13 1. INTRODUÇÃO 1.1 - TEMA Abordagem teórica sobre as conseqüências clínicas do uso prolongado de corticosteróides em pacientes. 1.2 - JUSTIFICATIVA Os corticóides são supressores potentes da inflamação, são utilizados numa ampla variedade de doenças inflamatórias e auto-imunes, estão entre as classes de fármacos mais freqüentemente prescritos. Exercem efeitos sobre quase todos os sistemas orgânicos. O uso clínico e a suspensão dos corticóides são complicados, devido a vários efeitos colaterais graves, alguns até mesmo potencialmente fatais. Em vista disso, a necessidade de ressaltar a extrema importância do manejo clínico do paciente em uso de corticoterapia prolongada. O tratamento com corticosteróides exige um controle rigoroso, haja vista a magnitude das suas conseqüências no organismo, justificando a presente revisão sistemática. 1.3 - PROBLEMA Quais as conseqüências clínicas do uso prolongado de corticosteróides em pacientes? 1.4 - HIPÓTESE O problema e a fonte da controvérsia prende-se com os diversos efeitos secundários que aos corticóides estão associados. As alterações hidroeletrolíticas, osteoporose/fraturas, miopatias, complicações oculares, a síndrome de Cushing entre outras. 1.5 - OBJETIVOS 1.5.1 Geral: - Abordar as possíveis conseqüências clínicas do uso prolongado dos corticosteróides em pacientes. 1.5.2 Específicos: - Sistematizar o conhecimento da importância do monitoramento do paciente em uso de corticoterapia prolongada. - Descrever as principais patologias relacionadas ao uso crônico de antiinflamatórios hormonais e suas características fisiopatológicas. 14 1.6 - METODOLOGIA O trabalho foi desenvolvido através da revisão de literatura dos artigos publicados sobre a ocorrência das conseqüências do uso prolongado de corticosteróides e também sobre síndrome de retirada de usuários crônicos de corticosteróides, de 1998 a 2008, período coberto pelo conjunto de dados disponíveis. Participaram da revisão, estudos observacionais descritivos ou analíticos que abordam o uso da corticoterapia de forma geral, que representem principalmente a importância do monitoramento do paciente em tratamento prolongado com corticóides, com restrição de idioma de publicação (espanhol, inglês e português). Serão excluídos os relatos de caso e todos os estudos que não abordem o tema proposto. A pesquisa bibliográfica consiste no processo de construção do conhecimento que tem como metas principais gerar novos conhecimentos e\ou corroborar ou refutar algum conhecimento pré-existente. Trata-se de uma leitura atenta e sistemática que se faz acompanhar de anotações e fichamentos que contribuem à fundamentação teórica do estudo (BOAVENTURA, 2004). A base de dados a ser utilizada será sites de pesquisa científica como Med Line, Bireme e Lilacs. Os dados de cada estudo foram identificados por meio de formulários de elegibilidade – “corticóides”, “corticoterapia/ efeitos adversos”, “uso prolongado de corticosteróides” e etc. 1.7 - ORGANIZAÇÃO DA PESQUISA Os corticóides foram introduzidos na prática médica em 1949, para o tratamento da artrite reumatóide. Suas indicações, desde então, se espalham pelas diversas especialidades médicas, incluindo a dermatologia, a endocrinologia, a oncologia e a oftalmologia. São agentes que simulam os esteróides hormonais endógenos produzidos no córtex adrenal: o cortisol – glicocorticóide, e a aldosterona – mineralocorticóide (SILVA, 2006). O presente trabalho é subdividido em seis capítulos, os quais apresentam os corticóides em seus aspectos gerais, estrutura química, a fisiologia das glândulas supra-renais, as quais são responsáveis pela liberação dos hormônios corticóides (aldosterona e cortisol). O capítulo 3 aborda os efeitos fisiológicos e patológicos dos corticóides, com a explicação do mecanismo de ação nas células do organismo, e os diversos efeitos nos principais 15 sistemas: nervoso (euforia, hipercinesia), cardiovascular (aterosclerose, miocardia hipertensiva), gastrointestinal (gastrite), efeitos no metabolismo da glicose, proteínas e lipídios, no metabolismo ósseo e na cartilagem (osteoporose), efeitos oculares (glaucoma, catarata), na pressão arterial (hipertensão). E também o emprego dos corticosteróides no tratamento do câncer, pois em combinação com agentes citotóxicos exercem efeitos inibitórios sobre a proliferação de linfócitos. O capítulo 4 apresenta a farmacocinética dos diversos glicocorticóides sintéticos utilizados na prática clínica, correlacionando à potência biológica com a duração de ação de cada um deles. O capítulo 5 menciona as principais patologias associadas à corticoterapia prolongada: síndrome de cushing (hipercortisolismo), osteoporose, catarata, diabetes secundário, infecções (devido a múltiplas ações no sistema imunológico), manifestações psiquiátricas (labilidade emocional, alucinação visual e auditiva) e úlceras pépticas (sangramento intestinal). O capítulo 6 descreve de forma bem clara a importância significativa do acompanhamento do paciente em uso de corticóides, o processo de desmame da corticoterapia. Pois a suspensão da terapia envolve várias decisões difíceis, uma vez que existem várias complicações associadas à interrupção dos esteróides. Sendo a complicação mais grave, a supressão do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, resultando em insuficiência supra-renal aguda. Para se tentar obter a melhor relação risco/benefício, a orientação geral para a corticoterapia é que se utilize a menor dose eficaz pelo menor tempo. Nos casos de uso crônico, a utilização de glicocorticóides em dias alternados deve ser sempre tentada. Infelizmente não dispomos de um medicamento que seja sempre eficaz, pelo que temos de recorrer às diversas terapêuticas alternativas disponíveis. Até encontrarmos esse medicamento que se mostre eficaz os corticóides poderão dar uma ajuda importante no controle da situação. 16 2. CORTICOSTERÓIDES – ASPECTOS GERAIS Hormônios corticóides são substâncias sintetizadas a partir do colesterol pelo córtex da supra-renal, cuja atividade é controlada grandemente pelo hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) liberado pelo lobo anterior da hipófise. Estes hormônios são também chamados adrenocórticos, córtico-adrenais, corticosteróides, adrenocorticóides ou adrenocorticostreóides (KOROLKOVAS, 1988). A decisão de ministrar corticóides e os detalhes do tipo e qual a dosagem desses fármacos é totalmente individualizada depende muito das necessidades do paciente (KLIPPEL; GLUNZ, 1999). Portanto sua prescrição requer muita cautela. Apesar de exercerem efeitos notáveis em diversas patologias, não devem ser indicados rotineiramente, principalmente a longo prazo, devido suas complicações, algumas de extrema gravidade (DIAS, 1999). Os CS são hormônios secretados pela supra-renal, fisiologicamente e quantitativamente o grupo mais importante de esteróides adrenais (MERVYN, 1984). Além dos corticosteróides, as adrenais secretam andrógenos, progesterona e estrógenos, que também são produtos das gônadas. Os andrógenos incluem a androstenediona (AND), testosterona (TES), dehidroepiandrosterona (DHEA) e 11 β- hidroxiandrostenediona (GM et al., 1999). São subdivididos em mineralocorticóides e glicocorticóides. Os mineralocorticóides causam aumento da retenção de sódio e excreção de potássio pelos túbulos renais. O mais importante de todos os mineralocorticóides é a aldosterona. Os glicocorticóides produzem gliconeogênese, ação antiinflamatória, manutenção do tônus muscular, inibição do crescimento ósseo e aumento da excreção de cálcio, além de diversos outros efeitos biológicos. O cortisol é o hormônio mais importante dos glicocorticóides (KATZUNG, 2005). Os corticóides antiinflamatórios são predominantemente glicocorticóides, cujo representante prevalente no homem é o cortisol (SILVA, 2006) Os principais corticóides de utilização clínica, por potência comparada ao efeito antiinflamatório são vistos na Tabela 1. 17 Tabela 1: Potência antiinflamatória aproximada dos principais corticosteróides de utilização clínica, por comparação com efeito antiinflamatório de cortisol. Corticosteróides Média (VO) Hidrocortisona Betametasona Dose Diária antiinflamatória Potência Relativa 40-200 mg 1 1,2-2,4 mg 30 Dexametasona 1,5-3,0 mg 25 Parametasona 4,0-8,0 mg 10 Triancinolona 8,0-16,0 mg 5 Metil prednisolona 8,0-6,0 mg 5 Prednisolona 10,0-20,0 mg 4 Prednisona 10,0-20,0 mg 4 Cortisona 25,0-200,0 mg 0,8 Fonte: SILVA, 2006. Pacientes que não respondem ao uso de fármacos não-esteróides, são normalmente tratados com baixas doses de corticóides por via oral como a prednisona ou metilprednisona (prednisolona). Na maioria dos casos, os corticóides são administrados em dose única pela manhã, embora outras formas incluem várias doses durante o dia, doses em dias alternados, ou em altas doses por via intravenosa (pulsoterapia) (KLIPPEL; GLUNZ, 1999). Por serem os CS, drogas com ação antiinflamatória muito potente, é necessário frisar que as ações dos mesmos contra a inflamação, a alergia, a gota e as neoplasias malignas não são curativas, porém meramente paliativas e destinadas a aliviar os sintomas (KALANT, 1991). 2.1 - ESTRUTURA QUÍMICA DOS CORTICOSTERÓIDES Os corticóides são esteróides da supra-renal que têm uma estrutura básica contendo 17 carbonos, os quais são distribuídos em três anéis hexano e um anel pentano. Suas 18 moléculas são praticamente planas e inflexíveis. Seu esqueleto básico, o ciclopentanoperidrofenantreno, que é relativamente rígido (KOROLKOVAS, 1988). As características estruturais comuns a todas estas drogas e essenciais para toda atividade adrenocortical são: 21 átomos de carbono, dupla ligação entre os átomos C-4 e C-5, um grupo cetona no C-3 e um grupo α-cetol no C-20 e C-21, como mostra a Figura 1 (KOROLKOVAS,1988). Figura 1: Estrutura química da corticosterona Fonte: KOROLKOVAS, 1988. O protótipo dos glicocorticóides é a hidrocortisona com sua estrutura básica mesma de todos os esteróides, sendo que estas moléculas essenciais dos hormônios sofrem alteração modificando a ação glicocorticóide e mineralocorticóide (DIAS, 1999). Nos mineralocorticóides está ausente um átomo de oxigênio no C-11, já nos glicocorticóides contêm um átomo de oxigênio no C-11 e um α-cetol (OH) em C-17 (KOROLKOVAS, 1988). Para os glicocorticóides exibirem atividade inflamatória, é necessário um grupo hidroxila em C-11 e C-17, como destacado na Figura 2. Ressalva-se que as modificações estruturais alteram os efeitos destes hormônios, como exemplo, a presença de uma hidroxila na função 11-beta determina a função glicocorticóide (MOREIRA; CARVALHO, 1996). 19 Figura 2: Grupo essencial à atividade antiinflamatória dos glicocorticóides Fonte: SILVA, 2006. As tentativas evolutivas dos químicos em sínteses de novos fármacos têm obtido moléculas diferenciadas com ação terapêutica mantida ou modificada a partir do cortisol e aldosterona (SILVA, 2006) Os CS são pós cristalinos brancos ou amarelos, inodoros e estáveis ao ar. Em sua maioria, são insolúveis em água, mas alguns ésteres são hidrossolúveis (KOROLKOVAS, 1988). 2.2 - FISIOLOGIA DAS GLÂNDULAS SUPRA-RENAIS Como as glândulas supra-renais são responsáveis pela liberação dos hormônios corticóides, ressalva-se a importância da descrição fisiológica da mesma (DIAS, 1999). Possuem duas camadas de origem embriológica diversa e funções inteiramente diferentes; a porção interna (medula) provém do endoderma e está relacionada com a produção dos hormônios adrenalina e noradrenalina. A porção externa (córtex) origina-se do mesoderma e produz os hormônios glicocortcóides, mineralocorticóides e sexuais andrógenos e estrógenos, secretados em pouca quantidade, exceto em condições patológicas, na qual sua produção pode ser aumentada (MACEDO; OLIVEIRA, 1983 apud SILVA, 2006, p. 824). A glândula supra-renal ou adrenal é uma glândula endócrina com formato triangular, envolvida por uma cápsula fibrosa e localizada acima do rim, conforme Figura 3. A sua principal função está implicada na resposta ao stress, e consiste na síntese e libertação 20 de hormônios corticosteróides e de catecolaminas, como o cortisol e a adrenalina (GUYTON, 2002). Figura 3: Esquema da relação das glândulas supra-renais com os rins. Fonte: GUYTON, 2002. Uma glândula supra-renal fica situada, como se fosse um gorro, sobre o pólo superior de cada rim. Cada glândula tem comprimento de cerca de 5 cm e espessura em torno de 1 cm, é formada por duas partes distintas : medula supra –renal e córtex supra-renal. A medula é uma parte central, relativamente delgada. O córtex supra-renal circunda a medula em todas as suas faces, constituído por células grandes, contendo quantidades consideráveis de substâncias gordurosas, com alta proporção de colesterol (GUYTON, 2002). O córtex adrenal é constituído de três zonas, cada uma com diferentes produtos secretados: as zonas glomerular, fascicular e reticular conforme a Figura 4. A zona glomerular produz a aldosterona, e a zona fascicular produz principalmente cortisol (GM et al, 1999). Quando estimuladas pelo hormônio ACTH (adrenocorticotrópico) as zonas fasciculadas, reticular e glomerular são estimuladas, promovendo assim a produção e liberação dos mineralocorticóides e glicocorticóides nas zonas específicas (DIAS, 1999). 