Encontro Revista de Psicologia Vol. 16, Nº. 25, Ano 2013 UM BREVE ENSAIO SOBRE COMPORTAMENTO SIMBÓLICO E A TEORIA NEUROPSICOLÓGICA DE HEBB RESUMO Marilia Bazan Blanco Universidade Federal de São Carlos UFSCar [email protected] A Psicologia Comportamental apresenta uma explicação bastante plausível para o desenvolvimento da linguagem, enfatizando a relação dos indivíduos com o seu ambiente nesse desenvolvimento. No entanto, uma das críticas sofridas por esta abordagem é a de que ignora os eventos biológicos envolvidos no comportamento. Assim, o objetivo do presente ensaio é discutir a possibilidade da Teoria Neuropsicológica do psicólogo canadense Donald Hebb fornecer subsídios para se entender os mecanismos cerebrais da formação de classes de estímulos e do comportamento simbólico. Acredita-se que os circuitos reverberantes, aglomerados de células e sequências de fases apresentados por Hebb possam fornecer subsídios para o entendimento da formação de classes de estímulos. Palavras-Chave: neuropsicologia. ciências humanas; psicologia comportamental; ABSTRACT The behavioral psychology presents a very plausible explanation for the development of language, emphasizing the relationship between individuals and their environment in this development. However, one of the criticisms countered by this approach is that it ignores the biological events involved in the behavior. Thus, the purpose of this essay is to discuss the possibility of Neuropsychological Theory of the Canadian psychologist Donald Hebb provides subsidies for understanding the neural mechanisms of the formation of stimulus classes and symbolic behavior. It is believed that the reverberating circuits, cell assemblies and phase sequences presented by Hebb can provide subsidies for understanding the formation of the classes of stimulus. Keywords: Symbolic behavior; Equivalent stimuli; Neuropsychological Theory; Reverberating circuits; Cell assemblies. Hebb’s Anhanguera Educacional Ltda. Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 4266 Valinhos, São Paulo CEP 13.278-181 [email protected] Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Artigo Original Recebido em: 18/03/2013 Avaliado em: 08/05/2013 Publicação: 18 de dezembro de 2013 115 116 Um breve ensaio sobre comportamento simbólico e a Teoria Neuropsicológica de Hebb 1. INTRODUÇÃO A linguagem pode ser entendida como um conjunto complexo de símbolos utilizados para a comunicação entre as pessoas. Embora o uso de símbolos não seja uma habilidade exclusivamente humana, a linguagem humana é a mais complexa entre os animais, possuindo um enorme conjunto de símbolos organizados por meio de regras gramaticais. Entre outras abordagens, a Psicologia Comportamental oferece uma explicação bastante cabível para o desenvolvimento da linguagem. O Comportamento Verbal de Skinner (1957), seguido por Sidman (1994) e Hayes e colaboradores (2001) buscam explicar como a linguagem se desenvolve, enfatizando a relação dos indivíduos com seu ambiente nesse desenvolvimento. Uma das críticas sofridas pela abordagem comportamentalista é a de que ela ignora os eventos biológicos envolvidos no comportamento; uma vez que quem se comporta é um organismo biológico, ignorar esta variável é fazer uma análise não completa do seu comportamento. Embora defenda que um dos maiores erros da Psicologia seja buscar as causas do comportamento no interior do organismo, Skinner (1974) afirma que a fisiologia no futuro será capaz de dizer o que ocorre no organismo durante sua ação: [...] o fisiólogo do futuro nos dirá tudo quanto pode ser conhecido acerca do que está ocorrendo no interior do organismo em ação. Sua descrição constituirá um progresso importante em relação a uma análise comportamental, porque esta é necessariamente “histórica”- quer dizer, está limitada as relações funcionais que revelam lacunas temporais. Faz-se hoje algo que virá a afetar amanhã o comportamento de um organismo. Não importa o quão claramente se possa estabelecer esse fato, falta uma etapa e devemos esperar que o fisiólogo a estabeleça. Ele será capaz de mostrar como um organismo se modifica quando é exposto às contingências de reforço e por que então o organismo modificado se comporta de forma diferente, em data possivelmente muito posterior. O que ele descobrir não pode invalidar as leis de uma ciência do comportamento, mas tornará o quadro da ação humana mais completo. (SKINNER, 1974, p.183). Assim, mesmo que o entendimento