Visual Merchandising: construindo um cenário de emoções no varejo de moda Maria Aparecida Flores de Almeida1 Resumo O presente artigo busca compreender a importância do visual merchandising no desenho da atmosfera de loja como também analisar o uso desta ferramenta na construção da imagem e identidade de marcas de moda. A metodologia aplicada constitui de uma revisão bibliográfica das áreas de Marketing de Varejo e Moda procurando: (1) ordenar o conhecimento existente sobre o tema; (2) descrever como os fatores situacionais influenciam a decisão de compra do consumidor; (3) analisar o comportamento do consumidor de moda e (4) realizar uma revisão teórica sobre os estímulos sensoriais como elementos construtores da atmosfera de loja. As principais conclusões deste trabalho apontam para a necessidade da criação de um ambiente de loja desenvolvido a partir de análises sobre o perfil do público-alvo, identificando suas preferências e atitudes, transformando o ponto de venda em um cenário de emoções positivas capazes de conquistar e fidelizar este consumidor. Palavras chave: Marketing de varejo. Varejo de Moda. Visual Merchandising. Abstract This article seeks to understand the importance of visual merchandising in the atmosphere of store design as well as analyze the use of this tool in building the image and identity of fashion brands. The methodology used is a literature review of the areas of Marketing Retail and Fashion looking for: (1) order the existing knowledge on the subject; (2) describe how situational factors influence the consumer's purchasing decision; (3) analyze the fashion consumer behavior and (4) conduct a literature review on the sensory stimuli as building blocks of the atmosphere shop. The main conclusions of this study point to the need of creating a store environment developed from analysis of the target audience profile, identifying their preferences and attitudes, transforming the selling point against a backdrop of positive emotions able to conquer and this consumer loyalty. Keywords: Retail Marketing. Fashion Retail. Visual Merchandising. 1 Pós-Graduada em Marketing e Moda pelo Centro Universitário de Araraquara- UNIARA. E-mail: [email protected] 2 1 Introdução O ponto de venda, como o elo final da cadeia produtiva, enfrenta o constante desafio de oferecer ao consumidor um conjunto de elementos em seu ambiente objetivando transformar o ato da compra em uma experiência que permaneça em sua memória como uma lembrança positiva, construindo laços de fidelidade entre o consumidor e a marca, em um momento onde a concorrência se estabelece como ameaçadora face ao aumento da oferta de produtos cada vez mais commoditizados, e o crescimento do comércio eletrônico ou e-commerce, que encontrou uma lacuna no setor varejista com o avanço da tecnologia, e vem sendo preenchida gradativamente por um segmento de mercado que busca facilidade e conforto em seu ato de compra. As decisões do marketing contemporâneo para o varejo apontam para a importância do desenvolvimento de cenários multissensoriais em conformidade com a personalidade da marca construindo uma importante variável de vantagem competitiva, ao inserir a emoção no contexto da venda, como garantia de mais valor e fidelização dos clientes. O conjunto de elementos aguçadores dos canais sensoriais humanos inseridos no varejo moderno, Philip Kotler em 1973 definiu como atmosfera de loja despertando a atenção de acadêmicos do marketing, que em estudos posteriores sobre o tema adotaram outras nomenclaturas, adicionaram novos fatores, como o visual merchandising, que teriam influência no comportamento do consumidor, seguindo porém uma linha única de entendimento, convergindo para o conceito inicial adotado por Kotler. Verifica-se que o varejo de moda torna-se um campo fértil para a adoção destes elementos sensoriais apoiando-se na dinâmica própria da moda em sua constante evolução, entendendo que o setor sobrevive por despertar sedução e busca por traços únicos que o diferencie da concorrência. A partir das reflexões apresentadas, emerge o problema deste estudo: Quais estímulos sensoriais exercem influência sobre a imagem da loja com a finalidade de atrair consumidores e gerar uma experiência de compra positiva? Estabeleceu-se desta forma o objetivo deste artigo procurando na literatura disponível verificar quais e como estes estímulos são abordados por diversos 3 autores e também identificar a importância do visual merchandising no desenho da atmosfera de loja de moda. A relevância deste artigo está na contribuição para ampliar o conhecimento sobre o tema proposto, considerando o cenário atual de competitividade do varejo de moda, no qual a atmosfera apresenta-se como um diferencial na conquista do consumidor e importante vetor de construção da imagem da marca. 