ABSTRACT: There are some words thatfit with other ones without

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ABSTRACT: There are some words that fit with other ones without a justified reason.
There are many possible combinations at the range of a language, but some of them are
chosen and used by its native speaker. These combinations, so called collocations, must
be learned by second language learner and children.
Existem certas palavras que se combinam naturalmente com outras e tal
combina~ao torna-se flXapelo uso. Para esses casos de co-ocorrencia lexico-sintitica, J.
R. Firth introduziu 0 termo colocacao (aprid Tagnin, 1989:18).
As coloca~oes podem ser formadas por 'Verbo + Nome' (prestar aten~iio),
por 'Nome + Verbo' (0 telefone toea), por 'Nome + Adjetivo' (barulho ensurdecedor),
'Verbo +Adverbio' (chorar copiosamente), por 'Adjetivo + Adjetivo' (seco
esturricado), por 'Nome + Nome' (livro-texto e em expressOes especificadoras de
unidade (Tagnin: 1989:28) salva de palmas, bloco de gelo,fatia de piio).
Tagnin (1989: 18-30) trabalhando com idiomaticidade/convencionalidade,
apresenta os mveis da convencionalidadeem pragmlitico, semantico e sintitico. 0 myel
sintlitico compreende a combinabilidade dos elementos, sua ordem
e sua
gramaticalidade. A autora denomina coliga~iio (0 que chamaremos coloca~iio) as
unidades lingiiisticas que se caracterizam pela combinabilidade de seus elementos.
Tagnin distingue coloca~iio de coliga~iio. Utiliza coloca~iio somente para os casos em
que a co-ocorrencia e extremamente restrita, por exemplo em·ingles, blithering idiot ou
em portugues velho coroca; e 0 termo coliga~iio para todas as outras co-ocorrencias.
A lingiiista italiana Marello (1996:203) defme coloca~iio como urna
combina~ao de urna ou mais palavras que para expressar urn certo significado, tendo
'escolhido a palavra A, a escolha da palavra Be lexicamente vinculada .
Ambas autoras (Marello, op.cit.) (Tagnin, 1992:152) dizem que urn criterio
para diferenciar as coloca~Oes das simples combina~Oes sintagmliticas e recorrer a
tradu~ao. Tagnin exemplifica: ing. take a step (*tomar urn passo); port. dar um passo;
al. einen Schritt machen (*fazer urn passo); it. fare un passo (*fazer urn passo). Estes
exemplos ilustram como as coloca~oes variam de lingua para lingua, mostrando a
.arbitrariedade na escolha dos verbos. Porem, 0 fato de ser urna tradu~ao literal ou nao
depende das linguas em questao. Hli casos em que a tradu~ao nao pode ser literal (0 que
ocorre frequentemente) e se deve procurar 0 correspondente na L2 (como take a step).
Pode ocorrer tambem que na L2 a combina~ao 'Verbo + Nome' nao constitua urna
coloca~ao e sao admitidas outras varia~Oes.Existe tambem a possibilidade de a tradu~ao
ser obrigatoriamente literal, porque na L2 a coloca~ao e igual. Por exemplo, deixar uma
mensagem e igual em italiano lasciare un messaggio ou em ingles leave a message.
Dutro exemplo e escovar os dentes, que equivale a tradu~ao literal do ingles to brush
the teeth ou do frances brosser les dents. Mas que em italiano e lavare i denti. Em
alemao e holandes 0 verbo usado e 0 mesmo (limpar): die Ziihne putzen (alemao) e de
tanden poetsen (holandes). Em alguns casos 0 verbo utilizado muda de pais para pais
dentro da mesma lingua, como por exemplo, nos EUA se diz 'tomar banho' to take a
shower, enquanto que na Inglaterra se diz to have a shower.
Em rela~ao as outras coloca~oes, se aplicarmos 0 teste de substitui~l1onas
coloca~oes nominais 'N+ N' ou nas adjetivas 'A+ N' ou 'N +A' veremos que muitas
vezes nao e possivel, porque sao combina~oes cristalizadas pelo uso. Em ingles, por
exemplo, na combina~ao 'A+ N' Merry Christmas, 0 adjetivo convencionalizado e
merry e nao happy, que por sua vez e usado em Happy New Year.
