MOTIVAÇAO José Armando Soares INTRODUÇAO A nossa luta inglória contra a balança na busca de perda de massa corporal nos levou à pesquisa sobre a problemática de redução de peso e a leitura de textos específicos sobre o assunto. Daí a razão por que optamos por esse tema e decidimos aborda-lo na produção deste “paper”, atividade relevante para a conclusão do “Curso de Neurociência”. Ademais, como recomendado, contemplaremos essencialmente algum aspecto histórico das descobertas da Neurociência sem, todavia, aprofundarmos em tópicos pertinentes ao capítulo “Motivação”, mesmo porque não nos é dado, ainda, conhecimento maior sobre a matéria. Hipotálamo, Homeostase e Comportamento Motivado O conceito de homeostase já nos é de algum tempo familiar. (Bertalanffy, 1968). Como tal e aqui, “homeostase” refere-se ao processo que mantém o ambiente interno do organismo dentro de estreitos limites fisiológicos e ocorre em muitos níveis do sistema nervoso. O Hipotálamo tem um papel chave na regulação da temperatura corporal, do balanço de fluidos e do balanço energético. A regulação hipotalâmica da homeostase começa com a transdução sensorial. Assim, um parâmetro é medido por neurônios sensoriais especializados, e desvios dos limites ótimos são detectados por neurônios concentrados na região periventricular do hipotálamo. Estes neurônios articulam uma resposta integrada para trazer o parâmetro de volta ao seu valor ótimo. Dá-se a retroalimentação do sistema até alcançar o equilíbrio, o nível ótimo. Tais procedimentos, geralmente, têm três componentes: 1. Resposta humoral: os neurônios respondem a sinais sensoriais estimulando ou inibindo a liberação de hormônios hipofisários na corrente sanguínea. 2. Resposta víscero-motora: os neurônios respondem a sinais sensoriais ajustando o balanço de atividades simpática e parasimpática do sistema neurovegetativo. 3. Resposta somático-motora: os neurônios hipotalâmicos, particularmente no hipotálamo lateral, respondem a sinais sensoriais estimulando uma resposta somático-motora apropriada. Regulação do Comportamento Alimentar Nosso principal alimento, o oxigênio, normalmente é fornecido de forma constante pelo meio ambiente, tal não ocorre com a disponibilidade de comida, não há garantia de fornecimento. Desta forma, complexos mecanismos regulatórios internos evoluíram para armazenar energia no corpo de forma que ela esteja disponível quando necessária. Assim, somos compelidos a comer para a manutenção destas reservas em um nível suficiente para assegurar que não haverá falta de abastecimento energético. Portanto, o sistema está em um balanço adequado quando as reservas são repostas na mesma taxa média em que são gastas. Se a ingestão e o armazenamento de energia excede a utilização, a quantidade de gordura corporal, ou adiposidade, aumenta, resultando eventualmente em obesidade. Para o sistema permanecer balanceado, devem haver meios de regular o comportamento alimentar baseados no tamanho das reservas energéticas e em sua velocidade de reposição. Observamos, nas últimas décadas, progressos surpreendentes na compreensão das várias formas pelas quais esta regulação ocorre e, em boa hora, uma vez que transtornos alimentares e obesidade já são problemas de saúde bastante freqüentes. Regulação Hormonal e Hipotalâmica da Gordura Corporal e da Ingestão de Alimento Somente agora as partes do quebra-cabeça da regulação homeostática do comportamento alimentar estão se encaixando em seus lugares. A idéia de que o sistema nervoso monitore a quantidade de gordura corporal e atue no sentido de defender estas reservas energéticas contra perturbações foi primeiramente proposta em 1953 pelo cientista britânico Gordon Kennedy e é chamada de hipótese lipostática. O acoplamento entre gordura e comportamento alimentar sugere que deve haver uma comunicação entre o tecido adiposo e o cérebro. Suspeitou-se, então, de que deveria haver um sinal hormonal proveniente do sangue, e essa resposta foi confirmada nos anos 60 por Douglas Coleman e colaboradores. Foi somente em 1994 que um grupo de cientistas liderados por Jeffrey Friedman, na Universidade de Rockefeller, finalmente isolou a proteína, que chamaram leptina ( palavra grega para “delgado”). Constatou-se, experimentalmente, em camundongos obesos que o uso de leptina reverteu completamente a obesidade e o transtorno alimentar. O hormônio leptina, liberado por adipócitos – células armazenadoras de gordura - regula a massa corporal atuando diretamente em neurônios do hipotálamo. Segundo o Dr. Friedman : “Meu laboratório identificou a leptina, um hormônio produzido pelo tecido adiposo. A leptina atua no cérebro, de forma a modular a ingestão de alimento, e funciona como um sinal aferente em um sistema de retroalimentação que regula o peso corporal. O caminho que trilhei para este hormônio foi cheio de eventos casuais que não era de forma alguma predizíveis quando inicei minha carreira. “ Na verdade, o Dr. Friedman teve várias mudanças na rota de suas pesquisas científicas até a descoberta deste hormônio que comprovadamente promove a redução do peso corporal pelo efeito na ingestão de alimento e no gasto energético, o que significa que os animais tratados com injeções diárias de leptina comem menos e queimam mais calorias. Posteriormente, esse pesquisador passou a indagar: como uma única molécula – leptina – influencia tão profundamente o comportamento alimentar? Talvez, ainda fosse cedo para entender como uma simples molécula pode influenciar um comportamento complexo. Finalmente, acreditamos que os próximos anos deverão ser uma época excitante de descobertas. Avanços nas pesquisas terão uma influência significativa em como interpretamos nosso próprio comportamento e o comportamento daqueles ao nosso redor. Bibliografia 1-LENT, Roberto- Cem bilhões de Neurônios – Rio de Janeiro : Editora Atheneu, 2001 2-KOLB, Bryan & WHISHAW, Ian Q. – Neurociência do Comportamento – São Paulo: Editora Manole Ltda. 2002. 3-BEAR, Mark; CONNORS, Barry W. & PARADISO, Michel A. Neurociências – Desvendando o Sistema Nervoso – 2a. edição – Porto Alegre: Artmed Editora S.A 2002. 4-KANDEL, Eric R. ; SCHWARTZ, James H.; JESSEL , Thomas M. – Fundamentos da Neurociência e do Comportamento – Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan AS – 2000. 5-BERTALANFFY, Ludwig von – Teoria Geral dos Sistemas –Petrópolis : Editora Vozes Ltda. – 1973.