Visualização do documento Aula Avançada - A Lei de Gauss.doc (108 KB) Baixar A LEI DE GAUSS FLUXO DO CAMPO ELÉTRICO Vamos iniciar por uma idéia simples e intuitiva. Quem ouve rádio no verão em Porto Alegre está a todo momento sendo informado que passam tantos carros por minuto no posto da Polícia Federal da auto-estrada. Quanto maior o número de carros por minuto, maior o fluxo. Pronto, já introduzimos o conceito de fluxo. Da mesma forma, o proprietário de uma loja mede a sua clientela pela quantidade de gente que passa pela porta de entrada, em determinado intervalo de tempo. Qualquer que seja o caso, veremos facilmente que o fluxo depende da quantidade daquilo que flui e da área através da qual passa o "fluido". Portanto, quanto maior o número de clientes ou quanto maior a porta de entrada, maior será o fluxo de clientes para o interior da loja. Essa noção intuitiva está na origem daquilo que podemos denominar fluxo do campo elétrico (E). Numa primeira abordagem, podemos dizer que Fluxo de campo elétrico = intensidade de campo elétrico X área perpendicular ao campo. Logo veremos que essa definição é muito simplificada, e tem pouco valor operacional, porque em geral o valor de E varia ao longo da superfície, e nem sempre esta é perpendicular ao campo. Podemos melhorar a definição, dividindo a superfície em elementos tão pequenos quanto possível, de modo que E seja constante nessa área infinitesimal. A esta área associamos um vetor , cuja direção é perpendicular à área e cujo módulo é igual à área. Podemos manter a idéia intuitiva definindo fluxo infinitesimal. Assim, o fluxo através de determinada área S é dado pela integral de superfície. No caso de uma superfície fechada, o vetor área é convencionalmente dirigido de dentro para fora. O fluxo através de uma superfície fechada é assim representado A LEI DE GAUSS A arte no uso da lei de Gauss reside na boa escolha da superfície Gaussiana. Não esqueça, siga a simetria da distribuição de cargas! Demonstre o que está sendo dito ao lado, sobre a aproximação de plano infinito. Demonstre como um cilindro finito pode ser considerado infinito. Seja uma carga Q. Imagine uma superfície qualquer, fechada, envolvendo esta carga. A lei de Gauss estabelece que A lei de Gauss é válida para qualquer situação, com campo uniforme, ou não, e para qualquer tipo de superfície fechada, também denominada superfície Gaussiana. Todavia, para ser operacionalmente útil ela deve ser usada apenas em determinadas circunstâncias. Uma circunstância favorável ocorre quando a superfície Gaussiana é tal que o produto escalar entre o campo e o vetor superfície é facilmente obtido. Isso é sempre possível quando a distribuição de cargas apresenta alta simetria. Existem três tipos de simetrias que facilitam o uso da lei de Gauss Simetria planar; Simetria cilíndrica ou axial; Simetria esférica. A simetria planar aplica-se no caso de uma distribuição de cargas num plano infinito, ou no caso em que se possa fazer a aproximação de plano infinito. Por exemplo, um plano finito pode ser considerado infinito, se o campo elétrico for calculado num ponto muito próximo do plano. Isto é, se a distância do plano ao ponto for muito menor do que as dimensões do plano. A simetria cilíndrica, ou axial, aplica-se no caso de uma distribuição linear infinita. Existem dois casos clássicos: Linha infinita de cargas; Cargas distribuídas num cilindro infinito. De modo análogo ao caso anterior, um cilindro finito pode ser considerado infinito em determinadas circunstâncias. Existem dois casos típicos de simetria esférica: Carga puntiforme; Distribuição esférica de cargas. Veremos mais adiante como usar a lei de Gauss para calcular o campo devido a cada uma dessas distribuições. LEI DE GLAUSS & LEI DE COULOMB A lei de Gauss e a lei de Coulomb são formas diferentes de abordar o mesmo problema. Portanto, o cálculo do campo elétrico para determinada distribuição de carga fornece o mesmo resultado, quer seja realizado através de uma ou outra lei. Então, quando e por que usar uma ou outra lei? Como regra, o uso de uma ou outra