21 Figura 4 – Estrutura celular das diversas zonas (camadas) do córtex supra-renal. Fonte: JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2004 2.3 - MINERALOCORTICÓIDES São usados em terapêutica apenas como medicamentos substitutivos, nos casos em que sua produção é nula ou deficiente. A aldosterona é o mais importante mineralocorticóide produzindo no homem, exercendo 95% dessa atividade. A desoxicorticosterona, secretada em quantidades mínimas, possui 1/30 da potência da aldosterona. A fludrocortisona é um mineralocorticóide sintético, utilizado em terapêutica (SILVA, 2006). A aldosterona altera de modo específico, as concentrações de íons (minerais) no corpo. O efeito mais importante da aldosterona é o de aumentar a intensidade da absorção dos 22 íons sódio pelos túbulos renais, ao mesmo tempo em que aumenta a secreção dos íons potássio, a partir do sangue, por esses mesmos túbulos (GUYTON, 2002). A perda total da secreção adrenocortical geralmente causa a morte dentro de três dias a duas semanas, a não ser que a pessoa receba extensa terapia de sal ou injeção de mineralocorticóides. Sem mineralocorticóides, a concentração do íon potássio do líquido extracelular sobe acentuadamente, as concentrações de sódio e cloreto diminuem e o volume do líquido extracelular total e o do sangue tornam-se muito reduzidos. A pessoa logo desenvolve débitos cardíacos diminuído, que prossegue para um estado semelhante ao choque seguido de morte. Toda esta seqüência pode ser impedida pela administração de aldosterona ou de algum outro mineralocorticóide. Portanto, diz-se que os mineralocorticóides são a porção “salva-vidas” dos hormônios adrenocorticais (GUYTON, 2002). Os mineralocorticóides têm efeitos metabólicos diversos, com administração de doses elevadas provocam retenção de sódio, aumento do volume extracelular, aumento de peso e aumento de potássio urinário, resistência capilar e aumento da motilidade intestinal. Porém nem todos podem ser revestidos. “No entanto após 5 a 10 dias, a diurese de sódio e água se equilibra com ingestão, enquanto a perda de potássio continua” (ZANINI, 1994). A secreção excessiva de mineralocorticóides, como a que ocorre na síndrome de Conn, provoca acentuada retenção de sódio e de água, com conseqüente aumento no volume de líquido extracelular, hipocalemia, alcalose e hipertensão. A redução da secreção de mineralocorticóides, conforme é observado da doença de Addison causa maior perda de sódio, que é relativamente mais pronunciada que a perda de água. Por conseguinte, ocorre redução da pressão osmótica do líquido extracelular, conseqüente desvio de líquido para o compartimento intracelular e diminuição acentuada no volume de líquido extracelular (RANG, 2003). 2.3.1- ALDOSTERONA Aldosterona é um hormônio esteróide (Figura 5), da família dos mineralocorticóides, sintetizado na zona glomerulosa do córtex das glândulas supra-renais. Faz regulação do balanço de sódio e potássio no sangue. Foi isolado pela primeira vez por Simpson e Tait em 1953 (GUYTON, 2002). 23 Figura 5: Estrutura química da aldosterona Fonte: KOROLKOVAS, 1988. A aldosterona exerce função principal nas células tubulares renais e sua secreção é independente do ACTH, sendo que a transformação subseqüente da corticosterona à aldosterona é regulada pelo sistema renina-angiotensina. “Na ausência do ACTH, as zonas fascicular e reticular atrofiam. Todavia, a zona glomerular, que está sob o controle do sistema renina – angiotensina é relativamente preservada” (GM et al, 1999). A renina (REN) é uma enzima proteolítica sintetizada e estocada nas células justaglomerulares que se localizam ao longo das arteríolas aferentes do glomérulo renal. O primeiro estímulo para a liberação da REN pelo aparato justaglomerular é um balanço negativo do sódio (GM et al, 1999). 24 Figura 6: Regulação da diurese pelo ADH e aldosterona. Fonte: GUYTON, 2002. A aldosterona é secretada mediante a atuação da angiotensina II nas células da zona glomerulosa do rim (Figura 6). A REN é responsável pela transformação do angiotensinogênio (globulina sintetizada pelo fígado) em angiotensina I, a qual pela ação de uma enzima (convertase) converte-se em angiotensina II, que estimula uma produção maior de aldosterona (GUYTON, 2002). Estudos identificaram alguns dos mecanismos pelos quais a aldosterona altera o transporte eletrolítico, embora o mecanismo ainda não seja totalmente elucidado (HORISBERGER; ROSSIER, 1992 apud DIAS; DIAS, 1999). 25 Fixaram aos receptores de mineralocorticóides células responsivas onde a aldosterona ativa a expressão de vários genes na maioria estudada codifica a Na+, K+ ATPase. Esta proteína é encontrada na membrana basolateral das células tubulares e produz o gradiente eletroquímico que direciona os cátions monovalentes (i. e., Na+, K+ ) através de seus respectivos canais de membrana MACEDO; OLIVEIRA, 1983 apud SILVA, 2006, p. 825). Sendo a principal ação da aldosterona a reabsorção tubular do sódio, é de se esperar que as modificações de sódio influenciem a secreção da aldosterona, logo a perda de sódio é seguida de aumento da renina, angiotensina e aldosterona, como também a secreção da aldosterona é relacionada aos níveis de potássio. “Níveis elevados de potássio estimulam por efeito direto as células da zona glomerular, enquanto níveis baixos diminuem o estímulo secretor de aldosterona” (SILVA, 2006). Quantidades aumentadas deste hormônio promovem maior retenção de sódio e água, retorno do líquido extracelular a níveis normais e restabelecimento do fluxo sanguíneo renal pelo aparelho justaglomerular, por mecanismo de feedback negativo (SILVA, 2006). Níveis séricos elevados de glicocorticóides e suas ações inibem a produção hipotalâmica do hormônio de liberação da corticotrofina que, diminui a secreção de corticotrofina e, consequentemente, do cortisol. Fecha-se, dessa forma, o ciclo feedback em que hormônios hipotálamo-hipofisários estimulam a produção de uma glândula-alvo e essa, por sua vez, inibe a produção dos hormônios reguladores através do aumento da concentração do hormônio efetor. O ACTH, devido à sua capacidade de promover a liberação de cortisol, também pode ser usado como antiinflamatório (Figura 7) 26 Figura 7: Regulação da produção de cortisol e aldosterona. Fonte: MACEDO; OLIVEIRA, 2006 27 2.4 - GLICOCORTICÓIDES Os glicocorticóides (GC) pertencem à classe dos hormônios esteróides, com um núcleo básico derivado do colesterol-ciclopentano perhidrofenantreno. O representante natural é o cortisol ou hidrocortisona, um composto com 21 átomos de carbono. Os GC apresentam como característica atravessarem as membranas lipoprotéicas das células, ligando-se a receptores citosólicos e exercendo sua ação no interior do núcleo, onde interagem com o DNA (ação genômica) ou com outras proteínas implicadas no processo de transcrição (ação genômica, específica ou inespecífica) (DAMIANI et al, 2000). Segundo Korolkovas (1988), o emprego principal dos glicocorticóides é no alívio da dor e no combate às inflamações na artrite reumatóide. Considerando-se que suas reações adversas são numerosas (efeitos ulcerogênicos, osteoporose, fraturas espontâneas, psicoses, catarata, hipertensão), eles são considerados como fármacos de segunda escolha, devendo ser reservados para pacientes com artrite reumatóide moderada a grave e que não respondam a outros agentes antiinflamatórios. 2.4.1 - REGULAÇÃO DO CORTISOL Dos diversos hormônios esteróides do córtex da supra-renal com atividade glicocorticóide, o cortisol é o mais abundante e responsável por muitos sistemas metabólitos do corpo (DIAS, 1999). Cortisol é um hormônio corticosteróide produzido pela glândula supra-renal que está envolvido na resposta ao estresse; ele aumenta a pressão arterial e o açúcar do sangue, além de suprimir o sistema imune (GUYTON, 2002). O cortisol é sintetizado a partir da progesterona, o precursor de todos os hormônios esteróides. A conversão envolve a hidroxilação dos C-11, C-17 e C-21 (Figura 8). A síntese ocorre na zona fasciculata do córtex da adrenal. O cortisol é a principal secreção do córtex adrenal, embora ele também produza aldosterona na zona glomerulosa e hormônios sexuais na zona reticulosa. O nome cortisol, deriva de córtex. Na sintese do cortisol a glândula adrenal é estimulada pelo lobo anterior da hipófise através do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH). A produção do ACTH é modulada pelo hipotálamo, através da secreção por parte deste do hormônio liberador de corticotrofina (CRH). Sua atuação no organismo é antogônica a insulina, por conseguinte sendo análogo ao glucagon (KOROLKOVAS, 1988). 28 Figura 8: Síntese do cortisol Fonte: KOROLKOVAS, 1988 O cortisol produzido pelas supra-renais é regulado diretamente pela hipófise através de síntese e liberação do ACTH, agindo nas células das camadas fascicular e reticular, e indiretamente, através do CRH produzido pelo núcleo paraventricular, localizado no hipotálamo. O núcleo paraventricular sofre estimulação de substâncias neurotransmissoras (tais como a serotonina, acetilcolina e noradrenalina) e sofre inibição do opióides, do ácido gama aminobutírico (GABA) e do nível de cortisol plasmático (feedback negativo) (MOREIRA; CARVALHO, 1996). Com os níveis aumentados de cortisol livre, a liberação de ACTH é inibida. Se os níveis de cortisol diminuírem, o feedback negativo também é diminuído, os níveis de ACTH aumentam e o córtex adrenal é estimulado até níveis normais de cortisol serem estabelecidos, mantendo-se a regulação dos níveis plasmáticos (GM et al, 1999). Entretanto, a estimulação do ACTH sofre variação seja exarcebando ou inibindo, por intensificação do CRH, em conseqüência de tensão física e emocional, ação de fármacos como adrenalina e ou níveis reduzidos de cortisol, ou elevadas concentrações de glicocorticóides que inibem a corticotropina, e conseqüentemente o cortisol (SILVA, 2006). As anormalidades na resposta ao ACTH, como conseqüência da supressão do eixo hipotálamo-hipófise pelo glicocorticóide é reconhecida por insuficiência renal, podendo ser detectável após cinco dias de tratamento com os glicocorticóides, em alguns pacientes dentro de três dias. Há, entretanto, enorme variedade, de indivíduo a indivíduo (GOODMAN, 2006, p. 1433). 29 A hiperplasia da supra-renal é mais acentuada em distúrbios esteroidogênicos com comprometimento da biossíntese do cortisol, em resposta secundária a elevação contínua dos níveis de ACTH. Níveis de ACTH persistentemente elevados quer, devido à administração repetida de grandes doses ACTH, quer pela produção endógena excessiva de ACTH, induzem à hiperplasia e a à hipertrofia das zonas internas do córtex da suprarenal, com hiperprodução de cortisol e de androgênios adrenais (GOODMAN, 2006). Os glicocorticóides e ACTH sofrem alteração na sua produção diária como mostra a Figura 9, em condições fisiológicas, obedecendo a um ritmo circadiano, liberado pela hipófise característico de 24 horas. Os níveis mais elevados encontram-se entre as 06:00 h e 08:00 h, iniciando-se então uma queda gradual para valores mínimos até o início da noite e a meia noite. O nível de CO às 20:00 h é normalmente 2/3 dos níveis às 08:00 h. Ressalta-se que o hábito de dormir do indivíduo modifica o ritmo de produção dos mesmos. “A regularidade deste ritmo é uma função do hábito de “dormir-acordar” e pode ser alterada por consistentes revisões da hora de dormir e duração do sono.” (GM et al, 1999). Figura 9: Ritmo diurno nas concentrações plasmáticas de cortisol. Fonte: NEWLASB, 1999. A regulação dos GC, principalmente o cortisol, é um fator a ser analisado, visto que desempenha especificidade nos efeitos, uma vez que as alterações no excesso ou estabilidade das taxas deste desequilibram as funções fisiológicas normais no organismo (DIAS, 1999). 30 3 - EFEITOS FISIOLÓGICOS E PATOLÓGICOS DOS CORTICÓIDES Os CS e os análogos sintéticos ativos biologicamente discutidos referem-se à ação mineralocorticóide (reguladora de eletrólitos) e glicocorticóide (atividades metabólicas). Exercem profundos efeitos sobre quase todos os sistemas orgânicos e, em decorrência de suas ações diversificadas, encontram-se entre as classes de substâncias mais amplamente utilizadas, embora sejam complicados por desencadearem inúmeros efeitos colaterais importantes, alguns dos quais comportam riscos de vida, portanto a decisão desta terapia sempre requer uma cuidadosa consideração risco e benefícios relativos em cada paciente (GOODMAN, 2006). Os GC, na sua maioria são bem absorvidos por difusão passiva e eficaz quando administrados por via oral, ocorrendo o pico plasmático em torno de 1 (uma) hora após administração. Oitenta (80%) a noventa por cento (90%) se combinam reversivelmente a uma α-globulina (transcortina) sintetizada no fígado. A porção livre em média 5 a 10 % é responsável pela atividade farmacológica, logo o paciente com hipoalbuminemia apresenta um aumento da fração livre, podendo intensificar os efeitos colaterais. Ressalta-se que alguns análogos sintéticos do cortisol não se ligam com igual afinidade às proteínas plasmáticas, portanto responsável pela variação das atividades farmacológicas (SILVA, 2006). Através de mecanismos que ainda não estão plenamente compreendidos, os corticóides dotam o organismo com capacidade de resistir a circunstâncias estressantes, como os estímulos nocivos e as alterações ambientais, sugerindo recentemente que os efeitos corticóides propiciam também mecanismo protetor no quadro fisiológico, ações antiinflamatórias e imunossupressoras, pois muitos imunomediadores da resposta antiinflamatória evitam o colapso cardiovascular, quando contraposto pelos CS adrenais, esta hipótese é sustentada pelo fato de que a taxa de produção diária de CO pode aumentar muito no quadro de estresses grave (GOODMAN, 2006). Visto as variadas ações farmacológicas dos corticosteróides agindo em diferentes tecidos e seus efeitos fisiológicos, estes parecem ser mediados pelo mesmo receptor, possibilitando que os derivados GC utilizados como agentes farmacológicos apresentem efeitos colaterais sobre os processos fisiológicos, os quais realizam paralelamente às ações terapêuticas (GOODMAN, 2006). 