A coloca~ao nominal, cristalizada pelo uso, com 0 tempo tende a ser
incorporada aos dicioruirios integrando urn dos verbetes que a constitui (normalmente 0
prlmeiro).Por exemplo piano-de-cauda. questiio de ordem (DicioruirioAurelio, 1986).
Na lexicologia, 0 que se denomina lexia composta ou complexa corresponde ao
que chamamos de coloca~ao. Porem, como veremos mais adiante, as lexias compostas
nao se enquadram em todos os tipos de coloca~ao.
Lembrando 0 que diz Marello, (op.cit) coloca~l1oe uma combina~ao na qual
existe urn vinculo lexical. Alem desse vinculo, existe tambem 0 fator ordem . Estipulouse piano-bar e nao *bar-piano, Bom-dia e nao *Dia-bom. Levam-se em considera~ao
tambem os aspectos da lingua, como em portugues as coloca~oes do tipo 'N + N' sao
formadas normalmente em portugues por 'Nome + prep + Nome' diferentemente do
ingles (Ex: ing.: credit card; port. cartiio de credito).
Com 0 advento da tecnologia, 0 desenvolvimento extraordiruirio das rela~oes
comercias, economicas e dos meios de comunica~ao, dia apos dia, silo criadas novas
palavras (lexemas) para designar novos conceitos; com esse fun, apropriam-se das
possibilidades da lingua e suas combina~oes, mas pode ocorrer do termo criado nao ser
absorvido pelos falantes, ou cair no esquecimento em prol de urn substituto (da propria
lingua ou em emprestimo de urna estrangeira). 0 chissico exemplo abajur, do frances
abat-jour, que acabou sendo lexicalizado e mais freqiientemente utilizado que a
combina~ao em portugues, realizada por composi~ao lexematica I, quebra-luz. Em
contrapartida, 1lli alguns anos dizia-se normalmente que todos teriam em casa urn PC
(do ingles Personal Computer) mas 0 que temos (e falamos) e urn micro (forma
abreviada de micro computador) ou urn computador.
Binderman (1978:130) tratando das dificuldades encontradas ao segmentar urn.
texto em suas lexias componentes, questiona: "tal sequenciaja constitui um lexema em
lingua. ou e apenas muito frequente na fala enquanto combinatoria de palavras?".
Mesmo antes de constituir-se de fato urn lexema, se e uma combinatoria de palavras
muito freqiiente, pode constituir-se urna coloca~ao, seja porque convencionou-se sua
realiza~ao na lingua como urna combina~ao, seja porque os elementos constituintes
requeiram a combinatoria (veremos solidariedade lexical de Coseriu, in Vilela,1979:49).
Ocorre, muitas vezes, que a combina~ao ja foi freqiiente em urn periodo e foi
dicionarizada e, com 0 tempo, deixou de ser usada. Vejamos 0 verbete hora no
diciomirio Aurelio, no qual silo apresentadas, alem de sua definiyilo, outras tantas
'locuyoes' (assim por ele denominadas), entre as quais encontramos algumas
idiomaticas, como Jazer hora, em boa hora, em cima da hora, e outras que cairam em
desuso como por horas mortas, as horas mortas, e nao e registrada, por exemplo, hora
do almo~o, que se usa para se referir ao horatio livre para 0 almoyo: 'You ao banco na
hora do almo~o.'; 'Na hora do almo~o os funcionanos nao se encontram'.
As colocayoes do tipo 'N + N' e 'A + N' ou 'N + A' podem ser consideradas
lexias compostas, ou lexemas, ja categorizados na lingua, como cinema mudo,
secretaria eletr6nica, controle remoto e formulas de rotina como Bom dia, Boa noite.
