Uma reação devastadora Médicos ressaltam que caso da modelo é exceção e tiram dúvidas sobre a sepse DIVULGAÇÃO/AE, BANCO DE DADOS, 25/01/2009 A Mariana Bridi 6 VIDA história da modelo capixaba Mariana Bridi, 20 anos, seria suficiente para chamar a atenção do mundo apenas pela brutalidade. Mariana teve os pés e as mãos amputados e acabou morrendo no último sábado. Mas, além disso, o susto que tomou conta da sociedade surgiu quando os médicos divulgaram a origem do problema: uma simples infecção urinária. Por causa dessa infecção, a bactéria Pseudomonas aeruginosa, que pode ser encontrada no organismo humano, começou a atacar a jovem. Quando a infecção urinária não é tratada em menos de 48 horas, a bactéria pode cair na corrente sanguínea e se espalhar pelo corpo. Reagindo, o sistema imunológico lança toxinas potentes que, de tão fortes, também agridem órgãos vitais, como o coração e o pulmão, podendo provocar a morte. Esse fenômeno é chamado de sepse. Para responder algumas das dúv idas mais comuns levantadas pelo episódio, o caderno Vida ouv iu o infectologista Gabriel Narvaez, dos hospitais São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e Mãe de Deus, e o nefrologista David Saitovitch, do Moinhos de Vento e do São Lucas. Ambos ressaltaram a importância de esclarecer que a tragédia envolvendo Mariana é uma exceção, um caso extremo, raro, e que não há motivos para pânico. Segundo eles, a Pseudomonas aeruginosa é comum em infecções hospitalares, principalmente em pacientes que utilizaram antibióticos previamente. Mesmo na comunidade em geral, ou seja, fora dos hospitais, ela pode estar presente no intestino ou na pele (zonas úmidas) de cerca de 10% das pessoas, sem originar qualquer manifestação de doença. De acordo com a Associação de Medicina Intensiva Brasileira, o agravamento da sepse, como no caso da modelo, ocorre apenas em 2% a 5% dos casos. Saiba mais A bactéria Pseudomonas aeruginosa é comum? Sim. Algumas pessoas hospedam essa bactéria em seu organismo, sendo comum também no ambiente hospitalar. Porém, na maioria dos casos, não chega a comprometer a saúde. Em que casos ela agride o organismo? A Pseudomonas é considerada oportunista, ou seja, precisa de alguma falha nas defesas do organismo para agir. Normalmente, está ligada à infecção hospitalar, principalmente em pacientes de terapia intensiva. Em casos raros, pode ser encontrada em outras pessoas (fora de ambientes hospitalares). Como a bactéria entra no corpo? No ambiente hospitalar, principalmente por meio das mãos não adequadamente higienizadas dos profissionais. Outros reservatórios potenciais são os equipamentos utilizados no atendimento (respirador artificial, endoscópios e antissépticos, por exemplo). Isso leva à colonização do doente pela bactéria, fenômeno que precede a infecção. O que pode provocar fora do ambiente hospitalar? Pode ocorrer a osteomielite, que é uma infecção nos ossos do pé de crianças, a partir de ferimentos perfurantes. Outro exemplo são as otites externas malignas, que podem destruir o pavilhão auricular em diabéticos. Em alguns casos, como o da modelo, a origem da infecção urinária pode ser a colonização da vagina por Pseudomonas e a consequente migração até a bexiga, pela uretra. Sozinha, a bactéria é capaz de matar? Alguns tipos de Pseudomonas produzem toxinas que comprometem a circulação sanguínea. Além disso, provocam um fenômeno chamado de sepse, que pode causar falência de órgãos. Por que a sepse é tão perigosa? A reação do sistema imunológico a certas bactérias, como a Pseudomonas, pode ser tão forte que produz substâncias químicas potentes, que agridem órgãos nobres, como o coração e o pulmão. Todas as pessoas podem ter sepse? A princípio sim, mas ninguém sabe ao certo os fatores que desencadeiam o fenômeno. É possível revertê-la? Sim, com antibióticos, que devem ser administrados precocemente, além de técnicas de manutenção de funções orgânicas vitais (com aparelhos respiradores