Teologia da Práxis - Seminário de Educação

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UnU de Ciências Sócio-Econômicas e Humanas
Curso de História – Modalidade Licenciatura
TEOLOGIA DA PRÁXIS: IGREJA,UTOPIA E
O NASCIMENTO DE UM NOVO PARADIGMA
SOCIAL.
Bruno Thiago Tomé
Anápolis, dezembro
2009
1
Bruno Thiago Tomé
TEOLOGIA DA PRÁXIS: IGREJA, UTOPIA E
O NASCIMENTO DE UM NOVO PARADIGMA
SOCIAL.
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado
à
Universidade
Estadual de Goiás, UnUCSEH,
Anápolis, para obtenção de grau de
Licenciado em História.
Orientador (a): Profª. Dr. Nildo Viana
Anápolis, dezembro
2009
2
SUMÁRIO
03
Introdução....................................................................................................
Capitulo 1
1.1-Ideologia e Utopia na perspectiva Marxista................................................................
05
Capítulo 2
2-Sociedade e Mudança no paradigma político e social da Igreja....................................
15
2.1-Converta-se o indivíduo e a sociedade se transformará .............................................
16
2.2-A responsabilidade social da Igreja e do cristão.........................................................
18
2.3-A reação contra o pensamento de responsabilidade social..........................................
26
Capitulo 3
3.Responsabilidade Social, Revolução e Utopia na práxis Protestante.........................
27
Conclusão...........................................................................................................................
36
Bibliografia........................................................................................................................
37
3
Introdução
A pesquisa monográfica se desenvolveu a partir da análise de um grupo religioso
protestante que percebia a insuficiência de uma teologia que não fosse pensada a partir
da realidade social, articulando sua teologia para entender a sociedade brasileira e sua
função de transformação política e social desta sociedade, o grande desejo desse grupo
era fundamentar uma nova teologia que desse conta de integrar teologia e práxis
revolucionaria a sua ação.
Os grupos protestantes, com o seu modo de interpretar a sociedade, produzia
uma prática, numa articulação, cheia de sentido para o grupo, que visava transformar o
país. A problemática da pesquisa se funda para desvelar o caráter do movimento de
responsabilidade social da igreja, que é engendrado a partir da década de 30 até a
década de 60, estudar esse movimento e buscar entender sua formulação é importante
para vermos como a igreja tem lidado historicamente com os problemas da sociedade
brasileira. Suas formulações teóricas nos permite analisar a qual perspectiva teórica esse
movimento se inseriu, e também saber qual ação a igreja praticava para cambiar o
cenário social e político brasileiro.
Partindo dessa problemática chegamos na hipótese que os protestantes na
medida que se identificavam tinham a intenção de transformar a sociedade a partir de
sua visão especifica sobre o mundo que os rodeava. No século XX, houve entre os
protestantes um pensamento que seria possível participar das transformações do país a
partir de um ponto de vista evangélico. A expressão desse grupo é utópica – abstrata,
haja vista que não consegue promover de forma revolucionaria a articulação entre
teologia e práxis revolucionária.
O movimento de responsabilidade social da igreja e do cristão, se desenvolveu
entre intelectuais, mas sofreu forte oposição. As relações de poder, principalmente após
64, penderam contra as idéias de responsabilidade social.
No primeiro capitulo buscamos expor nosso referencial teórico, e assim o
fizemos sempre nos apoiando em autores como Marilena Chauí para discutirmos e
definirmos conceitos como ideologia, Ernest Bloch para definirmos “Utopia e
Esperança”, e também Karl Manheim para definirmos os termos “Ideologia e Utopia”,
fazendo a relação disso com o grupo religioso, entre outros autores.
4
No capítulo segundo, procuramos entender como o grupo protestante desenvolve
seu pensamento de responsabilidade social, expondo o engendramento da teologia com
os intelectuais, suas reuniões, e os documentos produzidos a partir da publicação das
idéias desse grupo nas revistas de escolas dominicais, e nos jornais das confissões
religiosas.
No terceiro capítulo situamos a perspectiva da igreja ao tema “responsabilidade
social”, numa perspectiva evangélica, e também apontamos os conceitos de revolução,
sempre tentando juntar isso com a perspectiva histórica que o grupo protestante
assumiu. A partir disso analisamos qual perspectiva utópica esse grupo assumiu.
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1 - Ideologia e Utopia na perspectiva marxista.
O termo “Ideologia”, a muito se acha ligada ao marxismo, embora o mesmo não
fora o que primeiro que fez a colocação inicial do tema,que a tempos já havia sido
trabalhado em outras perspectivas, indo da proposição feita por De Tracy,
Cabanis(ideólogos franceses) e também pelo celebre sociólogo Augusto Comte que
trabalhou perspectivas próximas aos os primeiros autores supra citados,entretanto a faz
mais minuciosamente. Neste trabalho iremos nos ater a perspectiva marxista sobre o
termo ideologia, que se configura muito presente nas obras de vários autores, tanto de
forma propedêutica no livro de Marilena Chauí “O que é ideologia”, quanto de forma
mais profunda no livro do escritor alemão Karl Mannheim “Ideologia e Utopia”.
Segundo
Marilena
Chauí
a história
pode
ser
examinada sob
dois
aspectos:história da natureza e história dos homens, essas relações entre os homens e
deles com a natureza constituem as relações sociais, como algo produzido pelos
próprios homens, ainda que estes não tenham consciência de serem seus únicos autores.
Dentro dessa perspectiva percebemos como os homens atuam e raciocinam de formas
determinadas atribuindo nexos a relações de conservação ou de transformação,a partir
disso encaramos essas relações como processos históricos, segundo Marilena Chauí
“A história não é sucessão de fatos no tempo, não é progresso
das idéias, mas os modos como homens determinados em
condições determinadas criam os meios e as formas de sua
existência social, reproduzem ou transformam essa existência
social que é econômica, política e cultural”(Chauí,1987,p.20).
Os homens criam formas de convivência através de instituições determinadas, a
partir disso fabricam idéias que expliquem sua vida individual, social, suas relações
com a natureza e o sobrenatural,entretanto essas idéias na verdade esconderam a
realidade de forma que a exploração econômica e a dominação política não pudesse ser
vista, os homens maquiam a condição de explorados, de dominados fazendo que
pareçam justas e verdadeiras,ao ocultamento da verdade social, chama-se ideologia.
A conceituação do termo ideologia em Marx, se desenvolve no livro “Ideologia
Alemã”, embora ele tenha trabalhado de forma geral seu pensamento, é bastante
especifico porque se desenvolve após os pensadores alemães como Hegel. Existe duas
particularidades sobre esse “novo” desenvolvimento do conceito de Ideologia,primeiro
que Marx não dissocia a produção da idéia e as condições sociais e políticas, na qual ela
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é produzida, e em segundo lugar que o desenvolvimento do seu pensamento pressupõe a
critica as filosofia de Hegel.
Marx critica os ideólogos alemães porque para ele, esses ideólogos
pretensamente criticavam o sistema Hegeliano, pensando que era suficiente criticar
apenas um aspecto da filosofia de Hegel, em lugar de abarcá-la como um todo, outra
critica de Marx dirigida a esses ideólogos é que eles tomam um aspecto da realidade
humana, e convertem em uma idéia universal e deduzem todo o real desse aspecto
idealizado. Para Marx não há crítica alguma porque simplesmente ignoram a realidade
histórica alemã.
Para entendermos a Ideologia segundo Marx propõe, é preciso pautar as
considerações na sociedade capitalista européia do século XIX,que segundo Marx tem
como pano de fundo a ciência da história.
A obra de Hegel reverbera dentro da obra de Marx, porém Marx critica de forma
severa o idealismo de Hegel.Para entendermos onde essas obras se fundem e se
completam mutuamente para a caracterização da ideologia recorreremos a algumas teses
de Hegel que nos ajudara a explicar esse processo: 1)Marx compartilha de Hegel “o
conceito de dialética,cujo movimento interno de produção da realidade é a
contradição”,aqui a contradição ocorre entre homens reais em momentos históricos e
sociais reais,com o nome de luta de classes
“A história é historia do modo real como os homens reais
produzem suas condições reais de existência.È história do modo
como se reproduzem a si mesmos, como produzem suas relações
com a natureza(pela natureza),do modo como produzem e
reproduzem suas relações sociais(pela divisão social do
trabalho,pela forma da propriedade,que constituem as formas
das relações de produção)”(Chauí,1987,p.47);
2) Marx conserva também as diferenças entre abstrato/concreto, imediato/mediato,
aparecer/ser. Definindo o concreto como “unidade do diverso, síntese de muitas
determinações”, o conceito de determinação deve ser entendido como resultado que
forma a realidade no processo pelo qual é produzida. Para captarmos o método
histórico-dialético Marx afirma que devemos partir do que é mais abstrato ou mais
simples, para enfim trilharmos o caminho do real, e chegarmos ao concreto.
