylori Por 07 dias – Primeira escolha o Omeprazol 20mg 2x/dia o Amoxicilina 1g 2x/dia o Claritromicina 500mg 2x/dia Por 10 a 14 dias – Retratamento o Omeprazol 20mg 2x/dia o Amoxicilina 1g 2x/dia o Sal de bismuto 240mg 2x/dia o Furazolidona 200mg 2x/dia Complicações: o Hemorragia digestiva alta o Perfuração o Penetração para órgãos adjacentes o Obstrução HDA por úlcera péptica: Tratamento endoscópico a) Térmico Eletrocoagulação bipolar ou multipolar* Heater probe* Eletrocoagulação com gás de argônio Laser b) Por injeção Adrenalina, esclerosantes, álcool absoluto* c) Mecânico Hemolip Sutura São os métodos mais usados, pela maior simplicidade e experiência clínica Tratamento por Angiografia Realizado em casos de sangramento severo, persistente, quando a EDA não resolveu e a cirurgia é muito arriscada. Há injeção intra-arterial de vasopressina ou gelfoam. Como complicações pode ocorrer: isquemia intestinal, cerebral, miocárdica, renal e de outros órgãos. Tratamento por Cirurgia É indicada quando a terapêutica endoscópica não foi possível ou eficaz em até 2 tentativas. O objetivo primário é a interrupção da hemorragia por meio da sutura. O procedimento para a redução da produção gástrica é individualizado. Conclusões: Avaliação física, exame físico e tipo de exteriorização do sangramento ajudam na identificação de seu sítio (alto ou baixo) A estabilização hemodinâmica é primordial A EDA é fundamental para o diagnóstico e terapêutica da maioria das causas de HDA A úlcera péptica e varizes esofago-gástricas são as principais causas de HDA, porém existem vários diagnósticos diferenciais. 4