Uma análise de artigos sobre surdez - Curso de Pedagogia

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS
LICENCIATURA EM PEDAGOGIA
UMA ANÁLISE DE ARTIGOS SOBRE SURDEZ ( DEFICIÊNCIA AUDITIVA) EM
PERIÓDICOS NACIONAIS INDEXADOS NO PERÍODO DE 2002 A 2006.
Regiane da Silva Barbosa
SÃO CARLOS
2007
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS
LICENCIATURA EM PEDAGOGIA
UMA ANÁLISE DE ARTIGOS SOBRE SURDEZ ( DEFICIÊNCIA AUDITIVA) EM
PERIÓDICOS NACIONAIS INDEXADOS NO PERÍODO DE 2002 A 2006.
Trabalho de Conclusão de Curso de Licenciatura
em Pedagogia apresentado como parte das exigências
da Disciplina Trabalho de Conclusão de Curso II do
Curso de Pedagogia da Universidade Federal de São
Carlos – UFSCar sob orientação da Profª. Drª. Maria da
Piedade Resende da Costa.
Regiane da Silva Barbosa
SÃO CARLOS
2007
PARECERISTAS
Profª. Drª. Maria da Piedade Resende da Costa
Orientadora
Profª. Drª. Fátima Elisabeth Denari
Examinador 1
Profª. Drª. Elenice Maria Cammarosano Onofre
Examinador 2
Agradecimentos
Agradeço a minha mãe pelo constante incentivo, apoio e compreensão, não apenas na execução
deste trabalho, mas durante toda a graduação.
Agradeço a todos os professores do curso de Pedagogia da UFSCar por contribuírem com a
formação de minhas concepções educativas e consequentemente com minha formação profissional.
Agradeço a Profª. Piedade pelo crédito em mim depositado ao aceitar me orientar na execução
desse trabalho, e por sua orientação sempre sincera e descontraída.
Resumo
O presente trabalho faz uma análise dos artigos sobre surdez indexados no período de 2002 a 2006
em periódicos nacionais. Foram encontrados 186 artigos, os quais foram categorizados de acordo
com as temáticas desenvolvidas, resultando em 49 categorias. Essa pesquisa demonstra que o tema
surdez é bastante desenvolvido no Brasil, embora haja uma concentração da pesquisa na região
sudeste do país, e um predomínio de temas relacionados à área da Saúde, contrastando com o baixo
número de pesquisas ligadas a área da Educação. A partir da análise dos artigos encontrados tem-se
um panorama das tendências de pesquisa sobre surdez.
Palavras chave: Educação especial, surdez, deficiência auditiva.
Abstract
The present work intends to analyze articles about deafness indexed from 2002 to 2006 in national
publications. It was found 186 articles, which was arranged according to developed themes
resulting in 49 classes. This research shows that the deafness issue is very developed in Brazil,
although there is a researches concentration in southeastern region of the country, and the
predominant issues linked to Health area, contrasting with the low number of researches linked to
Education area. From articles analysis arranged found it’s possible to have an overview of
researches about deafness.
Keywords: Special education, deafness, hearing’s disability.
Sumário
1- Introdução .........................................................................................................7
2- Concepções educacionais .................................................................................8
3- Surdez .............................................................................................................10
4- Procedimento para a pesquisa ........................................................................16
5-Resultados .......................................................................................................19
5.1 Categorização dos artigos publicados entre 2002 e 2006 .................23
5.2 Regiões responsáveis pela pesquisa ..................................................28
6- Considerações finais .......................................................................................30
7- Referências .....................................................................................................32
Glossário..............................................................................................................34
Apêndice..............................................................................................................38
1- Introdução
Este é o resultado do meu trabalho de conclusão de curso (TCC) de minha graduação em
Pedagogia. É um trabalho que, a partir de minha concepção de educação – constituída durante toda
a vida e aprofundada nesses quatro anos de graduação – e do crédito no atual processo de inclusão
vigente na sociedade brasileira, analisa a pesquisa nacional sobre surdez.
Baseada na concepção de que a educação é um processo de socialização de direito de todos
os cidadãos, independentemente de sua origem, cultura, religião e condição socioeconômica, esta
pesquisa foi realizada considerando-se o atual processo de inclusão vigente em nossa sociedade, e a
partir dele focou-se o tema surdez, uma vez que os deficientes auditivos estão sendo inseridos no
ensino regular das escolas brasileiras, e entender como está sendo esse processo, assim como a
situação das pesquisas sobre o tema surdez é de fundamental relevância à educação.
Primeiramente, foi realizada uma concisa revisão sobre a história dos surdos, discutindo
brevemente as causas da surdez, a importância do seu diagnóstico precoce, as formas de
comunicação dos surdos, além dos meios de intervenção junto a eles; em seguida, relatou-se o
resultado de uma análise sobre a pesquisa de artigos publicados em periódicos nacionais e
indexados na área da surdez.
A análise sobre as tendências da pesquisa dentro de estudos publicados sobre a surdez foi
realizada a partir de periódicos nacionais indexados no período de 2002 a 2006 nos bancos de dados
Scielo e Lilacs. A análise resultou em um panorama sobre a situação da pesquisa sobre o tema no
país, pois a partir desse trabalho é possível, além de conhecer os principais enfoques da pesquisa
nacional sobre surdez, conhecer onde tais pesquisas têm sido realizadas, e quais são os periódicos
que mais publicam artigos sobre o tema.
O resultado dessa análise contribui com pesquisadores da área e com interessados no tema
surdez, pois analisa a tendência sobre a pesquisa, mostrando os temas mais pesquisados e os temas
que apresentam defasagem ou que não foram estudados, possibilitando um panorama sobre as
tendências da pesquisa nacional sobre surdez.
2- Concepções educacionais
Entendendo a educação como um processo de socialização que tem por objetivo conforme
Sacristán e Pérez Gómes (2000, p. 13), a “ preparação das novas gerações para sua participação no
mundo do trabalho e na vida pública(...)” , o que “ (...) requer a intervenção de instâncias específicas como
a escola, cuja peculiar função é atender e canalizar o processo de socialização.”
E considerando a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, nº 9394/96, com
destaque ao:
“Art. 1º. A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida
familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos
movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.
§ 1º. Esta Lei disciplina a educação escolar, que se desenvolve, predominantemente,
por meio do ensino, em instituições próprias.
§ 2º. A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à pratica
social.”(BRASIl, 2006. p. 13)
Depreende-se que a educação é um direito dos cidadãos para sua própria formação, e
principalmente, conforme salienta Carvalho (2005, p. 25) que:
“ a educação é ato pedagógico e também político, concordo com a afirmativa de
que o traço mais marcante, nas correntes teóricas atuais, no âmbito da educação, é a
valorização da pessoa do educando enquanto aprendiz e como ser histórico, político e
social, isto é, como cidadão.”