Marx também conserva a afirmação hegeliana, de que a realidade é histórica e
que por isso é reflexionante,ou seja, realiza reflexão, essa afirmação teórica significa
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dizer que a realidade é um movimento de contradições que se relacionam e reproduzem
a existência social dos homens, e Marx entende as relações sociais como relações de
produção, o materialismo histórico-dialético, são os homens que em dado momento
histórico organizam sua a vida afim de reproduzirem como homens.
O que nos interessa nas relações entre os homens é como se projeta a divisão
social do trabalho e a relação dos homens através do trabalho dividido. O fermento da
dialética são as condições de produção social, que existem entre os homens.
Para finalizarmos as influências de Hegel sobre Marx, temos que introduzir a
questão da alienação,que no principio foi desenvolvido como alienação religiosa em
Feuerbach, portanto depois Marx imprimira modificações nesse conceito. Marx
trabalhara com a alienação dos homens em condições reais, principalmente inseridos
nas relações de trabalho, então a partir de agora a alienação se dá na ordem do trabalho,
o produtor não se enxerga no produto do seu trabalho, ele não se vê como resultado do
seu trabalho, o produto então nasce separado do produtor e como um poder que o
domina e ameaça.
As relações sociais e de trabalho aparecem como relações sociais entre pessoas e
também aparecem como relações sociais entre coisas. Dentro desse modelo de produção
capitalista onde os homens são transformados em coisas e as coisas em gente, o
trabalhador começa a ser denominado como força de trabalho, o que ele produz de
mercadoria, nesse patamar de relação o proprietário das condições de trabalho detém o
capital, e a capacidade de ter lucro, segundo Marilena Chauí
“Em contrapartida, as coisas produzidas e as relações entre
elas(produção,
distribuição,
circulação
e
consumo)
se
humanizam e passam a ter relações sociais...os homens se
tornam
suportes
dessas
operações,
instrumentos
delas”(Chauí,1987,p. 58).
A partir disso os homens conservam essa realidade, fazendo que a condição
humana a seja roubada, sendo explorado naquilo que faz, é nessa perspectiva que insere
o fenômeno da ideologia, que legítima o status quo.
Neste rastro Marx e Engels determinam que as ideologias surgem no instante da
separação entre trabalho material, intelectual e manual, essa tripartição faz com que
apareça uma certa autonomia do trabalho intelectual em detrimento do trabalho
material,nessa condição o trabalho intelectual aparece como autonomia das idéias,que
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são forjadas e sustentadas pela classe dominante, segundo Marilena Chauí a autonomia
dessas idéias se da pela seguinte explicação
“A autonomia é produzida no momento em que se faz uma
separação entre os indivíduos que dominam e as idéias que
dominam, de tal forma que a dominação de homens sobre
homens não seja percebida”(Chauí,1987,p.102),
gerando assim a ilusão que as idéias dominam a todos os homens.
As condições de existência social que coloca o indivíduo deslocado nos sistemas
que constituem cada época, juntamente com o conjunto das forças produtivas,
estamentam a sociedade em classes, isso significa dizer que existe a dominação de uma
classe sobre a outra, a ideologia é esse meio esse instrumento, e a classe dominante faz
com que sejam verdadeiras e racionais essas idéias.
A divisão social do trabalho se completa quando o trabalho material e o trabalho
espiritual se separam, nesse momento segundo Marx a ideologia surge como um sistema
ordenado de idéias separado e independente das condições materiais, visto que não
estão ligados a produção material das condições de existência, neste pressuposto à
desvinculação por meio das idéias, produzidas pelo pensamento, dando a impressão que
os pensadores estão separados da condição material, revelando que as idéias estão
separadas do mundo, temos ai como diz Marilena Chauí
“As idéias não aparecem como produtos do pensamento de
homens determinados, aqueles que estão fora da produção
material direta, mas como entidades autônomas descobertas por
tais homens”(Chauí,1987,p.66).
A divisão social, é advinda da relação desigual entre membros da sociedade,
assim cria-se os explorados e os exploradores, os proprietários e destituídos, assim se
realiza como luta classe, que deve ser entendido dentro do conjunto de procedimentos
institucionais, jurídicos, religiosos, também aqui a ideologia é meio de dominação de
classe.
A ideologia é conhecida a partir da nossa experiência imediata, como algo feito
dado e acabado, entretanto nos nunca nos perguntamos como foi concretamente
produzida, ela pra se estabelecer conta com condições que se articulam internamente de
maneira necessária. A ideologia sempre toma o resultado de um processo de maneira
invertida, o fim pelo começo, o determinante como determinado, assim se admite os que
são desiguais, simplesmente porque Deus os fez assim: desiguais, ou então pela
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desigualdade social que é produto da situação social e não porque é fruto da relação
social.
O imaginário social reproduz a ideologia, transformando em um conjunto
coerente, lógico e sistemático da idéias que funcionam como representação da realidade
e como normas e regras da conduta e do comportamento, unindo isso temos um tecido
de imagens que explicam a realidade, e dizem como toda a sociedade deve pensar, falar,
agir e sentir. A ideologia assegura que todas as formas de entender a realidade e de se
comportar diante dela, passam pelo mesmo crivo de idéias que explicam e controlam a
sociedade.
A ideologia não é o resultado de uma vontade deliberada de uma classe social
para enganar a sociedade, mas é o efeito necessário da existência social da exploração e
dominação, é a interpretação imaginária da sociedade do ponto de vista de uma única
classe social.
Se por um lado a ideologia se mostra um sistema de idéias criadas pra
dominação de uma classe sobre a outra, vemos na outra tangente a utopia que surge
como uma alternativa, como contestação das realidades sociais dadas, Carl Mannhein,
em seu livro “Ideologia e Utopia”, mostra como se forma a utopia, como ela se encadeia
dentro da realidade da qual se insere, considerasse utopia nessa perspectiva
“Todo estado de espírito que volitivamente se mostre diferente
do estado de realidade dentro do qual ocorre” (Mannheim,
1986, p. 216).
Segundo Antonio Rufino a utopia faz parte da estrutura histórica do homem,
porém,
“A utopia não é desejada por todos, ela é desejada apenas por
aqueles que estão insatisfeitos com a sociedade existente e cuja
insatisfação assuma uma certa radicalidade”(Viana,2008,p.1).
A utopia concreta, ou seja, realizável, é uma “consciência antecipadora”
(Bloch, 2005).
Karl Mannhein chama atenção para o fato de não podermos considerar como
utópico todo estado de espírito que esteja em incongruência com a situação imediata e a
transcenda. No caminhar da história os homens se preocupam mais com os elementos
que transcendem a realidade, do que com as imanentes a ela, dentro desse quadro há o
controle das idéias e interesses situacionalmente transcendentes , para manter a ordem
vigente e não afetar o status quo.
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As utopias sempre pretenderam construir novas realidades, resgata-se o sentido
de utopia, como pondera Nildo Viana(1991,p.4)
“A utopia, sendo um projeto, é um sonho, um plano, um desejo,
voltado para o futuro. Utopia e futuro são inseparáveis. Pensar
a utopia é pensar um futuro radicalmente diferente do
presente”.
O termo utopia foi forjado por Thomas More, como concepção de uma realidade
que não existe, mas que poderá a vir existir, a utopia nasce com os olhos no futuro, as
utopias tem duplo caráter um é o afirmativo e outro negativo. O negativo é a critica a
sociedade, em contrapartida o afirmativo é o projeto de uma nova sociedade, neste
sentido o futuro e a utopia são coisas inseparáveis.
As utopias surgem a partir do momento que os indivíduos rompem com as
legitimações tradicionais,
“O caráter transformador da utopia revela-nos que existe, entre
crise e utopia, uma relação profunda: toda a utopia é,
simultaneamente, quer um sintoma da crise, do viver dum certo
mundo como crise, quer a forma imaginaria (o que não significa
“irrealizável” ou “ilusória”)de superação dessa crise. Por isso,
a cada sociedade corresponde a sua utopia, não há utopias ahistóricas”(Serra,2007,p.7).
Na esteira ainda de Mannhein podemos ver que as determinações concretas do
que seja utópico procede sempre de um certo estágio de existência, é possível que as
utopias de hoje venham a ser realidades de amanhã “Utopias são verdades prematuras”,
por isso não podemos desqualificar as utopias, simplesmente porque a realidade nos
mostra algo parece impossível de ser superado, todavia, são imprescindíveis que
existam condições materiais para a concretização da utopia, superando, assim, as
atitudes abstratas por atitudes concreto-revolucionárias.
As classes sociais somente se tornam eficientes na transformação da realidade
histórica, quando suas aspirações encontram-se encarnadas em utopias apropriadas para
a situação em mudança. O pensamento desiderativo sempre figurou nos assuntos
humanos, quando a imaginação não encontra sua satisfação na realidade existente busca
refúgios em lugares.
Ernest Bloch demonstra que o espírito utópico, embora pareça estar
desvinculado da realidade, enxerga que o “aqui e agora” é objeto de preocupação da
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utopia, por isso a utopia sempre se lança a uma critica do presente, o homem não pode
ser desvinculado da construção utópica a isso Bloch chama de “homem situado”, que
está ligado às questões político-econômico-tecnológicas, então a partir disso a utopia é
engendrada a partir de uma ética material de vida, criada a partir das vitimas, que
segundo Enrique Dussel são capazes de superarem a historia e criarem o novo, deixando
de lado as concepções idealistas onde o futuro é esperado sem o devido trato com o
presente, sem ser levado em consideração.
