Prof. Marcos Sorgine – [email protected] Substâncias orexigênicas: estimulam o apetite. Diminuem após alimentação. Substâncias anorexigênicas: inibem o apetite. Aumentam após alimentação. Neuropeptídeos orexigênicos e anorexigênicos Do ponto de vista da regulação da fome/saciedade, o hipotálamo é provido de duas populações de neurônios: os orexígenos, que secretam basicamente o neuropeptídeo Y e o AgRP (agouti related protein); e os anorexígenos, que secretam o CART (transcrito regulado por cocaína e anfetamina) e o -MSH (hormônio estimulador de melanocortina), derivado do POMC (pró-ópio-melanocortina). Uma série de sinais em resposta à ingestão ou à privação de alimentos é capaz de se ligar a receptores nessas duas populações de neurônios, de forma a regular a ingestão de alimentos. O peptídeo relacionado a Agouti (AgRP) é um neuropeptídeo produzido no cérebro pelo neurônio AgRP/NPY. Ele só é sintetizado na presença de NPY na parte ventromedial do núcleo arqueado do hipotálamo. AgRP e NPY aumentam a fome (são orexigênicos) e diminuem o gasto energético. O neuropeptídeo Agouti é um dos mais potentes estimuladores de apetite. AgRP é antagonista de receptores de melanocortina (MCR-3 e MCR-4). Esses receptores, MCR-3 e MCR-4, estão diretamente ligados ao metabolismo e controle de peso corporal. Esses receptores são ativados por α-MSH (hormônio estimulador de melanocortina), um produto do metabolismo de POMC. Peptídeos CART parecem ter uma importante função na regulação da homeostase energética e interagem com vários circuitos centrais do apetite. A expressão de CART é regulada por diversos peptídeos hormonais periféricos envolvidos na regulação do apetite, incluindo leptina, CCK e ghrelina. Leptina: anorexigênico. Produzida pelos adipócitos. A existência desse fator circulante, que aumenta com os estoques de energia e age no cérebro para inibir a ingestão de alimentos, foi descoberta após a identificação de mutações genéticas em um gene que foi denominado gene obese (ob). Baseado nesses estudos foi sugerido que a mutação ob estava relacionada à diminuição da produção de um fator circulante que inibia o apetite. Assim, o fator circulante, produto do gene ob, foi chamado leptina (do grego leptos que significa magro), porque este mostrou ser capaz de diminuir o peso corporal e a massa de tecido adiposo quando injetado em camundongos que não o produziam. No experimento mais notável envolvido na caracterização do papel da leptina, observou-se que, quando se ligavam os sistemas circulatórios de dois animais (um camundongo obeso portador do gene mutante [camundongo ob/ob] e um outro normal), o animal obeso perdia peso. A leptina, presente no sangue de um camundongo normal, fez com que animal obeso que não produzia leptina emagrecesse. A descoberta da leptina tem ajudado a esclarecer o papel dos adipócitos como sistema endócrino e de que modo ocorre a sinalização para a ingestão ou não de alimentos, bem como, a regulação do metabolismo energético. A propriedade inibidora do apetite deve-se ao mecanismo de sinalização desta no hipotálamo, estimulando a síntese de neuropeptídeos anorexigênicos como POMC (Proopiomelanocortina) e CART (Transcrito Regulado por Cocaína e Anfetamina) geram uma sensação de saciedade, diminuindo a ingestão de alimentos. Os neuropeptídeos anorexigênicos, por sua vez, inibem a síntese de neuropeptídeo Y (NPY) e de AgRP (neuropeptídeo Agouti), que estimulam a ingestão de alimentos. Entretanto, contraditoriamente, obesos expressam mais leptina. Em altas concentrações séricas, a leptina não consegue atuar devido à resistência que se estabelece contra este hormônio que acaba limitando seu efeito anoréxico. A administração deste hormônio não é alternativa viável de tratamento, justamente em função da resistência que é resultante de altas concentrações séricas. GHrelina: orexigênico. Sintetizado pela região fúndica do estômago. A administração de GHrelina em ratos leva ao aumento da ingesta alimentar, com consequente aumento de peso. No período pós prandial os níveis séricos de GHrelina ficam diminuídos. O núcleo arqueado do hipotálamo é o maior sítio regulador da ingestão alimentar e do peso corporal, contendo neurônios orexígenos e anorexígenos. Os neurônios orexígenos liberam o NPY e o AGRP. A GHrelina estimula a liberação destes peptídeos que são potentes estimuladores do apetite. A GHrelina é um poderoso estimulador da liberação do hormônio de crescimento (GH). No entanto, em sujeitos obesos os níveis de GHrelina são baixos e sua concentração pós-prandial não se modifica em reposta à ingestão alimentar ou jejum. As razões pelas quais os indivíduos obesos não apresentam mudança nos níveis plasmáticos de ghrelina após a ingestão alimentar ainda não são claras. Pode-se especular que este fato possa ser uma conseqüência do nível elevado de leptina. Uso de antagonistas de GHrelina? Ligadores de GHrelina? Vacina anti-GHrelina? É ativada na forma acetilada, portanto inibidores da acil-transferase gástrica podem ser um caminho? Colecistocinina (CCK): anorexigênico Produzida pelas células I no duodeno em resposta a presença do quimo (aminoácidos e gorduras, principalmente) no início do intestino. Controla contração da vesícula biliar, secreção de enzimas pancreáticas e saciedade. CCK age sobre seus receptores no nervo vagal (CCK-A) sinalizando assim ao hipotálamo. Animais que não expressam esse receptor mesmo tratados com altas doses de CCK não diminuem a ingestão alimentar. Uso de agonista do CCK-A? Testes interrompidos na fase II por não apresentar perda de peso significativa. Peptídeo YY (PYY): anorexigênico Sintetizado nas células L do intestino em resposta a alimentação. Responde principalmente a proteínas da dieta. Age sobre receptores do nervo vago sinalizando para a redução da ingestão de alimentos ao hipotálamo. Camundongos que não expressam PYY comem mais e engordam. A suplementação desses camundongos com PYY reverte o quadro. De modo interessante, a suplementação de camundongos normais (que expressam PYY) resultou em diminuição da ingestão de alimentos. Infelizmente, a suplementação de PYY por via nasal em humanos não resultou em perda de peso satisfatória, sendo o teste interrompido em fase II. O uso de agonistas dos receptores hipotalâmicos de PYY em fase I e II mostraram grande redução de peso. A co-administração de PYY levou a redução significativa da ingestão de calorias. O melhor conhecimento da complexa rede de hormônios e neurotransmissores que atuam na regulação da ingestão alimentar quem sabe propiciará melhores alternativas no tratamento da obesidade humana.