Pocem, quando se trata de combinayoes de 'V + N' ou 'N + V' e 'V + A' nao se
encontra a combinayao registrada nos dicionanos porque nao se trata de lexias, mas de
colocayao, de co-ocorrencia natural de 'V + N', etc. Se um anglofono, por exemplo,
quiser dizer pay attention em portugues, nao podeni fazer a traduyao pagar aten~lio e
procurando em um dicionario brasileiro (Aurelio) 0 verbete aten~lio, encontrara seis
acepyoes diversas e ate urn exemplo 'dedica aten~lio a tudo quanta Jaz', mas nao
encontrara a co-ocorrencia prestar aten~lio. Esta por sua vez servira como exemplo para
explicar a definiyao de outros verbetes:
atender. V.t.i. 1. Oar ou prestar aten9Ao. (...)
atencloso. Adj. 1. Que presta atenc;ao.( ...)
atentar1. V.t.d. 4. Prestar aten9Ao; reparar, atender.( ..)
atento. Adj.1. Que atende, que presta atenc;ao. (...)
Urn dicionano unilingfte nao e elaborado com 0 fun de dirimir duvidas sobre as
colocayoes e tampouco um bilingfie podera ser capaz de faze-Io. E assunto para urn
outro trabalho tratar sobre a importancia do aprendizado das colocayoes e sobre urn
instrumento de consulta como urn dicionario especifico de colocayoes, uma vez que as
linguas se diferenciam tanto de uma para outra em suas colocayoes.
Vilela cita (1979:153) que 0 conceito de solidariedades lexicais foi
desenvolvido por Coseriu a partir de propostas de W. Porzig (syntaktische Felder) e
nOyao mais ou menos proxima de estudos de varios autores (Greimas, Pottier, Trier,
Leisi), entre eles, os estudos sobre colocayao (co-ocorrencia) de Firth.
As solidariedades consistem na determinayilo do conteudo de um lexema
determinado pelo conteudo do lexema determinante. Coseriu distingue tres especies de
solidariedade. Silo elas: 1.Afinidade: ex. dar a luz e parir, urn em relayao it classe
'pessoas' e outro em relayao it classe 'animais'; 2.Seleclio: ex. pelo e pena, urn em
relayilo a 'mamifero' e outro a 'aYe'. 3.Implicaclio: ex. relinchar e latir um 'relativo ao
cavalo' eo outro 'relativo ao cao'. Vilela aplica exemplos do portugues em tal conceito.
As relayoes de solidariedade lexical vem elucidar as 'naturais co-ocorrencias'
da lingua, principalmente no que diz respeito aos verbos. Podemos pensar que a escolha
dos verbos normalmente sera determinada pelo conteudo semiintico dos substantivos
que os devem acompanhar. Em co-ocorrencia como cozinhar ovos e torrar plio nao
podemos intercambiar os verbos por *torrar ovos e *cozinhar plio. Tampouco dizer
*comer cafe e *beber feijdo. 0 conteudo seDllintico dos substantivos nio permite a
troca. Existem as rela~Oesde implica~iloentre os lexemas.
Quando 0 conteudo seDllinticodos lexemas e claro e especifico, aplicam-se as
no~Oesde solidariedade lexical, mas e quanto aos verbos daf, fazer, por, tomar que silo
usados em muitas coloca~oes, como 0 exemplo de Tagninja citado (dar um passo) para
o qual em diferentes linguas empregam-se diferentes verbos comofazer. dar e tomar.
Muitas vezes esses verbos silo presentes em frases que apresentam urn certo
grau de idiomaticidade ou em expressOes idio~ticas consagradas. Em Italiano usa-se
frequentemente 0 verbo fare (fazer) ate mesmo em frases para a qual existe urn verbo
especifico, como por exemplo fare i biglietti por comprare i biglietti (comprar as
passagens); fare i1 numero del telefono por comporre / digitare il numero del telefono
(digitar / discar 0 nlimero do telefone).
Nesses casos, a solu~ilo para urn estudante de lingua estrangeira e aprender
uma a urna as coloca~Oesdaquela lingua.
Para os estudiosos eurn born campo de pesquisa, seja para descri~ilodas
coloca~Oescomo_paraestudos sobre ocorrencia e compara~iloentre as linguas.
Normalmente as coloca~Oespassaro despercebidamente aos olhos dos falantes
nativos. Ao deparar-se com urna constru~iloinadequada produzida por urn estrangeiro, 0
falante nativo logo percebe que 'nio e assim que dizemos'. Tanto os estrangeiros como
as crian~as em sua lingua materna devem aprender as combina~Oescristalizadas pelas
conven~Oesdo uso.