Segundo a linha de reflexão de Bloch, a utopia não é algo fantasioso, simples
produto da imaginação, mas possui uma base real, com funções abertas à reestruturação
da sociedade, obrigando a militância do sujeito, engajado em mudanças concretas,
visando à nova sociedade. É, por isso que, ao analisar a relação entre marxismo e
antecipação concreta, Bloch afirma que
“Engajar-se no pensamento do que é justo é uma determinação
que
precisa
persistir
mais
do
que
nunca”
(Bloch,v.
II,1991,p.174).
As condições sócias que dão direção ao futuro, e a esperança é fundada na práxis
histórica, a partir da crítica e análise do real e da relação entre presente e passado. Para
Bloch a esperança não é algo psicológico, mas sim uma determinação da realidade
objetiva, a esperança se encontra na insatisfação do homem diante a sua condição
histórico-social, confrontado com os antagonismos e contradições do presente, e deste
confronto que confere à esperança a concretude, aí que os absurdos do mundo são
explicados, nas próprias contradições históricas da humanidade, nessa perspectiva o
“novo”, deixa de ser esperado comodamente, e passa a ser buscado com afinco, de
forma a superar o status quo, como precisa Antonio Rufino
“é a esperança animando todo o movimento social dos
oprimidos, pois eles sabem que algo melhor é possível. A
esperança é instrumento objetivo, ajudando o homem a superar
o medo das conseqüências de um possível ato libertador, além
de ajudá-lo a superar a atitude niilista de negação do
mundo”(Rufino,2003,p.4).
A esperança atuando sobre uma realidade objetiva que virá, permite ao homem
uma saída para o futuro. Para Bloch,
“o marxismo foi o único que promoveu a teoria prática de um
mundo melhor, não para esquecer o mundo presente, como era
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comum na maioria das utopias sociais abstratas, mas para
transformá-la
em
termos
dialéticos-econômicos”(Bloch,
III,1991, p.456).
O processo pelo qual passa as utopias nos conduzem à transformação da
realidade, entretanto não são todas as forças ou idéias que podem adotar uma função
utópica, mesmo porque as situações externas que combatem as utopias podem mudar a
forma e o conteúdo das mesmas, é importante notar que a utopia surge nos campos da
vida social vinculados a estágios históricos, atinentes a particulares estratos sociais,
segundo Mannhein a concepção utópica não pode ser de apenas um individuo, já que o
mesmo sozinho não pode irromper com a situação histórica e social, segundo Mannhein
“quando, sob esta forma, reflui de volta ao horizonte de todo o
grupo, sendo por este traduzida em ação, somente então pode a
ordem existente ser desafiada pela luta por outra ordem de
existência”(Mannhein,1988.p.230).
É no horizonte de uma criação transformadora que Mannhein, evoca o exemplo
dos anabatistas que uniram forças contra à ação opressora dos estratos superiores da
sociedade, a idéia de um reino terrestre de uma terra sem males, sempre conteve
tendência revolucionária, esse é um caso emblemático, onde um extrato religioso
propõe de forma clara uma mudança de paradigmas as aspirações deixam de ser
extraterrenos e assumem uma compleição mundana, como diz Mannhein
“Sentia-se que eram viáveis, aqui e agora, e infundiam um ardor
singular à conduta social” (Mannhein,1988,p.30).
Segundo Mannhein a “espiritualização da política”, começava a afetar as
correntes da época, é graças a tensão espiritual que se acelerava o crescimento da
mentalidade utópica originada nos estratos oprimidos da sociedade, é neste ponto que a
utopia tem sua finalidade mundana, em contraste com o fatalismo dos acontecimentos
como são, ou sendo controlados por alguém acima.
Toda essa situação revalorizou as tendências espirituais que se fundiram aos
movimentos práticos que há muito se desvinculavam aos movimentos revolucionais
práticos, ao invés da preocupação que anteriormente transcendia a vida, passamos a
operar com as preocupações imanentes a condição terrena dos indivíduos, assim diz
Mannhein
“o impossível faz nascer o possível, e o absoluto interfere no
mundo e condiciona os acontecimentos efetivos. Esta forma
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fundamental, a mais radical de utopia moderna, foi conformada
a partir de um material singular. Correspondeu à fermentação
espiritual e ao excitamento físico dos camponeses, de um estrato
que vivia o mais próximo da terra. Era ao mesmo tempo
robustamente
material
e
altamente
espiritual”(Principio
Esperança,v I, p. 237).
Esse movimento se legitima dentro da perspectiva da utopia, porque introduz
elementos de inconformismo com a realidade presente.
Marx ao analisar a religião, analisa a dissolução, faz a elaboração da ciência do
capital, e dirige seu olhar para os horizontes futuros, em busca de uma sociedade sem
oprimidos e sem opressores.
Marx procede sua analise num procedimento
rigorosamente materialista de análise, onde o sistema só conhece o poder dos fatores
materiais.
Marx travou discussões, e chegou a conclusão de que a religião não tinha culpa
das mazelas do povo, a religião não era culpada pela simples razão de que ela na fazia
diferença alguma, porque ela não era causa mas sintoma apenas, as idéias não são as
causas da vida social mas sim efeitos Marx dizia que “não é a consciência que
determina a vida, é a vida que determina a consciência”(Marx), o pensamento de Marx
invade os horizontes da utopia, a religião para Marx surge no momento que os homens
trabalhando, sob condições que não escolheram, fazendo dos seus corpos um mundo
que não desejam, é daí que surge a religião como utopia, mas também surge como
ideologia ilumina com ilusões que consolam os fracos e legitimações que consolidam os
fortes,
“a religião é a teoria geral deste mundo, seu compêndio
enciclopédico, sua lógica em forma popular, sua solene
completude, sua justificação moral, seu fundamento universal
de consolo e legitimação”.(Marx,1981.p.76)
Quanto o oprimido, do profundo do seu ser diz “É a vontade de Deus, cessam
todas as razões, as injustiças se transformam em mistérios de desígnios insondáveis, e
sua miséria, uma provação a ser suportada com paciência, em contrapartida os
poderosos usam as mesmas palavras, e invocam os poderes da divindade com cúmplices
da guerra.
Nada se altera, nada se transforma, mas sobre todas as coisas dos homens
coloca-se sua mão
14
“religião expressão de sofrimento real, protesto contra um
sofrimento real,suspiro da criatura oprimida, coração de um
mundo sem coração, espírito de uma nova situação sem espírito,
ópio do povo”(Marx,1981,p.105).
É assim que as palavras de sofrimento se transformam em balsamo provisório
para a dor que ele é impotente para curar. Marx coloca que as pessoas não podem ser
convencidas a abandonar as idéias religiosas, porque elas são sintomas, e se elas as tem
é porque a situação as exige, é necessário que a situação seja mudada, para que as
ilusões desapareçam.
Peter Berger aponta que a religião é feita por homens e o “produto religioso” é o
resultado de uma atividade humana de construção de mundo, a religião nesse prisma é
órgão construtor da sociedade que reproduz a ordem, tornando plausível e duradoura as
construções sociais da realidade, desvenda-se o caráter propriamente ideológico da
religião, que obedece as leis de expansão e a mesma lógica do capital.
15
1. Sociedade e Mudança no paradigma político e social da Igreja
1.1-Converta-se o indivíduo e a sociedade se transformará
No seu livro Protestantismo e Repressão, Rubem Alves mostra que a idéia do
protestantismo brasileiro para transformar a sociedade brasileira, era converter todos os
indivíduos ao protestantismo. Significando que havia um projeto para a sociedade e
nessas palavras está um projeto, ingênuo, por certo de cunho individualista também;
mas, ainda assim, havia uma maneira de enxergar a sociedade e de relacionar-se com
ela. Teólogos protestantes como Richard Shaul, Rubem Alves e outros, percebiam a
insuficiência de uma teologia que não fosse pensada a partir da realidade social
brasileira, essa foi a tônica do novo pensamento protestante, que se erigia no novo
quadro do pensamento teológico brasileiro. Essa transformação teológica acompanharia
as mudanças pelas quais o país passava em sua estrutura econômica e urbana.
Sabe-se que a industrialização do país apresentou descontinuidade, ocorre o
que se chamava de industrialização por substituição; como caracteriza Maria Conceição
Tavares, a economia brasileira havia passado por uma fase “primaria exportadora”,
seguida por uma “substituição de importações”, a primeiro momento os olhares se
concentravam na dinâmica de exportações de produtos primários, entretanto com os
problemas econômicos como a Grande Depressão e a I Guerra Mundial, o país se volta
a buscar o mercado interno, procurando produzir os bens que eram importados, já que
as necessidades supridas pelas importações não eram mais satisfeitas, inicia-se
tentativas de produzir internamento o que era importado,era um novo modelo de
crescimento. A federação era dominada pelas oligarquias cafeeiras.