2 O varejo moderno como provedor de emoções O varejo moderno apoia-se na conquista do cliente através da geração de valor e experiência positiva, entendendo que o ponto de venda deve oferecer mais que variedade e preços baixos como vantagem competitiva e sim, um ambiente sedutor capaz de influenciar o processo de avaliação, compra e pós compra, quando envolve o produto em um cenário hedônico como defende Fulberg (2003) apud Chamie, Ikeda e Parente (2012, p. 2), "o varejo no novo milênio não se trata de produtos colocados na prateleira para serem admirados e depois comprados, o varejo de hoje tem que compreender o tocar, ver, ouvir e cheirar". Neste contexto, experiência é definida por Schimitt (2002) como acontecimentos individuais que ocorrem como resposta a algum estímulo, e não sendo espontâneos e sim induzidos, o marketing deve fornecer os estímulos ou os "provedores de experiências", que configurarão a imagem da empresa e da marca na mente do consumidor. O autor salienta que as emoções têm origem na estimulação dos sentidos e os consumidores mesmo priorizando uma escolha racional, são igualmente motivados pelas emoções, defendendo que a experiência do consumo está geralmente dirigida para as fantasias, sentimentos e divertimento. Analisando a importância dos estímulos sensoriais no ponto de venda, Parente (2000) ressalta que dentre as variáveis do composto varejista, a que tem poder de encantar o cliente é a própria loja, cuja apresentação envolve diversos aspectos que contribuem para a construção de um ambiente adequado ao públicoalvo selecionado. A maneira de exposição das mercadorias, o visual merchandising, assim como o ambiente ou atmosfera, são fatores importantes na caracterização da loja e identificação das estratégias do varejista, ideia reforçada nos estudos da área 4 de psicologia do consumo onde o ambiente serve de estímulo para a tomada de decisão do comprador. (MIIOTTO e PARENTE, 2009). As análises sobre o comportamento de compra até recentemente negligenciaram a influência dos aspectos experienciais e de prazer (hedônicos) do ato de consumir produtos, firmando-se no conceito de que a mente humana opera constantemente na separação, avaliação e na direção das decisões de consumo. Uma nova compreensão admite que as motivações experienciais-hedônicas gratificam e dão prazer, justificando desta forma a compra e o consumo. (SAMARA e MORSCH, 2005). 2.1 O conceito Atmosfera Pioneiro na abordagem da influência do ambiente da loja na percepção e no comportamento do consumidor, Kotler (1973) apud Kny (2006, p. 23), introduziu o termo atmosfera de loja para descrever “os esforços para criar ambientes de compra que produzam no consumidor efeitos emocionais específicos e que estes aumentem a probabilidade de que ele realize a compra”, sugerindo que a atmosfera é um fator mais influenciador na dinâmica de compra do que o produto propriamente dito, tornando-se neste caso, o produto principal. (CHAMIE, IKEDA e PARENTE, 2012). A atmosfera no varejo compreende uma combinação física e emocional com atributos tangíveis e intangíveis, e pode ser considerada como um atributo psicológico da imagem da loja, “a atmosfera deve ser entendida como o sentimento psicológico que o varejista desenvolve no consumidor quando ele visita a loja. É também entendida como a personalidade da loja." (PARENTE, 2000, p. 294). Estas definições convergem para a influência que a atmosfera pode exercer no conceito de valor para o cliente, quando a compra envolve não somente a aquisição do produto, mas uma experiência completa, potencializando a lealdade na recompra e a propensão a pagar preços mais elevados. Holbrook (1996) apud Chamie, Ikeda e Parente (2012), ratifica que o valor não está no produto adquirido, nem na marca escolhida ou no objeto possuído, mas na experiência que aí se deriva. É sabido que todas as decisões de marketing para o varejo partem inicialmente da segmentação, seleção e conhecimento do mercado alvo, para quem são direcionadas todas as estratégias cabendo aos gestores identificar as principais 5 variáveis da atmosfera que estão disponíveis para "produzir a sensibilização e reação desejada e essa deve ser planejada de acordo com o que tem valor para