Em lingua materna, como apresentar as coloca~Oes em sala de aula? Para
crian~as pequenas, urna possibilidade e trabalhar com textos de mUsica, nos quais,
frequentemente, estiio presentes muitas combina~Oes fIXaS e 10cu~Oesidiomaticas.
Pode-se fazer tambem exercicios de' completar: dar uma palavra e pedir aos alunos que
complete com a palavra adequada. Exemplo:
Exercicios de completar (para crian~as e alunos de L2)
•
com 0 adverbio:
chorar
chover
acreditar
•
comoverbo:
cora~ilo
telefone
cavalo
•
comoverbo:
dentes
aten~ilo
gol
•
com 0 adjetivo:
seco
podre de
barulho
pra~a
•
com 0 substantivo:
piano de
__
de galinha
de credito
salva de
de pilo
cegamente
cartao
rico
publica
palmas
fatia
toea
marcar
cauda
pe
esturricado
torrencialmente
escovar
bate
relincha
ensurdecedor
copiosamente
Com jovens, pode-se trabalhar com suas propnas produ~oes de texto,
verificando os eventuais 'deslizes' colocacionais. Azevedo (1986) fez um trabalho nessa
linha usando como corpus as reda~oes de universitarios e pre-universitarios. Alguns
exemplos da produ~ao dos alunos:
"Quando 0 trem estacionou. a multidiio alegre que 0 esperava despediu-se dos
amigos efamiliares. " ('estacionar' ao inves de 'parar');
"enfim de tudo aquilo que se consegue captar atraves dos sexto-sentidos "
(cinco sentidos).
Uma sele~ao de frases retiradas de reda~oes do vestibular de 1994 foi veiculada
pelaIntemet. 0 tema da prova de reda~ao era "A TV forma, informa ou deforma?".
Encontramos frases como:
" A televisiio passa para as pessoas que a vida e um conto de (abulas e com
isso (abrica muitas cabecas..." ('conto de fadas' e 'fazer a cabe~a') ;
"A televisiio pode ser definida como uma (aca de trez gumes. Ela tanto pode
formar, como informar, bem como deformar..."[sic] ('faca de dois gumes').
Introduzir com coloca~oes nas aulas de produ~ao de texto e uma boa maneira
de familiarizar 0 aluno as constru~oes fixas da lingua. Muitas vezes os jovens brincam
com as palavras, e e claro mais ainda com as combina~oes (como faca de 'tres gumes' ou
'dois legumes', como dizem), porem, ele deve aprender 0 que e adequado e assim poder
ate mesmo quebrar a convencionalidade, brincar com· as palavras e criar efeitos
humoristicos.
RESUMO: Existem certas palavras que se combinam com outras sem uma justa razao.
Hli muitas combina~oes possiveis em uma lingua, mas algumas delas sao escolhidas e
usadas por seus falantes nativos. Essas combina~oes, chamadas coloca~oes, devem ser
aprendidas pelas crian~as e pelos alunos de lingua estrangeira.
BIDERMAN, M.T. Teoria linguistica: linguistiea quantitativa e computacional. Rio de
Janeiro: LivrosTecnicos e Cientificos, 1978
FERREIRA, A. B. H. Novo dicionizrio da lingua portuguesa. 2.ed. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1986
AZEVEDO, L. F. Deslizes LingiUsticos em Coloca~oes Convencionais (manuscrito)
MARELLO, C. Le parole dell'italiano .Bologna: Zanichelli. 1996
TAGNIN, S. O. Expressoes idiomaticas e convencionais. Silo Paulo: Atica, 1989
_
'What's in a verbal Colligation?' - A Project for a Bilingual Dictionary of
Verbal Colligations: English-Portuguese/Portuguese-English. In Terminologie et
traduction. n.o 2/3 - Commission des Communautes europeenes. Service de
traduction. Unite ''terminologie''. 1992
VILELA, M. Estruturas lexicas do portugues. Coimbra: Almedina, 1979
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