Pneumologia Pediátrica TEMAS EM DESTAQUE Registro Brasileiro de Fibrose Cística (REBRAFC): Importância, implantação e futuros desafios Asma nos lactentes e pré-escolares: diagnóstico, fenótipos e relevância destes para o tratamento 2 Pneumologia Paulista Vol. 25, No.15/2011 DIRETORIA - BIÊNIO 2010 | 2011 Diretoria (biênio 2010/2011) Presidente: Jaquelina Sonoe Ota Arakaki Vice-Presidente: Mônica Corso Pereira Secretária Geral: Valéria Cristina Vigar Martins 1º Secretária: Lara Maris Nápolis 2ª Secretária: Nephtali Segal Grinbaum Diretor de Finanças: Ricardo Milinavicius Diretor de Assuntos Científicos: Oliver Augusto Nascimento Diretor de Divulgação: Carlos Viana Poyares Jardim Diretor de Informática: Roberta Pulcheri Ramos Comissões Assuntos do Interior: Roberto Rodrigues Júnior Defesa Profissional: Fabiola Gomes Rodrigues Ensino: Roberto Saad Júnior Promoções: Paulo Manuel Pêgo Fernandes Assuntos da Grande São Paulo: Igor Bastos Polonio SUMÁRIO 4 EDITORIAL • As perspectivas futuras da Pneumologia Pediátrica Paulista • Pneumologia Pediátrica 6 TEMAS EM DESTAQUE • Registro Brasileiro de Fibrose Cística (REBRAFC): Importância, implantação e futuros desafios • Tosse crônica em pediatria • Asma nos lactentes e pré-escolares: Cirurgia Torácica: Luiz Carlos Filgueiras Leiro Ricardo Kalaf Mussi Altair da Silva Costa Júnior Endoscopia Respiratória: Luiz Hirotoshi Ota Ascedio Rodrigues Viviane Rossi Figueiredo Pediatria: Marina Buarque de Almeida Lucia Harumi Muramatu Sonia Mayumi Chiba Fisioterapia Respiratória: Luciana Dias Chiavegato Carla Malaguti Priscila Batista de Souza Conselho Fiscal Efetivos: Alberto Cukier José Antônio Baddini Martinez Maria Vera Cruz de Oliveira Castellano diagnóstico, fenótipos e relevância destes para o tratamento 29 ARTIGOS EM DESTAQUE • Principais artigos na área de sono em pediatria nos últimos dois anos • Atualização em asma em pediatria: discussão das metanálises publicadas nos últimos 2 anos 29 RESUMINDO E RECORDANDO • Broncoscopia na prática pediátrica • Triagem neonatal para fibrose cística: o que fazer diante de um resultado alterado? • Pneumonias de repetição em pediatria • Pneumonias adquiridas na comunidade em lactentes, crianças e adolescentes Suplentes: Irma de Godoy José Eduardo Delfini Cançado Sonia Maria Faresin Conselho Deliberativo Ana Luisa Godoy Fernandes Carlos Alberto de Castro Pereira Fernando Augusto Fiuza de Melo Francisco Vargas Suso Jorge Nakatani Manuel Lopes dos Santos Miguel Bogossian Nelson Morrone Ricardo Beyruti Roberto Stirvulov Virgílio Alexandre Nunes de Aguiar 48 RELATO DE CASO • Tratamento de hemangiomas de vias aéreas em crianças utilizando propranolol • Pneumatocele gigante com resolução espontânea NOSSA CAPA Ilustração: Bira Dantas PNEUMOLOGIA PAULISTA Órgão Informativo da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia Editores Responsáveis: Mônica Corso Pereira e Carlos Viana Poyares Jardim Editoração Eletrônica: Miriam Miranda Impressão: Gráfica Riopedrense • Tiragem: 1200 exemplares Pneumologia Paulista Vol. 25, No.15/2011 3 EDITORIAL As perspectivas futuras da Pneumologia Pediátrica Paulista É difícil prever o que o futuro nos reserva, entretanto, algumas esperanças podemos ter quanto aos progressos da nossa especialidade. Já temos 8 Centros formadores em Pneumologia Pediátrica no Estado de São Paulo. Esperamos que os pneumologistas que estão se formando, tenham, seguramente, maiores facilidades e menos dificuldades em se afirmar na profissão, ao contrário dos colegas mais velhos que iniciaram a pneumologia pediátrica paulista nas décadas de 70 e 80. Esperamos que o uso da internet permita ainda mais, como já tem permitido, a pronta e permanente atualização na especialidade, e que os sites das sociedades de Pediatria e de Pneumologia, através da educação continuada, possam suprir as lacunas nos conhecimentos e, a qualquer momento, permitam que os jovens obtenham relevantes informações em contraposição aos recursos de antigamente, quando era necessário se passar horas na biblioteca transcrevendo manualmente os títulos do Index Medicus. Esperamos que os pneumologistas do futuro, dada a abrangência dos conhecimentos adquiridos, tenham mais discernimento do que nós tivemos, e que acumulem capacidade de analisar com ponderação e espírito crítico as publicações, os artigos, os ensaios baseados em evidências ou as metaanálises. Esperamos que a proposta do futuro da Pneumologia Pediátrica paulista seja de estabelecer os protocolos de atuação em nível regional e mesmo nacional, estimular e apoiar atividades conjuntas da especialidade, manter contatos e estabelecer intercâmbio entre os grupos de estudo de São Paulo e outras cidades ou estados. Os estudos multicêntricos serão bem vindos e constituirão a base das futuras pesquisas, já que permitirão maior número de pacientes, maior abrangência de resultados e conclusões de maior peso, com reconhecimento internacional das publicações. A qualidade de vida, a aderência aos tratamentos e os modos de intervenção para melhorá-la poderão ser os assuntos futuros a serem investigados nos nossos pacientes com diversas doenças. Esperamos que exista uma saudável parceria entre a 4 indústria farmacêutica e os futuros jovens pesquisadores, atendendo aos interesses mútuos de promover as pesquisas a nível nacional e internacional. Sabemos que o Departamento de Pneumologia Pediátrica da Sociedade de Pediatria de São Paulo continuará a agregar os membros pela excelente e diversificada programação e pela troca de experiências entre os participantes. As equipes de Pneumologia Pediátrica dos departamentos de Pediatria das universidades, estaduais e federal de São Paulo continuarão a receber residentes e estagiários, formarão mestres e doutores com capacitação para assistência, ensino e pesquisa e para formação de novos núcleos da especialidade. O que os pneumologistas mais velhos e experientes poderiam desejar aos mais novos? Que possam exercer a especialidade com dignidade e remuneração condizente com os anos de estudo e que possam publicar suas pesquisas e teses sem maiores percalços. Que não desanimem frente às dificuldades ou demora para divulgar suas experiências e ideias e que se mantenham firmes no rumo de contribuir com o crescimento da Pneumologia Pediátrica paulista. A presente edição prestigia a Pneumologia Pediátrica paulista e contribui para a divulgação científica das práticas, do ensino e das pesquisas sobre diversos temas de interesse em nossa especialidade. Foi escrita por vários colegas pneumologistas atuantes, que não pouparão esforços em transmitir a sua experiência a todos que estiverem lendo a Revista Pneumologia Paulista. Tatiana Rozov Livre Docente do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Orientadora do Curso de Pós-graduação em Reabilitação da Universidade Federal de São Paulo e médica voluntária do Centro de Reabilitação Pulmonar da Disciplina de Pneumologia da Escola Paulista de Medicina da Unifesp/ Lar Escola São Francisco. Membro do Departamento de Pneumologia Pediátrica da Sociedade de Pediatria de São Paulo Pneumologia Paulista Vol. 25, No.15/2011 EDITORIAL Pneumologia Pediátrica N as linhas abaixo procurei, dentro dos limites da memória não registrada, descrever a minha participação no nascimento, difusão e aperfeiçoamento desse setor da Pediatria. Com quatro exceções não citei nomes para evitar o risco de injustiças imperdoáveis. Em 1948, foi inaugurado no Rio de Janeiro o Hospital dos Servidores do Estado (HSE) do antigo Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado (IPASE). Na época ele foi classificado por Instituição Americana que avaliava, por critérios rigorosos, como o único de classe A no Brasil. Além das exigências básicas, o HSE apresentava inovações ainda não existentes no Brasil como, por exemplos, a Unidade de Terapia Intensiva, a Residência Médica e a divisão das clínicas básicas em setores especializados O serviço de Pediatria foi entregue ao Prof. Luiz Torres Barbosa, que entre muitas qualidades, tinha a de ser entusiasta das novidades existentes nos Hospitais da França e dos Estados Unidos, onde fizera residência e diversos estágios. Desta forma, pediatras selecionados após rigorosos concursos públicos foram encarregados de criar inúmeros setores como, por exemplo, a Puericultura, Metabolismo e Nutrição, Berçários de normais, prematuros e patológicos... e a Pneumologia. Este setor foi entregue ao prof. Afrânio Raul Garcia, futuro Prof. Titular da Faculdade Federal de Medicina do Rio de Janeiro, e que imediatamente criou o terceiro ano de Residência para possível dedicação exclusiva à especialidade. Entretanto, “cláusula pétrea” determinava que, apesar dessa dedicação, nenhum pediatra abandonasse o conceito da criança como unidade, sobre todos os aspectos. Em 1955, ingressei, também por concurso, como assistente do grupo. Com este grande mestre e amigo muito aprendi de Medicina, Ética e amor pelos nossos pequenos clientes. Salvo qualquer equívoco, pelo qual me desculpo, ele foi o pioneiro e grande divulgador da Pneumologia Infantil no Brasil. Em 1969, fui convidado e aceitei vir para São Paulo e assumir o título de Professor Associado na Clínica Pediátrica da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia. Posteriormente prestei concurso de Livre Pneumologia Paulista Vol. 25, No.15/2011 Docente e passei a Professor Pleno. Aqui chegando, já encontrei o Dr. Joel Rodrigues Bastos e o Dr. Paulo Alighieri atendendo os pacientes com broncopneumopatias. Muitos outros Hospitais Públicos, Universitários, Estaduais e Municipais, além de Ambulatórios já estavam começando a atender essas crianças separadamente. A organização, gerenciamento e qualidade assistenciais, como era previsível, variavam de acordo com os inúmeros fatores que todos nós médicos conhecemos. Merecem, entretanto, citação especial o setor do Instituto da Criança da USP, onde, além da equipe de alto padrão, assistência e ensino modelares, ainda pesquisas eram feitas. As grandes incidência e prevalência das doenças respiratórias na infância funcionaram como um estímulo, um atrativo para que os jovens médicos procurassem residências especializadas e frequentassem os cursos, jornadas regionais e congressos, criando em suas regiões de origem unidades de atendimento especializado. Nos trinta anos seguintes participamos, sós ou com outros colegas antigos, de um número muito elevado desses eventos. Essas minha longa atuação clínica, principalmente na rede pública, logo me fez perceber que, além da capacidade profissional, a correta assistência às crianças portadoras das doenças respiratórias agudas e/ou crônicas deveria obedecer algumas premissas: 1. Facilitar os tratamentos e diminuir as internações. 2. Criar estrutura assistencial adequada. 3. Basear o primeiro item na classificação das pneumonias agudas de etiologia não determinada em características clínico-radiológicas estabelecendo esquemas de tratamento para cada uma delas. 4. O segundo item deve ser baseado no princípio da hierarquia e na continuidade assistenciais. Retornos devem ser marcados pela equipe a partir do segundo dia após o início do tratamento seguindo-se então diversos caminhos de acordo com a evolução de cada caso. Este esquema aqui resumido foi plenamente desenvolvido e constitui o que denominamos PROGRAMA DRI que implantamos como modelo na Santa Casa. Comprovada sua eficiência, vantagens e possibilidade de execução, em todo ou em partes, passamos a tentar implantá-lo em todo o sistema de saúde na capital e no Estado de São Paulo. Sendo assessor temporário da Organização 5 Panamericana da Saúde e do Ministério da Saúde, tentei expandi-lo através de treinamentos e de documentos para o resto do Brasil. De forma facilitada, principalmente para áreas carentes de recursos em todo mundo, utilizando Agentes de Saúde treinados também para o Programa de Reidratação oral. Paralelamente, e no sentido de contribuir para o diagnóstico e tratamento das pneumopatias crônicas e/ou recidivantes, publicamos em 1987/88, três artigos denominados Bronquiolopatia Pós Viral. Este foi o nome que achei adequado para as seqüelas Brocopumonares das Bronquiolites agudas e da conqueluche. Em um dos trabalhos apresentamos 25 casos acompanhados em ambulatório por muitos anos. Principalmente na capital, mas também em alguns municípios do interior, a implantação do Programa DRI foi muito satisfatória. Infelizmente as constantes mudanças nas chefias, a intervenção da má política em áreas técnicas e a falta de empenho de alguns, fizeram com que esse intenso trabalho fosse aos poucos sendo abandonado. Razões por mim mal conhecidas impediram também que ele prosperasse nas regiões pobres do mundo, onde poderiam ter evitado muitas milhares de mortes de crianças. Do Programa DRI, guardo não só os documentos iniciais, como também os inúmeros relatórios e estatísticas, que demonstram que muitos doentes deles se beneficiaram enquanto funcionou. Afastado por mais de dez anos da especialidade, não sei em que situação ela se encontra. Tenho porém a esperança em que grandes descobertas darão em futuro próximo a cura como também a melhora da qualidade de vida dessas crianças. Os transplantes, a imunologia, a cirurgia especializada, as células tronco e a descoberta de novos antibióticos para combater as superbactérias e os vírus, transformarão essas esperanças em certezas. Que minhas últimas palavras sejam para os muitos colegas em toda a rede pública que nos acompanharam e nos apoiaram durante estes cerca de trinta anos em que atuamos no estado de São Paulo. Em particular os que formaram comigo uma equipe sem os quais me faltaria fôlego para implantar e controlar o projeto. Aqueles que entraram e saíram do grupo, durante todo esse período, compartilhando vitórias e derrotas, o meu maior reconhecimento e a certeza de que ela foi a melhor forma de consolidar amizades e de ter a certeza do dever cumprido. Theotonio V. de Miranda Ribeiro PRÓXIMA EDIÇÃO Publicação dos traballhos apresentados no 14o. Congresso Paulista de Pmeumologia e Tisiologia 6 Pneumologia Paulista Vol. 25, No.15/2011 TEMAS EM DESTAQUE Registro Brasileiro de Fibrose Cística (REBRAFC): Importância, implantação e futuros desafios AUTORES: Luiz Vicente Ribeiro Ferreira da Silva Filho1,3, Neiva Damaceno2,3 SERVIÇOS: 1 Instituto da Criança, Hospital das Clínicas da FMUSP Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo 3 Grupo Brasileiro de Estudos de Fibrose Cística (GBEFC) 2 1 Mestre e Doutor em Ciências da Saúde pela FMUSP, Médico Assistente, responsável pelo REBRAFC Médica Assistente do Grupo de Pneumologia Pediátrica, Presidente do (GBEFC) 2 A fibrose cística (FC) é a doença genética de herança autossômica recessiva mais letal entre brancos e recentemente reconhecida também entre não brancos. A doença tem envolvimento multissistêmico (sistema respiratório, gastrintestinal, hepático e genitourinário), mas na maioria dos casos a morbiletalidade está relacionada ao dano pulmonar.1 Os pulmões são normais ao nascimento, mas a tosse e o acúmulo de secreção pulmonar podem ocorrer precocemente, habitualmente desencadeados por uma infecção viral.1 Em seguida, observa-se colonização do trato respiratório por patógenos peculiares como o Staphylococcus aureus, Haemophilus influenzae, Pseudomonas aeruginosa, complexo Burkholderia cepacia e Stenotrophomonas maltophilia com desenvolvimento de alterações inflamatórias na árvore traqueobrônquica dos pacientes.1;2 O processo infeccioso e inflamatório crônico acaba por levar à formação de bronquiectasias e destruição da arquitetura pulmonar, culminando com insuficiência respiratória crônica, “cor pulmonale” e óbito.1;2 A fibrose cística é uma doença complexa ainda pouco conhecida em nosso país, apesar da existência de alguns estudos de prevalência de mutações de FC na população brasileira.3-5 Para que os avanços no tratamento desta doença no País continuem, é muito importante o conhecimento da situação da saúde e do tratamento dos pacientes acompanhados nos diversos Centros Brasileiros. A implementação de registros sobre doenças crônicas vem crescendo em todo o mundo, promovendo a coleta e armazenamento de dados longitudinais de pacientes acompanhados nos Centros participantes. 6-8 Existem evidências ainda de que a implementação de registros pode trazer, através do melhor conhecimento do tratamento e evolução das doenças crônicas, a identificação de marcadores de mau prognóstico, como a hipertensão pulmonar na esclerose sistêmica progressiva.9 A Fundação Americana de Fibrose Cística (Cystic Fibrosis Pneumologia Paulista Vol. 25, No.15/2011 Foundation, CFF) possui um registro norte-americano há cerca de 40 anos, e atualmente publica relatórios anuais sobre a situação de cerca de 24.000 pacientes norte-americanos.10 Já a Sociedade Européia de Fibrose Cística (ECFS) implementou o registro em 1994, inicialmente com recursos da empresa farmacêutica Roche, e operado por uma empresa de pesquisa clínica (Quintiles). Em 1999, o registro da ECFS contava já com dados de 13.700 pacientes de 9 países europeus.11 Em 1989 quatro Centros de quatro países da América Latina (Argentina, Brasil, Chile e México) realizaram um estudo multicêntrico com o objetivo de comparar os dados de seus Centros e analisar de maneira global seus pacientes com FC. Foram incluídos 743 pacientes, dos quais 59 brasileiros, resultando numa publicação na revista Pediatric Pulmonology em 199112 e que foi o embrião do Registro Latino Americano de Fibrosis Quística (REGLAFQ). Em 1993, devido às dificuldades de conhecermos os dados do Brasil, separados dos dados da América Latina, foi fundado o Registro Brasileiro de Mucoviscidose (REBRAM). Os resultados preliminares foram apresentados no Congresso Latino Americano de FC em Cuba, em 1997. Devido à grande dificuldade de se obter os dados dos vários Centros Brasileiros, principalmente quanto ao preenchimento das planilhas em papel, o REBRAM foi desativado logo em seguida, em 1998. Em 2004 foi fundado o Grupo Brasileiro de Estudos de Fibrose Cística (GBEFC), uma associação civil, de direito privado e sem fins lucrativos, constituído por médicos especialistas em fibrose cística de Centros de referência no diagnóstico e tratamento de vários Estados do Brasil. Esta entidade organizou o 1o Congresso Brasileiro de Fibrose Cística na cidade de São Paulo, em 2006. Em 2007, durante uma reunião do GBEFC em Cuiabá (MT), as bases para a elaboração de um novo Registro nacional sobre a doença foram discutidas e decidiu-se que uma plataforma de internet 7 seria a melhor alternativa, permitindo acesso controlado e seguro e tornando o depósito de informações possível a partir de qualquer lugar do país. Os objetivos do Registro Brasileiro de Fibrose Cística (REBRAFC) ficaram assim definidos: Objetivos • Identificar, coletar, classificar, armazenar e analisar informações sobre incidência e tratamento da fibrose cística no Brasil. • Coletar, classificar e armazenar informações sobre pacientes em seguimento e pacientes com diagnóstico recente. • Promover e facilitar o uso das informações coletadas em projetos de pesquisa aprovados e no planejamento e administração dos Serviços. • Publicar um relatório periódico baseado nas atividades do Registro. • Oferecer assistência e informação em relação a qualquer aspecto da fibrose cística para Instituições Públicas de Saúde, profissionais de saúde e pessoas com fibrose cística. • Produzir informação sobre o prognóstico de longo prazo de pacientes com fibrose cística no Brasil, inclusive desfechos de tratamentos e qualidade do atendimento prestado, e comparar esta informação a dados de outros países ou continentes. • Desenvolver uma plataforma baseada em internet para inserção dos dados pelos profissionais dos Centros participantes. • Registrar dados sobre a identificação, diagnóstico e genética de pacientes com fibrose cística no Brasil. Assegurar a veracidade das informações e a segurança dos dados depositados, e utilizar os dados obtidos efetivamente. • Divulgar periodicamente relatórios sobre a incidência, prevalência e regimes de tratamento dos pacientes registrados, em detalhe suficiente para que seja disponível para aqueles envolvidos. Após conversações iniciais para definição de prazos e custos, uma parceria foi firmada entre o GBEFC e o Laboratório de Sistemas Integráveis (LSI) da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para desenvolver e gerenciar a plataforma de internet e o banco de dados contendo as informações do REBRAFC. A escolha do LSI da POLI-USP foi baseada na grande experiência acumulada pela Instituição no desenvolvimento do portal Onconet, de registro e tratamento de câncer infantil. O portal de internet foi desenvolvido com recursos de software livre e aberto e a segurança do sistema definida em várias camadas, utilizando interceptação baseada no framework Struts2. O acesso à plataforma é obtido através de convite e geração de login e senha individuais, mas sempre monitorizado (rastreável). Para que os médicos e/ou colaboradores utilizem o sistema, eles precisam ser convidados pelo responsável da Instituição ao qual este médico está ligado. Quando o convite é feito, o 8 médico recebe em seu e-mail um convite válido por 60 dias e que dará acesso ao sistema. Este acesso é restrito ao perfil de médico, que permite apenas a execução de ações permitidas aos médicos dentro de seus Centros. Para os responsáveis dos Centros de tratamento também existe um perfil específico de acesso. A ferramenta permite diferentes tipos de acessos que podem ser controlados pelos perfis de acessos cadastrados. Estes perfis permitem ações específicas que poderão ser executadas apenas nos domínios ao qual o usuário estiver “logado”. Os dados inseridos são confidenciais, e protegidos por vários mecanismos, que incluem desde o acesso restrito ao espaço físico onde estão instalados os servidores até acesso ao sistema por senha criptografada e diferentes perfis de acesso à plataforma, garantindo que apenas as informações relevantes ao perfil de acesso sejam apresentadas aos usuários. Os dados pessoais dos pacientes são visíveis apenas para o Centro onde o paciente é atendido; o mesmo só aparecerá como um código alfanumérico para a equipe responsável pelo REBRAFC. Os dados são armazenados e disponibilizados para profissionais de saúde de acordo com o disposto nas normas estabelecidas pelo Conselho Federal de Medicina para Registros Eletrônicos em Saúde. O Registro contém dados de três níveis distintos de informação, como ilustrado na figura 1, e apenas uma delas necessita atualização anual, com os dados do Seguimento do ano anterior. Este nível contém o número de atendimentos a que o paciente se submeteu, dados funcionais e nutricionais, tratamentos em uso, dados microbiológicos e escore de