o consumidor." (CHAMIE, IKEDA e PARENTE, 2012, p. 7). O desenho da atmosfera deve considerar, de acordo com os autores, a orientação motivacional de compra dominante no negócio. Sendo hedônica, os múltiplos estímulos desencadearão um efeito positivo, o que não ocorre em uma orientação utilitária quando o efeito dos estímulos decresce podendo diminuir a intenção de compra, propondo neste caso a redução destes. A partir do conceito inicial apresentado por Kotler (1973) vários acadêmicos ocuparam-se no desenvolvimento de análises sobre quais atributos e estímulos oferecidos pelo varejo, produziriam mudanças no comportamento de compra do consumidor. Como consequência, estes fatores têm sido denominados e agrupados segundo diferentes rótulos e pontos vista: atmosfera, fatores físicos do ponto de venda (embora nem todos sejam propriamente físicos), fatores da apresentação de loja, etc. (GEARGEOURA e PARENTE, 2009). Em seus estudos, Parente (2000), adotando o termo atmosfera dividiu em três grandes grupos os elementos que constituem esta variável. • Apresentação (Externa e Interna); • Layout; • Exposição dos produtos. Para o autor a construção da atmosfera envolve todas as dimensões da loja, iniciando-se pelo tamanho, visibilidade, localização, elementos da fachada, vitrinas, um desenho de layout funcional, e principalmente a apresentação dos produtos que devem contemplar o mobiliário e expositores, possibilitando uma exposição adequada e que o cliente se sinta confortável ao realizar suas compras. 3 Apresentação externa: primeiro vetor de comunicação Segundo Parente (2000) os aspectos externos da apresentação da loja respondem pelo primeiro critério de avaliação do consumidor, influenciando sua percepção sobre a qualidade dos produtos e a que público se destina através do tamanho, estilo arquitetônico, fachada, materiais de acabamento, e conservação. 6 Considerando a importância desta variável, Sackrider, Guidé e Hervé (2009), definem a loja como um produto exposto em uma rua ou corredor de um centro comercial e deve ser destacada por sua embalagem, ou seja, seu aspecto exterior deve capturar a atenção do público e permitir afirmar sem nenhum equívoco para o consumidor sua vocação, a identidade da marca e a imagem que deseja veicular. Estes elementos iniciam um diálogo entre o consumidor e a marca e neste sentido a vitrine assume o papel de principal vetor desta comunicação. Maier e Demetresco (2004) traduzem as vitrinas como espaços que criam narrativas inesperadas e descobertas informativas, culturais e estéticas, estabelecendo diálogos entre produto e público, e nesta função deve propiciar o encontro de imagens novas que mostrem outras maneiras do sujeito consumidor ser /estar no mundo. Por meio da leitura de imagens estampadas nas vitrinas, o consumidor passa a conhecer o produto que é contornado de magia, de prestígio ou grandeza e depois desejá-lo. Demetresco In Cobra (2010), afirma que com o desenvolvimento de estratégias das marcas e o papel cada vez mais importante dos pontos de venda, a vitrine torna-se um elemento-chave no marketing de moda como relação entre o consumidor e a marca, como lugar onde a marca se dá a ver em três dimensões, pois é por meio dela que se pode ter uma experiência concreta e direta da marca e seu produto. Complementa acrescentando que as vitrinas além do caráter persuasivo e sensibilizador exercem funções distintas que podem criar desejos e provocar sedução para o observador, fazendo com que os produtos nela expostos se tornem necessários. 4 Visual Merchandising como elemento da apresentação interna A apresentação interna segundo Parente (2000) abarca elementos que (1) estimulam os sentidos; (2) facilitam a comunicação e o processo de compra e (3) proporcionam conforto. As decisões sobre a exposição dos produtos no interior da loja é uma consequência natural do conceito apresentado na vitrine e assume as mesmas funções de seduzir e induzir o cliente a percorrer todo o ambiente de vendas em um diálogo direto entre a marca e seu público-alvo. De acordo com Sackrider, Guidé e 7 Hervé (2009) as formas de apresentação dos produtos conheceram no decorrer dos séculos uma crescente sofisticação embora as técnicas daquilo que compreende hoje a expressão visual merchandising terem surgido recentemente acompanhando as modificações no comportamento do consumidor, a crescente concorrência, a banalização dos produtos e a própria evolução da distribuição. No prefácio desta obra, Demetresco ressalta que a cultura do