Na defesa do direito à educação e na valorização da pessoa do educando, acredito na
inclusão, ou seja, em uma educação que atenda às diferenças individuais e respeite as necessidades
de qualquer aluno, no entanto concordo com Carvalho (2005) quando afirma que:
“(...) pensar na inclusão dos alunos com deficiência(s) nas classes regulares sem
oferecer-lhes a ajuda e apoio de educadores que acumularam conhecimentos e experiências,
podendo dar suporte ao trabalho dos professores e aos familiares, parece-me o mesmo que
fazê-los constar, seja como número de matricula, seja como mais uma carteira na sala de
aula.” (p.29)
Uma educação que supere toda e qualquer discriminação, seja ela de origem étnica, social,
econômica, de gênero, classe social ou deficiência física/cognitiva, como consta no Conselho
Nacional de Educação que aprovou as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação
Básica ( BRASIL, 2001, p.32). Este documento explicita que:
“ ... todos os alunos, independente de
classe, raça, gênero, sexo, características individuais ou necessidades educacionais especiais, possam
aprender juntos em uma escola de qualidade.”
No entanto, historicamente as sociedades costumam fazer distinção entre aqueles que
consideram normal, aptos a se desenvolverem e aqueles que não o são por serem ou apresentarem
características diferentes, os chamados deficientes, mas conforme Carvalho(2005, p.59)
“Se entendermos a deficiência como um problema, a diferença dos deficientes, até poderá
ser “autorizada”, desde que protegida em ambientes abrigados (...) e em espaços a eles
circunscritos, exclusivos e excludentes. Mas, se vivermos a alteridade dos deficientes como
um desafio (...) a deficiência poderá ser socialmente “autorizada.”
Ainda para a referida autora:
“ Negar a deficiência ( sensorial, mental, física, motora, múltipla ou decorrente de
transtornos invasivos do desenvolvimento) de inúmeras pessoas é tão perverso quanto lhes
negar a possibilidade de acesso, ingresso e permanência bem sucedida no processo
educacional escolar, recebendo a educação escolar que melhor lhes permita a remoção de
barreiras para sua aprendizagem e participação.” (CARVALHO, 2005, p.59)
É inconcebível que a atual sociedade continue a praticar e a aceitar a exclusão.
Para Carvalho, (2005.p.48):
“ são excluídos, portanto, todos aqueles que são rejeitados e levados para fora de nossos
espaços, do mercado de trabalho, dos nossos valores, vítimas de representação
estigmatizante.”
Com o atual processo de inclusão as escolas – responsáveis diretas pela educação – precisam
garantir o processo de ensino e aprendizagem a todos, sem legitimar a exclusão como há muito
tempo vem acontecendo em nossa sociedade.
Considerando o processo de inclusão de nossas escolas o presente trabalho focaliza a surdez.
Os surdos, que por muito tempo foram incompreendidos e rejeitados, estão sendo inseridos no
ensino regular, e é com intuito de conhecer as tendências dos estudos na área da surdez e
compreender melhor a realidade da pesquisa sobre esse tema que este trabalho procura, a partir da
análise de artigos nacionais publicados nos últimos cinco anos, responder às questões:
•
Como está a pesquisa sobre surdez no Brasil?
•
Há pesquisas sobre a aprendizagem do surdo?
•
Há pesquisas sobre a avaliação da linguagem do surdo?
•
Quais os maiores enfoques da pesquisa sobre surdos realizadas no Brasil?
•
Qual a região do Brasil onde a pesquisa sobre surdez está mais avançada?
•
Qual a tendência da pesquisa sobre o surdo no Brasil?
Entretanto, para obter esse panorama sobre as pesquisas sobre surdez é preciso, antes,
conhecer melhor sobre o tema, entender em que consiste a surdez, suas características, as formas de
comunicação desenvolvidas, para então iniciar a analise dos artigos publicados no período de 2002
a 2006.
3- Surdez
A ausência da audição, um dos principais sentidos humanos, segundo Costa (2003) impede
que os indivíduos conheçam os sons, e consequentemente tenham problemas de comunicação
através da linguagem oral. O Documento Política Nacional de Educação Especial - MEC /
Secretaria de Educação Especial caracteriza a surdez como “perda total ou parcial, congênita ou
adquirida, da capacidade de compreender a fala através do ouvido.” (BRASIL, 1994)
Há diversas causas para a surdez, podendo ocorrer desde a vida uterina até a idade adulta.
Elas são agrupadas de acordo com a época em que ocorreu e assim são divididas em:

pré-natal - acometem o sistema auditivo do bebê durante a gestação;

peri-natal - lesam o sistema auditivo no momento do nascimento ou até o oitavo dia de vida;

pós-natal - enfermidades que acometem o sistema auditivo depois do oitavo dia.
Para que um indivíduo ouça, é preciso que os sons do meio ambiente alcancem o córtex
cerebral, para isso os sons devem passar pelo ouvido externo, médio, interno, nervo auditivo para
enfim chegar ao córtex cerebral, como representado na figura 1:
Figura 1 – Representação da Orelha
Fonte: http://portal.mec.gov.br/seesp/
No entanto, o ouvido pode apresentar alterações, e de acordo com tais alterações tem se
diferentes tipos de perda auditiva, as quais podem ser:
•
Perda Auditiva Condutiva – quando a alteração se localiza na orelha externa ou média,
ocasionando uma alteração sonora quantitativa.
•
Perda auditiva Neurossensorial – quando há uma lesão do Órgão de Corti ou neural,
provocando dificuldade na discriminação auditiva, isto é, uma alteração quantitativa e
qualitativa.
•
Perda auditiva Central – quando o problema está entre o tronco cerebral até regiões
subcorticais, provocando uma alteração quantitativa e qualitativa.
•
Perda auditiva Mista – quando o problema envolve alterações com componentes
condutivos e neurossensoriais simultaneamente.
A perda auditiva é medida em decibéis[1] (dB) e em Hertz[2], e de acordo com o grau, a
perda pode ser classificada como consta no Quadro 1:
Quadro 1 – Classificação dos graus de perda auditiva
Grau de deficiência
Perda auditiva
Leve
De 25 a 40 dB
Moderada
De 45 a 70 dB
Severa
De 75 a 85 dB
Profunda
Superior a 85 dB
Fonte: http://portal.mec.gov.br/seesp/
Dependendo do tipo de deficiência auditiva (condutiva ou neurossensorial) e do grau de
perda (leve, moderada, severa ou profunda), cada pessoa poderá ter diferentes possibilidades de
escutar os sons.
A surdez leve/moderada não impede que a pessoa se expresse oralmente e perceba a voz
humana, enquanto a surdez severo/profunda impede que o indivíduo entenda a voz humana e
adquirira linguagem oral.