Schwachman-Kulczycki. Implantação Após teste inicial da plataforma, todos os Centros Brasileiros e profissionais de saúde ligados ao seguimento/ tratamento de pacientes com fibrose cística foram convidados a participar do REBRAFC. Um contrato formal foi elaborado e celebrado entre o GBEFC e cada um dos Centros que concordaram em participar do REBRAFC; o objetivo deste contrato foi garantir a confidencialidade dos dados e ao mesmo tempo assegurar a cada um dos Centros a salvaguarda das informações contidas e o compromisso de incluir dois integrantes de cada Centro em publicações de dados inseridos na plataforma. Além disso, o contrato expressa de forma explícita a proibição do fornecimento de dados contidos no REBRAFC à indústria farmacêutica e mesmo a disponibilização de dados do REBRAFC para realização de pesquisas, o que só pode ser feito com a expressa concordância de cada um dos Centros que inseriu seus dados. Há, entretanto, o compromisso do GBEFC de promover a divulgação anual dos dados do REBRAFC, na forma de uma publicação aberta a toda a comunidade (Relatório Anual). Foi necessário ainda proceder à tramitação do Projeto do REBRAFC na Comissão de Pesquisa e Ética de cada um dos Centros envolvidos. A Comissão de Pesquisa e Ética do Pneumologia Paulista Vol. 25, No.15/2011 Aspectos Demográficos • Nome • Nome da mãe • Número do CPF • Data e local de nascimento Aspectos do Diagnóstico • Data do diagnóstico • Condiçõespara o diagnóstico • Valores de tripsinogênioimunorreativo, dosagem de cloro no suor, mutações identificadas Dados Clínicos • Atualizados anualmente • Número de consultas • Dados nutricionais e funcionais • Tratamentosatuais • Dados microbiológicos • Escore de Schwachman-Kulczycki Hospital das Clínicas da FMUSP foi a primeira a apreciar o projeto e sua aprovação pode ser utilizada pelos Centros que não dispõem de Comissão de Ética local, entretanto a obtenção de consentimento informado de cada um dos pacientes ou seus responsáveis foi definida como obrigatória. Para facilitar a apresentação da ideia do REBRAFC para os pacientes e seus responsáveis Pneumologia Paulista Vol. 25, No.15/2011 fornecemos um folheto informativo ilustrado contendo explicações e dúvidas frequentes (Figura 2). A plataforma foi aberta à inserção de dados em março de 2010, mas poucos Centros o fizeram de forma sistemática nos primeiros meses. Durante o Congresso Brasileiro de Fibrose Cística em setembro de 2010, decidimos montar um estande do GBEFC voltado para mostrar a plataforma de 9 Internet, celebrar contratos com Centros ainda não incluídos, fornecer os documentos de apoio à iniciativa e tirar dúvidas dos diversos profissionais acerca do funcionamento do REBRAFC. Além disso, um apoio financeiro incondicional foi prestado pela empresa farmacêutica Roche, que promoveu um prêmio para os Centros com maior inserção de dados e disponibilizou uma verba de apoio a digitadores – estas iniciativas foram o estopim da entrada crescente de dados, e chegamos ao fim de 2010 com cerca de 1300 pacientes registrados, o que acreditamos representar cerca de um terço da casuística nacional. entretanto, é a produção de artigos científicos com as informações depositadas no REBRAFC, contemplando na autoria coletiva todos os colegas participantes da iniciativa; esta tarefa já está em andamento com os dados de seguimento ano 2009, depositados durante o ano 2010. Estamos certos ainda que as informações do REBRAFC poderão ser de grande valia no planejamento de novos estudos epidemiológicos ou de intervenção terapêutica, e somente conhecendo a situação dos pacientes brasileiros será possível pensar numa atuação nacional uniforme no diagnóstico e tratamento desta condição. Futuros desafios Referências Bibliográficas Muito trabalho ainda existe pela frente, para que possamos colocar esta engrenagem a girar de forma contínua e independente. Os principais desafios referem-se à obtenção de recursos financeiros, ao gerenciamento da plataforma (incluindo a adesão dos profissionais ao REBRAFC) e à geração de conhecimento com os dados armazenados. Como qualquer iniciativa que depende de pessoas e recursos de hardware e software, é preciso dinheiro para manter o REBRAFC funcionando. Atualmente o custo mensal de manutenção e desenvolvimento do sistema gira ao redor de R$ 5.000,00, mas este valor nada representa frente às demandas dos diversos Centros de financiamento para digitadores e auxiliares e investimento em infra-estrutura de informática e acesso à internet. O GBEFC tem sido o responsável por todos os custos e iniciativas do REBRAFC, e claro que há um forte apoio das indústrias farmacêuticas para que estes recursos sejam obtidos. Se por um lado há uma perspectiva de se pagar este custo com recursos do Estado, por outro lado consideramos que o controle destas informações deve ser o mais independente possível e distante de eventuais manipulações com fins políticos. Neste sentido, a participação de mais profissionais no gerenciamento e desenvolvimento do REBRAFC é fundamental para que tenhamos uma atividade verdadeiramente representativa e plural. Além disso, estamos certos de que mais cérebros pensando juntos vão contribuir muito com ideias de melhorias para a plataforma, que poderia vir a ser o embrião de um prontuário eletrônico para atendimento a pacientes com FC. Infelizmente tivemos grandes dificuldades para conseguir a adesão de alguns Centros, que não participaram ativamente por questões operacionais locais ou simplesmente por não confiarem na instituição responsável pelo REBRAFC (GBEFC). Esperamos uma nova onda de adesões para este ano, com a divulgação do 1o Relatório Anual do REBRAFC, que pretendemos distribuir em todo o território nacional. Por fim, a produção de conhecimento a partir do REBRAFC é outro desafio que temos pela frente; vários pesquisadores já demonstraram interesse em realizar estudos com os dados armazenados, mas o fluxo de autorizações e as regras para avaliação e encaminhamento destas propostas de estudo ainda não estão definidos. Uma tarefa que temos pela frente, 1. 10 Ratjen F, Doring G. Cystic fibrosis. Lancet 2003 Feb 22;361(9358):681-9. 2. Govan JR, Deretic V. Microbial pathogenesis in cystic fibrosis: mucoid Pseudomonas aeruginosa and Burkholderia cepacia. Microbiol Rev 1996 Sep;60(3):539-74. 3. Raskin S, Phillips JA, III, Krishnamani MR, Vnencak-Jones C, Parker RA, Rozov T, et al. DNA analysis of cystic fibrosis in Brazil by direct PCR amplification from Guthrie cards. Am J Med Genet 1993 Jul 1;46(6):665-9. 4. Raskin S, Philips JA, III, Krishnamani MR, Vnencak-Jones C, Parker RA, Dawson E, et al. Regional distribution of cystic fibrosis-linked DNA haplotypes in Brazil: multicenter study. Hum Biol 1997 Feb;69(1):75-88. 5. Raskin S, Phillips JA, Kaplan G, McClure M, VnencakJones C, Rozov T, et al. Geographic heterogeneity of 4 common worldwide cystic fibrosis non-DF508 mutations in Brazil. Hum Biol 1999 Feb;71(1):111-21. 6. Proctor SJ, Taylor PR. A practical guide to continuous population-based data collection (PACE): a process facilitating uniformity of care and research into practice. QJM 2000 Feb;93(2):67-73. 7. Glover GR. A comprehensive clinical database for mental health care in England. Soc Psychiatry Psychiatr Epidemiol 2000 Nov;35(11):523-9. 8. Singh G. Arthritis, Rheumatism and Aging Medical Information System Post-Marketing Surveillance Program. J Rheumatol 2001 May;28(5):1174-9. 9. Mukerjee D, St GD, Coleiro B, Knight C, Denton CP, Davar J, et al. Prevalence and outcome in systemic sclerosis associated pulmonary arterial hypertension: application of a registry approach. Ann Rheum Dis 2003 Nov;62(11):108893. 10. Cystic Fibrosis Foundation. Cystic Fibrosis Foundation Patient Registry Annual Report 2006. Bethesda, Maryland, USA; 2007. 11. Strobl J, Enzer I, Bagust A, Haycox A, Smyth R, Ashby D, et al. Using disease registries for pharmacoepidemiological research: a case study of data from a cystic fibrosis registry. Pharmacoepidemiol Drug Saf 2003 Sep;12(6):467-73. 12. Macri CN, de Gentile AS, Manterola A, Tomezzoli S, Reis FC, Largo G, I, et al. Epidemiology of cystic fibrosis in Latin America: preliminary communication. Pediatr Pulmonol 1991;10(4):249-53. Luiz Vicente Ribeiro Ferreira da Silva Filho [email protected] Pneumologia Paulista Vol. 25, No.15/2011 Tosse crônica em pediatria AUTORA: Lidia Alice G. M. M. Torres1 SERVIÇO: Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - USP 1 Mestre e Doutora em pediatria. Responsável pelo serviço de Pneumologia Pediátrica do Departamento de Puericultura e Pediatria Introdução Etiologia A tosse é um dos sintomas mais frequentes em pediatria. Atinge todas as faixas etárias e é manifestação de várias doenças. De acordo com a definição mais recente, é o quadro que se arrasta por oito semanas ou mais e os múltiplos fatores etiológicos podem se somar ou modificar, ocorrendo alguns episódios de agudização durante a evolução.1,2 Apesar de considerado um quadro de difícil resolução, os estudos de literatura mostram que com uma investigação racional e ordenada, chega-se ao esclarecimento diagnóstico na maioria dos casos.2 Há poucos dados estatísticos sobre as causas da tosse crônica e esses variam com o local e a faixa etária. A história clínica é fundamental: as características da tosse, tempo de início, se houve modificação no padrão de tosse e se há história familiar de atopia, se houve melhora com algum tratamento e se existe algum fumante ou tossidor crônico no ambiente.4 Funções da tosse A tosse é o principal mecanismo de defesa inespecífico do aparelho respiratório, eliminando bactérias, muco e material particulado que se depositam ao longo da traquéia e brônquios; evita que o alimento penetre no aparelho respiratório e a hiperdistensão das vias aéreas prevenindo sua ruptura. Fisiologia O objetivo é gerar um fluxo de ar em alta velocidade varrendo toda a árvore traqueobrônquica. Isso é obtido por meio de uma inspiração profunda, seguida por fechamento das cordas vocais, glote e epiglote. Em seguida há o relaxamento do diafragma, com contração dos músculos intercostais e abdominais, o que gera uma pressão de mais de 300 mmHg. Ocorre então, abertura súbita da glote, com expulsão do material presente na traquéia e brônquios. A velocidade atingida nesse processo é a de ¾ da velocidade do som e provoca o colabamento da parte não cartilaginosa da traquéia. Esse efeito desloca a secreção dos sulcos entre os anéis.3 O estímulo para aparecimento da tosse vem de receptores que se localizam desde a faringe até os bronquíolos respiratórios. A via aferente é dada pelo vago e glossofaríngeo e o centro de integração desse reflexo é o chamado centro da tosse, localizado na ponte e tronco superior. A via aferente ocorre por meio do vago, frênico, nervos motores espinhais para a laringe, diafragma, músculos torácicos, abdominais e do assoalho pélvico. Pneumologia Paulista Vol. 25, No.15/2011 Etiologias mais frequentes 1. Rinite alérgica: O mecanismo principal seria pela respiração bucal e aporte de ar ressecado às vias aéreas, com estimulação dos receptores extratorácicos causada tanto pelo gotejamento pós-nasal quanto pelo processo inflamatório presente no local.4,5 É um tipo de tosse seca, irritativa, que ocorre no início do sono da criança. Não costuma ser um quadro grave, nem evoluir com piora, a não ser que haja complicações. O tratamento consiste no uso de antihistamínicos e/ou instituição de medicação profilática para rinite como antihistamínicos, corticosteróides inalatórios ou antileucotrienos. 2. Rinossinusite: À obstrução nasal e coriza somam-se outros sinais como cefaléia, otite média secretora e gotejamento pós-nasal mais intenso.5 A tosse inicia-se seca, mais intensa no início do sono e evolui para produtiva ou rouca e pode passar a incessante. Pode estar associada a quadros de laringite e bronquite, pela extensão do processo inflamatório e pode desencadear uma crise de asma. Embora o diagnóstico de sinusite seja clínico, a infecção é provável quando o Rx mostra velamento unilateral ou nível líquido e em alguns casos está indicada a nasofibroscopia e até tomografia para melhor elucidação. O tratamento, quando comprovada infecção, além dos citados para a rinite alérgica é antibioticoterapia por 15 a 20 dias, dependendo do tempo de evolução. 3. Asma: A tosse na asma tanto pode fazer parte da sintomatologia intercrítica quanto pode ser a forma de apresentação: asma variante tosse.6 No primeiro caso, pode se apresentar durante ou após a realização do exercício físico ou durante a noite e no início da manhã, mas a criança também apresenta as crises clássicas. O segundo caso é um quadro mais frequentemente encontrado em crianças maiores, quando somente a tosse persiste. Tem sido descrito que 11 esses pacientes teriam uma resposta de hipersensibilidade à mesma, com alterações de osmolaridade ou mecanismos relacionados a receptores neurológicos, superajuntados ao processo inflamatório alérgico que leva à broncoconstrição.7 É considerado um quadro de risco, já que o tratamento é retardado e aumenta o risco de distensão das vias aéreas e remodelamento. Em casos de tosse crônica, em crianças maiores que seis anos, é obrigatória a realização da espirometria, que pode documentar a presença de obstrução brônquica.8 Em lactentes, o diagnóstico definitivo baseiase na presença de história familiar e pessoal de atopia e asma, confirmado pela resposta positiva ao tratamento de prova. 4. Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE): O mecanismo principal de tosse é aspiração do material gástrico levando a atelectasia e pneumonia, mas se o aspirado for menor que 01mL provoca inflamação brônquica e peribrônquica, de evolução silenciosa e que pode culminar em pneumonite intersticial e bronquiolite obliterante.9 O segundo mecanismo seria por estímulo de receptores irritantes localizados na traquéia e brônquios, em que a queda de pH levaria a um quadro de espasmo laríngeo ou traqueal para evitar a entrada do alimento nos pulmões. Nesses casos, a tosse costuma ser súbita, alta, estridente e em algumas situações pode ocorrer um quadro agudo de asfixia. No terceiro mecanismo, existe uma ação irritativa à distância, onde a presença de material ácido no esôfago leva à broncoconstrição à distância.10 Isso também poderia ocorrer por estímulo dos receptores térmicos, de estiramento ou de pH, existentes na mucosa, levando a broncoconstrição reflexa.11 A esofagite também é descrita como causadora de hiperreatividade brônquica, mas é importante considerar que os sintomas respiratórios têm maior relação com a falta de clareamento esofágico do que com o número de episódios.12 Podem ocorrer ainda rinite, sinusite e otite crônica ou recorrente, por ação direta do material refluído. Todos esses eventos podem modificar a tosse. Cinquenta a 75% dos casos de refluxo evoluem sem sintomas gastrintestinais, o que dificulta o diagnóstico; entretanto tem sido descrita maior gravidade de lesões por refluxo alcalino e maior chance de infecção.13-15 A pHmetria é o exame de escolha, mas também deve ser realizada a seriografia do esôfago, estômago e duodeno (SEED) para descartar alterações anatômicas. Nos sintomas altos, a nasofibroscopia pode fornecer informações mais precisas. 5. Outras síndromes aspirativas: A tosse ocorre por ação irritativa direta do alimento ou por causar pneumonia, rinite, sinusite e otites de repetição. Os distúrbios de deglutição são freqüentes em crianças com neuropatias ou com anormalidades anatômicas como fístulas traqueoesofágicas, fendas submucosas, micrognatia, macroglossia, atresia de coanas, mas também podem ocorrer em menor grau e com menor freqüência em hipertrofia acentuada de amígdalas ou adenóides, sondas de alimentação enteral ou entubação orotraqueal prolongada. É preciso lembrar que a correção da atresia de esôfago deixa como sequela uma incoordenação 12 da motilidade e dificuldade de esvaziamento esofagiano com RGE, mas nesse caso, a pHmetria não tem se mostrado um bom instrumento diagnóstico16, sendo a SEED o exame de escolha. O hábito de alimentar a criança adormecida e/ou deitada também pode ser causa de tosse, já que a criança sonolenta perde os mecanismos de proteção contra a penetração na laringe ou refluxo nasal, ocasionando rinite ou sinusites de repetição. 6. Infecções crônicas: A Chlamidia trachomatis (lactentes) e Chlamidia pneumoniae e Mycoplasma pneumoniae (>5 anos) podem levar à tosse crônica e seca, irritativa, acompanhada de velamento reticulado bilateral presente no RX de tórax. A febre pode fazer parte do quadro e a sorologia com detecção de IgM anti-clamidia está associada à tosse com mais de 3 meses de duração.17 A bronquiolite viral pode ter uma evolução arrastada e também é causa de tosse crônica associada à hiperreatividade.18 A tuberculose costuma evoluir com tosse de mais de oito semanas de duração, febre, perda de peso, sudorese noturna e inapetência e a tosse pode ocorrer por lesão parenquimatosa ou compressão ganglionar. 7. Bronquiolite obliterante: descrita como complicação de uma bronquiolite viral, também pode estar associada a processos de agressão ao parênquima pulmonar tais como DRGE, inalação de vapores e gases tóxicos, uso de oxigênio em longo prazo, aspirações, doenças do colágeno e uso de quimioterápicos. A tosse e a sibilância são perenes, mas ocorrem exacerbações, às vezes com necessidade de uso de oxigênio. A patologia mostra de um processo inflamatório endobrônquico ou peribrônquico que obstrui as vias aéreas e só é reversível com uso de corticóide em longo prazo ou pulsoterapia. Geralmente evolui ou vem acompanhada de bronquectasias.9,18 A persistência de velamento pulmonar ou de áreas de hiperinsuflação localizada no RX são sugestivas do quadro e devem ser confirmadas pela tomografia de tórax de alta resolução (TCAR). 8. Bronquectasias: Podem ser de causas congênitas, genéticas (fibrose cística, discinesia ciliar) ou associadas aos processos de agressão pulmonar, mas certamente é uma doença subestimada. A tosse com expectoração esverdeada é matinal e sem relação com esforço físico. Geralmente responde mal aos antitussígenos, antialérgicos e broncodilatadores, mas apresenta melhora com uso de antibióticos e fisioterapia, e em alguns casos está indicado o uso de fluidificantes. As causas pós infecciosas tem diminuído de incidência após as vacinações em massa, mas ainda é freqüente nos países em desenvolvimento. 17 O diagnóstico é obtido pela TCAR, sendo a espirometria útil apenas para seguimento. 9. Compressão extrínseca: Pode ser causada por tumores mediastinais que são classificados didaticamente de acordo com a sua localização. Cistos tímicos ou timomas e linfomas são anteriores e superiores, ao passo que os tumores de células germinativas e neuroblastomas localizam-se no mediastino posterior. As anomalias vasculares mais Pneumologia Paulista Vol. 25, No.15/2011 importantes são o arco aórtico à direita com ligamento arterioso à esquerda e o duplo arco aórtico, Outra causa de tosse de difícil diagnóstico e resolução é a presença de corpo estranho esofágico ou dilatação do órgão, afetando a traquéia adjacente. Geralmente provocam tosse metálica, estridente, repetitiva e desencadeada por mudança de posição. Obviamente, o tratamento medicamentoso é ineficaz e a evolução pode ocorrer com aparecimento de bronquectasias, pela dificuldade de drenagem da secreção. A suspeita é feita na análise da SEED e confirmada pela angioressonância ou angiotomografia de tórax. 10. Drogas: Os betabloqueadores provocam tosse crônica por broncoconstrição. Já os inibidores da enzima conversora de angiotensina, também causam tosse, mas o mecanismo não é conhecido. A utilização de quimioterápicos antineoplásicos em doses crescentes tem aumentado a ocorrência de pneumopatias crônicas. Podem desencadear quadros de pneumonite intersticial e/ou doença bronquiolar, sendo a bleomicina a principal incriminada. As lesões persistem após o término do tratamento e muitas podem ser irreversíveis. Entre as drogas inaladas ainda devem ser lembradas a maconha e o cigarro, por consumo próprio ou por exposição passiva, que podem levar à hiperreatividade brônquica, agindo também como irritantes inespecíficos. A retirada dessas drogas pode levar à melhora do quadro. 11. Mecanismos de defesa prejudicados: entre esses, o quadro mais comum é a chamada tosse ineficaz.20 Ocorre por perda de força muscular, hipotonia, traqueostomia, paralisia de cordas vocais ou de diafragma e deformidade torácica. Nessas situações, as secreções do aparelho respiratório não conseguem ser eliminadas, passando a obstruir os brônquios e a facilitar o aparecimento de bronquectasias. 