Embora débil, a industrialização no inicio do século XX começava a indicar
uma possível classe média que, basicamente, ainda nem se apresenta em movimento
como a coluna prestes. Esses movimentos com ideais liberais tinham certamente alguns
pontos de contato com o protestantismo chegado no pais. Boris Fausto lembra que
houve uma certa radicalização das reivindicações tenentista após 1930, passando a
“propor a nacionalização dos bancos estrangeiros, das minas e
queda de água, o combate gradativo ao latifúndio, reformas na
área trabalhistas, como a instituição do salário mínimo,
proteção da mulher e do menor, limitação da jornada de
trabalho”(FAUSTO, 1990,p.248).
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Embora o protestantismo tenha se desenvolvido inicialmente no mundo rural
(Mendonça, 1978), podemos perceber nesse momento uma relação de grupos sociais
protestantes com as idéias presentes no movimento de inspiração liberal. Em São Paulo,
o Mackenzie College, instituição presbiteriana, tornou seu campus em um hospital de
campanha apoiando a revolução constitucionalista e, no Rio de Janeiro, em 1932,
quando o país se preparava para eleger os representantes para a nova Constituinte, um
manifesto assinado por vinte pastores de diferentes denominações lança um manifesto:
“Memorial dirigido aos crentes Evangélicos de todo o Brasil”. No memorial são
lançadas sugestões para o funcionamento político e social do país. Tal manifesto foi
publicado nas páginas de “O Puritano”:
“Urge abandonar de vez a atitude de simples observadores,
atitude de expectativa, de aparente bem-estar, de indiferença e
comodismo! [...] Urge que a vos dos evangélicos de todo o
Brasil se faça ouvir por aqueles que vierem a compor a
Assembléia Constituinte.[...] Os abaixo assinados vêm pedir aos
ministros, aos oficiais de igrejas, aos crentes professos de
ambos os sexos, aos amigos do Evangelho, em todo o Brasil,
que, sem perda de tempo, se qualifiquem como eleitores e
adotem os seguintes pontos básico de orientação cívica”.(O
PURITANO,1932, p. 3).
Quanto à ordem política, defende-se: 1) a forma presidencialista republicana,
2) a verdade eleitoral absoluta, baseada no voto secreto;3) “Justiça popular, rápida e
gratuita”; 4) “completa laicidade do Estado e, conseqüentemente, a do ensino oficial”.
Quanto a ordem social, propõe: 1) absoluta liberdade de pensamento e sua
manifestação; 2) regime cooperativista nas relações entre operário e patrão, participação
dos empregados nos lucros, assistência medica e judiciária; 3) proteção a família, com o
casamento civil gratuito, divorcio, reformatórios para mulheres, cuidado com a infância
e velhice; 4) educação popular obrigatória para todos, com programa mínimo nas
escolas de todo o pais, instrução secundaria, profissional e superior acessível aos menos
favorecidos; 5) pacifismo.
Em 1933, reuniu na sede do Partido Democrático Socialista e no Salão Alvaro
Reis, da Igreja Presbiteriana, no Rio de Janeiro, o “Congresso Regional Pro Liberdade
de Consciência”, sendo eleito presidente o pastor presbiteriano Mattathias Gomes dos
Santos. Os assuntos discutidos foram: nacionalização do clero; laicidade do estado;
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partidos políticos estrangeiros; laicidade do ensino oficial; racismo; divorcio; a mulher e
a política; reacionarismo do clero católico (O PURITANO, 1933, p.10).
O partido Democrático Socialista ou Partido Democrático Social teve sua
fundação noticiada pelo Diário de Noticias, em 1931, sendo comentado por Mattathias
G dos Santos em O PURITANO, porque ele notou que
“os pontos fundamentais [...] coincidem perfeitamente com as
aspirações do protestantismo brasileiro, em matéria de
renovação política e social do Brasil”.
Os pontos coincidentes se referem a ampla defesa das liberdades para todos,
como os protestantes já buscavam, “sem
cogitar de religião”. Os princípios são:
governo parlamentar; honestidade eleitoral; justiça popular e gratuita; laicidade
completa do estado e do ensino oficial; liberdade de pensamento e sua manifestação;
socialização do capital e trabalho, com regulamentação do trabalho da mulher e do
menor; casamento civil gratuito, divórcio, proteção a mulher e assistência a infância;
extinção
do
analfabetismo;
“extinção
do
parasitismo
militar”(O
PURITANO,1933,p.10). São, como se observa facilmente, conclusões semelhantes
aquelas do Congresso Pro - Liberdade de Consciência.
Havia, portanto, um projeto para a sociedade baseado no ideal liberal.
Acreditava-se que um povo livre política e religiosamente formaria uma nação próspera,
especialmente se os indivíduos se convertessem a Jesus Cristo. Surgiria, no entanto, um
novo modo de perceber e interpretar teologicamente a sociedade, pois as próprias
condições da sociedade brasileira apresentava grandes e rápidas transformações.
1.2-A responsabilidade social da Igreja e do cristão
As mudanças no país serão cada vez mais acentuadas no decorrer do século
XX. O processo de industrialização que recebeu grande impacto no período de Getúlio
Vargas iria transformar as cidades e a política do país, embora, ainda em meados do
século, a indústria não exercesse papel tão determinante na cena política, a qual
continuava dominada pelos fazendeiros e comerciantes mas que vinham perdendo a
influência frente a indústria. Os operários estavam começando a ter alguma
organização, mas ainda não tinham tanta influência por estarem desarticulados e por
serem relativamente um grupo pequeno. Mas, as transformações se processariam cada
vez mais rapidamente. Getúlio Vargas elaborou Plano Quinquenal com propostas
objetivas de investimentos na indústria, transportes e energia, além de criar, em 1952, o
18
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico para implementar e financiar o
desenvolvimento do país. Com Juscelino Kubitschek foi proposto o crescimento de
cinqüenta anos em cinco.
Cresce no país, como em toda a America Latina, o chamado populismo, o que
nos dá uma visão também do crescimento urbano do pais, pois, sem a marcante
presença da cidade os lideres chamados de populistas não teriam a mesma condição de
atuação e de exercer o domínio carismático que tiveram.
As mudanças drásticas nas décadas de cinqüenta e sessenta obrigariam a igreja
protestante a se manifestar. Porém, nem todo o protestantismo aliou-se numa mesma
linha de pensamento e de interpretação da sociedade e da teologia, mas o que foi
formulado nesse período constitui-se em importante reflexão sobre a igreja e a
sociedade que deve ser transformada a luz do evangelho. Nesse ponto é importante a
Confederação Evangélica do Brasil (CEB), através de seu setor de Responsabilidade
Social. A CEB foi fundada em 1932, fruto de outros esforços anteriores que procuravam
fazer do protestantismo um agente importante na sociedade brasileira. A dissertação de
Paulo Goes, do Individualismo ao Compromisso social - A contribuição da
Confederação Evangélica do Brasil para a articulação de uma ética social cristã, dá bem
uma amostra, só pelo titulo, da mudança de paradigmas pelo qual passava o
protestantismo brasileiro com relação ao pensamento teológico acerca de política e
responsabilidade social. Deve-se lembrar aqui, ainda, que o pensamento de brasileiros,
em geral bastante ligados a CEB, foi fundamental na constituição do movimento ISAL –
Igreja e Sociedade na America Latina, também engajada na luta por alcançar um
pensamento teológico que desse parâmetro adequados aos protestantes para participação
na transformação da sociedade.
A CEB criou, em 1955, o Departamento de Estudos e, dento deste, a Comissão
Igreja e Sociedade. Um dos motivadores para essa atividade foi o CMI – Conselho
Mundial de Igrejas que realizara sua segunda Assembléia em 1954 e que contou com a
presença de alguns brasileiros que se sentiram de tal modo encorajados, que retornando
ao pais, logo começaram a propor a criação desse Departamento que depois se
transformaria no Setor de Responsabilidade Social. As reuniões do Setor eram bastante
dinâmicas, como se pode observar pela documentação que deixou. Muitos protestantes
dessa época não tiveram medo ou vergonha de se encontrarem com intelectuais de
primeira linha do pensamento brasileiro e ouvir deles a avaliação sobre o pais e a
avaliação (ate negativa se fosse o caso) sobre as igrejas e sua importância e participação
19
social. Nomes como os professores da USP Almeida Junior, Florestan Fernandes, Jose
Francisco Camargo e Walter Schutzer (este na verdade, protestante), estiveram já na
segunda reunião de estudos do Setor. Outros como Gilberto Freyre, Celso Furtado, Paul
Singer, Juarez Brandão Lopes se fizeram presentes na grande reunião em Recife em
1962. Ouvindo atentamente as avaliações dos intelectuais, os protestantes propunham-se
a debater o papel da igreja cristã, especialmente daqueles protestantes, no contexto
estudado.