das bases biológicas do comportamento não seja o objeto de estudo de sua ciência do comportamento, Skinner parece não descartar a importância dessa variável no entendimento do comportamento humano. O psicólogo canadense Donald Olding Hebb buscou discutir a importância do sistema nervoso no comportamento numa época onde os psicólogos valorizavam apenas as variáveis ambientais, e embora sua teoria tenha sido escrita quando pouco ou quase nada se sabia sobre o funcionamento do sistema nervoso e os neurônios, ela encontra-se bem próxima das atuais descobertas em neurociência. O objetivo do presente ensaio é discutir a possibilidade da Teoria Neuropsicológica de Hebb fornecer subsídios para se entender os mecanismos cerebrais Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 16, Nº. 25, Ano 2013 • p. 115-124 Marilia Bazan Blanco 117 da formação de classes de estímulos e do comportamento simbólico. Não pretende-se aceitar a explicação neurobiológica do autor como o evento causal, mas sim como um elo entre o evento ambiental e a resposta comportamental, complementando a explicação mais global do comportamento simbólico. Para tanto, apresentar-se-á inicialmente uma breve explanação sobre o comportamento simbólico, destacando algumas contribuições pós-skinnerianas como o modelo de Equivalência de Estímulos proposto por Murray Sidman e a Teoria dos Quadros ou Molduras Relacionais apresentada por Steven Hayes e colaboradores. Posteriormente, serão discutidas as principais hipóteses da teoria neuropsicológica de Donald Hebb, e uma tentativa de conciliar as teorias, de forma complementar, discutindo se os circuitos reverberantes, aglomerados de células e sequências de fases apresentadas por Hebb podem fornecer subsídios para o entendimento da formação de classes de estímulos. Enquanto ensaio, o trabalho não consiste em uma revisão sistemática das teorias citadas, mas sim em uma reflexão sobre a possibilidade de complementaridade entre elas. 2. UMA BREVE EXPLANAÇÃO SOBRE O COMPORTAMENTO VERBAL, EQUIVALÊNCIA DE ESTÍMULOS E O RESPONDER RELACIONAL Skinner (1957) usa o termo comportamento verbal em substituição a linguagem, buscando enfatizá-la como um comportamento modelado e mantido por suas conseqüências. Para Skinner, o comportamento verbal é estabelecido e mantido por reforçamento mediado por outra pessoa; comportando-se verbalmente, o falante age indiretamente sobre o ambiente, modifica o ambiente por meio da ação de outra pessoa. Para que haja um comportamento verbal é necessário um falante e um ouvinte treinado pela comunidade verbal; a simples presença do ouvinte não é suficiente, ele precisa responder ao comportamento do falante, fazendo-se então necessário o entendimento. “O comportamento verbal se desenvolve a partir da modelagem de sons indiferenciados e com a imitação dos sons da língua materna...” (HAYDU, 2009, p.25). Os balbucios apresentados pelo bebê humano são reforçados diferencialmente por um adulto, sendo que os sons característicos de sua língua materna são reforçados, enquanto outros vocábulos tendem a ser extintos. Essas primeiras falas são reforçadas tanto pela atenção do ouvinte quanto pela sua resposta, que pode ser tanto uma resposta falada quanto uma ação. É a partir dessa interação entre bebê e seu ambiente social que sua linguagem passa a ser desenvolvida, e ele aprende nomear objetos, fazer solicitações e se comunicar (HAYDU, 2009). Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 16, Nº. 25, Ano 2013 • p. 115-124 118 Um breve ensaio sobre comportamento simbólico e a Teoria Neuropsicológica de Hebb Algumas teorias pós-skinnerianas, como as propostas por Sidman e Tailby (1982)/Sidman (1994) e Hayes, Barnes-Holmes e Roche (2001) têm tentado complementar a teoria de Skinner, apresentando explicações para a aquisição de conceitos. Suas teorias são consideradas pós-skinnerianas não porque substituem a teoria de Skinner, mas sim porque são posteriores a ela, visando sua complementação. De acordo com o modelo de equivalência de estímulos proposto por Murray Sidman, utilizada na explicação da aquisição de conceitos, estímulos podem ser agrupados em classes em virtude de compartilharem funções de controle, sendo que a relação entre esses estímulos podem ser baseadas em similaridades físicas ou então propriedades funcionais (ocasionar uma resposta comum) (MOREIRA; TODOROV; NALINI, 2006). Para que dois estímulos pertençam a uma classe de estímulos equivalentes, estes