A perda de audição provoca defeitos na articulação das palavras. Essa perda somada ao
momento do acontecimento é determinante no ajustamento ou mau ajustamento da criança no
mundo que ouve. A surdez pode ocorrer em dois momentos: na fase pré-lingual ou na fase póslingual. Na primeira fase a surdez surge nos primeiros meses de vida do indivíduo, antes do
desenvolvimento da fala, enquanto na segunda a surdez ocorre numa idade posterior ao
desenvolvimento da fala.
Há cerca de 400 anos não havia muita clareza sobre a surdez e os surdos, assim, como
muitos outros deficientes – mentais, cegos e físicos – eram marginalizados, excluídos socialmente.
Somente no século XVI surgem os primeiros educadores na Europa, os quais desenvolveram
diferentes métodos de ensino, fazendo uso: da língua auditiva oral nativa (oralismo), língua de
sinais (gestualismo), representação manual do alfabeto (dactilologia) e outros códigos.
Em 1857 o educador francês Hernest Huet fundou no Rio de Janeiro o Instituto Nacional de
Surdos, atual Instituto Nacional de Educação dos Surdos (INES) que inicialmente adotava o
gestualismo na educação, funcionando como um asilo que atendia surdos do sexo masculino.
Somente em 1931 foi criado um externato feminino.
O INES é um centro nacional de referência na área da surdez, subordinado ao Ministério da
Educação, e tem por missão institucional “a produção, o desenvolvimento, e a divulgação de
conhecimentos científicos e tecnológicos na área da surdez em território nacional” (INES, 2007). É
também o órgão que subsidia a Política Nacional de Educação para promover e assegurar o
desenvolvimento global da pessoa surda.
Devido ao impacto da surdez na aquisição e desenvolvimento da linguagem oral, diversos
estudiosos defendem a importância da detecção precoce da surdez, afirmando que quanto antes ela
for diagnosticada, melhor a participação desses indivíduos nos serviços de intervenção que atendam
as suas necessidades.
Para atender a tais necessidades foram desenvolvidas orientações educacionais para a
comunicação dos surdos: o gestualismo e o oralismo.
•
Gestualismo
A linguagem gestual é a forma de se expressar/comunicar através de gestos e mímicas. Essa
comunicação pode ser feita representando-se o alfabeto pelos dedos, fazendo a soletração das
palavras – dactilologia, ou através de sinais que representam conceitos essenciais a comunicação do
homem, a língua de sinais.
A língua de sinais tem uma denominação particular, no Brasil temos a LIBRAS - Língua
Brasileira de Sinais.
•
Oralismo
Na orientação comunicativa oralista são desenvolvidas técnicas para que o surdo se
comunique através da fala, por acreditar que assim o surdo se integrará melhor à sociedade. As
principais técnicas são:
- leitura labial ou da fala – habilidade de identificar a palavra falada através de decodificação
dos movimentos orais de quem fala.
- mecânica da fala – depende da leitura dos lábios e do treinamento auditivo.
- treinamento auditivo – estimulação auditiva objetivando a exploração dos resíduos
auditivos.
Para que o oralismo obtenha êxito é preciso que seja feito um diagnóstico precoce da surdez
com uma indicação do grau e da perda auditiva através de triagem audiométrica, que deve ser
realizada por especialistas. Outra condição é o uso de aparelho de amplificação sonora individual
(AASI).
O debate sobre qual a melhor orientação comunicativa para surdos é antigo, então, fica a
critério de cada instituição de ensino, professor ou familiares a escolha da orientação. E por não
haver consenso, algumas instituições de ensino usam as duas orientações comunicativas, o oralismo
e o gestualismo, a chamada comunicação mista.
Dentre as orientações comunicativas, há o bilingüismo e a Comunicação Total, bastante
utilizada atualmente.
•
Bilingüismo
O bilingüismo propõe que o surdo desenvolva habilidades para se comunicar utilizando a
Língua de sinais e as técnicas do oralismo.
A língua de sinais deve ser ensinada precocemente ao indivíduo surdo, e quanto ao contato
com a língua dos ouvintes há contradições, podendo ser ensinada simultaneamente com a língua de
sinais ( bilingüismo simultâneo) ou após o ensino da língua de sinais ( bilingüismo sucessivo).
•
Comunicação Total
É uma orientação comunicativa que utiliza a linguagem de sinais, alfabeto digital,
amplificação sonora, mecânica da fala, treinamento auditivo, leitura e escrita, ou seja, permite que o
indivíduo surdo tenha acesso ao maior número de códigos possíveis, para melhor entender e se
expressar.
Além da orientação comunicativa, há outro aspecto importante a ser considerado na surdez:
a possibilidade do uso de dispositivos que possibilitam ao indivíduo o acesso aos sons, como o
aparelho de amplificação sonora (AASI) e o implante coclear (IC).
O AASI é um aparelho de surdez que capta e amplia sons através de um microfone,
transmitindo-os para a membrana timpânica do individuo. Conforme Fortunato (2003,p.15) “ A
função do AASI é tornar a audição residual do surdo em audição funcional”
E o IC é uma prótese auditiva que contém um microfone que capta o som e o envia a um
processador, o qual seleciona e codifica a fala em sinais elétricos, os quais são reenviados para uma
antena interna que estimula os eletrodos introduzidos na cóclea transmitindo sons ao cérebro, que
tem assim uma “sensação auditiva”.
4- Procedimento para a pesquisa
Este trabalho consistiu em uma pesquisa bibliográfica, a qual segundo Gil (1994) é
desenvolvida a partir de um material anteriormente elaborado, constituído de livros e artigos
científicos.
O trabalho realizado consiste numa análise de artigos sobre surdez indexados no período de
2002 a 2006 em periódicos nacionais.
De acordo com Gil (1994) o trabalho bibliográfico pode seguir tarefas importantes, as quais
ele denomina:
a) exploração das fontes bibliográficas;
b) leitura do material;
c) elaboração das fichas;
d) ordenação e análise das fichas;
e) conclusão.
Tais tarefas funcionam como um guia ao desenvolvimento de uma pesquisa bibliográfica, e
não como regras a serem estritamente seguidas. No entanto, esta pesquisa realizou-se pautada
nessas tarefas.
Antes do levantamento dos artigos era preciso conhecer melhor sobre a surdez, caso
contrário seria impossível categorizá-los. Com o intuito de aprender sobre a surdez foi necessário
conhecer a história dos surdos, como eram vistos e tratados antigamente, a educação e tratamento
que recebiam, e isso foi possível fazendo-se uma pesquisa no site do INES – Instituto Nacional de
Educação dos Surdos. No referido site, além da história dos surdos há a divulgação de
conhecimentos científicos e tecnológicos na área da surdez, além das leis que asseguram o
desenvolvimento global da pessoa surda.