12. Tosse psicogênica: Normalmente deve ser considerado como um diagnóstico de exclusão e só deve ser aventada quando outras causas tenham sido descartadas. É uma tosse rouca, de alto timbre, estridente, seca e nunca ocorre durante o sono nem em acessos, ao contrário da maioria dos quadros. Quando é emitida a criança observa o efeito causado sobre as pessoas que a rodeiam. Geralmente diminui quando o fator de stress desaparece, mas também é descrita uma boa resposta à psicoterapia e hipnose. A criança deve ser tranqüilizada, deixando-se claro que está sendo tratada e de que não se trata de nada grave.21 13. Anomalias congênitas: Várias malformações podem ocasionar tosse e algumas delas inclusive no período além do de lactente, pois alterações do tipo seqüestro pulmonar ou malformações adenomatóide cística podem passar a ser sintomáticas posteriormente. Entretanto, algumas são características nos primeiros meses de vida, como a laringotraqueomalácia, o enfisema lobar congênito e alguns cistos broncogênicos. A fístula traqueoesofágica em H pode ser muito pequena, e tanto pode ter manifestações precoces como tardias. Em alguns casos pode ser difícil o diagnóstico, passando a criança a ter velamento pulmonar mantido e quadros de sibilância repetidos e graves, com lesões progressivas. Nas anomalias congênitas a tosse pode ter origem variada, podendo ser causada tanto por compressão extrínseca, quanto por obstrução brônquica, ou ambos os mecanismos.22 A TCAR é o exame de escolha, após a suspeita do RX. 14. Disfunção de cordas vocais: é uma manifestação comum em alguns pacientes adultos e adolescentes, em que se observa um movimento paradoxal de cordas vocais, com fechamento durante a inspiração. Esse quadro está associado a disfunções laríngeas com disfonia, aumento do reflexo glótico e redução do fluxo inspiratório após provocação, além do movimento paradoxal. Pode estar associado a outras doenças respiratórias tais como asma e doença do refluxo gastroesofágico e o diagnóstico é feito por meio de laringoscopia. Nos casos de alteração puramente das cordas vocais, observa-se boa resposta à fonoterapia.23 Tratamento Deve ser sempre dirigido à doença de base, evitando-se a utilização de medicamentos sintomáticos. Embora na literatura haja estudos realizados em adultos com bronquite que mostram melhora da tosse com a utilização de brometo de ipratrópio, codeína e dextrometorfano, os estudos em criança são escassos ou inconclusivos e os consensos os consideram não seguros e não devem ser utilizados em crianças.16,24 Os opiáceos, alem do efeito depressor respiratório, causam constipação, náuseas, vômitos e cefaléia, devendo ser Tabela 1 - Distribuição da tosse de acordo com a faixa etária LACTENTE PRÉ-ESCOLAR ESCOLAR E ADOLESCENTE Malformação congênita Fibrose cística Gotejamento pós-nasal (rinite alérgica, sinusite, adenoidite) Asma Gotejamento pós-nasal Aspiração (por distúrbio de deglutição ou por refluxo DRGE Corpo estranho Tosse psicogênica Fumo (passivo ou ativo) gastroesofágico) Infecção (viral, chlamidia, Asma Fibrose cística Infecção (viral, mycoplasma, pertussis, tuberculose, fúngica) pertussis, raramente tuberculose) Irritantes ambientais (fumante Bronquectasia (pós- infecção, cílios imóveis, secundária à Tumor ou outra lesão localizada Bronquectasias passivo, poluição) Asma doença localizada ou imunodeficiência) DRGE Disfunção de cordas vocais Pneumologia Paulista Vol. 25, No.15/2011 13 evitados em asmáticos, na suspeita de síndrome da apnéia do sono e nos pacientes com idade inferior a 5 anos. O dextrometorfano deprime a atividade ciliar, facilita o acúmulo de secreção e não parece ter uma ação realmente efetiva como antitussígeno.25 Já os pró-tussígenos, como fluidificantes e soluções hipertônicas estão indicados somente em pacientes com secreção anormalmente espessa, pois podem causar dificuldade na eliminação do muco, que fica muito fluido e dificulta o batimento ciliar.17 Como visto acima, a tosse que cursa com aumento de secreção não deve ser sedada. Deve-se fluidificar as secreções por meio da hidratação oral, inaloterapia e fisioterapia para facilitar a expectoração e para que os acessos de tosse se tornem mais curtos e menos frequentes. A inalação visa hidratar as secreções das vias aéreas superiores onde a maioria das partículas da solução inalada fica retida, podendo amenizar o processo inflamatório. Através dessa via é possível a veiculação de drogas β2- adrenérgicas, indicadas na asma e que também aumentam o batimento ciliar facilitando a eliminação das secreções. O brometo de ipratrópio, através da sua ação colinérgica, resseca e diminui as secreções. Outra medida para eliminar o muco é a fisioterapia respiratória. As sessões devem ser realizadas antes das refeições e de dormir, como mecanismo adjuvante ao tratamento específico da tosse, principalmente se produtiva. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. Conclusão Tosse crônica é um sintoma frequente e restritivo na criança e pode estar associado a várias doenças, inclusive algumas graves e de difícil controle. A busca da etiologia deve ser diligente, mas pode ser obtida na maioria dos casos por meio da história clínica e exames usuais, e isso é fundamental para o sucesso do tratamento, que deve visar a correção do processo de base. Tudo que afeta o aparelho respiratório pode causar tosse, mas atenção especial deve ser dada à rinite alérgica, sinusite, DRGE e Asma. Nos casos de tosse crônica a utilização de antitussígenos e expectorantes está formalmente contraindicada, preferindo-se a fluidificação das secreções por aumento da ingesta de água, inaloterapia e fisioterapia, até que o tratamento etiológico mostre resultados. Referências Bibliográficas 1. 2. 3. 4. 5. 14 A.H. Morice. Chronic cough: epidemiology. Chron Respir Dis. 2008; 5(1): 43-47. Shields MD, Bush A, Everard ML, McKenzie S, Primhak R and the British Thorax Society Cough Guideline Group et al. Recommendations for the assessment and management of cough in children. Thorax. 2008; 63(Suppl III): iii1-iii5. Black P. Evaluation of chronic or recurrent cough. In Hilman, B. Pediatric Respiratory Disease, Philadelphia, WB Saunders, first edition, 1993. Bucca CB, Bugiani M, Culla B, Gueda G, Heffler E Mielta S et al. Chronic cough and irritable larynx. 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Torres [email protected] Pneumologia Paulista Vol. 25, No.15/2011 Asma nos lactentes e pré-escolares: diagnóstico, fenótipos e relevância destes para o tratamento AUTORES: Eduardo Ferone1, Bernardo Kiertsman2 SERVIÇO: Serviço de Pneumologia Pediátrica – Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo – Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. 1 Pós-graduando Professor Adjunto e Chefe do Serviço de Pneumologia Pediátrica 2 Introdução A época da vida correspondente aos estágios dos lactentes e pré-escolares, delimitada entre os 0-2 anos e os 3-5 anos, respectivamente, é marcada por experiências próprias deste período do desenvolvimento. Os pulmões ainda não completaram sua maturação, iniciada precocemente na gestação e extendida até os oito anos de idade 1 , podendo ocorrer alterações na sequência do desenvolvimento por algum evento concomitante indesejado. O sistema imunológico do indivíduo passa por uma fase de imaturidade imune adaptativa. A memória imunológica, que se refere ao conjunto de anticorpos e linfócitos T específicos formados através de experiências com diferentes antígenos ao longo da vida, ainda está por se estabelecer. A quantidade e a qualidade das imunoglobulinas produzidas são inferiores às de crianças mais velhas e de adultos, o que aumenta a susceptibilidade para infecções respiratórias e suas comorbidades associadas.2 Além disso, a imaturidade de elementos do sistema imune facilita respostas atópicas nas crianças.3 Por sua vez a asma, que é a doença crônica mais comum na infância, resulta de interações entre estes dois importantes sistemas, o respiratório e o imunológico.4 Sua principal característica fisiopatogênica é a inflamação brônquica, que está presente em todos os asmáticos, sintomáticos ou não. A asma pode ser definida como uma doença inflamatória crônica das vias aéreas que envolve episódios recorrentes de obstrução ao fluxo de ar e hiperresponsividade brônquica, variáveis para diferentes pacientes e para um mesmo paciente ao longo do tempo.5 Apesar de poder manifestar-se também em indivíduos com ausência de características próprias dos alérgicos, através de mecanismos ainda não completamente elucidados, a predisposição genética para o desenvolvimento de resposta IgE mediada é um importante fator associado ao desenvolvimento de asma em todas as idades.6,7 Ela é mais comum em crianças com história familiar de atopia8, porém, muito possivelmente a predisposição Pneumologia Paulista Vol. 25, No.15/2011 genética incluindo vários genes aliada a gatilhos ambientais e biológicos, como por exemplo, infecções9, alérgenos10 e alterações hormonais em mulheres11, convergem de alguma maneira para o desenvolvimento da doença.5 A asma constitui a terceira causa de hospitalização pelo Sistema Único de Saúde no Brasil12, e segundo o grande estudo multicêntrico internacional ISAAC (International Study of Asthma and Allergies in Childhood), a prevalência entre escolares (seis e sete anos) e adolescentes (treze e catorze anos) em nosso meio manteve-se estável na última década, em torno de 20%.13 Dados da prevalência da asma entre lactentes e pré-escolares são escassos, em grande parte devido à dificuldade em estabelecer o diagnóstico de certeza. O quadro clínico nessa faixa etária se confunde com o de uma série de outras entidades patológicas e também com algumas situações, de certa forma, fisiológicas e próprias da idade, como a fragilidade da caixa torácica que favorece o colapso das vias aéreas nos pequenos lactentes.14 A sibilância ou chiado recorrente nessas crianças pode resultar de diferentes situações, sendo que a maioria dos lactentes sibilantes não continuará a ter crises na idade escolar, isto é, não será asmática.15 Pesquisas apontam que mais de um terço das crianças menores de três anos apresentam pelo menos um episódio de chiado16 e sabe-se que grande parte dos eventos acompanhados por sintomas de asma nestas crianças tem origem infecciosa viral e, portanto, são transitórios. Além disso, outras condições predispõem à sibilância recorrente como o tabagismo materno na gestação17 e o pequeno calibre das vias aéreas aquém da média em alguns lactentes16, situação que tende à resolução com o crescimento pulmonar. Padrões de sibilância recorrente em pacientes pediátricos: os fenótipos de sibilância A partir da observação da história natural de crianças que iniciaram muito cedo episódios recorrentes de chiado, foram propostos quatro padrões diferentes de fenótipos de 15 sibilância18,19: 1-Sibilância transitória: crianças que chiam durante os 23 primeiros anos de vida, mas não depois dos três anos; 2-Sibilância não atópica: principalmente desencadeada por infecção viral e que tende à remissão mais tarde na infância; 3-Asma persistente: sibilância recorrente associada a um índice clínico preditivo para asma positivo (ver adiante) 4-Sibilância grave intermitente: episódios agudos de sibilância infrequentes e associados à: - mínima morbidade fora das exacerbações - características atópicas, incluindo eczema, sensibilização alérgica e eosinofilia no sangue periférico. Vale ressaltar que os dois primeiros fenótipos acima descritos podem ser identificados apenas retrospectivamente. Estes estudos resultaram em uma guia para a prática clínica formulada por especialistas das academias européia e norte americana de alergia e imunologia20, segundo a qual, nos lactentes, a persistência dos sintomas é um importante indicador de gravidade e havendo sibilância na maior parte do tempo em um período de três meses, o diagnóstico de sibilância persistente deve ser considerado, após exclusão de outras causas. Em pacientes com menor frequência de exacerbações, também é possível avaliar a gravidade a partir da observação da necessidade de recursos médicos no manejo das crises. Já para os pré-escolares, a diferença entre os fenótipos se dá basicamente a partir da observação da persistência durante o último ano. Assim sendo, e não deixando de classificar cada um dos seguintes fenótipos quanto à gravidade, a apresentação da doença permite diferenciar a asma nos pré-escolares em: induzida por vírus, induzida por exercício, induzida por alérgenos e asma não alérgica. A asma grave apresenta características próprias que a definiriam como um fenótipo em particular: nos lactentes, a doença persistente deveria ser considerada grave, enquanto nas crianças mais velhas, exacerbações graves seriam aquelas que exigem oxigênio e hospitalização. Diagnóstico de asma Estudos demonstram que um elevado percentual das crianças asmáticas desenvolve sintomas antes do quinto ano de vida21, idade em que o diagnóstico clínico geralmente pode ser feito com maior grau de certeza, uma vez que o indivíduo já atingiu certa maturidade dos órgãos e sistemas envolvidos. O diagnóstico e tratamento precoces promovem melhora da sintomatologia e reduzem o número de exacerbações sem alterar a história natural da doença.22,23 Para estabelecer o diagnóstico clínico, devem-se buscar evidências de uma ou mais manifestações compatíveis com asma que podem ser pesquisadas através da anamnese dirigida pela faixa etária. Segundo o documento Practall20, para crianças menores de dois anos o diagnóstico de asma deve ser considerado a partir de três episódios de obstrução reversível nos últimos seis meses. Para essa idade é relevante questionar sobre: 16 Respiração ruidosa, vômitos associados à tosse Presença de retrações Dificuldades para se alimentar (grunhidos, sucção débil) Mudanças na frequência respiratória Para crianças maiores de 2 anos, pesquisar: Respiração curta (durante o dia ou noite) Fadiga (redução nas brincadeiras em relação aos colegas, aumento da irritabilidade) Queixas de “não se sentir bem” Baixo rendimento escolar ou faltas Redução na frequência ou intensidade de atividades físicas Prevenção de atividades (ex. dormir fora, visitar amigos que tenham animais de estimação) Gatilhos específicos: esportes, aulas de ginástica, exercícios/ atividades E para todas as crianças com suspeita de asma ainda sugere-se averiguar: Tosse, chiado Gatilhos específicos: tabagismo passivo, poeira, infecções respiratórias entre outros Padrão de sono alterado: despertares, tosse noturna, apnéia Exacerbações no último ano Sintomas nasais: prurido, coriza, obstrução Rotineiramente, o diagnóstico não é confirmado pela demonstração de limitação variável ao fluxo de ar através das medidas da função pulmonar, uma vez que esse tipo de avaliação a partir dos aparelhos convencionais exige colaboração do paciente para a realização das manobras, alcançada por volta dos 6 anos de idade.24 Através da anamnese é possível pesquisar a exposição a alérgenos relacionados com a asma. A sensibilização pode ser estudada a partir de testes in vivo (prick test) ou in vitro (concentração sanguínea de IgE específica) em qualquer faixa etária25, consideradas as devidas limitações, porém com resultados menos fidedignos abaixo dos dois anos de idade, quando os níveis de IgE específica são menores e existe hiporreatividade da pele à histamina.2 Uma vez que ainda não há marcadores laboratoriais ou genéticos capazes de prever o prognóstico de uma criança que apresenta sibilância recorrente, outras tentativas de antecipar um prognóstico foram buscadas. Baseando-se em parâmetros clínicos, foi proposto um índice preditivo de asma a partir da observação de mais de mil crianças desde o nascimento em conjunto com seus familiares, capaz de prever o desenvolvimento futuro de asma com elevadas sensibilidade e especificidade.8 Segundo seus autores, para ser positiva para este índice, a criança deveria apresentar relatos de sibilância recorrente no ano anterior (4 ou mais episódios) e UM de DOIS critérios maiores (diagnóstico Pneumologia Paulista Vol. 25, No.15/2011 médico de dermatite atópica ou diagnóstico médico de asma em um dos pais ou em ambos) ou DOIS critérios menores (eosinofilia em sangue periférico, sibilância fora de resfriados ou diagnóstico médico de rinite alérgica). Com o avanço das pesquisas, incluindo resultados de estudos de coorte com mais de vinte anos de observações, foram adicionados a este índice outros parâmetros relevantes que podem melhorar ainda mais a previsão do risco de asma futura, como por exemplo, a evidência de sensibilização precoce a aeroalérgenos e alimentos.26,27 Tratamento A decisão de iniciar um tratamento de manutenção para lactentes e pré-escolares com recorrência de sintomas de asma deve se basear na relação risco-benefício do tratamento para cada caso, uma vez que o diagnóstico de certeza de asma é, inúmeras vezes, difícil de fechar. Grande parte das recomendações para o tratamento de asma nessas faixas etárias é baseada em dados obtidos a partir de crianças mais velhas ou mesmo dos adultos. Tendo em vista este cenário, o tratamento pode assumir um caráter de teste terapêutico e não havendo melhora do quadro dentro de 8-12 semanas, deve-se revisar a hipótese de asma, reconsiderar outras possibilidades diagnósticas e, em determinadas ocasiões, até mesmo repetir a tentativa de tratar como asma num segundo momento.28 Segundo o Programa Nacional de Educação e Prevenção da Asma dos Estados Unidos (National Asthma Education and Prevention Program - NAEPP)5, baseado em extensas revisões de literatura, iniciar o tratamento profilático: - é recomendado para crianças com significativa propensão para o diagnóstico de asma (com um índice clínico preditivo de asma positivo) (Evidência A) - deve ser considerado para reduzir os danos em lactentes e crianças jovens que consistentemente requerem tratamento sintomático mais de duas vezes por semana por um período maior do que quatro semanas (Evidencia D) - deve ser considerado para reduzir o risco em lactentes e crianças jovens que venham a ter uma segunda exacerbação que exija corticóide sistêmico para tratamento em um período de seis meses (Evidencia D) - pode ser considerado, para uso apenas durante os períodos previamente documentados como de risco para a criança (Evidência D), por exemplo, possivelmente durante as estações de elevada frequência de infecções respiratórias das vias aéreas superiores - é recomendado para crianças maiores de cinco anos com diagnóstico de asma persistente (Evidência A) O documento Practall relaciona de um modo semelhante o fenótipo de apresentação dos episódios de sibilância com o tratamento profilático de escolha. Para menores de dois anos, sugere os antagonistas de receptores de leucotrienos como primeira opção para o tratamento da sibilância recorrente induzida por vírus, enquanto ressalta os corticóides inalatórios como a opção mais indicada para o Pneumologia Paulista Vol. 25, No.15/2011 tratamento da asma persistente e também na evidência de atopia. Para crianças entre 3-5 anos, a primeira opção de tratamento recai sobre os corticóides inalatórios, podendo os antileucotrienos serem utilizados como monoterapia em casos mais leves ou associados aos corticosteróides inalatórios, quando não é alcançado o controle. Já na asma induzida por exercícios, caso este seja o único sintoma, o uso de broncodilatadores de curta duração 10-15 minutos antes da atividade pode prevenir o broncoespasmo, mas havendo outras manifestações associadas seria mais indicado iniciar profilaxia com corticóides inalatórios de uso contínuo ou antileucotrienos. O principal objetivo do tratamento da asma é obter o controle das manifestações clínicas e funcionais da doença melhorando a qualidade de vida do paciente, em detrimento de sua cura ou prevenção total dos sintomas, uma vez que o início precoce do tratamento profilático parece não alterar a gravidade subjacente ou a progressão da asma. 22 A estratégia básica é tratar prontamente as exacerbações e, quando necessário, instituir um tratamento profilático de manutenção na menor dose necessária para o controle dos sintomas, com recursos farmacológicos atuais que frequentemente conduzem a um elevado grau de controle da doença, mesmo em menores de cinco anos.28 Conforme proposto pelo NAEPP, o manejo da asma pode ser organizado em etapas (quadro 1), diferentes entre si pela complexidade dos recursos utilizados, e que devem ser aplicadas conforme exigido pela variabilidade das condições de controle do paciente, ora subindo, ora descendo na escala de tratamento, a cada reavaliação periódica (em média a cada 3 meses, ou a critério individual). A classificação da gravidade é importante na abordagem inicial do paciente que ainda não recebe tratamento profilático, uma vez que vai indicar o esquema terapêutico mais adequado para alcançar o controle no menor prazo possível (Quadro 2). O acompanhamento seriado de marcadores inflamatórios (Ex: óxido nítrico exalado) é uma forma útil de monitorar o controle da asma, já estudada inclusive em crianças mais jovens29, porém ainda inviável na prática diária. A observação dos parâmetros clínicos permite, de uma maneira mais simples, classificar o nível de controle da doença e a partir daí guiar a conduta a ser escolhida para cada caso, considerando sempre o parâmetro de maior gravidade, conforme exposto no quadro 3. O controle tem sido considerado o ponto central do manejo da asma segundo os guias de recomendações mais recentes, que contam com a opinião de especialistas e evidências científicas bem documentadas.5,20 e 28 Elas diferem muito pouco quanto aos parâmetros clínicos considerados na avaliação do controle, como por exemplo, em relação ao número de exacerbações da asma no último ano: enquanto o NAEPP considera até uma exacerbação por ano compatível com bom controle, o documento Practall aumenta o limite para até 2 exacerbações ao ano, desde que não haja outros sintomas fora das crises. 17 Quadro 1: Abordagem por etapas do manejo da asma em crianças entre 0-4 anos de idade Quadro 2: Classificando a gravidade da asma e iniciando o tratamento em crianças entre 0-4 anos de idade Embora a intenção seja manter o controle da asma por períodos prolongados, devem-se considerar os efeitos adversos potenciais, as interações medicamentosas e o custo dos medicamentos.30 Particularmente em pediatria, devem-se confrontar os possíveis efeitos em longo prazo de uma asma não controlada adequadamente com os possíveis efeitos adversos da medicação administrada por muito tempo. Apesar 18 de potencial, o pequeno risco de atraso do crescimento pelo uso contínuo de corticóides inalatórios parece ser compensado por sua efetividade (Evidência A).22 Além disso, outras pesquisas de longa duração indicam que a maioria das crianças tratadas com as doses recomendadas dos principais corticóides inalatórios atinge sua estatura alvo na idade adulta.31 Pneumologia Paulista Vol. 25, No.15/2011 Quadro 3: Avaliação de controle da asma e ajuste da terapia em crianças entre 0-4 anos de idade - NAEPP – National Asthma Education and Prevention Program / NHLBI – National Heart Lung and Blood Institute. August 28, 2007 Quanto à técnica de uso das medicações para asma em lactentes e pré-escolares, contamos basicamente com os nebulizadores e os inaladores pressurizados acoplados a espaçadores valvulados. Estes dispositivos permitem administrar corticóides inalatórios com ou sem broncodilatadores de longa ação, em regime profilático, e broncodilatadores de curta ação, para alívio das crises, de forma passiva com o auxílio de máscara facial (figura 1). Os inaladores pressurizados acoplados a espaçadores são os mais indicados28 e a partir dos 5-6 anos de idade, técnicas que dispensam o uso de máscaras podem começar a ser treinadas.5 Outra possibilidade terapêutica é a imunoterapia, que consiste na administração controlada de alérgenos específicos para pacientes comprovadamente sensibilizados, com o objetivo de desenvolver tolerância. A imunoterapia sublingual parece ser uma alternativa eficaz em relação à técnica subcutânea, embora a eficácia em crianças menores de cinco anos seja menos documentada.32 Por fim, mas não menos importante, é essencial para o sucesso do tratamento orientar a família sobre a doença, fornecendo informações básicas a respeito da higiene ambiental, fatores desencadeantes, aspectos do tratamento de manutenção e também das crises. Estudos envolvendo crianças demonstram baixa aderência ao tratamento profilático33, possivelmente por falta de informações a respeito da asma. Informar, inclusive por escrito, todos os envolvidos nos cuidados diários da criança asmática, como a creche ou a escola, é uma medida comprovadamente útil para o bom manejo destes pacientes.34 Conclusão A asma na infância precoce é subdiagnosticada e muitos asmáticos deixam de receber o tratamento adequado. Por outro lado, nem todo chiado ou tosse são decorrentes da asma nessa faixa etária, sendo de extrema importância descartar outras condições típicas desta população. Referências Bibliográficas 1. 