31 Na ausência do córtex da supra-renal, a sobrevivência somente é possível através da manutenção de um ambiente ideal, incluindo alimentação adequadas e reguladas, ingestão de quantidades relativamente grandes de cloreto de sódio e a manutenção de uma temperatura ambiente apropriada (GOODMAN, 2006, p. 1434). Admite-se que os diversos efeitos dos CS são conseqüência de uma única básica do hormônio, isto é, o mecanismo de ação é único, porém as respostas dependam do tecido afetado pelo esteróide. Esta é uma das hipóteses que tenta explicar o mecanismo de ação destes, embora não tenha sido totalmente desvendado (GOODMAN, 2006). 3.1 - MECANISMOS DE AÇÃO Perante as várias hipóteses elucidadas para explicar o mecanismo de ação dos hormônios corticóides, julgou-se que a aldosterona atuasse como permeasse, facilitando a entrada de sódio nas células epiteliais. Entretanto, a evidência experimental designa a hipótese de que este hormônio está diretamente na síntese nuclear do RNA e na síntese ribossômica de proteínas, induzindo um receptor molecular específico localizado na fração protéica nuclear do rim, com formação de um complexo que desencadeia o efeito mineralocorticóide. Quanto aos glicocorticóides há provas que induzem a síntese enzimática por mecanismo semelhante (KOROLKOVAS, 1988). Esta classe farmacológica inclui em quase todas as células do organismo. Seu efeito depende da produção de enzimas específicas, na sua maioria enzimas que vão catalisar reações específicas, explicando assim a necessidade de um tempo para ação (DIAS, 1999). Os CS interagem com proteínas receptoras específicas nos tecidos-alvo, a fim de regular a expressão dos genes responsivos aos CS, mudando, assim, os níveis e a disposição das proteínas sintetizadas pelos vários tecidos-alvo, “Embora os corticóides ajam predominantemente aumentando a expressão dos genes-alvo, existem exemplos bem documentado, onde os glicocorticóides diminuem a transcrição dos genes-alvo” (GOODMAN, 2006). A especificidade dos receptores glicocorticóides e mineralocorticóides são doses dependentes, visto que atuam no mesmo receptor, porém com afinidades diferentes, os quais a aldosterona apresenta reduzida afinidade (DIAS,1999). 32 Através de estudos biológicos moleculares, os receptores de corticosteróides foram clonados e suas estruturas determinadas. Estes se situam predominantemente no citoplasma em uma forma inativa, até que se ligue ao ligante esteróide glicocorticóide (SILVA, 2006). Conforme mostra a Figura 10, o esquema do mecanismo. Figura 10: Mecanismo intracelular de ação do receptor de glicocorticóide. Fonte: GOODMAN, 2006. O receptor para os glicocorticóides é uma fosfoproteína. Possui dois domínios básicos: a porção carboxi-terminal, onde se liga o hormônio, e o domínio de ligação com regiões específicas do DNA, onde se encontra o zinco (SILVA, 1998). Existem proteínas ligadas ao receptor, complexo inativo, inclusive HSP90 1(Heat Shock Proteisn) , HSP 70 1 , e uma imunofilina. “A HSP90, através de interações com o domínio de fixação de esteróides, pode facilitar a mudança do receptor do corticosteróide para uma configuração apropriada, que se credita ser essencial para fixação do ligante” (GOODMAN, 2006). 33 Após a fixação do ligante, as proteínas associadas dissociam, promovendo uma modificação estrutural na molécula do receptor, sendo que esta dirige-se para dentro do núcleo, onde pode interagir com maior afinidade a um porção específica do DNA, regulando a transcrição do RNA. As sequências de nucleotídios específicas são conhecidos como elementos de resposta dos glicocorticóides (GREs). Na maioria dos casos o efeito estimulador na transcrição leva ao acúmulo de RNAs m, que codificam as proteínas, embora existam efeitos inibitórios (SILVA, 2006). 3.2 - EFEITOS NO METABOLISMO DA GLICOSE, PROTEÍNAS E LIPÍDIOS Os CS apresentam profundos efeitos sobre o metabolismo de carboidratos e proteínas e lipídios. Estes efeitos dos GC sobre o metabolismo intermediário podem ser vistos como proteção de tecido glicose-dependente (ex.: cérebro e coração). Este processo é conseguido por estimulação do fígado para formar glicose a partir de aminoácidos e glicerol, também, pela estimulação da deposição de glicose como glicogênio hepático (GOODMAN, 2006). Segundo DAMIANI et al (2001), no metabolismo protéico os GC apresentam uma dualidade de ações, dependendo da dose administrada ou do nível sérico atingido: em doses fisiológicas os GC atuam como agentes anabolizantes, incorporando proteína, mas em doses farmacológicas são francamente catabólicos, promovendo intenso desgaste protéico que, clinicamente, traduz-se por uma pele frágil, friável, fraqueza muscular intensa com redução de massa muscular e desgaste da matriz óssea implicando em mau desempenho estatural em crianças em fase de crescimento. 3.3 - EFEITOS NO BALANÇO HIDRO-ELETROLÍTICO A aldosterona sem dúvida é o corticóide natural mais potente em relação ao equilíbrio eletrolítico, embora os glicocorticóides exerçam ação direta sobre a taxa de filtração glomerular e fluxo plasmático renal, desempenhando um papel permissivo na excreção renal de água livre (DIAS, 1999). Algumas preparações GC são poderosas retentoras de sódio e perdedoras de potássio, graças a um efeito mineralocorticóide. Os compostos naturais, como o cortisol, tendem a apresentar tal efeito de maneira mais intensa do que os compostos sintéticos como a dexametasona e a betametasona, que praticamente carecem de ação mineralocorticóide. 34 Tais aspectos devem ser lembrados quando diante de pacientes que têm dificuldades de lidar com volume, como é o caso de cardiopatas ou nefropatas. Pela espoliação de volume que provocam, ocorre ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona (DAMIANI et al, 2000). O metabolismo do cálcio é alterado pela ação dos GC em diferentes sítios, como intestino, rim e unidade de remodelação óssea. A excreção de sal e água encontra-se elevada quando do uso de glicocorticóides conseqüente aos seus efeitos na produção do peptídeo atrial natriurético e no fluxo glomerular renal. Em relação ao potássio, o que se observa é que em altas doses ocorre hipocalemia, que é resultado da ação mineralocorticóide e/ou de caliurese transitória decorrente do aumento do fluxo urinário (FAIÇAL; UEHARA, 1998). 3.4 - EFEITOS NO METABOLISMO ÓSSEO E NA CARTILAGEM Os efeitos no metabolismo ósseo variam com a concentração e duração da exposição ao glicocorticóide. Altas concentrações inibem a formação do osso, através da inibição da replicação das células ósseas e síntese de colágenos. Isto é, parcialmente atribuído à inibição dos osteoclastos e preosteoblastos (MOREIRA; CARVALHO, 1996). Quando administrados a longo prazo, os GC reduzem a função dos osteoblastos (que depositam a matriz óssea) e aumentam a atividade dos osteoclastos (que digerem a matriz óssea). O efeito sobre os osteoclastos é indireto- ao diminuir a absorção intestinal de cálcio, resultando em aumento da secreção de paratormônio que, por sua vez, estimula essas células (RANG, 2003). A perda óssea parece estar acelerada nos primeiros seis meses de terapia, mas persiste mais lentamente após esse período. O risco de fratura diminui rapidamente após a suspensão do GC. A ocorrência de fraturas vertebrais nos usuários de corticóides que apresentavam densidade mineral óssea normal sugere um mecanismo adicional de fragilidade óssea no hipercortisolismo, salientando-se que fraturas podem ocorrer em 30 a 50% dos pacientes em corticoterapia crônica (ROMANHOLI; SALGADO, 2007). 35 3.5 - EFEITOS HEMATOLÓGICOS A glicocorticoterapia retarda o desaparecimento de eritrócitos e plaquetas, diminuindo os linfócitos e eosinófilos circulantes e aumento dos neutrófilos, podendo explicar a eficácia no tratamento de neuropatias, e da anemia hemolítica auto-imune. Podem aumentar a coagulação sanguínea, acarretando fenômenos trombóticos. Há aumento da fragilidade capilar. Altas doses de glicocorticóides inibem a proliferação dos fibroblastos, síntese de fatores do crescimento e proteínas gerais (FUCHS; WANNMACHER, 1992). 3.6 - EFEITOS CARDIOVASCULARES Os efeitos mais notórios dos CS sobre o sistema cardiovascular resultam de alterações mineralocorticoides-induzidas na excreção renal de Na+, como conseqüência leva a hipertensão, vários efeitos adversos, inclusive aterosclerose aumentada, hemorragia cerebral, acidente vascular cerebral (AVC) e miocardia hipertensiva (GOODMAN, 2006). O uso de doses suprafisiológicas de GC está associado ao aumento da incidência de infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral e insuficiência cardíaca. O risco dessas complicações é proporcional à dose de GC utilizada e tende a ser maior quando há uso contínuo comparado ao uso intermitente. Os GC também estão relacionados ao desenvolvimento da doença vascular periférica. As alterações descritas são mediadas pelos distúrbios metabólicos causados pelos GC, tais como resistência à insulina, hiperinsulinemia e aumento da síntese de VLDL-colesterol. Em trabalho recente, observou-se que a administração de ACTH por 3 semanas a indivíduos com dislipidemia em corticoterapia prolongada determinou a redução do LDL-colesterol e dos triglicérides e o aumento do HDL-colesterol. Esses dados reforçam a teoria de que o ACTH suprimido pela corticoterapia crônica seria uma das causas de alterações lipídicas nesses indivíduos (ROMANHOLI; SALGADO, 2007). 3.7 - EFEITOS NO SISTEMA NERVOSO Os CS por ação nos receptores do cérebro exercem inúmeros efeitos através da manutenção da pressão arterial, concentração plasmática de glicose e concentrações de eletrólitos. “Alguns pacientes manifestam euforia, melhora do ânimo, insônia e hipercinesia, enquanto outros expressam ansiedade e depressão. Podem ocorrer surtos 36 psicóticos e tendência ao suicídio. Há pessoas que se tornam dependentes psicológicas dos CS, usando-os sem indicação médica precisa.” (CASTRO, 2005). Muitos pacientes em uso de GC referem uma sensação de bem-estar que parece ser independente da melhora da doença de base. O desenvolvimento de uma sensação de euforia não é incomum nesses pacientes e alguns podem apresentar distúrbios psiquiátricos. História familiar de depressão ou alcoolismo aumenta o risco do surgimento desses distúrbios com o uso de GC (DAMIAN; DURVAL et al, 2001). Lítio costuma ser o fármaco de escolha para o manejo e a prevenção de psicopatias associadas ao uso de GC. As psicoses podem surgir, mas geralmente nos indivíduos que utilizam doses superiores a 20 mg/d de prednisona por tempo prolongado. Hipoalbuminemia parecer ser um fator de risco para a psicose induzida pelos GC (ROMANHOLI; SALGADO, 2007). Pseudo-tumor cerebral raramente tem sido descrito em usuários de GC e, curiosamente, corticoterapia em altas doses é utilizada para aliviar os sintomas dessa patologia autolimitada (BAVARESCO et al, 2005). 3.8 - AÇÕES ANTIINFLAMATÓRIAS E IMUNOSSUPRESSORAS Uma importante função fisiológica dos glicocorticóides é proteger o organismo do dano causado pelas próprias reações de defesa e pelo produto dessas reações durante o estresse, podem evitar ou suprimir a inflamação em resposta a múltiplos eventos incisivos, inclusive estímulos radiantes, químicos, infecciosos e imunológicos (MOREIRA; CARVALHO, 1996). Os GC iniciam sua ação a partir do momento em que se ligam a receptores protéicos específicos. Agem inibindo a resposta inflamatória imune em todos os níveis, incluindo a migração de neutrófilos e monócitos ao sítio da inflamação, a apresentação do antígeno pelos macrófagos aos linfócitos e a proliferação e diferenciação dos subtipos de linfócitos (SOUZA, 1999). Os GC possuem diversos efeitos deletérios tanto na imunidade inata quanto adquirida, aumentando a predisposição a processos infecciosos. Esses efeitos incluem a diminuição da produção de citocinas pró-inflamatórias (prostaglandinas e interleucinas) e da função fagocítica. O risco do processo infeccioso varia de acordo com a doença de base, local de tratamento do paciente, uso de terapias concomitantes e o tipo de corticoterapia. É sabido 37 que o risco do processo infeccioso pode ser significantemente diminuído com o uso de GC de curta ação (prednisona) administrado em dias alternados (CASTRO, 2005). Infecções atípicas (Herpes zoster) ou com organismos oportunistas (pneumocistis carinii) são 40 vezes mais freqüentes em pacientes em corticoterapia. Quando associados a outras drogas imunossupressoras, também pode ocorrer a reativação de uma infecção latente. Alguns autores sugerem que pacientes com PPD positivo, raios-X de tórax sugestivo de tuberculose ou história familiar devem receber profilaxia contra tuberculose antes ou concomitante à corticoterapia (ROMANHOLI; SALGADO, 2007). 3.8.1- RESPOSTA INFLAMATÓRIA NORMAL Quando o tecido é lesado, observa-se a liberação de substâncias vasoativas e quimiotáxicas; conseqüentemente ocorrendo o aumento do fluxo sanguíneo local; aumento da permeabilidade dos capilares vizinhos; extravasamento de líquidos e proteínas, inclusive fibrinogênio; coagulação do líquido extracelular e linfático; edema circundando as células lesadas; marginalização ou pavimentação de leucócitos; migração (quimiotaxia) dos neutrófilos em direção a área lesada, nas primeiras doze horas, e de macrófagos a partir da décima hora, aproximadamente; degeneração dos leucócitos com formação de pus, e finalmente, cicatrização do tecido pela proliferação de fibroblastos e deposição de tecido fibroso (ZANINI; OGA, 1994). Entre os mediadores gerados pelas células inflamatórias e tecidos lesados, são importantes alguns derivados fosfolipídicos e ácidos graxos. Dependendo da célula inflamatória específica e da natureza do estímulo, as células ativadas geram ácido aracdônico através de suas vias, vistas na Figura 11. (MOREIRA; CARVALHO, 1996). 