devem apresentar as propriedades de reflexividade, simetria e transitividade. Na reflexividade, as propriedades são mantidas entre um termo e ele mesmo (A=A). Na simetria, a ordem dos termos é reversível (se A=B, então B=A). Na transitividade, o termo comum em dois pares ordenados determina um terceiro par ordenado (se A=B e B=C, então A=C). Quando os estímulos se tornam equivalentes, emergem relações que não foram treinadas. No exemplo acima, com o treino da relação AB e BC, a relação BC surge como uma relação emergente (CATANIA, 1999). Pensando no conceito de CACHORRO, é esperado de uma criança que ela seja capaz de nomear CACHORRO na presença do animal e não na presença de outros animais. Ainda, espera-se que ela escolha a palavra impressa CACHORRO diante da pronúncia da palavra “CACHORRO”. Entre essas relações, da figura cachorro (A), do som cachorro (B) e da palavra escrita CACHORRO (C), derivam outras relações emergentes, que não foram treinadas, e partir daí diz-se que a criança possui o conceito de cachorro. Quando a relação arbitrária entre palavras faladas e objetos, por exemplo, é uma relação de equivalência, pode-se dizer que as palavras são compreendidas (DE ROSE e BORTOLOTI, 2007). A Teoria dos Quadros ou Molduras Relacionais (Relational Frame Theory), apresentada por Steven Hayes e colaboradores, descreve a existência de outras relações entre os estímulos além das relações de equivalência, como por exemplo maior que/menor que, acima de/abaixo, de (MOREIRA; TODOROV; NALINI, 2006). Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 16, Nº. 25, Ano 2013 • p. 115-124 Marilia Bazan Blanco 119 Segundo Hayes e colaboradores, a maioria das relações não é de equivalência, pois não possuem as propriedades de simetria, transitividade e reflexividade. Por exemplo, se A>B, então B<A e não B>A. Essa relação não é simétrica, pois não implica a mesma relação; no entanto, a primeira relação implica em uma segunda relação (maior que, menor que). As relações de equivalência são um exemplo especial de responder relacional arbitrariamente aplicável, e são resultados de um processo de treino, no qual o indivíduo é exposto a múltiplos exemplares dessa relação. Uma das propriedades do responder relacional arbitrariamente aplicável é a transferência de função. Por exemplo, a palavra falada “CACHORRO” passa a ter a mesma função que o animal cachorro em determinadas situações (MOREIRA; TODOROV; NALINI, 2006; DE ROSE; RABELO, no prelo) De um modo geral, quando falamos em classes de equivalência ou responder relacional, estamos nos referindo a diferentes estímulos que adquirem a mesma função; como no exemplo citado, tanto a palavra falada “CACHORRO”, quanto uma palavra impressa CACHORRO, quanto uma figura de CACHORRO, ou ainda a palavra “AU AU”, ou algum nome designado a um cachorro, representam um mesmo estímulo: um animal específico CACHORRO, e a partir de então o indivíduo passa a responder da mesma forma frente a esses estímulos. Pensando em outro exemplo, apresentado por De Rose e Rabelo (no prelo), um torcedor que apresenta sentimentos positivos para seu time de futebol, também o terá para com os símbolos do seu time, e poder-se-á sentir-se ofendido caso alguém pise em sua bandeira. No contato então com uma comunidade verbal, e sendo exposta a diferentes situações, a criança começa a aprender a relação entre diferentes estímulos e a fazer uso de símbolos, desenvolvendo a linguagem. No entanto, dizer que os estímulos foram agrupados em classes de equivalência, de forma que um adquiriu a função do outro pode soar ainda bastante abstrato, e de certa forma, incompleto, se pensarmos em como isso se dá no indivíduo. Essas classes se desenvolvem na relação entre indivíduo e comunidade verbal, mas como isso ocorre no organismo? Parece-me que a Teoria Neuropsicológica de Hebb apresenta uma explicação bastante plausível de como isso ocorre no sistema nervoso do indivíduo. Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 16, Nº. 25, Ano 2013 • p. 115-124 120 Um breve ensaio sobre comportamento simbólico e a Teoria Neuropsicológica de Hebb 3. MODELO NEUROPSICOLÓGICO DE DONALD OLDING HEBB Segundo Hebb (1949/2009), a Psicologia moderna reconhece que comportamento e função cerebral estão intimamente relacionados. Segundo ele, como existe uma sobreposição dos problemas da Psicologia e da Neurofisiologia, existe a possibilidade de ajuda recíproca entre essas áreas. Embora em 1949, quando Hebb escreveu sua obra “The organization of behavior: a neuropsychological theory”, pouco ou quase nada se soubesse sobre a organização do sistema nervoso e das propriedades dos neurônios, sua teoria neuropsicológica vai ao encontro dos achados atuais em neurociências (SEJNOWSKI, 1999). O sistema nervoso humano é formado por aproximadamente 86 bilhões de células nervosas. O neurônio é uma célula especializada cuja função é transmitir impulsos na forma de alterações elétricas e químicas, formado por corpo celular, axônio e dendritos. No final do axônio encontram-se os botões terminais, que fazem conexões com os neurônios mais próximos. O espaço entre um botão terminal de um neurônio e outro neurônio chama-se fenda sináptica. Na presença de um determinado estímulo, uma série de alterações químicas ocasionadas pela estimulação alteram o potencial elétrico da célula, causando um fluxo de íons que dá origem ao potencial de ação. Como resultado desse potencial de ação, neurotransmissores são liberados na fenda sináptica, transmitindo o sinal para outras células nervosas (LEFRANÇOIS, 2008; PURVES et al., 2005) A hipótese central da teoria de Hebb é a de que a transmissão repetida de impulsos entre duas células leva a uma facilitação permanente da transmissão entre essas células (MOREIRA, 2011) Os neurônios podem ser ativados por estimulação, podem ativar uns aos outros e podem transmitir impulsos que estimulam glândulas, órgãos ou músculos. Quando um neurônio é reativado, ele pode disparar o neurônio que o reativou; o reultado dessa reativação circular é o chamado circuito reverberante. Circuitos reverberantes podem ativar uns aos outros, formando aglomerados de células, compostos por milhares de neurônios. Esses aglomerados de células podem ainda ativar uns aos outros, dando a origem a sequências de fases. Assim, uma estimulação específica pode ativar uma rede muito complexa de células nervosas (MOREIRA, 2011) A teoria de Hebb possui quatro hipóteses principais (MOREIRA, 2011; LEFRANÇOIS, 2008): de acordo com a primeira hipótese, um aglomerado de células seria resultante da apresentação repetida de um estímulo, sendo que os mesmos neurônios são Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 16, Nº. 25, Ano 2013 • p. 115-124 Marilia Bazan Blanco 121 ativados a cada apresentação do estímulo. Assim, a repetição teria um efeito facilitador na atividade neuronal. Na segunda hipótese, Hebb afirma que se dois aglomerados de células forem repetidamente ativados ao mesmo tempo (por estimulos distintos), eles tenderão a ficar relacionados neurologicamente, sendo que o disparo de um resultará no disparo do outro. Essa associação explicaria o condicionamento por contiguidade, uma vez que a associação desses aglomerados resultaria numa associação entre esses estímulos, sendo que um evento lembraria ou se relacionaria a outro. Essa segunda hipótese explicaria também a percepção de figuras incompletas (insight), quando apenas partes de uma figura seriam suficientes para a percepção da figura completa. A terceira hipótese está relacionada a associação entre respostas motoras e aglomerados de células, explicando os hábitos motores e o condicionamento clássico pavloviano. Segundo ela, se aglomerados forem ativos durante uma atividade motora, tenderão a ficar a ela associados. Na quarta hipótese, Hebb descreve que cada aglomerado de células corresponde a um input sensorial, e que mesmo a percepção de objetos simples exige a ativação de mais de um aglomerado. Segundo Hebb então, a repetição do mesmo estímulo levaria a associação entre aglomerados, sendo a aprendizagem uma facilitação permanente da condução entre unidades neurológicas (sequências de fase), quando a transmissão de impulsos tornou-se tão fácil que a ativação de uma parte da sequência é suficiente para ativá-la toda (MOREIRA, 2011). O primeiro estágio da aprendizagem envolve a formação de aglomerados de células e suas sequências de fases relacionadas, o que ocorre desde a infância, quando a criança tem contato com diferentes estímulos. Já um segundo estágio, envolvendo aprendizagens mais complexas, implica a combinação de sequências de fases bem organizadas. De acordo com a teoria de Hebb, um mesmo estímulo ativará sempre os mesmo neurônios e afetará sempre a mesma área do córtex (MOREIRA, 2011). Partindo dessas breves considerações sobre o modelo neurobiológico de Hebb, como poderiam estar relacionadas as classes de estímulos e os