2. 3. 4. Figura 1: Criança usando MDI com espaçador valvulado e máscara Pneumologia Paulista Vol. 25, No.15/2011 Moore KL, Persaud TVN. O Sistema Respiratório. In:__. Embriologia clínica. Rio de Janeiro, RJ: Guanabara Koogan, 1994: 214-223. Nudelman V, Carvalho BTC, Ejzenberg B, Júnior PR. A criança com infecção de repetição das vias aéreas superiores (rinites, otites, sinusites). In: Vilela MMS, Lotufo JP, coords. Alergia, imunologia e pneumologia. São Paulo, SP: Atheneu, 2004: 37-45. Martinez FD. Maturation of immune responses at the beginning of asthma. J Allergy Clin Immunol 1999;103:355–361. Holt PG, Upham JW, Sly PD. Contemporaneous maturation of immunologic and respiratory functions during early childhood: implications for development of asthma prevention strategies. 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Doutor em Ciências 2 Principais artigos na área de sono em pediatria nos últimos dois anos A síndrome da apneia obstrutiva do sono (SAOS) é caracterizada por obstrução parcial ou completa das vias aéreas durante o sono, levando a hipoxemia, hipercapnia, fragmentação do sono e sintomas diurnos.1 Diferentemente do adulto, a criança com SAOS raramente apresenta sonolência diurna excessiva, sendo mais evidentes as alterações cognitivas,2 déficit de aprendizado3 e problemas de comportamento.2 Só recentemente comprovou-se que a SAOS em crianças e adolescentes ocasiona hipertensão arterial sistêmica,1 disfunção de ventrículo esquerdo4 e alterações endoteliais.5 Nesses últimos anos o conhecimento da SAOS em crianças e adolescentes foi muito ampliado, principalmente no que se refere ao impacto da epidemia da obesidade nas anormalidades metabólicas e na eficácia do tratamento. A seguir são descritos vários estudos que abordam esses temas. (1) Desfechos da Adenotonsilectomia no Tratamento da Apneia Obstrutiva do Sono em Crianças. Um estudo multicêntrico e retrospectivo.6 A adenotonsilectomia (AAT) é considerada como a primeira linha de tratamento para a Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) em crianças segundo a Academia Americana de Pediatria. É indiscutível que a AAT leva à melhora da SAOS, porém existem poucos estudos sobre a eficácia global da AAT e dos fatores que contribuem para a persistência da SAOS após a cirurgia. O objetivo do estudo foi quantificar os efeitos de fatores demográficos e clínicos que possam influenciar o sucesso da AAT no tratamento da SAOS em crianças. Trata-se de estudo retrospectivo realizado em oito centros (seis nos Estados Unidos e dois na Europa). Foram revisadas polissonografias (PSG) realizadas antes e após AAT para tratamento de SAOS em crianças sem outras doenças. Dentre os centros, quatro realizavam os exames Pneumologia Paulista Vol. 25, No.15/2011 rotineiramente em todos os indivíduos submetidos à AAT (82% dos pacientes). Foi avaliada a contribuição dos seguintes fatores para o índice de apneia/hipopneia (IAH) pós-operatório: idade, índice de massa corpórea, asma, IAH pré-AAT, sexo, etnia, tempo entre as duas PSG e rinite alérgica. Foram analisados dados de 578 crianças com idade média de 7 anos. Aproximadamente 50% das crianças eram obesas. A AAT resultou em diminuição do IAH médio de 18 para 4/hora, mas somente 157 crianças (27%) obtiveram resolução completa da SAOS considerando critério de IAH < 1. Cento e vinte e cinco crianças (22%) mantiveram IAH > 5/hora. Os dois principais fatores que influenciaram o IAH pós-cirúrgica foram idade maior que 7 anos e índice de massa corpórea. A presença de asma e a magnitude do IAH préoperatório afetaram discretamente o IAH pós-operatório entre as crianças não obesas. Os autores concluíram que, apesar da melhora significativa do IAH, uma grande proporção de crianças mantém doença residual após a cirurgia. Sugerem que as crianças mais velhas e as obesas e as crianças não obesas portadoras de asma ou SAOS acentuada devam realizar PSG pré e pós-operatória. Embora a AAT seja o tratamento de escolha para a SAOS em pediatria7, sabemos que ela não resulta em cura total numa porcentagem considerável dos casos. Estudos têm sido realizados no sentido de estabelecer as taxas de sucesso cirúrgico e os fatores de risco para falha terapêutica. Neste contexto, o estudo referido é importante devido ao número de casos incluídos e à atualidade e repercussão clínica do tema. A taxa de sucesso encontrada neste estudo é inferior a de outros estudos semelhantes. Meta análise de 20098 encontrou cura de 66% quando considerado o critério de cura especificado por cada estudo (23 estudos) e de 60% quando o critério de cura foi o de IAH < 1 (9 estudos). A diminuição média do IAH foi de 18 / hora. Uma das questões que pode ter influenciado os resultados do presente estudo é o fato de ser um estudo retrospectivo, onde 18% dos 21 pacientes pertenciam a centros que não realizavam PSG pré e pós AAT de rotina. Possivelmente, nesses centros, tenham sido incluídos pacientes mais graves. Outro fator a considerar, é a grande porcentagem de pacientes obesos. Meta análise de AAT em crianças obesas encontrou taxa de sucesso de 12% (IAH < 1/hora) e de 49% (IAH < 5/hora); a diminuição do IAH foi de 29 para 10/hora.9 Os valores do estudo atual são intermediários entre os de crianças obesas e os valores de crianças em geral. Em relação aos fatores de risco para SAOS residual têm sido reconhecidos como fatores de risco: gravidade da SAOS, obesidade, história familiar de SAOS e afro descendência. A obesidade é fator consensual entre os autores.10 Em relação à idade, encontrada como risco importante neste estudo, é possível que a hipertrofia de amígdalas e adenoide não seja o único ou mais importante fator para SAOS em crianças mais velhas. Este é o primeiro estudo a associar asma com risco para SAOS residual. A etnia, que é identificada em alguns estudos como fator de risco11, não foi significativa no estudo em questão. A prevalência maior de SAOS em afro-descendentes tem sido descrita em vários estudos epidemiológicos.12 Certamente, mais estudos são necessários para identificar a importância dos diversos fatores de risco para o insucesso da cirurgia como tratamento único da SAOS em pediatria e quais os grupos que necessitam controle polissonográfico pré e pós-operatório. (2) Pressão Arterial Ambulatorial antes e após Adenotonsilectomia em Crianças com Apneia Obstrutiva do Sono.13 A hipertensão arterial sistêmica está associada com a SAOS tanto em crianças como em adultos. Os dados sobre os efeitos da adenotonsilectomia (AAT) em crianças com SAOS são limitados e controversos. O objetivo do estudo foi avaliar o impacto da AAT nos diferentes parâmetros da monitorização ambulatorial de 24 horas da pressão arterial (MAPA) em crianças com SAOS. Foi realizada polissonografia pré e pós operatória. Quarenta e quatro crianças foram identificadas e incluídas na análise. A média do índice de apneia-hipopneia (IAH) reduziu de 14,1+15,9 para 3,3+7,1. Vinte crianças (45%) curaram a SAOS (IAH<1/ h). A carga da pressão arterial diastólica diminuiu significantemente após a AAT. No grupo com hipertensão arterial pré-AAT, tanto a pressão sistólica, como a pressão diastólica diminuíram significantemente após a AAT. No entanto, oito crianças normotensas pré-AAT tornaram-se hipertensas após a AAT. As dez crianças hipertensas após a AAT estavam mais propensas a ter IAH > 1/h do que as crianças não hipertensas (7/10 e 14/34), mas a diferença não foi estatisticamente significante (p=0,11). Os autores concluíram que na monitorização da pressão arterial ambulatorial de 24 horas em crianças com SAOS ocorreu uma queda significante da carga da pressão arterial diastólica após AAT. No entanto, a hipertensão arterial pode persistir ou mesmo aparecer naqueles previamente normotensos apesar da melhora do IAH. Adultos com SAOS têm maior risco de hipertensão arterial sistêmica (HAS), arritmias cardíacas, doença coronariana,14 22 insuficiência cardíaca congestiva, 15 acidente vascular cerebral 16 e morte por fatores cardiovasculares. 17 O tratamento com CPAP nasal em adultos com SAOS protege contra eventos cardiovasculares fatais e não fatais.18 Só recentemente relatou-se que crianças com SAOS apresentam hipertensão arterial sistêmica diurna,11 aumento da pressão arterial sistêmica noturna,12 mudanças da função ventricular esquerda 4 e disfunção endotelial. 5 O estudo de Apostolidou 13 e esse são os primeiros a demonstrar a reversão da HAS após adenotonsilectomia. Esse achado é mais um fator para corroborar a SAOS como fator etiológico da HAS. A significância clínica desse evento ainda não é clara, mas esses dados sugerem que complicações cardiovasculares podem estar presentes mesmo num breve período de fragmentação do sono e hipóxia intermitente, como acontece na SAOS em crianças. O fato de 10 crianças apresentarem HAS após AAT é preocupante, os achados sugerem que possa estar associado à SAOS residual (IAH>1/ h). Como oito dessas crianças eram normotensas antes da AAT, possivelmente o MAPA apresenta variabilidade alta em múltiplos testes. Esse estudo tem algumas limitações: ser retrospectivo, ter amostra relativamente pequena, ausência de valores normais de MAPA nas crianças chineses e apresentar viés de encaminhamento (repetiram quem provavelmente tinha doença residual). Apesar desses problemas, esse estudo oferece achados provocantes num segmento da pesquisa clínica onde as investigações são escassas, propiciando campo para mais investigações e alertando pediatras sobre os risco de complicações na SAOS em crianças e adolescentes. (3) Adolescentes com Apneia Obstrutiva do Sono têm baixa adesão ao PAP, mas aqueles que usam PAP demonstram melhora da atenção e do aproveitamento escolar. 14 O uso de pressão positiva contínua em vias aéreas (BiPAP/CPAP) melhora o funcionamento diurno de adultos com SAOS, porém, a adesão ao tratamento é um problema. Como não existem estudos que avaliem o impacto do tratamento com PAP em adolescentes, os autores procuraram determinar se o tratamento com PAP melhora o funcionamento diurno de adolescentes. Treze adolescentes obesos com SAOS e 15 adolescentes obesos sem SAOS (controles) foram avaliados quanto a notas escolares, desempenho acadêmico e qualidade de vida escolar. A adesão ao PAP foi avaliada por inquérito nos quatro meses após o inicio do PAP. O tempo de uso de PAP variou de 0% a 88%, sendo a mediana de 21%. Segundo esse critério, os adolescentes que usaram PAP foram divididos naqueles com boa adesão (n=6) e má adesão (n=7). A idade dos adolescentes variou de 10 a 16 anos, ~70% eram do sexo masculino, e o índice de massa corpórea era maior no grupo SAOS (45,4+15,1) do que no grupo controle (34,9+4,4). Na avaliação inicial, os adolescentes não eram diferentes quanto a idade, raça, aproveitamento escolar e grau de alerta. Os adolescentes obesos com e sem SAOS não diferiram quando ao IMC e o a gravidade da SAOS. Os adolescentes com boa adesão, quando comparados aos de má adesão, apresentaram melhora Pneumologia Paulista Vol. 25, No.15/2011 significativa do desempenho acadêmico e da atenção. Além de uma melhora, estatisticamente limítrofe, do grau de alerta (p=0,052) e da qualidade de vida escolar (p=0,054) relatada pelos pais. Os autores concluíram que muitos adolescentes não usam regularmente o PAP durante o sono, porém, aqueles que têm boa adesão melhoram a atenção e o aproveitamento acadêmico. Vários estudos controlados já demonstraram que a terapia com CPAP em adultos com SAOS melhora o índice de apneiahipopneia (IAH), a sonolência excessiva diurna, a pressão arterial, as funções cognitivas e a qualidade de vida.15 A falta de estudos na população pediátrica ocorre porque a adenotonsilectomia é a terapia mais efetiva para crianças e adolescentes com SAOS, assim poucas crianças são elegíveis para o tratamento com PAP. Outros estudos em crianças com SAOS já haviam demonstrando melhora do IAH e boa adesão ao PAP.16-17 Esse é o primeiro estudo em adolescentes, que mostra não só uma melhora do IAH com PAP, mas também observa melhora nas funções cognitivas. A má adesão em adolescentes está em concordância com outros tratamentos em jovens com doenças crônicas. Algumas limitações desse estudo precisam ser destacadas. Os grupos não foram feitos de forma aleatória, não foi controlado com “Sham-CPAP” e a medida da adesão não foi objetiva (horímetro). Isso sugere que estudos melhor desenhados devem ser realizados para replicar esses dados, mas os achados desse estudo têm relevância clínica em vista de dados recentes de que somente da adenotonsilectomia não é suficiente para o tratamento completo da SAOS em crianças e adolescentes. Essa situação clínica será cada vez mais frequente na clínica pediátrica devido ao aumento da prevalência da obesidade na população pediátrica nos EUA e nos países em desenvolvimento. Os últimos anos têm trazido novos desafios em relação à SAOS da criança e do adolescente. Estudos mais minuciosos têm evidenciado que complicações, que se acreditava serem exclusivas do adulto, também ocorrem nas crianças com SAOS.13 Além disso, diante da epidemia de obesidade, o tratamento cirúrgico não pode mais ser considerado como tratamento único e os indivíduos com risco para doença residual devem ser investigados.6 A inclusão de tratamentos complementares viáveis se torna necessária nesta nova conjuntura.14 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. Referências Bibliográficas 1. 2. 3. 4. 5. Marcus CL. Sleep-disordered breathing in children. Am J Respir Crit Care Med 2001;164:16-30. Beebe DW. Neurobehavioral morbidity associated with disordered breathing during sleep in children: a comprehensive review. Sleep 2006;29:1115-34. Gozal D. Sleep-disordered breathing and school performance in children. Pediatrics 1998;102:616-20. Amin RS, Kimball TR, Kalra M, et al. Left ventricular function in children with sleep-disordered breathing. 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Gustavo Antonio Moreira [email protected] 23 24 Pneumologia Paulista Vol. 25, No.15/2011 Atualização em asma em pediatria: discussão das metanálises publicadas nos últimos 2 anos AUTOR: Alfonso Eduardo Alvarez1 SERVIÇO: Hospital Vera Cruz (Campinas) 1 Pneumologista Pediátrico e Mestre em Saúde da Criança e Adolescente pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Introdução A asma é a doença crônica mais comum na infância e a principal causa de morbidade entre as doenças crônicas quando avaliada pelo número de dias de ausência escolar, consultas de emergência e hospitalizações. 1 Apesar do número de internações por asma no Brasil na rede pública ter caído 51% nos últimos 10 anos, diminuindo de 397.333 em 2000 para 192.601 em 2010, a asma continua sendo um grave problema de saúde pública e representa a terceira causa de internação entre todas as doenças em crianças e adultos jovens.2 Um estudo multicêntrico (International Study for Asthma and Allergies in Childhood – ISAAC) revelou que a prevalência média mundial de asma é de 11,8% entre crianças de 6 a 7 anos e de 13,8% entre adolescentes de 13 a 14 anos; no Brasil a prevalência nesse estudo foi de 23,3% e 22,7% respectivamente. 3 A terceira fase do estudo ISAAC 4, publicada 7 anos depois da primeira, bem como um estudo multicêntrico em 20 cidades brasileiras 5, confirmaram prevalências semelhantes para as duas faixas etárias. Muito do conhecimento que se tem hoje em relação à asma na infância vem de trabalhos científicos realizados com a população adulta, e até não serem reproduzidos na população pediátrica permanece a dúvida se as conclusões podem ser aplicadas a essa faixa etária. O objetivo deste trabalho foi selecionar os artigos científicos mais relevantes em relação à asma na infância publicados nos últimos 2 anos. Nesse período foram publicados 2942 trabalhos científicos indexados sobre asma na faixa etária de 0 a 18 anos, sendo 42 metanálises. Este trabalho apresenta e discute as metanálises de maior relevância para a prática clínica, reunindo a discussão dos artigos nos tópicos correspondentes. Broncodilatadores de longa duração A associação de β2 agonista de longa duração (LABAsigla em inglês para Long Acting β2 Agonist) ao corticóide Pneumologia Paulista Vol. 25, No.15/2011 inalatório (CI), quando o paciente não está bem controlado apenas com o último, tem sido recomendada nas diretrizes internacionais para o manejo da asma, como no “Global Initiative for Asthma” (GINA) 1,6, e também nas Diretrizes Brasileiras para o Manejo da Asma.7 Recentemente, porém, vários estudos têm questionado sua segurança e sua eficácia, principalmente na faixa etária pediátrica. Nos últimos 2 anos, foram realizados alguns estudos através de metanálise para tentar elucidar esta questão. Uma metanálise da Cochrane avaliou a associação de LABA ao CI comparada à mesma dose de CI, em adultos e crianças acima de 2 anos. Foram selecionados 77 estudos com 21.248 pacientes (4.625 crianças e 16.623 adultos), os quais apresentavam obstrução ventilatória moderada apesar do uso de CI. Nos adultos a associação com LABA reduziu o número de exacerbações com necessidade de corticóide oral [Risco Relativo (RR) 0,77; intervalo de confiança de 95% (IC95%) 0,68 a 0,87], levou a um maior aumento do Volume Expiratório Forçado no primeiro segundo (VEF1) (0,11 litros; IC95% 0,09 a 0,13), proporcionou um maior aumento de dias sem sintomas (11,88%; IC95% 8,25 a 15,50) e reduziu a utilização de β2 agonista de curta duração (-0,58 aerogações/ dia; IC95% -0,80 a -0,35); não houve diferença em relação à ocorrência de efeitos colaterais sérios (RR 1,00; IC95% 0,97 a 1,04). Em crianças, porém, os efeitos da adição de LABA foram muito incertos e não permitiram concluir que seja uma alternativa eficiente nessa faixa etária.8 Em outra revisão foi comparada a adição de LABA ao CI com o aumento da dose do CI, em adultos e crianças com asma persistente que não estavam controlados com a utilização de CI. A revisão incluiu 48 estudos, totalizando 15.155 pacientes, sendo 1.155 crianças e 14.000 adultos. Houve um menor risco estatisticamente significativo de exacerbação com necessidade de corticóide sistêmico no grupo que recebeu LABA (RR 0,88; IC95% 0,78 a 0,98). O grupo com LABA apresentou maior aumento da função 25 pulmonar melhor e melhor escore de sintomas, quando comparadas ao grupo que utilizou Montelucaste.12 Nos pacientes com asma persistente, que não estejam controlados com a utilização de CI, pode-se optar, de acordo com as atuais diretrizes para o manejo da asma pela adição de um antagonista de Leucotrienos ou de LABA.1,2,6 Estudos recentes tem tentado elucidar qual dessas opções é melhor para crianças. Uma metanálise da Cochrane, avaliando 17 estudos randomizados controlados, demonstrou que em pacientes com asma em uso de CI a adição de LABA foi superior a adição de antagonista de Leucotrienos em relação à diminuição das exacerbações com necessidade de corticóide sistêmico (RR 0,83; IC95% 0,71 a 0,97), melhora da função pulmonar e da qualidade de vida. Não foi possível, porém, determinar qual dos tratamentos é superior para crianças.13 Com base nessas metanálises é preferível, para as crianças e adolescentes com asma leve a moderada, iniciar o tratamento com CI a Montelucaste. Em adultos e adolescentes com asma não controlada com CI é preferível associar um LABA a um antagonista de Leucotrienos. Não é possível, porém, determinar qual dessas opções é mais eficiente em crianças. pulmonar, menos sintomas e menor uso de medicação de regate. De maneira geral não houve diferença significativa no risco de internação (RR 1,02; IC95% 0,67 a 1,56) e na ocorrência de efeitos colaterais (RR 1,12; IC95% 0,91 a 1,37). Os resultados foram dominados por estudos em adultos, e os dados de 3 estudos pediátricos demonstraram uma tendência a um risco aumentado do uso de corticóide oral de resgate (RR 1,24; IC95% 0,58 a 2,66) e internação hospitalar (RR 2,21; IC95% 0,74 a 6,64) no grupo que utilizou a combinação com LABA.9 Outra metanálise da Cochrane avaliou a adição de LABA ao CI como primeira linha de terapia para asma persistente em adultos e crianças que nunca haviam usado CI. Foram avaliados 27 estudos (22 em adultos e 5 em crianças) totalizando 8.050 pacientes. A combinação de LABA ao CI não foi associada a um menor risco de exacerbações com necessidade de corticóide oral (RR 1,04; IC95% 0,73 a 1,47) ou hospitalização (RR 0,38; IC95% 0,09 a 1,65) comparado ao grupo que só usou CI na mesma dose. O grupo que utilizou LABA apresentou, porém, maior aumento no VEF1, menos sintomas e menor utilização de β2 agonista de resgate, comparado com o grupo que apenas utilizou CI. Não houve diferença entre os grupos na ocorrência de efeitos adversos (RR 1,02; IC95% 0,96 a 1,09). Os autores relatam que não foi possível tirar nenhuma conclusão precisa em relação à terapia combinada em crianças que ainda não usaram corticóide inalatório, devido ao pequeno número de crianças avaliadas no estudo.10 Um estudo inglês avaliou a segurança do uso de Formoterol em crianças (4 a 11 anos) e adolescentes (12 a 17 anos). Foram analisados 42 estudos englobando 11.849 pacientes. O estudo demonstrou que o uso de Formoterol não aumentou o risco de hospitalização quando comparado ao grupo que não usou LABA, tanto em crianças (1,16% (38/3263) vs 1,11% (24/2165), quanto em adolescentes (0,51% (23/4533) vs 0,85% (16/1888)), independente do grupo étnico avaliado.11 Analisando estes estudos verificamos que a utilização de LABA para o controle da asma parece ser segura em crianças acima de 12 anos e adultos. Nessa faixa etária, a combinação de LABA ao CI para os pacientes que não estejam controlados demonstra eficácia em relação à melhora da função pulmonar, diminuição dos sintomas e das exacerbações. Em crianças menores de 12 anos a associação de LABA ao CI ainda necessita ser mais estudada para determinar a eficácia e segurança de sua utilização. Uma metanálise brasileira comparou o uso de doses moderadas (300-400 microgramas/dia) com baixas (200 microgramas/dia ou menos) de beclometasona ou equivalente em crianças e adolescentes de 3 a 18 anos com asma persistente leve a moderada. Foram avaliados 14 estudos randomizados controlados, totalizando 5.768 pacientes, e verificou-se que houve um aumento maior do VEF1 no grupo que usou doses moderadas comparado com o que usou doses baixas de CI, não houve, porém, diferença significativa ao comparar as duas doses em relação ao pico de fluxo expiratório, escore de sintomas e uso de β2 agonista. Os autores concluem que em crianças com asma persistente leve a moderada não há vantagens clínicas relevantes no uso de doses moderadas de corticóide inalatório em relação ao uso de doses baixas, e que são necessários mais estudos randomizados e controlados para avaliar as doses mais adequadas para cada caso.14 Esta questão é muito relevante, pois segundo as diretrizes para o manejo da asma, devemos tentar controlar os pacientes com a menor dose de CI possível. Este estudo fornece subsídios para iniciar o tratamento com doses baixas. Antagonistas de leucotrienos Utilização de omalizumabe Vários estudos recentes têm tentado definir se é melhor iniciar o tratamento de manutenção da asma com CI ou com antagonistas de Leucotrienos. Uma metanálise chilena, avaliando 18 estudos, com 3.757 pacientes, comparou a eficácia do CI ao Montelucaste em crianças escolares e adolescentes com asma persistente leve a moderada. Os pacientes recebendo CI tiveram menor risco de exacerbação que os que receberam Montelucaste (RR 0,83; IC95% 0,72 a 0,96). As crianças recebendo CI tiveram também uma função Para pacientes com asma mediada por IgE e que não estejam controlados com a utilização de CI associado a LABA ou antagonistas de Leucotrienos, as diretrizes para o manejo da asma referem que pode ser considerada a associação com Omalizumabe, um anticorpo monoclonal recombinante que inibe a ligação da IgE com seu receptor de alta afinidade. 