38 Figura 11: Ação dos glicocorticóides. Fonte: MOREIRA; CARVALHO, 1996. A primeira via envolve a ativação induzida pelo estímulo da fosfolipase A 2, a qual aumenta a hidrólise do ácido aracdônico a partir da estrutura do glicerol dos fosfolipídios da membrana. O segundo mecanismo é o metabolismo do fosfatidilinositol pela fosfolipase C em diacilglicerol e inusitol fosfatos. A seguir, a lípase diacilglicerol cliva o ácido aracdônico do diacilglicerol. Uma vez gerado o ácido aracdônico, um ácido graxo poliinsaturado é metabolizado através de duas vias: a cicloxigenação, com a produção subseqüente de prostaglandinas e tromboxanes, e a lipoxigenação, para formação dos ácidos monoidroxieicosatetranóico e diidroxieicosantetranóico e leucotrienos (MOREIRA; CARVALHO, 1996). 3.8.2 - ATUAÇÃO DE DROGAS ANTIINFLAMATÓRIAS Na categoria de antiinflamatórios se incluem os agentes antimaláricos (cloroquina e hidroxicloroquina), a cloroquina, os compostos de ouro, a penicilina e os agentes imunomoduladores (azotioprina, glicocorticóides drogas e clorambucil, antiinflamatórios ciclofosfamida não-esteróides, e metotrexato), todas manifestações do processo inflamatório (FUCHS; WANNMACHER, 1992). reduzem os as 39 Os GC envolvem inúmeros mecanismos na supressão da inflamação. Inibem a produção, por múltiplas células, de fatores críticos à resposta inflamatória, diminuindo a liberação de fatores vasoativos e químiotóxicos, secreção de enzimas lipofílicas e proteolíticas e diminuição do extravasamento de leucócitos nas áreas de lesão e fibrose diminuída (GOODMAN, 2006). Existem evidências que os GC estabilizam as membranas lisossômicas, dificultando o rompimento destas de modo que as enzimas hidrolíticas capazes de digestão celular e do aumento da extensão do processo inflamatório, bem como substâncias vasoativas, neles contidas, não sejam liberadas, impedindo a inflamação. “Foi verificado que a agressão celular segue-se a lise dos lisossomos, com liberação de substâncias que causam vasodilatação aumento da permeabilidade capilar e infiltração celular proximal” (ZANINI; OGA, 1994). Os GC são potentes antiinflamatórios. Inibem a síntese das prostaglandinas através da indução da síntese de uma proteína específica, a lipocortina, que inibe por sua vez a fosfolipase A, bloqueando a liberação da ácido araquidônico dos fosfolipídios. Estes bloqueiam não apenas a síntese de prostaglandinas, radicais livres e tromboxanos, como também bloqueia as enzimas cicloxigenase. Alguns efeitos terapêuticos produzidos podem ser devido à inibição da formação dos leucotrienos (SOUZA, 1999). Por serem potentes antiinflamatórios e de grande utilidade clínica tornou-se estas substâncias entre os agentes mais prescritos, embora desenvolvam efeitos adversos dependendo das doses em tratamento prolongado (DALE, 1991). 3.9 - EFEITOS OCULARES Pode ocorrer aumento da pressão intra-ocular, sobretudo em pacientes geneticamente predispostos ou que apresentem glaucoma de ângulo aberto. Os diabéticos e os míopes também são mais sujeitos a esse distúrbio. O glaucoma já pode surgir na primeira semana do início da corticoterapia. Usual, mais não invariavelmente, reverte com a supressão do tratamento. Cataratas subcapsulares irreversíveis podem ser induzidas por uso sistêmico ou tópico prolongado, necessitando de monitorização cuidadosa dos CS nos pacientes (DIAS, 1999). 3.10 - EFEITOS NO SISTEMA GASTRINTESTINAL Os GC induzem a produção de ácido clorídrico pela mucosa gástrica aumentando o risco de úlcera péptica, gastrite e sangramento gastro-intestinal. Em um estudo com 477 40 portadores de artrite reumatóide em corticoterapia prolongada, 7,5% apresentaram úlcera péptica. Este efeito é menor que o relacionado aos antiinflamatórios não hormonais (AINH), considerando-se um efeito sinérgico entre eles. O uso isolado de GC não requer profilaxia contra sangramento gastro-intestinal, mas seu uso em combinação com aspirina ou outros AINH é indicação para a necessidade de medicação preventiva (ROMANHOLI; SALGADO, 2007). 3.11 - EMPREGO NO TRATAMENTO DO CÂNCER Os GC são empregados no tratamento de uma variedade de tumores em combinação com agentes citotóxicos, por exercerem efeitos inibitórios sobre a proliferação de linfócitos e com base em seu efeito sobre o metabolismo do cálcio e sua capacidade de reduzir a pressão intra-craniana. Devido a este último efeito, são bastante utilizados para reduzir o edema nos pacientes com tumores cerebrais metastáticos ou primários. Isso se refere principalmente a dexametasona, que é o fármaco glicocorticóide mais utilizado como adjuvante na quimioterapia. Os GC representam uma classe importante em muitos outros tipos de cânceres, como linfomas e leucemia mielóide, onde a dexametasona também diminui a proliferação linfocitária, sendo este fármaco um grande aliado durante o tratamento de pacientes com leucemia (BAVARESCO et al, 2005). O efeito do GC sobre o tumor não é somente benéfico, sendo inclusive, bastante controverso. Por isso, nos últimos anos, vários estudos foram desenvolvidos e continuam sendo realizados para verificar o real efeito destes fármacos sobre as células tumorais (DIAS; DIAS, 1999 apud GORMAN et al, 2000). O real efeito dos GC sobre cada tipo de tumor é muito particular. Dependendo da localização do tumor e de suas peculiaridades, a terapia com GC pode ser, tanto benéfica, como pode interferir na eficácia do tratamento com quimioterápicos clássicos. Logo, antes de se administrar fármacos glicocorticóides concomitantemente com agentes neoplásicos, deve-se ter conhecimento dos efeitos destes sobre o tumor, e ser avaliada a relação custo-benefício, a fim de que o tratamento seja realizado de forma a oferecer ao paciente os melhores resultados, com o mínimo de efeitos adversos e a mínima diminuição da eficácia de outros medicamentos que ele possa estar utilizando (BAVARESCO et al, 2005). 41 3.12 - EFEITOS NA PRESSÃO ARTERIAL SISTÊMICA Hipertensão arterial desenvolve-se em 70-80% dos pacientes com Síndrome de Cushing endógeno e em 15-20% em indivíduos em uso crônico de corticosteróides, e os mecanismos básicos para que isso ocorra são a retenção salina e o aumento da reatividade vascular. Em relação à hiperatividade vascular contribui nesse sentido a ação na musculatura lisa vascular e das células endoteliais, o aumento da atividade de substâncias vasoativas, dentre as quais catecolaminas, e a supressão da síntese e/ou ação de vasodilatadores endógenos que, somados a ação direta em nível cardíaco, resultam em elevação dos níveis pressóricos (NICHOLS; FAIÇAL, 1998). Outro mecanismo envolvido na fisiopatologia da hipertensão arterial é o sistema reninaangiotensina-aldosterona. Nesse eixo, os corticosteróides atuam aumentando os níveis da renina 326 e dos substratos da renina 314 e, somados a isso, existe um incremento da atividade da enzima conversora responsável pela geração de angiotensina II (FRIEDLAND, 1977). 3.13 - EFEITOS DOS GLICOCORTICÓIDES SOBRE O CRESCIMENTO Dentre os vários efeitos provocados pelos GC, o impacto no crescimento é digno de nota. Crianças que tomam GC por longos períodos e em doses altas apresentam, invariavelmente, comprometimento estatural. Isto é compreensível quando recordamos o efeito catabólico desses compostos, mas vários outros pontos de ação atuam prejudicando o crescimento. O prejuízo é maior em fases de crescimento acelerado, como dos 5 aos 7 anos e no estirão pubertário. Apesar de agudamente os GC estimularem a secreção de GH, seu uso crônico bloqueia em vários pontos o crescimento normal (DAMIANI et al, 2001): 1. Aumentam o tônus somatostatinérgico, reduzindo a secreção hipofisária de hormônio de crescimento; 2. Os Gc provocam redução dos receptores de hormônio de crescimento, tanto no fígado quanto no próprio osso (down regulation). Este efeito pode ser avaliado pela dosagem da proteína ligadora de hormônio de crescimento (GHBP) que é o próprio domínio extracelular do hormônio de crescimento; 3. Os níveis séricos de IGF-I (fator de crescimento insulino-símile, produzido sob a ação dos GC) curiosamente encontram-se normais, mas sua ação biológica encontra-se reduzida. Isto é devido a um aumento de proteínas transportadoras (IGFBPs) e à presença de 42 substâncias com capacidade inibidora de IGF-I, uma das quais pode ser a própria IGFBP2; 4. Supõe-se que a própria ação parácrina e autócrina do IGF-I secretado na placa de crescimento possa estar comprometida e isto tornaria difícil a reversão desses efeitos, já que o efetor final está comprometido. 4 - GLICOCORTICÓIDES SINTÉTICOS Modificações químicas nos esteróides naturais levam às alterações essenciais para a atividade biológica dos diferentes GC sintéticos. A configuração delta–4, 3–ceto–11–beta, 17–alfa 21–triidroxil está presente em todos os esteróides naturais e sintéticos (Figura 12). Figura 12: Estrutura do cortisol, cortisona e os glicocorticoides sinteticos + prescritos na prática clínica. Fonte: ROMANHOLI; SALGADO, 2007. Prednisona, o GC mais utilizado na prática clinica, é a prednisolona com um radical 11– ceto no local 11–beta–hidroxi. É uma molécula inativa que precisa ser convertida em prednisolona no fígado para se tornar ativa. Outras modificações na molécula da 43 prednisolona também produzem outros GC com potências biológicas diferentes. A adição do grupo 6–alfa–metil na molécula da prednisolona origina a metil prednisolona que é 5 vezes mais potente que o cortisol (KOROLKOVAS, 1988). A adição de um átomo de flúor na posição 9–alfa de hidrocortisona produz a fludrocortisona, que possui uma atividade glicocorticóide 12 vezes maior que o cortisol e uma atividade mineralocorticóide 125 vezes maior que o cortisol (ROMANHOLI; SALGADO, 2007). A adição do grupo 16–alfa–metil na molécula delta–1–fludrocortisona produz a dexametasona, que apresenta uma potência glicocorticóide 30 vezes maior que a hidrocortisona, porém com atividade mineralocorticóide desprezível (KOROLKOVAS, 1988). A betametasona é uma dexametasona com um radical 16–beta–metil e não alfa–metil, possuindo atividade GC semelhante à dexametasona e normalmente é utilizada sob a forma de aerosol (DIAS, 1999). A triamcinolona é uma dexametasona com um grupo 16–alfa–hidroxil e não metil e geralmente é utilizada em terapias tópicas (ROMANHOLI; SALGADO, 2007). Deflazacort é um análogo da prednisolona oxazilínico inativo que é convertido em um metabólito 21–desacetil, com efeito antiinflamatório semelhante à prednisolona, porém com menor efeito no metabolismo de carboidratos e ósseo (KOROLKOVAS, 1988). 4.1 - FARMACOCINÉTICA O cortisol sérico circula ligado à CBG (cortisol binding globulin) e à albumina, e parte do cortisol ativo circula ligada aos eritrócitos. Os GC sintéticos possuem uma afinidade muito baixa à CBG e aos eritrócitos; sendo assim, 2/3 ligam-se fracamente à albumina e 1/3 circula sob a forma livre. Esta característica possibilita que os GC sintéticos apresentem uma meia-vida mais longa que o cortisol. A meia-vida dos GC sintéticos varia para cada indivíduo de acordo com a idade genética e a influência de outras drogas (Tabela 2). Nos idosos, a meia-vida dos GC é mais prolongada (ROMANHOLI; SALGADO, 2007). 44 Tabela 2: As caracteristicas farmacocinéticas e de potencia biologica dos diversos glicocorticoides Fonte: ROMANHOLI; SALGADO, 2007. Em contraste com a fraca afinidade pela CBG, os GC sintéticos apresentam elevada afinidade pelos seus receptores (tipo II). A afinidade da prednisolona e triamcinolona é 2 vezes maior que a do cortisol, enquanto que a metil-prednisolona chega a ser 11 vezes maior. A prednisona possui baixa afinidade pelos receptores de GC, conseqüentemente seu efeito glicocorticóide é desprezível sendo necessária sua conversão à prednisolona para sua ação, semelhante ao que ocorre com a cortisona, que deve ser convertida a cortisol pela 11–beta–hidroxiesteróide desidrogenase. 4.2 - POTÊNCIA BIOLÓGICA E DURAÇÃO DA AÇÃO Tanto a afinidade do esteróide pelo receptor de GC quanto a sua farmacocinética não são preditores fiéis da potência biológica de cada GC. Essa é influenciada por outros fatores como: eficiência e taxa de absorção pela circulação sistêmica e o seu respectivo metabolismo. As características farmacocinéticas e de potência biológica dos diversos GC são descritas na Tabela 1. Interações com outras drogas também podem ser observadas (Tabela 3). 45 Tabela 3: Interações entre diversas drogas e os diferentes glicocorticóides Fonte: ROMANHOLI; SALGADO, 2007. Os GC orais são absorvidos geralmente em 30 minutos; já os tópicos variam sua absorção de acordo com diversos fatores (região de aplicação, veículo utilizado, oclusão do local, idade do paciente). A taxa de absorção dos GC parenterais varia bastante, assim como aqueles administrados por via intra-articular. 46 5 - PRINCIPAIS PATOLOGIAS ASSOCIADAS À CORTICOTERAPIA PROLONGADA Os corticóides constituem terapêutica de escolha em diversas especialidades médicas, no entanto, seu uso é uma questão relativa ao risco / benefício, sendo essenciais ao tratamento de pacientes com doenças crônicas, para reduzir o quadro, porém, devendose manter a posologia para redução de efeitos colaterais e dosagens reduzidas, não comprometendo a função hormonal da supra-renal. Com todos os riscos causados pelos corticóides, o mesmo apresenta seus aspectos positivos, por se tratar de um potente antiinflamatório, muito utilizado na prática clínica, devido à sua eficácia terapêutica (DIAS, 1999). Infelizmente, pacientes em uso de corticóides podem apresentar efeitos colaterais indesejáveis, especialmente quando altas doses da medicação e longo tempo de tratamento são requeridos (SILVA, 2006). Um tempo curto de tratamento ou o uso de doses relativamente baixas da medicação raramente resultam em qualquer um dos efeitos colaterais listados no Quadro 1. Contudo, quando a dose utilizada do corticóide aumenta ou prolonga-se a sua aplicação, os riscos de efeitos indesejáveis aumentam consideravelmente. Em tratamentos prolongados, a administração da medicação em dias alternados é válida, sendo também importante a aplicação da dose no período da manhã, mimetizando o ritmo circadiano do corticóide endógeno (SILVA, 2006). 