Mas conhecer a história dos surdos também não é suficiente para entender a surdez e as
pesquisas realizadas nessa área, então foi preciso ler mais sobre o assunto para entender as
principais causas da mesma, os diferentes tipos de perda auditiva, as conseqüências da perda de
audição, as formas de comunicação entre os surdos – oralismo e gestualismo -, e os dispositivos que
captam e ampliam sons contribuindo com a audição, como o AASI e o Implante Coclear.
Depois desse estudo sobre a surdez, feito através da leitura de artigos e teses realizados na
área, é que se iniciou a pesquisa descrita nesse trabalho.
Primeiramente foi feito o levantamento dos artigos sobre surdez na Base de Consulta da
Biblioteca Comunitária da Universidade Federal de São Carlos, especificamente nos Bancos de
Dados Scielo e Lilacs[3], recomendados pela bibliotecária da referida Biblioteca, por serem
confiáveis e conterem uma vasta amostra do que é pesquisado no país.
O Levantamento dos artigos – tarefa a - foi feito acessando a página dos Bancos de dados,
um por vez, e fazendo-se a busca por palavras chaves. As palavras chaves utilizadas na busca dos
artigos foram: surdez, deficiência auditiva e surdos. Digitada a palavra chave, ambos os bancos de
dados mostraram todos os artigos indexados sobre o tema no país em que escolhido, no caso o
Brasil, mas como esta pesquisa se restringe ao período de 2002 a 2006 foi preciso refinar a busca.
Então, após acessar a relação dos artigos indexados em cada banco de dados, era feita uma nova
busca, por ano de publicação do artigo. Os artigos encontrados foram salvos e tiveram seus resumos
impressos e separados de acordo com o ano de publicação.
Após terminar esse levantamento iniciou-se a tarefa b, a leitura e caracterização dos artigos,
concomitantemente com a tarefa c, elaboração de fichas, ou seja, os resumos dos artigos foram
lidos e de acordo com o tema neles desenvolvidos categorizados. Essa categorização por tema foi
registrada em fichas[4] contendo: título do artigo, nome dos autores ou autoras, periódico em que o
artigo foi publicado, número e volume de publicação, data de publicação, origem de indexação
(Scielo ou Lilacs) e cidade de publicação do artigo.
Algumas vezes, a leitura do resumo do artigo encontrado não era suficiente para categorizálo, por não haver no resumo informações precisas ou suficientes para a compreensão do tema
trabalhado. Então era necessário voltar ao banco de dados em que o artigo está postado e procurar o
texto completo do artigo; e, a partir da leitura do texto completo, este era categorizado.
Alguns artigos constam nos dois bancos de dados, então for preciso estar sempre atento às
fichas de categorização para não categorizar duas vezes o mesmo artigo. Outros artigos apresentam
títulos bastante semelhantes, o que exigia consulta constante às fichas dos artigos já categorizados,
para conferir se se tratava do mesmo artigo ou de um artigo diferente com titulo semelhante e às
vezes igual a outro. Esse processo de categorização é trabalhoso, mas bastante enriquecedor, pois
propicia o conhecimento e compreensão de diferentes concepções e questionamentos sobre a
surdez.
Após terminar a leitura e a execução das fichas, com os temas/ categorias de cada artigo,
iniciou-se a análise das fichas, tarefa d. A análise das fichas permitiu conhecer o número de artigos
publicados desenvolvendo temas semelhantes, os periódicos que mais publicam sobre o tema, além
das regiões do país onde a pesquisa está mais presente. Dados que estão relatados no
desenvolvimento deste trabalho, tarefa e, que é um panorama da pesquisa sobre surdez nos últimos
cinco anos.
5-Resultados
Este trabalho apresenta algumas limitações que precisam ser comentadas, pois por ser um
trabalho bibliográfico, ou seja, realizado a partir de artigos disponíveis nos bancos de dados já
mencionados, é possível que os artigos encontrados sejam apenas uma parte dos estudos realizados
sobre o tema nos últimos cinco anos. Porém, é justamente por terem sido publicados em periódicos
indexados em bancos de dados reconhecidos e de fácil acesso, que se acredita na qualidade e
relevância desses artigos, ao contrário dos artigos que possam ter ficado fora dessa análise.
Um outro aspecto a ser considerado é o conhecimento prévio de que os profissionais
vinculados a universidades ou centro de pesquisas publicam mais artigos que os profissionais
dedicados à prática, fato que pode influenciar nas considerações sobre a relação das pesquisas
encontradas com algumas áreas do conhecimento ou alguns profissionais específicos.
No entanto, considerando tais limitações, o trabalho foi realizado e a busca de artigos
indexados nos bancos de dados Scielo e Lilacs no período de 2002 a 2006 resultou em um total de
186 artigos. O número de artigos encontrados em cada banco de dados ou em ambos os bancos de
dados por ano, assim como o total de artigos encontrados em cada ano da pesquisa encontram-se no
Quadro 2, e a porcentagem de artigos indexados em cada banco de dados estão representadas no
Gráfico 1.
Quadro 2 – Número de artigos encontrados de 2002 a 2006
Ano
Lilacs
Scielo
Lilacs e Scielo
Total de artigos
indexados
2002
38
2
5
45
2003
14
3
16
33
2004
27
1
8
36
2005
20
4
6
30
2006
16
11
15
42
Gráfico 1 – Porcentagem de publicações indexadas nos bancos de dados pesquisados no
período da pesquisa
Como demonstra o quadro 2, a maioria dos artigos sobre surdez, encontra-se indexados no
Banco de Dados Lilacs, embora haja uma quantidade considerável de artigos indexados no Scielo. A
quantidade total de artigos indexados no período da pesquisa demonstra que não há discrepância no
número de artigos publicados por ano, informação da qual pode se inferir que a surdez é um tema
de muito interesse, e sobre o qual muita pesquisa tem sido realizada. No entanto, a análise do
Quadro 2 e do Gráfico 1 demonstram que a maior parte dos artigos publicados no período estão
indexados no banco de dados Lilacs, e ainda que grande parte dos artigos indexados em Scielo
constam também no banco de dados Lilacs. Informação da qual se pode depreender que para a
pesquisa sobre o tema surdez o banco de dados Lilacs apresenta maior eficiência, uma vez que ele
apresenta artigos indexados somente nele, e também a maioria dos artigos indexados em Scielo.
Os periódicos responsáveis pela divulgação das pesquisas sobre o tema nos últimos cinco
anos e o número de artigos publicados entre 2002 e 2005 estão representados na tabela 1.