2,6 A segurança e tolerabilidade dessa substância em menores de 12 anos não estão demonstradas na literatura. Mais recentemente, um estudo americano analisou 2 26 Dose inicial de corticóide inalatório Pneumologia Paulista Vol. 25, No.15/2011 estudos duplo-cego placebo-controlados em crianças de 6 a 12 anos com asma moderada a grave mediada por IgE, avaliando a segurança do uso de Omalizumabe. As crianças estavam em tratamento adequado com CI e outras medicações e foram randomizadas para receber Omalizumabe ou placebo. Foram analisadas 926 crianças e os resultados demonstraram que o risco de efeitos adversos do Omalizumabe foi similar ao placebo, e a ocorrência de efeitos adversos sérios foi de 3,4% e 6,6%, respectivamente.15 Esses resultados são bastante relevantes, pois ao demonstrarem a segurança do Omalizumabe fornecem uma nova opção terapêutica para crianças na faixa etária de 6 a 12 anos com asma não controlada após seguirem os passos anteriores das recomendações das diretrizes do manejo da asma. Exacerbações de asma Devido à alta morbidade e mortalidade associada às exacerbações de asma, diversos estudos têm buscado avaliar quais são as melhores formas de tratamento. Algumas práticas no manejo das exacerbações são baseadas em pequenos estudos e careciam de uma avaliação mais ampla. Uma dessas questões era a prática de dobrar a dose do CI nas exacerbações. Uma metanálise da Cochrane comparando o efeito de dobrar a dose com manter a dose do CI nas exacerbações de asma avaliou 5 estudos randomizados e controlados envolvendo 1.250 pacientes e demonstrou que não houve redução significativa da necessidade de corticóide oral de resgate na exacerbação de asma após dobrar a dose de CI comparado com a manutenção da mesma dose [Odds Ratio (OR) 0,85; IC95% 0,58 a 1,26].16 Outra prática comum é a utilização de Formoterol, um LABA, no tratamento das exacerbações de asma no lugar dos β2 agonista de curta duração, em função de seu rápido início de ação. Uma metanálise da Cochrane, avaliando 8 estudos com 22.604 pacientes (a maioria adultos) comparou o uso do Formoterol com β2 agonista de curta duração para alívio da exacerbação de asma. Os resultados demonstraram que em adultos, o grupo que usou Formoterol apresentou menor número de exacerbações com necessidade de corticóide oral do que o grupo que usou β2 agonista de curta duração. Os autores destacam, porém, que não há informação suficiente nos estudos avaliados que permita conclusões quanto à segurança e eficácia do Formoterol como medicação de resgate das crises de asma para a faixa etária pediátrica.17 Desta forma é importante ressaltar, que à luz do conhecimento atual, não deve ser indicada para crianças com exacerbações de asma a conduta de dobrar a dose do CI nem de utilizar o Formoterol como medicação de alívio em substituição ao β2 agonista de curta duração. Influência da dieta na prevalência de asma Estudos epidemiológicos têm sugerido que a deficiência de nutrientes como selênio, zinco, vitaminas A, C, D e E, e baixa ingestão de frutas e verduras pode estar associada ao Pneumologia Paulista Vol. 25, No.15/2011 desenvolvimento de asma. Uma metanálise escocesa avaliou 62 estudos que verificavam a associação entre ingesta de vitaminas e nutrientes e a prevenção de asma. A metanálise revelou que a dosagem sérica de vitamina A é menor em crianças com asma comparada ao grupo controle (OR 0,25; IC95% 0,10 a 0,40) e que uma dieta materna rica em vitamina D e E durante a gestação protegeu contra o desenvolvimento de sibilância na infância (OR 0,56; IC95% 0,42 a 0,73 e OR 0,68; IC95% 0,52 a 0,88, respectivamente). Foi demonstrado também que aderir a uma dieta mediterrânea (frutas, legumes e peixes) ajudou na prevenção de sibilância persistente (OR 0,22; IC95% 0,08 a 0,58). Não foi possível estabelecer essa relação com vitamina C ou selênio, e também não foi possível estabelecer relação entre o consumo desses nutrientes e a ocorrência de outras alergias.18 Outra metanálise estudou 50.004 crianças de 8 a 12 anos em 29 países avaliando a influência da dieta na prevalência de asma. O consumo de frutas foi associado a uma menor prevalência de sibilância (OR 0,85; IC95% 0,74 a 0,97). O consumo de peixe (OR 0,85; IC95% 0,74 a 0,97) e de legumes cozidos (OR 0,78; IC95% 0,65 a 0,95) foi associado a uma menor prevalência de asma. Nenhum alimento foi associado a uma menor sensibilização alérgica.19 Analisando estes estudos verificamos que a adesão a uma dieta mediterrânea (frutas, legumes e peixes), bem como uma dieta rica em vitaminas A, D e E parece auxiliar na prevenção de sibilância e asma na infância, devendo então ser estimulada nas crianças. Conclusão Com base nas metanálises publicadas nos últimos 2 anos em relação à asma na faixa etária pediátrica podemos concluir: • A utilização de LABA para o controle da asma parece ser segura em crianças acima de 12 anos e adultos. Nessa faixa etária, a combinação de LABA com CI para os pacientes que não estejam controlados demonstra eficácia em relação à melhora da função pulmonar, melhora dos sintomas clínicos e diminuição das exacerbações. • Em crianças menores de 12 anos a associação de LABA ao CI ainda necessita ser mais estudada para determinar a eficácia e principalmente a segurança de sua utilização. • Em crianças com asma leve a moderada é preferível iniciar o tratamento com CI a iniciar com antagonista de Leucotrienos. • Em adultos e adolescentes com asma não controlada com CI é preferível associar um LABA que um antagonista de Leucotrienos. Não é possível, a luz dos conhecimentos atuais, determinar qual dessas opções é mais eficiente em crianças. • Em crianças com asma persistente leve a moderada devese optar por iniciar o tratamento com doses baixas de CI, não havendo vantagens na utilização de doses moderadas. • O Omalizumabe pode ser utilizado com segurança em crianças acima de 6 anos de idade, quando houver indicação de sua utilização pelas diretrizes no tratamento de asma. • Não há vantagens em dobrar a dose do CI nas exacerbações 27 de asma, não devendo então ser indicada essa prática. • Apesar do Formoterol ter demonstrado ser superior aos â2 agonistas de curta duração no tratamento das exacerbações de asma em adultos, não foi possível ainda estabelecer sua segurança em crianças. • A adesão a uma dieta mediterrânea (frutas, legumes e peixes), bem como uma dieta rica em vitaminas A, D e E parece auxiliar na prevenção de sibilância e asma na infância. Analisando os estudos publicados, e as conclusões dos autores, é importante ressaltar a necessidade da realização de mais estudos randomizados e controlados em asma na faixa etária pediátrica. 9. 10. 11. 12. Referências Bibliográficas 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. Global Strategy for the Diagnosis and Management of Asthma in Children 5 Years and Younger, Global Initiative for Asthma (GINA) 2009. Available from: www.ginasthma.org Ministério da Saúde. DATASUS – Base de Dados do Sistema Único de Saúde. ?cited 2011 Jul 13?. Available from: www.datasus.gov.br. Worldwide variations in the prevalence of asthma symptoms: the International Study of Asthma and Allergies in Childhood (ISAAC). Eur Respir J. 1998;12(2):315-35. Pearce N, Aït-Khaled N, Beasley R, Mallol J, Keil U, Mitchell E; and the ISAAC Phase Three Study Group. Worldwide trends in the prevalence of asthma symptoms: phase III of the International Study of Asthma and Allergies in Childhood (ISAAC). Thorax. 2007;62(9):758-66. 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A primeira broncoscopia do mundo foi realizada pelo alemão Gustav Killian, em 1897, com equipamento rígido, no tratamento de uma aspiração de corpo estranho, um osso de porco.1Somente em 1966, o japonês Shigeto Ikeda apresentou ao mundo o primeiro broncoscópio flexível. Em 1978, Robert Wood publicou o primeiro artigo de broncoscopia flexível pediátrica.2 Podemos citar três tipos de broncoscopia, a flexível, a rígida e recentemente a virtual. Broncoscopia rígida é realizada com um tubo metálico aberto, inflexível, introduzido via oral que permite a visualização das vias aéreas centrais e proximais. Permite a ventilação do doente durante o procedimento sendo utilizado principalmente no tratamento de retirada de corpo estranho, dilatação de estenoses, desobstruções tumorais, higienização de secreções espessas e coágulos sanguíneos. A broncoscopia flexível é atualmente a mais realizada. O broncoscópio flexível é bem tolerado e permite a avaliação das fossas nasais, faringes, laringe, traquéia, vias aéreas proximais, segmentares até a terceira geração de ramificação. A broncoscopia virtual consiste em imagens geradas por computador da árvore endobrônquica, que são construídos a partir de tomografia computadorizada (TC) do tórax. Tem a vantagem de ser não invasiva, fornecendo informações importantes sobre estruturas fora das vias aéreas. No entanto, ainda não substitui a broncoscopia tradicional pois as anormalidades da mucosa não são bem vistas, a avaliação dinâmica é inacessível e não é possível coletar material. Vale lembrar que uma broncoscopia virtual normal, na suspeita de aspiração de corpo estranho não exclui a necessidade da broncoscopia tradicional.3 Indicações As principais indicações para broncoscopia em crianças estão relacionadas a seguir: • Estridor persistente ou recorrente • Sibilância persistente ou recorrente • Crises de cianose Pneumologia Paulista Vol. 25, No.15/2011 • Suspeita de corpo estranho • Atelectasias persistentes ou recorrentes • Pneumonias de repetição ou pneumonia persistente • Disfonia • Ronco noturno • Intubação de via aérea difícil • Extubação de via aérea difícil • Avaliação de traqueostomia • Hemoptise • Coleta de lavado broncoalveolar e biópsia transbrônquica e endobrônquica Anomalias que podem ser diagnosticadas durante avaliação endoscópica: • Atresia ou estenose de coanas • Tumores nasais (cisto dermóide, meningocele, hemangioma, neurofibroma, glioma, pólipos) • Hipertrofia de adenóides • Hipertrofia de tonsilas palatinas • Faringomalácia ou colapso faríngeo • Laringomalácia • Discinesia de pregas vocais • Paralisia de pregas vocais • Estenose subglótica • Hemangioma laríngeo • Cisto laríngeo • Papilomatose laríngea • Membrana laríngea • Cleft laríngeo • Estenose traqueal • Traqueomalácia • Compressões extrínsecas da via aérea central • Fístula traqueoesofágica Anomalias craniofaciais que podem necessitar de avaliação endoscópica das vias aéreas: • Sequência Pierre Robin • Síndrome de Crouzon • Síndrome de Treacher Collins • Síndrome de Apert • Síndrome de Down • Síndrome de Beckwith-Wiedemann 29 Estridor persistente Pneumonias recorrentes O principal motivo de estridor em crianças é a laringomalácia que geralmente é autolimitada. No entanto, crianças que apresentam estridor e baixo ganho ponderal, episódios de sufocação, crises de cianose, disfagia, síndromes genéticas e, principalmente, antecedentes de prematuridade e intubação laringotraqueal, devem ser avaliadas. Diagnósticos diferenciais incluem estenose laringotraqueal, paralisia de pregas vocais, membrana laríngea, cisto laríngeo, hemangioma, papilomatose, cleft laríngeo e outros.4 Crianças com pneumonias de repetição ou com imagens pneumônicas persistentes, principalmente quando ocorrem no mesmo local anatômico podem se beneficiar de exame broncoscópico, por meio do qual podem ser realizados diagnósticos diferenciais pela coleta de lavado broncoalveolar. Sibilância persistente ou recorrente Pacientes com quadro de sibilância persistente apesar de tratamento adequado, dissociação clínica radiológica, não responsiva ao tratamento ou com evolução atípica, podem ter anomalias anatômicas que podem ser identificadas pela broncoscopia como cleft laríngeo, traqueomalácia, fístula traqueoesofágica, aspiração de corpo estranho, estenose traqueal, anel vascular, hemangioma e malformações da árvore brônquica.5 Aspiração de corpo estranho Crianças previamente saudáveis que apresentam história de engasgo acompanhado de tosse súbita, crise de cianose, sibilância de início súbito com apresentação muito grave ou de difícil controle podem estar relacionadas à aspiração de corpo estranho. Caso seja levantada a hipótese de aspiração de corpo estranho, a broncoscopia é obrigatória, mesmo que todos os exames radiológicos sejam normais.6,7 Atelectasias persistentes ou recorrentes Pacientes com quadros de atelectasias sem melhora com tratamento convencional podem ter benefício com a realização de broncoscopia. Atelectasias em crianças intubadas ou internadas geralmente requerem medidas mais agressivas quando comparadas aos pacientes assintomáticos, em acompanhamento ambulatorial. Nos casos assintomáticos, é recomendada broncoscopia se a atelectasia durar mais do que 6 semanas. As causas incluem compressão extrínseca, rolhas de secreção, aspiração de corpo estranho, broncomalácia, processos infecciosos (tuberculose) e tumores.8, 9 Hemoptise A hemoptise é uma queixa comum em crianças traqueostomizadas. Distinguir um sangramento do traqueostoma de um sangramento de via aérea baixa pode não ser uma tarefa fácil. Outras causas de hemoptise são bronquiectasias, pneumonia lobares, infecções endobrônquicas, malformação vascular, cavitações pulmonares, aspiração de sangue proveniente das cavidades nasais e do trato gastrointestinal, lesões pós intubação e trauma de aspiração.10 30 Disfonia Casos de disfonia persistente, laringites de repetição, episódios de rouquidão recorrentes, principalmente quando acompanhados de dispnéia necessitam de avaliação. Em crianças, um motivo comum para disfonia são os nódulos vocais benignos. Outros diagnósticos incluem papiloma laríngeo, pólipos, paralisia de pregas vocais, membrana laríngea, cistos laríngeos, hemangioma laríngeo, laringite por refluxo e granulomas inflamatórios. Intubação de via aérea difícil Crianças com malformações faciais, abertura da boca limitada, fenda palatina, macroglossia, micrognatia, protrusão dentária, cifoescolioses, suspeita de lesões congênitas da laringe, lesões vasculares ou quaisquer deformidades anatômicas que indiquem dificuldade para intubação, podem ser submetidas à colocação do tubo endotraqueal com auxílio endoscópico.11 Falha de extubação Crianças que apresentem dificuldade de extubação associada à insuficiência respiratória alta podem ser extubadas sob visão broncoscópica para avaliação estática e dinâmica da laringe. A laringite pós intubação é bastante comum e em sua maioria reversível. Casos mais graves onde há tecido de granulação, úlceras e exposição de cartilagens podem exigir traqueostomia. Não é obrigatória a realização de broncoscopia em crianças com indicação formal de traqueostomia. No entanto, o acompanhamento endoscópico para averiguação de seqüelas e possível decanulação é desejável. Traqueostomia É frequente a avaliação da traqueostomia quando ocorre sangramento que aparentemente não seja proveniente do peritraqueostoma externo. Em crianças muito pequenas ou com alterações que impeçam a intubação orotraqueal, a troca da cânula de traqueostomia com auxílio da broncoscopia deve ser considerada para reduzir o risco de insucesso. Antes da decanulação definitiva da traqueostomia é obrigatória a realização de laringotraqueobroncoscopia com avaliação dinâmica da laringe.12 Coleta de lavado broncoalveolar O lavado broncoalveolar (LBA) é um procedimento Pneumologia Paulista Vol. 25, No.15/2011 diagnóstico que permite avaliar a celularidade e a bioquímica da superfície epitelial da árvore respiratória inferior e identificar a presença de microorganismos, através da instilação e posterior recuperação de soro fisiológico. LBA com o intuito de identificar um agente infeccioso Suas indicações incluem quadros respiratórios crônicos inespecíficos, imagens radiológicas persistestes ou recorrentes, sintomas sugestivos de doenças intersticiais e infecções do trato respiratório inferior. Quando o LBA é solicitado para avaliação microbiológica nas suspeitas de infecções do trato respiratório inferior, podem ser identificados patógenos como Mycobacterium tuberculosis, Mycoplasma pneumoniae, Pneumocystis jiroveci, Legionella pneumophila, Toxoplasma gondii, Strongyloides stercoralis, Histoplasma capsulatum, Mycoplasma pneumoniae, Nocardia, vírus influenza, vírus sincicial respiratório, citomegalovirus, Aspergillus, Candida albicans, Cryptococcus e micobactérias atípicas. Em caso de bactérias, considera-se significante a presença de pelo menos 10.000 UFC/ml no LBA para que o paciente deva ser considerado portador de infecção. O LBA pode ser valioso em pacientes imunossuprimidos, seja por HIV, deficiências primárias, pós quimioterapias e transplantados. Também é muito útil em pacientes com pneumonia crônica, suspeita de tuberculose e fibrose cística com falha terapêutica. Em crianças imunocompetentes com pneumonia o LBA deve ser utilizado somente em casos com evolução atípica, não sendo um exame de primeira escolha ou sequer de rotina. diagnóstico de sarcoidose, tuberculose e pneumocistose. Apesar de amplamente utilizada no diagnóstico de diversas doenças pulmonares em pacientes adultos, seu uso em crianças com doenças intersticiais ainda é controverso, necessita de estudos prospectivos e o rendimento diagnóstico ainda não substitui a biópsia cirúrgica. As complicações mais graves da BTB são o sangramento e o pneumotórax. Outras complicações que podem ocorrer incluem hipoxemia, dispnéia, broncoespasmo e febre. No entanto, o procedimento é seguro e a incidência de complicações graves varia entre 1 a 3%.17, 18 Biópsia endobrônquica A biópsia endobrônquica pode ser realizada em lesões visíveis, como tumores ou em mucosa íntegra, permitindo estudar o epitélio. Pode ser utilizada no diagnóstico de tuberculose, sarcoidose, infecções fúngicas e discinesia ciliar primária. Também tem utilidade no manejo da asma de difícil controle, em crianças com fibrose cística e sibilância recorrente.19, 20 A técnica é simples, bem tolerada e segura. A principal complicação é a tosse. Contra indicações Incluem insuficiência cardíaca descompensada, instabilidade hemodinâmica (hipotensão, hipertensão, bradicardia, arritmias), crise de asma, hipoxemia grave com saturação de oxihemoglobina menor de 90% com uso oxigênio complementar. O uso de anticoagulantes, anti agregantes plaquetários, trombocitopenia (<50.000), uréia e creatinina elevadas contraindicam a realização de biópsias pelo risco de sangramento. LBA nas doenças pulmonares não infecciosas O LBA pode ser diagnóstico em algumas doenças pulmonares crônicas intersticiais como proteinose alveolar, hemossiderose pulmonar, histiocitose pulmonar, pneumonia lipoídica, microlitíase alvéolo pulmonar e aspiração pulmonar crônica.13 A análise do LBA pode auxiliar no diagnóstico de pacientes com sarcoidose, pneumonite de hipersensibilidade, pneumonia eosinofílica e fibrose pulmonar.14 O LBA também pode ser utilizado como tratamento complementar nas atelectasias pulmonares e remoção de plugs de secreção. Instilação de acetilcisteina, antibióticos, dornase alfa, surfactante e bicarbonato de sódio estão descritos na literatura, mas com resultados inconclusivos.15, 16 O LBA é bem tolerado e seguro. Complicações possíveis incluem tosse, broncoespasmo, infiltrado pulmonar transitório, febre e hipoxemia. Complicações A anestesia geral é um fator importante nos casos de depressão respiratória. Crianças com obstrução respiratória e hipoxemia pré existente no início do exame tem maior morbidade. 22,22 As complicações mais freqüentes são epistaxe, hipoxemia, laringoespasmo, broncoespasmo. Podem ocorrer ainda arritmias cardíacas e bradicardia por estímulo vagal.23 Edema laríngeo é uma complicação que ocorre mais frequentemente na broncoscopia rígida. Uma série de 1328 broncoscopias diagnósticas em crianças foram relatadas 5,2% de complicações menores (tosse, dessaturação, náusea, laringoespasmo transitório e epistaxe) e 1,7% de complicações maiores (dessaturação abaixo de 90%, laringoespasmo com dessaturação, broncoespasmo e pneumotórax).24 Biópsia transbrônquica A biópsia transbrônquica (BTB) permite a obtenção de parênquima pulmonar para análise microscópica evitando a biópsia a “céu aberto”. Seu uso é bem estabelecido na vigilância de crianças pós transplante pulmonar.17 A BTB permite o diagnóstico de infecção por citomegalovirus em imunossuprimidos e pode auxiliar no Pneumologia Paulista Vol. 25, No.15/2011 Considerações finais O surgimento da broncoscopia flexível com imagens em alta definição e os avanços da anestesiologia no manejo, monitorização e descoberta de novas drogas ampliou o campo de atuação da broncoscopia na população pediátrica, trouxe mais segurança para os pacientes e aumentou a eficácia do 31 procedimento. As inovações tecnológicas permitiram a miniaturização dos broncoscópios que hoje atingem incríveis 3,4 mm, 2,8mm, 2 mm e 1mm de diâmetro permitindo a realização da broncoscopia em quaisquer idades, até mesmo na fase intra-uterina (broncoscopia fetal).25, 26 A maioria dos exames são realizados com anestesia geral sob ventilação espontânea. Em alguns casos, principalmente nas crianças clinicamente estáveis submetidas a avaliação da via aérea superior como a laringoscopia, podem ser realizadas somente com anestesia tópica nasal ou sedação consciente, dependendo de alguns fatores como cooperação, compreensão dos pais e da criança. O procedimento pode ser realizado em centro cirúrgico, unidade de terapia intensiva ou em sala apropriada para este fim desde que esteja preparado para o manejo de emergências em via aérea. Rotineiramente, em um serviço adequado com equipe treinada, o exame é realizado ambulatorialmente com dispensa domiciliar após algumas horas de observação, mas alguns pacientes podem necessitar de internação, dependendo da situação clínica da criança, da doença e do procedimento que será realizado. A broncoscopia é um procedimento seguro quando realizado por equipe experiente. As complicações menores incluem epistaxe, traumas relacionados a passagem do aparelho, episódios de dessaturação de oxigênio e hipoxemia transitórias durante o procedimento. Complicações mais graves como broncoespasmo, sangramentos e pneumotórax são eventos raros.26, 27 Os exames radiológicos e a broncoscopia são complementares. Cada técnica tem suas características próprias com suas vantagens e desvantagens. A broncoscopia virtual com reconstrução 3D não permite a avaliação dinâmica da via aérea, não permite a coleta de LBA ou biópsia, os detalhes da mucosa traqueobrônquica e estruturas laríngeas são sofríveis e os níveis de radiação ionizante são elevados. Na prática, a broncoscopia e a radiologia caminham juntos no diagnóstico e avaliação evolutiva de doenças pulmonares. Existem inúmeras indicações para a realização de broncoscopia nas crianças. O procedimento bem indicado é esclarecedor e traz benefícios para a criança, mesmo quando o exame é normal. A exclusão de doenças é uma etapa importante nos diagnósticos diferenciais. Como exemplos clássicos, citamos a suspeita de aspiração de corpo estranho, suspeita de fístula traqueoesofágica e estenose subglótica que são excluídos quando o exame endoscópico é normal, ajudando o médico na condução de casos complicados sem diagnósticos definitivos. Referências Bibliográficas 1. 