47 Quadro 1: Efeitos colaterais do tratamento com esteróides Fonte: SILVA, 2006. A utilização prolongada dos corticosteróides leva à Síndrome de Cushing iatrogênica, caracterizada pela desfiguração cosmética (moon face, giba dorsal, estrias), ganho de peso com acúmulo de gordura centripetamente, redução da tolerância a carboidratos, fragilidade vascular, pele fina, miopatia e fraqueza muscular, hipertensão arterial, osteoporose, maior suscetibilidade a infecções, alterações psiquiátricas, e outros. A maior diferença desta síndrome exógena, em relação ao hipercortisolismo endógeno, constitui na maior ação mineralocorticóide existente neste último, resultando em mais hipertensão arterial e, ocasionalmente, hipocalemia e hirsutismo e/ou virilização, principalmente quando secundário a tumores adrenais (FAIÇAL; UEHARA, 1998). 48 5.1 - SÍNDROME DE CUSHING (HIPERCORTISOLISMO) Essa desordem é causada por qualquer condição que produza uma elevação nos níveis dos GC. Existem quatro possíveis causas de excesso de cortisol (Figura 13). Na prática clínica, a maioria das causas da síndrome de Cushing resulta da administração de GC endógenos. As outras três causas de hipercortisolismo podem ser classificadas como síndrome de Cushing endógena (ROBBINS, 2005): Doenças primárias do eixo hipotalâmico-hipofisário associadas com hipersecreção de ACTH. Hipersecreção de cortisol por um adenoma, carcinoma ou hiperplasia nodular da supra-renal. A secreção ectópica da ACTH por uma neoplasia não-endócrina. Figura 13: Representação esquemática das várias formas de síndrome de Cushing ilustrando as três formas endógenas, assim como a forma mais comum, a exógena (iatrogênica). ACTH, hormônio adrenocorticotrópico. Fonte: ROBBINS, 2005. O quadro pode ser ocasionado pelo uso continuado de cortisona ou seus derivados, conhecidos como antiinflamatórios esteróides. Estas substâncias são empregadas para o tratamento de uma série de doenças, e provoca a síndrome de Cushing como efeito colateral. Dependendo da dosagem empregada e do esteróide sintético utilizado, os 49 sinais e sintomas sempre irão ocorrer. Em algumas ocasiões estes efeitos colaterais ocorrem sem que o paciente perceba ou os relacione com as medicações que está usando. Esta situação ocorre, por exemplo, com a utilização de medicamentos para problemas de pele ou para problemas respiratórios (LIBERMAN, 2003). Além do quadro associado ao uso de cortisona, a síndrome de Cushing pode ser provocada por doenças da glândula supra-renal e da hipófise. Estas doenças, em geral, são decorrentes de tumores benignos (adenomas) da supra-renal e da hipófise. Na supra-renal podem ocorrer também tumores malignos. Mais raramente a síndrome de Cushing é provocada pela produção de substâncias estimuladoras da supra-renal por tumores malignos ou abdominais (CZEPIELEWSKI, 2001). Os principais sintomas são o aumento de peso, com a gordura se depositando no tronco e no pescoço, preenchendo a região acima da clavícula e a parte de trás do pescoço, local onde se forma um importante acúmulo denominado de "giba". A gordura também se deposita no rosto, na região malar "maçãs do rosto", onde a pele fica também avermelhada, formando-se uma face que é conhecida como de "lua-cheia" (CZEPIELEWSKI, 2001). Ocorre também afilamento dos braços e das pernas com diminuição da musculatura, e, conseqüente, fraqueza muscular que se manifesta principalmente quando o paciente caminha ou sobe escadas. A pele vai se tornando fina e frágil, fazendo com que surjam hematomas sem o paciente notar que bateu ou contundiu o local, pele escurecida com equimoses e estrias violáceas > 2 cm de largura conforme Figuras 14 e 15 (LIBERMAN, 2003). Sintomas gerais como fraqueza, cansaço fácil, nervosismo, insônia e labilidade emocional também podem ocorrer. Nas mulheres são muito freqüentes as alterações menstruais e o surgimento de pêlos corporais na face, no tórax, abdômen e nos braços e pernas (CZEPIELEWSKI, 2001). Como grande parte dos pacientes desenvolve hipertensão arterial e diabetes, podem surgir sintomas associados ao aumento da glicose e da pressão arterial tais como dor de cabeça, sede exagerada, aumento do volume urinário, aumento do apetite e visão borrada (RANG, 2001). Quando ocorre aumento importante dos pêlos, pode ocorrer também o surgimento de espinhas (acne) na face e no tronco, e nas mulheres pode surgir mudança na voz, queda 50 do cabelo semelhante à calvície masculina e diminuição das mamas. Esses sintomas se associam com tumores de supra-renal (CZEPIELEWSKI, 2001). Figura 14: Estrias em paciente com Síndrome de Cushing ACTH-dependente. Fonte: CZEPIELEWSKI, 2001. . Figura 15: Estrias cutâneas na Síndrome de Cushing secundário ao uso de esteróides Fonte: CZEPIELEWSKI, 2001. A síntese das principais manifestações clínicas da síndrome de cushing iatrogênica são demonstradas na Figura 16. Os efeitos menos freqüentes, relacionados com a dose e com a duração do tratamento, são mostrados entre parênteses (RANG, 2001). 51 Figura 16: Efeitos do excesso prolongado de glicocorticóides: Síndrome de Cushing Iatrogênica. Fonte: RANG, 2001. De evolução lenta, as manifestações iniciais da síndrome de Cushing, assim como ocorre com outras anormalidades endócrinas, podem ser bem sutis. Os estágios iniciais da desordem podem apresentam em maior proporção obesidade e fácies de lua cheia, conforme Tabela 4 (ROBBINS, 2005). 52 Tabela 4 - Principais Características da Síndrome de Cushing e sua Freqüência Aproximada. Aspectos Clínicos Percentagens Obesidade central (em torno do 85-90% tronco e parte superior do dorso) Fáceis em lua cheia 85% Fraqueza e cansaço 85% Hirsutismo 75% Hipertensão 75% Pletora 75% Intolerância a glicose/diabetes 75/20% Osteoporose 75% Anormalidades neuropsíquicas 75-80% Anormalidades no ciclo menstrual 70% Estrias cutâneas (lateral da porção 50% inferior do abdômen) Fonte: ROBBINS, 2005. 5.2 - OSTEOPOROSE Osteoporose é a doença óssea metabólica mais freqüente, sendo a fratura a sua manifestação clínica. É definida patologicamente como "diminuição absoluta da quantidade de osso e desestruturação da sua micro arquitetura levando a um estado de fragilidade em que podem ocorrer fraturas após traumas mínimos" (Figura 17). É considerada um grave problema de saúde pública, sendo uma das mais importantes doenças associadas com o envelhecimento (ROBBINS, 2005). O remodelamento ósseo é um processo contínuo de retirada de osso para o sangue e formação de osso novo, ocupando 20 a 30% do esqueleto a cada momento. Através do 53 remodelamento, o tecido ósseo substitui células velhas por novas (o que ocorre em todos tecidos) e o organismo pode dispor de elementos importantes que são armazenados nos ossos, como o cálcio. Os osteoclastos são as células responsáveis pela reabsorção durante o remodelamento. (KEISERMAN, 2001). No início de cada ciclo de remodelamento os osteoclastos escavam o osso, formando lacunas na sua superfície e cavidades no seu interior. Após cerca de duas semanas os osteoclastos são deslocados pelos osteoblastos que em um período aproximado de três meses preenchem a área absorvida com osso novo (KEISERMAN, 2001). Figura 17: Representação do osso com a osteoporose. Fonte: BALESTRO, 2007. Até aproximadamente 30 anos de idade a quantidade de osso reabsorvido e reposto é igual. A partir daí, inicia-se um lento balanço negativo que vai provocar, ao final de cada ativação das unidades de remodelamento, discreta perda de massa óssea. Inicia-se, portanto, um lento processo de perda de massa óssea relacionada com a idade osteoporose senil - no qual, ao longo de suas vidas, as mulheres perderão cerca de 35% de osso cortical (fêmur, por exemplo) e 50% de osso trabecular (vértebras), enquanto os homens perderão 2/3 desta quantidade (KEISERMAN, 2001). A osteoporose, com o conseqüente risco de fraturas, constitui, provavelmente, uma das principais limitações da terapia em longo prazo com GC. Os Glicocorticóides influenciam o osso através da regulação do metabolismo do cálcio e do fosfato e através de seus 54 efeitos sobre a síntese de colágeno pelos osteoblastos e degradação do colágeno pela colagenase. Os GC modificam a transcrição dos genes mediada pela vitamina D 3 nos osteoblastos (RANG, 2001). Os GC usados geralmente são os de vida média curta e intermediária como a hidrocortisona, prednisolona, prednisona, metilprednisolona, deflazacort e triamcinolona. O deflazacort, corticóide de terceira geração, tem menos efeitos secundários sobre o metabolismo ósseo, o crescimento e os hidratos de carbono (SIADO, 2000). 5.3 - OSTEONECROSE O infarto do osso e da medula óssea é um evento relativamente comum e pode ocorrer na cavidade medular da metáfise ou diáfise e na região subcondral da epífise. Todas as formas de necrose óssea resultam de isquemia. Entretanto, os mecanismos que produzem isquemia variam e incluem (1) interrupção vascular mecânica (fratura), (2) corticosteróides, (3) trombose e embolismo (bolhas de nitrogênio no disbarismo), (4) lesão vascular (secundária a vasculite, radioterapia), (5) aumento da pressão intra-óssea com compressão vascular e (6) hipertensão venosa. Apesar de as doenças associadas aos infartos ósseos serem diversas, em muitos casos a causa de necrose é incerta (ROBBINS, 2005). Além de fratura, a maioria dos casos de necrose óssea é idiopática ou ocorre após administração de corticosteróides. A fisiopatologia dos infartos ósseos induzidos por esteróides é obscura. Os infartos se seguem ao uso de altas doses de esteróides durante curtos períodos, administração de baixas doses por longos períodos e mesmo infiltrações intra-articulares (ROBBINS, 2005). A osteonecrose é uma complicação relativamente comum da terapia com glicocorticóide (LANE; LUKERT, 1998 apud GOODMAN, 2006). A cabeça do fêmur é afetada mais freqüentemente; todavia, esse processo também pode acometer a cabeça do úmero e a parte distal do fêmur. A dor e a rigidez articulares são habitualmente os primeiros sintomas, devendo-se considerar esse diagnóstico em pacientes tratados com GC que desenvolvam repentinamente dor no quadril, nos ombros ou nos joelhos. Em geral, a osteonecrose progride, acabando por exigir a substituição da articulação na maioria dos pacientes acometidos (GOODMAN, 2006). 55 5.4 - CATARATA Catarata é a opacidade da lente natural do olho, tanto localizada como generalizada no cristalino. Geralmente atua de maneira progressiva. Inicia-se com diminuição da acuidade visual e o uso de recursos ópticos, seja óculos ou lentes de contato, não melhorado a visão de quem tem a doença (ROBBINS, 2005). A catarata pode ser observada na pupila, que se torna esbranquiçada. Além de causar diminuição da visão, as pessoas podem observar imagens duplas, confusão para ver e distinguir cores, alteração freqüente do grau de óculos, muita dificuldade para a leitura e visão pior com luminosidade do sol. Pode ocorrer bilateralmente e ainda é a maior causa de cegueira no mundo, atingindo milhões de pessoas. A catarata pode ser congênita (mais rara) ou adquirida, que é a forma mais freqüente (TOVO, 2006). As cataratas adquiridas, em geral, ocorrem em pessoas acima dos 60 anos e também são conhecidas como cataratas senis. Traumas oculares, uso de corticoesteróides, inflamações intra-oculares, exposição excessiva à radiação ultravioleta e diversas doenças associadas, como o diabetes, por exemplo, são causas conhecidas. Dietas alimentares ainda são fonte de pesquisa (TOVO, 2006). As cataratas constituem uma complicação bem estabelecida da terapia com glicocorticóides e estão relacionadas tanto com a dose quanto com a duração da terapia. As crianças parecem correr particularmente esse risco. A interrupção da terapia pode não levar à resolução completa da catarata, que pode progredir, apesar da redução ou da interrupção da terapia. Os pacientes submetidos a terapia a longo prazo com glicocorticóides, com doses de 10-15 mg/dia ou mais de prednisona, devem ser submetidos a exames periódicos com lâmpada de fenda, a fim de detectar a ocorrência de cataratas subcapsulares posteriores induzidas pelos GC (GOODMAN, 2006). 5.5 - DIABETES SECUNDÁRIO Diabetes é um distúrbio do metabolismo da glicose (um tipo de açúcar) que causa uma elevação dos seus níveis não sangue (hiperglicemia) ocasionando complicações a curto e em longo prazo (SBD, 2006). 56 Várias são os fatores ou doenças que tem a capacidade de levar o indivíduo a um estado diabético, podemos citar (SBD, 2006): Doença pancreática: pancreatectomia (retirada cirúrgica do pãncreas), pancreatite (inflamação do pâncreas), hemocromatose (acúmulo de ferro no pâncreas) e etc; Doenças endócrinas com secreção excessiva de hormônios que prejudicam a ação da insulina (acromegalia, síndrome de Cushing, feocromocitoma); Medicações podem causar ou desencadear diabetes por dificultar a ação da insulina ou por diminuir a sua produção. As medicações mais frequentemente associadas são os glicocorticóides (cortisona) e aquelas utilizadas no tratamento da SIDA (Síndrome da imunodeficiência adquirida); Diabete gestacional - intolerância à glicose que se inicia durante a gravidez e desaparece após o término da mesma. Os GC estimulam a gliconeogênese e inibem a captação de glicose pelas células, resultando em hiperglicemia, glicosúria e polidipsia; a síndrome de Cushing é uma causa importante da diabetes secundário (ROBBINS, 2005). 