visual merchandising busca dar sentido aos produtos de uma marca em seu ponto de venda, em uma interação entre homens e objetos, e que desta relação, gere uma experiência agradável, graças a uma organização bem pensada e cuidadosamente produzida, trazendo a tecnologia, a cenografia, os materiais que criam efeitos especiais e que adicionam a teatralização ao momento da compra. Com o mesmo entendimento, Blessa (2003) define o visual merchandising: Técnica de trabalhar o ambiente do ponto de venda criando identidade e personificando decorativamente todos os equipamentos que circundam os produtos. O Merchandising Visual usa o design, a arquitetura e a decoração para aclimatar, motivar e induzir os consumidores à compra. (BLESSA, 2003, p. 22). O setor da moda sempre utilizou a ambientação com o propósito de agregar valor ao produto e deve responder aos desafios de ir fisicamente ao encontro do consumidor com arranjos que facilitem a leitura da oferta e que o seduzam emocionalmente. (SACKRIDER, GUIDÉ e HREVÉ, 2009). Para as autoras esta definição se organiza em torno de quatro eixos principais: • Eixo da estratégia e organização: compreende a implantação dos setores nos quais a oferta é segmentada em famílias, subfamílias e temas conferindo uma organização lógica em uma narrativa clara, rápida e de fácil entendimento em torno das quais o consumidor circula; • Eixo da gestão: em função da superfície disponível e do cálculo de rentabilidade esperado, determina-se o espaço que famílias, subfamílias ou temas ocuparão e o tamanho da variedade que será exposta, concorrendo para a otimização das vendas, disponibilizando ao consumidor conhecimento da oferta disponível. 8 • Eixo da sedução: tange a disposição e animação do ponto de venda na sua totalidade traduzindo a identidade da marca através da decoração, mobiliário, sinalização, ambientação, estabelecendo uma relação de gratuidade lúdica e/ou afetiva entre o cliente e a marca; • Eixo comunicação: a identidade da marca se apresenta utilizando a ambientação, o conceito, a disposição dos produtos, como vetores de comunicação. Conjugando esforços para a criação de um cenário sedutor os sentidos humanos são igualmente estimulados como ferramentas de comunicação. De acordo com Omine (2006), o ponto de venda moderno utiliza esta estratégia para capturar a atenção, estimular a experimentação, concretizar a venda. As novas ferramentas de comunicação são multidisciplinares, utilizam cores, design de equipamentos, comunicação visual, iluminação, som, aroma e texturas, unindo-se à arquitetura. A comunicação segundo a autora estabelece-se através da rápida associação que o indivíduo possui com imagens e mensagens de produtos e marcas, que estão presentes no cotidiano e fazem parte do imaginário. Essas informações, armazenadas devem ser enfatizadas com o objetivo de efetivação da compra. Transmitir mensagens consistentes no ponto de venda é essencial para que todo o esforço de comunicação integrada complete o seu ciclo com o consumidor. Os espaços de vendas devem ser pensados para estas finalidades, permitido os exercícios sensoriais como o olhar, tocar, examinar e comprar. 4.1 Estímulos sensoriais: sedução e comunicação A visão é o sentido mais importante para grande parte da humanidade; aos olhos cabe a tarefa de trazer informações oriundas dos diversos canais de comunicação da arquitetura promocional. Pela visão percebem-se imagens e palavras e tanto uma como outra possuem peculiaridades que devem ser desenvolvidas quando realizado o trabalho de criação, possibilitando que a mensagem seja apreendida com clareza e objetividade. (LOURENÇO e SAM, 2011). 9 Responsável pela captação luminosa dos objetos, o sistema visual é considerado o mais sofisticado e objetivo dos sentidos por ser capaz de reter, num curto espaço de tempo, maior quantidade de informações do que qualquer outro órgão de sentido. O estímulo da visão, de acordo com os autores se manipula através de cores, iluminação e tamanhos e formas. A iluminação configura-se como elemento ícone da cenografia. Latreille (2010) salienta que a iluminação adequada alimenta e repete as vendas espontâneas em vários segmentos do varejo; faz uma declaração sobre a loja, captura a atenção dos consumidores, atraindo-os para o interior e os guia pelas mercadorias e vitrines, ajuda-os a avaliar os produtos e motiva-os a comprar, além de destacar o que o ponto de venda está oferecendo. As cores se apresentam igualmente como um dos mais fortes estímulos no processo de