Criar e gerir uma horta escolar - Food and Agriculture Organization

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CRIAR E GERIR
UMA HORTA ESCOLAR
UM MANUAL PARA PROFESSORES, PAIS E COMUNIDADES
Capa:
Alunos de uma escola na China: R. Faidutti.
Horta escolar no Panamá: Jesús Bulux, Instituto de Nutrición de Centro América y
Panamá e Pan American Health Organization.
Vegetais e fruta: Mel Futter.
Contracapa:
Crianças da Etiópia: R. Faidutti.
Ilustração: Mel Futter.
Design:
J. Morgante/R. Magini.
CRIAR E GERIR
UMA HORTA ESCOLAR
UM MANUAL PARA PROFESSORES, PAIS E COMUNIDADES
Publicado por acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação
e a Agricultura pela Associação para a Valorização Ambiental da Alta de Lisboa
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AVISO LEGAL
Esta obra foi publicada originalmente pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a
Agricultura em inglês como Setting up and running a school garden. Esta tradução em português foi realizada
pela Associação para a Valorização Ambiental da Alta de Lisboa, que è assim responsável pela qualidade
da tradução. Em caso de discrepâncias, prevalece o texto en língua inglesa.
As designações empregadas e a apresentação do material neste produto de informação não implicam
a expressão de qualquer opinião por parte da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a
Agricultura (FAO) sobre a situação jurídica ou estágio de desenvolvimento de qualquer país, território,
cidade ou área ou de suas autoridades, ou sobre a delimitação de suas fronteiras. A menção de companhias
específicas ou produtos de fabricantes, patenteados ou não, não implica que sejam endossados ou
recomendados pela FAO em preferência a outros de natureza similar não mencionados.
As opiniões aqui expressadas são dos autores e não representam necessariamente as opiniões ou políticas
da FAO.
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Associação para a Valorização Ambiental da Alta de Lisboa, 2016 [edição portuguesa]
FAO, 2005 [edição inglesa]
ISBN 92-5-105408-8
Todos os direitos reservados. A reprodução e/ou distribuição do material contido neste
produto de informação para propósitos educacionais ou outros fins não comerciais
estão autorizadas sem qualquer permissão prévia por escrito dos detentores dos direitos
autorais desde que a fonte seja devidamente citada. A reprodução do material contido
neste produto informativo para revenda ou outras finalidades comerciais é proibida sem
autorização escrita dos titulares dos direitos autorais.
Os pedidos para tal autorização devem ser dirigidos ao Diretor do Serviço de Publicação
de Administração, Divisão de Informação, Organização das Nações Unidas para a
Alimentação e a Agricultura, Viale delle Terme di Caracalla, 00100 Roma, Itália, ou
por e-mail para [email protected].
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PREFÁCIO
As chaves para o desenvolvimento das crianças e dos seus futuros meios de subsistência são uma
alimentação adequada e a educação. Estas prioridades estão refletidas no primeiro e segundo Objetivos
de Desenvolvimento do Milénio. A realidade em que se encontram milhões de crianças, no entanto,
revela que essas metas estão longe de serem cumpridas.
As crianças que vão para a escola com fome não conseguem aprender bem. Apresentam diminuição da
atividade física, diminuição das capacidades cognitivas e diminuição da resistência às infeções. O seu
desempenho escolar é muitas vezes deficiente, o que pode fazer com que essas crianças abandonem a
escola precocemente. A longo prazo, a subnutrição crónica diminui o potencial individual e tem efeitos
adversos sobre a produtividade, o rendimento e o desenvolvimento nacional. Assim, o futuro de um país
recai sobre as suas crianças e jovens.
Os investimentos na nutrição e na educação são essenciais para quebrar o ciclo da pobreza e da
subnutrição. A FAO acredita que as escolas podem dar uma importante contribuição para os esforços
dos países em superarem a fome e a subnutrição, e que as hortas escolares podem ajudar a melhorar
a nutrição e a educação das crianças e das suas famílias nas áreas rurais e urbanas. Neste sentido, é
importante salientar que as hortas escolares são uma plataforma para a aprendizagem. Não devem ser
consideradas como fontes principais de alimentos ou de rendimentos, mas sim como um caminho para
uma melhor nutrição e educação.
A FAO incentiva as escolas a criarem hortas para aprendizagem, de tamanho moderado, que possam ser
facilmente geridas por alunos, professores e pais, mas que incluam uma variedade de vegetais e frutas nutritivas,
bem como, ocasionalmente, alguns animais de pequeno porte, tais como galinhas e coelhos. Os métodos de
produção são simples, para que possam ser facilmente replicados pelos alunos e pais nas suas casas.
Os sistemas alimentares são o conceito unificador. “Da terra para a panela”, os alunos aprendem a
cultivar, cuidar, colher e preparar produtos sazonais nutritivos, nos contextos educativos da sala de aula,
da horta, da cozinha, do refeitório da escola e do lar. A experiência promove o bem-estar ambiental,
social e físico da comunidade escolar e promove uma melhor compreensão de como o mundo natural
nos sustenta. A ligação com as hortas de casa reforça o conceito e abre caminho para a troca de
conhecimentos e experiências entre a escola e a comunidade.
Tais estratégias baseadas nos alimentos têm o mérito da sustentabilidade: criam hábitos alimentares de
longo prazo e colocam as escolhas alimentares nas mãos do consumidor. Uma forte componente de educação
garante às famílias e às futuras famílias das crianças que os efeitos irão além do tempo e local imediatos.
As preocupações nutricionais também ligam o mundo desenvolvido ao mundo em desenvolvimento, mundos
estes que partilham muitos problemas alimentares. Por exemplo, a necessidade de mudar a perceção sobre
as frutas e legumes, e aprender a melhor maneira de os cultivar, preparar e comer é comum a muitas
comunidades, ricas e pobres, e pode ser crucial na promoção da saúde comunitária em ambos. Isto serve de
base para esforços conjuntos significativos e para o intercâmbio de experiências, ideias e materiais de ensino.
A FAO preparou este manual para auxiliar professores, pais e comunidades, inspirando-se em experiências
e boas práticas de gestão de hortas escolares em todo o mundo. As lições em sala de aula estão ligadas
à aprendizagem prática na horta sobre a natureza e o meio ambiente, à produção e comercialização dos
alimentos, ao processamento e preparação dos alimentos e em fazer escolhas alimentares saudáveis.
Esperamos que este manual seja uma ferramenta útil para todos aqueles que desejam iniciar ou melhorar
uma horta escolar com o objetivo de ajudar as crianças da escola a crescer na mente e no corpo.
Kraisid Tontisirin,
Diretor,
Divisão de Alimentação e Nutrição
Mahmoud Solh
Diretor,
Divisão de Produção e Proteção de Plantas
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AGRADECIMENTOS
O manual e respetivos materiais de acompanhamento foram preparados pelo Serviço de Programas de
Nutrição da Divisão de Alimentação e Nutrição, em consultoria com o Serviço de Culturas e Pastagens
da Divisão de Produção e Proteção de Plantas da FAO.
Ellen Muehlhoff, da Divisão de Alimentação e Nutrição, teve a responsabilidade global no desenvolvimento
e orientação da elaboração desta publicação. Também atuou como editora técnica. Alison Hodder, da
Divisão de Produção e Proteção de Plantas, assegurou o aconselhamento sobre as secções hortícolas.
Agradecimentos especiais são devidos a Jane Sherman, que é a autora principal deste texto. Os seus
conhecimentos em educação e aprendizagem empírica, bem como a sua capacidade de escrita, foram
bastante apreciados. A ampla experiência de Chris Landon-Lane na horticultura e na abordagem prática
para a jardinagem em pequena escala enriqueceu as secções de horticultura e as fichas técnicas.
Foram feitas substanciais contribuições técnicas por Jennifer Heney, da Divisão de Sistemas de Apoio
Agrícola da FAO. Valiosos comentários e contribuições também foram recebidos de: Fiorella Cerruti, do
Serviço de Alimentação Escolar, Programa Alimentar Mundial (PAM); Lavinia Gasperini, da Divisão de
Extensão, Investigação e Formação; Corinna Bothe, Fintan Scanlan e Alberta Mascaretti, da Divisão de
Operações de Campo, e Hitomi Sato, da Divisão de Produção e Proteção de Plantas.
Gostaríamos também de expressar o nosso apreço muito especial a todos os diretores das escolas, professores
e educadores em diferentes partes do mundo que tornaram possível esta publicação, em especial:
Zumbido Bezuidenhout, do Programa BMW SEED (Escola de Educação Ambiental para o
Desenvolvimento), África do Sul.
Asha Choday, professor responsável, Maranda School, Quénia.
Jackie Greenhouse, professor responsável, e Linda Carr, horticultor, Manorbier School, País de Gales,
Reino Unido.
Patrick Lloyd-Lister, educador de grupo para a saúde, Harmony Gold Mine, África do Sul.
Mark Miller, coordenador do projeto, Gate Project (Agricultura baseada em hortas para o Meio Ambiente
de Toledo), Jamaica.
Sylvester Ncube, professor responsável, Nebiri School, Zimbabué.
Claudette Power, professor responsável, e Miss James, horticultor, Sligoville School, Jamaica.
Charles Ssekyewa, professor sénior em Agricultura e coordenador de hortas escolares dos projetos
Sementes para a África, Mártires University, Uganda.
Simon Zayo, mestre em horticultura, Negande School, Zimbabué.
Queremos agradecer à comunidade de Komga, na África do Sul, pelo apoio e contribuições entusiásticas
para as fotografias e preparação final do livro, especialmente a Errol Muller, do Mercado de Komga,
a Ronel Vorster e aos funcionários da Cooperativa de East Cape, às crianças de Draaibosch, à família
Flannigan e ao Governo de Kobese.
Mais agradecimentos são devidos a Brett Shapiro e Allison Rosemary pela edição e revisão. Mel Futter
foi responsável pelo design, paginação, e, salvo indicação em contrário dentro da publicação, por todas as
fotografias e ilustrações.
Tornar realidade a edição portuguesa deste manual foi possível graças ao apoio da Fundação Calouste
Gulbenkian, à disponibilidade da FAO em Portugal e aos voluntários da AVAAL – Associação para a
Valorização Ambiental da Alta de Lisboa, a quem coube a tradução do mesmo.
6
ÍNDICE
INTRODUÇÃO
9
CAPÍTULO 1: O QUE ENVOLVE?
Executar um projeto de horta escolar
13
CAPÍTULO 2: QUEM NOS VAI AJUDAR?
Envolver a família e a comunidade
21
CAPÍTULO 3: PARA QUE SERVE A NOSSA HORTA?
Objetivos e princípios
31
CAPÍTULO 4: POR ONDE COMEÇAR?
A sensibilização ambiental
43
CAPÍTULO 5: DE QUE PRECISA A NOSSA HORTA?
O local da horta
51
CAPÍTULO 6: O QUE VAMOS CULTIVAR PARA COMER?
Melhorar a nutrição
63
CAPÍTULO 7: O QUE VAMOS CULTIVAR PARA VENDER?
Horticultura de mercado
77
CAPÍTULO 8: COMO CULTIVAR?
Métodos de horticultura
91
CAPÍTULO 9: COMO VAMOS COMER OS ALIMENTOS DA NOSSA HORTA?
Preparar, processar, promover
103
CAPÍTULO 10: QUAL É O PLANO?
Planeamento do projeto
115
CAPÍTULO 11: COMO VAMOS COMEÇAR?
Organização do trabalho
125
CAPÍTULO 12: COMO VAMOS MANTER A HORTA?
Motivação e sentido de propriedade
135
ANEXOS:
143
Fichas Informativas de Alimentos
143
Fichas Informativas de Nutrição
177
Notas de Horticultura
189
7
8
INTRODUÇÃO
A IMPORTÂNCIA DAS HORTAS ESCOLARES
Muitos acreditam que a aprendizagem na escola só acontece dentro da sala de aula, mas é hoje
amplamente reconhecido que todo o ambiente da escola está envolvido no desenvolvimento das
crianças. E o ambiente escolar compreende também:
•uma fonte de alimentos para melhorar a alimentação e a saúde das crianças;
•uma fonte de influências saudáveis (água potável, atividade física, casas de banho
higiénicas, lavatórios e merenda escolar);
•uma área para a aprendizagem (sobre a natureza, a agricultura e a nutrição);
•um lugar de prazer e recreação (flores e arbustos, áreas de lazer, sombra e zonas para
comer);
•uma lição contínua de respeito pelo meio ambiente e orgulho na escola.
Asfalto, terra seca, lama e campos vazios estão a transformar-se em campos verdes, laboratórios
ao ar livre, hortas, hortas de ervas aromáticas, espaços de jogos e áreas de estudo. E as hortas
escolares estão a liderar essa mudança.
A HORTA
9
A IMPORTÂNCIA DAS HORTAS ESCOLARES
Horta num pneu
Uma horta para crianças pode ser feita
cortando um pneu de carro ao meio. Encha-o
com terra e um pouco de
estrume de galinha e
plantas. O calor do sol
aquece o pneu e ajuda as
plantas a crescerem. Cada
pneu precisa de apenas um
litro de água por dia. Assim,
as crianças podem proteger dos animais as
suas hortas, trazendo-as para perto da casa.
A horta de Mandela
Quando Nelson Mandela estava a
cumprir pena de prisão na África
do Sul, passava muitas horas por
dia a fazer horticultura. Cultivou
principalmente legumes, muitas
vezes em tambores de óleo cortados
ao meio. Ao mesmo tempo tomava
conta de cerca de 900 plantas. Desta
forma, melhorou a sua própria dieta e
a dieta de outros reclusos – e também
a de vários guardas brancos!
(P. Lloyd-Lister, comunicação pessoal, 2003)
(Mandela, 1994)
O MANUAL DA HORTA ESCOLAR
O Manual da Horta Escolar é baseado em experiências de implementação e gestão de hortas
escolares em todo o mundo.
A quem é dirigido?
O Manual destina-se a todos os interessados em implementar ou melhorar uma horta escolar,
tendo como objetivos o cultivo de alimentos saudáveis e a aprendizagem da venda de produtos
hortícolas. O público do Manual pode assim ser constituído por um professor, um horticultor,
um grupo de professores, os pais ou os membros da comunidade de uma escola ou de várias
escolas diferentes.
Qual a faixa etária a que se destina?
Pretende-se que a faixa etária dos alunos seja dos nove aos 14 anos. A expressão “alunos mais
jovens” designa os alunos com idades entre os nove e os 11 anos, ao passo que a expressão
“alunos mais velhos” refere-se aos alunos com idades entre os 12 e os 14 anos. Mas isto não quer
dizer que as crianças fora desta faixa etária não possam ser envolvidas – há sempre algo que as
crianças muito jovens podem fazer, ao mesmo tempo que os alunos mais velhos podem ajudar
em praticamente todos os tipos de tarefas, incluindo a gestão do trabalho, por exemplo.
Em que consiste?
O Manual conduz o leitor ao longo de todas as etapas do planeamento de um projeto de horta
escolar: decidir para que vai servir a horta / planear como obter ajuda e apoio / aprender a preparar
o local.
Existem secções sobre organização do trabalho, enquanto que a motivação está incluída num
capítulo à parte. Como complemento, nos anexos estão notas sobre horticultura e fichas
informativas sobre nutrição e algumas das culturas mais difundidas do mundo.
NB: O Manual não pretende dar conselhos detalhados de horticultura para todas as situações.
Para isso aconselha-se a consulta de especialistas locais e nacionais.
Em cada capítulo estão também incluídas:
•dicas para atividades, incluindo formas de envolver as crianças, as famílias, outros
colaboradores e a comunidade;
•sugestões para avaliar os resultados, sob a forma de relatórios e cartazes, por exemplo.
10
A IMPORTÂNCIA DAS HORTAS ESCOLARES
Tipos de lições
Os capítulos três a dez apresentam-se com as características de uma lição, sendo assim adequadas
para desenvolver em ambiente de turma. Estes capítulos visam as idades entre os nove e os 14
anos, e servem de complemento e apoio às atividades de horticultura. Além disso, concentram-se
não só no conhecimento e nas competências em geral, mas também em ações de sensibilização,
competências para a vida, atitudes e comportamentos de rotina. Estas “lições de horticultura” têm
enorme valor educativo, fazendo a ponte entre a teoria e a prática, e relacionam a aprendizagem
em sala de aula com a experiência empírica e a observação, e vice-versa. Devem por isso assumir
um lugar regular no horário das aulas, além do tempo que é dedicado à horticultura em particular.
Como usar o Manual?
Recomenda-se a seguinte abordagem:
•Ler cada capítulo do Manual, tomando nota do que é importante para cada situação em
particular.
•Observar as sugestões e dicas existentes no final de cada capítulo.
•Elaborar um esboço do programa de horticultura.
•Analisar as lições relacionadas e selecionar aquelas que as turmas necessitam.
•Agendar as lições em função da fase em que se encontrar o programa de horticultura
em causa – os alunos podem estar a preparar-se para o próximo ano letivo, podem estar
prestes a iniciar uma horta ou podem andar em busca de formas de melhorar uma horta
que já existe, por exemplo.
HORTAS ESCOLARES EM TODO O MUNDO
As crianças aprendem fazendo
Sligoville, uma comunidade agrícola,
foi a primeira aldeia livre na Jamaica
após a abolição da escravatura. A
escola, com crianças de todas as idades,
tem sido designada a “ambientalmente
mais consciente” da Jamaica. A
professora responsável incentiva
fortemente a horta, porque acredita
que as crianças aprendem fazendo.
As crianças ganham competências
que podem usar, os professores
encontram novas maneiras de ensinar
e todos ganham alimentos deliciosos e
nutritivos. A maioria dos funcionários
são horticultores experientes e há uma
associação de pais e professores muito
ativa.
Fotografia cedida por Claudette Power, Escola Sligoville, Jamaica.
Cada aluno gere um pequeno talhão com algumas culturas, como cenoura, milho e tomilho. Os
alunos mais velhos têm um hectare com vários vegetais e filas de banana para fritar, banana e
cacau. Há também galinhas, coelhos e cabras. A horta é biológica. As crianças comem muitos
dos alimentos da horta e levam alguns para casa; alguns são cozinhados na cantina e outros são
vendidos na comunidade. Todos os anos há um projeto comum a todas as disciplinas, focado
num alimento. Num dos anos pesquisou-se sobre milho, cultivaram-se amostras e produziram-se
canções, fantoches e poemas. O livro “O Milho na Sala de Aula” foi traduzido para 84 idiomas
e apresentado na rádio.
(C. Power, comunicação pessoal, 2003; Bruce, 1998)
11
A IMPORTÂNCIA DAS HORTAS ESCOLARES
Órfãos de SIDA ajudam-se a si próprios
No município de Mansa, no norte da Zâmbia, a igreja
Adventista do Sétimo Dia abriu um pequeno orfanato
para órfãos de SIDA, com o apoio do Rotary Club e do
Governo da Zâmbia. Para fornecer alimentos às crianças,
estabeleceu uma horta de meio hectare que as crianças
cultivam sob a supervisão de um horticultor voluntário
qualificado.
A FAO providenciou um pequeno apoio, através da
oferta de sementes, de ferramentas e de um sistema
de irrigação gota-a-gota de pequena escala. Agora, sob o cuidado das crianças, a horta está a
florescer, produzindo beringelas, ervilhas, milho, pimentos, soja, batata-doce, tomate e galinhas.
“Eles são completamente autossuficientes nos produtos hortícolas, milho e aves”, afirmou Karel
Callens, nutricionista da FAO. “Estão a produzir excedentes suficientes para vender no mercado
e estão a reinvestir os recursos na horta.” As crianças também estão a aprender a trabalhar em
equipa e a adquirir conhecimentos agrícolas, que vão sustentá-los para o resto das suas vidas. “É
um retorno impressionante tendo em conta o reduzido investimento efetuado”, afirmou Callens.
(FAO Telefood, 2004a)
As hortas escolares transferem conhecimento e prática para os lares das crianças
Em Trincomalee, no Sri Lanka, a insegurança alimentar era um problema grave após os distúrbios
civis e no período pós-guerra. Foram então formados clubes agrícolas nas escolas, compostos
por oito alunos e um professor. A formação agrícola de
base foi dada pelo Departamento de Agricultura. Foram
criados nas instalações da escola viveiros de vegetais e
hortas escolares, e as plântulas são vendidas às famílias.
O conhecimento e a prática são transferidos para
casa: os alunos cultivam as suas próprias plântulas em
casa e passam informações sobre como cultivá-las aos
amigos e familiares. Os alunos contam que ganharam
conhecimentos, competências práticas e oportunidades
de emprego próprio. (Wanasinghe, 2003)
Variedade de atividades, variedade de aprendizagem
A escola Manorbier, no País de Gales, no Reino Unido, está numa área deprimida com elevadas
taxas de desemprego. Embora seja uma área rural, muitas das crianças têm a sua primeira
experiência de cultivo na escola. A horta escolar inclui o
cultivo de ervas aromáticas e flores, uma área de jogos,
uma macieira grande, um pequeno bosque e um lago
para estudar a vida selvagem. Produzem feijão, tomate,
girassol e alho francês (o emblema nacional de Gales).
A escola inteira criou um mosaico de seixos na entrada,
com um segmento para cada turma. A ideia transmitida
é que a horta pertence aos alunos e que devem ser estes a
geri-la. Os alunos voluntariam-se para serem “monitores
de horta” por uma semana. Cada turma tem uma
responsabilidade – por exemplo, a turma pré-escolar
cuida das flores, os alunos mais velhos do lago. Um
clube da horta reúne uma vez por semana após as aulas. A horta é usada para a aprendizagem
através da experiência direta em ciências e estudos ambientais, matemática, literatura e arte.
Greenhouse e L. Carr, comunicação pessoal, 2003)
12
CAPÍTULO 1
O QUE ENVOLVE?
Executar um projeto de horta escolar
Objetivos• Discutir as questões preliminares
• Analisar os segredos do sucesso
Três competências para as hortas escolares
A execução de uma horta escolar requer
não só conhecimentos de horticultura,
“Precisa de saber apenas três coisas para
mas também capacidade para lidar
executar uma horta escolar com sucesso:
com pessoas e senso comum. Outras
1. Como cultivar as pessoas;
qualidades úteis são o entusiasmo,
2. Como cultivar as plantas;
a capacidade de organização e de
3. Como obter ajuda.” (Guy et al., 1996)
divulgação. É necessário planear e gerir,
encontrar recursos, obter ajuda e apoio,
manter contacto com as pessoas envolvidas, organizar o trabalho da horta e das aulas, motivar
as pessoas e divulgar os resultados da horta.
No entanto, os responsáveis pela horta não têm que fazer isto tudo sozinhos. Uma boa gestão
da horta significa desenvolver as capacidades da escola até a horta poder funcionar sozinha. As
crianças mais velhas mostram às mais jovens o que fazer; as tarefas rotineiras são realizadas
automaticamente; e os auxiliares veem por si mesmos o que precisa de ser feito.
13
O QUE ENVOLVE?
A. PERGUNTAS PRELIMINARES
Aqui estão algumas perguntas que são mais frequentes.
1. Quem será o responsável pela horta?
O responsável pela horta ou horticultor pode ser o
diretor da escola, um professor experiente ou um
horticultor da comunidade experiente. Ela ou ele deve
ser apoiado por uma pequena equipa que tenha sentido
de compromisso, interesse, experiência, autoridade
e contactos. Por exemplo, o diretor, alguns pais ou
membros da comunidade, alguns alunos, um inspetor
de escolas, um trabalhador da área da saúde, o auxiliar
da escola. Mais tarde pode ser construída uma ampla
rede de colaboradores e auxiliares.
O responsável pela horta deve ter um colega que possa atuar como substituto, quando necessário.
Também é uma boa ideia estabelecer uma equipa de alunos mais velhos e que sejam capazes de
continuar o trabalho sem muita supervisão.
2. De que precisamos?
As necessidades iniciais são discutidas no
Capítulo 5. Para ferramentas e equipamentos,
sementes e plântulas, o custo não será
necessariamente elevado. Se se começar com
pouco, é possível ir adquirindo o resto ao longo
de alguns anos. Muitas vezes, o equipamento
pode ser pedido emprestado e, às vezes, podemos
reutilizar as sementes. Algumas variedades
de plantas locais, adaptadas ao clima local,
são mais baratas e garantem resultados mais
seguros. As abordagens biológicas diminuem o
gasto em fertilizantes e inseticidas.
Um abrigo seguro para a horta é um item caro. Ainda mais importante, e às vezes caro, são a
água e as vedações. Devemos ser capazes de irrigar as culturas e protegê-las dos predadores.
Pode-se conseguir obter uma doação para este tipo de investimento por parte de instituições
sociais, doadores, governos ou organizações de desenvolvimento. Mas lembre-se que bombas,
canos e cercas precisam de manutenção. Se não tiver um financiamento regular, a horta tem de
gerar lucro suficiente para cobrir os seus custos.
3. De que tamanho será a horta?
A sua horta pode ser desde uma caixa de janela a um
campo. O tamanho dependerá do espaço disponível. Se
a escola não tem terrenos adequados, pode haver espaço
numa horta comunitária ou em terrenos baldios ao longo
da estrada, por exemplo.
O tamanho também depende dos objetivos (discutidos
no Capítulo 3). Se a educação é o principal objetivo, não
importa se não existe muito espaço. Algumas plantas
14
O QUE ENVOLVE?
são suficientes para observações experimentais (por exemplo, estudar a germinação). Uma horta
com a dimensão de uma cama de solteiro com 1 x 2 metros irá produzir quantidades simbólicas
de alimentos. Uma horta do tamanho de três ou quatro camas pequenas podem constituir uma
horta modelo para fins de demonstração. Será preciso muito mais espaço caso queira produzir
uma quantidade significativa de alimentos ou fazer uma formação profissional agrícola.
Quaisquer que sejam os objetivos, há uma maior possibilidade de sucesso começando com pouco.
Pode sempre expandir a horta mais tarde. Mesmo com uma pequena horta, também há uma
maior possibilidade de sucesso se houver diversidade de culturas, e não apenas uma ou duas.
4. Como é que vamos decidir o que cultivar?
Isso depende dos objetivos (ver Capítulo 3). Os principais
projetos de hortas neste Manual têm como objetivo produzir
alimentos para comer e para vender. Em geral, a escolha
das culturas e das árvores tem de ser adaptada às condições
locais, à facilidade do cultivo e ao encaixe no período
escolar. As culturas devem estar de acordo com os hábitos
alimentares locais, ser fáceis de preparar e ter alto valor
nutritivo (por exemplo, vegetais de folhas verdes, legumes
e frutas cor de laranja e amarelas). Em qualquer caso, os
alunos devem sempre estar envolvidos nesta decisão.
5. Quem vai fazer o trabalho?
Grande parte do trabalho será feito pelos alunos.
Estes devem ser ajudados por voluntários (pais,
membros da comunidade, alunos ou ex-alunos da
escola) e pelo auxiliar / horticultor / zelador da
escola, se existir um, especialmente para o trabalho
mais pesado (por exemplo, para tratar da preparação
do local).
Mas o mais importante é que as crianças estejam a
aprender e não sejam uma força de trabalho. Elas
devem aproveitar o seu tempo na horta e aprender
com ela. Não deve ser uma tarefa desagradável ou
um castigo. A horta também deve dar aos alunos
a oportunidade de assumirem responsabilidades,
tomarem decisões, planearem, organizarem o trabalho, colaborarem, avaliarem e divulgarem. O
tempo de aula deve servir para se prepararem para essas responsabilidades.
6. Quanto tempo vai demorar?
Tempo de aula - Idealmente, os tempos de aula e na horta devem
ser equivalentes. As aulas são para discutir e explicar, planear e
organizar o trabalho, criar experiências e observações, e documentar
as atividades da horticultura e eventos. Para manter uma pequena
horta e obter um benefício educacional completo, uma turma
precisa de cerca de uma hora de horticultura e uma hora de aula
por semana, com um pequeno trabalho extra de horticultura para os
alunos fazerem em casa.
15
O QUE ENVOLVE?
Tempo do professor - Depende do tamanho da horta. O cargo de horticultor também é muito
elástico! Além de organizar o trabalho da horta e das aulas, e ainda ajudar os alunos, pode
também envolver voluntários, a criação de eventos na horta, o contacto com doadores, a procura
de suprimentos, a organização de passeios, a manutenção das contas, a elaboração de relatórios
e a participação em reuniões. Um bom gestor da horta delega trabalho nos alunos responsáveis
e num grupo de apoio à horta.
7. Que tipo de formação é necessária?
Isso depende dos conhecimentos e experiência que já se
tem. Se possível, deve-se organizar um curso de formação
em horticultura básica, nutrição, métodos de cultivo
biológicos e planeamento de projetos, dirigido ao professor
responsável e a dois ou três adjuntos. Pode-se também
envolver os cozinheiros e auxiliares da escola. A formação
pode ser organizada por alguém dos serviços de agricultura,
por um pai experiente, por uma ONG ou pelo serviço de
educação.
Quem receber a formação deve passá-la aos outros – por
exemplo, em reuniões informais. Isso vai reforçar a formação, disseminar o conhecimento e
proteger o programa da horta de perder o seu único perito.
8. De que tipo de apoio precisamos?
• Apoio da escola - Mais importante de tudo é ter o apoio de um professor responsável e o
interesse de toda a escola – professores, pessoal de apoio (por exemplo, auxiliar, cozinheiros,
secretariado), conselho escolar, serviço de refeições escolares, associação de pais e professores
e corpo diretivo.
• Apoio da autoridade educativa local - O apoio ativo da autoridade educativa local é muito
importante (embora às vezes ele possa aparecer apenas depois de se ter estabelecido a horta!).
As autoridades podem colocá-lo em contacto com fundos especiais, organizar competições entre
escolas, dar conselhos sobre gestão, recomendar materiais de ensino, dar espaço no horário
escolar para as aulas na horta e convocar os setores de saúde e de apoio técnico. Também
podem informá-lo de quaisquer regras especiais sobre a gestão dos fundos ou a manutenção
das instalações escolares. Convença-os a criar uma rede de escolas com hortas, para facilitar a
partilha de experiências entre elas (por exemplo, com visitas e boletins informativos).
• Apoio da comunidade - As hortas escolares têm bastante
visibilidade e atraem o interesse local. Funcionam melhor
quando têm o apoio e ajuda das famílias e da comunidade.
A maioria das escolas têm por perto horticultores
experientes.
• Apoio dos Centros de Professores - Os Centros de
Professores podem ajudar com recursos materiais (por
exemplo, ensino e informação sobre as culturas) e servir
de lugar para as escolas se reunirem e trocarem ideias.
• Apoio de outros serviços - Finalmente, será preciso
uma boa assistência técnica da parte de serviços de
extensão agrícola, de escolas práticas para agricultores, de serviços de saúde e de ONG, etc.
Deve manter-se todas as partes interessadas informadas sobre o que se está a fazer e consultá-las
com frequência. A horta escolar deve constar regularmente da agenda das reuniões escolares.
16
O QUE ENVOLVE?
9. Como motivar as pessoas a apoiar a
horta escolar?