5.6 - OBESIDADE A obesidade é uma síndrome com várias causas, caracterizada por um excesso de tecido gorduroso e pode ser classificada em várias modalidades. Para que essa definição tenha aplicação prática, é necessário baseá-la em critérios matematicamente definidos. Para isso existe o Índice de Massa Corpórea (IMC), hoje aceito como padrão de medida internacional para obesidade (BALLONE, 2003). A forma de cálculo para IMC é a divisão do peso (em kg) da pessoa por sua altura, elevada ao quadrado (em m²). A classificação da categoria, de acordo com o IMC é demonstrado no Quadro 2. 57 CATEGORIA IMC Desnutrição Abaixo de 14,5 Abaixo do Peso até 20 Peso Normal 20 - 24,9 Sobrepeso 25,0 - 29,9 Obeso 30,0 - 39,9 Obeso Mórbido 40 e acima Quadro 2: Classificação da categoria de acordo com o IMC. Fonte: BALLONE, 2003. Quanto à circunstância em que ocorre segundo Sandra Gasparini, pode-se classificar a obesidade em (BALLONE, 2003): 1. obesidade de longa data - indivíduos obesos desde criança; é a forma de mais difícil tratamento e entre as causas existe a predisposição genética (herança familiar) e a hiperalimentação precoce; 2. obesidade da puberdade - aparece na puberdade, é predominante em mulheres, tem como causas angustias e ansiedades desta fase da vida e alterações orgânicas; 3. obesidade da gravidez - na gravidez e no pós parto, também por fenômenos psíquicos e/ou orgânicos; 58 4. obesidade por interrupção de exercícios - comum em esportistas que ingerem grandes quantidades de calorias e param de fazer exercícios, ou seja, deixam de gastálas; 5. obesidade secundaria a drogas - alguns medicamentos como os corticóides, os antidepressivos e os estrógenos podem induzir a um ganho de peso; 6. obesidade após parar de fumar - a explicação é que a nicotina aumenta o gasto calórico por sua ação lipolítica; também é responsável por perda de apetite; 7. obesidade endócrina - apesar da população leiga ter outro ponto de vista, a obesidade Endócrina aparece em somente 4% das obesidades. Aqui se incluem doenças da tireóide, do pâncreas e da supra-renal. 5.7 - INFECÇÕES Em virtude de seus múltiplos efeitos na inibição do sistema imunológico e da resposta inflamatória, os GC também estão associados a maior suscetibilidade a infecções e risco de reatividade da tuberculose latente. Na presença de infecções reconhecidas de alguma importância, os GC só devem ser administrados quando absolutamente necessários e concomitantemente com terapia antimicrobiana ou antifúngica apropriada e eficaz (GOODMAN, 2006). Segundo Damiani et al (2001), os GC possuem maior suscetibilidade a infecções do tipo: infecções virais (varicela), infecções bacterianas (estafilococo, proteus, pseudômonas e salmonella), reativação (estrongiloidíase, da tuberculose, toxoplasmose e pneumositose, amebíase), infecções infecções parasitárias fúngicas (aspergilose, candidíase, criptococose). As infecções causadas por S. stercoralis tendem a cronicidade, com décadas de evolução e podem desencadear hiperinfecções em pacientes imunocomprometidos, com aqueles que sofrem SIDA, câncer, diabetes, alcoólicos, que levam a infecções bacterianas secundárias, as quais às vezes são fatais. Tais infecções freqüentemente se associam com tratamento com corticosteróides. Recentemente se tem estabelecido que os esteróides mimetizem um hormônio do parasito relacionado com a migração, o que leva o desenvolvimento de larvas infectantes no intestino do hospedeiro. Por isso é necessário descartar a infecção com S. stercoralis mediante uma série consecutiva de 59 provas de Baerman, antes de estabelecer qualquer protocolo de tratamento com corticosteróides (HERNÁNDEZ, 2000). 5.8 - MANIFESTAÇÕES PSIQUIÁTRICAS As manifestações psiquiátricas decorrentes do uso de GC são conhecidas, porém muitas vezes é difícil avaliar se constituem efeito colateral da terapia ou são efeitos da própria doença de base (SATO, 2001). As alterações mentais induzidas por GC mais freqüentes são a labilidade emocional, a ansiedade, a distração, a insônia, a depressão, a perplexidade, a agitação, a alucinação visual e auditiva, a alteração intermitente de memória, o distúrbio da imagem corporal, a apatia e a hipomania. Na literatura, a freqüência desses efeitos varia de 13% a 62%, com média em torno de 27%. Como regra geral, manifestações menos importantes como insônia, depressão, hipomania ou euforia, confusão e problemas de memórias são queixas freqüentes em pacientes em uso de GC. Entretanto, manifestações mais graves, como a psicose, são raras. A média de incidência de psicose induzida por GC em várias doenças é estimada em torno de 5,7%, mas parece ser bem maior em pacientes com LES (Lupus Eritematoso Sistêmico) e pênfigo (SATO, 2001). 5.9 - ÚLCERAS PÉPTICAS Existem consideráveis controvérsias sobre a associação entre úlceras pépticas e terapia com GC. A possível ocorrência de hemorragia e de perfuração nessas úlceras e seu início insidioso transformam as úlceras pépticas em problemas terapêuticos graves e a estimativa do grau de risco causado pelos CS tem sido objeto de muito estudo (SILVA, 2006). Um relato indica que a maioria dos pacientes que desenvolveram sangramento gastrintestinal durante o tratamento com CS também receberam antiinflamatórios nãoesteróides, que reconhecidamente promovem a ulceração; por conseguinte, o papel patogênico dos CS permanece aberto a polêmicas (GOODMAN, 2006). Todavia, é prudente ser especialmente vigilante quanto à possível formação de úlceras pépticas em pacientes que recebem terapia com CS, sobretudo quando administrados concomitantemente com antiinflamatórios não-esteróides (GOODMAN, 2006). 60 6 - DESMAME DA CORTICOTERAPIA Duas situações são extremamente delicadas ao manusearmos os CS: seus efeitos colaterais e a chamada “síndrome de retirada”, consistindo em sinais e sintomas decorrentes da diminuição ou retirada total do CS (FAIÇAL; UEHARA, 1998). A introdução da corticoterapia implica, durante seu uso, na ocorrência dos efeitos colaterais acima descritos; entretanto, sua suspensão é, também, dois eventos: a síndrome de retirada e a insuficiência adrenocortical secundária (supressão do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal – HHA). A síndrome de retirada é caracterizada por anorexia, letargia, náuseas, artralgias, fraqueza, perda de peso, descamação da pele e febre, sendo marcada pela integridade do eixo HHA, estabelecido por vários índices, além de se documentar a ausência de recrudescência da doença de base (FAIÇAL; UEHARA, 1998). A suspensão da terapia com CS envolve várias decisões difíceis. É importante lembrar que o problema mais freqüente na suspensão de esteróides consiste na exarcebação da doença subjacente para a qual foram prescritos os esteróides. Existem várias complicações associadas à interrupção dos esteróides. A complicação mais grave da suspensão de um esteróide, a insuficiência supra-renal aguda, resulta da interrupção demasiado rápida dos corticosteróides após terapia prolongada, quando o eixo HHSR foi suprimido. Existe uma variação significativa entre os pacientes no que concerne ao grau e à duração da supressão da supra-renal após terapia com CS, dificultando a definição do risco e determinado paciente. Muitos pacientes recuperam-se da supressão do eixo HHSR induzida por CS em várias semanas a meses. Entretanto, em alguns indivíduos, o tempo de recuperação pode estender-se por 1 ano ou mais (GOODMAN, 2006). Uma dose única de GC, mesmo uma grande dose, é praticamente isenta de efeitos prejudiciais e é pouco provável que uma terapia de curta duração (até 1 semana) na ausência de contra-indicação específica seja deletéria. À medida que a duração da terapia com GC aumenta além de 1 semana, verifica-se um aumento, relacionado com o tempo e com a dose, na incidência de efeitos incapacitantes e potencialmente letais. Exceto nos pacientes que recebem terapia de reposição ou de substituição, os GC não são específicos nem curativos; na verdade, proporcionam alívio em virtude de suas ações antiinflamatórias e imunossupressoras. Por fim, a interrupção abrupta dos GC após terapia prolongada está associada a um risco significativo de insuficiência supra-renal, que pode ser fatal (GOODMAN, 2006). 61 Os mecanismos pelos quais a síndrome de retirada ocorre ainda são desconhecidos; entretanto, duas hipóteses são possíveis: 1) variação da concentração sérica devido à mudança de altas para baixas doses de GC, induzindo sintomatologia semelhante à insuficiência adrenal secundária; ou 2) relativo grau de resistência aos GC cursando com status hipocortisolêmico (FAIÇAL; UEHARA, 1998). Segundo Faiçal; Uehara (1980), a classificação para síndrome de retirada foi caracterizada em quatro subtipos, respectivamente, como: Tipo I – evidências clínicas, bioquímicas e hormonais da supressão do eixo HHA, demonstradas de maneira rigorosa; Tipo II – recrudescência dos sintomas da doença de base pela qual a corticoterapia foi instalada, com normal resposta do eixo HHA; Tipo III – presença dos sintomas característicos da síndrome, porém com resposta normal do eixo HHA e sem recrudescência da doença de base e cujos sintomas melhoram com o retorno da administração do GC acima da dose fisiológica (25mg de cortisona ou equivalente). Esse tipo pode ser definido como dependência, seja esta física ou psicológica; Tipo IV – presença de demonstrada insuficiência do eixo HHA, porém sem sintomas da síndrome ou da doença de base. Desse modo, a situação do paciente no momento da retirada do CS será extremamente variável, dependendo do esquema e da duração da terapia medicamentosa (FAIÇAL; UEHARA, 1998). Faiçal; Uehara (1998) propôs um esquema de retirada que se baseia na recuperação do eixo, testada por estímulo com ACTH, como pode ser visto na Figura 18: 62 Figura 18: Algoritmo de retirada ambulatorial de corticosteróides Fonte: DAMIANI et al, 2001. Quando se decide utilizar GC terapeuticamente, vários fatores devem ser lembrados, que interferem nos seus efeitos colaterais (DAMIANI et al, 2001): A) Tipo de preparação a ser utilizada; B) Via de administração; C) Dose; D) Esquema de administração (contínuo X dias alternados); E) Tempo de uso; F) Idade e sexo do paciente; G) Doença de base para a qual se indica a terapêutica GC; algumas doenças de base préexistentes condicionam determinados efeitos colaterais. Por exemplo, um paciente com gastrite, se usar GC terá maior probabilidade de desenvolver úlcera gástrica do que um paciente que não tenha essa predisposição básica; H) A real indicação de uso, ou seja, não existiria outra droga, com menos efeitos colaterais, que poderia substituir o GC? Quando se leva em conta a via de administração, algumas vias são sabidamente menos propensas a causar efeitos colaterais que outras: o uso de CS inalatórios, se bem que, na dependência da dose e da preparação, podem apresentar algum grau de absorção, provoca muito menos efeitos colaterais do que o uso por via oral ou parenteral (DAMIANI et al, 2001). 63 7 - CONSIDERAÇÕES FINAIS Infelizmente não dispomos de um medicamento que seja sempre eficaz, pelo que temos de recorrer às diversas terapêuticas alternativas disponíveis. Até encontrarmos esse medicamento que se mostre eficaz os corticóides poderão dar uma ajuda importante no controle da situação. Há controvérsias, no entanto, no tratamento medicamentoso com corticosteróides, uma vez que os mesmos atuam diretamente nas células imunológicas, debilitando todo o sistema auto-imune, que torna o organismo susceptível às enfermidades, agravando o estado das patologias, modificando à qualidade de vida dos pacientes, os quais devem tomar total conhecimento da droga/medicamento que irá fazer uso (ANEXO B). A decisão de iniciar a terapia com corticosteróides sempre requer uma cuidadosa consideração dos riscos e benefícios em cada paciente, por isso a necessidade de algumas orientações (ANEXO C e ANEXO D). As doses administradas e o tempo de tratamento devem ser reduzidos ao máximo, por agirem inespecificamente atuando em diversas partes do organismo e propiciarem o desenvolvimento dos efeitos indesejáveis. Tais dosagens devem ser individualizadas, dependendo das respostas terapêuticas de cada paciente, embora clinicamente para qualquer patologia e em qualquer paciente, a dose adequada para conseguir certo efeito terapêutico é determinada através de tentativa e erro, devendo ser periodicamente reavaliada, à medida que a atividade da doença subjacente se altere ou que surjam complicações da terapia. Para se tentar obter a melhor relação risco/benefício, a orientação geral para a corticoterapia é que se utilize a menor dose eficaz pelo menor tempo. Nos casos de uso crônico, a utilização de GC em dias alternados deve ser sempre tentada. Deve-se dar preferência ao uso de preparado de corticosteróide de ação mais curta, que causa menor depressão do eixo hipotálamo-hipofisário-adrenal, e pode ser suspensa caso se observem efeitos colaterais. A potência antiinflamatória dos diversos preparados de GC é bastante variável, devendo-se tomar cuidado para se fazer a substituição de um preparado por outro. Os corticosteróides, amplamente utilizados por médicos generalistas e de diferentes especialidades, são drogas com alto potencial de morbi-mortalidade, desde que não 64 adequadamente manuseados. Por isso, sempre ao introduzir esses medicamentos, devemos ter em mente os seguintes princípios: utilizá-los o menor tempo possível, existência de outra alternativa terapêutica menos deletéria, associação com outra droga que diminua as doses necessárias dos corticosteróides, o esquema em dias alternados é viável como opção e, por último, prevenir efeitos colaterais se o indivíduo já é suscetível. Ressaltando que é preciso investigar antecedentes pessoais e familiares do paciente, conforme demonstrado no ANEXO A. Embora discrepâncias entre atividade antiinflamatória e potências antiproliferativas descritas em estudos experimentais sejam de grande interesse terapêutico e incentivo para o desenvolvimento de novas drogas, é difícil crer que com os GC sintéticos hoje disponíveis tenhamos obtido as drogas ideais para tratamento com GC. O desenvolvimento de compostos com potência antiinflamatória semelhante aos atuais GC, mas com redução dos efeitos colaterais, como agonistas seletivos do receptor do GC que modulem diferencialmente as atividades de transativação e transpressão do GC deverão ser o alvo da pesquisa farmacêutica. A necessidade de esclarecimento da classe médica quanto à medicação, a qualidade de vida torna-se evidente na prevenção e manutenção da mesma, evitando-se as patologias que venham a desenvolver em organismos susceptíveis. Uma vez estabelecidas tais patologias, faz-se necessário o manejo destas complicações da corticoterapia (ANEXO G). 