2. 3. 4. 5. Zollner F. Gustav Killian, father of bronchoscopy. Arch Otolaryngol. 1965 Dec;82(6):656-9. Wood RE, Fink RJ. Applications of flexible fiberoptic bronchoscopes in infants and children. Chest. 1978 May;73(5 Suppl):737-40. Veras TN, Hornburg G, Schner AM, Pinto LA. Use of virtual bronchoscopy in children with suspected foreign body aspiration. J Bras Pneumol. 2009 Sep;35(9):937-41. Boudewyns A, Claes J, Van de Heyning P. Clinical practice: an approach to stridor in infants and children. Eur J Pediatr. 2010 Feb;169(2):135-41. Weinberger M, Abu-Hasan M. Pseudo-asthma: when cough, wheezing, and dyspnea are not asthma. Pediatrics. 2007 Tabela 1 - Correlação entre doenças/anomalias e sintomas: Estridor Disfonia Sibilância Atresia ou estenose de coanas Tumores nasais Cianose Dispnéia + + + + Hemoptise noturno + Hipertrofia de adenóides Hipertrofia de tonsilas palatinas + + Faringomalácia ou colapso faríngeo Laringomalácia + + + + + + Discinesia de pregas vocais Paralisia de pregas vocais + + + + Estenose subglótica Hemangioma laríngeo + + Cisto laríngeo Papilomatose laríngea + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + Membrana laríngea Cleft laríngeo + + + + + + + + + Estenose traqueal Traqueomalácia + + + + + + + + Compressões extrínsecas Fístula traqueoesofágica + + + + + + + + + Aspiração de corpo estranho + + + + + + + + A tabela acima resume os sinais clínicos mais frequentes relacionados às doenças. Os sintomas podem variar dependendo da gravidade, podendo estar ou não presentes. 32 Pneumologia Paulista Vol. 25, No.15/2011 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23. 24. 25. Oct;120(4):855-64. Orji FT, Akpeh JO. Tracheobronchial foreign body aspiration in children: how reliable are clinical and radiological signs in the diagnosis? Clin Otolaryngol. 2010 Dec;35(6):479-85. Korlacki W, Korecka K, Dzielicki J. Foreign body aspiration in children: diagnostic and therapeutic role of bronchoscopy. Pediatr Surg Int. 2011 Aug;27(8):833-7. Zhang DJ, Zhao DY, Liang H, Tian M, Han Q. [Application of flexible bronchoscopy in diagnosis and treatment of 104 children with pulmonary atelectasis]. Zhonghua Er Ke Za Zhi. 2010 Oct;48(10):767-70. Holmgren NL, Cordova M, Ortuzar P, Sanchez I. [Role of flexible bronchoscopy in the re-expansion of persistent atelectasis in children]. Arch Bronconeumol. 2002 Aug;38(8):367-71. Godfrey S. Pulmonary hemorrhage/hemoptysis in children. 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Fiberoptic bronchoscopy in neonatal and pediatric intensive care units: a 5-year experience. Med Princ Pract. 2009;18(4):305-9. Ascedio Jose Rodrigues [email protected] Centros de Referência em Fibrose Cística no Estado de São Paulo Capital CR – Hospital das Clínicas Dra.Fabíola Villac Adde Av. Dr. Eneas de Carvalho Aguiar, 647 –1ºandar Fone :(0xx11) 2661-8538 Hospital São Paulo – EPM Dra.Sônia Mayumi Chiba R: José de Magalhães 340 ( Ambulatório Fibrose Cística) Fone:(0xx11) 5576-4145 Santa Casa de Misericórdia de São Paulo Dra. Neiva Damaceno Ambulatório de Fibrose Cística Prédio Conde de Lara Fone: (0xx11) 3224-0122 r:5534 Interior Campinas Hospital de Clínicas – UNICAMP Dr. José Dirceu Ribeiro Dr. Antônio Fernando Ribeiro Departamento de Pediatria Fone: (0xx19) 3521-7646 Ribeirão Preto Hospital das Clínicas Dra. Maria Inês Machado Fernandes Dra. Lídia Alice G.M. Torres Av. Bandeirantes, s/n – Campus Universitário Fone: (0xx16) 3633-0136 - Botucatu Faculdade de Medicina de Botucatu/UNESP Dra. Giesela Fleischer Ferrari Distrito de Rubião Júnior s/n – Botucatu – SP Cep: 18618-970 Fone: (0xx14) 3811-6000 São José do Rio Preto Hospital de Base Dra. Katia Izabel Oliveira Av. Brigadeiro Faria Lima,5416 Cep: 15090-000 Fone: (0xx17) 3210-5000 33 Triagem neonatal para fibrose cística: o que fazer diante de um resultado alterado? AUTORA: Fabíola Villac Adde1 SERVIÇO: Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da FMUSP 1 Médica Assistente Doutora da Unidade de Pneumologia Introdução Em muitos países, o diagnóstico de fibrose cística (FC) vem sendo estabelecido já nos primeiros meses de vida, com a implantação de programas de triagem neonatal. Há controvérsia quanto ao real impacto dos testes de triagem na evolução da doença, mas têm sido observados benefícios como melhor crescimento, nutrição e função pulmonar.1-3 No nosso meio, infelizmente, o sub-diagnóstico e/ou o diagnóstico tardio da FC ainda é uma realidade. Não são poucos os pacientes que chegam com desnutrição grave, infecção pulmonar crônica por Pseudomonas aeruginosa e bronquiectasias. A implantação da triagem neonatal possibilita um diagnóstico mais precoce com intervenções terapêuticas específicas e oportunas e consequente melhora do prognóstico do paciente. Tripsinogênio imunorreativo (“imunorreactive trypsinogen” - IRT) O teste mais utilizado para a triagem neonatal da FC é o que mede o nível de tripsinogênio (IRT). O tripsinogênio é um precursor de enzima pancreática, produzido exclusivamente pelo pâncreas, cuja concentração costuma estar persistentemente elevada no sangue dos recém-nascidos com FC em relação ao dos normais, mesmo nos casos em que ainda há suficiência pancreática. Esse aumento acontece pois a fibrose pancreática que a maioria desses pacientes apresenta já ocorre no período intra-uterino, levando a um refluxo das enzimas pancreáticas para a circulação, com aumento dos níveis do IRT. A sensibilidade deste teste se situa ao redor de 95%, porém sua especificidade é baixa, variando de 30 a 75%, dependendo dos níveis de corte estipulados pelos laboratórios para o IRT.4,5 Existem diversos algoritmos para a triagem neonatal da FC5, e no Brasil a dosagem de IRT tem geralmente sido realizada em duas amostras. A primeira é coletada nos primeiros dois a três dias de vida, em gota de sangue seco com os demais exames para o “teste do pezinho”, e a segunda, se o primeiro resultado for positivo, antes do final do primeiro mês de vida da criança, para evitar resultados falso-negativos que decorrem da queda natural do nível do 34 tripsinogênio no sangue. Somente se ambos os resultados forem positivos deve-se realizar o teste do suor para o diagnóstico da FC. Determinados programas incluem a pesquisa de algumas mutações do gene CFTR (“cystic fibrosis transmembrane conductance regulator”) quando o primeiro IRT for positivo. Quando detectadas nos dois alelos podem estabelecer o diagnóstico; se for encontrada uma mutação, o paciente deve se submeter ao teste do suor, pois ele pode ser apenas portador de um dos genes da FC, ou apresentar a doença no caso de ter uma segunda mutação desconhecida, não pesquisada no teste genético utilizado. Quando não se detecta nenhuma mutação, a probabilidade de FC é baixa, não havendo necessidade do teste do suor.5,6 Embora o IRT seja até o momento o melhor teste de triagem para FC, ocorrem muitos resultados falso-positivos, principalmente em recém-nascidos prematuros, que sofreram grande estresse perinatal, com baixos índices na escala de Apgar ou em afrodescendentes. Vale ressaltar que um teste de triagem negativo não exclui o diagnóstico de FC e que a presença de íleo meconial, sinal de alerta para o diagnóstico de FC, pode estar relacionada a testes falso-negativos.5 No Brasil, dispomos de dados sobre a triagem neonatal para FC realizada no estado do Paraná. De agosto/2001 a abril/2004 foram realizadas 456.982 triagens e em 0,9% (4.028 casos) ela foi positiva (IRT > 70ng/ml). Foi possível realizar um segundo IRT em 3.815 bebês com até 30 dias de vida e destes, 12,5% (478) persistiram alterados, significando que o índice de falso-positivos foi de 87,5% no primeiro teste. Os pacientes com os dois testes alterados foram então submetidos ao teste do suor, confirmando-se o diagnóstico de FC em 48 casos (0,01% do total).7. Apesar de o teste de triagem neonatal para FC no teste do pezinho já ser uma portaria do Ministério da Saúde desde 2001 8, que determina a dosagem do IRT acoplado à pesquisa de mutações nos casos dos níveis estarem aumentados ou de um segundo IRT, quando a primeira dosagem for alterada e não se fez o estudo da mutação na primeira dosagem, por ora só está implantado na rotina nos estados de Santa Pneumologia Paulista Vol. 25, No.15/2011 Tabela 1. Critérios diagnósticos de Fibrose Cística A 1.Características fenotípicas (1 ou mais) • doença sinusal ou pulmonar crônica B 1.Cloro no suor > 60 mmol/L em 2 dosagens • alterações gastrintestinais e nutricionais • síndrome de perda salina • anormalidades urogenitais resultando em azospermia obstrutiva 2.História de irmão com Fibrose Cística 3.Teste de triagem neonatal positivo 2.Identificação de 2 mutações para Fibrose Cística 3.Demonstração de alteração no transporte iônico no epitélio nasal Para o diagnóstico é necessário no mínimo um do itens da coluna A e um da B. Catarina, Paraná e Minas Gerais. Em São Paulo, a triagem neonatal para FC em todos os recém-nascidos vivos do estado foi implantada recentemente (6 de fevereiro de 2010) e no Espírito Santo está em fase de implantação. Em alguns outros locais do país tem sido realizada em algumas maternidades privadas. A experiência preliminar do ambulatório de FC do Instituto da Criança - HC com esses lactentes com diagnóstico pelo IRT seguido do teste do suor alterado é que o espectro clínico da doença é bastante variável: alguns casos são oligossintomáticos e outros muito graves, com internações em UTI por insuficiência respiratória, desnutrição, distúrbios hidroeletrolíticos e colonização precoce por Pseudomonas aeruginosa, Burkholderia cepacia e Staphylococcus aureus meticilino resistente (MRSA). Como muitas destas manifestações são no geral inespecíficas o diagnóstico de FC provavelmente seria retardado se não houvesse o alerta da triagem alterada, levando a maior morbi-mortalidade. Critérios diagnósticos de Fibrose Cística Recordando, o diagnóstico de FC, segundo Rosenstein & Cutting 9,10, é estabelecido seguindo-se os critérios descritos na Tabela 1. Este consenso sobre o diagnóstico de FC foi realizado em 1998, mas os critérios diagnósticos se mantêm até os dias de hoje.11 Recentemente, os critérios diagnósticos de FC foram revistos e a única mudança foi a de considerar, em lactentes menores de seis meses, valores normais de cloro abaixo de 30 mmol/L, e limítrofes entre 30 e 59 mmol/L, uma vez que se tem observado que, em lactentes jovens normais, os valores de cloro no suor são baixos, situando-se ao redor de 10 mmol/L.12 Dessa maneira, valores entre 30 e 59 mmol/L, nessa faixa etária, são suspeitos e requerem repetição e maior investigação.13-15. Deve-se também ressaltar que o teste do suor deve ser feito sempre com a estimulação da sudorese pela pilocarpina13 e que a coleta do suor envolvendo partes da criança (antebraço, perna, dorso, abdome, etc) em sacos plásticos (surpreendentemente ainda praticada em alguns laboratórios) é totalmente inadequada, levando à contaminação e evaporação do suor, com consequente erro Pneumologia Paulista Vol. 25, No.15/2011 na análise dos eletrólitos e resultados falso-positivos e falsonegativos. Conclusões A triagem neonatal para FC tem sido realizada de forma crescente nos países europeus, da América do Norte e mais recentemente da América do Sul. Frente a um primeiro IRT positivo o médico deve tranquilizar a família, pois há grande chance de se tratar de um resultado falso-positivo. Quando o segundo IRT também for positivo ou se encontrar em estudo genético uma ou duas mutações no gene CFTR deve-se solicitar o teste do suor para a confirmação ou não do diagnóstico. Os familiares dos pacientes com FC, assim como dos não doentes mas portadores de uma mutação no gene CFTR, devem receber aconselhamento genético. Frente à confirmação do diagnóstico o paciente deve ser encaminhado a um centro de referência de FC e manter seguimento conjunto com o pediatra. A família deve estar ciente que nos dias de hoje há muitas terapêuticas disponíveis que retardam a progressão da doença levando a melhora na qualidade de vida e na sobrevida (mediana de sobrevida atual se situa ao redor dos 36 anos nos países desenvolvidos). 16 Há muitas pesquisas em andamento com substâncias corretoras dos diversos defeitos do CFTR, que podem num futuro não muito distante levar à cura da FC.17 Referências Bibliográficas 1. 2. 3. 4. Farrell PM, Kosorok MR, Laxova A, Shen G, Koscik RE, Bruns WT, et al. Nutritional benefits of neonatal screening for cystic fibrosis. N Engl J Med. 1997;337:963-9. Farrell PM, Kosorok MR, Rock MJ, Laxova A, Zeng L, Lai HC, et al. 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Fabíola Villac Adde [email protected] Centros de Referência em HAP no Estado de São Paulo SÃO PAULO CAPITAL FMUSP - InCOr - Pneumologia do Hospital das Clínicas(*) Responsável: Prof. Dr. Rogério Souza e Dr. Carlos Jardim Endereço: Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar 44 Horário Atendimento: 4º e 6º feira a partir das 8h Tel: 11 3069-5034 e-mail: [email protected] Hospital Servidor Público Estadual de São Paulo Dr. Responsável: Dr. Carlos Alberto de Castro Pereira Endereço: Rua Pedro de Toledo, 1800 Horário Atendimento: 2ª feira a partir das 8h Tel: 11 5088-8648 Instituto Dante Pazzanese (*) Endereço: Avenida Dr. Dante Pazzanese, 500 - Vila Mariana Tel: 11 5085-6413 ou 5085-6412 UNIFESP - Hospital São Paulo - Pneumologia (*) Responsável: Dra. Jaquelina Sonoe Ota Endereço: Rua José de Magalhães, Vila Clementino Horário Atendimento: 5° feira a partir das 13h Tel: 11 5549-1830 e-mail: [email protected] UNIFESP – Hospital São Paulo - Cardiologia (*) Responsável: Dra. Célia Maria Camelo Silva Endereço: Rua dos Otonis, 897 Horário Atendimento: 2ª feira a partir das 8h Tel: 11 5549-9064 Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo Cardiologia (*) Endereço: Rua Cesário Motta Júnior, 112 - Vila Buarque Tel: 11 2176-7000 Campinas UNICAMP - Hospital das Clínica - Pneumologia (*) Responsável: Dra. Monica Corso Pereira e Prof.Dra. Ilma Aparecida Paschoal Endereço: Rua Zeferino Vaz S/N Prédio HC-UNICAMP Horário Atendimento: 4º feira a partir das 13h30 Tel: 19 3521-7776 e 3521-7907 Hospital Municipal Dr. Mário Gatti Endereço: Av. Prefeito Faria Lima, 340 - Pq. Itália Tel: 19 3772-5700 Botucatu UNESP - Hospital das Clínicas de Botucatu (*) Responsável: Prof. Dr. Hugo Hyung Bok Yoo Endereço: Distrito Rubião Jr. Horário Atendimento: 4º feira a partir das 8h Tel: 14 3882-2969 Ribeirão Preto FMUSP Ribeirão Preto - Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (*) Responsável: Dr. Adriana Ignácio de Pádua Endereço: Av. Bandeirantes 3900 - Monte Alegre Horário Atendimento: 3º feira a partir das 13h (Triagem) Tel: 16 3602-2631 São José do Rio Preto Hospital de Base (*) Endereço: Av. Brig. Faria Lima, 5544 - Vila São Pedro Tel: 17 3201-5000 36 Pneumologia Paulista Vol. 25, No.15/2011 Pneumonias de repetição em pediatria AUTORES: Adyléia Aparecida Dalbo Contrera Toro1, Larissa Vanuchi Rodrigues2, Milena Grotta3; José Dirceu Ribeiro4 SERVIÇO: FCM-Unicamp 1 Médica Assistente do Departamento de Pediatria Aluna graduação do quarto ano de Medicina. Bolsista (PIBIC) de iniciação científica. 3 Mestre em Pediatria e aluna de doutorado na área da Saúde da Criança e do Adolescente 4 Professor Adjunto do Departamento de Pediatria . Chefe da Disciplina de Pneumologia Pediátrica 2 Introdução A estimativa mundial da incidência das pneumonias adquiridas na comunidade (PAC), na faixa etária pediátrica é de 0,29 episódios em um ano, entre crianças menores de 5 anos1. A pneumonia é responsável pela morte de aproximadamente 3 milhões de crianças dentro dessa mesma faixa etária, sendo que 90 a 95% dessas mortes ocorrem em países em desenvolvimento2-6. Essas taxas são consideravelmente altas nesses países pela presença de alguns fatores de risco, tais como: baixo peso ao nascimento, ausência ou menor tempo de aleitamento materno, desnutrição, poluição do ar dentro do ambiente domiciliar, como tabagismo e queimadas domésticas7. Fatores sociodemográficos, como renda familiar insuficiente, famílias numerosas, baixa escolaridade dos pais e cuidados precários com a higiene domiciliar, também influenciam para um maior índice de pneumonia7. O diagnóstico de pneumonia é feito através da clínica do paciente e das alterações encontradas no radiograma de tórax. A taquipnéia é o principal sinal dentre aqueles que marcam o quadro clínico da PAC, sendo que febre, palidez, toxemia, cianose e tosse costumam também estarem presentes. O radiograma de tórax confirma o diagnóstico de pneumonia, avalia a extensão do processo e identifica complicações. Segundo a Diretriz Brasileira para Manejo da PAC Pediátrica1 e a Organização Mundial de Saúde (OMS)8 , as pneumonias virais apresentam predomínio de espessamentos brônquicos e peribrônquicos, opacidades heterogêneas bilaterais, adenopatia hilar e parahilar, hiperinsuflação e atelectasia. Já as pneumonias bacterianas apresentam padrão alveolar segmentar ou lobar, que se traduz por opacidades homogêneas com broncograma aéreo, abscessos, pneumatoceles, espessamento ou derrame pleural1, 8. A técnica inadequada na realização do exame radiológico simples, pode gerar imagens que serão interpretadas erroneamente como processos pneumônicos ou atelectasias. Exemplo são as radiografias expiradas, irradiações com baixa voltagem ou o posicionamento incorreto do paciente. O Pneumologia Paulista Vol. 25, No.15/2011 timo, no radiograma de tórax, pela sua posição anatômica pode levar a uma hipotransparência, geralmente no lobo superior direito, resultando em um diagnóstico de pneumonia. Essas falhas técnicas ou de interpretação podem se repetir em radiografias subsequentes, criando um diagnóstico errôneo de pneumonias de repetição (PR). Assim, é muito importante a avaliação criteriosa de todos os exames radiológicos para interpretação e diagnóstico final9. Definição de “Pneumonias de Repetição” O conceito de pneumonias de repetição não é único entre os diversos autores, sendo difícil encontrar na literatura uma definição universal desta situação. Eigen9 conceituou PR quando o processo patológico foi completamente resolvido e ocorreu novamente uma ou mais vezes, com pelo menos uma radiografia normal no intervalo da doença. Listernick10 definiu PR pela presença de infiltrados recorrentes em diferentes segmentos pulmonares ou em um segmento único, por certo período de tempo, com radiografias comprovadamente normais entre os episódios. Wald 11e Owayed et al. 12, consideraram pneumonias de repetição como dois episódios de pneumonia em um ano ou três episódios em qualquer época da vida. No Brasil, Reis et al.13 definiram PR quando ocorre recorrência de episódios agudos em frequência igual ou maior do que três ao ano, sendo essencial a existência de aspecto radiológico pulmonar anormal por tempo superior a doze semanas. Paiva 14 definiu PR quando, após comprometimento agudo pulmonar, houver regressão clínica e radiológica, e considerou a necessidade de investigar os pacientes com três episódios de pneumonia no período de um ano. Mello et al.15, em um trabalho brasileiro definiram como pneumonias de repetição os conceitos de Reis et al.13 e Paiva 14 quanto ao número mínimo de pneumonias em um ano e, com o de outros autores, quanto à necessidade de radiografia normal entre os episódios. Porém, devido ao fato 37 de que muitas vezes não se consegue resgatar os exames de imagem que comprovem as alterações pulmonares em crianças com história de pneumonias de repetição, mas sim de relatos de várias pneumonias, Mello et al.15, consideraram como repetição o número de 5 episódios em qualquer época da vida por ser mais adequado à realidade brasileira. Prevalência e incidência das pneumonias de repetição Os dados sobre prevalência e incidência de pneumonias de repetição na literatura são escassos. Dentre as crianças hospitalizadas com diagnóstico de pneumonia bacteriana, 7,7 a 9% apresentarão recorrência do quadro12,16-19. Em um estudo brasileiro com crianças acompanhadas em um ambulatório de pneumologia pediátrica a prevalência de pneumonias de repetição foi de 6,27% (40/638)15 . Fatores de Risco para Pneumonias de repetição Os fatores predisponentes de pneumonias de repetição relacionados ao paciente são, o menor tamanho das vias aéreas; história familiar de atopia; complicações respiratórias no período neonatal; desmame precoce; doenças consumptivas ou debilitantes; desnutrição ou deficiência de vitaminas. Já os fatores relacionados com o meio ambiente são o excesso de frio ou de umidade, e poluentes extradomiciliares e domiciliares20. A desnutrição calórica protéica avaliada através da relação entre o peso e a altura está associada à maior morbidade e mortalidade de crianças com infecções de vias aéreas7. Crianças com deficiência de vitamina A têm um risco dobrado de apresentarem infecções do trato respiratório. A suplementação da Vitamina A em crianças menores de dois anos, após infecção pelo vírus do Sarampo, reduziu a mortalidade, mas não mostrou benefícios