O apoio depende da atitude. Em algumas áreas há
uma longa tradição de interesse em cultivar hortas
nas próprias casas. As pessoas querem que os seus
filhos aprendam as competências necessárias para o
cultivo de alimentos, flores e árvores. Se a horticultura
tem esta imagem positiva na sua comunidade, pode
aproveitar para promovê-la.
Mas muitas vezes a horticultura é vista apenas como
um trabalho duro e sujo, não como educação. Na pior
das hipóteses, as escolas podem ser acusadas de ter
como objetivo manter as crianças ligadas a trabalhos
agrícolas mal remunerados. Se esta é a atitude, então
uma das principais tarefas será a de mudar essa atitude.
Há várias maneiras de dar uma boa divulgação à horta
e que serão discutidas mais à frente neste Manual –
por exemplo, envolvendo as famílias, focando-se na
educação, construindo um sentimento de orgulho e
mostrando que a horticultura pode melhorar a nossa
saúde e rendimento. A principal vantagem destes
esforços é que as crianças gostam verdadeiramente
e acham que cultivar coisas e produzir alimentos
deliciosos é simultaneamente excitante e gratificante.
B. SEGREDOS PARA O SUCESSO
Suporte e sucesso para crianças
deficientes
A Divina Misericórdia é uma
escola para crianças deficientes em
Lima, no Peru. A escola tem a sua
própria horta, onde cultiva alfaces,
beterraba, cenoura e brócolos. Toda
a gente foi envolvida desde o início:
o diretor, os professores, os alunos
e alguns pais construíram a horta a
partir do zero. Quando começaram,
não havia nada além de terra e
lama. Limparam, trouxeram terra e
instalaram um sistema de irrigação.
A diretora da escola, Elvira Pacherres
diz que as crianças são apaixonadas
pela horta. “A horta faz agora parte
do currículo e funciona como terapia
para estas crianças. Demonstra como
elas podem facilmente ter acesso a
alimentos se for necessário, e dá-lhes
responsabilidades. Muitas vezes,
estas crianças são postas de lado pela
família... Mas aqui elas aprendem a
contribuir para o agregado familiar.
Algumas também cultivam as suas
próprias pequenas hortas em casa.”
Alguns dos segredos para o sucesso estão definidos
na caixa em baixo.
(FAO Telefood, 2004b)
Apoio
A horta escolar irá prosperar se tiver o apoio de:
• Autoridade educativa local;
• Professor responsável / diretor;
• Toda a escola;
• Pais e comunidade.
Envolvimento e contactos
Será útil conseguir:
• captar o interesse dos serviços locais de agricultura e saúde;
• envolver a comunidade – peritos, conselheiros, auxiliares e observadores;
• captar o interesse do programa de alimentação escolar;
• criar um grupo de apoio de pessoas interessadas, ativas e úteis;
• manter contacto com outras escolas que têm hortas.
Sustentabilidade
É uma boa ideia:
• começar com pouco e expandir mais tarde;
• estabelecer (e manter) um bom abastecimento de água e vedações;
17
O QUE ENVOLVE?
• saber como a horta vai ser financiada, ou como ela se pode sustentar por si mesma;
•utilizar abordagens biológicas para melhorar e conservar o solo;
•escolher culturas que se adaptem às condições locais, combinem as tradições locais
e hábitos alimentares, tenham alto valor nutricional, contribuam para a segurança
alimentar, sejam fáceis de cultivar e adaptadas ao período escolar;
•certificar-se que alguém é responsável pela horta em caso de emergência ou doença;
•ter professores e auxiliares formados, experientes e que transmitam os seus
conhecimentos.
Motivação
O projeto funcionará melhor se:
•estabelecer objetivos claros e em acordo com todos;
•elogiar, dar recompensas, prémios e outros incentivos às crianças,
professores e auxiliares;
•divulgar o sucesso e fazer atividades na horta visíveis ao público e
toda a escola;
•escolher horticultores que saibam como lidar com pessoas, bem
como com plantas;
•criar orgulho, estatuto, realização e prazer em relação à horta.
Valor educacional
Tentar:
•explorar as atitudes da comunidade, famílias e crianças,
e reconhecer a sua importância;
•reconhecer plenamente a horta como uma experiência e
uma ferramenta de aprendizagem ;
•envolver os alunos no planeamento, tomada de decisões,
organização e divulgação;
•coordenar o trabalho na horta com o trabalho na sala de aula;
• vincular a horta ao currículo escolar geral;
• incentivar a observação, experiência e registo de resultados.
Apoio técnico e pedagógico
Fazer o possível para:
• ter acesso a informações e bom aconselhamento técnico/apoio;
• obter formação em produção biológica de hortícolas e em gestão de hortas;
• encontrar / produzir materiais didáticos adequados.
SUGESTÕES PARA A AÇÃO
• Consultar o professor responsável sobre a ideia de uma horta escolar.
• Decidir quem deve ser o “responsável pela horta”.
• Descobrir como as autoridades de educação, serviços de saúde, serviços agrícolas e o
conselho local podem apoiar a horta escolar, incluindo possibilidades de financiamento.
• Explorar as possibilidades de formação para funcionários da escola.
• Iniciar as discussões informais sobre uma horta escolar com o pessoal da escola, os pais,
a comunidade e o serviço de refeições escolares. Anotar ideias e fazer um relatório sobre
sentimentos e medos em relação ao trabalho na horta. Não se comprometer com um
determinado objetivo ou plano – manter o assunto sempre em aberto.
• Perguntar aos alunos! Descobrir o que pensam sobre horticultura, hortas e seus alimentos.
Resultados: Ideias para a horta escolar; notas sobre os problemas, riscos e atitudes.
18
O QUE ENVOLVE?
Dicas e ideias
•Pedir aos estudantes com mais capacidades artísticas para copiarem o cartaz
“Crescer com a Horta”, em baixo. Adaptá-lo como necessário para o seu próprio
contexto.
•Tirar fotografias de possíveis locais para a horta.
•Visitar hortas de casas nas redondezas em busca de inspiração e ideias.
•Falar com outras escolas com hortas.
•Iniciar um arquivo “Horta” com todos os documentos da horta.
O cartaz abaixo ilustra o conceito mais amplo de horta:
CRESCER COM A HORTA
boa jardinagem
mercado
da horta
bom ambiente
boa alimentação
19
NOTAS
20
CAPÍTULO 2
QUEM NOS VAI AJUDAR?
Envolver a família e a comunidade
Objetivos
• Obter apoio local
• Estabelecer um Grupo da Horta
• Manter o apoio e o interesse
• Selecionar estratégias de divulgação
As hortas escolares são muito mais bem
Em que é que a comunidade pode ajudar?
sucedidas quando a comunidade está
“Procurar pessoas que possam contribuir
interessada e envolvida. E é uma boa ideia
para qualquer um dos seguintes aspetos –
envolvê-la desde o início no planeamento
Financiamento, Conhecimento, Trabalho
e discussão sobre a horta. Isso vai originar
ou Peso (isto é, influência).” um maior compromisso e uma distribuição
(Food Works Organization, 2004)
da carga de trabalho, bem como ajudar a
evitar erros e a estimular o interesse nas
atividades da escola.
Mas pode ser necessário convencer as pessoas. Tem de tornar os objetivos e princípios claros
para todos, desde o início. Acima de tudo, as pessoas devem ser capazes de ver claramente que a
horta se destina a beneficiar as crianças e a escola como um todo – fisicamente, psicologicamente
e pedagogicamente.
21
QUEM NOS VAI AJUDAR?
A. QUEM E COMO
Aqui estão alguns elementos da comunidade que podem estar interessados na horta escolar. Na
sua comunidade, qual deles poderia participar? Como poderiam contribuir?
Pais e familiares
Os pais e familiares vão interessar-se pelas hortas escolares
se conseguirem compreender o seu valor para os seus filhos.
Os pais, individualmente, podem atuar como voluntários,
ajudando no trabalho da horta. Os familiares podem servir
de mercado para os produtos da escola. Podem ajudar com os
trabalhos de casa das crianças sobre a horta, visitar a horta e
participar em palestras, demonstrações, feiras de alimentos,
festas ou apresentações.
O trabalho na horta pode até mesmo ser levado para casa,
com o acordo e ajuda das famílias. Por exemplo, se a escola não tem muito espaço, as crianças
podem aprender sobre horticultura na escola e criar as suas próprias hortas em casa. Ou podem
cultivar hortas em casa, seguindo o modelo da horta escolar.
O que os voluntários individuais podem fazer
Organizar visitas de campo ou um dia de limpeza da horta.
Construir um abrigo para a horta, uma vedação ou um muro.
Demonstrar técnicas de horticultura e de preparação de
alimentos.
Fornecer transporte, sementes, ferramentas e receitas.
Ajudar a cozinhar, cavar, retirar ervas daninhas e arbustos.
Conversar com as crianças sobre o que estão a fazer na horta.
Arranje tempo para dar a conhecer a horta ao maior número de famílias possível. Convide-as
a visitarem a horta e deixe as crianças mostrar-lhes tudo. Dê-lhes oportunidades para debater
sobre a horta e fazer sugestões. Ouça-as e faça uso dos seus conhecimentos e experiência.
Esforços conjuntos
Na nossa escola os pais algumas vezes
oferecem um dia de trabalho ao fim de
semana para limpar arbustos e árvores.
É-lhes oferecido uma refeição na cantina da
escola, bem como alguns produtos da horta.
Quando há trabalho pesado para fazer,
o gestor da horta organiza uma refeição
partilhada na horta. Toda a gente traz
qualquer coisa para comer e, quando o
trabalho na horta está pronto, junta-se toda
a comida e toda a gente come.
22
QUEM NOS VAI AJUDAR?
Alguns pais podem pensar que os seus filhos não devem fazer este tipo de trabalho. É melhor
lidar com esta atitude com cuidado, a longo prazo, dando a conhecer o estatuto do trabalho
hortícola. Participe também na horta, traga pessoas conhecidas localmente para apoiá-la, torne
a escola conhecida pela sua horta e garanta que as crianças gostam do que fazem e têm orgulho
nisso.
Alguns pais podem não participar
Mudar atitudes
porque simplesmente têm muito
que fazer, sejam eles executivos
“No Quénia, o trabalho manual é comparado a um
muito ocupados ou agricultores
castigo. Mas este preconceito está a mudar porque
cansados. Leve-os a participar
a nossa escola fez uma horta bem sucedida. As
na horta de forma muito simples
crianças adoram a horta. Elas comem os alimentos
– doando algumas sementes
que produzem e estão visivelmente mais saudáveis.
ou lixo doméstico para efeitos
Os pais felicitam-nos porque conseguem ver a
de compostagem, por exemplo.
diferença. A horta deu nome à escola. O Diretor
Qualquer contribuição pode
de Educação do Distrito traz visitantes para vê-la.”
funcionar como um compromisso.
(A. Choday, comunicação pessoal, 2003)
A comunidade
A sua comunidade local, tomada como um todo, certamente tem também muitos conhecimentos
sobre horticultura. Observe os recursos humanos da sua área, pois geralmente revelam um
manancial considerável de conhecimentos. (Cederström, 2002)
• Identificar hortas bem geridas perto da escola e obter a ajuda de horticultores. Estes
podem estar dispostos a mostrar às crianças a sua horta, a demonstrar técnicas ou a doar
sementes, plântulas ou estacas.
• Encontrar pessoas locais proeminentes que tenham hortas ou obtenham bons rendimentos
da horticultura. Peça-lhes que venham e conversem com os horticultores da escola, ou que
convidem um grupo de crianças a visitar as suas hortas. Isso vai elevar o estatuto da sua
horta aos olhos das crianças e famílias. Se estas pessoas forem antigos alunos da escola,
o efeito é ainda maior!
• Persuadir organizações juvenis como escuteiros e clubes desportivos a contribuirem na
limpeza da horta. Ofereça um elemento pedagógico e refrescos.
Pode ser possível colaborar com outros grupos comunitários envolvidos em projetos de
horticultura. Por exemplo, em alguns locais:
• as escolas oferecem parte do local da horta
escolar em troca de ajuda e apoio;
No norte do México, os responsáveis
•
grupos comunitários podem organizar projetos
de um projeto de horta escolar
com animais de capoeira no terreno da escola
convidaram
horticultores
locais
ou hortas ao lado da horta das crianças;
de sucesso para atuarem como
•
associações de mulheres que trabalham em
formadores e educadores na horta
hortas
podem assumir parte do papel do
escolar. No Bangladesh, um projeto
professor e mostrar às crianças o que fazer;
de horta escolar nomeou uma
•
a horta escolar é uma extensão de uma horta
residente da aldeia para gerir a horta e
comunitária;
num projeto o centro comunitário
recompensou-a com uma percentagem
providenciou
um terreno, um responsável pela
da produção.
(Cederstrom, 2002)
horta escolar e assistência técnica para a escola.
Espera-se que a comunidade possa aprender algo com a escola sobre a produção de bons alimentos,
produção biológica ou venda de produtos. Se as crianças levarem os seus conhecimentos para
casa, todos beneficiam. Mas seja cauteloso na tentativa de ensinar. Considere a comunidade
como uma fonte de conhecimento e reconheça as práticas locais que resistem ao teste do tempo.
23
QUEM NOS VAI AJUDAR?
Os funcionários da escola
Nas hortas escolares mais bem-sucedidas, todos os funcionários da escola estão interessados e
ajudam. Tanto docentes como não-docentes podem contribuir.
• O professor de Economia Doméstica pode aconselhar
sobre nutrição, higiene alimentar, preparação de
alimentos e conservação de alimentos.
• Professores de Estudos de Negócios podem dar
conselhos sobre vendas, comercialização e manutenção
de contas.
• Outro pessoal docente pode usar a horta na sua
disciplina. As hortas são observatórios com especial
valor para a ciência, matemática, estudos ambientais
e tecnologia, tal como constituem um bom estímulo
para a escrita.
• Os auxiliares, o pessoal da limpeza ou os jardineiros da escola devem ser envolvidos desde
o início. Eles conhecem bem o ambiente escolar, têm conhecimentos práticos e estão
sempre no local.
• Os cozinheiros devem naturalmente ser consultados (ver O serviço de refeições escolares, em
baixo).
Quando os alimentos são escassos, todos os funcionários
da escola ficarão contentes por terem direito a uma
A horta pode contribuir para
parte dos alimentos produzidos. No entanto, pode
a educação e para a equidade,
ser necessário estabelecer algumas regras básicas –
bem como para a agricultura.
por exemplo, aqueles que mais contribuem devem ter
direito a fatias maiores.
A indústria alimentar local
Os agricultores, os mercados e os centros hortícolas
estão muitas vezes disponíveis para dar informações,
conselhos e demonstrações de técnicas de horticultura,
venda, armazenamento e conservação de alimentos; para
contribuir com sementes ou emprestar as ferramentas;
ou permitir que as crianças os visitem e observem. Se
o serviço de refeições da escola utiliza produtos locais,
entre em contacto com os produtores, convide-os para
inspecionar a sua horta e aguarde pela retribuição do
convite. As lojas ou mercados locais podem proporcionar
sítios para a venda de produtos e aconselhar sobre
vendas e comercialização. Os vendedores locais podem
estar disponíveis para venderem os alimentos da horta.
O serviço de refeições da escola
Se houver um programa de alimentação escolar, o serviço de refeições da escola deve ser envolvido
na discussão de quais os alimentos que podem ser cultivados para melhorar a dieta das crianças.
Pode haver orientações nutricionais ou normas nacionais para as refeições escolares fornecidas
pelo Ministério da Educação ou pelo Ministério da Saúde. Se assim for, consulte-as.
Os cozinheiros da escola devem ser consultados sobre quais os alimentos fáceis de cozinhar
e o que é necessário para melhorar as refeições escolares. Eles sabem bem aquilo que as
24
QUEM NOS VAI AJUDAR?
crianças estão dispostas a comer, o que muitas vezes é
um problema quando se está a tentar mudar os hábitos
alimentares. Também podem fornecer cascas, fruta podre
ou ossos para efeitos de compostagem. Se tiverem uma
licença para a preparação de alimentos, podem mostrar
às crianças e respetivas famílias os cuidados a ter com a
higiene e preparação dos alimentos. Deve tentar incluí-los
em qualquer formação disponível.
Outros serviços públicos locais
Trabalhadores agrícolas locais, escolas práticas de agricultores ou agências ambientais podem
dar informações e conselhos técnicos e, possivelmente, formação sobre temas específicos. Deve
procurar envolver o serviço de saúde, que pode aconselhar sobre os valores dos alimentos, as
necessidades nutricionais das crianças e as orientações nutricionais para as refeições escolares.
É do seu interesse que as crianças sejam bem alimentadas e saudáveis! As autoridades locais ou
responsáveis pela água podem ajudar a construir um poço, instalar água corrente, aconselhar
sobre sistemas de irrigação ou ajudar a recolher as águas da chuva.
Juntar todos os setores
ONG, agências de ajuda ao desenvolvimento, patrocinadores, instituições sociais e grupos
religiosos
•Algumas ONG podem ser capazes de ajudar com recursos, materiais, informação,
aconselhamento e formação.
•Patrocinadores individuais (por exemplo, empresas locais) estão muitas vezes disponíveis
para fazer uma doação, se forem abordados com cortesia, entendam o projeto e obtenham
um pouco de publicidade favorável.
As instituições sociais locais e grupos religiosos chegam a um
vasto público. Pode-se recorrer a eles para trabalho voluntário
ou donativos (por exemplo, garrafas para armazenamento,
placas para sinais na horta e serradura para caminhos). São um
bom público para apresentações sobre a horta escolar e podem
espalhar a boa reputação da escola.
Meios de comunicação e publicidade
Isto inclui jornais locais, rádio e televisão. Também inclui
lugares onde os cartazes podem ser exibidos ou possam ser
feitas apresentações – por exemplo, a sala de professores, a
clínica local, o mercado, o cinema e os grupos locais. Eventos
regulares podem ser aproveitados para divulgar os resultados
da horta escolar (feiras de ciência, eventos desportivos ou dias
de entregas de diplomas nas universidades).
“As escolas primárias da região participam num concurso para escolher a melhor horta e
o melhor canteiro da horta. Os prémios são anunciados no dia da entrega de diplomas da
nossa universidade local. As crianças sobem ao palco para receber os prémios, vestem as
suas melhores roupas e ficam muito contentes. É um grande evento”.
(C. Ssekyewa, comunicação pessoal, 2003)
25
QUEM NOS VAI AJUDAR?
Apoio da comunidade
As ligações com as famílias e com a comunidade são apresentadas na tabela abaixo. Use-a para
refletir sobre o que a sua própria comunidade tem para oferecer.
APOIO E COLABORAÇÃO DA COMUNIDADE
Como envolver
a comunidade
Grupos
Aconselhamento
especializado
/ colaboração,
informação,
entrevistas e
demonstrações
Financiamento,
patrocínio de
prémios e elevar o
estatuto
Ajuda,
instalações,
ferramentas, lojas,
equipamento e
publicidade
Alcançado
através de artigos,
trabalhos de casa,
demonstrações,
feiras de produtos
e visitas guiadas
Pais e familiares
Comunidade e público
em geral
Funcionários da escola
Industria alimentar
local (ex. cozinheiros,
agricultores, lojas,
restauração e
comerciantes)
Cantinas escolares
Serviços públicos
(agricultura, saúde,
ambiente, autoridades
locais e hídricas, etc.)
ONG, agências de
desenvolvimento,
instituições sociais e
grupos religiosos
Meios de comunicação e
publicidade
B. GRUPO DA HORTA
Que tipo de grupo pode reunir pessoas para apoiar a horta? Isso depende das dinâmicas locais,
da relação da escola com a comunidade, de como as pessoas preferem trabalhar (por exemplo, em
grupo ou sozinhas), dos grupos já existentes (por exemplo, associações de pais e de professores,
conselho escolar) e de como trabalham, e das preferências pessoais do próprio líder da horta.
Aqui estão algumas das possibilidades. Qual seria melhor para a sua situação?
•Redes informais em que os responsáveis pela horta e as crianças mantêm contacto
pessoal com as pessoas que ajudam e são ativas. Isto funciona bem para os horticultores
que gostam de socializar.
•Um grupo Amigos da Horta que visita regularmente a horta, é convidado para eventos
na horta e reúne-se formalmente uma vez ou duas vezes por ano com as crianças e
professores para discutir como podem ajudar.
•Um Clube da Horta envolvendo crianças, professores e voluntários que se reúnem uma
vez por semana para trabalhar, para trocar ideias e socializar.
•Um grupo dos pais por turma que ajuda com as atividades da turma das crianças.
26
QUEM NOS VAI AJUDAR?
•Um comité formal, que se reúne
uma vez por mês ou a cada dois meses,
e inclui crianças, pais e representantes
da escola, comunidade, autoridades
locais, serviços públicos (saúde,
agricultura e educação) e o serviço de
refeições escolares.
•Relações especiais de trabalho
com grupos locais, como um grupo
de jovens agricultores, um grupo de
jovens, uma associação de agricultores
ou um clube hortícola.
Depois de ter encontrado o apoio da comunidade, o segredo é conseguir mantê-lo. Os apoiantes
da horta precisam de ser motivados tal como os alunos e os professores (e os horticultores).
Consulte algumas dicas na nossa seção sobre motivação (Capítulo 12).
C. QUÃO CONHECIDA É A HORTA?
Torne a horta conhecida fazendo alguma publicidade. Assim está a disseminar a boa horticultura
e a boa nutrição pela comunidade, a promover uma sensação de orgulho e a mostrar que a escola
está ativa e que se preocupa. As hortas são fáceis de ser divulgadas, porque:
•podem ser vistas (em visitas guiadas e demonstrações);
•têm produtos visíveis e comestíveis (que podem ser exibidos e dados a provar);
•são decorativas e dão origem a boas imagens (fotografias, desenhos, mapas e planos);
•são fáceis de compreender, tanto para crianças como para adultos.
Quando se der a conhecer a horta não se deve exagerar sobre aquilo que se pretende fazer, mas
também não deve esconder o que se está a fazer.
Junto de quem se deve divulgar?
•As famílias devem conhecer o plano da horta em geral, as atividades em curso, os produtos
e o lucro.
•O público em geral deve ver e ouvir o que está a ser feito na escola.
•O serviço de educação deve ser mantido informado.
•Os patrocinadores devem conhecer os resultados das suas doações.
Não faça todo o trabalho sozinho! Uma grande parte do trabalho de publicidade pode ser
realizado por crianças e ajudantes. As crianças em especial devem ser envolvidas na promoção
da horta.
Use esta lista para decidir qual das “estratégias de visibilidade” poderia
funcionar na sua situação.
Identidade da horta
•Deixar os alunos escolher o nome da horta e revelá-lo.
•Adotar um logótipo simples para a horta ou fazer um concurso para
escolher um. Ensinar as crianças a desenhá-lo. Colocá-lo num cartaz,
nas agendas das reuniões, nos livros escolares, nos trabalhos de casa das
crianças, nas embalagens da comida. Exibi-lo em eventos da horta.
•Tentar garantir que a horta tem boa aparência vista de todos os ângulos e não fica
escondida num canto.
27
QUEM NOS VAI AJUDAR?
Registos e exposições
•Garantir que existem fotografias ou desenhos de todos os eventos da horta.
•Designar uma pessoa para a tarefa de colocar todos os meses uma fotografia/cartaz/
notícia sobre a horta na escola ou em locais bem visíveis.
•Colocar cartazes sobre a horta na escola e em locais públicos com um apelo a voluntários.
•Conseguir o apoio dos jornais e das rádios locais para a divulgação da horta, dos eventos
realizados e das suas imagens (por exemplo, dando a conhecer os resultados de concursos).
•Mostrar os recursos angariados para a horta escolar através de um “termómetro de
recursos”.
•Organizar um arquivo ou anuário sobre a horta
para documentar a sua evolução. Este pode ser
mostrado aos visitantes e patrocinadores, bem
como às crianças e funcionários da escola. Incluir:
-Contextualização em relação à escola;
os terrenos escolares, os alunos e os seus
hábitos alimentares;
- A história da horta – como foi criada e
como foi a participação da comunidade;
- Aquilo que é produzido pela horta e como
isso tem sido desenvolvido;
- Textos feitos pelas crianças;
- Muitos desenhos e fotografias.
“Quanto dinheiro já angariámos?”
Visitantes
•Convidar o público para alguns eventos na horta – por exemplo, demonstrações sobre
como preparar os alimentos produzidos.
•Encorajar visitas à horta. Exibir um mapa da horta resistente ao tempo, que mostre às
pessoas onde devem ir e também um calendário da horta indicando atividades e culturas.
•Convidar pessoas importantes locais para visitar a horta e divulgar o evento.
•Pedir às enfermeiras e médicos da clínica que recomendem os produtos saudáveis da
horta.
Contactos
•Enviar para casa amostras de alimentos, bem acondicionadas e com rótulos descritivos
feitos pelas crianças.
•Pedir aos pais que contribuam com algo simbólico, para que se sintam envolvidos
(sementes, um balde ou uma planta?).
•Falar com bons horticultores locais. Explicar o projeto da horta e convidá-los a visitá-la.
Pedir-lhes que contribuam com conselhos durante o ano.
Lembre-se que os alunos podem fazer muito do
trabalho de divulgação
Todos aprendem melhor ensinando!
Por exemplo, os alunos podem:
•partilhar os trabalhos de casa sobre a horta
com as suas famílias e mantê-las informadas
sobre os eventos da horta;
•desenhar cartazes e preparar exposições e
apresentações;
28
QUEM NOS VAI AJUDAR?
•fazer registos pictóricos e escritos dos eventos (com desenhos, fotografias, planos e mapas)
e contribuir para o arquivo da horta;
•fazer letreiros e etiquetar as diversas partes da horta;
•ajudar nas demonstrações sobre a preparação de alimentos;
•conduzir visitas guiadas aos visitantes;
•manter o termómetro de recursos;
•escrever cartas para as escolas ou patrocinadores sobre a evolução da horta.
SUGESTÕES PARA A AÇÃO
• Pensar em contactos úteis no seio da comunidade. Quem estaria interessado? Como
poderiam ajudar? Fazer uma lista e contactar as pessoas.
•Decidir que tipo de grupo de apoio iria funcionar no seu caso, e configurá-lo.
•Ter um primeiro encontro com o grupo de apoio para discutir a importância de uma
horta escolar, os possíveis objetivos, o âmbito e o tamanho da mesma. Manter um breve
registo no arquivo da horta.
•Pensar em algumas formas de promover a horta na comunidade.
•Para referência futura, analisar os meios de comunicação locais para saber o que
imprimem/transmitem.
Resultados: - Lista de possíveis contactos na comunidade e patrocinadores;
- Grupo de apoio à horta;
- Ideias para a sensibilização da comunidade;
- Registos de reuniões.
Dicas para reuniões bem sucedidas
• Ter quem ajude a organizar a reunião.
•Encontrar um local confortável (na
horta, se possível).
•Reunir regularmente, mas não com
demasiada frequência.
•Fazer reuniões com poucas pessoas.
•Incluir as crianças e certificar que
participam.
•Dispor os participantes em círculo.
•Ter um quadro onde as ideias possam ser vistas por todos.
•Disponibilizar refrescos (vindos de fruta da horta, se possível).
•Ter qualquer coisa da horta em exposição.
•Tomar nota das decisões e ações acordadas. Ler as notas no final da reunião.
•Estabelecer redes – pedir a um participante regular que se mantenha em contacto
com um ou dois participantes.
•Terminar a reunião com uma nota de agradecimento e com a marcação de data
para a próxima reunião.
29
NOTAS
30
CAPÍTULO 3
PARA QUE SERVE A NOSSA HORTA?
Objetivos e princípios
Objetivos
• Rever princípios e prioridades
• Definir objetivos
• Definir uma missão
atitudes positivas
Aprender sobre
horta e nutrição
diversão
e jogos
crianças
saudáveis
competências
sociais
sensibilização
ambiental
educação
relaxamento
benefícios para a escola
e comunidade
As hortas escolares podem ter vários usos
e abordagens distintas, algumas práticas e
outras educativas.
marketing e receitas
Competências de sobrevivência
“As hortas são boas para as escolas porque
ensinam às crianças competências de
sobrevivência.” (S. Ncube, personal communication, 2004)
31
PARA QUE SERVE A NOSSA HORTA?
A tabela em baixo separa os objetivos práticos dos objetivos educativos.
À primeira vista, quais destes objetivos são prioritários e mais interessantes?
OBJETIVOS PRÁTICOS
Os objetivos práticos da escola são:
HORTICULTURA
Criar uma horta bem sucedida e
sustentável, através da utilização de
métodos de produção biológicos.
Fornecer um modelo de horta à
comunidade.
OBJETIVOS EDUCATIVOS
As crianças aprendem a:
Produzir plantas de forma segura e
sustentável, e a saber gerir as suas
próprias hortas.
Apreciar a horticultura e a ter atitudes
positivas para com a agricultura.
Falar com as famílias e membros
da comunidade sobre as práticas de
horticultura.
Produzir comida para a escola.
Produzir comida para si próprios.
Melhorar a dieta das crianças
recorrendo aos produtos da horta.
Melhorar a dieta e preparar refeições
saudáveis com os produtos da horta.
Melhorar os hábitos alimentares das
crianças.
Apreciar alimentos saudáveis e mudar
os seus próprios hábitos alimentares.
Vender os produtos hortícolas e obter
receitas para a escola.
Adquirir competências de negócio e
empreendedorismo.
Melhorar o ambiente da escola
(árvores, flores e caminhos, etc.)
Respeitar e ter interesse pelas questões
ambientais da escola.
AMBIENTE
Recolher água da chuva e águas
residuais; promover a ocupação do
espaço por insetos benéficos; prevenir
a erosão, etc.
Adquirir sensibilidade ambiental e
respeito pela natureza e pela gestão de
recursos naturais.
CURRÍCULO
ESCOLAR
Reforçar algumas áreas do currículo
escolar (ciências, ciências do ambiente
e economia familiar, por exemplo).
Perceber temas específicos através de
uma aprendizagem experiencial.
COMPETÊNCIAS
PARA A VIDA
Ajudar as crianças a sobreviverem e a
prosperarem no mundo.
Planear, tomar decisões, colaborar,
adquirir responsabilidades, explicar,
persuadir, etc.
ESCOLA E
COMUNIDADE
Juntar a escola, as crianças, as
famílias e a comunidade num desafio
comum.
Relacionarem-se com adultos de
diferentes formas e estar consciente das
práticas hortícolas na comunidade
NUTRIÇÃO
MARKETING
As hortas dão origem a receitas monetárias, alimentos e lições de marketing,
ciências e trabalho em equipa
A escola Nebiri é uma reserva de caça no vale do Zambeze, no Zimbabué. A horta tem
mangueiras, papaias, um limoeiro e áreas com tomateiros, couves e outros vegetais. Um
pequeno donativo permitiu a instalação de uma cerca elétrica alimentada a energia solar,
para manter o gado de grande porte fora da horta (apesar de não impedir os macacos). As
crianças trazem estrume de elefante e de búfalo para o compostor.