65 REFERÊNCIAS ALHEIRA, V. F.; BRASIL, A. M. O papel dos glicocorticóides na expressão dos sintomas de humor - uma revisão. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, v.27 n.2 Porto Alegre maio/ago. 2005. Ballone,G. J. - Obesidade, in PsiqWeb. Disponível em: http:// www. psiqweb.med.br/ infantil/obesid.html> revisto em 2003. Acesso em: 25 Fev. 2009. BAVARESO, L.; BERNARDI, A.; BATTASTINI, A. M. O. Glicocorticóides: Usos clássicos e emprego no tratamento do câncer. Rev. Pharmacia Brasileira, ano IX, nº 50, Dez. 2005, v.17, nº7/9, p. 58-60. BOAVENTURA, Edivaldo. Metodologia da Pesquisa – Monografia, Dissertação e Tese. 1. ed. São Paulo: Atlas, 2004 CASTRO, M. Efeitos Antiinflamatórios e Antiproliferativos dos Glicocorticóides: Concordância ou Discordância? Departamento de Clínica médica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, São Paulo, SP. Arquivo Brasileiro de Endocrinologia Metabólica v. 49 nº 3, jun, 2005. CZEPIELEWSKI, M. A. Síndrome de Cushing. Disponível em: www. abcdasaude. com.br/ artigo. php - Data de Publicação: 01/11/2001 - Revisão: 30 nov. 2006. Acesso: 14 jun. 2008 DAMIANI, Durval et al. Corticoterapia e suas repercussões: a relação custobenefício. São Paulo, 2001. DALE, M. M. Meloxicam. Disponível em: www.phd.com.br/meloxicam.com.htm. Acesso em: 15 mar. 2009. DIAS, Rejane. Corticóides em pacientes com Artrite Reumatóide e Lúpus Eritetematoso Sistêmico. Monografia - Universidade Tiradentes (UNIT), Centro de Ciências Biológicas e da Saúde – CCBS, Aracajú 1999. FAIÇAL, S.; UEHARA, M., H. Efeitos sistêmicos e síndrome de retirada em tomadores crônicos de corticosteróides. Departamento de Medicina, Universidade Federal de São Paulo. Revista Associação Médica Brasileira, 1998; 44(1): 69-74. GM, Lara et al. Esteróides Adrenais. Newlab. Porto Alegre. 3ª ed., nº 35, p. 94-101. ago/ set. 1999. 66 GOODMAN, A. G. As Bases Farmacológicas da Terapêutica. 11. ed. Rio de Janeiro. McGraw-Hill do Brasil, 2006. GUYTON, Arthur, C, HALL, John E. Tratado de Fisiologia Médica. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002. HERNÁNDEZ, C. F. Hiperinfecciones por Strongyloides stercoralis, tratamiento com corticosteróides y su efecto sobre La ecdisis Del parasito. Revista Costarricense de Ciências Médicas. v. 21, nº1-2. San José, jun 2000. KATZUNG, Bertram. Farmacologia Básica e Clínica. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. 574, 583, 841p. KEISERMAN, M. W. OSTEOPOROSE – Disponível em: www.abcdasaude.com.br/artigo.php. Data de Publicação : 01 nov. 2001 - Acesso em: 14 abr. 2009 . KOROLKOVAS, Andrejus; BURCKHARTER, Joseph H. Química Farmacêutica. Tradução de Andrejus Korolkovas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1988. LIBERMAN, Bernardo. Papel da Terapia Medicamentosa na Síndrome de Cushing. Arq. Bras. Endocrinol Metab v. 47 nº4 ago 2003. Serviços de Endocrinologia do Hospital Brigadeiro e da faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Medicamentos – Riscos e Benefícios da Corticoterapia. Associação Nacional de doentes com artrites e outros reumatismos da infância. Disponível em: http://andai.org.pt/Info_Clinica/medicamentos. Acesso em: 17 jun. 2008. MERVYN, Leonard. Dicionário de Vitaminas. Tradução de Silva B. Sarzara. 3. ed. São Paulo. Ground, 1990. OLIVEIRA, R. I.; MACEDO, J M. Corticosteróides. In: SILVA, Penildon. Farmacologia. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. RANG, H.P.; DALE, M.M.; RITTER, J.M. Farmacologia. 5 ed. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 2003. ROBBINS, Stanley L.,COTRAN, Ramzi S. Patologia – Bases patológicas das doenças. 7 ed. p. 1262-1265. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. ROMANHOLI, D. J; SALGADO, R. L. Síndrome de Cushing exógena e retirada de glicocorticóides. Arq Bras Endocrinol Metab v.5 n.8 São Paulo nov. 2007. 67 SATO, E. I. Manifestações psiquiátricas da corticoterapia. Centro de estudos - Departamento de Psiquiatria UNIFESP / EPM. Julho, 2001. Disponível em: http:// www.unifesp.br/ dpsiq/ polbr/ ppm/atu4_01.htm. Acesso em: 20 jan. 2009. SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES (SBD). http://www.diabetes.org.br/. Acesso em: 18 maio 2008. Diabetes. 2006. Disponível em: SIADO, J. A. S. Osteoporosis inducida por glucocorticóides. Facultad de Medicina Universidad Libre y Metropolitana – Barraquilla. Rev. colomb. reumatol;7(1):54-9, mar. 2000. SOUZA, José Giovanni e Silva. Corticosteróides em Reumatologia. ANFARMAG: Órgão Oficial da Associação Nacional de Farmacêuticos Magistrais. São Paulo. n 20. p. 10-13. 1999. TOVO, D. Conheça doença – Catarata. Portal Dr. Visão, http://www.drvisao.com.br/quemsomos.php. Acesso em: 02 jul. 2008. 2006. Disponível em: 68 ANEXO A - GUIA PARA CORTICOTERAPIA COLABORAÇÃO DO DR. SERGIO LECOMPTE . Antecedentes . Protocolo para monitorização . Orientações para paciente em corticoterapia Antes de iniciar uma terapia com corticóides se deve ter em conta perguntar para o paciente os seguintes antecedentes: Pessoais: - Infecções Fúngicas (Candidíase) - Episódios de Herpes a repetição - Hipertensão Arterial Sistêmica - Tuberculose (Tosse ou Febre crônica) - Historia de Hiperlipidemias - Historia de Osteoporose - Cirurgia Previa ou Programadas que possam levar a ou incluam Anastomose Intestinal - Historia de Transfusão de sangre ou uso de Drogas (suspeita de Hepatite C) - Historia Previa de Glaucoma (principalmente de angulo aberto) ou Cataratas - Cálculos Renais - Parasitismo Intestinal - Suspeita de Necrose Avascular de Fêmur - Toma algum medicamento (AINES, Digoxina). Familiares: - Tuberculose - Diabetes Mellitus - Hipertensão Arterial - Hiperlipidemias Familiares 69 ANEXO B - ESCLARECIMENTO AO PACIENTE QUE INICIARÁ TERAPÊUTICA PROLONGADA COM CORTICOSTERÓIDE * Você vai iniciar um tratamento para a sua doença que inclui o uso de corticóides. * Os corticóides são medicamentos usados na medicina há mais de 30 anos e representam uma opção para o tratamento de várias doenças. * Corticóides são drogas que têm ação similar a alguns hormônios do seu organismo e agem diminuindo a atividade de algumas doenças inflamatórias. * Os corticóides, quando usados por um longo período apresentam efeitos adversos que você e seu médico terão de manejar. * Os efeitos adversos dos corticóides são relacionados com a dose e a duração do tratamento, portanto, logo que a sua doença permitir, seu médico vai se esforçar para diminuir a dose de corticóides que você está usando, e, se possível, suspender o seu uso. * Caso não seja possível suspender o seu uso, vão ser propostas medidas de reabilitação, rotinas de atividades físicas, dietéticas e associação de outros medicamentos com ação semelhante que possibilitem a menor dose possível de corticóides. * Aconteça o que acontecer NUNCA suspenda o tratamento sem procurar orientação médica. A suspensão repentina faz você correr risco de vida! * Não falte às consultas de controle, há exames laboratoriais e avaliações físicas que são necessárias para a sua segurança durante o tratamento. Se perder a consulta – remarque-a. * Você deve tomar os comprimidos SEMPRE pela manhã (6-9h), independente do número de comprimidos. Só o seu médico pode autorizar a divisão da dose durante o dia. * Você deve tomar os seus comprimidos junto com o café da manhã, ou leite, sem perder o efeito. * Atenção quanto à dose dos comprimidos. A PREDNISONA ou METICORTEN se apresenta em comprimidos de 5 e 20mg, o DEFLAZACORT ou CALCORT se apresenta como 6 e 30mg – NÃO CONFUNDA OS COMPRIMIDOS!. 70 * Avisar seu médico caso precise tomar vacinas, usar outros remédios ou realizar procedimentos cirúrgicos ou dentários. * As pessoas que tomam corticóides têm mais dificuldade de enfrentar situações de estresse ou emoções muito fortes. * As doenças comuns: gripe, rubéola, catapora, infecções de pele têm um comportamento diferente nas pessoas que usam corticóides, devendo ser prevenidas. * As doenças comuns demoram mais para resolver quando se toma corticóide, porque ele diminui as defesas do organismo. * Avise aos parentes e pessoas próximas que está tratando com corticóides, e, se possível, repasse as orientações a eles. * Você pode ganhar peso durante o tratamento. Siga as recomendações dietéticas. Recomendações Dietéticas: 1. Levar uma dieta rica em Proteínas (Carnes idealmente brancas e bem passadas, Feijão, Lentilhas). 2. Levar uma dieta rica em Potássio (Banana, Tomate, Espinafre, Laranja, Limão) 3. Levar uma dieta rica em Cálcio (Leite ou Iogurte Desnatado, Queixo Ricota ou de Minas). São necessários 2 copos de leite desnatado por dia para reposição de cálcio e prevenção da osteoporose. 4. Tomar Refeições freqüentes (nunca em exagerada quantidade). 5. Evitar tomar Café, Álcool, Chá Preto, Chimarrão, e comidas muito condimentadas ou picantes. 6. Evite fumar cigarro, charuto ou cachimbo. 71 Recomendações físicas: 1. Exercícios físicos diários de baixo impacto – caminhar 30 min. por dia em terreno plano, nadar, bicicleta. De acordo com as limitações físicas que seu médico impor. Para fortalecer os músculos e ativar os ossos na prevenção da osteoporose, bem como no controle da hiperglicemia, diabetes, pressão alta, obesidade e colesterol. 2. Exposição do dorso ao Sol, 15 min. por dia (pode ser com o protetor solar), para sintetizar Vitamina D e evitar osteoporose. 72 ANEXO C - PROTOCOLO PARA MONITORIZAÇÃO DA TERAPIA COM CORTICÓIDES AVALIAÇÃO INICIAL: Pressão Arterial Peso Exame Oftalmológico (Slit-Lamp) Laboratoriais: Raios X Tórax Tuberculina (> 5 risco) Eletrólitos: Sódio Potássio Magnésio Ca Iônico EPF (Pesquisa de Strongilóides) Exames Urinários: EQU - Urocultura - Cálcio Urinário Perfil Lipídio: Colesterol Total - LDL - HDL - Triglicérides Provas Função Renal: Creatinina - Uréia Provas Função Hepática: Bilirrubinas- TGO - TGP - GGT - Fosfatase Alcalina - Albumina TP - TTP Glicemia Jejum VDRL Hemograma + Plaquetas + VSG Densitometria Óssea (Mulheres) Curva de Crescimento (Crianças) PRIMEIRO MES: Pressão Arterial Peso Dados Clínicos (Anamnese e Exame Físico) Laboratórios: Eletrólitos: Sódio - Potássio - Magnésio - Ca Iônico - Glicose em Jejum Hemograma + Plaquetas + VSG - Perfil Lipídeo: Triglicérides CADA 3 MESES: Pressão Arterial Peso Dados Clínicos (Anamnese + Exame Físico) Laboratórios: Eletrólitos: Sódio Potássio Magnésio Ca Iônico EPF Glicose Jejum 73 Hemograma + Plaquetas + VSG Perfil Lipídeo: Triglicérides Curva Crescimento (Crianças) CADA 6 MESES: Pressão Arterial Peso Dados Clínicos (Anamnese + Exame Físico) Repetir Exames Laboratoriais do 1ero Mês. Exame Oftalmológico (Slit-Lamp) Curva Crescimento (Crianças) ANUALMENTE: Pressão Arterial Peso Dados Clínicos (Anamnese + Exame Físico) Repetir Exames Laboratoriais do 1ero Mês Exame Oftalmológico (Slit-Lamp) Curva Crescimento (Crianças) Densitometria Óssea (Mulheres) Rx Tórax ANTES DE SUSPENDER O TRATAMENTO: Níveis de Cortisol Matutinos. EM CASO DE PULSOTERAPIA INTRAVENOSA: Monitorização Cardíaca Eletrólitos e Glicose Diários 74 ANEXO D - ORIENTAÇÕES PARA OS PACIENTES EM TRATAMENTO COM CORTICÓIDES Recomendações Gerais: - Não suspender o tratamento (sem perguntar antes a seu medico). - Nunca esquecer assistir a sua avaliação medica de controle e lembre que deve realizar exames laboratoriais freqüentemente (isto faz parte importante do seu tratamento). - Os comprimidos derem se devem tomar as 8 h. da manhã (independente do numero de comprimidos). Obs.: Em algumas situações especiais o medico pode indicar a toma dos comprimidos em vários horários. - Os comprimidos se encontram em valores de 5 e 20 mg e poderia receber a dose em combinação dos anteriores o só com algum deles. - A medicação pode ser tomada com alimentos e não perde seu efeito. - Não fazer uso de vacinas para Gripe sem perguntar antes para seu Medico. - Evite contato com pessoas que tenham Infecções Virais (ej: Sarampo, Varicela, Rubéola). - Se você vai realizar algum procedimento Dentário ou Cirúrgico deve avisar antes para seu medico o uso do medicamento. - Não pode usar outras medicações sem antes não advertir do seu tratamento ao medico que receito. Recomendações Dietéticas: O uso de corticóides pode alterar o metabolismo normal de alguns nutrientes da alimentação pôr isso deve tentar seguir as seguintes instruções: 75 -Levar uma dieta rica em Proteínas (Carnes idealmente brancas e bem passadas, Feijão, Lentilhas). -Levar uma dieta rica em Potássio (Banana, Tomate, Espinafre, Laranja) -Levar uma dieta rica em Cálcio (Leite ou Iogurte Desnatado, Queixo Ricota ou de Minas). -Tomar Refeições freqüentes (nunca em exagerada quantidade). -Evitar tomar Café, Álcool, Chá Preto, Chimarrão, e comidas muito condimentadas ou picantes. -Evite fumar cigarro, charuto ou cachimbo. Recomendações Médicas: Em caso de apresentar alguns dos seguintes sintomas deve informar na consulta ou consultar no mais breve possível para o seu medico: - Febre, sudorese noturna, tos, escarro. - Alegria ou tristeza exagerada sem motivo. - Dor muscular, pontos dolorosos nos ossos, dor nas costas. - Ardência no estômago, sangre nas fezes ou fezes muito escuras (quase pretas). - Câimbras musculares, sede excessiva, aumento excessivo nas de urinar no dia. - Comichão vaginal ou saída de secreções infreqüentes. - Dor no peito, falta de ar, e inchação das pernas. - Vômito, Náuseas, Dores nas Juntas, Irritabilidade ou Alterações do Comportamento. Em caso de apresentar alguns dos seguintes sintomas deve procurar um Posto de Pronto Socorro ou Assistência Medica Imediata: - Dor Abdominal Forte - Sangrado nas Fezes 76 - Febre e Calafrios persistentes - Gripe que não resolve rapidamente (mas de 1 semana). - Dor de Cabeça Forte - Palpitações - Dor no Peito Recomendações Físicas: Pôr enquanto se encontra fazendo terapia com corticóides seus ossos poderiam encontrar-se mais fracos por isso em caso de estar acostumado a fazer algum tipo de exercícios pode continuar estes, mas os exercícios a realizar devem ser de baixo impacto para prevenir possíveis fraturas. (exemplo: caminhar). Não esqueça a importância de seguir estas recomendações para evitar problemas com o uso desta medicação. Se possível mantenha informados a todos os seus familiares de estas orientações assim como também possíveis complicações acerca do uso da sua medicação. 