Os temas dos encontros já são por si mesmo um diagnóstico importante das
preocupações e de como houve uma mudança no modo de se fazer uma teologia
engajada na sociedade: “I Reunião de Consulta sobre a Responsabilidade Social da
Igreja”, em 1955; “A Igreja e as Rápidas Transformações Sociais”, em 1957; “Presença
da Igreja na Evolução da Nacionalidade”, em 1960; e a quarta e última reunião ocorrida
em Recife, em 1962, teve como tema “Cristo e o Processo Revolucionário Brasileiro”.
Vê-se, assim, que o ponto de partida para a tarefa teológica não é mais nenhum tipo de
pensamento abstrato ou metafísico, mas são as circunstâncias cotidianas, os problemas
sociais, pois é na sociedade que os membros da igreja estão vivendo, e é esta mesma
sociedade que deve ser transformada pelo poder do evangelho. Não se trata apenas de
converter o indivíduo para transformar a sociedade, mas tratar a sociedade como um
todo, como passível também de ser evangelizada tanto nos seus indivíduos como em
suas estruturas políticas e econômicas.
Essa mudança paradigmática já se encontrava embrionariamente na década de
trinta. Ao final da década de 1930, um jovem pastor presbiteriano, que fora estudar na
Europa, Wilson Fernandes, começou a levantar questionamentos e a argumentar,
propondo uma teologia feita a partir desta terra e deste povo, e não simplesmente
copiando o que era feito na Europa e nos Estados Unidos, como os protestantes
brasileiros vinham fazendo desde o inicio:
Se tudo é diferente por que levantar no Brasil problemas que só
interessam particularmente a outros povos?Por que em vez de
imitar e importar não auscultamos as nossas necessidades e não
fazemos nossa teologia? Se devemos de ler e conhecer o que se
passa no estrangeiro sobre teologia porque é útil, também
devemos de cogitar de fazermos a nossa teologia sugerida pelas
necessidades da nossa igreja e do nosso povo. A grande
preocupação do momento é fazer uma teologia prática que
20
irradie calor divino destinado a reanimar e vitalizar as partes
glaciais e mortas da sociedade(FERNANDES,1938, p.1-2).
Assim, a teologia passa a fazer sentido como busca para encontrar ação
relevante diante da sociedade. Havia, por aquele tempo, uma exacerbação do sentimento
nacionalista. A segunda grande guerra estava prestes a começar. Buscava-se em cada
nação lutar contra tudo que representasse a interferência estrangeira, enaltecendo as
condições e capacidades autóctones. A igreja, inserida como é em uma realidade social,
embora nem sempre muito consciente disto, também luta por nacionalizar a teologia. O
desafio de Wilson Fernandes para uma teologia dinâmica, como busca constante, como
tentativa de resposta as necessidades de um povo, é como uma pequena fonte que junto
de outras formaram o caudaloso movimento acerca da responsabilidade social da Igreja
nas décadas de 1950 e 1960.
Outro elemento que pode ser alistado como formulador desse pensamento se
encontra na criação da revista Fé e vida (depois Unitas). Empreendimento
interdenominacional, a revista tinha objetivos ousados de se apresentar perante a
sociedade brasileira com discussões de primeira linha acerca da religiosidade, a
psicologia aplicada as questões sociais, relacionando a teologia à cultura da época.
Importante para nossa discussão é que a revista apresentou desde os primeiros números
uma seção chamada “Problemas Sociais”, onde por muito tempo o presbiteriano João
Del Nero, juiz de direito, foi o responsável e principal articulista. Paulo de Góes avalia
bastante positivamente a contribuição de João Del Nero, tendo-o como um dos
predecessores da formulação de uma ética social cristã no protestantismo brasileiro.
Embora ainda não tivesse propriamente saído do escopo liberal, sua pesquisa incessante
e sua avaliação do problema social, considerando teólogos e cientistas sociais
contemporâneos destacados, foram “um grande avanço para a época”, como diz Góes
(1989, p.95-107), com o que se pode concordar.
Retomando a década de cinqüenta deve-se relatar a importância de Richard
Shaull, que esteve ativamente presente com o professor do Seminário Presbiteriano do
Sul, membro do Setor de Responsabilidade Social da CEB, um dos promotores do
ISAL, e como líder da UCEB. Este teólogo ajudou a formular um pensamento que desse
conta dos problemas sociais,mesmo que isso implicasse mudanças na Igreja:
A tarefa de atualização da nossa mensagem e de relacioná-la
com a vida latino-americana pode exigir de nós mudanças em
21
muitos aspectos do programa das nossas igrejas, especialmente
na educação teológica, tanto de pastores como de leigos
(Góes,1989, p. 14).
Nessa nova estrutura da Igreja o que deve ser buscado e enfatizado é a
experiência de uma nova comunidade ou, dizendo melhor, de uma comunidade
resgatada da experiência mesmo mais primitiva do cristianismo.
A igreja Cristã, desde os primórdios começos, foi uma Koinonia,
um grupo cujos membros partilhavam as alegrias e tristezas uns
dos outros, a mesma fé, a mesma esperança, e até as posses
materiais. A recuperação desta verdadeira Koinonia cristã é
indispensável para a revitalização da Igreja em nossos dias, ela
também pode ser a única expressão de cristianismo que
sobreviva em um mundo totalitário (Shaull,1963,p 100).
A igreja precisa descobrir como dar forma as relações
comunitárias que temos em Cristo, numa situação em que todas
as estruturas, até as mais primárias, perderam a importância
que tinham outrora. Isto quer dizer que, na igreja local,
precisamos descobrir de que maneira pessoas que crêem em
Cristo e se relacionam na vida diária – na família, no trabalho,
no lugar onde mora, etc, - podem expressar esta riqueza de
vida que Cristo lhes oferece em comunhão umas com as
outras(SHAULL, 1963, p.79-80).
Os jornais e revistas tiveram um papel bem importante entre os protestantes.
Além de dar um senso de unidade e de pertença as comunidades das regiões mais
distantes dos centros denominacionais, faziam circular as idéias. Lembremos que sua
herança fazia com que entre os protestantes o índice de analfabetismo fosse bem menor
do que na população do país em geral, o que indica o apego com a palavra escrita
presente nessas comunidades, afinal, ler a Escritura sagrada e os cânticos era parte
essencial da liturgia do mundo protestante. Por isso apresentam-se a seguir alguns
exemplos dessa literatura denominacional que circulava entre os grupos protestantes.
O jornal O Puritano noticia com destaque e com foto a criação do
Departamento de Estudos da CEB, da Comissão de Igreja e Sociedade e sua primeira
Reunião de Consulta sobre a Responsabilidade Social da Igreja (O PURITANO, 1956,
22
p.4). Daí em diante, as Reuniões de Estudos, atividades e os materiais produzidos são
noticiados com ênfase, muitas vezes na primeira página.
José Borges dos Santos Jr, então Presidente do Supremo concilio da Igreja
Presbiteriana, professor no Seminário e dirigente de programas de rádio, escreve um
artigo, em 1957, sobre “A Responsabilidade Social da Igreja”, quando a Comissão da
CEB realiza sua segunda Reunião de Estudos. Enaltece a reunião e o preparo esmerado
da mesma e defende uma ampla participação da Igreja nas questões sociais:
Não hesito em dizer que uma igreja fora do mundo [e uma igreja
que desertou. Não hesito em afirmar que o lugar da Igreja é no
mundo, bem como insisto em dizer que é indispensável trazer o
mundo para dentro da Igreja. Sim, é preciso trazer o mundo para
dentro da igreja, porque só a Igreja, como instrumento do poder
e da graça de Deus, tem recursos para salvar o mundo, isto é a
política, a indústria, a lavoura, o trabalho e tudo aquilo que é do
homem. Se fosse para ficarmos alheios, o Senhor não teria
pedido ao Pai: ‘Não rogo que os tires do mundo, mas que os
livre do mal’.
Só há
um meio de orientarmos a Igreja com inteligência,
eficácia e aproveitamento de forças na sua ação e influência
sobre os problemas reais que a defrontam no Brasil: estudar o
assunto.
De que modo, sem comprometer a sua pureza, sem arriscar a
sua dignidade e sem perder a sua liberdade, pode e deve a Igreja
influir nos problemas que afetam e afligem o nosso povo?Esse é
o problema. Evangelizar não é preparar e rotular um homem de
modo que ele fique pronto para ser despachado para o outro
mundo quando chegar a sua vez. Como homens de coração
convertido a Jesus Cristo temos o dever de levar para todos os
setores da vida humana o reino de Deus e a sua influência.
Está na hora da Igreja evangélica do Brasil tomar consciência e
desobrigar-se, valorosamente, da sua responsabilidade social(O
PURITANO,1957, p.1-2)
Em 1962, a IPB reuniu-se em seu Supremo Concilio, no Rio de Janeiro e,
enfim, elaboraria o “Pronunciamento Social da Igreja Presbiteriana do Brasil”, que
23
havia sido solicitado e do qual muito se falou pelo jornal da igreja. O credo foi
publicado na integra(BRASIL PRESBITERIANO,1962,p.12), dando forças aos que
defendiam uma participação intensa na sociedade.