A horta permite a obtenção de dinheiro para a compra de equipamento escolar: a escola
vende os produtos no mercado local e às famílias a metade do preço. Os alunos mais
velhos preparam os alimentos e mantêm as contas. O professor principal é responsável
pela horta, mas o trabalho é organizado pela “equipa da horta” composta por quatro
alunos, que muda todos os meses. Os professores usam a horta como um recurso de
aprendizagem para a matemática, a biologia e as ciências do ambiente. (S. Ncube and L. Chinanzvavana, personal communication, 2004)
32
PARA QUE SERVE A NOSSA HORTA?
A. AS LIÇÕES DA EXPERIÊNCIA
Os objetivos da horta escolar podem mudar e desenvolver-se ao
longo do tempo. O que é importante é que os objetivos:
•sejam realistas;
•consigam um bom equilíbrio entre educação e produção;
•
apelem a todos (crianças, famílias, professores,
colaboradores da escola e serviço de refeições da escola);
• sejam discutidos e acordados pelos principais participantes;
•respeitem e protejam os direitos das crianças.
Algumas lições da experiência são:
Os objetivos são bem sucedidos se forem ao encontro do que as pessoas querem.
Evitar impor objetivos. Procurar saber o que as pessoas querem e tomar decisões a partir dessas
ideias.
A horta deve ser benéfica para as crianças e ser vista como tal.
A comida produzida pela horta será para as crianças, para a escola, e a educação deve ser uma
prioridade.
Fotografia: Roberto Faidutti
As hortas escolares podem fazer diferença na
saúde das crianças.
Podem:
•fornecer às crianças fruta e vegetais ricos em
nutrientes que fazem falta na sua dieta;
•mostrar às crianças como se produzem, se
preparam e se comem os alimentos;
•encorajar as famílias a produzi-los também;
•ajudar as crianças a perceberem o que
compõe uma boa dieta;
•ajudar as crianças a gostarem de comida
nutritiva, que se produz em casa;
•mostrar às crianças a ligação entre o que
produzem, o que comem e como se sentem.
As hortas escolares podem acrescentar valor nutricional e variedade às refeições na escola,
mas não podem alimentar toda a escola!
Para produzir comida suficiente para tal, as crianças teriam de trabalhar muitas horas. O que
não é ético nem educativo e certamente seria mal visto quer pelas crianças quer pelos seus pais. 1
O orgulho na escola em primeiro lugar.
Os projetos de hortas escolares mais robustos são aqueles que têm em especial atenção toda a
escola e o seu ambiente, bem como a própria horta.
Proporcionar receitas para a escola não é suficiente.
Gerar receitas pode ser uma função indispensável da horta, mas deve ser balanceada pelos
objetivos educativos. Vender a produção para ganhar dinheiro deve ter uma dimensão educativa.
1 - Colégios internos ou residências de estudantes – isto é, outros níveis de ensino e formação de professores – podem produzir mais do que
escolas normais. Algumas universidades agrícolas são virtualmente autossuficientes em alimentos.
33
PARA QUE SERVE A NOSSA HORTA?
As hortas escolares têm vários papéis na vida da escola e
da comunidade.
Deveriam ser espaços onde:
•é bom brincar, trabalhar e estudar;
•muitos projetos são desenvolvidos – por exemplo, estudar
insetos, construir mesas e medir a precipitação;
•as pessoas se conhecem – por exemplo, membros da
comunidade, pais, crianças, professores e cozinheiros;
•se realizam eventos – por exemplo, vender lanches,
encenar peças de teatro, ter demonstrações ou feiras
gastronómicas;
•o trabalho é exposto – por exemplo, arte, fotografias,
desenhos, mapas ou textos sobre a horta;
•todos aprendem, incluindo visitantes e professores.
Pode haver atitudes negativas em relação à horta.
A agricultura como ocupação e a jardinagem como atividade podem ser vistas como trabalhos
aborrecidos e de baixo estatuto. A escola pode trabalhar no sentido de alterar essas atitudes e
pode começar por discutir perceções e objetivos com todos os envolvidos.
Tentar relacionar visivelmente o trabalho na horta com o desempenho escolar através do trabalho
realizado na escola e nos trabalhos de casa: não se deve deixar a leitura e a escrita fora do
programa da horta!
Usar a horta ao longo do currículo escolar depende da situação.
Até que ponto pode a horta ser integrada no currículo escolar? Depende do tipo de temas
abordados (por exemplo, agricultura, ciências do ambiente, nutrição, estudos de negócio e
economia doméstica), de quão livres são os professores para estabelecerem os objetivos e se
os projetos inter-curriculares são habituais, etc. Os professores podem usar a horta de forma
independente para reforçar a ideia de que estão a trabalhar com os alunos, e a escola pode incluir
isto no seu programa de formação de professores.
“Educar a comunidade” requer cuidado
A escola deve-se certificar que sabe o suficiente
para ensinar a comunidade e de que comunidade
está preparada para aprender. Até lá, a escola
deve considerar consultá-la ao invés de educa-la
– por exemplo, as escolas encorajam as crianças a
relatarem em casa o que fazem na escola, convidam
as famílias a visitar a horta, criam um modelo de
horta e distribuem plântulas.
As escolas também devem aprender com a
comunidade e deixar claro que o estão a fazer.
B. OBJETIVOS PRIORITÁRIOS
Este manual baseia-se na experiência e promove um amplo conceito de hortas escolares. As
hortas escolares devem ser vistas principalmente como uma forma de promoção de hábitos
de alimentação saudável e boa aprendizagem. Não devem ser vistas como principais fontes de
alimentos ou receitas financeiras, e especialmente como um substituto do programa de refeições.
34
PARA QUE SERVE A NOSSA HORTA?
Este manual dá prioridade a:
•
cultivar para uma boa nutrição e educação
nutricional;
•
cultivar e aproveitar para aprender conceitos
relacionados com o negócio e com variáveis de
marketing;
•melhorar o ambiente escolar;
•envolver a família e a comunidade;
•praticar o modo de cultivo biológico;
•desenvolver competências para a vida.
Apresentam-se de seguida as razões pelas quais estes objetivos são tão importantes…
1. As hortas nas escolas são boas para a saúde e educação das crianças
Uma boa dieta é essencial para a educação. As crianças que não comem bem não crescem nem
aprendem bem. Estão frequentemente doentes, faltam às aulas e podem deixar de frequentar a
escola mais cedo. Têm menos oportunidades de conseguirem um emprego.
As hortas escolares não são apenas para alimentar, mas para promover uma melhor alimentação.
As hortas escolares podem melhorar direta e imediatamente a dieta das crianças. Podem fornecer
frutas e vegetais ricos em vitaminas e minerais, adicionar valor nutricional às refeições escolares,
aumentar a variedade (que é tão importante para a saúde e crescimento) e ajudar as crianças a
apreciarem e a desfrutarem desta variedade. Também podem aumentar a disponibilidade de
alimentos na “época da fome”. Melhorar a dieta desta forma pode criar alterações de longo prazo
nas práticas e atitudes, e dar origem à independência face a fontes externas.
Mas as crianças não devem apenas comer melhor; precisam de saber como comer melhor. A
escola é um cenário importante para aprender sobre alimentação e nutrição. Isto acontece em
contacto estreito com as famílias (que fornecem a maioria dos alimentos que as crianças comem).
Se a escola fornece refeições, está a ajudar a estabelecer hábitos alimentares. Pode fornecer água
limpa, saneamento e boa higiene e outras intervenções de saúde relacionadas com a nutrição,
como desparasitar e fornecer suplementos de vitamina A. As hortas escolares completam este
quadro ao ensinarem a criança a produzir comida, a colhê-la, a armazená-la e a processá-la.
§ A vossa horta irá colocar os alimentos em primeiro lugar? Vai colocar o ênfase na
nutrição e na educação para a nutrição?
2. As hortas escolares são boas para a aprendizagem
As hortas escolares são boas para aprender: são uma forma
altamente prática e direta de educação, onde as crianças podem ver
os resultados das suas decisões e ações.
Aprender a produzir alimentos não só melhora a saúde, como também
pode fornecer uma forma de vida e um aumento da autossuficiência.
Nos locais onde existam muitos órfãos a horta escolar pode ajudar
a dar às crianças competências agrícolas e valores que os pais já não
lhes podem passar.
Além de competências práticas na agricultura e horticultura, as
hortas são um laboratório vivo para o estudo dos temas ambientais e ciências da vida.
Para as crianças a horta é um local excitante, repleto de coisas para ver, descobertas para fazer
e sucessos para celebrar. A “Horticultura educativa” acompanha o ano escolar, é atrativa para
alunos e professores e não precisa de muito espaço ou dinheiro. No entanto, precisa de tempo!
§ A vossa horta vai fazer da aprendizagem uma prioridade?
35
PARA QUE SERVE A NOSSA HORTA?
3. As hortas escolares ensinam competências de negócio
Muitas escolas usam as suas hortas e o trabalho das crianças
para gerar receitas para a escola. Este é um objetivo prático
com valor e por vezes vital para a escola e para as crianças.
Mas o beneficio é multiplicado se a atividade comercial
também for tratada como um exercício educativo. Alguns
estudantes de áreas rurais irão fazer a sua vida a partir da
agricultura. Muitos outros esperam complementar o seu
rendimento de outras ocupações, cultivando por dinheiro.
Outros vão iniciar um pequeno negócio não relacionado
com agricultura. Todos eles precisam de conhecimentos de
base de negócio, competências de negócio e, acima de tudo,
experiência prática. Estas competências podem ser adquiridas de forma indolor e com pouca
despesa através da horta escolar, que é uma excelente introdução prática à atividade comercial
para os alunos mais velhos.
§ O estudo de atividades de negócio faz parte do currículo? A horta pode ser usada para
criar competências práticas de negócio?
4. As hortas escolares melhoram o ambiente
O respeito pelo ambiente começa em casa e também na
escola. A escola tem elementos do ambiente natural,
do ambiente construído e do ambiente social: terra,
plantas e árvores, insetos e vida selvagem, sol e sombra,
abastecimento e saneamento de água, caminhos e vedações,
edifícios e abrigos, sítios para recreação e estudo, vida
social e contactos com o mundo exterior. A consciência
das crianças em relação aos vários ambientes e a forma
como aprendem a tratá-lo vai ajudá-las a crescerem como
adultos responsáveis. Projetos que melhorem o espaço da escola criam consciência e orgulho, e
aumentam a reputação da escola junto da comunidade. Mesmo pequenas melhorias devem ser
uma parte do currículo da horta em cada ano letivo.
§ Há espaço de melhoria na escola? Pode ser parte do programa da horta escolar? Será
dada prioridade?
Comunidade e escola trabalham juntas
No Burkina Faso, um projeto de horta escolar teve uma forte influência na comunidade e
vice-versa. Uma comunidade de mulheres trabalhadoras ajudou as escolas a estabelecerem
as hortas escolares para produzirem alimentos ricos em vitamina A. Alguns destes (por
exemplo, cenouras e batata doce laranja) eram alimentos novos no local – foram primeiro
consumidos pelas crianças e depois levados para casa e experimentados. Muitas hortas
caseiras começaram por imitação e agora as pessoas estão a produzir e a comer muito mais
vegetais. Com o aumento do consumo de vitamina A, existem menos casos de cegueira
noturna. Em algumas hortas caseiras estão a experimentar alimentos (por exemplo, folhas
de tomateiro) que não foram promovidos pelos trabalhadores comunitários.
(Sifri et al., 2003)
36
PARA QUE SERVE A NOSSA HORTA?
5. A hortas escolares ajudam e são ajudadas
pela família e comunidade.
A família e a comunidade podem ser envolvidas no
planeamento, aconselhamento, diversão e aprendizagem
dos projetos da horta escolar, bem como a dar ajuda
prática, perícia, apoio e patrocínios. O valor educativo
da horta é extensível à comunidade sob a forma de
espaços de demonstração, visitas, produtos, trabalhos
de casa das crianças, exposições, dias abertos e alguma
cobertura mediática.
§ A escola irá envolver-se com as famílias e a comunidade? Como?
6. As hortas escolares são boas para a saúde
As hortas biológicas conservam o solo, protegem o ambiente
e trabalham com a natureza e não contra ela. É um método
de produzir alimentos que depende dos recursos naturais da
terra, como o solo, o sol, o ar, a chuva, as plantas, os animais
e as pessoas. Usa métodos naturais para manter o solo
fértil e saudável e controlar insetos, pestes e doenças. Pode
produzir resultados menos rápidos do que na agricultura
convencional, que usa fertilizantes e pesticidas artificiais,
Cobrir o solo
mas a longo prazo é mais saudável, mais económico e mais
sustentável. Os métodos biológicos ajudam a manter os recursos hídricos limpos e livres de
químicos. São também mais saudáveis para as crianças, pois não há o perigo da ingestão de
químicos. Ao nível comercial é tendencialmente mais rentável, já que cada vez mais pessoas
procuram produtos biológicos. Os métodos biológicos que aconselhamos:
•ter canteiros elevados permanentes, que praticamente não precisam de ser cavados;
•fazer a rotação de culturas;
•usar fertilizantes naturais como composto, adubo verde e estrume animal;
•alimentar os animais com produtos da horta;
•usar variedades locais de plantas e tantas variedades quanto possível;
•conservar água cobrindo o solo, utilizando rega gota-a-gota e as águas residuais;
•usar métodos naturais de controlo de pragas que evitam o uso de inseticidas e pesticidas
artificiais.
No anexo Notas de Horticultura encontra mais informação sobre agricultura biológica.
§ A escola pode adotar práticas de agricultura biológica? Vai ao encontro das expectativas
da comunidade? Como vão ser explicadas às crianças?
7. As hortas escolares promovem competências para a vida: as crianças
crescem com a horta
As “competências para a vida” são capacidades pessoais e
sociais como a gestão de tarefas, planeamento e organização,
responsabilidade, trabalho em equipa, compreender o que
se está a fazer, explicá-lo, ter orgulho e aprender com a
experiência. Incluir as competências para a vida no currículo
da horta significa dar tanta atenção ao “crescimento das
crianças” como ao crescimento das plantas. Afeta todas as
atividades e abordagens. Por exemplo:
37
PARA QUE SERVE A NOSSA HORTA?
•Se o que se pretende é apenas produzir, então é mais eficiente simplesmente dizer às
crianças o que têm de fazer. Mas, se o que se pretende é que as crianças decidam o
que vão produzir e compreendam o que estão a fazer, será despendido muito tempo em
discussões, explicações, observação e tomada de decisões.
•A forma mais rápida de produzir composto é fazer uma grande pilha de compostagem.
Mas se é suposto as crianças aprenderem a fazê-lo e terem um sentimento de orgulho no
que estão a fazer, é melhor criar pequenas pilhas, uma para cada grupo.
•Caso esteja interessado na produção, então os erros e as discussões das crianças serão
vistos como atrasos no plano de ação. Se, contudo, está interessado no fomento de
competências para a vida, estas são oportunidades para discussão e fazem parte do
processo de aprendizagem no desenvolvimento social e pessoal.
§ As competências para a vida serão um dos grandes objetivos da horta?
C. MISSÃO
Quando existir uma ideia dos principais objetivos da horta escolar, esta deve ser registada como
uma missão geral. Isto pode ser discutido pelos representantes da escola, pais, crianças, grupo da
horta e patrocinadores, entre outros. Há exemplos na caixa que se segue.
MISSÃO
OBJETIVOS DE UM PROJETO DE HORTA ESCOLAR
PARA CINCO ESCOLAS NO EQUADOR RURAL:
•Desenvolver a compreensão das crianças em relação
à produção de vegetais;
•Aumentar o interesse das crianças por uma dieta
mais variada;
•Ajudar as crianças a aprenderem a produzir vegetais;
•Produzir alimentos apreciados pela comunidade e
adaptados ao clima local;
•Dar oportunidade às crianças de consumirem os vegetais que produziram (ao
pequeno almoço na escola);
•Encorajar as crianças a adquirirem atitudes de cooperação, responsabilidade,
autoestima e autoconfiança, motivação e valor do trabalho. (Fonte: Chauliac et al., 1996)
OBJETIVOS DA INICIATIVA URBANA DE NUTRIÇÃO em Filadélfia Oeste (EUA)
As nossas hortas escolares promovem a educação em nutrição, a agricultura biológica
sustentável, o empreendedorismo e o embelezamento do bairro. Os nossos objetivos são:
•Criar e manter um currículo interdisciplinar que se concentra em melhorar a saúde
da comunidade;
•Melhorar o estado nutricional e de saúde, aumentando o consumo de frutas e
vegetais em comunidades de baixos rendimentos;
•Melhorar o ambiente urbano através de hortas escolares;
•Facilitar projetos de promoção da saúde da comunidade com base na escola.
Promover o desenvolvimento socioeconómico através de um currículo empresarial que
inclui atividades de desenvolvimento de negócios. (UNI, 2001)
Há limites naturais para todas as ambições! É necessário pedir conselhos e discutir o que é
viável. Deve começar em pequena escala e melhorar a horta passo a passo. Todos os anos pode
ser adicionado um novo elemento. E as ambições podem crescer com a horta.
38
PARA QUE SERVE A NOSSA HORTA?
SUGESTÕES PARA A AÇÃO
•Decidir os objetivos prioritários da horta escolar provisoriamente.
•Elaborar uma declaração de missão para a horta escolar, mostrando os objetivos e
interesses principais.
•Discutir essa declaração com alunos, pais, diretor e colaboradores da escola, grupo da
horta, alunos e pessoas externas interessadas. De seguida, revê-la e torná-la pública.
•Descobrir como os métodos biológicos são tidos em consideração no local.
•Tomar uma decisão preliminar sobre o tamanho e abrangência da horta (atenção: começar
pequeno!).
Resultados: Uma declaração de missão.
Dicas e ideias
•Ensinar as crianças a explicar o cartaz “Crescer com a horta” a outras crianças,
pais e visitantes no final do Capitulo 1.
•As crianças podem ilustrar a declaração de missão e exibi-la na escola.
NA SALA DE AULA
Começar pelo início
Muitas aulas podem ser dadas antes do trabalho na horta começar. Podem
ser iniciadas discussões com os alunos sobre os objetivos e usos da horta, dar
informação básica sobre as plantas, solo e jardinagem, apresentar ideias sobre
boa jardinagem e ajudar as crianças a manter registos das atividades na horta.
1. Devemos ter uma horta? Os alunos discutem sobre a possibilidade de terem uma horta na escola.
Objetivos
Os alunos tornam-se conscientes das utilizações da horta e dos aspetos positivos,
reconhecem o seu potencial papel, discutem as razões para ter uma horta na escola e sentem-se
motivados para começar.
Atividades Os alunos discutem as hortas que conhecem, apresentando
palavras e imagens do que está a ser discutido: o que produzem, o que
acontece às colheitas, que outras coisas existem nas hortas (torneiras
e vedações, por exemplo) e para que servem. Descrevem trabalhos de
horticultura que conhecem e discutem o que gostariam de fazer na horta,
registam as suas ideias e mostram as palavras e imagens.
2. Do que gostam as plantas? Uma lição fundamental para todos os aspetos do estudo da
horticultura e da natureza.
Objetivos Os alunos tornam-se conscientes das necessidades
das plantas e identificam as necessidades de algumas plantas em
particular.
Atividades Os alunos encontram plantas doentes e saudáveis,
descrevem-nas e registam as diferenças. Depois imaginam que
são plantas, com raízes (pernas) e folhas (dedos) e respondem às
questões:
•Do que gostam as tuas raízes? De muito espaço? De estarem
muito apertadas? De estarem bem fixas? Molhadas? Secas?
39
PARA QUE SERVE A NOSSA HORTA?
•Do que é que gostam as tuas folhas? Escuro? Luz? Ar livre? De abanar ao vento?
•Do que é que a tua planta gosta? Muito espaço? Ervas daninhas grandes perto de si? Boa
comida todos os dias? Bichos e insetos (alguns são amigos outros inimigos)?
As crianças especulam sobre as razões pelas quais as plantas estão doentes e não saudáveis, e
depois encenam uma mímica em que as jovens plantas são ameaçadas por perigos e são salvas
por crianças.
3. Começar pelo solo As crianças olham o solo de perto.
Objetivos Os alunos distinguem solo superficial e subsolo,
reconhecem bom solo através do toque e do aspeto, e tornam-se
conscientes de todas as componentes do solo.
Atividades No espaço exterior da escola, os alunos cavam um
buraco para observarem o solo superficial e o subsolo, depois
observam amostras de solo rico e pobre, respondem a perguntas
sobre ambos e aprendem o lema “o bom solo é húmido, escuro,
friável e cheio de vida”. Em folhas de papel dividem a amostra de
solo nas diferentes componentes, em quatro partes: o que é proveniente de plantas, o que é de
animais, o que está vivo e “outros”… E aprendem a verificar a existência de matéria orgânica.
Também fazem experiências no sentido de perceberem que o solo contém ar (colocando a
amostra de solo dentro de água) e água (cobrem a amostra com um prato e deixam ao sol).
4. Qualidade do solo Experiências simples para investigar a
qualidade e a capacidade de drenagem do solo.
Objetivos Os alunos compreendem a estrutura do solo e a
água
sua importância.
Atividades Os alunos discutem sobre que componentes do solo
argila
contribuem para: permitir a entrada de ar, água e raízes no solo,
manter a superfície macia, providenciar alimentos essenciais para
limo
as plantas, dissolver nutrientes, manter o solo no sítio, manter as
areia
plantas firmes, permitir que animais e bactérias estejam vivos,
reter água e ajudar à sua drenagem. Identificam o tipo de solo que
têm na horta da escola (argila, limo ou areia) através dos sentidos. A qualidade de solo é testada:
fazem um “batido” com o solo e com água e deixam em repouso durante dois dias até que a
areia, o limo e a matéria orgânica sedimentem (as proporções ideias são quatro doses de argila,
quatro de limo, duas de areia e cerca de 5 % de matéria orgânica). Testam a drenagem cavando
um buraco, enchendo-o com água e deixando que drene, enchendo novamente e cronometrando
quão rápido a água é drenada com um pau indicador de medida (o ideal deverá ser de 6 a 10 cm
por hora). Finalmente, reconhecem que adicionar composto é a forma de melhorar a drenagem
do solo.
(Experiências sugeridas por Guy et al., 1996.)
5. Sementes e germinação Esta aula combina ciência com um
lanche saudável.
Objetivos Os alunos compreendem a natureza das sementes
e como germinam, aprendem a fazer germinar rebentos
comestíveis, a comê-los e a apreciá-los.
AtividadesOs alunos observam sementes e discutem a que
plantas correspondem. Para fazerem germinados, colocam as
sementes (por exemplo, alfafa, centeio, brócolos, aipo, lentilhas,
40
PARA QUE SERVE A NOSSA HORTA?
feijões, abóbora, girassol e trigo) de molho durante um dia, retiram a água, colocam tudo numa
jarra de vidro, cobrem com um pano e colocam-nas num local escuro e quente da sala de aula.
Os alunos preveem assim o que irá acontecer. Duas vezes por dia enxaguam as sementes com
água fria, observam o que está a acontecer e comparam com as previsões. Depois das sementes
germinarem, expõem-nas à luz durante um dia ou dois até ficarem verdes, e de seguida comemnas – com cerimónia! Os alunos repetem a experiência em casa e explicam-na às suas famílias.
6. O cultivo de plantas Esta lição fornece uma visão geral do
ciclo de vida das plantas, em particular das hortícolas.
Objetivos Os alunos tornam-se mais conscientes de como as
plantas são cultivadas e reforçam a sua relação com o ciclo de
vida das plantas.
Atividades Os alunos especulam sobre o que acontece depois
das sementes germinarem. Observam plantas em diferentes
estágios de desenvolvimento (plântulas, planta em crescimento,
planta em floração, planta a frutificar e planta com semente),
A flor da alface
colocam-nas por ordem e procuram outros alunos na escola para
que identifiquem cada categoria. Depois aplicam estas categorias aos produtos que conhecem
bem, aqueles que estão a planear cultivar, decidindo em cada caso o que se vai colher: folhas,
raízes, fruto ou semente.
7. Agricultura biológica A agricultura biológica é mais
saudável para as crianças, para as plantas e para o ambiente.
Objetivos Os alunos aprendem a melhorar as condições
de crescimento das plantas através de métodos naturais.
Atividades Os alunos encontram uma “planta triste”,
dão-lhe um nome e discutem como podem melhorar a vida
da planta em relação às seguintes questões: Tem espaço e luz
suficiente? O solo está demasiado duro/seco/húmido? Tem
solo rico para se alimentar? Está a ser atacada ou comida? Como é que podemos continuar
a ajudá-la a crescer? Adotam a resposta mais apropriada, criam uma etiqueta onde colocam
nome, data, diagnóstico e ação curativa, e monitorizam-na durante as duas semanas seguintes.
As crianças mais velhas continuam o processo conhecendo abordagens biológicas (por exemplo:
o que é cobertura do solo e qual o objetivo? É bom usar fertilizante? De que tipo? Que vermes e
insetos são benéficos para o jardim? (ver Agricultura Biológica no anexo Notas de Horticultura).
8. O arquivo da horta Registar a vida da horta reforça a aprendizagem e aumenta a motivação.
Objetivos Os alunos são motivados a manter registos dos eventos e atividades da horta,
aprendem como fazer um registo documental e ganham consciência da sua importância.
Atividades O professor indica alguns “documentos da horta” conhecidos (por exemplo:
fotografias, mapa, desenhos). Os alunos organizam-nos por ordem cronológica, sugerem títulos,
legendas e datas para cada um deles e nomeiam alunos para rotular os documentos. O professor
mostra como arquivar os documentos no Arquivo da Horta e pede aos alunos para os arquivarem
um a um. Os alunos discutem o que vão colocar no arquivo (o melhor trabalho? Fotografias?
Comentários dos visitantes?) e onde o guardar para que fique seguro. Finalmente discutem o que
deve estar na capa e na primeira página e nomeiam colegas da turma para fazerem a caligrafia, a
imagem para capa, etc. São identificados voluntários que se comprometem a explicar e a mostrar
o arquivo a alunos ausentes.
41
NOTAS
42
CAPÍTULO 4
POR ONDE COMEÇAR?
A sensibilização ambiental
Objetivos
• Mapear as instalações da escola e o local da horta
• Sensibilizar para o ecossistema
• Planear melhorias para as instalações da escola
Há imenso que fazer antes de iniciar a horta. Aqui estão quatro atividades de sensibilização
ambiental. É aconselhável realizá-las como ponto de partida:
•Cartografar o terreno da escola e o local da horta é uma ação
que promove a observação e ajuda ao posterior planeamento.
•Lançar um “projeto ambiental” melhora o terreno da escola
e chama a atenção sobre ele.
•Olhar para os espaços verdes existentes, animais e plantas
aumenta a consciência das crianças para o ecossistema.
•Começar uma pilha de composto reforça o entendimento
sobre o solo e a reciclagem, e prepara o solo em tempo útil
para a temporada de horticultura que se seguirá.
43
POR ONDE COMEÇAR?
A. FAZER MAPAS
1. Mapear o terreno
recreio
estrada
horta
berma
Pode começar por pedir
aos alunos que façam
mapas esquemáticos de
todo o terreno da escola,
torneira
linhas
dentro do que for possível
elétricas
e de acordo com a idade.
escola
As crianças mais novas
podem fazer desenhos
portão
casas de banho
“a olho”, ao passo que os
entrada
caminho
alunos mais velhos podem
tirar medidas e fazer uma
casa de
pátio
ferramentas
abordagem realista (talvez
como parte da aula de
jardim
matemática). O professor
vedação
também deve fazer um
esquema. Um bom mapa
ou imagem desperta a atenção de quem o faz, irá ajudar nas apresentações do projeto, palestras
ou pedidos de apoio. Pode ser apresentado às crianças, aos pais, a patrocinadores, ao grupo da
horta e às autoridades locais. Serve como uma base de discussão sobre o que é necessário fazer
e quanto irá custar. E também aumenta a moral quando é possível comparar as imagens do
“antes” e do “depois” no fim de um ano de trabalho.
O mapa deve mostrar as principais características do terreno – por exemplo, edifícios escolares
e instalações, árvores e arbustos, vasos, caminhos, estradas principais, portões, caixotes do
lixo, abastecimento de água e linhas elétricas. Deve-se etiquetar tudo: é um bom exercício de
aprendizagem para os alunos e ajuda outras pessoas a entenderem o mapa. Será bom pedir às
crianças para selecionarem os mapas a expor e colocar cópias no Arquivo da Horta.
caixote
do lixo
O local da horta
Se existem várias localizações possíveis para a horta, devem ser marcados todos os locais e usar
o mapa para discutir e decidir onde deverá ficar. Idealmente a horta deve ser:
•Ao nível do solo;
•Longe das principais estradas;
•Visível das salas de aula (e próxima, se possível);
•Facilmente vista por visitantes.
Será que tudo isto é possível? Se existirem alternativas, deve abrir o debate sobre onde colocar a
horta. Consultar as crianças, os colaboradores, os pais e alguns horticultores experientes.
2. Mapear e descrever a horta
Antes de iniciar os trabalhos de maior importância, também é boa ideia fazer uma descrição
completa do local proposto para a horta, com uma fotografia, desenho ou mapa esquemático
(os alunos conseguem habitualmente fazer isto), como sugerido para a totalidade do terreno
no Capítulo 4. O mapa deve mostrar os pontos cardeais e estar legendado com a informação
apropriada, como no esquema ao lado.
44
POR ONDE COMEÇAR?
Dois locais para a horta
a
ad
tr
es
caixote
do lixo
casas de
banho
escola
N
E
O
riacho
S
arbustos
vedação
O
E
S
da
est
ra
caminho
Principais tarefas necessárias: Limpar o terreno
de pedras – guardar as pedras para muros. Cavar
o solo e incorporar adubo verde. Trazer água do
rio (bomba manual e cano?). Vedar por causa das
cabras.
Notas: O solo é argiloso, precisa de arejamento/
drenagem/húmus. Existe apenas água para beber
e lavar as mãos – é necessário água extra para a
horta.
torneira
escola
N
Notas sobre o local da horta: As cabras comem
as plantas. O solo é fértil, mas nunca foi cultivado:
muito duro. Precisa de muita matéria orgânica.
Existe muita água, mas tem de ser carregada para
um ponto mais alto.
Esboço do local para a horta em ...................
(àrea urbana) Tamanho ........... (pequeno)
caixote
do lixo
casas de
banho
Esboço do local para a horta em ....................
(àrea rural) Tamanho ........... (grande)
Principais tarefas necessárias: Manter os
arbustos para haver sombra à tarde. Encontrar
abastecimento alternativo de água (recolha do
telhado?). Lavrar e enriquecer o solo.
casas
O mapa deve mostrar:
•Terreno (pedras, rochas, declives, montes, buracos, etc);
• Vegetação (árvores, arbustos, plantas, ervas) e qualquer outro elemento (lixo, por exemplo);
•Vedações, sebes, caminhos;
•Animais existentes na vizinhança;
•Fontes de água;
•Outras estruturas (abrigos para as ferramentas, por exemplo).
Os alunos que tenham efetuado as lições “Começar com o solo e qualidade do solo (Capítulo 3)
poderão adicionar notas sobre o solo.
B. ESCOLA VERDE
Enquanto a equipa da horta está a pensar no local e nos apoios, pode assumir a liderança no
sentido de incentivar a escola a olhar para o terreno como um todo. Para melhorar o local não será
necessário muito trabalho e pode promover a sensibilização ambiental, melhorar os equipamentos,
motivar, envolver a comunidade e dar à escola boa reputação. Uma abordagem positiva de toda
a escola às questões ambientais cria uma atmosfera favorável para o desenvolvimento da horta.