lei é determinado pelas seguintes circunstâncias: Distribuição de cargas com alta simetria - Lei de Gauss Distribuição de cargas com baixa simetria - Lei de Coulomb CAMPO DE UMA CARGA PUNTIFORME Por argumentos de simetria, é fácil chegar à conclusão de que o campo de uma carga puntiforme deve ter simetria esférica. Isto é, o valor do campo é o mesmo para qualquer ponto sobre uma esfera. Mais do que isso, o campo deve ser normal a esta esfera. Portanto, a melhor Gaussiana para calcular o campo a uma distância r de uma carga puntiforme é uma esfera de raio r. Em qualquer ponto sobre a Gaussiana, o produto escalar será simplesmente EdS. Então, tendo em conta que E é constante, teremos A integral fechada sobre a superfície corresponde à área da esfera, 4pr 2. Portanto, o campo de uma carga puntiforme, q, a uma distância r, é dado por Como era de se esperar, a expressão (3.5) é igual à expressão (2.3), obtida com o uso da lei de Coulomb. DISTRIBUIÇÃO ESFERICAMENTE SIMÉTRICA Um condutor em equilíbrio eletrostático sempre apresentará campo nulo em seu interior Grosso modo, num material não-condutor a carga fica onde a colocamos. No caso de uma distribuição de cargas com simetria esférica, convém distinguir algumas situações. Em primeiro lugar, dependendo do material o tratamento será bem diferente. Material condutor - Já sabemos que quando certa quantidade de carga elétrica é colocada num material condutor, ela se distribuirá de modo a manter o campo nulo no interior do material. Numa esfera a carga ficará uniformemente distribuída na sua superfície. Portanto, para um material condutor não há diferença entre uma esfera e uma casca esférica. Em ambos os casos, a carga elétrica se distribuirá uniformemente na superfície externa. Material dielétrico - Quando o material é não-condutor, a situação é bem diferente. A carga não se distribui como no caso do condutor; grosso modo, ela fica onde a colocamos. Para esse tipo de material não é suficiente conhecermos a quantidade de carga, há que se saber a forma como ela está sendo distribuída. Isto é, necessitamos conhecer a densidade de carga no interior do material. Portanto, em termos de cálculo de campo elétrico e uso da lei de Gauss, uma esfera dielétrica pode ser bastante diferente de uma casca esférica. ESFERA CONDUTORA Já vimos acima que no caso de material condutor, pouco importa se temos uma esfera maciça, oca ou se temos uma simples casca esférica; qualquer que seja o objeto, o campo interno sempre será nulo. De modo análogo ao caso da carga puntiforme, argumentos de simetria nos levam à conclusão de que o campo de uma esfera condutora tem simetria esférica, de modo que a melhor Gaussiana será uma esfera concêntrica com a distribuição de cargas. O campo é igual ao de uma carga puntiforme, dado na eq. (3.5). Portanto, uma esfera condutora de raio R comporta-se, para pontos externos, r>R, como se toda sua carga estivesse concentrada no seu centro. ESFERA DIELÉTRICA Vamos considerar o caso em que a distribuição de cargas é uniforme. Isto é, a densidade r, dada em C/m3, é constante. Poderíamos ter uma distribuição mais complexa, na qual a densidade variasse com a distância ao centro. Região I - r > Raio da distribuição (R) O cálculo é análogo ao do campo de uma carga puntiforme. O resultado tem a mesma forma apresentada na eq. (3.5). Se a carga total, Q, for conhecida, basta colocá-la no lugar de q. Se ao invés disso, conhecermos a densidade, r, então a carga será dada pelo produto da densidade pelo volume da esfera, Q=4pR3r/3, resultando Região II - r < R A carga que aparece na lei de Gauss É aquela envolvida pela superfície Gaussiana, isto é, a carga no interior do volume 4pr3/3. Se conhecemos a densidade de carga, teremos Q=4prr3/3. O campo no interior da esfera será dado por O variação do campo, em função do raio, é representada na figura abaixo. DISTRIBUIÇÃO LINEAR INFINITA A distribuição linear infinita ocorre quando as cargas são distribuídas numa linha infinita, ou num cilindro infinito. Em ambos os casos tem-se geralmente uma densidade linear uniforme, l. Argumentos