Um colaborador assíduo do jornal nas primeiras décadas dos anos sessenta foi
o jovem pastor Rubem Alves. Num de seus artigos assim, se expressou:
Não podemos pensar que Deus despreze o que é humano, o que
é histórico. O seu Reino tem de se estabelecer no nível da
encarnação do Rei. Seu propósito não é nos libertar do mundo,
mas transfigurar o mundo. Não destruir a sua criação seja o
espelho da sua glória. Qualquer tentativa de interpretar o Reino
de Deus simplesmente em termos subjetivos faz violência ao
caráter universal do seu domínio (ALVES,1962,p. 3-4).
A escola dominical é, sabidamente, um dos mais importantes setores do
protestantismo brasileiro para o ensino e a divulgação de idéias. A CEB publicava lições
para o ensino e a divulgação de idéias. A CEB publicava lições para a escola dominical
que serviam a diversas denominações. Depois, os presbiterianos e as demais igrejas
começaram a se preocupar com a elaboração de revistas com cunho mais
denominacional; tal preocupação denota o valor que era percebido na escola dominical.
Alguns exemplos do que se discutia nas classes são apresentados para mostrar a
circulação dessas idéias. Uma lição de 1962 fala sobre “A questão econômico-social”,
com uma linguagem denotando maior engajamento político, avaliando a atuação
governamental, propondo ação dos cristãos perante a situação dramática do país:
“Os recursos estão muito aquém das nossas grandes
necessidades. Exatamente por isto, respira-se o ar de uma
revolução de resultados imprevisíveis” (CURSO POPULAR,
1962,p.42-45).
Na lição seguinte, quando se fala em “Assistência Social”, procura-se avançar
em relação ao assistencialismo, aplicando análises sociais e econômicas para
identificação de problemas e planejamento de ação:
Importa que a Igreja exerça a sua vos profética. É necessário
determinar as causas da pobreza ou do sofrimento, ver que
fatores estão concorrendo para esse estado de coisas. Se as
causas da pobreza e da miséria vêm de desorientação dos
poderes constituídos, a Igreja igualmente deve levantar sua voz
24
para conclamar os poderes públicos a corrigirem suas falhas
(CURSO POPULAR,1962,p.50).
Alguns meses depois, na lição “O Testemunho Cristão Perante as Autoridades”,
diz que “é de grande necessidade que a Igreja hoje dê seu testemunho diante das
autoridades”, mas esta ação não se faz apenas por testemunho pessoal, individual, pelo
contrário, “a Igreja deve formular declarações públicas e oficiais sobre questões
delicadas que estão em jogo”. Isto porque há sofrimento e pobreza, e
o pobre tem um lugar de destaque na Bíblia. Diante das
calamidades que existem hoje, a caridade individual é quase
inoperante, não pode atender senão a poucos casos. Para os
sofrimentos de origem política, não há senão remédios políticos.
Amar os homens hoje significa agir politicamente. Conservar-se
indiferentemente à política em nossos dias é trair o Senhor a
quem serviremos (CURSO POPULAR,1963,p. 48-53).
A revista destinada aos jovens metodistas, Cruz de Malta, entre vários artigos
que começam a aparecer sobre o cristão e sua responsabilidade social pode-se destacar,
em agosto de 1956, um artigo que falava sobre “O Brasil e o magno problema da
educação política”, chamando à atenção que no país não se encontra um povo ainda
bem preparado politicamente e que muitos políticos disso se aproveitam, cabendo aos
cristãos ajudarem a transformar o quadro (CRUZ DE MALTA, 1956,p.41). Alguns
meses depois, há um desafio aos jovens metodistas para a participação política mais
ampla no artigo “Você e a Política” (CRUZ DE MALTA, 1957, p.43).
Uma série de artigos foi publicada em Cruz de Malta a partir de julho de 1958
com o propósito de estudar “O Caminho da reforma Social”, que era o título do
primeiro deles, com uma contextualização histórica das transformações recentes no
mundo, como as mudanças na comunicação, a segunda guerra mundial, e outras mais. A
seguir, começa a propor as transformações na sociedade com os valores do evangelho
defendidos nos artigos seguintes: “A necessidade de uma revolução”, “O método da
Revolução Social”, “A verdade vos libertará”, “Porém, eu vos digo”, “O papel da
religião na Reforma Social”(CRUZ DE MALTA,1958).
O jornal o Expositor Cristão, órgão de comunicação oficial da Igreja
Metodista, também procura desenvolver o tema. Como exemplo, temos reportagens
sobre
a
Assembléia
do
Conselho
Mundial
de
Igrejas
(O
EXPOSITOR
CRISTÃO,1954,p.1) e duas delas em edições consecutivas do jornal com o titulo
25
“Unidos, avançar!”(O EXPOSITOR CRISTÃO, 1954,p.1;1954, p.1) enfatizando a
responsabilidade da igreja em cada sociedade onde está inserida. Em 1956, um artigo
desafiava dizendo que havia chegado “A Hora das Classes Operárias”, reconhecendo
que uma revolução social estava em marcha e que as transformações que a sociedade
necessitava deveriam ser promovidas pela igreja cristã e não pelas forças comunistas (O
EXPOSITOR CRISTÃO,1956, p. 3). Em 1960 apresenta-se a proposta da terceira
Reunião de Estudos da Comissão Igreja e Sociedade e um estudo com o titulo “A tarefa
da Igreja na preparação de uma sociedade responsável” (O EXPOSITOR CRISTÃO,
1960,p. 1 e 7).
Temos, assim exemplos de como no protestantismo histórico, ou missionário,
houve uma mudança de paradigma no entendimento da relação da igreja com a
sociedade e na interpretação da própria sociedade. Passa-se a usar instrumentais das
ciências humanas para interpretar o mundo ao redor e procurar desenvolver uma
teologia que se torne eficiente na transformação dessa sociedade. Mas, nem todos
pensavam do mesmo modo.
1.3-A reação contra o pensamento de responsabilidade social
Nossa proposta é que, sem excluir outras explicações, a reação veio de dois
focos distintos: Primeiro o fundamentalismo teológico do protestantismo brasileiro.
Desde o inicio da mudança proposta houve aqueles que se manifestaram contra as novas
idéias, entendendo que a igreja estaria perdendo o seu sentido espiritual primordial.
O protestantismo cresceu junto com as cidades recebendo muitos que estavam
deixando o campo para compor o cenário urbano. Ora, essa população desarraigada da
terra e de seus símbolos religiosos não tinha condições de participar daquela discussão
que se fazia acerca da responsabilidade social da igreja e do cristão. Era uma discussão
em grande medida de uma elite teológica e intelectual e aqueles chegados do mundo
rural não estavam aparelhados para trilhar os mesmos caminhos. A versão teológica
conservadora lhes parecia mais clara. Isso ajuda a explicar a forte reação à Teologia da
Libertação que, tendo seus primeiros sinais entre os protestantes nos seminário e nas
lideranças intelectuais, foi totalmente rejeitada, tornando-se, aparentemente, uma forma
de pensar católica tão somente.
O segundo foco da reação foi a assimilação da igreja aos valores das classes
médias urbanas. Com a vitória do movimento militar que assumiu as rédeas da direção
política do país, muitos protestantes estavam inscritos entre aqueles grupos médios da
sociedade brasileira que apoiaram o golpe militar. A mesma urbanização que propiciou
26
uma nova proposta foi a que também possibilitou tal apoio. As classes médias e medias
altas, temerosas da propalada anarquia e do comunismo repressor das liberdades
individuas e econômicas, especialmente, deu seu apoio ao golpe. O temor da perda da
liberdade religiosa em um regime declaradamente ateu, como seria o comunismo, uniu
os protestantes que tanto lutaram no país a favor de uma completa laicização do Estado,
mas que lutaram, também, por uma ampla liberdade para se escolher a religião.
Assim, o fundamentalismo juntou-se aos temores especialmente da classe
media urbana e das elites defendendo o golpe militar. Uma mudança do discurso
acontecerá a partir de então. Essa reação e essa mudança trazem ao menos duas
conseqüências importantes: Primeiro, a dificuldade do protestantismo histórico com os
temas sociais, chegando, quando muito, a algum tipo de assistencialismo como
responsabilidade da Igreja. Perde-se quase todo um discurso que fora elaborado em
diversos setores ecumênicos e no âmbito de instituições teológicas e internamente nas
denominações.
Em segundo lugar, será um dos fatores para a perda de terreno do
protestantismo histórico, especialmente diante do pentecostalismo. Como a igreja não
conseguiu articular uma resposta adequada as questões sociais por um lado, e por outro
lado, dados seu escopo teológico bastante discurso com reduzido espaço para símbolos
do sagrado e para o misticismo, ocorreu um vão por onde muitos membros dessas
igrejas a deixaram, e não membros nem as procuravam, em troca de opções pentecostais
que,se não tinham um discurso bem elaborado quanto a questões sociais, pelo menos
apresentavam uma possibilidade de recuperação do sagrado e do místico.