Tabela 1 – Número de artigos em cada Revista
________________________________________________________________________________
Revista
Nº de artigos publicados no período da pesquisa
Revista Brasileira de Otorrinolaringologia
39 artigos
Pró-fono revista de atualização científica
23 artigos
Revista Fono atual
19 artigos
Revista Distúrbios da Comunicação
17 artigos
Cadernos CEDES
7 artigos
Revista CEFAC
4 artigos
Revista Brasileira de Educação Especial
4 artigos
Acta. AWHO
4 artigos
Jornal Pediátrico (RJ)
4 artigos
Arquivos Brasileiros de Oftalmologia
4 artigos
Temas desenvolvidos
3 artigos
Arquivos de Otorrinolaringologia
3 artigos
Salusvita
3 artigos
Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia
3 artigos
Medicina ( Rib. Preto)
3 artigos
Pediatria (SP)
2 artigos
Revista Brasileira de Crescimento e desenvolvimento humano
2 artigos
Mundo Saúde
2 artigos
Paidéia
2 artigos
Psicologia: teoria e pesquisa
2 artigos
Caderno de Saúde Pública (RJ)
2 artigos
Estudos de Psicologia (Natal)
2 artigos
Educação e Sociedade
2 artigos
DST Jornal Brasileiro de Doenças Sexualmente transmissíveis
1 artigo
Acta Médica
1 artigo
Aletheia
1 artigo
Genetics and molecular biology (Rib. Preto)
1 artigo
Revista latino americana de Enfermagem
1 artigo
Educação e pesquisa
1 artigo
RGO (Porto Alegre)
1 artigo
Revista Brasileira de Educação
1 artigo
Psicologia: Reflexão e Crítica
1 artigo
Revista de Enfermagem (RJ)
1 artigo
Estilos da Clínica
1 artigo
Acta Oncologica Brasileira
1 artigo
Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo
1 artigo
Revista Baiana de saúde Pública
1 artigo
Anais da Academia Nacional de Medicina
1 artigo
Revista da Faculdade de Ciência Médicas
1 artigo
Arquivos de Ciências e Saúde – UNIPAR
1 artigo
Revista SPAGESP
1 artigo
Ciência, cuidado e saúde
1 artigo
Acta paulista de Enfermagem
1 artigo
Escola Anna Nery. Revista de Enfermagem
1 artigo
Anais da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Pernambuco
1 artigo
Scientia Médica
1 artigo
RBM – Revista Baiana Médica
1 artigo
Arquivos de Neuropsiquiatria
1 artigo
Revista Médica (RS)
1 artigo
Nursing (SP)
1 artigo
Arquivos Médicos do ABC
1 artigo
Arquivos de Ciência e Saúde
1 artigo
Acta Health sciences (PR)
1 artigo
________________________________________________________________________________
Total de artigos
186 artigos
________________________________________________________________________________
A leitura dos títulos dos periódicos em que os artigos foram publicados mostra que a
pesquisa sobre surdez parece ser um tema de bastante interesse da área de saúde, pois estes
apresentam o maior número de publicações. E mesmo com a inclusão, atualmente presente no
cotidiano das escolas brasileiras, o tema surdez parece não ter sido foco das pesquisas na Educação,
pois os periódicos dessa área apresentam número de artigos publicados muito inferior ao número de
publicações dos periódicos da área da saúde. As pesquisas vêm sendo desenvolvidas por médicos,
fonoaudiólogos, e enfermeiros, os quais focam suas pesquisas no diagnóstico da surdez e nos
possíveis tratamentos ou formas de intervenção.
A Revista Brasileira de Otorrinolaringologia é o periódico com o maior número de
publicações na área da surdez, o que demonstra a preocupação com a comunicação dos surdos, que
conta com o auxílio de otorrinolaringologistas para a leitura de lábios – oralismo – contudo essa
deveria ser uma preocupação ou interesse, também dos profissionais da educação que trabalham
com surdos, mas as revistas de educação, já em número bastante inferior em relação às revistas da
área da saúde apresentam bem menos artigos publicados, o que demonstra uma lacuna nas
pesquisas de educação.
Há um interesse bastante considerável pelo tema por parte de médicos, daí o considerável
número de periódicos da área médica. As publicações da área médica estão mais voltadas ao
diagnóstico da surdez e às possíveis intervenções a serem realizadas, como se pode constatar nas
categorias encontradas.
5.1 Categorização dos artigos publicados entre 2002 e 2006
No Quadro 3 constam as principais temáticas encontradas após levantamento e
categorização dos artigos publicados entre 2002 e 2006. São 49 categorias, as quais, em sua
maioria, contemplam temas e pesquisas voltados a área da saúde, como é o caso da categoria Perda
auditiva que tem 24 artigos publicados no período analisado. Enquanto outros temas ligados a
educação, como: Educação de Surdos, Escrita, Leitura e Políticas Públicas foram pouco
desenvolvidos.
Quadro 3 – Número de artigos por temas
Categorias
Nº de Artigos
Perda auditiva
24 artigos
Deficiência auditiva
13 artigos
Avaliação auditiva
10 artigos
Comunicação
10 artigos
AASI
9 artigos
Síndrome
9 artigos
Surdez súbita
9 artigos
Escrita
8 artigos
LIBRAS
8 artigos
Próteses auditivas
7 artigos
Implante coclear
6 artigos
Relação entre o surdo e sua família
6 artigos
Inclusão
5 artigos
Aquisição da linguagem
4 artigos
Triagem auditiva
4 artigos
Causas genéticas da surdez
3 artigos
Educação de surdos
3 artigos
Intervenção fonoaudiológica
3 artigos
Leitura
3 artigos
Otoxicidade
3 artigos
Sexualidade
3 artigos
Surdez decorrente de infecções congênitas
3 artigos
A AIDS para o surdo
2 artigos
Atuação de profissionais da saúde com deficientes auditivas
2 artigos
Avaliação psicológica
2 artigos
Reação dos pais diante do diagnóstico de surdez
2 artigos
Reconhecimento da fala
2 artigos
Surdez por diabetes
2 artigos
Audisee[5]
1 artigo
Avaliação por condução óssea
1 artigo
Cirurgia revisional
1 artigo
Classes especiais para surdos
1 artigo
Contação de histórias para crianças surdas
1 artigo
Displasia fibrosa como causa da surdez
1 artigo
Educação odontológica para surdos
1 artigo
Envelhecimento auditivo
1 artigo
Escolha reprodutiva em caso de diagnóstico de surdez
1 artigo
Formação profissional
1 artigo
Identidade surda
1 artigo
Imagem que as professoras têm do aluno surdo
1 artigo
Otosclerose
1 artigo
Políticas públicas
1 artigo
Reabilitação auditiva
1 artigo
Relação entre mães ouvintes e filhos surdos
1 artigo
Relação entre pais surdos e filhos ouvintes
1 artigo
Relação entre surdez e gagueira
1 artigo
Saúde auditiva
1 artigo
Surdez por hipoestrogenismo progressivo
1 artigo
Toque no tratamento de deficientes auditivos
1 artigo
Essas 49 categorias surgiram a partir do agrupamento de artigos de acordo com o tema
desenvolvido em cada um, como explicado em Procedimentos. No entanto, para uma melhor
compreensão faz se necessário uma breve explicação sobre cada categoria, como consta no
glossário deste trabalho.