em relação a tratamento ou prevenção de pneumonia 21-23. Quanto à deficiência de zinco, está associada à redução do crescimento e da resposta imunológica na criança. Estudos evidenciam que a suplementação de zinco resulta em maior crescimento para crianças, em menores taxas de diarréia, malária e pneumonia, além de reduzir a mortalidade na faixa etária pediátrica. Crianças que recebem suplementação de zinco apresentaram menor incidência de pneumonias quando comparadas com crianças que não receberam suplementação, além disso a suplementação parece acelerar a recuperação daquelas com pneumonia grave24. O tabagismo passivo tem importante papel nas doenças respiratórias13,25. O hábito tabágico materno durante a gestação aumenta as chances de prematuridade e natimortalidade. Além disso, aumenta o risco de doenças pulmonares durante os primeiros cinco anos de vida e as chances do surgimento de câncer de pulmão na vida adulta13,.26. Principais causas de pneumonias de repetição As etiologias mais prevalentes de pneumonias recorrentes 38 são aspiração, asma, defeitos e malformações anatômicas, e imunodeficiências. No estudo de Lodha et al.16, realizado em Nova Deli, Índia, a aspiração foi a causa mais freqüente de pneumonia de repetição em 24,2% das crianças que passaram pelo serviço de Pneumologia do Hospital por um período de cinco anos. Esse resultado foi seguido por 15,7% de imunodeficiência, 14,2% de asma e 8,6% de anomalias estruturais. O estudo canadense realizado por Owayed et al.12 também demonstrou aspiração devido a incoordenação de deglutição em 47,9% das 238 crianças pesquisadas como a principal etiologia das pneumonias recorrentes. As outras etiologias foram imunodeficiências, em 10,1% dos pacientes, malformações cardíacas congênitas em 9,2%, asma em 7,9%, anomalias congênitas ou adquiridas no trato respiratório em 7,6% e doença do refluxo gastroesofágico em 5,4% dos pacientes. Já no estudo realizado em Valência, na Espanha27, a asma foi a responsável por 30,4% dos casos de pneumonias recorrentes, correspondendo a 28 das 92 crianças hospitalizadas pesquisadas. No entanto, nove das 28 crianças somente foram diagnosticadas com asma após a recorrência do quadro de pneumonia. Seguiram como as causas mais presentes de recorrência da pneumonia as cardiopatias congênitas, com 29,3% e a aspiração, com 27,1%. Corroborando com essa perspectiva, também no estudo de Çiftçi et al.17 realizado com crianças hospitalizadas na Turquia num período de cinco anos, a asma foi a etiologia das recorrências dos quadros de pneumonia em 32% das 71 crianças que tinham os critérios para diagnóstico de pneumonia de repetição, sendo que sete foram diagnosticadas durante as recorrências e 16 somente após os quadros de recorrência. As outras principais causas encontradas foram doença do refluxo gastroesofágico em 15% dos pacientes, imunodeficiência em 10%, cardiopatias congênitas em 9%, sendo que a aspiração, considerada a principal etiologia em alguns estudos, atingia apenas 3% das crianças pesquisadas. A aspiração decorre da incapacidade de impedir a entrada de objetos estranhos nas vias aéreas 25, e a causa mais comum de aspiração é a doença do refluxo gastroesofágico, que pode ser causada por diminuição da contratilidade do esfíncter esofágico inferior, aumento da pressão intraluminal do estômago ou diminuição do esvaziamento gástrico16. A doença do refluxo gastroesofágico tem maior incidência em crianças que foram prematuras e passaram por sofrimento respiratório 25,28. Outras causas comuns de aspiração são incoordenação orofaríngea, através de microaspirações durante a deglutição; malformações anatômicas, como broncomalácia, estenose brônquica, atresia esofágica e fístula traqueoesofágica 26. A asma é a doença crônica mais comum da infância, sendo definida como uma inflamação crônica das vias aéreas, levando a hiperresponsividade das mesmas. São fatores de risco para asma sensibilidade para alérgenos aéreos, Pneumologia Paulista Vol. 25, No.15/2011 qualidade da dieta materna durante a gestação, poluentes ambientais, micróbios e fatores psicossociais. Sibilo, tosse e dispnéia são os principais sinais encontrados em pacientes asmáticos. Diagnosticar asma em crianças com menos de cinco anos é difícil. Alguns lactentes apresentam sibilância transitória, geralmente desencadeada por infecções virais, que desaparece até a idade escolar. Em outros, esses sintomas podem ser a primeira manifestação de asma 29. Alguns critérios têm sido propostos para a definição de asma em lactentes, devido à dificuldade em diagnosticar asma nessa faixa etária 30. Assim existe uma constante dúvida se a asma é um fator etiológico das pneumonias de repetição ou se consequência. Segundo Huerta et al.27, a asma foi a causa mais freqüente de pneumonias recorrentes, sendo muitas vezes diagnosticada após os episódios de pneumonias. No entanto, de acordo com Picas-Jufresa et al. 30, a pneumonia de repetição pode ser um fator de risco para o desenvolvimento de asma, apesar de não se poder dizer o mesmo da situação inversa. As imunodeficiências são causas raras de pneumonias, porém devem ser pesquisadas quando outras hipóteses tiverem sido esgotadas e os seguintes critérios forem encontrados: mais de quatro infecções respiratórias de origem bacteriana dentro do período de um ano; bronquiectasias inexplicáveis; mais de uma infecção bacteriana severa, como meningite e osteomielite; e apresentação atípica da infecção. O histórico familiar de doenças genéticas leva a uma investigação mais precoce dessa condição. Os defeitos genéticos que podem levar a quadros de pneumonia são aqueles relacionados à fagocitose, opsonização das principais bactérias e deficiência de anticorpos e/ou de complementos32. Depois do sistema imunológico o pulmão é o órgão mais acometido em crianças infectadas pelo vírus da imunodeficiência humana. A infecção pelo HIV desencadeia diversificadas e extensas alterações no mecanismo de defesa pulmonar , o que se traduz em maior número de infecções por germes habituais ou oportunistas. Toro et al.33 analisaram uma coorte de 103 crianças infectadas por transmissão vertical pelo vírus HIV, antes da era pré- HAART (Hyghly Active Anti-Retroviral Therapy) e encontraram 47% de crianças com infecções pulmonares como primeira manifestação clínica da AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adiquirida), sendo 67% destas com o diagnóstico de pneumonias de repetição. Apesar dessa variedade de fatores causais que podem estar envolvidos nos quadros de pneumonias recorrentes, e da morbimortalidade infantil resultante, poucos estudos já foram realizados para que os mecanismos etiológicos fossem esclarecidos. No Brasil, em que as condições sócioeconômicas aumentam os riscos de pneumonias de repetição, há a necessidade da maior realização de pesquisas acerca do tema para que menos crianças sejam acometidas e programas de prevenção e diagnóstico precoce sejam criados. Pneumologia Paulista Vol. 25, No.15/2011 Conclusões Observando o panorama da pneumonia pelo mundo, através da revisão bibliográfica realizada, é possível perceber o impacto social e econômico que a mesma traz. Além do alto índice de mortalidade dentro da faixa etária pediátrica, o tratamento das pneumonias de repetição onera o sistema de saúde público, principalmente nos países em desenvolvimento, uma vez que muitas vezes requerem hospitalização além do tratamento medicamentoso. Compreender a existência de uma etiologia para a recorrência dos quadros de pneumonia é determinar uma conduta terapêutica para a causa, e não para a conseqüente patologia, impedindo o aparecimento de novos quadros respiratórios e diminuindo a morbi-mortalidade. No entanto, são poucos os trabalhos e os investimentos em pesquisa, tanto em âmbito mundial como nacional, que abrangem a recorrência das pneumonias, apesar da transparente importância do assunto. Anualmente crianças são admitidas nos serviços de saúde por infecções respiratórias. É extremamente necessário compreender melhor o que as torna susceptíveis a tal condição, o que poderia contribuir para a criação de um programa educativo-preventivo. Referências Bibliográficas 1. Diretrizes Brasileiras em Pneumonia Adquirida na Comunidade em Pediatria, 2007. J Bras Pneumol 2007; 33(1): 531-50. 2. Chisti MJ, Tebruegge M, La Vicente S, Graham SM, Duke T. 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Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 155 - 5º andar - Bloco 4ª - (Prédio Amarelo) São Paulo Santa Casa de São Paulo Rua Martins Fontes, 208 Tel.: 11 2141-6200 São Paulo Hospital São Paulo/UNIFESP Rua Pedro de Toledo, 659 Tel.: 11 5572-4444 São Paulo Hospital Servidor Público Estadual Rua Pedro de Toledo, 1800 Tel.: 11 5088-8648 Hospital Heliópolis Av. Almirante Delamare, 1534 Tel.: 11 6914-8611 Ramal: 325 São Paulo Hospital Mandaqui Rua Voluntários da Pátria, 4300 Tel.: 11 6281-500 São Paulo NGA 62 Maria Zélia Rua Jequitinhonha, 360 - Catumbi Tel.: 11 6291-3025 São Paulo NGA 63 - Várzea do Carmo Rua Leopoldo Miguez, 327 - Cambuci Tel.: 11 3385-7073 São Paulo CSI Pinheiros Rua Ferreira de Araújo, 789 Tel.: 11 8588-0079 São Paulo CS Pirajussara Av. Ibirama, 1214 - Taboão da Serra Tel.: 11 4139-9506 São Paulo Instituto Clemente Ferreira Rua da Consolação, 717 Tel.: 11 3219-0750 São Paulo CSI Ibirapuera Rua Phellipe Vitry, 280 Tel.: 11 5515-1693 São Paulo Hospital Mário Covas Av. Príncipe de Galles, 821 - Sala de Função Pulmonar Anexo II Tel.: 4993-5469/6829-5011 Santo André Pneumologia Paulista Vol. 25, No.15/2011 Pneumonias adquiridas na comunidade em lactentes, crianças e adolescentes AUTORES: Joaquim Carlos Rodrigues1, Luiz Vicente Ferreira da Silva Filho2, Marina Buarque de Almeida3 SERVIÇOS: Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) Faculdade de Medicina da USP Instituto da Criança do HCFMUSP 1 Professor Livre-Docente do Departamento de Pediatria, Coordenador da Unidade de Pneumologia Pediátrica 2 Mestre e Doutor em Pediatria, Médico assistente 3 Mestre e Doutora em Pediatria, Médica Assistente Introdução Os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que cerca de um terço da mortalidade mundial em crianças (4 a 5 milhões de óbitos anuais) é causada pelas infecções respiratórias agudas.1 O Fundo para as Nações Unidas para a Infância (UNICEF) estima que mais de 3 milhões de crianças morra de pneumonia a cada ano, predominantemente nos países em desenvolvimento.1,2 Os estudos epidemiológicos das pneumonias agudas adquiridas na comunidade (PAC) mostram que o Streptococcus pneumoniae é o agente etiológico bacteriano mais importante, em todas as faixas etárias, tanto nos países desenvolvidos quanto nos em desenvolvimento. 3,4,5 A resistência desse agente à penicilina e às cefalosporinas tem aumentado progressivamente em todos os continentes e tem-se constituído em um fator de preocupação.6,7 Após isolamento do pneumococo é importante, quando possível, a determinação da concentração inibitória mínima com o intuito de orientação terapêutica. 8 Nos derrames parapneumônicos em crianças, os pneumococos ainda são os agentes predominantes, porém nos países onde é rotineira a vacinação anti-pneumocócica houve uma queda substancial na sua prevalência com um incremento na freqüência de Staphylococcus aureus.9 Os agentes de pneumonias atípicas, Mycoplasma pneumoniae e Chlamydophyla pneumoniae são importantes na etiologia das PAC, particularmente em crianças acima de 4 a 5 anos de idade, correspondendo, em países desenvolvidos, a cerca de até um terço dos casos.10,11 Algumas bactérias que foram previamente consideradas não patogênicas no trato respiratório, tais como Haemophilus influenzae não-tipável e Moraxella catarrhalis, ocasionalmente têm sido implicadas nas pneumonias agudas em crianças.12 O Staphylococcus aureus e as enterobactérias são agentes etiológicos importantes nas pneumonias de aquisição intra-hospitalar, nos pacientes imunodeprimidos e nos submetidos a ventilação mecânica.13 O vírus sincicial respiratório (VSR) é um agente frequente Pneumologia Paulista Vol. 25, No.15/2011 de PAC, pode determinar quadros mais graves, particularmente nos lactentes e crianças menores, sendo muito importante a sua investigação em crianças hospitalizadas com pneumonia.14 Nestes pacientes, outros agentes podem ser implicados, tais como citomegalovírus, Chlamydia trachomatis e Pneumocystis jirovecci, isoladamente ou, eventualmente, simultaneamente com VSR.15 Outras causas virais, principalmente fora da estação do VSR, incluem adenovírus, parainfluenza tipos 1 e 3, rinovírus, enterovírus, metapneumovirus e influenza.16 A identificação do agente etiológico das PAC é relativamente difícil pelos métodos habituais, novo métodos imunológicos, sorológicos e de biologia molecular (reação em cadeia com polimerase- PCR) com maior sensibilidade tem sido utilizados com esta finalidade.3 Manejo das Pneumonias adquiridas na comunidade Frente à criança portadora de uma pneumonia aguda, duas decisões são importantes: a necessidade ou não de internação e a introdução de uma terapêutica antimicrobiana empírica adequada. Critérios para internação Os critérios de internação podem variar mas os mais habitualmente utilizados na prática clínica são: toxemia ou quadro séptico, hipoxemia que requer administração de oxigênio suplementar, insuficiência respiratória, incapacidade de tolerar medicação via oral, fatores sociais que impossibilitem a reavaliação caso ocorra piora clínica, idade inferior a 2 meses, pacientes com alguma doença de base que possa alterar a evolução clínica da pneumonia (anemia falciforme, síndrome nefrótica, imunodeficiências congênitas ou adquiridas) e presença de complicações (derrame pleural, abscesso pulmonar, pneumatoceles, cavitações, pneumotórax).3,17,18 41 Antibioticoterapia inicial O ideal seria conhecer o agente etiológico, mas diante das dificuldades para obtenção do diagnóstico etiológico utilizamos, na prática, um tratamento antimicrobiano empírico, com base em estudos epidemiológicos.3 Deve-se tentar, sempre que possível, coletar material (sangue, secreções, líquido pleural, etc.) antes da administração do antimicrobiano e, com a etiologia conhecida, adequar o esquema medicamentoso se for necessário. 3 A antibioticoterapia empírica inicial está proposta baseada em grupos etários segundo estudos epidemiológicos e diretrizes mais recentes.17,18,19,20,21,22,23 Período neonatal Nesse período, a pneumonia bacteriana quando associada a corioamnionite é causada mais frequentemente por enterobactérias gram-negativas ou Streptococcus agalactiae. Contudo, Haemophilus influenzae, pneumococos, Listeria sp. e anaeróbios podem estar envolvidos.3 O tratamento inicial inclui o uso de ampicilina associada a uma cefalosporina de terceira geração (preferencialmente cefotaxima) 20 Alternativamente, pode-se utilizar um aminoglicosídeo (gentamicina ou amicacina) particularmente se não houver evidências de meningite.20,21 O tratamento deve ser continuado por pelo menos 10 dias, porém nas infecções por gramnegativos podem ser requeridos 14 a 21 dias.20 Lactentes jovens Em crianças com pneumonia na faixa etária abaixo de seis meses é importante tentar distinguir clinicamente as infecções bacterianas das virais.3,22 As infecções bacterianas, nesse grupo etário, geralmente são caracterizadas por febre e tosse produtiva. Podem existir sinais de toxemia, má perfusão periférica, letargia e taquicardia.24 O pneumococo é o agente mais comum de pneumonia bacteriana nesse grupo etário, outros agentes incluem: Staphylococcus aureus, Moraxella catarrhalis e Haemophilus influenzae.3 O uso de vacinas conjugadas contra Haemophilus influenzae tipo b teve um impacto significativo tornando-o um agente incomum.3,4 A infecção pulmonar pela Bordetella pertussis pode causar anormalidades radiológicas, porém sua apresentação clínica difere das outras pneumonias bacterianas. Os lactentes com suspeita de pneumonia bacteriana, sem sinais de toxemia, desconforto respiratório ou hipoxemia podem ser tratados ambulatorialmente, sob supervisão rigorosa, com amoxicilina por 7 a 10 dias.20,21 Caso existam indicações para hospitalização podem receber inicialmente ampicilina por via intravenosa. Caso não ocorra melhora clínica em 48 a 72 horas, deve-se suspeitar de infecção por Haemophilus influenzae, Moraxella catarrhalis produtora de beta-lactamases, Staphylococcus aureus ou pneumococo de sensibilidade intermediária ou resistente aos antibióticos beta-lactâmicos.3 Nessa situação pode-se empregar amoxicilina–clavulanato ou cefuroxima ou ceftriaxona por via intravenosa.20 Vírus e outros agentes não bacterianos são também muito 42 importantes nesse grupo etário como causa de pneumonias: vírus respiratório sincicial, influenza, parainfluenza, adenovirus, Chlamydia trachomatis, Ureaplasma urealyticum e Citomegalovírus.3,15 A infecção por Chlamydia trachomatis, Ureaplasma urelyticum e Citomegalovírus podem produzir um quadro de pneumonia afebril ou subfebril, clinicamente indistinguíveis.15 O quadro clínico é de instalação insidiosa, iniciando-se com coriza ou obstrução nasal seguida por tosse seca, às vezes com paroxismos de aspecto coqueluchóide, taquipnéia leve ou moderada e preservação do estado geral. Raramente ocorre insuficiência respiratória ou hipoxemia grave.15 A criança se mantém afebril ou subfebril durante toda a evolução. Na ausculta pulmonar observam-se estertores de finas bolhas disseminados com ou sem sibilância de pequena intensidade. O quadro radiológico é de um infiltrado intersticial bilateral e hiperinsuflação pulmonar. Podem ocorrer atelectasias sub-segmentares.15 Nas infecções por Chlamydia trachomatis pode-se encontrar eosinofilia no hemograma e leucocitose sem desvio à esquerda. 10 O diagnóstico pode ser realizado pela identificação do agente em material de nasofaringe através de cultura e de técnicas imunoenzimáticas. O diagnóstico de infecção por Chlamydia trachomatis e citomegalovírus é mais frequentemente efetuado por exames sorológicos, valorizando-se um aumento de 4 vezes nos níveis de IgG específica no intervalo de 2 semanas ou detecção de IgM específica. Recomenda-se a introdução de eritromicina por 10 a 14 dias, pois é ativa no tratamento das infecções por Chlamydia e Ureaplasma. 10,20 Alternativamente pode-se utilizar azitromicina ou claritromicina. O tratamento das infecções por citomegalovírus está apenas indicado nos casos graves (pneumonite com insuficiência respiratória aguda e retinite), sendo que nesta situação deve-se utilizar o ganciclovir.3,15 Pré- escolares Nesse período o pneumococo é o agente mais comum de pneumonias bacterianas. Outros agentes como Moraxella catharralis e Haemophilus influenzae são responsáveis por uma pequena fração das pneumonias nessa faixa etária.3,12,22 Estudos epidemiológicos mais recentes em países desenvolvidos, sugerem que alguns “patógenos atípicos” podem ter um papel relevante na etiologia de pneumonias agudas adquiridas na comunidade nessa faixa etária.10,11,18 Vários destes organismos podem causar pneumonia atípica incluindo: Mycoplasma pneumoniae, Chlamydophila pneumoniae, Legionella pneumophila e vírus respiratórios.10,11,16 O Mycoplasma pneumoniae é o agente mais frequente de pneumonias atípicas em crianças e adolescentes. 11 A pneumonia tem início insidioso predominando sintomas constitucionais como cefaléia, mal estar, tosse inicialmente seca podendo ser paroxística e eventualmente pode se tornar produtiva do tipo mucóide ou mucopurulenta. Pode ocorrer otalgia por otite e miringite bolhosa. A radiografia de tórax Pneumologia Paulista Vol. 25, No.15/2011 pode mostrar apenas um “infiltrado” inflamatório expresso como espessamento peribroncovascular perihilar na fase inicial ou áreas de condensações alveolares, comprometimento intersticial e em cerca de 20% dos casos pode-se observar derrame pleural.11 A doença pode disseminar e causar doença multisistêmica e insuficiência respiratória aguda. Podem ocorrer manifestações cutâneas desde exantemas máculo-papulares até eritema multiforme. É um agente importante de síndrome torácica aguda em pacientes portadores de anemia falciforme. Pode ser causa de pneumonia necrosante em crianças.11 O diagnóstico laboratorial pode ser confirmado através da cultura de secreção de nasofaringe (os portadores assintomáticos são raros) e através de testes sorológicos específicos. Os testes sorológicos mais freqüentemente utilizados são a fixação de complemento (considera-se positivo uma elevação de 4 vezes nos títulos de anticorpos) e mais recentemente têm-se utilizado teste imunoenzimático (ELISA) como um teste mais sensível e específico.3,24 O tratamento deve ser feito com eritromicina ou claritromicina por um período de 10 a 14 dias ou azitromicina por 5 dias.7,20 A levofloxacina é uma opção para crianças com idade superior a 12 anos.17 Na pneumonia por Chlamydophila pneumoniae o início dos sintomas é geralmente gradual, ocorre frequentemente uma faringite e após 1 a 4 semanas surgem os sintomas pulmonares, febre e semiologia de condensação pulmonar.10 Na radiografia de tórax pode-se observar opacidades alveolares e/ou infiltrado intersticial. 10 É comum o acometimento sub-segmentar de um único lobo. Pode ocorrer derrame pleural em cerca de 25% dos casos.10 O diagnóstico laboratorial pode ser realizado pelo isolamento do organismo ou por reações sorológicas. A cultura de material de nasofaringe é um método difícil, necessitando de meios de cultura especiais. Os testes sorológicos são os mais utilizados.3 Na infecção aguda considera-se como positivo um aumento nos títulos de IgG de quatro vezes, um título de IgM de 1:16 ou maior ou um título único de IgG de 1:512 ou maior. A infecção pregressa é caracterizada por um título de IgG de 1:16 a 1:512.3 A reação em cadeia de polimerase (PCR) é um método possível, mas ainda não disponível rotineiramente. O tratamento deve ser realizado com eritromicina ou claritromicina por 10 a 14 dias.20,21 Portanto, nessa faixa etária a conduta inicial deverá ser baseada no quadro clínico, radiológico e laboratorial. Nos casos que não houver indicação para internação o tratamento inicial deve ser feito com amoxicilina por via oral, caso não ocorra melhora após 48 a 72 horas, sem complicações radiológicas, deve-se suspeitar de infecção por Haemophilus influenzae, Moraxella catarrhalis produtora de betalactamases ou ainda pneumococo de sensibilidade intermediária à penicilina; neste caso sugere-se a substituição por amoxicilina-clavulanato ou por cefuroxima.18,19,20,21 Nas crianças com idade igual ou superior a 3 anos cuja pneumonia não respondeu ao tratamento inicial com amoxicilina, com quadro clínico de evolução insidiosa, sem extensão radiológica acentuada do processo, pode-se optar pela administração de eritromicina, claritromicina ou azitromicina visando Mycoplasma pneumoniae e Chlamydophila pneumoniae.3,20,21 Nas crianças com critérios para internação, com pneumonia lobar, com ou sem derrame parapneumônico, deve-se iniciar ampicilina ou penicilina cristalina por via intravenosa. 