27
3. Responsabilidade Social, Revolução e Utopia na práxis Protestante.
O material exposto no capitulo anterior apresentou uma série de estudos
estratégicos da igreja protestante que foi produzido por um grupo de intelectuais que se
envolveram em um projeto teológico diferente do que a igreja experimentara até aquele
momento, que se constituiu um projeto alternativo, diferente daquele que a séculos
havia sido engendrado pela cúpula eclesiológica brasileira, os caminhos nunca antes
percorrido pelo protestantismo brasileiro nos revelaram uma outra maneira de se fazer
teologia, teologia essa focada num cristianismo encarnado, um cristianismo que até o
momento não dava conta dos problemas sociais, políticos e culturais vividos pelo povo
brasileiro.
A partir da análise do material produzido pelos protestantes dentro os quais
podemos falar de presbiterianos e metodistas, os materiais nos mostram uma aceleração
vertical rumo ao amadurecimento da idéia da igreja dentro de uma perspectiva social
mais abrangente que desse conta do indivíduo de forma ampla, em vários segmentos de
sua vida, o protestantismo passava por mudanças com relação ao pensamento teológico
político e responsabilidade social. Para entendermos responsabilidade social do cristão é
importante fazermos uma leitura evangélica desse tema, haja vista que este movimento
tem como cerne a igreja protestante brasileira, conforme expõe Alderi Souza (2003, p.5)
“Em grande parte da história da igreja os cristãos entenderam que o
socorro aos sofredores era uma parte importante da sua vocação no
mundo. Eles não acreditavam que havia qualquer conflito entre essa
preocupação e outros interesses da vida cristã. As diferenças, quando
existiam, referiam-se a questões secundárias como que tipos de
pessoas deviam ser auxiliadas e os métodos a serem utilizados. Foi
somente no século 20 que o envolvimento social da igreja se tornou
um pomo de discórdia, rompendo o consenso que havia imperado por
longo tempo”.
Os leitores bíblicos não podem deixar de perceber o espaço que a bíblia dedica à
temática social. O Antigo Testamento está cheio de preceitos, instituições e narrativas
referentes ao assunto. A própria figura do pobre, do órfão, e de outras pessoas em
situação de risco e desamparo povoam as Escrituras. Quando se chega à literatura
profética, em especial aos chamados “profetas éticos” do século oitavo antes de Cristo
(Isaías, Oséias, Amós e Miquéias), a justiça, a misericórdia e a generosidade no trato
com os sofredores se tornam um tema dominante, quase que onipresente(Alderi Souza).
28
A partir disso, dessa ética material de vida, criada a partir das vitimas, Ernest
Bloch, demonstra que os projetos humanos tem que enxergar “aqui e agora” deve ter
preocupação com o presente, o homem não pode ser desvinculado da construção utópica
a isso Bloch chama de “homem situado”, que esta ligado as questões políticoeconômico-tecnológicas. Essa atitude profética não é a simples promessa de um
ultramundo a-histórico, mas trata-se de um esperança que lança incendiárias fagulhas à
práxis transformadora. Em termos blochianos,
“essa esperança está fundada no impulso humano para a
felicidade e dificilmente poderá ser destruída, e com suficiente
clareza
ela
sempre
foi
um
motor
da
história”
(Bloch,apud,Apolinario,2005,p.6).
Jesus retoma essas preocupações e as aprofunda. Sabendo que a religiosidade
judaica havia priorizado três práticas formais – as esmolas, a oração e o jejum – Jesus
corrigiu algumas distorções vigentes, ensinando que a prática da caridade devia ser
humilde, desinteressada e motivada pelo amor. Segundo Alderi Souza(2006,p.1)
“Ao anunciar o evangelho do reino, ele apontou como uma de suas
principais características a sensibilidade diante da dor alheia e a
prontidão em assistir os desafortunados. Ele mostrou isso de modo
magistral através de alguns de seus ensinos mais apreciados, como a
parábola do Bom Samaritano. O ensino apostólico colocou a
beneficência no centro da vida cristã – a misericórdia ou benignidade
; deve-se fazer o bem a todos; a solidariedade deve ir além das meras
palavras ou boas intenções, para manifestar-se em ações concretas. A
instituição
do
diaconato,
uma
classe
de
oficiais
voltada
especificamente para a assistência aos necessitados, testifica sobre a
importância desse aspecto da vida cristã.”
Desde os tempos mais remotos os cristãos praticavam a misericórdia, exerciam a
hospitalidade, sem fins lucrativos, faziam coletas para discípulos que passavam
dificuldades, assistiam materialmente os presos,ou os que sofriam perseguição. Em
momentos de agitação social a igreja ajudava as minorias afligidas pela guerra ou
catástrofes, segundo Alderi Souza(2003,p.4)
“a história desse longo período atesta o profundo envolvimento dos
cristãos com o suprimento das necessidades dos seus semelhantes”.
Segundo Calvino Rocha (2003,p.3), sobre a conceituação de responsabilidade
social cristã ele introduz as seguintes palavras:
29
“O tema reveste-se de profundo significado, ao ser confrontado
com as afirmações bíblicas e ao voltar-se os olhos para a
história da cristandade e ainda, ao constatar-se a crise social,
cujas estruturas encontram-se marcadas e maculadas pelo
pecado e pela injustiça. Referir-se à responsabilidade social da
igreja não significa apenas filantropia, toda ação, por mais
importante que seja,começam no campo da filantropia, e
necessariamente tem que alcançar as estruturas mais profundas
que visem a uma grande transformação. Ao falar sobre
responsabilidade
social
precisamos
ir
mais
adiante.
Insofismável abarcar os atos de misericórdias e os atos de
justiça”.
Para explicitar o pensamento sobre responsabilidade social a definição de Hélcio
da S. Lessa(1998, p.77) dividi o tema em três categorias: Assistência Social, Serviço
Social e Ação Social. Para facilitar sua definição, Lessa tenta contextualizá-la com uma
história:
Nos idos do escravagismo, alguns cristãos, sensibilizados com
os escravos castigados e violentados no pelourinho, resolviam
ajudá-los com água, pão ou tratamento de suas feridas. Aquela
atitude nobre, que não se relacionava com as causas da
escravatura e mantinha o escravo na mesma situação,
exemplifica o que se pode chamar de Assistência Social.
Na assistência social existe compaixão e manifestações práticas
dessa compaixão. Existe coragem para, mesmo numa ínfima
proporção, confrontar o erro, mas não existe transformação
histórica, o escravo continuará sendo escravo e permanecerá
sofrendo no pelourinho, esperando que uma alma caridosa
venha cuidar de suas necessidades mais urgentes.
Outros cristãos, com uma visão mais aberta, mais ampla, vão
além da assistência. De alguma forma, buscam assegurar a
liberdade do escravo, através de levantamento de recursos para
que ele seja comprado e libertado. Buscar-se-ão mecanismos
para que o liberto encontre um trabalho e possa sobreviver
30
nessa nova condição. Esse tipo de atitude, por mais louvável
que seja, pode ser chamado de serviço social.
O problema neste tipo de ação, conquanto o senso de
misericórdia tenha ultrapassado em muito a assistência social,
pois neste caso se conseguiu a liberdade e um meio de
subsistência do livre, é que de fato não operou aqui uma
transformação histórica. Resolveu-se o problema de um
escravo, mas a escravidão continuará a passos rápidos
atingindo a outros e estes continuarão a ser espancados,
levados ao pelourinho e muitas vezes violentados até à morte.
Alguns cristãos lançar-se-ão na luta contra a escravatura, para
que se elimine definitivamente a opressão sobre o ser humano.
Ação esta verdadeiramente eficaz, pois as estruturas serão
alcançadas,
a
instituição
escravagista
será
afetada
significativamente. Agora sim, a possibilidade de uma
transformação histórica se avizinha. Tal atitude pode ser
chamada de ação social.
No bojo da responsabilidade social cabe a igreja a responsabilidade de
empreender uma luta ao lado dos oprimidos contra as estruturas que os dominam, sem
esse aspecto a igreja não pode ser igreja, não é possível a igreja alienar-se. A igreja tem
de estar alerta as injustiças e não se calar diante delas, pelo contrário, fazer com que se
faça justiça, e o ser humano seja tratado com dignidade.
Caio Fábio D'Araújo Filho afirma que:
“O Brasil é um país completamente tomado por antagonismos. De um
lado, tem-se uma economia forte, um parque industrial moderno e
uma das maiores riquezas naturais do planeta; de outro lado, tem-se a
sexagésima quarta renda per capita do mundo, uma concentração
econômica na qual urna minoria da população controla cerca de 70%
dos bens do país, e uma dívida social descomunal, caracterizada pela
existência de milhões de miseráveis. Lado a lado, convivem mansões copiadas das revistas mais sofisticadas do primeiro mundo – e
casebres feitos de papelões e cheios de tanta sujeira que, nem mesmo
os cães, acostumados à boa vida da casa dos ricos, conseguiriam
neles viver... É dentro deste caldeirão de ambigüidades e
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antagonismos, que emerge, vive e acontece a Igreja Evangélica. A
Igreja Evangélica não pode ficar fora de qualquer análise que se faça
desse país”. (Filho,apud,Rocha,2003.p.3)
É em meio a um país em crise que a igreja esta inserida e precisa dar uma
resposta que crie uma alternativa de transformação, foi nessa perspectiva que a CEB se
inseriu e promoveu seus encontros “I Reunião de Consulta sobre a Responsabilidade
Social da Igreja”, em 1955; “A Igreja e as Rápidas Transformações Sociais”, em 1957;
“Presença da Igreja na Evolução da Nacionalidade”, em 1960; e a quarta e última
reunião ocorrida em Recife, em 1962, teve como tema “Cristo e o Processo
Revolucionário Brasileiro”.