informação e sedução no ponto de venda, criando ambientes, influenciando a temperatura, a percepção da dimensão (cria volume, dando aparência de grande ou pequeno, alto ou baixo, largo ou estreito), e exerce influencia no humor despertando diferentes sensações. (LOURENÇO e SAM, 2011). O estudo da harmonia das cores, segundo os autores, possibilita a criação de composições fundamentadas em estética e beleza, necessárias para o visual merchandising da loja. Afirmam ainda que o ser humano é atraído psicologicamente pela infinidade de tonalidades existentes e reagirá de maneira mais emotiva do que racional diante das cores. "O racional sabe muito bem o que quer: compra por necessidade, compara preços, contrariamente ao emocional, que compra por estímulos." (LOURENÇO e SAM, 2011 p. 179). Por muito tempo negligenciado, o ambiente sonoro do ponto de venda tornouse objeto de cuidados, considerando a influência que a música exerce sobre o comportamento do consumidor. Muitos distribuidores atentos para esta variável desenvolvem trilhas sonoras que estejam em coerência com a imagem da marca, adaptando muitas vezes o compasso em função dos diferentes momentos do dia: mais tônico pela manhã, mais rápido na hora do almoço, quando as pessoas estão apressadas, e calmo à tarde. (SACKRIDER, GUIDÉ e HERVÉ, 2009). Tratando desta variável Blackwell, Miniard e Engel (2005) avaliam a influência da música na compra: (1) música em volume baixo encoraja maior interação social entre compradores e vendedores; (2) a música mais rápida ou mais lenta influencia 10 o tempo gasto na loja e (3) a música clássica empresta uma imagem de sofisticação à loja. Nota-se nestas conclusões a importância do tipo de música como reflexo da imagem e posicionamento da marca, variável também citada por Assis e Giraldi (2012) ao apresentam a conclusão de estudo realizado por Beverland et al. (2006) que examinou a coerência entre a música ambiente e a avaliação da marca no qual verificou que clientes com pouca experiência com a marca veem a música da loja como um importante sinalizador da qualidade e imagem da marca. A necessidade de se diferenciar cada vez mais de seus concorrentes tem levado os lojistas a buscar novas ferramentas de marketing para ganhar a preferência da clientela, e a utilização dos odores é hoje um dos aspectos essenciais que personalizam o ambiente além de serem excelentes atrativos no marketing sensorial, pois o olfato é o sentido mais fortemente manipulável. "Os aromas são a nova fronteira do marketing [...] da mesma forma que um filhote de animal reconhece o odor de sua mãe, também os humanos estabelecem laços íntimos com os aromas." (UNDERHILL ,2009, p.186). Sackrider, Guidé e Hervé (2009), afirmam que estudos visando observar o efeito dos aromas em um espaço de vendas sobre o comportamento dos consumidores evidenciaram uma sensação de compressão do tempo, ou seja, os clientes passariam em torno de 10% a 15% de tempo a mais no interior da loja sem perceber. Outro fator importante salientado é a memória olfativa ser sensivelmente superior à memoria visual, justificando o interesse de muitas marcas em criar logotipos olfativos, ou "logolf", como equivalentes a uma assinatura que as identifique, tornando-se um vetor suplementar da identidade da marca. Observa-se até aqui os diversos estudos que defendem a estimulação dos sentidos humanos como fator que pode exercer influência no comportamento de compra. O consumidor busca uma interação completa com os produtos que resultam na decisão de escolha ou rejeição. Neste sentido o ato de tocar em um produto é um processo de reconhecimento das qualidades táteis e das sensações de maciez, suavidade ou não, que estes provocam em contato com a pele, chegando a influenciar nas compras planejadas e nas não planejadas. (UNDERHILL, 2009). Tal entendimento é reforçado por Blessa (2003), ao afirmar que compra impulsiva constitui-se em um processo não planejado e extremamente rápido, 11 podendo ocorrer em função da lembrança de alguma necessidade ou ser estimulada pela apresentação do produto no ponto de venda estimulando os sentidos. Underhill (2009) abordando a importância do contato do consumidor com o produto justifica que isto de deve às mudanças do funcionamento das lojas onde a tônica atual é a liberdade que o consumidor possui para transitar sozinho em um processo de autonomia, realidade distante da época em que grandes balcões separavam o produto do cliente, necessitando da presença constante do vendedor como intermediário. O ponto de venda moderno expõe quase toda a oferta em locais onde pode ser tocada, cheirada e provada sem nenhuma mediação. 