As categorias desenvolvidas de acordo com os temas estudados nesses últimos cinco anos
estão dispostas no gráfico 2, que representa a porcentagem de artigos publicados e categorizados de
acordo com a temática trabalhada.
Gráfico 2 - Porcentagem do número de artigos publicados por categorias
A análise do Gráfico 2 evidencia a diferença do número de publicações por categorias. A
partir dele é possível compreender melhor a representatividade da quantidade de artigos com temas
mais trabalhados, como é o caso da categoria Perda auditiva com 24 artigos.
Além das pesquisas sobre Perda auditiva, há outros temas com um número de publicações
considerável, como Deficiência auditiva – 13 artigos, Avaliação auditiva - 10 artigos, Comunicação
– 10 artigos, AASI – 9 artigos, Síndrome – 9 artigos e Surdez Súbita – 9 artigos, todos temas
desenvolvidos por profissionais da área da saúde e publicados em periódicos da referida área.
No período analisado, como consta no quadro 3, há apenas 3 artigos que desenvolvem o
tema Educação de Surdos; 8 artigos sobre a Escrita dos surdos; 3 artigos sobre a leitura dos surdos;
1 artigo sobre a Imagem que as professoras têm do aluno surdo, e apenas 1 artigo sobre Políticas
públicas, ou seja, apenas 16 artigos que trabalham temáticas ligadas à área da educação,
representando apenas 8, 6% da pesquisa nos últimos cinco anos.
O fato da maioria das pesquisas publicadas nos últimos cinco anos terem sido desenvolvidas
pela área da saúde, como se pode constatar nos dados do quadro 2, confirma que atualmente há uma
preocupação em entender e diagnosticar a surdez precocemente, para desenvolver formas de
intervenção que colaborem com a qualidade de vida do surdo. Já o baixo número de artigos ligados
à área da educação é uma constatação intrigante, uma vez que com o processo de inclusão vigente,
temática que apresenta apenas 5 artigos publicados no período, pois seria de se esperar que mais
pesquisas tivessem sido realizadas, assim como pesquisas sobre as Políticas Públicas que garantem
o acesso dos surdos ao ensino regular. Considerando estes dados é plausível dizer que há uma
defasagem da pesquisa na área da educação desenvolvendo o tema surdez.
Dentre as pesquisas realizadas, há temas importantes não trabalhados, como a aprendizagem
do surdo, tema de fundamental importância dentro da Educação dos surdos, uma vez que entender
como ocorre o processo de ensino-aprendizagem utilizando recursos como o audisee, a língua de
sinais ou mesmo outro meio de comunicação é essencial ao desenvolvimento do trabalho dos
profissionais atuantes nessa área. Assim como pesquisas sobre o trabalho realizado por professores
(as), suas expectativas, preparação e desafios encontrados na atuação docente, são essenciais.
A avaliação da linguagem do surdo também é um tema ausente nas pesquisas do período
analisado, pois embora haja 4 artigos que discorrem sobre a Aquisição da linguagem – não há
trabalhos que avaliem o processo de aquisição da linguagem, como se esperava observar na
pesquisa.
Além das lacunas existentes na pesquisa sobre a surdez, foi possível conhecer quais as
regiões do Brasil que mais pesquisam sobre o assunto, ou seja, onde há o maior número de
pesquisas contribuindo com a temática.
5.2 Regiões responsáveis pela pesquisa
A análise das fichas de categorização contendo o nome das cidades de origem dos periódicos
em que os artigos estão publicados resultou nos dados representados no gráfico 3:
Gráfico 3 - Artigos publicados por região do país
Conforme se observa no gráfico 3, há uma concentração de artigos publicados na região
sudeste do país – responsável por 91,5% dos artigos publicados no período analisado. A região Sul
do país apresenta 5,5% dos artigos publicados, a região Nordeste apresenta 2% dos artigos
publicados e a região Centro oeste apresenta 1% dos artigos publicados. Ou seja, juntas as regiões
Sul, Nordeste e Centro oeste respondem por apenas 8,5 % de toda a pesquisa sobre surdez realizada
no Brasil no período de 2002 a 2006.
É importante ressaltar que a região Norte do Brasil não consta no gráfico porque no período
analisado não foram encontrados artigos publicados sobre o tema surdez.
Quanto à concentração de artigos publicados sobre o tema na região Sudeste do país, é
possível justificá-la devido ao fato de esta ser também a região mais desenvolvida sócio
economicamente, pois, geralmente, a realização de pesquisas está vinculada ao incentivo financeiro
e a instituições de ensino superior, e devido a esse destaque sócio econômico do sudeste em relação
às outras regiões, ela é a região com maior número de instituições de ensino superior, inclusive
onde se concentram as mais reconhecidas instituições do país, logo a que recebe mais facilmente o
incentivo financeiro requerido para a realização de pesquisas.
É na região sudeste do país que se concentram grandes universidades públicas reconhecidas
por terem cursos que desenvolvem o tema deficiência auditiva, como é o caso de graduação em
Pedagogia com ênfase em Deficiência auditiva oferecido pela Unesp (campus de Marília), do curso
de especialização oferecido pela Unicamp - Campinas, além da UFSCar – São Carlos, que oferece
mestrado e doutorado desenvolvendo a temática.
6- Considerações Finais
Considerando a história dos surdos até hoje, é possível perceber que os avanços nas
pesquisas sobre a surdez propiciaram melhora na qualidade de vida dos surdos, pois estas
possibilitaram a compreensão do que é surdez, e contribuíram com o desenvolvimento de formas de
comunicação, as quais são praticadas atualmente, como o gestualismo e o oralismo.
A análise dos artigos sobre surdez (deficiência auditiva) indexados em periódicos nacionais
entre 2002 e 2006 consiste em uma pesquisa bibliográfica, e o procedimento adotado para sua
realização mostrou-se pertinente, pois embora esta pesquisa tenha sido trabalhosa e cansativa por
exigir muita atenção, leitura e estudos sobre a temática, ela possibilitou que se chegasse aos
objetivos pretendidos: conhecer as tendências da pesquisa no Brasil, os temas mais desenvolvidos,
os temas não trabalhados, as pesquisas ligadas à área da educação, e as regiões do país que estudam
o tema e divulgam os resultados obtidos.
A busca dos artigos indexados nos últimos cinco anos, além de revelar os temas mais
pesquisados nesse período, demonstrou que não há grande diferença na quantidade de artigos
publicados por ano, ao menos não nos artigos disponíveis nos bancos de dados consultados.