77 ANEXO E - PROTOCOLO DO MANEJO DE PACIENTES SOB CORTICOTERAPIA SISTÊMICA PROLONGADA COLABORAÇÃO DO DR. HÉLIO AMANTE MIOT Seleção dos pacientes: a) Inclusão: Corticoterapia sistêmica com duração prevista para mais de 2 meses. Dose >5mg de prednisona/dia Pacientes com programação de cursos breves (>7dias e <2 meses) portadores de comorbidades como : Diabetes mellitus Hipertensão arterial sistêmica Insuficiência renal Osteoporose/fraturas Insuficiência Cardíaca Hiperparatireoidismo HIV + Insuficiência hepática Dislipidemias Síndromes consulptivas Doença péptica Anastomose intestinal Glaucoma Herpes vírus Tireoidopatia Micoses profundas/Tuberculose b) Indicações e Contra-indicações: Sob grande critério médico. Potência relativa e ação mineralocorticóide dos principais corticóides usados: Principais efeitos adversos do uso de corticosteróides sistêmicos * Alterações hidroeletrolíticas: Hipopotassemia, hipomagnesemia, retenção de sódio e água. * Edema * Ganho de peso * Hipertensão arterial sistêmica * Aumento da resistência à insulina: Hiperglicemia com hiperinsulinemia * Resposta imune debilitada: Predisposição a infecções oportunistas, maior tempo de convalescença, zoster. * Disseminação de infecções localizadas: herpes simplex, micoses profundas, estrongiloidíase e sepse. * Possível risco de úlceras pépticas * Miopatias: dor, câibras, atrofia, astenia, miosite * Neutrofilia, linfocitopenia * Catarata subcapsular posterior, glaucoma 78 * Osteoporose / fraturas * Necrose asséptica de ossos * Alteração do crescimento: fechamento precoce das epífises ósseas nas crianças * Redistribuição da gordura: habitus Cushingóide, hiperlipidemia * Hipoproteinemia: Redução da síntese * Fragilidade cutânea e capilar: Púrpura de Bateman, equimoses, estrias violáceas * Acne, hirsutismo, hiperpigmentação * Alterações de ordem psiquiátrica: psicose por corticóide, euforia e depressão * Bloqueio do eixo da supra-renal: Incapacidade de reagir a situações de estresse, choque Retirada da terapia: * Insuficiência adrenal aguda * Exacerbação da doença subjacente * Síndrome de retirada (febre, mialgia, artralgia, mal-estar) * Síndrome do Pseudo-tumor cerebral: Cefaléia e sinais localizatórios ao exame neurológico 79 ANEXO F - REGRAS BÁSICAS DA CORTICOTERAPIA SISTÊMICA 1) Evitar o início da corticoterapia sistêmica, se iniciar, que o uso seja o mais breve possível; se não for breve, que seja na dose mais baixa possível; se não conseguir baixar a dose, associar drogas poupadoras. Mas SEMPRE, fazer as devidas profilaxias descritas adiante. 2) SEMPRE tentar usar o DEFLAZACORT. 3) Tentar optar por corticóides tópicos e associar drogas poupadoras de corticóide. 4) Os efeitos adversos são proporcionais a dose e a duração do tratamento. 5) A prednisona oral tem pico de efeito em 1,5 a 2h e permanece agindo por 1,25-1,5 dias. 6) A dose fisiológica se situa entre 5 e 10mg (7,5mg em média) de prednisona em adultos. Sendo convencionado que doses acima de 0,5mg/kg/d (40mg em média) alcancem clinicamente efeito imunossupressor. Não parece haver vantagem clínica, diante dos efeitos adversos crescentes, doses maiores que 1,2mg/kg/d de prednisona. Porém, em casos graves pode-se usar até 2mg/kg/d de prednisona. Quando doses maiores forem requeridas deve-se considerar a hipótese de pulsoterapia. 7) Devem ser administrados em dose única diária, com alimento, entre 6 e 9h. Doses fracionadas no dia são mais eficientes, porém estão relacionadas com mais efeitos adversos. Doses em dias alternados (ainda que altas) são mais bem toleradas. 8) São seguros cursos curtos (até 5-7dias) de doses altas com interrupção súbita, sem regressão. Cursos de até 14 dias, apesar de alterarem o eixo hipofisário, são de rápida recuperação (1 semana) se suspensos abruptamente. A inibição do eixo hipofisário está mais relacionada com o tempo de tratamento do que com as doses usadas. 9) Na vigência de infecções (bacterianas/fúngicas) não é necessária a interrupção da corticoterapia, desde que a cobertura antibiótica ou antifúngica seja adequada. Eventualmente se necessita prolongar o tempo de uso de antibióticos. 10) Os corticóides sistêmicos são excretados (1%) no leite materno, e são drogas FDA Classe C para a gravidez. 80 11) Em períodos de estresse (parto, cirurgias, emoções fortes) deve-se aumentar transitoriamente a dose de corticóide (com ação mineralocorticóide), por inabilidade do eixo ACTH/adrenal responder ao estresse. 12) Não é preconizado o uso de profilaxia para doença péptica em indivíduos assintomáticos (ver Informações adicionais no final desse protocolo). A sintomatologia emergente do uso crônico deve ser avaliada pela especialidade. Nos usuários concomitantes de AINH, usar omeprazol 20-40mg/d. Hidróxido de alumínio depleta fosfato, corroborando com o dano ósseo do corticóide. 13) A redução da estatura correlaciona com a desmineralização óssea da coluna e compressão radicular. 14) A regressão da dose deve ser feita lentamente, em intervalos de 7 a 14 dias, com redução que pode variar de 10 a 30% da dose, de acordo com a doença e o tempo de uso. Ao terminar o curso de 5mg de prednisona, pode ser suspenso. 15) Doses em dias alternados causam menor dano nos níveis glicêmicos e pressóricos. 81 ANEXO G - MANEJO DAS COMPLICAÇÕES DA CORTICOTERAPIA SISTÊMICA PROLONGADA: * Cefaléia: A medida periódica da pressão arterial pode avisar precocemente da oscilação dos níveis pressóricos e a terapia adequada deve ser instituída pelo cardiologista. Devese procurar sinais de localização neurológica e a caracterização adequada da cefaléia, visto que as cefaléias tipo tensão e enxaqueca são largamente mais freqüentes e devem ser primeiramente abordadas com medidas de “biofeedback”, psicoterapia de apoio, conscientização familiar e Tylenol 750mg 1 comp. VO até de 6/6h se dor. A persistência dos sintomas deve ser avaliada pelo clínico/neurologista. * Acne: A acne induzida por corticóides é de dificílimo manejo. Somente a exclusão da terapia consegue fazer remitir as erupções. A abordagem dermatológica deve ser agressiva para o controle das lesões * Alteração de comportamento: Deve ser avaliada pelo psiquiatra. * Alterações hidroeletrolíticas e edema: A dieta hipossódica é indicada para TODOS os usuários de corticóide. A hipopotassemia deve ser prevenida com alimentos ricos em potássio e/ou associação de Slow K 1 comp. VO 2-3x/d, avaliando perdas gastrointestinais (diarréia, vômito ou sondas). O uso de diuréticos tiazídicos associados com poupadores de potássio (Moduretic?) pode ser considerada. A hipopotassemia resistente a essas medidas deve ser referenciada ao clínico/nefrologista e considerada a hipótese de nefrite intersticial perdedora de potássio. O edema deve ser avaliado pelo clínico do ponto de vista cardiológico, nefrológico e quanto a hipoproteinemia. * Catarata: A indicação do melhor momento para a facoemulsificação cabe ao oftalmologista * Dermatoses agravadas por corticoterapia: Psoríase e Dermatite atópica pioram no momento da retirada do corticóide. Cabe a intensificação do tratamento tópico e a consideração da introdução de terapia sistêmica (PUVA, Acitretin, Ciclosporina A, Zafirlukaste, Talidomida). As dermatoses infecciosas devem ser tratadas com os agentes indicados em doses plenas e, geralmente, por um período mais prolongado. 82 * Diabetes Mellitus: O controle glicêmico na vigência de corticoterapia é muito difícil. A intensificação da atividade física, da dieta hipocalórica (carboidratos), e o uso de hipoglicemiantes pode não ser suficientes. A insulina deve ser considerada precocemente pelo clínico/endocrinologista nos casos em que as medidas acima não forem efetivas. * Dislipidemia: Apesar da dieta e atividades físicas pode persistir a hiperlipidemia, o uso de hipolipemiantes deve ser indicado pelo clínico/endocrinologista. * Doença de refluxo: Não há evidências que o corticóide cause refluxo, entretanto o fracionamento das refeições, a postura ereta após 2h das refeições, e o uso de medicamentos prócinéticos pode auxiliar, como Prepulsid 10mg VO 2-3x/d. * Dor epigástrica: Indica avaliação gastroenterológica. Pode-se iniciar terapêutica antiulcerosa até definição do quadro com Losec 40mg/d VO pela manhã. * Estrias: A prevenção das estrias com dieta hipocalórica rigorosa e hipossódica é a maneira mais eficiente de lidar com esse risco. A quimioesfoliação com Ácido Retinóico 0,05% ou ATA 30% têm resultados melhores quanto mais precocemente instituídos. O uso de laser de CO2 tem apresentado bons resultados. * Glaucoma de ângulo aberto: A terapêutica tópica ocular ou cirúrgica devem ser indicadas pelo oftalmologista. * Gravidez: É extremamente desaconselhável engravidar sob uso de corticoterapia. A gestante deve ser referendada ao obstetra para que seja abordada no pré-natal como gravidez de alto risco. * Hipertensão Arterial sistêmica: A dieta hipossódica e atividades física deve ser orientada a TODOS os usuários de corticoterapia sistêmica , e intensificadas nos pacientes hipertensos. A medida periódica da pressão arterial pode avisar precocemente da oscilação dos níveis pressóricos e a terapia adequada deve ser indicada pelo clínico/cardiologista. * Micoses superficiais: São indicadas as medidas de higienização e manutenção das áreas afetadas secas e ventiladas. Uso incondicional de terapia sistêmica associada a tópica por tempo prolongado. Alta recidiva. Zoltec 150mg VO 1x/semana por 4 semanas associado a Icaden creme 1-2x/d nas lesões até a cura clínica. 83 * Miopatia: A constatação de miopatia induzida por corticóides é uma situação crítica que obriga a redução da dose, e deve ser abordada criteriosamente junto com o clínico no sentido de estabelecer o diagnóstico correto e também na redução da dose e introdução (se necessário) de drogas poupadoras de corticóide. * Candidíase oral: Bochechos de água bicarbonatada, seguido por solução de nistatina (Micostatin gotas). A persistência da infecção ou extensão pela orofaringe e esôfago indica terapia sistêmica com Zoltec? 100-200mg/d VO até a resolução completa do quadro. * Obesidade: A dieta hipocalórica, hipossódica e os exercícios físicos são indicados para TODOS os pacientes. O uso de anorexígenos ou regimes especiais deve ser indicado pelo clínico/endocrinologista. * Onicomicose: É decepcionante a resposta terapêutica da onicomicose sob uso de corticoterapia sistêmica, necessita períodos mais longos de tratamento, além da alta taxa de recidivas. Sempre fazer o exame micológico com cultura. O esquema proposto para onicomicose por dermatófitos é: Lamsil 250mg VO DU por 34meses, associado ao creme de Lamisil em oclusão noturna e a limpeza periódica mecânica da região distrófica da unha. * Osteoporose /fratura: A profilaxia com Terapia de Reposição Hormonal, Vitamina D, Cálcio, Sol e atividade física, bem como afastamento do fumo e álcool é indicada para TODOS os pacientes. Pacientes com densitometria óssea situados abaixo do primeiro desvio padrão da normalidade devem iniciar terapia para osteoporose com bifosfonados, indicada pelo ortopedista/reumatologista/clínico. As fraturas devem ser prevenidas pelos médicos com orientações do risco, e devem ser manejadas pelo ortopedista. * Processo infeccioso específico: Deve ser tratado precoce e agressivamente, esforços para o isolamento etiológico (cultura/sorologia) da infecção, com a orientação do clínico/infectologista o uso de antibioticoterapia empírica e internação, se indicada. Afastar tuberculose, infecções oportunísticas e micoses profundas. * Zoster: Deve ser abordado como paciente imunossuprimido, ou seja, internação hospitalar, isolamento de contato, Aciclovir 10mg/kg/dose EV em 3x/dia (Clearance de creatinina >50ml/min.) ou 2x/d (Clearance >20 e <50ml/min.) por 10 dias ou até quando estiverem surgindo novas vesículas. 84 * Cuidados tópico contra infecção bacteriana: limpeza com água boricada 3% fria 3x/d, seguida de curativo com Bactroban creme nas lesões abertas. A analgesia pode ser iniciada com Tylex 7,5 a 30mg 4x/d VO. A persistência da dor ou falha * na terapêutica Atenção deve para ser referenciada pneumonia Afastamento rigoroso do contato com gestantes. ao terapeuta por antálgico. VZV.