45
POR ONDE COMEÇAR?
Pode ser sugerido à escola e à associação
Escola Cintura Verde
de pais e professores que pensem em
Gangadhar Bidyaniketan é uma escola
projetos prioritários para a escola em
secundária rodeada de campos alagados
termos ambientais. As questões que se
na Índia. Durante a estação das chuvas (…)
seguem podem ser discutidas com os
estudantes e professores tinham de andar
alunos, colaboradores da escola e pais,
dois quilómetros na lama e na água para
usando o mapa da escola para referência
chegar à escola. No verão não havia água e
e complementado com a aula Ideias para a
as crianças tinham de levar garrafas para a
Escola (ver o fim deste capítulo).
escola. Não havia uma única árvore na zona.
•Os espaços verdes da escola têm
A escola decidiu fazer alterações. Cada
bom aspeto? Como se poderiam
aluno concordou em plantar e cuidar de
melhorar? (árvores, entrada, flores,
uma árvore. Ao escolherem cuidadosamente
arbustos, sebes, erva, divisão das
a localização, criaram uma cintura verde à
áreas, arte exterior, limpar ou
volta da escola. Com a ajuda de uma ONG
esconder lixo)?
local, as pessoas da aldeia construíram uma
•
Existem todas as estruturas
estrada e um tanque para água no local da
necessárias para a saúde e uma
escola. Agora a escola tem bastante água
alimentação saudável (por exemplo,
potável e usa a restante para regar vegetais
casas de banho, lavatórios, caixotes
e flores… A terra que era barrenta e salobra
do lixo, cozinha, água potável,
é agora verde e colorida.
mesas para as refeições, caminhos,
(Pattanaik, 1998)
cadeiras, abrigos para a chuva, um
local para a venda dos produtos da
horta)?
•É um bom sítio para brincar, descansar, conversar e estudar? De que é que precisa
(cadeiras, sombra, áreas para refeições, um pátio, baloiços, zona para eventos, árvores
para subir, uma casa de brincar, uma casa na árvore, um pátio para reuniões ou eventos)?
•Existe lugar para animais selvagens (habitats para animais selvagens, um lago ou uma
casa para pássaros, por exemplo)?
•Qual destas questões é a mais prioritária? Qual ou quais podem ser abordadas pelos
alunos?
Algumas ideias para projetos “verdes”
possíveis:
•Criar zonas para brincar, zonas de
estudo, zonas de lazer;
•Plantar árvores de sombra;
•Plantar sebes;
•Plantar relva ou cobertura de solo;
• Fazer bancos e mesas para as refeições,
para plantar em vasos, para escrever
os registos da horta;
•Criar um forno de exterior;
•Plantar e manter plantas ornamentais,
arbustos aromáticos, arbustos perenes;
•Fazer esculturas com lixo;
•Fazer hortas/jardins especiais (jardim de aromáticas e jardim seco, por exemplo);
•Cultivar plantas que têm várias funções (melhorar o solo, produzir comida, medicamentos
ou madeira para combustível ou construção);
•Fazer sinalética à prova de água para todos os projetos da horta.
46
POR ONDE COMEÇAR?
Melhorar os espaços verdes
As figueiras da Índia são
ótimas sebes vivas. As
suas raízes seguram o solo,
produzem ótimos frutos e
têm um ar atrativo.
As árvores de Neem
são bonitas, dão
sombra durante o ano
inteiro e fornecem
um inseticida natural.
Que mais podíamos
querer?
Nota: Começar a sensibilizar a escola para pensar em melhorar o seu ambiente. Mas é preciso
deixar os projetos ambiciosos para a escola para outros funcionários da mesma. A horta já é
bastante exigente!
C. TER UMA VISÃO VERDE
Antes de iniciar grandes obras na horta, é preciso ter em mente que as atividades que irão decorrer
vão interromper um padrão de vida existente. A natureza estava instalada e a “trabalhar” no
local. Antes de serem efetuadas alterações ao que já existe para criar a horta, pode pedir-se
às crianças para observarem atentamente (ver principais notas das lições Auditoria Ecológica,
Cidadãos da Horta, Insetos e outros no final deste capítulo).
Esta atividade irá iniciar os alunos na ideia de ecossistema e interdependência dos sistemas
vivos, e irá ajudá-los a entenderem a abordagem à produção biológica na horta. Irão valorizar
o hábito de observar insetos, plantas e solo, o que poderá mais tarde ser usado na patrulha da
horta. Os resultados destas inspeções podem ser adicionadas ao Arquivo da Horta.
D. INICIAR PILHAS DE COMPOSTO
Caso se planeie usar composto na horta, é necessário
preparar as respetivas pilhas com antecedência (ver
Composto no anexo Notas de Horticultura e as duas
lições sobre composto no final deste capítulo).
Preparar o composto reforça o entendimento
das crianças sobre o solo e os ciclos naturais da
vegetação, introduz a ideia de reciclagem de
resíduos e pode ajudar a iniciar a participação das
famílias com contributos para a horta. É necessário
tomar as seguintes decisões: será uma grande pilha
de composto ou várias pilhas pequenas, onde serão
colocadas? O que será utilizado para composto? As
famílias podem ajudar...?
47
POR ONDE COMEÇAR?
SUGESTÕES PARA A AÇÃO
•Fazer e mostrar um mapa do terreno da escola.
•Abrir o debate sobre onde deve ser a horta (caso haja escolha).
•Desenhar o local da horta.
•Sugerir que a escola discuta as necessidades prioritárias e vontades para o terreno da
escola com os colaboradores, o grupo da horta, as crianças e os pais.
•Antes de criarem a horta, as crianças serão encorajadas a estudar o ecossistema existente.
•Trabalhar com os alunos para dar início às pilhas de composto.
Resultados: Mapa do terreno da escola e horta, pilhas de composto.
Dicas e ideias
•
Fazer uma exposição dos mapas, desenhos e
fotografias do terreno (tudo efetuado pelos alunos).
•Fazer uma “maqueta de barro” do terreno, no local,
e deixar secar à sombra.
•Para inspiração, consultar catálogos de sementes (de
empresas de sementes). Visitar jardins e hortas com
os alunos.
•Pedir contributos (materiais e mão de obra) para a
pilha de composto e organizar as crianças de forma a que tragam material de casa
num determinado dia da semana.
• Organizar grupos para adotarem a sua pilha de composto e fazerem uma sinalização
ou bandeiras para cada uma das pilhas.
NA SALA DE AULA
Pontos iniciais
Estas aulas têm o objetivo de aumentar a consciência ambiental das crianças. As
crianças observam de forma muito próxima o ecossistema existente e o papel
dos insetos. É introduzido o tema da compostagem e a ideia de reciclagem de
resíduos, e as crianças sugerem ideias para melhorar o terreno da escola.
1. Auditoria ecológica Observar o jardim da natureza.
Objetivos
Os alunos tornam-se conscientes do ecossistema
existente, da sua diversidade e interdependência e reconhecem
que é um habitat para muitas formas de vida.
Atividades Na sala de aula, os alunos abordam a horta de
diferentes pontos de vista: (1) Voar. Estão a voar devagarinho
sobre o sítio – o que é que veem? Que tipo de terreno? (2)
Aterrar. Estão a aterrar numa planta. O que é? De que é que
vive? O que é que vive nela? O que é que produz? Dá abrigo?
(3) Rastejar. Encolhem para o tamanho de um escaravelho. O que é que existe à sua volta? O
que é que se passa? O que vive aqui? Que comida existe? (4) Esburacar. Fazem uma toca no solo
como as minhocas. O que é que sentem? Quem vive lá? Quem come o quê?
Depois, os alunos vão para a horta, repetem o exercício e relatam as suas observações.
(Adaptado de Kiefer & Kemple, 1998)
48
POR ONDE COMEÇAR?
2. Cidadãos da horta A agricultura depende dos insetos.
ObjetivosOs alunos reconhecem que a maioria dos seres
vivos que habitam a horta são amigáveis e iniciam o hábito de
observar insetos e outras criaturas da horta.
Atividades
Os alunos encontram e observam criaturas da
horta e na aula descrevem o que viram. O professor acrescenta
exemplos e imagem de habituais “cidadãos da horta”. Os alunos
dizem o que sentem sobre cada um e porquê. Grupos da turma
imitam insetos, outros animais, plantas e solo, e dizem como se ligam a outros grupos (por
exemplo, Somos pássaros e comemos insetos). Os insetos depois “morrem” e a turma discute o
que aconteceria se não existissem insetos (os pássaros teriam fome, não haveria fruta, o solo ficaria
empobrecido…). Discutem como poderão ter insetos amigos na horta (por exemplo, plantas que
dão flor, incluindo um caminho de ervas e não usando inseticidas). Investigar através de uma
análise à lupa dos insetos ou estudar um ninho de ovos de inseto numa folha, na sala de aula.
3. Insetos e outros Menos de 1% dos insetos são perigosos para as culturas e muitos são benéficos.
Objetivos
Os alunos identificam determinados insetos benéficos e pragas comuns.
Atividades Usando espécimes reais ou imagens, os alunos identificam
criaturas comuns do jardim, dizem o que sabem sobre elas e especulam
sobre quais são benéficas, inofensivas ou prejudiciais. O professor apresenta
dois “inimigos da horta” (por exemplo, lesmas e pulgões), discute o que
fazem (comem ou sugam folhas e raízes) e como é que podemos confirmar
estas situações (buracos nas folhas, plantas que murcham); depois dois
“amigos da horta” (por exemplo, minhocas e joaninhas) que fertilizam
as flores, alimentam-se de pragas, transformam resíduos da horta em
nutrientes e arejam o solo. O processo continua com uma volta na horta,
identificando os amigos e os inimigos da horta ou os sinais da sua presença;
todos fazem um cartaz dos “amigos da horta” ou um livro de bichos baseado
Exemplos de
nas observações. (ver Criaturas Benéficas da Horta, Pragas, no anexo Notas de
“Amigos da horta”
Horticultura).
4. Composto Fazer esta aula na horta antes de iniciar a pilha de composto.
Objetivos
Os alunos aprendem a reconhecer composto e a apreciar o seu valor.
Atividades O professor apresenta o composto como a comida preferida das plantas e distribui
uma mão cheia de composto por um pequeno grupo de alunos. Os alunos observam, cheiram,
sentem, apertam e dizem o que observaram (castanho, quebradiço, húmido, terroso, leve…).
O professor demonstra a plantação de uma planta saudável, mostrando como o composto é
adicionado em vários estágios a vários níveis. No final, os alunos dizem em coro as respostas a
estas perguntas:
•Esta é uma planta saudável? (Sim!) O que a faz crescer? (COMPOSTO!)
•O que mantém o solo arejado? (COMPOSTO!)
•O que lhe dá comida? (COMPOSTO!)
•O que o mantém húmido? (COMPOSTO!).
O professor lê em voz alta uma lista de ingredientes do composto e os alunos comprometemse a trazer alguns de casa para a pilha de compostagem (ver anexo Composto no anexo Notas de
Horticultura.)
49
POR ONDE COMEÇAR?
5. Cozinhar composto Esta aula prepara para a produção de composto.
Objetivos Os alunos apreciam
o valor do composto, aprendem a
Material do composto (folhas,
Um pouco de
fazê-lo e começam a usá-lo.
relva, ervas, etc)
água para o
manter húmido
Atividades Os alunos relembram
as vantagens do composto (fornece
nutrientes; torna o solo adequado e
arejado, para que as raízes possam
respirar e as bactérias trabalhar;
segura a água, mas também facilita
a drenagem; é natural e barato).
O professor refere que produzir
buraco
camadas
composto é como cozinhar: é
ramos para
relva para o
para o ar
de terra
drenagem
preciso que haja alimentos, calor, ar,
manter húmido
água e um recipiente. O professor
demonstra-o fazendo composto num pequeno balde, explicando ao longo do processo e fazendo
perguntas sobre o que se deve fazer a seguir e porquê (ver Fazer Composto no anexo Notas de
Horticultura). A turma monitoriza o composto experimental, que estará pronto em duas semanas.
Marcar uma data para fazer a pilha de composto e pedir aos alunos para trazerem os seus
contributos.
6. Ideias para o terreno da escola Uma lição prática em sensibilização ambiental.
Objetivos
Os alunos fazem propostas práticas para melhorar o terreno da escola e iniciam a
ação.
Atividades O professor apresenta várias ideias à turma (ver Secção D atrás), com imagens e
desenhos, se possível. Os alunos mais velhos acrescentam as suas próprias ideias. A turma vai
para o terreno verificar as suas possibilidades (os alunos mais velhos trabalham em grupos, um
para cada ideia e depois fazem um relatório). Para cada ideia os alunos identificam questões
relevantes. Por exemplo: onde é que será? Quão grande? De que é que vai ser feita? A turma toma
a decisão final e sugere os primeiros passos práticos e quem fica responsável por eles.
NOTAS
50
CAPÍTULO 5
DE QUE PRECISA A NOSSA HORTA?
O local da horta
Objetivos
• Preparar e melhorar o solo
• Identificar necessidades
• Planear e fazer a horta
Se ainda não existe uma horta, preparar o local será a parte mais dispendiosa do projeto. Após
identificado e mapeado o local, é necessário decidir quais as tarefas, estimar o equipamento e
recursos necessários, discutir como planear e criar a horta, e organizar a preparação do local.
Este é o momento em que vai ser necessária ajuda de voluntários!
51
DE QUE PRECISA A NOSSA HORTA?
A. MELHORAR O LOCAL
1. O que já existe e o que é necessário?
Vá ao local da horta com os colegas. Leve um mapa do local para ajudar à discussão e ao registo
de observações. Começe a listar o que já existe e o que é necessário. Procure saber mais sobre
práticas e recursos locais e consulte as Notas de Horticultura quando apropriado.
Alguns pontos a considerar:
Proteção contra predadores
Esta questão é crítica. A safra é inútil se for
comida por cabras de vizinhos. Quais são os
predadores naturais na zona? Galinhas? Porcos?
Animais selvagens? Como é que os habitantes
locais cercam as hortas ou protegem uma
determinada cultura? Já existem boas vedações,
sebes, cercas ou muros para proteger a horta (ver
Proteger a horta no anexo Notas de Horticultura)? Se
não, é possível criar barreiras efetivas? Quanto
é que vai custar em tempo e/ou dinheiro? Vai
precisar de manutenção? O tamanho da horta
vai ficar limitado pela área que é possível cercar?
Vai ser necessário um vigilante noturno para prevenir o roubo?
Foto FAO/INCAP, 2005
Abastecimento de água
O abastecimento de água é extremamente importante. Os vegetais em particular precisam de
muita água. Uma boa gestão da água permite liberdade para decidir quando plantar e quando
colher. Esta deve ser fiável, limpa, barata e acessível. De onde é que vem a água? É de confiança?
Está disponível no verão? Vai ser necessário orçamentar a renovação de tubos, bombas, cisternas
ou tanques? Quem é responsável pela manutenção deste equipamento?
•Se a água é escassa ou cara, é possível melhorar o
abastecimento? Por exemplo, é possível recolher água da
chuva a partir dos telhados? É possível conservar água
ao utilizar as águas residuais de lavar pratos e roupa?
Que tipo de canteiros serão melhores? Que culturas se
desenvolvem em condições secas? Que sistema de rega
será utilizado? Como é que se irá manter a água no solo?
•Se existe risco de inundação, que tipo de drenagem vai
ser necessário? Que tipo de canteiros serão feitos? Que
tipo de culturas gostam de água? Como é que se vão
proteger as colheitas de chuvas fortes?
Para estas questões pode ser necessário verificar os conselhos
em Gestão da água, nas Notas de Horticultura, descobrir as
estratégias adotadas no local onde a horta está localizada e
consultar peritos em agricultura.
Proteger do sol
As plantas precisam de muita luz solar (pelo menos oito horas por dia). Mas em climas quentes
ajuda que haja sombra a meio da tarde. Onde é que podem ser colocadas as plantas mais
“delicadas”? O que pode ser utilizado para fazer sombra (árvores, muros, cercas, plantas altas,
telas…)?
52
DE QUE PRECISA A NOSSA HORTA?
Terreno
É mais conveniente que o terreno seja plano. Se for em declive, pode ser necessário fazer terraços,
o que implica muito trabalho.
•Se a terra já foi cultivada, que culturas foram produzidas? Não deverá ser plantada a
mesma cultura nos próximos tempos (ver Rotação de culturas, nas Notas de Horticultura)?
•Se a terra é virgem, será que é necessário remover lixo, raízes, pedras ou ervas?
O que é que existe no local que possa ser utilizado? Por exemplo:
•Flores e arbustos perenes que demonstram sobreviver no local. Podem ser utilizadas para
sebes, para fruta, para estudo da natureza, para atraírem insetos benéficos, ou apenas
pelo efeito visual.
•As árvores que já existem podem dar sombra para pessoas, plantas e composto; as folhas
caídas servem para composto ou cobertura de solo; abrigam da chuva e fixam o solo.
•Se as árvores têm de ser
cortadas, pode-se utilizar
os troncos para bancos
ou para delimitar os
canteiros.
•Valas naturais podem ser
transformadas em lagos
ou em canais de irrigação.
•Um pequeno monte pode
ser um ponto de encontro,
uma área de exposição ou
um palco natural.
•Os caminhos que existem
estão lá por alguma
razão. Devem manter-se e
planear a horta ao seu redor.
•As pedras podem ser utilizadas para construir os muros, marcar ou decorar canteiros e
caminhos, criar sinalética resistente à água, revestir valas de drenagem e fazer bancos
naturais.
•Algum lixo tem utilizações – por exemplo, pneus velhos podem ser um bom recipiente
para a horta, para baloiço ou até para muros; garrafas de plástico podem ser recipientes
para armazenar água; pedaços de casca, ramos e plástico podem ser utilizados para fazer
sinais para a horta.
Solo e drenagem
Que tipo de solo tem o local da horta? Deve ser realizada uma análise ao solo pelo serviço local
de agricultura. Pedir aos alunos mais velhos para repetirem a análise e verificarem se obtêm as
mesmas conclusões. A análise vai indicar a acidez, composição e químicos.
•Acidez Se o colo é demasiado ácido, é necessário adicionar cal; se não é suficientemente
ácido, adicionar serradura, folhas em decomposição, pedaços de madeira e musgo.
•Composição (as proporções de areia, barro, limo e matéria orgânica). Geralmente é
necessário adicionar matéria orgânica para ajudar na drenagem.
•Químicos Se houver falta de azoto, potássio ou fosfato, podem ser restaurados com
fertilizantes naturais (ver Nutrientes e fertilizantes no anexo Notas de Horticultura).
Instalações de armazenagem
Vai ser necessário dispor de um espaço para guardar ferramentas e equipamento. Um armazém
para ferramentas será o ideal. Ou será que é possível usar uma sala de arrumos na escola?
53
DE QUE PRECISA A NOSSA HORTA?
2. O que é que é necessário fazer?
Depois deste questionário, ficará mais evidente o que precisa de uma atenção especial.
Aqui ficam algumas ações que pode ser necessário tomar:
Melhorias no local
- decidir o que manter;
- retirar pedras/raízes/arbustos;
- remover ervas;
- nivelar o solo;
- criar vedações/sebes/muros;
- cavar valas de drenagem;
- encontrar um local para arrumar ferramentas e materiais.
Abastecimento de água, política para a água & sistema de irrigação
- melhorar e assegurar o abastecimento de água;
- desenvolver uma política para gestão da água;
- estabelecer um sistema de irrigação.
Melhoria do solo
- realizar uma análise ao solo;
- adicionar fertilizantes naturais;
- cavar o solo;
- cavar e integrar o composto/estrume;
- iniciar pilha(s) de composto.
Se existem trabalhos de maior monta para executar, estes devem ser listados, priorizados e os
seus custos devem ser estimados, em dinheiro e trabalho. Refletir como os pais e a comunidade
podem ajudar. Verificar quaisquer aspetos legais relacionados com o investimento na vedação,
irrigação e drenagem. Por exemplo, o pagamento de empréstimos, direitos de utilização e
propriedade, e obrigações de manutenção).
B. EQUIPAMENTO BÁSICO E MATERIAIS
Que equipamento e materiais é que existem, o que é necessário e como obtê-los?
Equipamento
Para decidir que equipamento será utilizado, é
necessário estimar quantas pessoas estão a trabalhar
na horta em simultâneo. As crianças também podem
trazer ferramentas de casa. De facto, algumas escolas
nem necessitam de ter ferramentas próprias. Algumas
ferramentas e equipamento podem ser feitas – se for
o caso, é necessário assegurar que são suficientemente
leves para utilização por parte dos mais novos.
A lista que se segue mostra o equipamento e material
básico para cerca de 30 utilizadores. A lista pode ser
utilizada para identificar as necessidades imediatas
e discutir o equipamento com os alunos, famílias e
conselheiros da horta.
54
DE QUE PRECISA A NOSSA HORTA?
•2 ancinhos
•2 espátulas
•2 baldes
•2 cestos
•2 pás
•2 tesouras de poda
•1 pulverizador
•estacas, paus, fio
•2 carros de mão
•6 enxadas
•2 pás
•2 catanas
•3 regadores
•1 mangueira
•1 barril de água
•10 tabuleiros multi-compartimentados
para viveiro
O melhor e mais barato
fertilizante de longo
prazo é o composto
Materiais
Sementes, plantas jovens, estacas e fertilizante
biológico. Pode guardar-se sementes de plantas
saudáveis. Algumas plantas (batatas doces e
espinafres, por exemplo) podem ser propagadas
por estaca: isto pode também dar aso a aulas
interessantes, bem como a redução de despesas.
Caso contrário, recomenda-se o uso de sementes
produzidas comercialmente. O Ministério da
Agricultura pode ajudar com materiais, ou podese tentar que produtores de sementes, viveiros
ou comerciantes façam donativos em géneros.
C. PLANEAR E ESBOÇAR A HORTA
Planear e esboçar a horta é das tarefas mais interessantes. As crianças devem ser totalmente
envolvidas no processo (ver a lição Desenho da Horta no fim do capítulo).
1. Canteiros e outros elementos essenciais.
Os principais elementos da horta são os canteiros, os caminhos, os viveiros, as pilhas de composto
e o armazém de ferramentas, se for possível que este exista.
Canteiros
Que tipo de canteiro é que se pretende? Para a
maioria das situações recomenda-se “canteiros
elevados permanentes”. Para criá-los é necessário
cavar o solo e adicionar composto, retirar a primeira
camada de solo dos caminhos e colocar em cima
do canteiro (ver Canteiros, nas Notas de Horticultura).
A regra com os canteiros elevados permanente é:
NUNCA andar ou ajoelhar em cima, e compactar
o solo. Se o solo for deixado em paz, este mantém
a sua estrutura, cumpre melhor a sua função e
(melhor de tudo) precisa de pouco amanho. Os
canteiros elevados requerem muito trabalho inicial, mas muito pouco mais tarde. São fáceis de
manter e de trabalhar, são altamente produtivos e excelentes para melhorar o solo.
•Onde? Tentar que todas as partes da horta tenham fácil acesso à água. Se existe um
declive, os canteiros devem ser desenhados de forma a captarem a água e prevenirem
erosão. Se possível, colocar os talhões dos alunos mais perto das janelas da sala de aula.
Isto ajuda a manter a atenção sobre as culturas, melhora as aulas e assusta predadores.
55
DE QUE PRECISA A NOSSA HORTA?
•De que tamanho? As crianças devem conseguir chegar a qualquer parte dos canteiros
sem que tenham de pisar o solo. Uma largura de cerca de 0,6 metros é boa para crianças
mais pequenas, 1 metro para as maiores. O comprimento depende da área de terreno,
de quantos talhões são necessários e de quanto se planeia produzir. O comprimento de 1
metro é bom para as crianças mais pequenas e 1,5 metros é suficientemente grande para
a aprendizagem, enquanto que 10 metros é um comprimento standard para a produção
comercial.
•Que forma? Os canteiros retangulares são mais fáceis de gerir, mas não há qualquer
problema com os canteiros com outras formas – círculos, triângulos, letras – desde que
as crianças consigam alcançar as plantas sem pisar o canteiro. Podem ter os canteiros
retangulares convencionais para a produção principal e depois outros com outras
configurações pela diversão ou para decoração. As crianças deverão ser consultadas.
•Quantos? O número de canteiros depende de como se organiza o trabalho (ver
Capítulo 10). É necessário ter pelo menos um canteiro por cada turma. Do ponto de vista
motivacional, é melhor ter um canteiro para cada grupo pequeno, com alguns talhões
individuais para experiências, demonstrações ou recompensas.
Caminhos
Planear caminhos à volta dos canteiros, com 1 metro de
largura, para permitir a passagem de carrinhos de mão e
das crianças – existe muito “trânsito” quando uma turma
está a trabalhar. Deixar que os outros caminhos se façam
com o uso. Se existir muito “trânsito”, os caminhos de terra
ou relva irão manter-se.
Viveiro
Os canteiros para sementes precisam de sombra e proteção
(ver Capítulo 8). Uma forma de proteger as plântulas
passa por cultivá-las em cima de uma mesa, que pode ser
sombreada com ajuda de folhagem. A mesa também é útil
para envasar, secar sementes e escrever as etiquetas, etc.
Pilha de composto
Colocar as pilhas de composto em locais diferentes,
relativamente próximo dos canteiros (é conveniente
ser debaixo de árvores), e deixar algum espaço
para guardar material para cobertura de solo. Os
contentores próprios para o composto são úteis, mas
não essenciais (ver Composto, em Notas de Horticultura).
2. Extras opcionais
Enquanto planeiam, podem discutir que outros
elementos poderão vir a querer na horta. Por exemplo:
Em algumas escolas rurais do
Uganda usam os locais para
o lixo para fazer composto
adicionando um pouco de solo.
As crianças trazem estrume de
vacas, galinhas e outros animais
para adicionar ao composto.
(C. Ssekyewa, personal communication, 2003)
Para o trabalho na horta:
- um talhão experimental ou para demonstração;
- uma área para processamento ou secagem da colheita;
- um espantalho ou outro tipo de objeto que afaste os pássaros;
- uma área para arbustos e árvores2.
2 - Um pequeno bosque pode providenciar proteção do vento, sombra, lenha, forragem, ramos, cobertura para o solo, cestos e até medicamentos
(árvores versáteis são por exemplo bambus, bananeiras, neem, acácia e salgueiro).
56
DE QUE PRECISA A NOSSA HORTA?
Para a vivência social, estudo e brincadeira:
- um pátio central para reuniões, espetáculos, com lugares para as pessoas se sentarem;
- mesas, bancos, troncos, pedras para sentar, comer, ler e escrever o diário da horta;
- uma zona com relva para que estejam sentados, a brincar, a ter aulas ou reuniões ao ar livre;
- baloiços, balancés e outros jogos.
Para cozinhar:
- uma zona para cozinhar e um forno exterior.
Para as vendas:
- um stand ou uma bancada para servir ou vender os produtos da horta.
Para informação:
- um quadro à prova de água;
- uma estação meteorológica (termómetro, barómetro, etc.);
- um mapa ou desenho da horta em exposição;
- etiquetas e sinalética.
Para decoração:
- arte ao ar livre;
- uma entrada em arco;
- flores e arbustos ornamentais.
Para estudos ambientais:
- um habitat para vida selvagem;
- uma casa para pássaros;
- um lago.
3. Desenhos especiais para a horta
Os planos especiais para a horta não requerem trabalho adicional. Podem ser decorativos e
estimulantes, podem ter mensagens simbólicas e permitir a interação com aspetos matemáticos
e de medição. Alguns exemplos:
•O canteiro “3 por dia” consiste, por exemplo, numa árvore de papaia com couves e
cenouras à volta. Pode encorajar as crianças a comerem três frutas ou legumes todos os
dias.
•A horta vitamina A inclui abóbora, cenouras, batatas doces, vegetais de folha verde e uma
árvore de papaia. Com o objetivo de sensibilizar as crianças para fruta e vegetais ricos em
vitamina A. (Adaptado de Kiefer e Kemple, 1998)
•A horta metro quadrado: quando o espaço
é limitado, divide-se um metro quadrado
em nove quadrados, cada um com um tipo
de cultura. (Guy et al., 1996)
•
A horta seca consiste em canteiros
enterrados para conservar a água,
protegidos com quebra-ventos, vedações e
com plantas que sejam resistentes à falta de
água – por exemplo, feijões pretos e verdes,
quiabo-roxo, amaranto, manga, uvas,
jujuba.
Alimentos da horta da vitamina A
57
DE QUE PRECISA A NOSSA HORTA?
4. Sinais e etiquetas
Fazer sinais e etiquetas para a
horta deve fazer parte do trabalho
dos alunos durante todo o ano.
Podem conter nomes, direções,
informação sobre as plantas, valores
nutricionais, patrocinadores, etc.
Ajudam a rever o que aprenderam,
exercitam a leitura e a escrita, e
mantêm todos os que frequentam
a horta informados. Pode dar esta
tarefas aos alunos com capacidades
mais artísticas, aos que se pretende
recompensar ou a um grupo como
responsabilidade especial. No fim
da estação, a maioria dos sinais
devem ser removidos e renovados
Fotografia cortesia de C. Power, Escola Sligoville, Jamaica.
para a próxima estação na horta.
Os sinais da horta devem ter uma durabilidade razoável, mas não precisam de durar mais do
que uma estação. Podem ser reutilizados materiais que resistam às condições meteorológicas –
madeira, pedras/rochas, corda, fio, canas, pneus velhos, etc. Também será necessário martelo e
pregos, cola forte, tinta, parafina e um pequeno pincel. Um pequeno maçarico pode ser útil para
pirogravar letras na madeira.
Para as ocasiões especiais, os alunos podem colocar etiquetas temporárias com informação
sobre o valor dos alimentos, história, projetos, envolvimento da turma, etc. Usar papel e canetas
coloridas.
D. ENVOLVIMENTO DOS ALUNOS
Os alunos da escola podem não conseguir fazer todo o
trabalho necessário para construir a horta, mas devem
ser envolvidos tanto quanto possível. Podem participar a:
•Mapear e estudar o local;
•Discutir e investigar materiais e equipamento
necessários;
•Observar e registar o trabalho na horta;
•Guiar visitantes no local e manter as famílias
informadas;
•Estudar o desenho do jardim e os canteiros;
•Etiquetar e sinalizar a horta.
Tudo isto proporciona aulas interessantes. A preparação do local é um bom momento para dar
aulas sobre o solo e água, ferramentas e equipamento, e verificar o progresso das pilhas de
composto.
58
DE QUE PRECISA A NOSSA HORTA?
SUGESTÕES PARA A AÇÃO
•Fazer e mostrar um mapa do terreno da escola.
•Pedir aos alunos que desenhem, fotografem e descrevam a horta.
•Listar o que é necessário fazer e estimar custos.
•Fazer um inventário do equipamento existente e a lista do equipamento necessário, sem
esquecer os custos. Pedir aos alunos que ajudem a encontrar os preços dos equipamentos
necessários.
• Procurar saber a situação legal no que respeita a propriedade e manutenção do equipamento
da horta.