A partir da realização desse trabalho foi possível perceber que os artigos sobre surdez estão,
em sua maioria, publicados no banco de dados Lilacs, enquanto grande parte dos artigos indexados
em Scielo consta também no banco de dados Lilacs, ou seja, aos interessados em procurar artigos
sobre surdez é mais interessante que realizem suas buscas em Lilacs, uma vez que a maior parte
deles consta na relação de artigos indexados nesse banco de dados.
Além do conhecimento do banco de dados em que consta o maior número de artigos sobre
surdez, a pesquisa propiciou conhecer os periódicos que mais publicam artigos sobre o tema, os
quais são periódicos da área da Saúde, como é o caso da Revista Brasileira de Otorrinolaringologia,
a qual publicou a maioria dos artigos encontrados, o que de certa maneira justifica que a maioria
dos artigos esteja ligada a área da saúde enquanto os temas ligados à educação são minoria.
Enquanto os temas ligados à educação são minoria. É impossível dizer com precisão o
motivo dessa constatação, mas talvez isso aconteça porque a inclusão ainda é um processo recente
na educação brasileira, e/ou porque os profissionais ligados a área da Educação atuantes nesse
processo – os professores- por estarem se dedicando à prática ou a cursos de aperfeiçoamento para
lidarem com essa nova realidade não tenham tempo para realizar pesquisas e publicarem artigos.
Porém, o reduzido número de artigos ligados à educação justifica o também reduzido número de
revistas ligadas à educação que publicaram artigos sobre o tema.
Esse trabalho, além de revelar os principais temas pesquisados, propiciou o conhecimento da
origem dessas pesquisas, pois se constata que a pesquisa sobre surdez concentra-se na região
sudeste do Brasil, coincidentemente a região mais desenvolvida do país, o que talvez justifique tal
situação.
Esse panorama sobre a pesquisa nacional sobre surdez nos últimos cinco anos revela que a
surdez é um tema de bastante interesse, pois todo ano há um considerável número de publicações
sobre o tema, ou seja, a pesquisa sobre surdez no Brasil está avançando. Embora tenha sido possível
detectar falhas/ defasagens na pesquisa sobre surdez, como é o caso do tema aprendizagem do
surdo, que como se constatou não foi trabalhado nos últimos cinco anos, assim como não foi
trabalhada a avaliação da linguagem do surdo.
Foi possível perceber que o foco da pesquisa sobre surdez está no diagnóstico das causas e
conseqüências da surdez, e nas formas de intervenção junto aos surdos, temáticas ligadas a Saúde
como já explicitado durante o trabalho. e a partir desses dados depreende se que outras áreas
precisam investir mais em pesquisas sobre o tema, contribuindo assim com o desenvolvimento da
pesquisa sobre a temática no Brasil.
A realização desse trabalho propiciou um maior conhecimento e compreensão sobre o tema
surdez, e a análise da pesquisa sobre o tema realizado no Brasil, além de contribuir com o
aprofundamento sobre a temática permitiu constatar que a educação não tem pesquisado e
publicado sobre a temática, fato que precisa ser revisto, pois com a inserção de alunos surdos no
ensino regular essa é uma realidade que precisa ser estudada para que o objetivo da educação se
concretize.
7- Referências
AGOSTINO, Elaine Ap. Machado. “A construção da sintaxe pelo aluno surdo: um procedimento
de ensino.” 2003. Dissertação (mestrado) - Programa de Pós-graduação em educação especial,
Universidade Federal de São Carlos.
BATISTA, Adriana Souza. “Aprendizagem da leitura e da escrita de crianças surdas em diferentes
contextos comunicativos.”2003. Dissertação (mestrado) – Programa de Pós-graduação em educação
especial, Universidade Federal de São Carlos.
BRASIL, Lei de diretrizes e bases da educação nacional: Lei nº 9.394. Brasília: secretaria Geral,
2006.
_______, Ministério da Educação. Política Nacional de educação especial. Brasília: secretaria
Geral, 1994.
CARVALHO, Rosita Edler. Educação inclusiva: com os pingos nos “is”. Porto Alegre. Editora
Mediação. 3ª ed. 2005.
COSTA, Maria da Piedade Resende da. 2003. Compreendendo o aluno portador de surdez e suas
habilidades comunicativas. In: Reflexões sobre a diferença: uma introdução à educação especial.
Coleção Magister, 2ª ed.
FORTUNATO, Carla Ap. de Urzedo. “RDLS: uma opção para analisar a linguagem de crianças
surdas usuárias de implante coclear.”2003.Dissertação (mestrado) – Programa de Pós-graduação
em educação especial, Universidade Federal de São Carlos.
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. Editora Atlas. São Paulo. 4ª edicção.
1995.
PÉREZ GÓMEZ, A. L. As funções sociais da escola: a reprodução à reconstrução crítica do
conhecimento e da experiência. In: SACRISTAN, J.G.e GOMEZ, A. L. P. Compreender e
transformar o ensino. São Paulo: Artmed, 1998, p. 13 – 28.
PETRECHEN, Daniela Rodrigues Donadon. Desenvolvimento da Escrita em crianças surdas.
Dissertação (mestrado) - Programa de Pós-graduação em Educação Especial da Universidade
Federal de São Carlos.2001.
Sites:
•
www.mec.gov.br acesso em: 24/04/2007
•
www.ines.org.br acesso em: 24/04/2007
•
http://portal.mec.gov.br/seesp/ acessado em 24/04/2007
Glossário
AASI - Abreviação de Aparelho de Amplificação Sonora Individual é uma categoria que
contém nove artigos que discorrem sobre a adaptação dos surdos no uso do aparelho, assim como os
benefícios e dificuldades encontradas por seus usuários.
A AIDS para o surdo - É uma categoria com dois artigos, um discute a visão que jovens
surdos têm em relação à doença, enquanto o outro traça um perfil audiológico de um grupo de
crianças que têm AIDS.
Aquisição da linguagem - É uma categoria que apresenta quatro artigos que discutem as
funções da linguagem em crianças surdas e estudam o processo de aquisição dessa linguagem.
Atuação de profissionais da saúde com deficientes auditivos - É uma categoria com dois
artigos que discutem a conduta de profissionais da saúde no atendimento a deficientes auditivos.
Audisee - É uma categoria com apenas um artigo que debate o uso do audisee.
Avaliação auditiva - É uma categoria com 10 artigos que trabalham as diferentes formas de
se fazer uma avaliação auditiva, utilizando recursos, como sistema sonar ou testes de audição.
Avaliação por condução óssea - É uma categoria que embora seja uma forma de avaliação
auditiva, discute especificamente a avaliação realizada por condução óssea, um diferencial em
relação os outros artigos.
Avaliação psicológica - É uma categoria que apresenta dois artigos relatando estudos
relacionando avaliações do raciocínio de pessoas surdas.