É importante notar que o movimento cresce em direção nacional aos
movimentos democráticos que a sociedade brasileira engendrava naquele momento, não
a nível consorcial, as lideranças e movimentos populares não faziam os movimentos em
consorcio um com o outro, mas tinham aspirações similares, não era apenas um
“currículo” despretensioso, mas um “currículo” que andava no curso dos movimentos
de libertação brasileiro, movimentos que podemos inserir nos patamares utópico
brasileiro, nesse momento podemos decifrar o caráter de transcendência desse
movimento na categoria da utopia porque visava um projeto maior, um plano, um desejo
voltado para o futuro, já que utopia e futuro são coisas inseparáveis,o movimento
protestante brasileiro, visava a transcender as matrizes políticas, sociais e humanas do
povo brasileiro, era um movimento que visava a integralidade de um povo, pensando a
realidade a partir dos problemas nacionais, foi a partir de uma busca teológica dinâmica,
como tentativa de respostas ao povo, é que se fez de uma pequena fonte um rio
caudaloso .
Ai se faz a tentativa da revolução que se aplica ao tema para representar
mudanças drásticas e violentas da estrutura da sociedade, essa mudança revolucionária
que é capaz de mudar as estrutura da sociedade, essa mudança revolucionaria que é
capaz de mudar as estruturas ou mexer nas estruturas, que subverte a ordem imperante
na sociedade(Florestan Fernandes). Esse foi o intuito maior do movimento protestante,
propor uma mudança drástica da relação da teologia com a práxis social
A partir disso entendemos que o movimento propõe, na propostas de revolução,
que é mudar o status quo, é fundar outro modelo político, econômico e social,
significando a própria ruptura com o modelo hegemônico, pra se ter a Abolição das
relações de dominação. A principal arma é o dominado entender o que está acontecendo,
32
assim fica mais fácil defender dos abusos e as violações cometidas pelos donos do
poder, entretanto a discussão ficou estacionada em grande parte na elite intelectual
teológica.
As lutas pela libertação sempre se deram pela batalha de classes subalternas que
precisavam se libertar da tutela que era imposta pelas classes dominantes isso se deu em
vários momentos da história brasileiras.
“A revolução constitui uma realidade histórica a ‘contra
revolução é sempre a seu contrário, não apenas a revolução
pelo avesso é aquilo que impede ou adultera a revolução”
(Fernandes,1989,p 23) .
Florestan Fernandes nos mostra que para se desempenhar tarefas práticas
especificas e criadores, a classe que busca a libertação não pode compartilhar com
outras classes que não estão empenhadas ou que não podem realizar aquelas tarefas sem
se destruírem ou sem se prejudicarem irremediavelmente, a práxis revolucionária passa
incisivamente pela atuação particular de quem se deseja libertar.
Existe a tendência em tornar a revolução em fato “mítico, individualizado e
romântico, existe a convergência de atos para se anular o papel das massas e salientar
figuras centrais, e foi assim que a burguesia criou a tradição que mesmo quando busca
os fatos externos, concentra-o no culto dos heróis e da ênfase aos papeis criadores dos
grandes homens.
O marxismo nunca anulou a importância da personalidade nos processos
históricos, mas sempre buscou fundamentalmente entender a revolução como fenômeno
sociológico de classe. Proclama a utopia, a do seu período de ascensão efetivamente
revolucionária, e prática uma ideologia de mistificação sistemática nas relações entre
meios e fins, indispensavelmente para que pudesse ser modernizadora, em um nível, e
conservadora, reacionária, e ultra reacionária, em outro.
Ernest Bloch fundamentalmente divide a utopia em duas categorias, Abstratas e
Concretas, as utopias abstratas apresentam criticas e alternativas a sociedade, entretanto
são criticas limitadas e os projetos aludidos por elas por vezes atendem a alguns
indivíduos e a pequenos grupos, outro gargalo dessa perspectiva é que a proposta por
eles defendida não encontra possibilidade real de implantação, e também não apontam o
caminho pelo qual passa a sociedade presente para a futura,assim diz Nildo Viana
“O marxismo ocidental de Ernest Bloch classifica a utopia em
dois tipos fundamentais: as abstratas e as concretas. A partir
33
disso podemos dizer que Morus e Campenella, entre outros
produziram utopias abstratas, pois apesar de apresentarem uma
critica e uma
alternativa a sociedade existente, elas
apresentavam criticas muito limitadas e projetos que as vezes
atendiam a caprichos de alguns indivíduos e pequenos grupos
sociais e não aos interesses da coletividade. As suas propostas
de sociedade alternativa chocava-se com a possibilidade real de
implantação na época em que foram escritas. Mas o grande
defeito das utopias abstratas e que lhes caracterizam, segundo
Bloch, é que elas não apresentam como se passa da sociedade
presente para a sociedade futura”.(Viana,1992, p. 3)
Na outra ponta da discussão temos a utopia concreta que para Bloch é, realmente
aquilo que é tangível que se pode alcançar, fora da utopia abstrata,
“a utopia concreta é a teoria revolucionaria que não só é
possível e necessária sua concretização como é provável
resultado do processo histórico”.(Viana, 1992, p.3)
É imprescindível que as condições materiais para a realização da utopia exista,
superando as atitudes abstratas por atitudes concreto-revolucionárias.
“Não se trata simplesmente de instituir um fantasioso
paradigma ideal da sociedade, mas, significativamente, de
levantar uma crítica das condições já postas”
Bloch pondera que o marxismo provocou e construiu a teoria prática de um
mundo melhor, porque para ele, o marxismo não esqueceu-se do mundo presente, como
era costume da maior parte das utopias sociais abstratas, mas sim para transformar a
sociedade em termos dialético-econômico,
“Todo o não-ilusório e o realmente possível nas imagens da
esperança remontam a Marx”(Bloch,apud,Apolinário,2005,p
23).
Bloch revisa a utopia dizendo que ela não é um simples produto da imaginação,
mas pelo contrario ela possui uma base real, com vistas a reestruturação da sociedade,
entretanto a primeira contrapartida do individuo rumo a mudança é o engajamento na
militância, buscando mudanças concretas, é nessa hora que a utopia tem o potencial
para se realizar, quando é realizada coletivamente.
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O movimento protestante aludido no capitulo anterior, se mostrou forte no
princípio, entretanto, de pouco longevidade, o movimento não conseguiu sustentar de
forma plena e vigorosa toda a sua envergadura. A partir dessa perspectiva, podemos
inferir que essa tendência não teve solo favorável dentro do protestantismo brasileiro,
por isso podemos o incluir dentro da perspectiva utópica-abstrata, já que não houve
meios exeqüíveis para a tão propalada mudança social, não que faltasse suporte teórico
pra isso, haja vista que o discurso se enquadra na representatividade de um discurso
utópico, não houve uma correlação entre utopia e práxis utópica concreta, é nessa hora
que temos que conferir a práxis em consonância com a esperança, mas uma verdadeira
esperança,
fornecer
as
condições
de
efetivação
da
transformação
social
(Apolinário,2007), nas palavras de Paulo Freire
“Enquanto
necessidade ontológica a esperança precisa da
prática para tornar-se concretude histórica. É por isso que não
há esperança na pura espera, nem tampouco se alcança o que
se espera na espera pura, que vira, assim, espera vã.”
(Freire,apud,Apolinário,2005,p. 5).
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Conclusão
Houve, no protestantismo brasileiro, o desenvolvimento de uma teologia que
procurava entender a sociedade e apresentar como a igreja e os cristãos deveriam
relacionar-se com o mundo para transformá-lo. O protestantismo no inicio mergulhado
numa proposta que para transformar o país só era necessário que os indivíduos se
convertessem a verdade evangélica. Entretanto essa idéia se mostraria insuficiente para
transformar a realidade. Descobre-se no evangelho princípios, propostas e apelos à ação
dos cristãos para transformar a sociedade brasileira.
A reação conservadora, fundamentalista teologicamente, das classes médias
urbanas não são capazes de acompanhar a discussão que era feita, levou o
protestantismo histórico a deixar de lado aquela discussão e a perder terreno para os
outros movimentos de cunho pentecostal.
Concluímos que o movimento de responsabilidade social não obteve o êxito que
buscava, por todos esses motivos que expomos acima, e também por não articular de
forma sustentável o projeto de mudança social, desembocando numa perspectiva
utópico-abstrata, já que não propunha uma forma exeqüível de mudança.
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