e de hemodiálise, por exemplo). O problema é que, quando a sepse começa, a saúde do paciente já está, em geral, bastante comprometida. Se for revertida, haverá sequelas? Em muitos casos, sim. Entre as mais comuns, estão dificuldades de locomoção pelo comprometimento do sistema neurológico. Mas ela pode, também, ser revertida sem deixar sequelas. Existem diferentes tipos de sepse? O fenômeno pode ser subdividido dentro de um espectro de gravidade. Primeiro, vem a sepse incipiente, seguida da sepse grave. Se não houver reversão, pode evoluir para o choque séptico e culminar na falência de múltiplos órgãos. Fontes: Gabriel Narvaez, infectologista, e David Saitovitch, nefrologista Artrite também ataca crianças Fique atento ao seu filho. Se re– No subtipo sistêmico, a febre clamar de dores, vermelhidão e ca- é uma característica marcante, e lor nas articulações, ele pode estar deve-se tomar muito cuidado. A com uma enfermidade que costu- doença pode evoluir a ponto de a ma ser conhecida por afligir adul- criança ir para a UTI – alerta Matos: a artrite reumatoide. Apesar de ria Mercedes Picarelli, coordenadoser bem conhecida da população, ra do ambulatório de reumatologia os especialistas preferem usar agora pediátrica do Hospital São Lucas outras denominações, como artrite da Pontifícia Universidade Católica idiopática da infância ou doença do Rio Grande do Sul (PUCRS). reumatoide juvenil (quando houver Ninguém sabe ao certo como uma caracterização bem definida). a inflamação começa. A mediciSeja qual for a nomenclatura adota- na trabalha com várias hipóteses, da, pode ser muidesde fatores genéto agressiva entre Tratamento com ticos, infecção por crianças, mesmo e até estresse fisioterapia, vírus que muito novas. emocional. Seja qual – Há crianças terapia ocupacional for a origem, o que se que, com quatro é que a inflamae medicamentos sabe anos, já começam ção muitas vezes não costuma trazer se restringe às artia manifestar os sintomas – diz o bons resultados culações, mas chega reumatologista também a outros loquando iniciado cais do corpo, como Fernando Appel, consultor em doprecocemente os olhos. Nesse caso, enças reumáticas a criança pode reclae médico do Commar de dor ocular, diplexo Hospitalar Santa Casa de Por- ficuldades na visão e vermelhidão to Alegre. no olho. Quando atinge o pulmão, Segundo ele, porém, a manifes- é comum que a respiração fique tação na infância não significa que curta ou ofegante. o problema irá persistir até a vida Para tratar as várias manifesadulta. O tratamento costuma tra- tações, os médicos adotam uma zer bons resultados quando inicia- combinação de fisioterapia, terapia do o mais precocemente possível. ocupacional e medicamentos. CosOs casos mais frequentes são tumam ser adotados anti-inflamado subtipo oligoarticular, ou seja, tórios ou até mesmo imunossuquando a criança tem até quatro pressores, que têm como função articulações inflamadas. Há outros inibir o sistema imunológico. Codois subtipos: o poliarticular, com mo a reumatoide é uma doença muitas articulações atingidas, que autoimune, esses remédios tentam é o que mais se assemelha à artrite reduzir agressão feita pelo próprio reumatoide do adulto, e o sistêmico. organismo da pessoa. COMO A DOENÇA SE MANIFESTA Fique atento se o seu filho apresentar os seguintes sintomas: > Dores articulares ou dores nas costas persistentes > Inchaço, vermelhidão ou calor nas articulações > Dor persistente nos membros superiores ou inferiores > Febre por mais de três semanas Fontes: reumatologistas Fernando Appel e Maria Mercedes Picarelli Você faz o Vida Reumatismo foi o tema escolhido pelos leitores do Blog do Vida na semana de 9 a 16 de janeiro, com 50,43% dos votos. Zumbido no ouvido e furúnculo receberam, respectivamente, 40,17% e 9,4%. Para participar da próxima enquete, acesse o endereço www.zerohora.com/blogdovida e escolha entre MIOPIA, PSORÍASE e QUEIMADURAS. ZERO HORA, SÁBADO, 31 DE JANEIRO DE 2009