4. 2 Layout: um caminho de descobertas Seguindo os princípios da definição de Parente (2000) sobre atmosfera, o 2 layout apresenta-se como facilitador da circulação e pode ser arranjado para estimular o consumidor a percorrer todo o espaço da loja. O desenho do layout, determinará como os departamentos serão distribuídos e em que pontos as categorias de produtos serão apresentados. O plano de circulação dos pontos de venda, de acordo com Sackrider, Guidé e Hervé (2009), é traçado cada vez mais segundo as disposições da arquitetura interior, considerando as variações da altura do teto, tipos de iluminação, elementos visuais que despertem a atenção, a fim de levar o cliente potencial a percorrer todo o espaço da loja submetendo-o a um amplo leque de apelos. É necessário estimular o olhar do consumidor, construindo perspectivas visuais direcionadas para o fundo da loja, ou em direção aos pontos focais situados em locais estratégicos enfatizando um produto ou uma combinação de vários outros sugerindo o seu uso. Morgan (2011) complementa que a circulação pode conter elementos que ajudem a conduzir o consumidor, como o uso de materiais diferentes no piso ou pela disposição dos expositores ou do mobiliário previamente distribuídos. O layout portanto fundamenta a apresentação e exposição dos produtos. Importa neste estudo salientar que todas as decisões de marketing para o varejo de moda devem estar assentadas na segmentação e compreensão do 2 Palavra inglesa, muitas vezes usada na forma portuguesa "leiaute", que significa plano, arranjo, esquema, design, projeto. Fonte: http://www.significados.com.br/layout/. Acesso em: 20 Ago. 2014. 12 comportamento do mercado-alvo, para quem todas as estratégias do desenho da atmosfera são endereçadas. Ucho de Carvalho (in Kalil, 2010) observa que o consumidor impõe mudanças nos hábitos de compra a cada dia e cabe às marcas atentarem para estas alterações antecipando respostas a estas mudanças, prevendo as necessidades de um consumidor informado, transformando o varejo, terceiro lugar na escala de permanência das pessoas, em um local de descobertas e experiências. "O mercado de produtos de moda é constituído de pessoas cuja mente está voltada para o simbolismo social da posse de bens de aceitação geral" como ressalta (COBRA, 2010, p.103), e o varejo exerce a função de interpretar este simbolismo oferecendo ambientes que conduzam o consumidor a uma viagem hedônica, transportando-o sem muito esforço para o universo da marca. 5 Considerações finais Neste artigo abordou-se a importância do visual merchandising para a construção da atmosfera de loja, constituindo-se em variável capaz de traduzir o posicionamento da marca e decodificar sua identidade na mente do consumidor. Apoiando-se em entendimentos de diversos autores pode-se constatar que o ato da compra distancia-se cada vez mais de uma atividade meramente racional caminhando para uma experiência geradora de emoções advindas da inserção de estímulos sensoriais capazes de prolongar a permanência do consumidor no ponto de venda, possibilitando o aumento do tickt médio. Neste sentido, as decisões para o varejo contemporâneo buscam nas técnicas do visual merchandising um suporte valioso para a Comunicação Integrada de Marketing quando exploram elementos que dialogam com o público-alvo reforçando o traçado da personalidade da marca. Considerando a relevância do tema abordado, este estudo contribui, embasando-se neste conteúdo, para realização de pesquisas futuras constatando a oportunidade de investigar em estudo mais aprofundado através de pesquisa de campo, como lojas de departamento, varejo de luxo e popular desenvolvem estas estratégias e qual o impacto na percepção do consumidor sobra a imagem desejada pela marca. 13 Referências Bibliográficas ASSIS, G.S.; GIRALDI, J.M.E. Influência dos estilos musicais na atitude dos clientes: evidências experimentais em uma loja varejista. Brazilian Business Review. v.9, n.3 Vitória-ES, jul.-set. 2012 p. 96 - 121 ISSN 1807-734X.Disponível em:< www.redalyc.org/articulo.oa?id=123023629005>. Acesso em: 23 Jul. 2014. BEVERLAND, M. et al. In-store music and consumer–brand relationships: relational transformation following experiences of (mis)fit. Journal of Business Research, v. 59(9), p. 982–989, Sept. 2006. BLACKWELL, R.D.; MINIARD P.W.; ENGEL J.F. 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