•Consultar o Grupo da Horta para saber quem pode ajudar com o trabalho e equipamento
necessário.
•Explicar aos alunos mais velhos o que o local precisa. Prepará-los para guiarem visitas ao
local por parte de patrocinadores, voluntários, pais, Grupo da Horta e outras crianças,
quer individuais, quer em grupo.
•Consultar os horticultores locais sobre o desenho da horta, discutir e decidir o que é viável
na escola com os colaboradores, alunos e famílias. Planear a horta com os alunos.
•Expor o desenho da horta e colocar uma cópia no Arquivo da Horta.
Resultados: - Imagens e descrição do local;
- Lista das principais tarefas a realizar e estimativa de custos;
- Lista do equipamentos e materiais essenciais e estimativa de custos;
- Desenho da horta;
- Uma equipa de alunos guias.
Dicas e ideias
•Preparar um pedido de ajuda: utilizar as melhores imagens, o logótipo da horta e a
sua missão. Por baixo escrever: “NÓS PRECISAMOS…”, listando as necessidades,
e terminar com “PODES AJUDAR?”. Colocar o pedido na escola e pedir aos
alunos para fazerem cópias. Usá-lo na aula para exercícios de leitura e pedir às
crianças para o levarem para casa e contarem aos pais.
•Organizar um evento de angariação de fundos para a horta. Cada turma fica
responsável por um item (mangueira ou carrinho de mão, por exemplo). Desenhar
cada item num tamanho grande e que vai sendo
colorido à medida que o dinheiro é angariado. Os
alunos colocam os registos no Arquivo da Horta.
•Deixar que os grupos de alunos escolham os
talhões em que gostavam de cultivar. Dar nomes
aos talhões.
Estabelecer um “Termómetro de fundos”.
•
Escrever os nomes dos doadores.
• Para realizar um grande número de tarefas, lançar
uma Festa da Horta. Convidar os ajudantes e
perguntar se podem trazer comida para partilhar.
Começar à tarde, trabalhar durante duas horas e depois partilhar a comida entre
todos.
•Pedir aos alunos para etiquetarem e sinalizarem todos os elementos da horta.
Depois organizar um teste sobre a horta para os outros alunos.
59
DE QUE PRECISA A NOSSA HORTA?
NA SALA DE AULA
Preparar o terreno
As crianças devem ser envolvidas na escolha, planeamento e preparação do
local, apesar de não realizarem o trabalho pesado. Estas aulas encorajam-nos
a avaliarem os recursos da horta, a perceberem as atividades de preparação do
local, a planearem o desenho da horta e a começarem a criar os canteiros.
1. Ferramentas e equipamento As crianças precisam de boas rotinas para a utilização e
armazenamento do equipamento.
Objetivos
Os alunos reconhecem as ferramentas da
horta e aprendem a utilizá-las e a tratá-las devidamente.
Podem dizer aos outros o que podem fazer e decidir
como implementar as regras da horta. Os alunos mais
velhos podem ajudar com a pesquisa de mercado e na
compra de ferramentas de qualidade ao melhor preço.
AtividadesOs alunos trabalham com as
ferramentas, dizem para que servem e demonstram
saber usá-las, caso o consigam. Para cada ferramenta, o
professor pede ideias sobre (a) como a pousar sem que
seja perigoso (no caso de uma enxada, por exemplo),
(b) como prevenir que enferrujem (baldes virados para baixo, pás enterradas em baldes com
areia…), (c) o que fazer depois de utilizar o equipamento (limpar e voltar a colocar no local
devido). A turma discute o código de conduta para o equipamento – exemplos: Voltar a arrumar
tudo no local devido! Ancinhos em pé! – e decide se todos se vão ter de lembrar das regras ou se
é necessário escrevê-las. Haverá voluntários para explicar aos alunos que estejam ausentes.
2. Gestão da água Para as áreas em que a água é um problema…
Objetivos
Os alunos conhecem as fontes de água para a horta, reconhecem a necessidade de
poupar água e pensam em algumas ideias sobre como fazê-lo.
Atividades Os alunos respondem às seguintes questões:
•De onde vem a água para a nossa horta? Como é que chega
à escola?
•Poderíamos obter água de outro sítio? (água da chuva, fazer
lagos, usar as águas cinzentas, das lavagens e da cozinha?);
•Como é que podemos usar menos água (cobrindo o solo,
através da compostagem ou usando rega gota-a-gota)?;
•Como é que levamos a água até às plantas (mangueira,
regador, balde)?
Os alunos mais velhos explicam e elaboram as suas sugestões. De seguida fazem um mapa do
fornecimento de água e do sistema de irrigação, e fazem (e depois replicam) uma visita guiada
ao sistema escolar de água.
3. Preparar o local Envolver as crianças na preparação do local e planeamento das atividades.
Objetivos Os alunos obtêm uma imagem clara do local da horta, reconhecem as tarefas
necessárias e são capazes de interpretar as atividades de preparação.
Atividades Os alunos andam à volta do local da horta, observam e descrevem as suas principais
caraterísticas, plantas existentes, contornos (montes e covas) e estruturas (torneiras, abrigos, etc).
60
DE QUE PRECISA A NOSSA HORTA?
Discutem o que fazer com lixo, árvores, arbustos, ervas, montes, cavidades, declives, rochas e
pedras, se é necessário uma sebe/vedação, do que que o solo necessita, o que fazer em relação ao
fornecimento de água e onde devem ser os canteiros. Os alunos mais velhos fazem um mapa da
horta onde incorporam as propostas e preparam-se para apresentar as ideias às outras turmas ou
visitantes. De seguida, os alunos explicam às suas famílias o que é necessário fazer e registam as
atividades de preparação do local em desenhos e composições escritas.
4. Proteger a horta A batalhas contras os animais predadores é uma atividade excitante.
Objetivos
Os alunos reconhecem os principais predadores
e sabem como proteger a horta contra eles.
Atividades O professor conta uma história sobre uma criança
horticultora e como frustrou predadores, ou desenha/mostra
um predador e uma planta e pede aos alunos para explicarem
o perigo e como preveni-lo. A turma recolhe mais exemplos de
predadores locais através das suas famílias e agricultores locais
(ver Proteger a Horta, no anexo Notas de Horticultura) e regista o
que comem, o que fazem (sobem, voam, esgravatam…) e como impedi-los. Encontram sinais e
ameaças de predadores na horta e implementam medidas práticas contra os predadores como
sebes, muros e vedações. Usam as suas descobertas para encenar uma peça sobre a batalha pelas
culturas, ou fazem um cartaz.
5. Desenho da horta As crianças devem estar envolvidas no
planeamento dos canteiros e caminhos da horta.
Objetivos Os alunos reconhecem os elementos essenciais do
desenho da horta e contribuem para o planeamento.
Atividades A turma discute o que é necessário na horta (talhões,
caminhos, sinais, flores, abrigo, torneiras). Inspecionam a horta,
discutem e decidem:
•Quantos canteiros são necessários (um para cada turma/grupo)?
•Onde devem estar (perto das salas de aula, perpendiculares ao declive)?
•Que tamanho devem ter (suficientemente largos para que se chegue ao centro sem os
pisar – os alunos podem experimentar)?
•Onde é que os caminhos devem ser (à volta dos canteiros, ao longo dos já existentes)?
•Que largura devem ter (suficiente para que passe um carro de mão ou para carregar
baldes – os alunos devem experimentar)?
Os alunos mais velhos marcam o sítio com paus e fio e fazem o desenho à escala. Os alunos mais
novos podem fazer um desenho do mapa da horta (ver Parte 4).
6. Canteiros Os canteiros permanentes elevados são produtivos, convenientes e bons para o solo.
Objetivos Os alunos entendem como é que os canteiros providenciam o que as plantas
precisam, aprendem a não caminhar em cima deles, conseguem descrever o tipo de canteiros
que foram adotados pela escola e sabem como fazê-los.
Atividades Os alunos relembram o que as plantas gostam – não haver competição, solo bom
(rico, húmido, arejado, firme e cheio de vida) e relembram o que sabem sobre a primeira camada
de solo e o subsolo. Usando uma porção de solo, o professor demonstra como serão os canteiros
elevados, em miniatura. Separa o canteiro do caminho, cava o canteiro, adiciona composto, rega
e retira a primeira camada de solo do caminho para o canteiro. Os alunos discutem como estes
canteiros estarão cheios de ar e vida e não devem ser pisados. De seguida, os alunos ajudam a
preparar os canteiros e a explicar as suas vantagens a visitantes.
61
NOTAS
62
CAPÍTULO 6
O QUE VAMOS CULTIVAR PARA COMER?
Melhorar a nutrição
Objetivos
Decidir o que plantar através:
• da identificação das necessidades nutricionais e de dieta
• da descoberta do valor nutricional dos alimentos locais
• da escolha de alimentos que melhorem a dieta
O tema deste capítulo é decidir o que produzir. Decidir o que fazer ao que se produz depois da
colheira é tratado no capítulo 9. Antes da decisão final sobre o que se vai plantar, deve consultar
o Capítulo 9.
O propósito prático de produzir alimentos é melhorar a dieta das crianças. Os objetivos educativos
estão relacionados com a demonstração de como é que isto pode ser feito e com o aumento da
sensibilidade para as questões da nutrição.
63
O QUE VAMOS CULTIVAR PARA COMER?
Uma horta escolar não consegue normalmente fornecer uma grande parte da dieta da criança.
Uma das razões é que as crianças não estão na escola todo o ano. Outra é que não dispõem de
tempo suficiente para produzir em quantidade. Mas a horta pode ter uma forte influência na
dieta das crianças:
•Pode aumentar a variedade na dieta, adicionar vitaminas e minerais essenciais, com a
fruta e os vegetais, e proteína extra (por exemplo, através dos feijões e ovos). A ingestão de
pequenas quantidades de carne é importante para adicionar minerais como ferro e zinco,
que são essenciais para o crescimento e desenvolvimento intelectual da criança.
•Pode contribuir para criar um gosto por diferentes alimentos nutritivos, de forma a que
as crianças e as suas famílias plantem e cozinhem uma maior variedade de alimentos
nutritivos.
•Pode alargar e equilibrar as refeições da escola. Muitas escolas recebem apenas alimentos
básicos secos para as refeições. A fruta fresca ou os vegetais da horta podem contribuir
para a criação de refeições variadas e equilibradas.
•Pode fornecer lanches às crianças. O pequeno-almoço e lanche a meio da manhã são
especialmente importantes, uma vez que dão energia às crianças para toda a manhã. As
crianças podem aprender como fazer os seus próprios lanches a partir dos alimentos da
horta ou alimentos produzidos em casa.
•Pode sensibilizar as crianças e as suas famílias sobre o que constitui uma dieta saudável.
•Pode promover alimentos que são negligenciados e desvalorizados, ou que podem ser
armazenados/preservados.
Todas estas influências são mais eficazes quando as hortas escolares são encaradas como um
modelo e imitadas pelas crianças e famílias na sua horta. Desta forma, a horta da escola mostra
o que pode ser feito e a sua influência é multiplicada.
As escolas falam sobre hortas e alimentos
Criámos uma horta que proporciona comida para lanches, com a ajuda
de um agricultor local. As crianças produzem e conservam feijões e
pepino, fazem bolo de cenoura e sopa de cenoura, abóbora assada e
sementes de abóbora, e comem pimentos, tomates e ervilhas frescas.
Parte dos alimentos são consumidos, outra parte é vendida nos intervalos
a outras crianças. Os lanches dão muita proteína vegetal e vitamina A,
e promovem o apetite das crianças face aos alimentos frescos vindos da
horta.
(www.kidsgardening.com)
Fotografia: @ Microsoft Clipart
A nossa horta aromática é famosa! Foi anunciada na rádio e
televisão. Fornece todos os temperos para todas as refeições da
escola. Também encorajamos as crianças a encontrarem ervas
selvagens e a trazê-las para a escola, e procurar receitas tradicionais
em que sejam utilizadas.
64
O QUE VAMOS CULTIVAR PARA COMER?
A cozinha da nossa escola compra todos os alimentos que a horta
produz. Falamos com os cozinheiros para decidir o que devemos
produzir. Mas precisamos de maior coordenação. Por vezes, os
cozinheiros não sabem cozinhar o que a horta produz e por vezes as
crianças não comem o que eles cozinham.
A cozinha da escola usa cerca de metade do que é produzido pela
escola. Às sextas-feiras, quando não existe refeição na escola, as
crianças têm aulas sobre planeamento de refeições, preparam e
cozinham os alimentos da horta na cozinha da escola. Metade da
turma regista, a outra metade cozinha e todos limpam. No Natal
comemos habitualmente uma das nossas cabras.
Na nossa escola existem duas trabalhadoras comunitárias que
trabalham com o objetivo de produzir alimentos que ajudem a
aumentar a vitamina A e ferro nas dietas das crianças, especialmente
na estação seca. Produzimos cenouras, batata doce, courgette, quiabo
e vegetais de folha verde, e estamos a experimentar árvores de fruta –
manga, papaia, neré, morengo e goiaba, que são ricos em vitamina C.
Os produtos da horta são utilizados nos almoços das crianças.
Pode existir de antemão uma ideia sobre quais os alimentos que serão cultivados. Caso não
exista, é importante obter informação e conselhos dos pais, crianças, nutricionistas e profissionais
de saúde, horticultores, agricultores locais, professores de economia doméstica, e consultar o
programa das refeições escolares. Devem ser discutidas as seguintes questões:
•As crianças sofrem de desnutrição?
•As crianças estão doentes frequentemente, cansadas ou com pouca
concentração nas aulas?
•O que é que as crianças comem?
•De que tipo de dieta é que as crianças precisam?
•O que pode ser produzido para melhorar a dieta das crianças?
•Como é que irão comer (e será que vão comer)?
65
O QUE VAMOS CULTIVAR PARA COMER?
A. DESNUTRIÇÃO: EXISTE UM PROBLEMA?
Muitas crianças e comunidades em países pobres têm dietas desadequadas e desequilibradas,
cujo resultado é a desnutrição. O crescimento e comportamento das crianças são bons indicadores
da sua saúde. Se forem baixas de mais para a sua idade, se estiverem cansadas ou com falta de
concentração e ficarem doentes com frequência, podem estar desnutridas. As três principais
razões para a desnutrição são:
•Subnutrição Quando as crianças não ingerem as doses adequadas de alimentos ficam
cansadas, adoecem com facilidade e não crescem em conformidade. Também podem ter
problemas de aprendizagem na escola.
•Sobrenutrição Se as crianças comerem demasiado, não ingerirem as doses certas de
alimentos e não fizerem exercício físico, podem ficar com excesso de peso. O que pode
conduzir a um adulto com excesso de peso ou obeso e a muitos problemas de saúde.
•Desnutrição de micronutrientes Muitas crianças não obtêm as vitaminas e minerais
suficientes. Estes micronutrientes levam a cabo tarefas vitais que fazem com que o
corpo funcione bem. Proporcionam boa visão e pele limpa, protegem o corpo contra
doenças, ajudam a libertar a energia dos alimentos, permitem que o cérebro e o corpo se
desenvolvam corretamente, e assim sucessivamente. É estimado, por exemplo, que um
milhão de crianças morrem todos os anos por falta de vitamina A. A maioria das vitaminas
e minerais estão disponíveis nos alimentos que
podem ser facilmente produzidos em casa ou
nas hortas escolares. Muitas vezes as pessoas
simplesmente não sabem que estes alimentos
são essenciais à sua saúde...
Para mais informação sobre os problemas, efeitos e
sintomas, ver as Fichas de Nutrição: Fome e subnutrição e
Necessidades de energia e nutrientes.
§ Estes são problemas sérios na sua zona? Existe sub/desnutrição de micronutrientes?
Devem ser consultados os serviços de saúde, enfermarias locais ou assistentes sociais.
B. DE QUE TIPO DE DIETA É QUE AS CRIANÇAS PRECISAM?
Uma dieta não é apenas o que se come, mas também como se come, quantos alimentos diferentes,
com que frequência e quando.
1. Que alimentos devem as crianças comer?
Para crescerem e serem adultos inteligentes, as crianças precisam de comer todos estes alimentos
regularmente:
Cereais (milho, milho miúdo, sorgo, arroz, trigo) dão muita energia, proteína e (se
forem comidos integrais) quantidades substanciais de vitamina B e E. Para obter
todo o seu valor alimentar devem ser ingeridos com outros alimentos.
Raízes e tubérculos (mandioca, taro, inhame, batata doce, batata) também são
boas fontes de energia e de algumas vitaminas, mas têm menos proteína que os
cereais. Devem ser ingeridos com outros alimentos.
66
O QUE VAMOS CULTIVAR PARA COMER?
Legumes (ervilhas, grão de bico, feijão, soja) são fontes ricas em proteína. Alguns
também têm gordura, vitamina E, cálcio, e outros têm o ferro e o zinco de que as
crianças precisam para crescer e desenvolver os seus cérebros.
Sementes, frutos secos, gorduras e óleos são as fontes mais concentradas de
energia. Mesmo em pequenas quantidades podem fazer uma grande diferença na
dieta de crianças fisicamente ativas. Aquelas que têm origem em plantas (amendoins,
sementes de girassol, soja, sésamo, azeitonas, colza) são as mais saudáveis. Algumas
providenciam proteína e vitamina E. O óleo de palma vermelho também é muito
rico em vitamina A. Os amendoins são um excelente lanche para as crianças, mas
não devem ser muito salgados.
Vegetais e fruta são ricos em muitas vitaminas e minerais diferentes e outras
substâncias que protegem a saúde, especialmente os vegetais de folhas verde escura
e os frutos amarelos e laranja e vegetais (abóbora, batatas doces amarelas ou laranja,
papaia, manga, cenouras). Os vegetais com folhas verde escuras libertam todo o seu
valor nutritivo quando são acompanhados por outros alimentos. As crianças devem
comer vegetais e fruta de cinco tipos e cores diferentes todos os dias (verde escuro,
amarelo/laranja, vermelho, citrinos e legumes).
Alimentos animais são ricos em proteína e minerais de alta qualidade, como o
ferro e zinco. O leite e o queijo dão cálcio para ossos fortes, enquanto os ovos de
galinha dão vitaminas A e D, bem como proteína. Os peixes pequenos, se comidos
com o fígado, são ricos em vitamina A e D e ferro. A menos que as crianças comam
peixe e marisco diariamente, deve sempre ser usado sal fortificado com iodo.
A água é aproximadamente 80% do corpo e é essencial ao seu funcionamento.
Permite eliminar desperdícios, mantém o volume do sangue e mantém os sais do
corpo com a concentração certa. Todos precisam de ingerir muita água todos os
dias, especialmente as pessoas que vivem em climas quentes e que sejam fisicamente
ativas.
A Ficha de Nutrição Nutrientes nos Alimentos mostra alguns alimentos que são ricos em vários
nutrientes necessários ao crescimento, energia e saúde.
§ Os alunos estão a ingerir todos os tipos de alimentos?
De que é que precisam em particular?
Durante a maior parte da minha vida eu não sabia que
muitas partes das plantas, como as sementes de abóbora
e folhas de feijão, eram boas fontes de nutrientes, por isso
a nossa família deitava-os fora. Ao ajudar a preparar este
livro, aprendi que temos bons alimentos à nossa volta, e
que com o conhecimento certo mesmo as crianças mais
pobres podem ter todos os nutrientes de que precisam
para viverem bem.
67
O QUE VAMOS CULTIVAR PARA COMER?
2. Boas refeições
Uma refeição equilibrada é habitualmente baseada num acompanhamento – um cereal, raiz ou
tubérculo (por exemplo, arroz, batata, pão, mandioca e milho). Que acompanham habitualmente
peixe, carne ou legumes, e vegetais. Os vegetais de folha verde escura e vegetais cor de laranja
são particularmente bons. Um pouco de gordura ou óleo ajuda a absorver os nutrientes nos
vegetais. E o tempero é muito importante para tornar a refeição saborosa. Finalmente, todas as
refeições devem terminar com uma peça de fruta.
§ As crianças têm refeições equilibradas? Na escola e em casa?
O Guia da Refeição Variada da Família
3. Variedade
Não é suficiente para as crianças que tenham muita comida. Não é suficiente mesmo que tenham
todas as suas refeições bem equilibradas. Para dar ao corpo tudo o que é necessário, precisamos
de variedade: muitos cereais diferentes, raízes e tubérculos, vegetais, frutas, legumes e sementes,
e alimentos animais. As crianças precisam desta variedade todos os dias, durante todo o ano.
Há muitas razões pelas quais as pessoas não têm variedade nas suas dietas. Podem não
conseguir adquirir os alimentos. E muitas vezes não existem alimentos disponíveis no mercado
ou supermercado local, ou pode existir escassez sazonal.
68
O QUE VAMOS CULTIVAR PARA COMER?
As pessoas podem ficar sem os alimentos de
que precisam em momentos de maior stress
– no inverno, por exemplo, quando precisam
de comida extra para se manterem quentes,
ou quando estão a desenvolver trabalho
pesado na terra e necessitam de energia e
nutrientes extra. Muitas vezes, as pessoas
acham que a variedade não é importante,
por isso escolhem comer sempre os mesmos
alimentos. Podem achar que não vale a pena
comerem fruta e vegetais ou simplesmente
não gostam de determinados alimentos, porque não estão habituados a ingeri-los. Muitas
crianças, por exemplo, crescem a comer pouca fruta e vegetais, o que cria hábitos e preferências
que são difíceis de alterar mais tarde.
§ As crianças têm a variedade necessária na sua dieta? Algo diferente todos os dias?
Diferentes alimentos ao longo do ano?
Vegetais adicionam variedade
No distrito de Toledo, no Belize,
a agricultura de “corte e queima”
está a empobrecer o solo. A dieta
local é principalmente milho,
arroz e feijão. Os vegetais não
são bem vistos, são tidos como
“comida difícil”. A desnutrição é
generalizada.
Os programas de hortas e
refeições escolares pretendem
melhorar esta situação. São
apoiados pela ONG Plenty Belize,
com a ajuda da UNICEF, da
Organização Pan Americana da
Crianças do Belize mostram parte da sua colheita.
Saúde (PAHO), da universidade
Fotografia © Plenty International*
local e dos comités regionais de
educação. As hortas escolares
produzem mandioca, couve, pimentos, pepinos, tomates, cenouras, papaia, manga e
banana-da-terra. As sebes de hibisco mantêm afastados os principais “ladrões”, que são
os porcos domésticos; uma das escolas conseguiu angariar dinheiro para uma vedação
metálica. As escolas usam métodos naturais para controlar pragas: apanha de insetos,
culturas mistas e spray para insetos, feito com cebolas, alho e pimentos. Os produtos são
vendidos principalmente para as cozinhas da escola. As escolas neste esquema encontramse uma vez por mês para trocarem ideias e colaborarem na procura de financiadores. As
famílias, inicialmente desconfiadas, agora apoiam as hortas, porque, como o coordenador
do projeto diz, “a agricultura é realmente a melhor aposta para viver”.
(M. Miller, personal communication, 2004)
69
O QUE VAMOS CULTIVAR PARA COMER?
4. Frequência
Muitas crianças têm apenas uma refeição por dia. Não é suficiente.
As crianças em crescimento precisam de comer muitas vezes, até
cinco vezes por dia. Precisam de comer antes de ir para a escola, para
terem energia para estudarem: crianças com fome não aprendem
bem. Um lanche a meio da manhã dá-lhes o que precisam até à hora
do almoço. Depois precisam de uma refeição a meio do dia, que seja
equilibrada, um lanche à tarde e uma refeição à noite.
§ Quantas vezes é que as crianças da escola comem durante
o dia? E quando?
5. Cultura e diversão
A comida não é só o combustível que o corpo precisa para funcionar. Comer pode ser uma fonte
pessoal de prazer, uma forma de criar laços sociais e uma prática cultural ligada à identidade
pessoal e social.
§ As crianças da escola comem comida apetitosa e apreciam comer?
C. O QUE PODEMOS PRODUZIR PARA MELHORAR A SUA DIETA?
1. Como pode a horta ajudar?
Para recapitular, aqui fica de que forma a horta pode ajudar na dieta das crianças:
70
As questões
Como pode a horta ajudar?
Existem alguns micronutrientes
em particular que estejam em
falta na dieta das crianças?
A horta pode contribuir com fruta e vegetais ricos
em vitamina A e ferro.
As crianças estão a comer todos os
tipos de alimentos? Do que é que
precisam em particular?
A horta pode dar fruta e vegetais ricos em vitaminas,
legumes e sementes para aumentar a gordura e
proteína na dieta, e talvez até galinhas e ovos para
garantir a ingestão proteína animal.
As crianças têm refeições
equilibradas em casa? E na escola?
A horta pode adicionar vegetais frescos ou fruta às
refeições das crianças.
A dieta das crianças precisa de
mais variedade?
A horta pode dar variedade, por exemplo, ao
produzir diferentes tipos de vegetais de folha verde
escura e uma boa variedade de fruta durante o ano.
As crianças fazem as refeições
suficientes durante o dia?
Mesmo uma horta pequena pode dar lanches e
bebidas, e ajudar no pequeno almoço.
As crianças apreciam a comida?
As crianças podem aprender a apreciar a aparência,
cheiro e textura da fruta e dos vegetais frescos da
horta.
O QUE VAMOS CULTIVAR PARA COMER?
2. Que alimentos podemos produzir
para ir ao encontro das necessidades
das crianças?
O que é que a horta produz?
Numa área rural da África do Sul, um
inquérito sobre dieta alimentar mostrou
que os alunos precisavam de mais
vitamina A e ferro, proteína, refeições
mais frequentes, comer de manhã e mais
variedade de uma forma geral. O inquérito
abrangeu dez escolas com hortas.
Naquele ano, as hortas escolares estavam
a produzir batatas doces (7 escolas), feijões
(5), amendoins (4), milho (4), óleo de palma
(2), mandioca (2), abóbora (1), manga (1),
galinhas (1), ervilhas (1) e cabras (1). Em
média, as escolas produziam três culturas
cada. A maioria vendia um terço das
suas colheitas no mercado e um terço a
professores, e dava o restante para as
crianças levarem para casa.
Estas escolas poderiam melhorar a dietas
das crianças se alterassem as culturas
produzidas nas hortas? Há algumas ideias
na próxima página.
Em geral, se queremos adicionar valor e
variedade à dieta das crianças, não é muito
útil produzir alimentos básicos que as crianças
já estejam a comer, exceto talvez milho ou
arroz para os lanches. Em vez disso, é bom
escolher diferentes tipos de fruta e vegetais. Se
houver escassez sazonal, podem ser escolhidos
alguns alimentos que podem ser processados
e armazenados (vegetais de folha verde,
amendoins, sementes oleaginosas, feijões e
ervilhas, milho, manga, banana, batata doce e
tomates, por exemplo).
Geralmente, é melhor produzir alimentos
locais. As plantas locais estão adaptadas ao
ambiente local – por exemplo, podem estar
preparados para crescer em condições secas.
Também pode ser possível utilizar mais plantas
que cresçam de forma selvagem. A ideia não
é necessariamente ter novos alimentos, mas
maior variedade, melhor preparação, novas
combinações e uma maior quantidade destes bons alimentos locais.
Deve ser feita uma lista preliminar dos alimentos locais que vão ao encontro das necessidades
da dieta das crianças. Podem ser consultadas as Fichas Nutrição e Alimentos e consultar os peritos
locais e professores de economia doméstica. Deve ser feita uma lista longa para haver muita
escolha, que irá realmente dar variedade à dieta. Pensar em frutas, sementes, amendoins e
oleaginosas, trepadeiras, vegetais com folhas, vegetais com raízes, ervilhas e feijões e aromáticas.
Deve pedir sugestões e discutir a questão com as crianças e pais (ver a aula O que devemos produzir
para comer? no final deste capítulo).
3. As crianças gostam do alimento? É fácil de produzir? O seu calendário de
produção irá encaixar no horário escolar?
Estas questões práticas vão afetar o que se decide produzir. A maioria das crianças, por exemplo,
gosta de batata doce, abóbora, papaia, amendoins tostados e outros alimentos que podem ser
comidos como lanche. Pipocas feitas de milho ou sorgo são igualmente deliciosas.
As culturas devem ser fiáveis, robustas e fáceis de produzir. Não deve ser necessário muito trabalho
e devem estar bem-adaptadas ao clima e solo locais. O momento da colheita deve idealmente
acontecer algumas semanas antes do fim do ano escolar, para permitir o armazenamento,
preservação e consumo, e para que se possa avaliar o projeto. Consultar o anexo Fichas de Alimentos
e falar com os agricultores e peritos locais.
Se existe mais do que uma variedade local, todas devem ser experimentadas. E deve pedir-se aos
alunos para que observem as diferenças. Pode-se descobrir que algumas variedades funcionam
melhor dos que outras num determinado local. De qualquer forma, é bom para promover a
diversidade!
§ Que alimentos da lista apelam mais às crianças e de que forma? As culturas selecionadas
são fáceis de produzir? Que variedades serão plantadas?
71
O QUE VAMOS CULTIVAR PARA COMER?
4. Que mais podemos produzir?
Além de fornecer energia e nutrientes vitais, as plantas dão muitas
outras coisas.
•Para sabor e interesse plantar tomate e cebola, pimenta e
mostarda, pimentos vermelhos, sálvia limão, menta e coentros.
Fixar o objetivo de fornecer todas as ervas e especiarias de que a
cozinha da escola precisa.
•Para eventos produzir algo para fazer bebidas e lanches para as
crianças, visitantes e ajudantes (ver Bebidas e Lanches na Horta, no
anexo Notas de Horticultura).
•Para acrescentar valor procurar plantas que dão algo extra – flores bonitas, folhagem,
aromas, sombra, composto, combustível, alimentos para animais, sebes, remédios e
repelentes naturais para pragas.
A Ficha de Alimentos sugere como usar algumas plantas destas formas. Algumas culturas
permanentes de baixa manutenção (árvores de fruta, arbustos, ervas aromáticas) podem
melhorar o ambiente.
Plantas versáteis
A menta e a erva príncipe são
usadas como plantas de companhia
para controlar pragas. Também são
boas bebidas e uma infusão de erva
príncipe alivia os sintomas da gripe.
As bebidas frescas podem ser feitas
de manga, goiaba, abóbora, papaia,
banana, laranjas, limões, cenouras
e tomates. Misturar diferentes
frutos pode melhorar o sabor –
experimentar cenoura com laranja,
abóbora com limão, laranja e um
pouco de açúcar.
D. TOMAR A DECISÃO FINAL
5. Como é que produzimos estes alimentos?
Quanto é que conseguimos produzir? Onde
é que devem ser plantados?
Deve-se obter informação em como produzir as
culturas escolhidas, em conjunto com os alunos,
quanto é que é possível produzir, quanto espaço é
necessário, quando plantar e quando colher (ver a aula
Peritos em Culturas no final deste capítulo). Consultar
de forma ampla. Também pode ser útil para saber
que culturas são adequadas para que os alunos de
diferentes faixas etárias possam acompanhá-las.
Para cada cultura é necessário considerar onde
plantar, como é que irão combinar com outras. O
que quer dizer que pode ser necessário pensar em
rotação de culturas, plantação misturada e em várias
camadas, entre outras metodologias (como discutido
no Capítulo 8 e nas Notas de Horticultura).