Causas genéticas da surdez - É uma categoria com 3 artigos que analisam a surdez
decorrente de alterações genéticas, ou hereditárias.
Cirurgia revisional - É uma categoria que apresenta um artigo relatando casos de pessoas
surdas que se submeteram a cirurgia objetivando ganho auditivo.
Classes especiais para surdos - É uma categoria com um artigo que relata o perfil de uma
classe especial que tem entre seus componentes alunos surdos.
Comunicação - É uma categoria com dez artigos que tratam sobre as estratégias de
comunicação adotadas pelos surdos, assim como a compreensão que eles têm na interação com
ouvintes.
Contação de histórias para crianças surdas - É uma categoria com apenas um artigo, o qual
analisa a reação das crianças surdas quando lhes contam histórias de livros infantis.
Deficiência auditiva - É uma categoria que apresenta treze artigos que embora com
abordagens diferentes, discutem a deficiência auditiva, seja analisando as alterações auditivas que o
indivíduo pode ter no decorrer de sua vida, ou a importância do diagnóstico precoce da surdez ou
perda auditiva.
Displasia fibrosa como causa da surdez - É uma categoria com um artigo que relata um caso
de uma pessoa surda por apresentar displasia fibrosa do osso temporal.
Educação de surdos - É uma categoria com três artigos que discutem os recursos utilizados
na educação de surdos, como imagens visuais e o plurilinguismo no processo de ensino
aprendizagem.
Educação odontológica para surdos - É uma categoria com um artigo que discute a
importância de uma educação odontológica aos surdos.
Envelhecimento auditivo - É uma categoria com um artigo que discute o envelhecimento do
sistema auditivo e sua conseqüência à audição.
Escolha reprodutiva em caso de diagnóstico de surdez - É uma categoria com um artigo que
debate a autonomia reprodutiva que permite a escolha reprodutiva em caso de diagnostico de
surdez.
Escrita - É uma categoria com oito artigos que apresentam análise sobre a escrita de pessoas
surdas.
Formação profissional - É uma categoria com apenas um artigo que discute a importância do
surdo ter uma profissão.
Identidade surda - É uma categoria com um artigo que sob a concepção de que existe uma
identidade surda discute a cultura dos surdos e suas lutas sociais.
Imagem que as professoras têm do aluno surdo - É uma categoria com um artigo relatando
as perspectivas das professoras de crianças surdas inseridas no ensino regular.
Implante coclear - É uma categoria com seis artigos que discutem sobre os resultados do
implante coclear.
Inclusão - É uma categoria com cinco artigos resultantes de pesquisas sobre a inserção do
aluno surdo no ensino regular e em outras esferas do cotidiano.
Intervenção fonoaudiológica - É uma categoria com três artigos discorrendo sobre o trabalho
dos fonoaudiólogos junto aos surdos.
Leitura - É uma categoria com três artigos que avaliam o processo de leitura realizado por
pessoas surdas.
LIBRAS - Abreviação de Língua brasileira de sinais é uma categoria com oito artigos que
discutem a aquisição dessa linguagem por parte dos surdos e de ouvintes que interagem com surdos.
Otosclerose - É uma categoria com um artigo discorrendo sobre o tratamento cirúrgico da
otosclerose que é uma doença do ouvido médio responsável pela surdez progressiva.
Otoxicidade - É uma categoria com três artigos relatando a surdez causada pela
recepção/absorção de elementos tóxicos, como a cisplatina.
Perda auditiva - É uma categoria com 24 artigos discorrendo sobre os tipos de perda auditiva
e sua etiologia.
Prótese auditiva - É uma categoria com sete artigos que discutem a adaptação, o uso e os
benefícios de próteses auditivas em geral.
Políticas Públicas - É uma categoria com um artigo que relata a política adotada na educação
dos surdos em Santa Catarina.
Reabilitação auditiva - É uma categoria com um artigo que discorre sobre a possibilidade de
reabilitar a audição de idosos.
Reação dos pais diante do diagnóstico de surdez - É uma categoria com dois artigos
relatando a reação dos pais quando realizado o diagnóstico de surdez de seus filhos.
Reconhecimento da fala - É uma categoria com dois artigos analisando a percepção que
pessoas surdas têm da fala dos ouvintes.
Relação entre mães ouvintes e filhos surdos - É uma categoria com um artigo que relata a
importância de uma boa interação entre as mães ouvintes com filhos surdos.
Relação entre pais surdos e filhos ouvintes - É uma categoria com um artigo relatando a
relação entre crianças ouvintes, filhas de pais com deficiência auditiva.
Relação entre surdez e gagueira - É uma categoria com um artigo analisando os risco
auditivo de pessoas gagas.
Relação entre o surdo e sua família - É uma categoria com seis artigos que analisam a
integração dos surdos com sua família e as experiências dessas famílias no convívio com os surdos.
Saúde auditiva - É uma categoria com um artigo discorrendo sobre os hábitos que garantem
a saúde auditiva de ouvintes, evitando assim a perda de audição.
Sexualidade - É uma categoria com três artigos discutindo a orientação sexual dada a jovens
surdos.
Síndrome - É uma categoria com nove artigos que analisam as diferentes síndromes que
podem causar a surdez.
Surdez decorrente de infecções congênitas - É uma categoria com três artigos analisando
casos de surdez causada por infecções congênitas, como a rubéola.
Surdez por diabetes - É uma categoria com dois artigos discutindo casos de surdez
decorrentes do diabetes mellitus.
Surdez por hipoestrogenismo progressivo - É uma categoria com um artigo discutindo os
distúrbios auditivos provocados por descontrole hormonal, no caso a baixa do hormônio feminino
estrogênio.
Surdez súbita - É uma categoria com nove artigos discutindo as causas e o tratamento da
surdez súbita.
Toque no tratamento de deficiência auditiva - É uma categoria com um artigo defendendo a
importância dos profissionais da saúde, principalmente enfermeiros, em tocar os pacientes com
deficiência auditiva.
Triagem auditiva - É uma categoria com quatro artigos discutindo a avaliação da sensação
de intensidade dos sons ambientais percebidos por deficientes auditivos sem próteses e por
neonatos.
Apêndice
Modelo das fichas de categorização
Categoria:
Título
Autor
Periódico
Nº/
vol.
Data
Indexação
Cidade
Notas
[1]
Decibel (dB) é a unidade de medida do som.
[2]
Hertz é a medida de freqüência do som.
SCIELO – biblioteca eletrônica que abrange uma coleção selecionada de periódicos científicos
brasileiros.
[3]
LILACS – base de banco de dados de literatura latino americana e do Caribe
[4]
O modelo das fichas de categorização está em apêndice.
[5] Audisee
– sistema de freqüência modulada audiovisual que transmite os códigos de fala,
auditivos e visuais contribuindo com a assimilação da informação.
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