9,19,20 As crianças internadas inicialmente toxemiadas, portadoras de pneumonia extensa ou aquelas que não responderam ao tratamento inicial ambulatorial com amoxicilina podem receber amoxicilina-clavulanato ou cefuroxima ou ceftriaxona por via intravenosa.19,20 Escolares e adolescentes Nessa faixa etária o pneumococo é o agente mais importante, porém Mycoplasma pneumoniae e Chlamydophila pneumoniae são agentes significantemente prevalentes.3,10,11 A pneumonia bacteriana nesse grupo etário é caracterizada por um início abrupto de febre alta e tosse produtiva. 24 A infecção por Mycoplasma começa com pródromo de faringite, cefaléia ou sintomas gastrintestinais e febre geralmente baixa. Pode ocorrer exantema macular eritematoso e eventualmente artrite. 11 O tratamento ambulatorial pode ser realizado com amoxicilina e, nos casos em que houver suspeita clínica de infecção por Mycoplasma ou Chlamydophila deve-se introduzir um macrolídeo (eritromicina, claritromicina ou azitromicina) ou opcionalmente levofloxacina para crianças acima de 12 anos de idade.20,21 Os quadros 1 e 2 resumem a antibioticoterapia inicial para o tratamento das pneumonias agudas adquiridas na Quadro 1: antibioticoterapia para tratamento domiciliar Faixa etária 2 meses a 5 anos Tratamento inicial Amoxicilina 50 mg/kg/dia VO 12/12h Tratamento opcional (para falha terapêutica) Amoxicilina + clavulanato 50 mg/kg/dia (amoxicilina) VO 12/12h ou cefuroxima 30 mg/kg/ dia VO 12/12h > de 5 anos* Amoxicilina 50 mg/kg/dia VO 12/12h ou Amoxicilina + clavulanato 50 mg/kg/dia Claritromicina 15 mg/kg/dia VO 12/12h ou Azitromicina 10 mg/kg VO (amoxicilina) VO 12/12h ou cefuroxima 30 mg/kg/ dia VO 12/12h (*) Para os maiores de 5 anos tratados inicialmente com amoxicilina a falha terapêutica deve ser abordada com macrolídeo (claritromicina ou azitromicina). Pneumologia Paulista Vol. 25, No.15/2011 43 Quadro 2: antibioticoterapia para tratamento hospitalar (25) Faixa etária < de 2 meses* Tratamento inicial Ampicilina 200 mg/kg/dia IV 6/6h + amicacina 15 mg/kg/dia IV 12/12h ou gentamicina 3 a 7,5 mg/ kg/dia IV 8/8h 2 meses a 5 anos > de 5 anos Penicilina cristalina 100.000 UI/kg/dia IV 4/4/h ou Ampicilina 200 mg/kg/dia IV 6/6h Penicilina cristalina 100.000 UI/kg/dia IV 4/4/h ou Ampicilina 200 mg/kg/dia IV 6/6h Tratamento opcional (para falha terapêutica) Cefotaxima 100 a 200 mg/kg/dia IV 6/6 ou 8/8h ou Ceftriaxone 100 mg/kg/dia IV 12/12h Cefuroxima 100 a 150 mg/kg/dia IV 8/8h ou Ceftriaxone 100 mg/kg/dia IV 12/12h Cefuroxima 100 a 150 mg/kg/dia IV 8/8h ou Ceftriaxone 100 mg/kg/dia IV 12/12h + Claritromicina 15 mg/kg/dia VO ou IV 12/12h *Aminoglicosídeos podem ser utilizados em administração única diária. comunidade em crianças e adolescentes e as opções quando houver falha terapêutica.25 Situações específicas25: a. Lactentes de 3 semanas a 3 meses, quadros afebris, infiltrados heterogêneos sem opacidades lobares (suspeita de Chlamydia trachomatis): claritromicina 15 mg/kg/dia VO 12/12h por 10 dias ou azitromicina 10mg/kg/dia. b. Pacientes com tosse coqueluchóide, suspeita de B. pertussis, claritromicina 15 mg/kg/dia VO 12/12h por 10 dias ou eritromicina 30 a 50 mg/kg/dia VO 6/6h. c. Pneumonias afebris com evidências de obstrução de vias aéreas ou traqueobronquite: claritromicina 15 mg/kg/dia VO 12/12h por 10 dias ou azitromicina 10 mg/kg/dia VO 5 dias. Conclusões É muito difícil pelo quadro clínico e radiológico identificar e separar as pneumonias virais das bacterianas ou de outras formas de pneumonia, incluindo as atípicas.16,24 O diagnóstico etiológico de crianças com PAC na faixa etária inferior aos 2 anos oferece maior dificuldade, pelo maior número de agentes e ocorrência de infecções mistas, dificultando o estabelecimento racional de uma estratégia terapêutica empírica inicial para esses casos.26 A coexistência de infecção viral e bacteriana é um achado relativamente frequente, particularmente em crianças abaixo de 2 anos de idade.26,27 Os vírus respiratórios podem ser os agressores iniciais, podem deprimir a imunidade local e/ou sistêmica e facilitar a infecção bacteriana. Portanto, o achado do vírus na via aérea superior não é conclusiva sobre a sua responsabilidade na infecção do trato respiratório inferior. Ele pode ser apenas o agente inicial facilitador, ou modificador da resposta do hospedeiro.3 Marcadores inflamatórios como a proteína C reativa (PCR), a interleucina 6 e a pró-calcitonina não são específicos para discriminar pneumonias bacterianas das virais.28 Crianças com infecção bacteriana podem apresentar valores normais da PCR à admissão, e alguns vírus, como adenovírus e influenza, podem suscitar grandes respostas inflamatórias, resultando em altos níveis de PCR, sugestivos de infecção bacteriana.3,28 Os níveis séricos de interleucina 6 (IL-6) não representaram um bom meio de diferenciar infecções virais 44 de bacterianas.28 Apenas valores muito elevados de prócalcitonina (PCT) acima de 2,0 ng/ml e proteína C-reativa acima de 150 mg/ml sugerem a presença de infecção bacteriana.28,29 A resistência à penicilina in vitro não aumenta o risco de falha à terapêutica à penicilina/ampicilina em doses habituais.30 Isto foi demonstrado em estudo multicêntrico recente em 12 centros de nível terciário em três países da América Latina onde foram incluídas crianças com idade abaixo de cinco anos hospitalizadas por pneumonia grave.31 A conclusão foi de que a penicilina/ampicilina IV permanece como droga de escolha para tratar pneumonia pneumocócica resistente à penicilina nas áreas em que o MIC não exceda 4mcg/ml. Por outro lado as alterações dos critérios de resistência baseadas no MIC alteraram os conceitos previamente existentes . A gravidade da pneumonia e a presença de complicações como derrame parapneumônico, pneumonia necrosante e abscesso pulmonar estão relacionadas a determinados sorotipos de pneumococos mais virulentos e não à resistência à penicilina.32 Os sorotipos 3 e 14, apesar de sensíveis à penicilina e cefalosporinas, são extremamente agressivos e determinam graves complicações pulmonares.32 Referências bibliográficas 1. 2. 3. 4. 5. 6. Pneumonia, the forgotten killer of children Geneva: UNICEF/ WHO; 2006. Available at: http://whqlibdoc.who.int/ publications/2006/9280640489_eng.pdf. Greenwood BM, Weber MW, and Mulholland K. Childhood pneumonia – preventing the world’s biggest killer of children. Bull World Health Organ. 2007;85(7):502-503. Rodrigues JC, da Silva Filho LV, Bush A. Etiological diagnosis of pneumonia – a critical view. J Pediatr (Rio J). 2002;78(Suppl 2):S129-S140. 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Luiz Edmundo Carrijo Coube, 1-100 - Núcleo Geisel Tel.: 14 3103-7777 Bauru Faculdade de Medicina de Botucatu Rubião Junior Tel.: 11 3811-6267/3811-6151 Botucatu Unicamp Rua Vital Brasil, 251 Cidade Universitária Tel.: 19 3521-7776 Campinas Faculdade de Medicina de Marília Av. Tiradentes, 1310 Tel.: 14 3402-1709 Marília Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto/USP Av. Bandeirantes, 3900 - Campus Universitário Monte Alegre Tel.: 16 3602-2342/3602-2345 Ribeirão Preto Hospital Guilherme Álvaro Av. Siqueira Campos, S/N Tel.: 13 3202-1300 Santos NGA 57 Aparecida Rua Alexandre Martins, 70 Tel.: 13 3227-5969 Santos Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto Av. Brigadeiro Faria Lima, 5544 Tel.: 17 3231-5000 São José do Rio Preto Unidade de Especialidades de Saúde - São José dos Campos Av. Francisco José Longo, 925 - São Dimas Tel.: 12 3942-4753 São José dos Campos Conjunto Hospitalar de Sorocaba Av. Comendador Pereira Inácio, 564 Tel.: 15 3332-9100 45 RELATO DE CASO Tratamento de hemangiomas de vias aéreas em crianças utilizando propranolol AUTORES: Mauro Tamagno1, Hélio Minamoto2 SERVIÇO: Disciplina de Cirurgia Torácica – Incor – Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Brasil 1 2 médico residente médico assistente-doutor Introdução O hemangioma é uma formação benigna de capilares e vasos sanguíneos. É a neoplasia de origem vascular mais comum da infância, sendo mais freqüente no sexo feminino.1 Devido à involução espontânea, a maioria dos hemangiomas não requer intervenção. Ainda assim, o tratamento é necessário em 10-15 % dos casos, especialmente quando há ameaça à vida e às funções fisiológicas.2 Hemangiomas subglóticos são raros, os sintomas geralmente ocorrem nos primeiros 6 meses de vida e os casos tardiamente diagnosticados podem levar à insuficiência respiratória. 1,3 Atualmente, as opções terapêuticas com maior respaldo na literatura são os imunossupressores, imunomoduladores e a ressecção.2,3,4 Desde 2008, vários relatos de casos têm descrito tratamentos bem sucedidos com propranolol para hemangiomas em diversas topografias.1,5 Em 2009 relatos da experiência inicial com propranolol como tratamento único para hemangiomas de vias aéreas foram publicados, com resultados excelentes.1,3,4 No entanto, várias perguntas permanecem sem resposta sobre o tratamento com propranolol: a maior eficácia em população pediátrica, a duração ideal do tratamento, a incidência de resistências e recaídas e a incidência de efeitos colaterais graves.8 O objetivo do presente trabalho é relatar a experiência do Serviço de Cirurgia Torácica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, no tratamento do hemangioma de vias aéreas em duas crianças com propranolol. CASO 1 Paciente de 6 meses de idade, sexo feminino, foi avaliada no setor de emergência devido a desconforto respiratório. Como antecedentes, a paciente teve nascimento prematuro (34 semanas) e fora tratada previamente para refluxo gastroesofágico e infecções respiratórias de repetição. No exame físico apresentava estridor laríngeo. Todos os exames 48 Figura 1 - tomografia computadorizada de tórax, laringe e traqueia laboratoriais eram normais. A tomografia computadorizada de tórax, laringe e traqueia mostravam uma massa heterogênea, ricamente vascularizada no hemitórax esquerdo (Figura 1), sem malformação cardíaca associada. A broncoscopia rígida realizada sob anestesia geral revelou uma grande massa pulsátil que obstruía quase totalmente a laringe e traqueia. O diagnóstico de hemangioma fundamentou-se nos aspectos radiológicos e endoscópicos. Não foi realizada biópsia devido ao risco de sangramento. O tratamento com corticosteróide (betametasona 0,5 mg/ kg por dia) foi iniciado. Após duas semanas de tratamento, não foi observada melhora clínica. A corticoterapia foi suspensa, e o tratamento com propranolol (1mg/kg por dia) foi iniciado. Após 5 dias de tratamento, a paciente apresentou melhora clínica e do estridor. A dosagem de propranolol foi gradativamente aumentada para 2 mg/kg por dia. Foi realizada monitorização cardíaca e de glicemia para evitar possíveis complicações. Após 3 meses de tratamento, foi realizada outra broncoscopia rígida. Observouse melhora endoscópica, com redução da lesão e aumento da luz da via aérea efetiva para ventilação. (Figura 2) Pneumologia Paulista Vol. 25, No.15/2011 Figura 3.A - Lesão antes do tratamento com propranolol. Figura 3.B - Após 3 meses de tratamento. Discussão Figura 2 – 2.A- Lesão antes do tratamento com propranolol 2.B - Após 3 meses de tratamento CASO 2 Paciente de 4 meses de idade, sexo feminino, ingressou no serviço com quadro de insuficiência respiratória. Havia sido encaminhada de outro Hospital no qual tinha sido submetida a duas dilatações de traqueia. Após avaliações clínica e tomográfica iniciais foi realizada laringoscopia rígida de urgência. Pelo grau de obstrução traqueal, edema laríngeo e quadro clínico, decidiu-se por realizar traqueostomia. Subseqüentemente foi iniciado tratamento com propranolol na dose de 2mg/kg/dia, e a paciente apresentou boa evolução. A mesma monitorização clínica descrita anteriormente foi realizada. Após 3 meses foi realizado controle tomográfico e endoscópico, que mostrou redução nas dimensões da lesão e melhora da luz traqueal.(Figura 3) Por causa da persistência da estenose de via aérea decidiu-se por colocar uma prótese de silicone tipo tubo T de Montgomery, para garantir a permeabilidade da via aérea. Após 20 meses e 15 meses de seguimento, respectivamente, as duas crianças continuam em uso de propranolol, sem apresentarem efeitos adversos, progressão do hemangioma ou recidiva dos sintomas. Pneumologia Paulista Vol. 25, No.15/2011 O hemangioma, geralmente se desenvolve durante as primeiras semanas de vida e tem uma fase de crescimento rápido durante os primeiros 3 a 6 meses, seguida por uma fase de involução ao redor dos 12 meses, podendo durar de 3 a 7 anos.1,2 A prednisolona tem sido a primeira linha de tratamento para hemangiomas, em doses de 2-5 mg/kg por dia.1 O uso, seja por via oral, seja intralesional, não esta isento de efeitos colaterais. O uso prolongado de corticosteróides pode resultar em retardo do crescimento, úlcera péptica, diabetes mellitus, necrose avascular de quadril, fraturas espontâneas, imunossupressão e outros problemas metabólicos e de desenvolvimento.1,2 Por acaso, notou-se que em uma criança portadora de hemangioma nasal ocorreu a diminuição significativa do tamanho da lesão, após o início do tratamento com propranolol para uma cardiomiopatia obstrutiva. Depois deste relato, vários outros relatos de casos têm descrito tratamentos bem sucedidos com propranolol para hemangiomas em diversas topografias. Em muitos desses casos, o propranolol foi utilizado como medicação adjuvante de tratamentos clínicos e cirúrgicos.1,3,4 A notável resposta clínica e os limitados efeitos colaterais resultaram em um crescente interesse em utilizar o propranolol como agente de primeira linha para os hemangiomas.4 Dentre as possíveis explicações para o efeito terapêutico do propranolol–beta-bloqueador não seletivo – nos hemangiomas pode-se mencionar vasoconstrição, diminuição 49 na produção de VEGF e de fator de crescimento de fibroblasto básico; e estímulo a apoptose das células endoteliais dos capilares. 4 Todavia, o propranolol pode induzir sérios efeitos colaterais, como bradicardia e hipotensão, além de poder ocultar sinais clínicos de insuficiência cardíaca e diminuir o desempenho cardíaco. 6,7 Pode ainda exacerbar as manifestações clínicas da hipoglicemia, associada com sequelas neurológicas em longo prazo.[6] Entre outros efeitos colaterais, foram descritas crises asmáticas na primeira semana de tratamento.8 Devido aos possíveis efeitos colaterais do propranolol, um rígido protocolo foi proposto,4,6 o qual inclui ecocardiograma, exame cardiológico e monitorizacão da glicemia nas primeiras 48h de tratamento. O propranolol é administrado a cada 8h, com dose inicial de 0,5-1,0 mg /kg. Se os sinais vitais e o nível de glicemia permanecerem normais, a dose é aumentada até um máximo diário de 2-3 mg/kg. 4 Atualmente outros tipos de betabloqueadores estão sendo utilizados para o tratamento de hemangiomas.8 Não se sabe ainda por quanto tempo a criança deve permanecer usando propranolol, mas é recomendado que o tratamento se estenda até o primeiro ano de vida, quando termina a fase proliferativa do hemangioma.4 Uma série de casos descreveu a recidiva do hemangioma depois de suspender precocemente o propranolol, assim como uma resistência ao tratamento, quando foi introduzida novamente a droga, mesmo com doses maiores.8 Tem se demonstrado sucesso no uso de propranolol no tratamento de hemangiomas de cabeça e pescoço. 5,8 A experiência inicial aqui apresentada, como também a de outros serviços, sugerem que seja um tratamento efetivo como primeira linha terapêutica para hemangiomas subglóticos com compressão de vias aéreas que requeiram intervenção.1,2,4-7 Em conclusão, esta terapêutica tem que ser protocolada, 50 como propõe Troung e colaboradores 9 seguindo um algoritmo diagnóstico e terapêutico, em instituições com recursos e profissionais experientes, familiarizados com o uso de esta medicação em crianças. Espera-se que, conforme o uso do propranolol se torne mais difundido, a dose ideal, o tempo de tratamento e os efeitos colaterais possam ser mais bem compreendidos. Referências Bibliográficas 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. Truong MT, Chang KW, Berk DR, Heerema-McKenney A, Bruckner AL. Propranolol for theTreatment of a LifeThreatening Subglottic and Mediastinal Infantile Hemangioma. J Pediatr. 2010;156(2):335-8. Léauté-Labrèze C, Sans-Martin V. Infantile hemangioma [Article in French]. Presse Med. 2010;39(4):499-510. Denoyelle F, Leboulanger N, Enjolras O, Harris R, Roger G, Garabedian EN. Role of Propranolol in thetherapeutic strategy of infantile laryngotracheal hemangioma. Int J Pediatr Otolaryngol. 2009;73(8):1168-72 Maturo S, Hartnick C. Initial experience using propranolol as the sole treatment for infantile airway hemangiomas. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2010;74(3):323-5. Léauté-Labrèze C, Dumas de la Roque E, Hubiche T, Boralevi F, Thambo J andTaïeb A. 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Barbisan2, Alan Fiuza de Melo3, Carlos Roberto Bazzo4, Gilberto Pety da Silva5, Clovis E. T. Gomes6 SERVIÇO: UNIFESP – Setor de Pneumologia Pediatrica 1 Médica Assistente. Doutorado em pediatria Médica Assistente. Mestre em ciencia 3 Medico Assistente 4 Médico Assistente 5 Professor Adjunto 6 Professor Assistente e Chefe Setor 2 Introdução As pneumonias adquiridas na comunidade geralmente respondem ao tratamento convencional. Eventualmente podem cursar com complicações como as pneumatoceles. Atualmente uma das principais bactérias relacionada às pneumonias complicadas é o S.pneumoniae. 1,2 As pneumatoceles (PC) são cistos preenchidos por ar, intraparenquimatosos, de paredes finas que se desenvolvem secundariamente a uma necrose bronquiolar / alveolar e permitem a passagem de ar para o espaço intersticial.3 Em geral regridem espontaneamente com a melhora do processo pneumônico. Algumas vezes necessitam de intervenção cirúrgica, por exemplo se tornarem-se hipertensivas ou houver rompimento para a cavidade pleural. Nesses casos há necessidade de drenagem pleural.4,5 O desaparecimento das PC pode levar de semanas a vários meses. Relatamos o caso de uma paciente que desenvolveu uma PC gigante na evolução de uma pneumonia bacteriana, com resolução espontânea. Fig. 1 - 2ª dia de internação - RX de tórax com opacidade do hemitórax direito. Pneumonia com derrame pleural. Relato de caso Paciente internada inicialmente em outro serviço com história de febre e tosse há 10 dias. Feito diagnóstico de pneumonia no hemitórax direito, no 2º dia de internação (DI) evoluiu com derrame pleural (figura 1) . Não foi drenada. No 12º DI, o RX de tórax demonstrou pneumatoceles extensas com desvio do mediastino para a esquerda (figura 2). A tomografia de tórax (figura 3) do mesmo dia mostrou extensas áreas de PC e colabamento do pulmão à direita. Foi optado por tratamento clínico. Permaneceu 4 dias na unidade de terapia intensiva para observação e monitorização clinica. Não houve isolamento do agente infeccioso. Paciente recebeu alta no 30ºDI. Após 7 dias da alta paciente veio ao ambulatório de especialidade. Encontrava-se em bom estado geral, eupneica, corada e afebril. O exame físico mostrava somente diminuição do murmúrio vesicular (MV) nos 2/3 inferiores do hemitórax direito (HTD), sem evidência de retrações no tórax. Retornou após uma semana com RX de tórax (figura 4) que demonstrava várias pneumatoceles com desvio do mediastino para esquerda. Pneumologia Paulista Vol. 25, No.15/2011 Fig. 2 - 12ª dia de internação (24/03/11) - RX de tórax com várias pneumatoceles no hemitórax direito e desvio do mediastino para esquerda Ao exame, paciente mantinha-se sem desconforto respiratório, somente com redução do MV (2/3 inferiores do HTD). A frequência respiratória era de 24 incursões respiratórias/ minuto; frequência cardíaca de 101 batimentos/minuto e saturação em ar ambiente de 97%. Após 30 dias retornou com RX de tórax (Figura 5) com visualização de uma PC pequena 51 Fig.3 - 12ª dia de internação - TC de tórax (24/03/2011) com várias pneumatoceles e pulmão direito colabado. para dentro do espaço pleural com formação de pneumotórax e/ou, fístula broncopleural ou evoluir com infecção secundária.9,10 Recomenda-se observação e seguimento cuidadosos, especialmente se a PC é grande. Há algumas opções de tratamento para as pneumatoceles: drenagem com agulha ou cateter são efetivas em crianças; ressecção cirúrgica da lesão é uma opção em casos graves.4,5,6,7 Imamoglu et al 7 propuseram um algoritmo de tratamento para PC, no qual indicam drenagem com cateter guiado por imagem nos casos complicados. Nosso caso preencheu os critérios dos autores para drenagem, com comprometimento de mais de 50% do pulmão que ocasionouo atelectasia importante do lado acometido . A nossa paciente recuperouse sem qualquer procedimento. Joseph et al 11 relataram um caso similar com PC gigante que foi tratado sem intervenção cirúrgica. A nossa decisão de manter o tratamento conservador baseou-se principalmente no estado geral estável da paciente e na ausência de sinais de desconforto respiratório. Conclusão Não há consenso em relação ao tratamento conservador ou cirúrgico de pneumatoceles gigantes. Esse caso mostrou uma boa evolução, em um período curto, com remissão espontânea da PC. Referências Bibliográficas 1. Fig. 4 - RX de tórax ( 25/04/2011) - 13ª dia após alta hospitalarvárias pneumatoceles no hemitórax direito e desvio do mediastino para esquerda. Fig. 5 - Rx de tórax (17/05/11) - 35º dia após alta hospitalar. Pneumatocele pequena na base direita na base direita, com regressão importante da PC. O RX de tórax normalizou após um mês. Discussão A maioria das PC regride espontaneamente . As alterações radiológicas desaparecem dentro dos primeiros dois meses, embora possam persistir por 6 meses ou mais. 6,7,8 As complicações de uma PC são tornar-se hipertensiva, romper 52 Sawick GS, Lu FL, Valim C, Cleveland RH ,Colin AA. Necrotising pneumonia is an increasingly detected complication of pneumonia in children. Eur Respir J 2008; 31: 1285–1291 2. Wexler ID, Knoll S,Picard E, Villa Y, Shoseyov D, Engelhard D, Kerem E. Clinical characteristics and outcome of complicated pneumococcal pneumonia in a pediatric population. Pediatr Pulmonol 2006;41:726 -34. 3. Quigley MJ, Fraser RS. Pulmonary pneumatocele: Pathology and pathogenesis. AJR Am J Roentgeol 1988;150:1275-7. 4. Sewall LE, Franco AI, Wojtowycz MM, McDermott JC Pneumatocele causing respiratory compromise treatment by percutaneous decompression. 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