Antes de ser tomada a decisão final sobre o que se vai produzir, é necessário assegurar que
professor e alunos consultaram as suas famílias, os serviços de saúde, professores de economia,
os serviços de agricultura, o serviço de refeições
da escola e o serviço de saúde ambiental. Isto vai
permitir que se tomem decisões adequadas e também
que todos conheçam as escolhas e as razões para as
mesmas.
Para ajudar neste processo, os alunos podem fazer
fichas para cada alimento que decidam produzir.
Podem ser utilizadas as questões da aula Peritos em
Culturas, mais abaixo. Deve incluir informação local
– por exemplo, como é que as pessoas encaram um
determinado alimento, e quanto custa.
72
O QUE VAMOS CULTIVAR PARA COMER?
O que deve ser produzido na horta?
Algumas sugestões para as escolas:
•Em geral, ter muita variedade, para uma melhor dieta e experiência hortícola mais
abrangente.
•Ter batatas doces, feijões e amendoins (para energia, proteína e vitaminas).
•Talvez reduzir o milho e mandioca.
• Aumentar a fruta (mais mangas, goiaba, banana, maças laranjas peras, etc.) e palmeiras
para óleo de palma.
•Ter mais vegetais e diferentes (tomates, cebolas, cenouras, abóboras).
•Ter mais vegetais de folhas verde escuras de diferentes tipos.
Além disso, alguns alimentos podem ser dados às crianças de manhã, na escola.
SUGESTÕES PARA A AÇÃO
•Descrever a dieta das crianças em resposta às questões A e B colocadas em cima. Obter
algumas ideias sobre como a horta pode ajudar.
•Explorar algumas ideias das crianças e das famílias sobre uma boa dieta e alimentos.
•Consultar os serviços agrícolas, os serviços de saúde, professores de economia doméstica e
o serviço de refeições da escola sobre as necessidades da dieta das crianças e que alimentos
são importantes.
•Selecionar várias culturas adequadas para melhorar a dieta das crianças. Ajudar os alunos
a fazerem fichas para cada um dos alimentos.
•Não deve ser tomada uma decisão final sobre o que produzir até se ter decidido o que
fazer aos alimentos quando são colhidos (ver Capítulo 9).
NA SALA DE AULA
Preparar o terreno
Estas aulas são sobre dietas saudáveis e quais os
alimentos que podem contribuir para elas, culturas
específicas e decidir o que produzir.
Devem estimular o interesse das crianças em
produzir alimentos em casa como uma experiência agradável,
uma fonte de saúde e concretização pessoal, e fazer da alimentação
saudável um tema de conversa em casa.
N.B. Pode ser útil ter um conjunto de “fichas de alimentos” com imagens de
alimentos locais, feitos pelo professor ou pelos alunos.
Os nossos alimentos.
1. O que comemos Esta aula pretende sensibilizar para a importância da variedade numa dieta.
Objetivos
As crianças descrevem a sua dieta, tomam consciência de quantos frutos e vegetais
diferentes comem normalmente e reconhecem a ideia da variedade numa dieta. O professor
pode usar as Aulas 1 – 3 para saber mais sobre a dieta das crianças, a sua relação com a comida
e as suas ideias sobre “boa comida”.
Atividades Na aula, os alunos fazem um “prato de alimentos” com desenhos e porções de
alimentos (cereais, por exemplo): o alimento base no meio, alimentos animais à esquerda e
vegetais à direita. Contam os alimentos e dizem quantos alimentos diferentes comem durante o
dia. Como trabalho de casa, mantêm o registo do que comem durante um dia ou uma semana,
e contam o número de tipos de alimentos.
73
O QUE VAMOS CULTIVAR PARA COMER?
2. Boa alimentação (1) Crianças e famílias precisam de uma
atitude positiva em relação à fruta e vegetais
Objetivos As crianças apercebem-se que a fruta e vegetais são
alimentos importantes, podem expressar a sua preferência por
frutas e vegetais específicos e aprender a apreciar o seu cheiro,
sabor e textura.
Atividades Todos os alunos lavam as mãos antes da aula. O
professor mostra alguns exemplos atrativos de fruta e vegetais
frescos, imagens e poemas sobre eles. As crianças dizem de quais
gostam mais. O professor elogia respostas positivas e promove um
sentimento de prazer. Com os olhos fechados, as crianças mexem em diferentes alimentos e dizem
o que sentem, cheiram e adivinham quais são, “ouvem” (abanam ou partem), observam com
atenção e descrevem-nos, depois saboreiam e comem-nos devagar e descrevem o seu sabor. Como
trabalho de casa, desenham ou descrevem os seus frutos e vegetais preferidos, ou adivinham
frutos ou vegetais através de descrições que lhes são fornecidas.
3. Boa alimentação (2) As crianças agem como “missionários de alimentos” para as suas famílias.
Objetivos Os alunos devem reconhecer que a fruta e os vegetais são essenciais à saúde,
devem reconhecer o valor especial dos vegetais de folhas verde escuras e os frutos e vegetais
vermelhos/laranja, e devem ser capazes de explicar como podem
melhorar a sua dieta.
Atividades Usando imagens ou amostras de alimentos, as
crianças colocam alimentos locais comuns na “escada dos bons
alimentos” e explicam as razões. O professor ajuda as crianças a
ajustarem estes “valores visíveis dos alimentos”, explicando que
todos os alimentos são bons, mas que alguns são particularmente
melhores. Os alunos escolhem todos os vegetais de folha verde
escura e frutas e vegetais vermelhos/laranjas e elevam-nos dois
degraus, na escada. As crianças mais velhas usam as tabelas
na Ficha Nutrição 3 para indicarem que benefícios trazem
determinados alimentos. De seguida, as crianças desenham
“mensagens de alimentos” para levarem para casa baseadas nas
aulas até agora, ou fazem uma “bandeira dos bons alimentos” com
imagens de alimentos adequados, em faixas verdes ou laranjas).
4. Plantas alimentícias As crianças estabelecem ligações entre plantas e alimentos.
Objetivos Os alunos tomam consciência da variedade de plantas que podem ser comidas,
são capazes de reconhecer e saber o nome de diferentes partes de plantas, e conseguem classificar
alimentos de acordo com a parte da planta de onde são originários.
Atividades O professor compõe um saco cheio de alimentos provenientes de diferentes partes
da planta (raízes e tubérculos, caules, folhas, botões, flores, fruta, sementes) e estabelece na sala
locais etiquetados para as diferentes partes das plantas (canto da raiz, mesa
da folha, etc.). Os alunos classificam uma imagem com as diferentes
partes da planta e depois trabalham em conjunto na classificação dos
alimentos que estão no saco, colocando-os no local certo. De seguida
fazem um cartaz onde classificam uma planta com os nomes ou
imagens dos alimentos que pertencem a cada uma das partes. (Food bag idea adaptado de Kiefer and Kemple, 1998)
74
O QUE VAMOS CULTIVAR PARA COMER?
5. O que vamos produzir para comer? As crianças
devem ser consultadas sobre o que vão produzir para comer.
Objetivos Os alunos tomam decisões/sugestões sobre
que alimentos vão produzir baseando-se nas preferências e
entendimento sobre o seu valor nutricional, e são capazes de
justificar as suas escolhas.
Atividades As sugestões das crianças sobre o que vão
produzir para comer são escritas ou desenhadas em cartões.
Para cada cartão a turma discute quatro questões: Gostamos?
É bom para nós? Conseguimos produzir? Como é que vamos
comê-lo – é saboroso e fácil de preparar? Se todas as respostas forem favoráveis, o cartão é
exposto e a decisão final é tomada tendo em conta os cartões selecionados. Os alunos mais velhos
verificam que a seleção inclui alimentos variados, os ingredientes necessários para alguns bons
pratos e alimentos para lanches e bebidas (ver Bebidas e Lanches, no anexo Notas de Horticultura).
De seguida, os alunos dizem às suas famílias que alimentos selecionaram e porquê, compilam
um livro de lanches ou preparam cartazes para publicitar os alimentos selecionados.
6. Peritos em culturas Tornar-se “peritos em culturas” dá às
crianças motivação e cria “memória de turma”.
ObjetivosAs crianças investigam as culturas que escolheram
produzir, usando diferentes fontes.
Atividades
Os alunos relembram as culturas que
querem plantar e discutem o que precisam de saber sobre elas.
A turma em conjunto compila uma ficha para uma cultura
(utilizando as questões abaixo). Em grupo selecionam que
cultura querem estudar, discutem o que já sabem e planeiam o
que vão descobrir junto das famílias, vizinhos e horticultores
locais, etc. Os alunos depois relatam e completam as fichas.
Os alunos mais velhos preparam uma apresentação ou uma
campanha de publicidade.
Fotografia: © Plenty International
Questões para a ficha de cultura
(para as crianças mais novas, usar apenas as questões sublinhadas).
•Onde é que é produzido localmente?
•É produzida para vender ou para
consumir?
•Existem variedades diferentes?
•É boa para nós? / Qual é o seu valor
alimentar?
•As pessoas gostam e valorizam?
•Quanto custa comprar?
•Qual é a melhor forma de cozinhar
e comer (para o sabor, para o valor
alimentar)?
•É fácil de produzir?
•Quanto tempo demora?
•Durante quanto tempo é que continua a
produzir?
•Que quantidade produz?
•Quando é que se deve plantar?
•Como é que se planta e onde?
•Precisa de desbaste ou transplante?
•Como é que deve ser cuidada (água/
sombra/tutor)?
•O que a ataca?
•Como é que é colhida e armazenada?
•Pode ser preservada de alguma forma?
•Precisa de ser promovida, se sim, como?
(Adaptado de Burgess et al., 1998)
75
NOTAS
76
CAPÍTULO 7
O QUE VAMOS CULTIVAR PARA VENDER?
Mercado hortícola
Objetivos
• Pesquisar o mercado
• Decidir o que produzir e quanto
• Decidir que recursos são necessários
• Gestão financeira e orçamental; planear a utilização das receitas
• Manter registos e contabilidade
• Armazenar/preservar/processar o produto
• Embalar e promover o produto
• Publicitar o projeto
Um projeto de mercado hortícola é adequado aos alunos mais velhos, uma vez que implica sair
da escola e lidar com dinheiro. Já as crianças mais novas podem preparar os alimentos para
atividades de angariação de fundos como vendas de “trazer-e-vender”, feiras de alimentos ou
rifas de produtos. Ou podem fazer parte das “equipas de projeto”.
77
O QUE VAMOS CULTIVAR PARA VENDER?
O propósito prático de um “mercado hortícola” é gerar receitas. Uma
das razões para valorizar a horta escolar é os recursos financeiros da
escola serem escassos. Mas um mercado hortícola é também uma
excelente oportunidade educativa para desenvolver competências de
negócio. O simples facto de levar bens para vender e manter registo
desses bens desenvolve o sentido de responsabilidade. Fazer pesquisa
de mercado, orçamentar, antecipar riscos, desenhar um plano de
negócio e, acima de tudo, adotar um pensamento de negócio é
educação para a vida. Pode fazer a diferença entre sucesso e fracasso
em pequenas empresas agrícolas, de que muitas famílias dependem. Estas atividades também
irão ajudar os estudantes a concorrerem a créditos, eventualmente, e a saberem geri-los. Os
gestores bancários ficam sempre impressionados com um plano de negócio bem preparado.
No entanto, as crianças não devem trabalhar
A escola Nebiri, no Zimbabué,
muitas horas na horta, por isso a horta não dará
vendeu as suas mangas, com
muito dinheiro. Num projeto de mercado hortícola,
desconto, aos membros da
o lucro é mais um símbolo do que um objetivo.
comunidade. Mas comerciantes sem
É necessário para manter a horta autossuficiente
escrúpulos começaram a comprar
e ajudar a financiar a escola. É importante para
mangas em grande quantidade e
a motivação, como um sinal de empresa bema revendê-las para fazerem lucro.
sucedida. Outros incentivos poderosos são a
Agora a escola tem uma regra:
oportunidade para as crianças ganharem elas
ninguém pode comprar mais do
próprias algum dinheiro e terem voz nas decisões
que quatro mangas de uma vez.
de aplicação do lucro.
(S. Ncube, personal communication, 2003)
É essencial que o projeto tenha a imagem certa.
As famílias e a comunidade têm de constatar que
a escola está a ajudar as crianças a aprenderem competências úteis e não a explorá-las para o
lucro da escola, ou (pior) para benefício dos professores. A transparência na gestão do dinheiro é
crucial. Os alunos devem manter as contas e serem capazes de explicá-las. A contabilidade deve
ser de consulta pública e toda a escola e os pais devem saber como é usado o lucro.
Velho aldeão: “Quando eu
era um miúdo na escola,
costumávamos perguntar
porque é que estávamos a
produzir alimentos para
os professores comerem.
Agora a escola está
novamente a produzir
alimentos, mas é para as
crianças comerem.”
(M. Miller, personal communication,
2003)
A. O QUE IMPLICA
O projeto do mercado hortícola deve ser muito bem pensado
do princípio ao fim. E isto irá envolver:
• Explorar possíveis mercados e reconhecer as possibilidades
comerciais;
• Decidir o que produzir;
• Planear o orçamento e desenhar um plano de negócios;
• Produzir e processar as colheitas;
• Embalar, fazer marketing, transportar e vender as colheitas;
• Manter contas e registos;
• Decidir o que fazer com o lucro.
Seja qual for a escola, o processo é sempre o mesmo.
Na sala de aula
O projeto envolve reuniões, discussões e aulas que podem ser diretamente aplicadas numa
empresa. As escolas deveriam discutir com professores de Estudos de Negócio sobre como pode
um projeto hortícola ser integrado num currículo normal. Se não existirem esses especialistas,
pode pedir ajuda a amadores com boas capacidades e instintos para o negócio.
78
O QUE VAMOS CULTIVAR PARA VENDER?
Gestão do projeto
Quem irá gerir o projeto? Os alunos devem ser envolvidos em todo o processo e em controlá-lo
em grande parte. A “equipa de projeto” é constituída pelos alunos, apoiados pelos professores.
E os alunos devem ser encorajados a pedir conselhos às famílias. As equipas terão de partilhar
tarefas e planear a estratégia. Devem saber à partida que trabalhar em conjunto não é fácil e que
trabalhar em equipa faz parte do projeto. Devem avaliar e utilizar os talentos de cada um. Por
exemplo, todas estas qualidades são úteis:
•Um pensador analítico, para a pesquisa de mercado;
•
Alguém que seja bom com números, para a
contabilidade;
•Um aluno extrovertido, para as vendas;
•Um trabalhador responsável e consciencioso, para
organizar a horta;
•Talentos imaginativos e artísticos, para as embalagens
e promoção de ideias;
•Um bom coordenador, que irá encorajar todos os
membros.
Quando o produto ficar decidido, a equipa deverá criar um
dossiê para o projeto, para registar as atividades e decisões.
Este será usado para avaliação, motivação, publicidade e
evitar erros futuros.
Tamanho
A equipa do projeto deve decidir no início a escala e duração aproximada do projeto – isto é,
quanto tempo irá durar e quanto tempo lhe podem dispensar.
B. DECIDIR SOBRE PRODUTOS ADEQUADOS
A equipa deve começar por refletir sobre os diversos produtos possíveis, depois fazer uma
pesquisa de mercado, obter informação sobre os produtos e desenhar propostas de produto.
1. Pesquisa de mercado
Para cada ideia de produto promissora, a equipa de projeto deve identificar, de uma forma
prática, se existe procura, quem vai comprar e onde, quanto estarão dispostos a pagar e qual
a melhor altura para vender (ver a aula Pesquisa de Mercado). Para obter esta informação podem
visitar mercados, perguntar às famílias, falar com proprietários de estabelecimentos e entrevistar
produtores.
Que tipo de produto podemos vender?
Os alunos procuram descobrir à sua volta:
•que alimentos são comprados para as suas casas;
•que alimentos são produzidos localmente para obter
dinheiro;
•que alimentos são necessários para restaurantes locais,
hotéis, vendedores de rua, cozinha da escola, etc.;
• que alimentos muito procurados estão raramente disponíveis;
•que alimentos altamente nutritivos existem em pequena quantidade.
Podem considerar ervas aromáticas, sementes ou plântulas, fruta ou vegetais (crus ou processados),
comida pronta a comer, conservas ou bebidas e culturas que podem ser transformadas em
artefactos – por exemplo, cabaças podem ser transformadas em recipientes, taças e ornamentos.
79
O QUE VAMOS CULTIVAR PARA VENDER?
Qual é o seu “valor acrescentado” ou aspeto de venda?
Os novos produtos são difíceis de comercializar. Um produto já conhecido e com um novo aspeto
tem maiores hipóteses de venda. A equipa deve perguntar o que é especial em relação ao seu
produto, o que o torna diferente. Por exemplo, as pessoas podem querer comprar um produto
porque este é:
•de alta qualidade;
•atrativo e delicioso;
•altamente nutritivo;
• disponível fora da estação (fruta seca ao sol, por exemplo);
•barato;
• conveniente (levado para casa pelos alunos, por exemplo);
•biológico;
•produzido pela escola.
Se o valor nutricional é um incentivo à venda, a equipa vai
precisar de conselhos em termos de necessidades locais de
nutrientes e do valor nutricional de vários alimentos (ver Ficha de
Nutrição, Nutrientes nos Alimentos). Podem, por exemplo, consultar
o professor de economia doméstica ou uma clínica local.
Quem vai comprar e onde?
A equipa de projeto deve decidir quais os melhores locais de venda:
•a população local, através de lojas locais, mercados ou bancas à beira da estrada;
•a população da escola, através de bancas de lanches geridas pelos alunos, através de
vendedores, na aula;
•país e famílias, através dos alunos, ou em eventos nas escolas, como feiras de alimentos,
por exemplo;
•a escola como um todo, através do serviço de refeições do estabelecimento.
É muito mais educativo se os alunos forem envolvidos nas vendas, em vez de delegar a um
profissional de bancas de venda ou lojistas. No entanto, podem ser feitos acordos com lojas
locais. Por exemplo, produtores locais podem estar interessados em contribuir para uma banca
semanal na escola, se esta atrair muitas pessoas. Os restaurantes e bares podem estar prontos a
comprar um produto específico durante um certo período; nestes casos é aconselhável serem os
professores a fazerem a primeira abordagem, e depois pedirem aos alunos que negoceiem se lhes
parecer que serão bem-vindos.
Quanto é que vão pagar?
Quando se calcular o preço de venda de um produto,
é importante considerar os custos
relacionados com
a produção. Mesmo algo tão básico
como a taxa de
germinação das sementes pode afetar
o preço final das
plântulas ou das
compotas.
80
Quando é que se deve vender? A equipa tem
de descobrir que preços são competitivos,
qual é a variação de preços e como variam
sazonalmente. Podem decidir por um
produto fora de época que atinge preços
elevados, como o caso da manga desidratada
(ver caixa da página 68).
Como é que se promove?
Todos os produtos precisam de um nome.
Um produto pode ser promovido com um
cartaz, de boca em boca, num lema, numa
conversa ao balcão. Se os “argumentos de
venda” são novos para os compradores,
será necessário promover. Por exemplo, se o
O QUE VAMOS CULTIVAR PARA VENDER?
produto é altamente nutritivo, então os clientes devem
ser convencidos do seu valor nutricional. Não se deve
negligenciar outras virtudes – o produto também
pode ser delicioso e barato. Os argumentos de venda
costumam ser três, normalmente!
As ideias para comercializar são importantes. A
promoção faz normalmente a diferença. No entanto,
precisa de ser planeada e organizada, e também
acarreta custos. A equipa de projeto deve ter algumas
ideias no início e desenvolvê-las enquanto as culturas estão a crescer.
2. Informação sobre o produto
A equipa também vai precisar de discutir algumas questões técnicas e de marketing, de forma
a desenvolver uma proposta completa para o produto e identificar os contributos necessários
(ver o esquema da aula em Informação sobre o produto). A discussão pode levantar questões sobre
princípios importantes – por exemplo, alimentos seguros, respeito pelo ambiente, investimento
em infraestruturas, verdade na publicidade.
Conseguimos produzir? Como é que produzimos?
Será que as culturas são fáceis de cultivar, resistentes e fiáveis? Começamos com sementes ou
com plântulas? Quanto trabalho será necessário? Será que as culturas serão colhidas e embaladas
a tempo de serem vendidas antes do final do ano letivo?
Será necessário aconselhamento técnico para saber como obter os melhores resultados – quando
plantar, como cultivar, a que pragas e doenças se deve estar atento e como lidar com elas, quando
e como colher, como armazenar a colheita (ver Capítulo 8: Como é que produzimos alimentos?).
A equipa deve decidir se irá adotar outro princípio além do lucro a curto prazo. Por exemplo,
será que vão insistir que o projeto devolva ao solo o que retirou? Será que devem ser feitas
melhorias na infraestrutura da horta?
Como é que é processado?
Se o produto precisa de processamento, que equipamento será necessário? Como é que os alunos
vão aprender a processar? Que regras de higiene devem ser observadas? Se o produto deve ser
armazenado, que tipos de recipiente são necessários para protege-los? A equipa do projeto deve
abordar todas estas questões. Os técnicos de ambiente, os professores de economia doméstica, os
inspetores de segurança alimentar ou o ministério da saúde poderão ser fontes de aconselhamento.
Como é que será acondicionado e rotulado?
O acondicionamento não tem de ser dispendioso, mas deve ser atrativo
e seguro. Se o produto é para conservar, o acondicionamento deve ser
estanque e à prova de pragas. A rotulagem é um aspeto importante para
a comercialização. E também é uma atividade educativa que introduz
aos alunos obrigações legais e estratégias de comunicação tais como
desenhos de alto impacto e textos atrativos. Haverá inscrições nos
recipientes ou na embalagem? A equipa de projeto deve considerar
como é que isto pode ser feito – à mão, impresso ou fotocopiado?
Quanto tempo irá demorar?
Quando a equipa de projeto tiver reunido a informação, deve estimar o tempo necessário ao
projeto, tanto regularmente como nos períodos de ponta da atividade (colheita, processamento,
acondicionamento e venda, por exemplo). Isto pode afetar a escala e o cronograma da operação
(por exemplo, evitar os períodos de testes ou exames).
81
O QUE VAMOS CULTIVAR PARA VENDER?
3. Propostas de produtos
Ao ser realizada a pesquisa anterior, podem ser eliminadas algumas ideias demasiado ambiciosas
ou pouco realistas. Para os produtos mais prometedores, a informação recolhida pode ser
sintetizada como na tabela abaixo. Este documento é para os empreendedores, não para o público.
Nome do produto
Manga desidratada
Produto
Fatias de manga secas ao sol.
Tipo de produto
Lanches para crianças comerem na escola ou em casa.
Valor nutricional
Rico em vitamina A e energético, muito bom para a saúde.
Valor acrescentado/
aspetos de venda
Pode ser comido fora da estação e dura muito tempo. Delicioso. Dá energia
para estudar.
Quem vai comprar e onde?
Estudantes e famílias. Os estudantes levam para casa e serão vendidos na
banca da escola nos intervalos.
Quanto vão pagar?
Será pago o mesmo valor que está estabelecido para bolos e pãezinhos do
vendedor de rua – 20 cêntimos.
Quando deve ser vendido?
Começar a vender duas semanas depois das mangas frescas terem terminado.
Consegue-se produzir?
Como é que produzimos?
As árvores já existem na escola – não é necessário plantar, cultivar ou podar.
Como é que é colhido?
Como é processado?
Como é acondicionado?
As mangas serão apanhadas quando estiverem semi-maduras e não cheias de
fibra. Serão apanhadas à mão para proteger o fruto. Devem ser escolhidos os
frutos perfeitos.
Será utilizado um secador solar, que terá de ser construído. a) lavar e descascar
a fruta (com uma faca limpa e mãos limpas) e cortar às fatias. A casca e a
semente vão para o composto. b) fazer uma solução de 1 litro de água, 700 g
de açúcar, 3 g de meta bissulfito de potássio e 2 colheres de sumo de limão
para cada 2 quilos de fruta. c) embeber as fatias durante 18 horas, e depois
escorrê-las. d) colocar em tabuleiros untados no secador solar durante três a
quatro dias. e) verificar a qualidade e pesar porções de 200 g.
A fruta é colocada em sacos de plástico selados com um rótulo com o nome,
peso, ingredientes, origem, data de processamento e data de validade.
Como é promovido?
a) mantém-se toda a escola informada do projeto e promove-se um concurso
para o melhor logótipo.
b) enquanto as mangas estão frescas faz-se sumo de manga para os alunos e
recorda-se que podem ter mangas durante todo o ano se assim quiserem.
c) pede-se aos alunos para transmitirem às famílias o lema: A manga
desidratada mantém-nos saudáveis todo o ano.
d) oferece-se amostras nas primeiras duas semanas de vendas.
Quanto
tempo
demora?
Serão necessárias dez horas de preparação por semana durante um mês, 20
horas por semana durante o mês de frutificação, cinco horas por semana,
durante seis semanas, durante o período de vendas. Tudo isto soma 150 horas
(isto é, 30 horas para cinco pessoas, 15 horas para dez pessoas).
(Adaptado de FAO (sem data) Rural Processing and Preserving Techniques)
82
O QUE VAMOS CULTIVAR PARA VENDER?
C. DEFINIÇÃO DE UM PLANO DE NEGÓCIO
O plano de negócio é um documento definido pelo
empreendedor e revisto por organizações que fornecem
empréstimos ou pelos gestores bancários. O seu propósito é
decidir se a proposta irá funcionar financeiramente – isto é,
se haverá lucro. O plano:
•define a ideia do projeto e a estratégia de marketing;
•apresenta os números para as receitas previstas, os
custos e os lucros;
•explica como será distribuído o lucro;
•discute riscos e verifica como será possível evitá-los.
Para definir o plano de negócio, a equipa de projeto deve encontrar resposta a estas questões:
Quanto é que se prevê produzir?
Estimar quantidades é um bom teste ao sentido de realismo da equipa e ajuda a calcular os
recursos necessários. Devem decidir:
•quanta terra conseguem facilmente cultivar;
•quanto conseguem plantar na terra;
•que rendimento esperam da colheita;
•que quantidade de produto final a colheita irá fornecer.
Quais serão os custos?
Que meios de produção serão necessários? Onde serão adquiridos? Quanto custam? É importante
que os custos sejam trabalhados seguindo a mesma forma que num negócio, como se fosse uma
microempresa num mundo exterior. Vai ajudar os alunos a pensarem melhor sobre finanças. Por
exemplo:
•O custo relacionado com o trabalho da equipa de projeto não deve ser incluído como um
custo. Em vez disso, a equipa partilha os lucros.
•A renda da terra seria provavelmente muito baixa mesmo que a escola resolvesse cobrá-la.
Mas, se a escola está a emprestar ferramentas, transporte e equipamento, se fornece água
ou se paga as sementes, por exemplo, estes custos devem ser incluídos para serem pagos
com futuras receitas.
•Depois dos alunos estarem habituados a analisar custos, pode-lhes ser apresentada a ideia
de custos variáveis e fixos, e o efeito de escala nos proveitos. Se produzirem mais, irá isto
aumentar a taxa de lucro?
Como se irá utilizar o lucro?
Assim que houver uma estimativa de lucro, a equipa deve discutir o
que fazer com o lucro. Estas são algumas possibilidades:
•Reinvestir na horta;
•Contribuir para um projeto de melhoria da escola;
•Financiar uma festa final;
•Partilhar o lucro entre a equipa do projeto;
•Pagar a alunos para acompanharem a horta durante as férias.
Se a equipa de projeto decidir contribuir para o Fundo da Escola, será boa ideia assegurar que
será destinado a um projeto específico e não simplesmente “perdido” nas despesas gerais. Todos
devem saber com quanto contribuiu o grupo da horta e do mercado e em que é que foi gasta essa
contribuição.
Quais são os riscos e como evitá-los?
Para abordar esta questão, o projeto deve ser dividido em fases e deve pensar-se no que pode
correr mal em cada fase e como resolver. Por exemplo:
83
O QUE VAMOS CULTIVAR PARA VENDER?
•Fase 1: obter os recursos (não estão disponíveis, demasiado
caros, fraca qualidade);
•Fase 2: cultivar a cultura (falta de água, pragas e doenças,
problemas de trabalho);
•Fase 3: colheita e processamento (quebra no equipamento,
demasiado trabalho);
•Fase 4: acondicionamento e transporte (indisponibilidade
das embalagens, transporte demasiado caro);
• Fase 5: vendas (tempo errado, lugar errado, pessoas erradas).
Depois de investigar e discutir estas questões, definir o plano de
negócio (para exemplo, ver a aula Plano de Negócio). Arquivar no dossiê do projeto.
D. IMPLEMENTAR O PROJETO
Finalmente, o projeto precisa de um plano de ação (ver Capítulo 10). Este irá mostrar todas as
atividades do projeto e colocá-las num calendário. Aspetos importantes para
os empreendedores jovens:
• Objetivos claros que incorporem os princípios discutidos;
• Manter registos – um bom hábito que nem sempre surge naturalmente;
• Publicidade, uma vez que a autoapresentação é chave para o sucesso
do negócio;
• Avaliação, que dirá à equipa se a empresa é bem-sucedida.
1. Objetivos
Uma empresa mede habitualmente o seu sucesso pelo lucro. A equipa de projeto deve discutir
se este é o seu único critério. Pode também querer adotar outros objetivos ou princípios para
guiar as suas ações – isto é, comunicação honesta, respeito pelo ambiente, investimento em
infraestrutura e reputação da escola. Que também serão objetivos do projeto.
2. Manter registos
O dossiê do projeto deve ter um registo completo do
projeto, incluindo:
•os objetivos;
•toda a informação sobre os produtos;
•o plano de negócio;
•o plano de ação;
•a contabilidade;
•o diário do projeto;
•registos fotográficos, se existirem.
Contabilidade
A equipa de projeto deve aprender a manter as contas através de um sistema de rotatividade (ver aula
Contabilidade). Contas pequenas e simples podem ser expostas e a equipa de projeto pode explicá-las.
O diário do projeto
Deve ser mantido um diário regular do projeto, que inclua:
•as tarefas realizadas e o tempo que demoraram;
•problemas, incidentes, ações tomadas – por exemplo, notas sobre os tratamentos usados
para as pragas, conselhos que foram dados, meteorologia, condições de mercado,
discussões entre a equipa de projeto, etc.;
•registos da produção – data de colheita, quantidade, etc.
Se o projeto vai ser avaliado, a equipa pode compilar um portfólio do projeto.
84
O QUE VAMOS CULTIVAR PARA VENDER?
Registo fotográfico
Tirar fotografias boas e atrativas do processo e do produto.
3. Publicitar o projeto
A comercialização do produto já é publicidade. Mas se o produto for bem-sucedido, é bom fazer
mais “barulho”! Os alunos e os professores podem falar sobre o projeto a organizações, a toda
a escola, a grupos de jovens, a associações de pais ou à direção da escola. Isto irá promover a
boa alimentação, dar ideias de negócio aos mais novos, aumentar a reputação da escola, fazer
com que a equipa se sinta bem, permitir ganhar prática em fazer apresentações e atrair novos
patrocinadores.