aglomerados de células e sequências de fases? Quando a criança é exposta a diferentes estímulos, forma circuitos reverberantes e aglomerados de células referentes a esses stímulos. Quando estímulos diferentes são apresentados ao mesmo tempo, na mesma situação, sua codificação sináptica também está Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 16, Nº. 25, Ano 2013 • p. 115-124 122 Um breve ensaio sobre comportamento simbólico e a Teoria Neuropsicológica de Hebb relacionada, de modo que um é capaz de ativar o outro. Pensando em relações mais complexas, uma classe de estímulos equivalentes ou conceito resultaria numa sequência de fase, sendo que diferentes sequências de fases também podem se relacionar. Se retornarmos ao exemplo já apresentado, quando a criança tem contato com o animal CACHORRO, recebe estímulos visuais, auditivos, olfativos desse animal. Todos esses estímulos são codificados de forma interligada, formando aglomerados de células capazes de se ativar mutuamente. Se ao mesmo tempo em que o animal CACHORRO lhe é apresentado, diz-se a palavra “CACHORRO”, esta palavra falada também é codificada de forma relacionada, sendo que ouvir esta sequência de sílabas “CA-CHOR-RO” é capaz de ativar aglomerados de células relacionados. A classe de estímulos equivalentes ou o conceito CACHORRO formaria uma sequência de fase. A Figura 1 apresenta um esquema de ativação dos circuitos reverberantes, aglomerados de células e sequências de fases. Figura 1. Esquema de ativação de circuitos reverberantes, aglomerados de células e sequências de fases. Na Figura 1, as letras A, B, C, E, F e G representam circuitos reverberantes, grupos de neurônios que se ativam mutuamente, na presença de estímulos relacionados, como por exemplo, no caso do animal CACHORRO, suas 4 patas, pêlos, o som do latido, etc. As letras D e H representam aglomerados de células, circuitos reverberantes relacionados entre si, que dão origem, por exemplo, ao animal CACHORRO por completo, que é formado por vários estímulos diferentes referentes ao animal. A letra I representa uma sequência de fase, que representaria o conceito de CACHORRO, ou seja, tanto o animal CACHORRO em si, como a pronúncia da palavra falada “CACHORRO” e seus vários sons constituintes, ou da palavra escrita CACHORRO. Dessa forma, qualquer estímulo relacionado ao animal é capaz de evocar o conceito desse animal. Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 16, Nº. 25, Ano 2013 • p. 115-124 Marilia Bazan Blanco 4. 123 CONSIDERAÇÕES FINAIS Embora discussões filosóficas sejam levantadas quanto às teorias comportamentalistas e cognitivistas, o obejtivo do presente ensaio foi discutir a possibilidade de complementaridade entre a formação das classes de estímulos equivalentes e a Teoria Neuropsicológica de Hebb. Conforme exposto, a formação dos circuitos reverberantes, aglomerados de células e sequências de fases não são tomadas como causadoras das classes equivalentes, mas sim como algo intermediário entre a exposição repetida aos estímulos e o responder. Quando as crianças são expostas as mais diversas situações, tendo contato com objetos e pessoas, vão apresentando comportamentos variados que são reforçados diferencialmente. Por meio da modelação e modelagem, vão desenvolvendo a linguagem, aprendendo a se comunicar, nomear objetos e fazer uso de símbolos. Concomitante a essa estimulação e consequenciação ambiental, formam-se circuitos cerebrais específicos, base neurobiológica do comportamento. A formação de circuitos reverberantes, aglomerados de células e sequência de fases, capazes de ativarem-se umas as outras, seria resultado da exposição concomitante aos diversos estímulos relacionados. De forma bastante simplificada, classes de estímulos equivalentes corresponderiam a sequências de fases, conjunto de células nervosas interligadas de modo bastante complexo. Embora os conceitos de Hebb ainda façam parte de uma explicação conceitual para o funcionamento do sistema nervoso, a Neurociência moderna tem conseguido explicar cada vez mais detalhadamente como se dá neurologicamente todo esse processo. REFERÊNCIAS PURVES, Dale et al. Neurociências. Porto Alegre: Artmed, 2005. DE ROSE, J. C.; RABELO, L. Z. Teoria das Molduras Relacionais e Possíveis Aplicações à Educação. Revista DI. No prelo. DE ROSE, J.C.; BORTOLOTI, R. 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Encontro: Revista de Psicologia • Vol. 16, Nº. 25, Ano 2013 • p. 115-124