de simetria permitem concluir que o campo apresenta simetria cilíndrica. Isto é, a intensidade é a mesma em qualquer ponto da superfície lateral de um cilindro, cujo eixo coincide com o eixo da distribuição da cargas, e a direção é perpendicular a esta superfície lateral. É óbvio que a superfície Gaussiana mais apropriada é o cilindro indicado na figura ao lado. A integral fechada da lei de Gauss pode ser desdobrada, transformando-se numa soma de integrais de superfície, ao longo das bases do cilindro e ao longo da superfície lateral. Em qualquer ponto das bases, os vetores E e dS são perpendiculares entre si, de modo que as duas primeiras integrais são nulas. Na superfície lateral, o campo é constante e tem a mesma direção do vetor dS. Portanto, A carga no interior da Gaussiana é q=lh. Portanto, o campo criado por uma distribuição linear infinita, a uma distância r do eixo da distribuição, é dado por PLANO INFINITO DE CARGAS Vamos considerar uma distribuição infinita de cargas, com densidade uniforme +s, conforme figura abaixo. Por simetria conclui-se que o campo é perpendicular ao plano de cargas, e que sua intensidade é constante ao longo de qualquer plano paralelo ao plano de cargas. Portanto, o cilindro da figura acima é uma boa escolha como superfície Gaussiana. De modo análogo ao procedimento adotado no caso da simetria cilíndrica, a integral fechada pode ser desdobrada em integrais abertas, ao longo das bases e da superfície lateral da Gaussiana. Em qualquer ponto da superfície lateral, os vetores E e dS são mutuamente perpendiculares, de modo que o produto escalar é nulo. Por outro lado, tanto na base1, quanto na base2, E é constante e paralelo a dS, de modo que A carga no interior da superfície Gaussiana é q=sA, resultando EXERCÍCIOS 3.1 Uma rede de caçar borboleta está numa região onde existe um campo elétrico uniforme, como ilustra a figura 3.1. A extremidade aberta é limitada por um aro de área A, perpendicular ao campo. Calcule o fluxo de E através da rede. 3.2 Uma linha infinita de cargas produz um campo de 3x104 N/C a uma distância de 3 m. Calcule a densidade linear de carga. R.: 5x10-6 C/m 3.3 A figura 3.2 mostra parte de dois longos e finos cilindros concêntricos de raios a e b. Os cilindros possuem cargas iguais e opostas, com densidade linear l. Use a lei de Gauss para mostrar que: (a) E=0 para r<a e (b) entre os cilindros 3.4 A figura 3.3 mostra um cilindro condutor muito longo, de comprimento L, contendo uma carga +q e envolvido por uma fina casca cilíndrica, também condutora e de comprimento L, contendo uma carga –2q. Use a lei de Gauss para calcular: (a) o campo elétrico na região externa à casca cilíndrica; (b) A distribuição de cargas na parte interna e na parte externa da casca cilíndrica; (c) o campo elétrico na região entre os cilindros. R:(a)E=(1/2pe0)(q/Lr), apontando de fora para o centro do cilindro; (b)-q em cada superfície; (c)idem ao ítem (a), apontando do centro do cilindro para fora. 3.5 Um cilindro infinitamente longo, de raio R, contém uma carga uniformemente distribuída, com densidade r. Mostre que a uma distância r do eixo do cilindro (r<R), 3.6 A figura 3.4 mostra uma esfera com massa m e carga q, suspensa no campo gravitacional da terra por um fio de seda que faz um ângulo q com uma placa não condutora infinita e uniformemente carregada. Calcule a densidade superficial de carga da placa, s. R: s=2mge0tgq/q 3.7 A figura 3.5 mostra duas placas infinitas com suas superfícies internas carregadas com densidades superficiais de carga +s e -s. Determine o campo elétrico: (a) na região à esquerda das placas; (b) na região entre as placas; (c) na região à direita das placas. R: E=0 fora do capacitor; E=s/e0 no interior do capacitor. 3.8 Uma fina casca esférica metálica de raio ra possui uma carga qa. Concêntrica com esta casca, existe outra fina casca metálica de raio rb (rb>ra) e carga qb. Calcule o campo elétrico nas regiões onde: (a) r<ra; (b) ra<r<rb; (c) r>rb. R: (a)E=0; (b)E=(1/4pe0r)(qa); (c)E=(1/4pe0r)(qa+qb) ... 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