Todos os registos são úteis para publicitar o projeto, especialmente imagens, fotografias,
testemunhos e histórias. Para os jornais locais ou programas, deve-se preparar uma página com
os pontos importantes e incluir uma imagem que fique bem a preto e branco.
4. Avaliação
A avaliação deve confirmar as projeções do plano de negócio (ver aula Avaliação, no Capítulo 10).
Algumas questões são:
•O lucro compensou o trabalho realizado?
•O que é que não foi previsto?
•Os custos e preços estavam certos?
•Foram atingidos os objetivos?
•Atingiu-se o lucro dentro do intervalo definido?
•O lucro foi utilizado como previsto?
•Que lições foram aprendidas?
SUGESTÕES PARA A AÇÃO
•Realizar encontros periódicos com professores de estudos de negócio para discutir sobre
como incorporar o projeto no currículo.
•Pedir aos alunos para se organizarem em equipas de projeto e pensarem em produtos
que são comercializáveis. Conduzi-los por todas as fases vistas anteriormente, terminar o
plano de negócio e o plano de ação.
•Apresentar o plano de negócio ao Grupo da Horta e discutir necessidades.
Resultados: - Ideias de produtos adequados;
- Planos de negócio;
- Lista de necessidades.
Dicas e ideias
•Para promover o espírito empreendedor, a equipa de produto pode concorrer a um
prémio ou a um título (p.e. Empreendedores do Ano) ou submeter propostas rivais
para projetos.
• Realizar um concurso para o nome do produto, o logótipo e o design da embalagem.
•Ensinar os alunos a fazer apresentações de planos de negócio, com cartazes, para
o Grupo da Horta/Associação de Pais.
•Incentivar os alunos a cultivarem talhões individuais para conseguirem obter
algum dinheiro no final do ano. Organizar uma competição para o melhor talhão
ou para o mais lucrativo.
85
O QUE VAMOS CULTIVAR PARA VENDER?
•Estabelecer uma moeda própria. Os alunos “vendem” os produtos à loja da escola
e “compram” outros produtos com a moeda que ganharam por trabalharem na
horta.
•Pagar em géneros – as crianças recebem fruta e vegetais por uma monda extra,
fazer entregas na vila, levar alimentos para o mercado, etc.
•Convidar empreendedores locais, vendedores do mercado, pessoas de negócios
para discutir os seus problemas e sucessos, e comentar as ideias de produtos e
planos de negócio dos alunos.
NA SALA DE AULA
Mercado hortícola
Nestas aulas, os alunos mais velhos têm de planear e implementar um projeto de
mercado hortícola.
1. Pesquisa de mercado Esta introdução à pesquisa de mercado implica uma aula dupla.
Objetivos
Os alunos reconhecem a importância da pesquisa
de mercado, discutem ideias de produto e fazem uma pesquisa
de mercado simples.
Atividades Os alunos preparam-se através da procura das
culturas comerciais locais, preços e descontos, e pensam em
oportunidades de mercado. Na sala, ouvem histórias de jovens
empreendedores que não fizeram a sua pesquisa de mercado
e analisam porque é que falharam. Depois discutem ideias de
produtos, considerando uma série de produtos e lojas (ver em
baixo), escrevem as ideias em cartões e penduram-nos. Escolhem
um “papel ideia de produto” (PIP) e discutem cinco questões: a) o que será especial em relação ao
produto? Quem irá comprá-lo e onde? C) que mercados são melhores? D) quanto é que os clientes
vão pagar? E) qual é a melhor altura para vender? Como trabalho de casa, cada grupo escolhe
outro PIP prometedor e investiga as mesmas cinco questões.
•Possíveis saídas: lojas, mercado, vendas de rua, entrega em casa, eventos
na escola, eventos na igreja, grupos de jovens, bancadas na escola, refeições
da escola, restaurantes locais, cafés ou bares.
•Produtos possíveis: ervas aromáticas e medicinais; plântulas; sementes
ou vasos com plantas; comida crua; comida processada ou conservada;
pratos pronto a comer, bebidas e lanches; sacos de composto; lenha; outros
produtos para a horta (por exemplo: sprays caseiros para pragas, flores,
cestos, esponjas vegetais); ovos, vassouras e escovas.
2. Propostas de produtos Convidar “consultores” com experiência real do mundo
dos negócios.
Objetivos Os alunos aprendem a consultar peritos e a apresentar as suas propostas de
produtos.
Atividades Os alunos relatam a sua pesquisa de mercado, falam dos seus PIP e explicam
porque é que acham que as ideias são bem-sucedidas. A turma divide-se em equipas, cada equipa
com uma responsabilidade específica (produção, contabilidade, vendas ou publicidade). Quem é
responsável pelo registo das ideias de projeto e nomes dos membros da equipa? Como trabalho
86
O QUE VAMOS CULTIVAR PARA VENDER?
de casa, os alunos pesquisam as culturas selecionadas usando a Ficha Cultura e consultando os
peritos apropriados (horticultores, pequenos agricultores e professores de economia doméstica).
•A ficha de cultura deve seguir as questões do esquema da aula para Peritos de Culturas
(Capítulo 6), com estas questões extra: que embalagem/etiqueta irá precisar o produto?
Existirão subprodutos que se possam usar ou vender? Que recursos serão necessários
para produzir e vender este produto (transporte, ferramentas, equipamento, sementes,
água, embalagens, ingredientes para cozinhar/preservar ou publicidade)? Quanto irão
custar? Onde podem ser adquiridos?
3. Informação sobre o produto Os alunos recolhem informação necessária para o
plano de negócio.
Os alunos recolhem informação essencial sobre o produto e os recursos necessários;
Objetivos
reconhecem os processos envolvidos no desenvolvimento de um produto e o que implicam.
Atividades São apresentadas aos alunos as dez questões que devem ser respondidas no
âmbito do plano de negócio (em baixo), para que identifiquem aquelas que já responderam (1.3).
Fazem um relatório com a informação que já recolheram sobre o produto e arquivam no dossiê
do projeto. A turma dedica-se depois às perguntas 4-6. Discutem a escala de produção (área do
terreno que é necessária, quanto tempo, que quantidades) e fazem estimativas quantitativas.
Listam os recursos necessários, onde é que os irão obter e fazem uma estimativa de quanto irão
custar; esta informação será registada pela Equipa
de Registos. Os alunos discutem e decidem quem
é responsável por obter informação sobre cada um
dos recursos.
Questões para o plano de negócios
1. O que vamos produzir?
2. Como é que o vamos fazer?
3.Como e onde iremos vender os nossos
produtos?
4. Quanto é que planeamos produzir?
5. Onde serão obtidos os meios de produção?
6. Quais serão os nossos custos?
7. Quais vão ser as nossos receitas?
8. Que lucro esperamos obter?
9. Quais são os riscos e como podemos evitá-los?
10.O que vamos fazer ao lucro?
4. Orçamentação Esta aula diz respeito às
questões relacionadas com dinheiro (7 e 8, em cima).
Objetivos Os alunos estimam o lucro dos possíveis
produtos.
AtividadesOs alunos usam a tabela em baixo para
aprenderem a estimar os custos e as receitas, e a calcular
o potencial lucro. Usam a sua lista de insumos necessários
e fazem uma análise de custos para os seus projetos. E
já podem considerar as questões 7 e 8, já respondidas.
Como trabalho de casa, refletem sobre os riscos que o
projeto pode enfrentar e o que pode ser feito com o lucro
obtido (questões 9 e 10).
87
O QUE VAMOS CULTIVAR PARA VENDER?
Análise de custo para o projeto Tomate
Produto
RECEITAS
Tomates
Quantidade
50 kg
Preço de
venda por
unidade
2¤ por kg
TOTAL
100¤
100¤
Item
CUSTOS
Valor
total
Quantidade necessária
Preço por
unidade
Total
custos
Sementes
5 pacotes
2¤
10¤
Fertilizante
5 sacos
5¤
25¤
Sacos de papel
100
10¤ per 100
10¤
Licença para o mercado
1
5¤
5¤
Transporte
4 viagens ao mercado
3¤
12¤
Ferramentas
4¤
TOTAL
66¤
LUCRO
ESPERADO
34¤
5. Plano de negócio Esta aula é para preparar o plano de negócio, de forma a que
possa ser apresentado ao público.
Objetivos
Os alunos antecipam riscos, discutem o que fazer com o lucro, desenham o plano
de negócio e apresentam-no.
Atividades Os alunos descrevem os riscos que identificaram, sugerem formas de evitá-los
e anotam as ideias. Discutem também o que gostariam de fazer com o lucro. As ideias são
registadas, mas a decisão final é deixada para mais tarde no projeto. A ficha do Plano de Negócio
(em baixo) é apresentada aos alunos. Estes escrevem o seu plano de negócio e praticam a sua
apresentação. As equipas depois definem as ações prioritárias e registam o que deve ser feito
e quem é responsável. De seguida, os alunos fazem apresentações (para a associação de pais e
alunos, ao Grupo da Horta e a outras turmas, por exemplo).
A ficha do plano de negócio
Nome do grupo ................................................................................... Turma ...................................................
Nome do projeto e produto .................................................................................................................................................
Descrição do projeto .............................................................................................................................................................
Período do projeto: de ....................................................... (mês, ano) a ....................................................... (mês, ano)
1. Estimam a rentabilidade da empresa (anexam a análise de custos)
2. Onde serão adquiridos os recursos necessários? .......................................................................................................
3. Como e onde serão vendidos os produtos? .................................................................................................................
4. O que será feito com o lucro? .........................................................................................................................................
5. Quais são os principais riscos e como é que serão reduzidos? ...............................................................................
......................................................................................................................................................................................................
(Adaptado de Heney, 2000)
88
O QUE VAMOS CULTIVAR PARA VENDER?
6. Marketing e publicidade Promover o produto é muito educativo para os promotores!
Objetivos Os alunos tomam consciência do valor da comercialização e promoção,
estudam e selecionam estratégias de comercialização e implementam-nas com um programa de
comercialização coerente.
Atividades Os alunos estudam produtos que já conhecem e as suas estratégias de
comercialização, e debatem ideias para os seus produtos (ver em baixo). Depois selecionam
algumas abordagens que consideram que poderão ter impacto para o seu contexto. De seguida,
a equipa de publicidade prepara e apresenta o plano de comercialização.
Pensar em estratégias de comercialização
Pensar nos principais pontos de venda do produto:
•Decidir a abordagem de comercialização geral (serviço
especial, entrega personalizada, publicidade porta a
porta, boca-a-boca, campanhas com cartazes, embalagem,
ofertas especiais).
•Inventar um nome para o produto, logótipo, lema e decidir
como serão utilizados.
•Desenhar a embalagem e o rótulo (lembrar que existe
informação de segurança alimentar que é obrigatória no
rótulo).
•Pensar na publicidade e em promoções (folhetos, bandeiras, exposições).
•Equipa de vendas.
7. Contabilidade e registos Manter as contas é útil mesmo que haja pouco fluxo de
dinheiro.
Objetivos Os alunos monitorizam diariamente as receitas e as despesas, reconhecem a
necessidade de transparência na contabilidade.
Atividades Os alunos discutem a importância de manter o registo das contas (como lembrete,
transparência, para avaliar o lucro). Acompanham os registos de um dia de um vendedor no
mercado, receitas e despesas (ver em baixo), e percebem que se adiciona a diferença entre
receitas e despesas à direita (assim os dois lados dão o mesmo resultado, para verificarem que
não se enganaram). Depois praticam fazendo entradas para outros cenários fictícios. Finalmente,
recebem um livro para o seu próprio projeto e decidem quem o vai usar e como.
Livro da Elisabete
A Elisabete vende tomate, cebola e quiabo no mercado.
Esta é uma página do seu livro.
A Elisabete começa com 8,000 em
dinheiro.
De manhã ela compra:
- 2 cestos de tomate a 2.000 cada
- 1 saco de cebolas a 2.500
- 1 cesto de quiabos a 1.200
Durante o dia ela vende:
- tomates a 1.000
- cebolas a 600
- quiabos a 400
Ela fica com 600 para comprar comida
para casa.
No fim do dia, sobram 1.700. Por isso, no
dia seguinte, ela começa com 1.700 em
dinheiro.
(Adaptado de Heney, 2000)
89
NOTAS
90
CAPÍTULO 8
COMO CULTIVAR?
Método Hortícola
Objetivos
Decidir estratégias e necessidades de aprendizagem em relação a:
• Cuidar das plantas: regar, alimentar,
• Plantar – o quê, como, mondar;
quando e onde;
• Cuidar das plantas: gestão de pragas;
• Manter o solo;
• Colheita, armazenamento e preservação.
• Usar ferramentas;
• Obter boas sementes e plântulas;
Como é que produzimos alimentos? O que é que as crianças devem aprender sobre produzir
alimentos? O “Currículo hortícola” responde a questões como Como podemos manter o solo rico?
Como é que semeamos sementes? O que fazemos em relação às pragas? Algumas das respostas diferem de
acordo com as circunstâncias locais, práticas e ideias. É necessário decidir que métodos serão
usados na horta da escola, o que também irá afetar o que vão decidir produzir.
Algumas das técnicas mais conhecidas e bem-sucedidas estão explicadas nas Notas de Horticultura.
Muitas delas são abordagens biológicas, defendidas por este Manual (ver Horticultura biológica, nas
Notas de Horticultura). Estas abordagens devem ser comparadas com as experiências pessoais, com
os recursos que estão disponíveis, com as práticas locais e com o que as crianças conseguem fazer.
91
COMO CULTIVAR?
As seguintes perguntas devem ser colocadas:
•Estamos familiarizados com esta abordagem? É assim que é feito cá?
•Queremos fazer isto desta forma? Se sim, será que precisamos de convencer outras
pessoas?
•Será que os alunos conseguem gerir a horta? O
que é que vão precisar de aprender?
Se algumas abordagens forem novidade, devem
aconselhar-se com peritos locais. Ao discutirem estas
questões, devem chegar a um currículo de horticultura
que seja adequado às circunstâncias locais.
A. ATIVIDADES NA HORTA
1. Como é que se mantém o solo fértil?
As plantas, ao crescerem, retiram nutrientes ao solo. Na natureza, as plantas normalmente
morrem depois de crescerem e devolvem ao solo os nutrientes que retiraram. Mas, quando as
culturas são colhidas, retiramos ao solo o que ele produziu, para comer ou usar. Ao fazermos
isto, retiramos a riqueza do solo e devemos devolver de alguma forma. Este é um ponto que as
crianças precisam de entender.
Existem várias boas formas de manter o solo fértil:
Composto e cobertura de solo
O estrume, o composto e a cobertura do solo devolvem ao solo muita matéria orgânica. Deve
consultar o anexo Notas de Horticultura sobre composto, rega e cobertura do solo.
•Estas práticas são normais do ponto de vista local?
É possível fazê-las na escola?
• Se o plano é fazer composto, quando se deve começar
(demora cerca de três meses a ficar pronto)?
•As crianças e as suas famílias podem contribuir para
o composto. Como é que isto pode ser organizado
a longo prazo? Como é que se poderão tornar
entusiastas em relação ao composto?
Lavoura mínima
Se for decidido ter canteiros elevados permanentes, a
melhor política é a “lavoura mínima” (ver Canteiros, no
anexo Notas de Horticultura) – isto é, não mexer no solo
e deixar a natureza fazer o cultivo. Raízes, composto, minhocas e bactérias vão fazer o seu
trabalho para a construção de uma boa estrutura do solo. Depois de o canteiro estar pronto, devese evitar a lavoura profunda ou cavar, uma vez que isto poderá destruir a estrutura viva do solo.
• A “lavoura mínima” é uma prática local? Vai ser necessário convencer outras pessoas?
Rotação de culturas
Culturas diferentes consomem nutrientes do solo diferentes e em quantidades diferentes. Os
nutrientes são retirados a diferentes níveis do solo. Para manter o solo fértil, é essencial fazer uma
rotação de culturas – isto é, ter uma cultura diferente, de uma família de plantas diferentes, em
cada canteiro, em cada estação. O ciclo de mudança das culturas deve durar pelo menos quatro
anos. Alternar culturas de raízes profundas e raízes superficiais também permite que diferentes
níveis do solo possam ter um período de “descanso” (consultar Rotação de culturas e culturas mistas,
no anexo Notas de Horticultura).
92
COMO CULTIVAR?
Se for decidido que os alunos devem aprender a fazer rotação de culturas, será necessário que
façam um mapa das culturas plantadas em cada estação. Também ajuda se a turma mantiver o
mesmo talhão ao longo dos vários anos letivos, para que os alunos possam controlar o local das
culturas todos os anos.
•A rotação de culturas é norma local?
•Pode ser usada na horta da escola?
•Vai ser incluída na aprendizagem?
Culturas sob coberto (associadas)
Pode-se produzir plantas de alturas e hábitos diferentes
em conjunto, o que permite retirar o melhor uso do
solo (ver Culturas Mistas, no anexo Notas de Horticultura).
Normalmente, a planta mais alta é perene, como a
papaia ou o maracujá, por exemplo, enquanto as culturas
pequenas anuais podem estar em rotação.
•Existe espaço para algumas perenes altas entre as outras culturas? O que se poderia
plantar?
•Vai ensinar-se às crianças como fazer culturas mistas?
Rotação de culturas nas hortas escolares
Nas hortas escolares é necessário estabelecer compromissos entre práticas agrícolas boas,
por um lado, e necessidades nutritivas, educativas e motivacionais, por outro. Ninguém
quer estar todo o ano a estudar e a comer apenas cenouras! Por sorte, o espaço que se
dá a cada cultura não faz muita diferença para a rotação de culturas. As doenças não se
propagam no solo, por isso pode haver rotação quer em áreas pequenas quer em grandes.
Por exemplo, um produtor comercial pode ter um campo com couves, outro com feijões,
um com cenouras e um quarto com acelgas, e fazer a rotação de quatro culturas a cada
cinco estações, com um intervalo de poisio. A turma pode ter as mesmas quatro culturas
numa horta pequena, com uma faixa vazia e uma cultura para “adubo-verde”, como
girassol ou alfafa:
3 linhas de
feijão verde
4 linhas de
acelgas
4 linhas de
cenouras
5 couves
Faixa vazia
Girassol ou
alfafa
(Adaptado de Valley Trust Nutrition Education Programme, 1995)
Ainda é possível fazer rotação de culturas num quadrado muito pequeno de 1 x 1 metro,
como na “horta de um metro quadrado”. Estes desenhos tornam a rotação de culturas
mais visível e ao mesmo tempo enfatizam a importância da variedade, para uma boa
nutrição.
2. Como podem ser utilizadas as ferramentas?
Que ferramentas são utilizadas localmente e como? As crianças conhecem as ferramentas e
sabem como usá-las (ver Capítulo 5)?
A segurança com as ferramentas é particularmente importante com crianças. Que precauções
devem ser tomadas e que procedimentos devem ser estabelecidos?
Que regras devem ser estabelecidas para manter as ferramentas sem ferrugem, para as partilharem
de forma responsável e, acima de tudo, para as guardarem depois de serem usadas?
•Existe algum ponto que precise de ser especialmente enfatizado junto dos alunos?
•O seguro da escola cobre acidentes na horta, com as ferramentas e o equipamento?
93
COMO CULTIVAR?
3. Como é que se obtêm boas sementes?
Vão ser necessárias sementes que sejam fortes e que não tenham doenças. As variedades locais
são as melhores. As opções são:
Sementes e estacas da comunidade
Estas estarão provavelmente bem adaptadas ao clima. Contudo não se pode ter a certeza que
serão fortes ou que não tenham doenças. Devem ser plantadas separadamente, rotuladas, e deve
pedir-se às crianças para monitorizarem e perceberem como estão a crescer as plantas.
Comprar sementes
Estas são mais dispendiosas, mas geralmente é aconselhável comprar
sementes comerciais e usá-las no período especificado. Pode-se tentar obter
as sementes de um retalhista de sementes, mas deve-se verificar se estão
dentro do prazo: sementes de vegetais deterioram rapidamente (cereais e
legumes duram mais tempo).
Sementes próprias
Por vezes pode retirar sementes das próprias plantas, se não forem híbridas. Esta é a solução mais
barata e pode ajudar a melhorar o stock de plantas. Também é muito educativo: aprender como
selecionar, colher e armazenar as sementes e fazer estacas são lições valiosas para as crianças.
Deve-se selecionar as melhores plantas e as mais fortes; evitar o
erro comum da “seleção negativa” (ficar com as sementes das
plantas fracas e doentes).
•Haverá alguém que possa doar sementes e estacas para a
horta da escola?
•Será que é possível obter sementes mais baratas por
encomenda postal em vez de num fornecedor local?
•Será que é possível guardar sementes das próprias plantas?
4. Como, quando e onde plantar?
Como
As sementes grandes podem ser plantadas diretamente no solo. As sementes pequenas requerem
uma cama para as sementes ou um viveiro. Pode ser numa caixa, tabuleiro ou saco; um viveiro
protegido; um tabuleiro de sementes (reutilizar tabuleiros de plástico pode ser uma solução
económica); um viveiro de sementes na sala de aula. As sementes vão precisar de germinar e
crescer antes de serem transplantadas. Alguns procedimentos standard são descritos nas Notas de
Horticultura, em Plantar, transplantar e semear sementes.
• Como é que se planeia fazê-lo?
Quando
Obter aconselhamento local sobre
quando plantar, uma vez que o clima
da região habitualmente dita o melhor
momento. Também é necessário
encaixar a plantação no período escolar
e continuar a plantar caso se queira
obter colheitas contínuas.
• Quais são as práticas locais? O
que gostariam de experimentar?
94
Antes tarde….
Um professor na Gambia plantou cebolas na
horta da escola. Seguiu as instruções do pacote.
Uma mulher mais velha passou na estrada e
avisou-o que era muito cedo, mas ele ignorou
porque achou que ela não percebia do que estava
a falar. No final, as cebolas falharam, enquanto
as cebolas da mulher mais velha (plantadas
mais tarde) floresceram. O facto de terem sido
plantadas mais tarde evitaram os piores efeitos
da estação seca.
(Cederstrom, 2002)
COMO CULTIVAR?
Onde?
Algumas das possibilidades são descritas nas Notas de Horticultura, em Rotação de culturas, culturas
mistas e culturas associadas.
•Irão colocar uma cultura em cada talhão, ou várias no mesmo talhão?
•Irão usar o método de culturas mistas para controlar pragas?
5. Como cuidar das plantas?
As tarefas regulares da horta são regar, cobrir o solo e mondar. Estas tarefas são relativamente
repetitivas e podem-se tornar mais interessantes se as crianças aprendem a melhor forma de o
fazerem. Melhor: se o fizerem em grupo, mostram umas às outras como o fazem e veem os efeitos
do seu trabalho.
Rega
A rega regular é essencial para a maioria das plantas. E há
formas mais ou menos eficazes de fazê-lo. Todos os principiantes
devem aprender a reconhecer quando é necessário regar, saber
quanto é suficiente e a regar o solo, não as folhas (ver Regar as
plantas, no anexo Notas de Horticultura)!
• Quais são as práticas de rega locais? O que é que as
crianças precisam de aprender?
Cobertura de solo
Cobrir o solo à volta das plantas com material orgânico seco é ótimo
para impedir o crescimento de ervas e manter a humidade no solo.
Lentamente, aumenta o conteúdo orgânico do solo e previne o solo de
formar uma crosta dura. Existem conselhos sobre cobertura do solo nas
Notas de Horticultura.
• A cobertura do solo é uma prática local? Que material local é adequado
para cobrir o solo? É algo que os alunos precisam de aprender?
Mondar
Também existe arte na monda. É necessário apanhar as ervas antes de produzirem semente e
ter a certeza que se retiram as raízes ou se corta a erva abaixo da superfície do solo. Mondar
pode ser uma atividade satisfatória, uma vez que os efeitos são visíveis e as ervas são um estudo
interessante sobre a competição entre as plantas. Algumas atraem insetos benéficos, outras dão
uma boa contribuição para a pilha de composto. Pode verificar conselhos sobre monda nas Notas
de Horticultura.
• O que é que os alunos precisam de aprender sobre mondar?
6. Como combater as pragas e doenças?
Com a Gestão Integrada de Pragas (GIP) pode-se evitar muitas despesas
enquanto se protege o ambiente (ver Plantas saudáveis, no anexo Notas de
Horticultura). A GIP preserva os insetos benéficos, protege as aves selvagens,
poupa dinheiro e protege o solo. Também encoraja as crianças a observar
e ajuda-as a compreender todo o ecossistema. Aqui ficam as principais
estratégias GIP.
Plantas saudáveis
A primeira forma de combater doenças e pragas é ajudar as plantas a manterem-se saudáveis.
95
COMO CULTIVAR?
Algumas formas de alcançar este objetivo são:
•Escolher sementes e plântulas sem doenças;
•Plantá-las em canteiros elevados;
•Alimentar o solo com composto;
•Regar regularmente;
•Deitar fora plantas com doenças e pragas;
•Cobrir o solo para reduzir a competição,
manter a humidade e alimentar o solo;
•Associação de culturas (plantar algumas
culturas juntas, por exemplo).
Demasiado de uma coisa boa
Um agricultor na Tanzânia recebeu
um apoio para instalar um sistema de
irrigação. No primeiro ano plantou
couves. Eram grandes e venderam-se
bem, por isso voltou a plantá-las na
estação seguinte e no mesmo terreno.
E na estação seguinte. E na seguinte.
No final do segundo ano, o sistema de
irrigação estava ótimo, mas as couves
eram pequenas e doentes.
Rotação de culturas
A rotação de culturas não só mantém o solo como
também reduz doenças (ver Rotação de culturas, no anexo Notas de Horticultura). Cada cultura
tem as suas doenças e pragas específicas. Algumas destas ficam no solo depois da colheita e
aguardam a próxima colheita. O mesmo tipo de cultura no mesmo local vai provavelmente ter a
mesma doença. O risco é muito menor se se cultivarem diferentes tipos de planta.
A nossa escola pratica a rotação de
culturas – por exemplo: couve, ervilhas,
milho e inhame, sucessivamente.
Também temos plantas com cheiros
fortes para afastar os insetos –
calêndulas, hortelã e alhos. Um
agricultor local copiou a horta escolar
e plantou calêndulas em todo o talhão
de couves. As crianças disseram que
parecia um campo a arder!
Associação de culturas
Plantar algumas culturas em conjunto ajuda a
controlar as pragas. As ervas com aromas fortes
podem afastar insetos que têm efeitos nocivos nos
vegetais. Algumas destroem organismos nocivos
que estão no solo, outras plantas com flor atraem
insetos benéficos que destroem os nocivos. Para
mais detalhes, ver Plantas de Companhia, no anexo
Notas de Horticultura.
Atitude em relação aos insetos
Alguns insetos são bons para as plantas e outros são
(C. Power, personal communication, 2003)
nocivos. Borboletas e abelhas, por exemplo, devem
ser encorajadas, uma vez que polinizam as plantas;
já louva-a-deus e joaninhas caçam insetos nocivos. As crianças precisam de aprender a distinguir
os “amigos da horta” dos “ inimigos da horta” (ver Criaturas benéficas da horta e Pragas, no anexo
Notas de Horticultura).
A maioria dos pesticidas mata todos os insetos, o que é nocivo para as plantas. As crianças devem
saber que existem outras formas, ambientalmente amigáveis, para lidar com as pragas. Algumas
pragas podem ser eliminadas simplesmente apanhando-as quando aparecem inicialmente.
Outras podem ser controladas usando um spray
de sabão e água – ver Sprays caseiros, no anexo Notas
de Horticultura. Consultar Problemas de Plantas, no
anexo Notas de Horticultura, para ver que abordagens
alternativas é que as crianças podem aprender.
•Quais são as práticas locais habituais para
controlo de pragas e doenças? Existe uso forte
de pesticidas e fungicidas?
•Planeiam usar uma prática integrada para
gestão de pragas? Se sim, como o vão explicar
às crianças e à comunidade? Como é que serão
organizadas as crianças para monitorizar e
encontrar soluções para os problemas?
96
COMO CULTIVAR?
7. Como é que se colhe, armazena e preserva as colheitas?
O que é que as crianças precisam de saber sobre colheita? (ver Colheitas,
no anexo Notas de Horticultura.) Está a ser planeado o armazenamento
e a preservação de colheitas? É importante se estão a ser produzir
alimentos para manter durante o ano. A conservação e preservação
nas Notas de Horticultura mostram algumas formas de armazenar de
forma segura e algumas formas de preservar a comida – por exemplo:
secar, enfrascar e fazer picles. Ver também o Capítulo 9 D, em baixo.
•Estão familiarizados com formas de preservação de comida? Que
métodos são praticados localmente? As crianças conhecem-nos bem?
•Planeiam usar estes métodos?
8. E se algo corre mal?
Há sempre alguma coisa que corre mal!
Mesmo que sejam peritos a gerir a horta,
está a trabalhar com aprendizes – os alunos!
Também pode estar a experimentar
novas plantas ou métodos. Mas tudo
o que corre mal é uma oportunidade
para
comunicação,
observação,
experimentação e aprendizagem. Como é
possível ver na caixa em baixo, as questões
mais interessantes resultam de problemas.
B. REGISTAR AS ESTRATÉGIAS
Antes de tomar decisões finais sobre os
métodos hortícolas, devem-se consultar
hortelões e conselhos de peritos. Pode
considerar útil listar as abordagens que
serão adotadas para discussão com o
Grupo da Horta, crianças, pais, etc. Pode
utilizar a tabela em baixo.
Uma exposição de ciências no Zimbabué
Alguns projetos vencedores na exposição
interprovincial de ciências:
•Excesso de resíduos de cenoura na escola
primária de Gaza. As crianças descobriram
que estavam a deitar fora muitas plântulas
de cenoura antes de transplantar. Porquê?
•Tomates doentes na Escola Amaswazi.
Qual era a causa? Qual era a cura? As
crianças experimentaram diferentes tipos
de composto para aumentar o rendimento.
•A alta taxa de folhas encaracoladas em
vegetais folhosos na escola Dyaramiti. Será
que é causado por demasiado fertilizante
químico?
• Será que a urina como fertilizante melhora
o rendimento do milho numa escola em
Chimanimani?
(L.Chinanzvavana, personal communication, 2003)
ABORDAGEM A ADOTAR
Manter o solo
Uso de ferramentas
Obter boas sementes/plântulas/estacas
Plantar e transplantar - como, quando, onde
Cuidar das plantas – regar, cobrir o solo,
mondar
Gestão de pragas e doenças
Colher, armazenar e preservar
97
COMO CULTIVAR?
SUGESTÕES PARA A AÇÃO
•Consultar hortelões locais e peritos técnicos, e
utilizar a própria experiência para decidir que
abordagens serão mais adequadas ao contexto.
•Discutir, em particular, os métodos biológicos
utilizados localmente (usar Horticultura biológica,
nas Notas de Horticultura, para ajudar à discussão).
•Decidir quão longe a escola pode ir na adoção
destas abordagens.
•Caso o plano passe pela rotação de culturas,
deve-se fazer um mapa das culturas existentes, ou pedir aos alunos para o fazerem.
•Decidir que pontos de aprendizagem em particular será necessário enfatizar com os
alunos.
Resultados: - Decisão sobre métodos e técnicas;
- Mapa das culturas existentes;
- Identificar lições úteis para uso pessoal.
Dicas e ideias
•Se estão confiantes que é possível que a abordagem biológica funciona, podem
persuadir a escola a adotar algumas Boas Resoluções – por exemplo. Na nossa horta…
VAMOS PROTEGER O SOLO E POUPAR ÁGUA
VAMOS USAR MUITO COMPOSTO E COBERTURA DE SOLO
VAMOS FAZER A ROTAÇÃO DE CULTURAS
NÃO VAMOS USAR FERTILIZANTES ARTIFICIAIS
VAMOS TRAZER MATÉRIA ORGÂNICA PARA O COMPOSTO
VAMOS TER UMA PATRULHA PARA PESTES TODAS AS MANHÃS...
Mostrar as resoluções perto da horta e discuti-las com as crianças. Mostrá-las a
visitantes e pedir às crianças que as expliquem.
•Iniciar um quadro de insetos em que se exibem as pragas, com nomes, informação e
tratamento recomendado.
Atenção: se o método de produção biológica é inovador no local onde a escola está
inserida, pode ser promovido através do exemplo em vez de publicidade e ter a certeza
que é bem-sucedido antes de ser recomendado a outros!
NA SALA DE AULA
Produzir plantas
Estas aulas preparam as crianças diretamente
para as tarefas da horta e devem ser realizadas
durante o período em que as plantas crescem.
1. Semear A sementeira de sementes grandes diretamente na horta
é fácil para as crianças mais novas.
Objetivos
Os alunos obtêm conselhos locais sobre semear, sobre sementeiras diretas e sobre
como cuidar das sementes e plântulas de forma correta.
98
COMO CULTIVAR?
Atividades Os alunos relembram-se do que as plantas gostam – solo fértil, espaço, não haver
competição, calor, humidade, luz. Olham para as sementes que têm para semear e apercebemse dos perigos que correm (por exemplo, ficarem por baixo de pedras, serem levadas pela água,
ficarem submersas, serem comidas por pássaros e lesmas, crescerem demais ou serem queimadas
pelo sol). Decidem sobre o espaçamento apropriado para as sementes, baseado numa estimativa
do tamanho final da planta – medir o diâmetro da semente e multiplicar por três para dar
uma estimativa da profundidade a que deve ser plantada, e depois comparar a decisão com as
instruções do pacote de sementes (se existir). No local, observam uma demonstração de como
semear e depois fazem-no eles próprios (ver Plantar e transplantar, nas Notas de Horticultura).
Finalmente, discutem e decidem como proteger as plântulas quando germinam. Mais tarde
acompanham o aparecimento das plantas, das primeiras folhas verdadeiras, da primeira planta
a alcançar 5 cm, etc.
2. Plantar e transplantar Esta aula encena todo o processo de plantação e transplantação.
Objetivos Os alunos compreendem o processo da plantação e
transplantação.
Atividades Alguns alunos representam sementes, outros o sol,
chuva, vento e alguns os hortelões. A mesa do professor é o viveiro
de plantas e o resto da sala é a horta. Os alunos percorrem todo
o processo. As “sementes” são “semeadas” no “viveiro” (os alunos
sentam-se no rebordo da mesa), são regados regularmente pelos
“hortelões” e protegidos do vento, chuva e sol por uma barreira
de hortelões. As plântulas aparecem (as “sementes” levantam-se),
verifica-se que estão muito próximas umas das outras e são desbastadas. Os hortelões continuam
a cobrir o solo e a regar, e as sementes “esticam-se” e expandem. O sol, chuva e vento aparecem
à vez para ajudar as plântulas a crescer. Para os habituar ao sol, chuva e vento, os hortelões
levantam a barreira aos poucos. Quando as “plântulas” estão suficientemente fortes, os hortelões
gentilmente levam-nas para a horta e “plantam-nas” nas suas carteiras. Enquanto os alunos
passam por todas as fases do processo na horta real, esta história é recapitulada e mais tarde pode
voltar a ser encenada. Os alunos mais velhos fazem calendários de produção para as culturas.
3. Cobertura do solo É económica e eficaz, e é uma ferramenta essencial para a horticultura biológica.
Objetivos
Os alunos reconhecem a importância de cobrir o solo e aprendem qual a quantidade
que devem colocar e quando.
Atividades Os alunos relembram-se do que as plantas gostam.
Observam algumas plantas murchas, doentes ou com muitas
ervas em seu redor e identificam os seus problemas (falta de
água, competição e solo pobre, por exemplo) e fazem sugestões
sobre como ajudar. O professor propõe cobrir o solo em redor
da planta (o “cobertor do solo”) e explica como se faz. Os alunos
distinguem uma “boa” cobertura para o solo (se possível, palha
clara) de “má” (ervas com sementes), depois colocam a palha
à volta das plantas até esta ter 6 cm de espessura. Discutem
como a cobertura do solo ajuda com cada um dos problemas (ver Cobertura do Solo, nas Notas
de Horticultura). Mais tarde, os alunos fazem demonstrações de como cobrir o solo a visitantes,
famílias e outros alunos (anunciam-se como “Mágicos da Cobertura do Solo”), estabelecem uma
rotina para colher e utilizar materiais para cobrir o solo ou praticam um cântico da cobertura do
solo com um tom de marcha. Os alunos mais velhos fazem talhões experimentais na horta, com
e sem cobertura do solo, e fazem contagens de ervas daninhas.
(Sugestão de Guy et al., 1996)
99
COMO CULTIVAR?
4. Regar (1) Regar (1) e Regar (2) devem ser lições consecutivas.
Objetivos
Os alunos apercebem-se das necessidades de água das plantas.
Atividades Os alunos relembram o que as plantas gostam e focam-se na água. Discutem se as
plantas podem ter acesso a muita ou pouca água (as plantas são como as pessoas – podem afogarse ou morrer de sede). Especulam sobre as questões: onde é que existe
água/humidade na horta? De onde é que as plantas obtêm água?
Onde está a água nas plantas? Como é que a água chega à planta? E
depois vão para a horta procurar respostas às perguntas nas folhas,
caules, fruta, raízes e solo. O retorno irá revelar que a humidade está
principalmente no solo e nos caules, e chega às plantas através das
raízes (e não através das folhas). Os alunos adivinham quanto da
planta é água (cerca de 90 %) e testam esse facto pesando um jarro
com ervas, secando as mesmas ervas durante uma semana e depois
pesando novamente.
5. Regar (2) Existem sete regras de ouro para a boa irrigação.
Objetivos
Os alunos aprendem sobre quando e como regar as plantas.
Atividades Os alunos relembram como é importante regar as plantas. Leem as “Sete Regras
de Ouro” (ver em baixo) uma a uma e explicam-nas, e depois tentam recitá-las cor. A turma
faz uma visita à horta, as crianças sentem o solo e avaliam a necessidade de água com um pau
para medir (3 cm de colo seco significa que precisa de água). Nos locais onde é necessário regar,
eles sugerem o que se deve fazer e fazem turnos para cada rega que é necessária. Mais tarde, os
alunos fazem eles próprios “medições de humidade” e mostram a outros como se faz. Os alunos
mais velhos experimentam através do registo dos efeitos numa linha de plantas com rega em
excesso e outra com pouca água, em relação à sua saúde e crescimento.
Regras de ouro para uma boa irrigação (ver Irrigação de plantas,
nas Notas de Horticultura)
•Medir a humidade todos os dias.
•Regar à noite ou de manhã.
•Regar o solo e não as plantas. Levar a água às raízes.
•Ser gentil.
•Não regar em excesso ou inundar.
•As raízes profundas não precisam de mais água.
•Cobrir o solo!
6. Mondar O espírito de batalha é bom – mas nem todas as ervas são nocivas.
Objetivos Os alunos reconhecem as ervas locais mais comuns e as suas características, e
aprendem sobre como as que podem controlar facilmente, sem custos e de forma ecológica.
Atividades Cada grupo fica com uma das perguntas abaixo e pesquisa a resposta na horta.
Depois os alunos de cada grupo respondem, trazendo amostras de ervas para ilustrar as suas
respostas. Os alunos mais velhos discutem estratégias de sobrevivência para as ervas da amostra
(por exemplo: muitas sementes, raízes profundas, altura, ciclo de vida longo). Os alunos devem
reconhecer que as ervas podem ser úteis ou, pelo contrário, nocivas. A turma discute estratégias
para lidar com as ervas (ver Ervas, nas Notas de Horticultura) e estabelece uma rotina para
a monda. Pode-se tentar aliviar o eventual aborrecimento da tarefa de mondar com festas da
monda, concursos, uma política para a monda, um estudo sobre ervas, uma encenação da batalha
e experiências com talhões que são mondados e outros que não o são.
100
COMO CULTIVAR?
Questões:
1. Quantos tipos de ervas diferentes é que é possível encontrar na horta? Sabem os nomes?
2. Qual é a erva mais comum? Sabem o nome?
3. Onde é que as ervas estão a crescer? Existem outras culturas nesse local?
4. Onde é que as ervas estão a ficar mais grossas? Porquê?
5. Qual é a erva maior? De que tamanho é? Onde está?
6. Qual a erva que tem a raiz mais profunda?
7. Alguma das culturas está em risco por causa das ervas?
Qual?
8. Onde é que não existem ervas? Porquê?
9. Existem insetos nas ervas ou à sua volta? Alguma das
ervas está doente?
10.Alguma das ervas tem flores ou sementes? Como é que
se disseminam/propagam?
7. Manter a horta saudável Uma planta saudável pode resistir aos ataques de uma praga ou doença.
Objetivos Os alunos praticam a horticultura saudável como
base para a gestão integrada de pragas.
Atividades Os alunos relembram as lições anteriores discutindo
a melhor forma de manter as plantas fortes e saudáveis,
escrevendo palavras-chave (canteiros, solo fértil, luz e sombra,
composto, cobertura de solo, rega, insetos benéficos, proteção
contra predadores, por exemplo). A turma faz uma patrulha à
horta com a lista de verificação da Patrulha de Plantas (ver Plantas
Saudáveis, nas Notas de Horticultura) e reporta com observações
e sugestões para a ação. A patrulhas podem ser semanais e a
responsabilidade vai passando de equipa para equipa.
8. Médicos de plantas Introduz a ideia de tratamento para problemas específicos das plantas.
Objetivos Os alunos fazem um diagnóstico do problema da planta, escolhem a ação mais
adequada, levam-na a cabo e monitorizam os efeitos.
Atividades Os alunos identificam as plantas da
horta que estão doentes – aquelas que aparentemente
têm pragas, doenças ou problemas de falta de
nutrientes. Descrevem cada caso e dão-lhe um
nome (por exemplo, folhas rendilhadas). Os alunos
mais velhos podem tentar identificar o problema de
forma mais precisa (ver Problemas das Plantas, nas
Notas de Horticultura) e devem reconhecer que um
sintoma (a murchidão, por exemplo) pode significar
várias coisas. Se for uma praga, os alunos procuram
encontrar o fator responsável. Depois discutem
como podem resolver o problema. Com o apoio do
professor, escolhem as mensagens-chave (Doença:
Destruir. Dieta: Alimentar. Praga: Apanhar,
pulverizar, armadilhar, trazer a patrulha das pragas) e preparar-se para levar a cabo o tratamento
imediato. Mais tarde, os alunos mais velhos acompanham o progresso de plantas específicas, ou
aprendem a fazer tratamentos caseiros (ver Sprays caseiros, nas Notas de Horticultura).
101
COMO CULTIVAR?
9. Colheita A colheita aprende-se a fazer e a praticar na época
das colheitas. Esta aula enfatiza simplesmente os princípios e
reforça as atitudes.
Objetivos Os alunos sabem que as culturas decaem
rapidamente, percebem a necessidade de colher com
cuidado, transportar rapidamente e fazer uma boa
embalagem, e sabem o que fazer com resíduos vegetais.
Atividades São apresentados aos alunos alguns vegetais
e frutas podres e secas, os alunos discutem porque é
que os alimentos secam (demasiada exposição ao sol,
vento, peles finas), porque é que apodrecem (bactérias/
fungos), quando é que apodrecem (se forem cortados,
porque estão demasiado maduros, molhados, quentes) e
que alimentos apodrecem mais rapidamente (aqueles que
estão maduros, que são moles ou cheios de água). Ouvem
uma entrevista (fictícia) com um produtor de tomate e
procuram identificar todos os erros (fazer a colheita quando está calor, apanhar os que têm
cortes, atirá-los para o cesto e deixá-los ao sol). Mais tarde, discutem o que se deve e não deve
fazer numa colheita, e fazem uma entrevista semelhante assinalando os erros na colheita.
NOTAS
102
CAPÍTULO 9
COMO VAMOS COMER OS ALIMENTOS DA NOSSA HORTA?
Preparar, confecionar e promover os alimentos
Objetivos
• Preparar e conservar os alimentos da horta
- Preparar os alimentos de forma segura e limpa
- Preparar comida saborosa utilizando alimentos da horta
- Conservar hortaliças e frutas
• Promover com êxito os alimentos e pratos tradicionais
Para ter êxito, um projeto
Da horta ao prato
de cultivos alimentares
“A nossa investigação sobre o consumo de hortaliças
deve desenhar-se até ao
mostra que... deveríamos levar as crianças até à horta, mas
final: “da horta ao prato”.
que também deveríamos ensinar a cultivar, a cozinhar os
Por exemplo, quando
alimentos e darmos a provar para que percebam como são
se cultiva espinafres,
saborosos. E isto deveria ser feito repetidamente. Um pepino
temos que ter em conta o
não é suficiente para que o comprovem.” produto final (a empada
(Michael Murphy, professor of psychology, Harvard Medical School in Orenstein, 2004)
de espinafres, a salada
de espinafres, espinafres
com ovos mexidos…). Convém pensar como se irá preparar, provar e comer os espinafres, como
é que os alunos irão aprender acerca dos alimentos e como é que os pais e familiares poderão
participar. Deve tomar-se a decisão final sobre o que se irá cultivar só quando houver uma ideia
precisa do que irá acontecer com o produto final.
103
COMO VAMOS COMER OS ALIMENTOS DA NOSSA HORTA?
A. O QUE FAREMOS PARA COMER?
Pratos familiares
Os pratos que tenham sido escolhidos para realizar
têm que ser atrativos, conhecidos das crianças e de fácil
preparação. Se forem necessários outros ingredientes
(por exemplo: farinha, ovos, condimentos), convém ter
a certeza que estes estão disponíveis no momento de
confecionar a comida. Alguns pratos muito nutritivos
baseiam-se em certas combinações já generalizadas:
•Feijão com vegetais frescos (por exemplo,
salada de feijão, milho e feijão com tomate);
•Peixe ou carne no forno ou assados com
vegetais;
•Vegetais com ovos (por exemplo, omeletes e ovos mexidos);
•Vegetais salteados, ou molho de vegetais, com arroz, milho ou mandioca;
•Sopa de verduras.
§ Pensar em exemplos locais
Combinações
Alguns alimentos devem ser combinados com outros alimentos para que o organismo absorva os
nutrientes. Por exemplo:
Vegetais que contêm vitamina
A (por exemplo, hortaliças
verdes, cenouras, batatas)
Devem ser comidos com
Alimentos que contêm pouco óleo
ou gordura (por exemplo, manteiga
de amendoim, nozes, sementes
oleaginosas, abacate, óleo vegetal,
óleo de palma).
Vegetais que contém ferro (por
exemplo, hortaliças verdes,
legumes, frutos secos)
Devem ser comidos com
Alimentos ricos em vitamina C (por
exemplo, citrinos, manga, mamão,
couve, goiaba, abacaxi, tomate).
Algumas combinações típicas:
•Hortaliças de folhas verdes com pasta de amendoim, leite de coco ou azeite e um pouco
de sumo de limão;
•Batatas doces amarelas/alaranjadas com amendoins ou óleo;
•Legumes de folha verde escuro com tomates e cebola e um pouco de óleo.
•A cada refeição, uma peça de fruta ou com copo de água com sumo de limão recém
espremido.
§ Pense em pratos tradicionais da sua própria comunidade com estas combinações.
Lanches
Pense em:
•Lanches reforçados (como milho assado e batata doce);
•Lanches vitaminados (como cenoura, abóbora e manga);
•Lanches que são divertidos de fazer (como pipoca e rebentos
de feijões);
•Bebidas (sumos de frutas, chás de ervas e leite de feijão).
Ver Lanches e bebidas do jardim, nas Notas de horticultura.
§ Quais os lanches populares e nutritivos na sua localidade?
104
COMO VAMOS COMER OS ALIMENTOS DA NOSSA HORTA?
Hora das Refeições
Se as crianças não tomam o pequeno-almoço de forma adequada e regular antes de irem para
a escola, deve dar-se-lhes um pequeno-almoço adequado, para que tenham energia para o dia
escolar. Também se lhes pode dar uma merenda a meio da manhã, quando o açúcar no sangue
diminui. Costuma ser mais fácil conseguir que as crianças provem novas merendas do que novos
pratos.
§ Pode a horta ajudar a providenciar às crianças um reforço alimentar a meio da manhã
ou aos pequenos-almoços?
Sobre estes pontos, consultar o serviço de alimentação escolar, a autoridade de saúde local, os
professores de economia doméstica, as crianças, os pais e usar o bom senso.
B. COMO SE PREPARAM OS ALIMENTOS? QUEM OS PREPARA?
Para a preparação dos alimentos, há quatro regras fundamentais. Estes têm de ser nutritivos,
saborosos, saudáveis e económicos. Os alimentos devem ser preparados de forma a não perderem
o seu valor nutritivo. Também devem ser saborosos e ter uma aparência atrativa, para que todos
os queiram provar. Devem ser confecionados de forma limpa para que não provoquem doenças
e ser o mais económicos possível. Estas são algumas das formas de conseguir uma preparação
completa.
Valor nutritivo
Para se tirar o máximo valor nutritivo dos alimentos, recomenda-se:
•Não cozinhar demais, só o necessário.
•De preferência, cozinhar a vapor em vez de ferver.
•Cozinhar de forma “conservadora”, usando pouca água.
•Usar a água de cozer as hortaliças para fazer sopa.
•Preparar pratos, como sopas ou estufados, em que a água da
cozedura faça parte do prato.
•Usar a casca das frutas e das hortaliças para a compostagem.
Veja a lição Preparar os Alimentos no fim deste capítulo.
Bom sabor
As hortaliças e a frutas frescas cultivadas de forma biológica têm um sabor agradável. Muitas
podem comer-se cruas – por exemplo, cenouras, pimentos, ervilhas, alface, espinafres e tomates.
Um pouco de azeite e sal realça o sabor, e acrescentam valor nutritivo. Contudo, às vezes, a forma
de se cozinhar e uma combinação correta de alimentos podem melhorar o sabor. Distribuir às
crianças a tarefa de encontrarem novas combinações de alimentos de que elas gostem e lembrarlhes que a forma de preparação realça o sabor. Pedir às crianças que proponham ideias de
apresentação de pratos atrativos.
Segurança alimentar
Regra geral, a preparação dos alimentos deve ser supervisionada
por pessoas capacitadas para preparar de forma limpa e
higiénica os alimentos. As autoridades de educação local talvez
possam dispensar um técnico de saúde ou de ambiente que
possa dar formação sobre a higiene dos alimentos e condições
do recinto escolar. Se quer dar aulas práticas de cozinha,
peça apoio, consulte os professores de economia doméstica
e os cozinheiros da escola, e dê uma aula às crianças sobre
Segurança e Higiene alimentar (veja o resumo da lição Higiene Alimentar, no final do capítulo).
Deve ensinar-se às crianças como tratar os desperdícios e os restos de comida de forma segura.
105
COMO VAMOS COMER OS ALIMENTOS DA NOSSA HORTA?
Ter a certeza que há acesso a água potável para lavar os alimentos e sabão para lavar as mãos,
recipientes e bancada de trabalho. Em alternativa, pode fazer-se demonstrações e deixar que as
crianças tentem confecionar os pratos em casa.
Cozinhar de forma económica
Pode criar uma área exterior para a cozinha sem grandes
custos, usando um fogão que poupe combustível. As panelas
de pressão são caras, mas cozinham muito rapidamente, usam
pouco combustível e podem cozinhar quase tudo, até pastelaria
e pão. Os fornos de barro são excelentes para assar e guisar.
Fabricá-los requer muito trabalho, mas o custo com os materiais
é muito baixo. As cozinhas solares são muito fáceis e baratas de
fazer, podem cozinhar qualquer coisa, mas necessitam de uma
atenção constante. As “cozinhas bruxas” (que são descritas no
resumo da lição Cozinha na Horta, mais à frente) são boas para
cozer grandes refeições lentamente. Não precisam de grande
atenção, são muito baratas e fáceis de fazer. Além disso, têm
um grande valor educativo, respeitando o meio ambiente, e são
muito divertidas para as crianças.
§ Como se preparam os alimentos de forma nutritiva, saborosa e económica?
C. COMO DISTRIBUIR OS ALIMENTOS?
Isso irá depender das circunstâncias e dos objetivos. Seguidamente enumeram-se algumas das
formas de distribuição realizadas nas escolas:
•Distribuir alimentos crus (por exemplo, as crianças
recolhem frutas das árvores e levam-nas para casa),
com uma demonstração ou sugestão de como se podem
preparar esses alimentos.
•Preparar refeições nas escolas – por exemplo, um
pequeno-almoço para melhorar a concentração, uma
merenda a meio da manhã para aumentar a energia,
frutas e hortaliças para acompanhar o almoço.
•Confecionar pequenas quantidades de conservas e pedir
às crianças que levem amostras para casa.
•Fornecer vegetais, legumes, ovos e fruta à cantina para acompanhar os alimentos básicos
(arroz, mandioca, milho) nas refeições escolares.
•Abrir um armazém ou loja que seja gerido e divulgado pelas crianças do projeto ou
voluntários.
•Vender alimentos a metade do preço às famílias durante os intervalos ou depois dos
horários escolares.
•Distribuir os excedentes alimentares às famílias locais com necessidades ou nos orfanatos.
Se se alimentar um grande número de crianças, pedir-lhes que tragam os seus próprios recipientes
ou pratos de casa, para poupar água e reduzir o trabalho e tempo despendido a lavar os pratos.
§ Como se distribuem os alimentos cultivados?
106
COMO VAMOS COMER OS ALIMENTOS DA NOSSA HORTA?
D. OS ALIMENTOS SERÃO ARMAZENADOS, CONSERVADOS OU
CONFECIONADOS?
As escolas devem pensar em conservar e armazenar os produtos da horta. Esta é a resposta
tradicional aos períodos de escassez e evita a perda de alimentos depois da colheita, devido às
pragas de insetos, roedores ou à deterioração dos alimentos. As crianças gostam muito de frutos
secos, que são ricos em nutrientes. Alguns produtos secos podem também encontrar mercado.
Pode despertar o interesse por parte das famílias caso as crianças levem para casa alguns dos
alimentos conservados, nutritivos e saborosos (por exemplo, pequenos frascos de sumo de tomate
ou de frutas, um pacote de manga desidratada ou folhas secas para sopa). As donas de casa muito
ocupadas podem imitar estes métodos, também.
A conservação dos alimentos é muito educativa. Não mostra apenas como podemos proteger
os alimentos de bactérias, fungos, insetos e roedores de forma prática, como também ilustra os
princípios científicos que regem estes processos.
Alguns métodos para preservar e conservar fruta e vegetais estão explicados no seguinte quadro:
Preservação de frutas e vegetais
Curado - Por exemplo, cebolas, batata doce, abóbora e inhame. Alguns vegetais conservamse mais tempo se forem espalhados num terreno à sombra durante uns quantos dias depois
da sua colheita. Isso engrossa a pele e protege a parte interior do vegetal.
Secagem simples e armazenamento - Por exemplo, feijão, ervilhas, sementes de abóbora,
sementes de girassol e grãos. Legumes e sementes oleaginosas são secas na própria planta
ou em caixas e depois armazenam-se num lugar frio, seco e protegido.
Secagem à sombra ou ao sol - Fruta (manga, banana e goiaba) e vegetais (cenouras,
tomates e vegetais de folhe verde) são secos às tiras ou às rodelas à sombra ou com um
secador solar. Alguns frutos “branqueiam-se” antes em água a ferver ou a vapor para
prolongar a sua validade, o sabor e o aspeto. Alguns frutos (por exemplo, manga, sementes
e abóbora) são cozidos e faz-se puré, depois deixa-se secar para fazer “frutas cristalizadas”.
Preparação de farinhas - Por exemplo, abóbora, banana, batata doce e fruta-pão).
Primeiro secam-se os alimentos e depois este são moídos e peneirados.
Picles - Por exemplo, repolho e pepino. Muitos vegetais podem ser fermentados, com ou
sem sal, e de seguida armazenados em água salgada (salmoura), vinagre ou óleo.
Enlatado ou engarrafado - Por exemplo, polpa de tomate, sumo de fruta, frutos inteiros,
marmeladas e geleias. A fruta é cozida e metida em frascos enquanto está quente. Ou
metida em frascos ou latas, que depois são fervidos em água para esterilização. Geralmente,
acrescenta-se açúcar à fruta para conservá-la.
Congelados - Por exemplo, alguns frutos e vegetais, sopas e estufados.
107
COMO VAMOS COMER OS ALIMENTOS DA NOSSA HORTA?
Se for realizada algum tipo de conservação, convém
optar por alimentos de que todos gostem, e por um
processo simples e que não falhe. No capítulo Conservar os
alimentos da horta, das Notas de Horticultura, dão-se alguns
exemplos de projetos escolares. É preciso descobrir o
que se faz tradicionalmente no local. Algumas técnicas
locais podem praticar-se na escola, ou talvez melhorar as
técnicas locais (por exemplo, usando um secador solar
em vez da colocação ao sol). Se o processo é novo para
si, planeie como se fosse uma experiência. Quando tiver
a certeza de que funciona, envie amostras para casa dos
alunos e peça opinião às famílias.
§ Que alimentos se armazenam ou conservam?
Fotografia: FAO. “Rural processing and preserving
techniques for fruits and vegetables”, Food and
Agriculture Organization of the United Nations (s. d.
E. É NECESSÁRIO PROMOVER OS ALIMENTOS?
1. Que ideia têm as pessoas de uma boa dieta alimentar?
Normalmente, os alimentos que as crianças precisam para se manter saudáveis estão disponíveis,
mas não são valorizados. E as crianças não os consomem nas quantidades necessárias. Talvez
não se dê grande valor a alimentos locais nutritivos em comparação com alimentos mais caros,
importados, alimentos que “enchem”. Em particular, as pessoas podem considerar as hortaliças
e a fruta como “comida de pobre”. Em alguns locais, as frutas podem alcançar um preço elevado
no mercado e são vendidas para gerar lucro em vez de serem consumidas em casa.
Deve ter-se uma ideia do que a comunidade acha que é uma boa
dieta alimentar. As sua ideias influenciam o projeto, porque o que
se pretende conseguir é uma influência positiva na mentalidade
da comunidade. “Há alguma crença especial em relação aos
alimentos da comunidade?”; “Que alimentos se consideram
bons e porquê?”; “O que considera a comunidade que os seus
filhos deveriam comer diariamente?”; “Quando acham que as
crianças devem comer e com que frequência?”; “Se os alimentos
que são dados na cantina da escola se limitam a cereais e feijão,
o que pensa a comunidade que será necessário acrescentar às refeições?”. Estas perguntas podem
ser discutidas na sala de aula, através dos trabalhos de casa ou nas reuniões da Associação de
Pais e professores (veja Uma dieta saudável para os alunos, nas Fichas de Nutrição). A escola deve
analisar claramente estas perguntas, evitando contradizer as pessoas ou dizer-lhes o que devem
pensar.
Esta discussão pode revelar que todos estão de acordo sobre a melhor dieta para as crianças. Por
outro lado, talvez devêssemos ser nós a convencer as crianças e as suas famílias do valor de alguns
alimentos que queremos cultivar. Alguns alimentos podem ser menosprezados. Talvez compitam
também pelo interesse das crianças, com os vendedores de rua que vendem bolos, batatas fritas
e tortas. As crianças são conservadoras nos seus gostos e apreciam o que já conhecem. Talvez
se tenha que incentivar as crianças a provar o que ainda não conhecem, novos pratos, e darlhes constantemente a oportunidade de provarem novos alimentos ou novas combinações de
alimentos. Se for este o caso, o projeto deverá também promover os alimentos além de os cultivar.
108
COMO VAMOS COMER OS ALIMENTOS DA NOSSA HORTA?
Conseguir que as crianças comam boa comida
Nas áreas rurais de África, os agricultores cultivam feijão, mandioca, abóbora e batata
doce, mas deitam fora as folhas (ricas em vitaminas e minerais). A escola também produz
estas plantas e deu as folhas ao cozinheiro para que preparasse
pratos com elas. No início não foi muito satisfatório, porque as
crianças passaram todo o tempo do almoço a retirar dos pratos os
bocadinhos verdes. A escola respondeu de três formas:
1.Deu aulas sobre folhas verdes;
2.Convidou os pais para uma jornada de trabalho, intitulada
de “Folhas Verdes”.
3.O cozinheiro fez um puré com folhas verdes e feijão (que
as crianças adoraram).
***
Na América Latina, algumas escolas tinham problemas porque as crianças raramente
comiam vegetais e não os consideravam “comida de verdade”. Os cozinheiros da escola
tentaram várias experiências. Os vegetais salteados não foram apreciados, mas o arroz
frito com vegetais foi um sucesso. As folhas verdes foram acrescentadas à tradicional sopa
de frango, à qual as crianças já estavam acostumadas. (Miller, 2003)
***
Numa ilha tropical fértil, é oferecida fruta local a todas as refeições. Mas as crianças só
consomem fruta importada, principalmente por snobismo. Numa escola, um professor
apercebeu-se que as crianças mandavam laranjas por baixo das secretárias em direção a
uma criança que gostava de as comer. O professor levou à escola o clube de karaté local
para que fizessem uma demonstração às crianças e lhes falassem da dieta alimentar do
clube. Deram assim boa fama às frutas locais e passou a ser moda beber água em vez de
bebidas com gás.
2. Como podemos convencer crianças e famílias para que o consumo destes
alimentos se transforme num hábito?
•Torná-los atrativos;
•Realizar provas com frequência;
•Envolver as crianças na sua promoção;
•Envolver os pais e a escola no serviço das refeições;
•Criar boa publicidade;
•Chamar pessoas (modelos e exemplos locais) que as crianças considerem uma referência.
No quadro dos Conselhos são dadas algumas ideias para promover os alimentos.
§ Quais são as ideias que se adequam à sua escola, à sua comunidade e aos alimentos
que está a pensar cultivar?
109
COMO VAMOS COMER OS ALIMENTOS DA NOSSA HORTA?
SUGESTÕES PARA A AÇÃO
•Planeie o processo completo “da horta ao prato” e faça uma lista de necessidades.
•Estude os métodos locais para produzir e conservar frutas e hortaliças.
•Considere experimentar o armazenamento e a conservação das culturas.
•Discuta a escolha dos alimentos a cultivar com os pais, com o Grupo da Horta, com o
serviço de alimentação escolar e com as crianças. Peça conselhos e apoio, e discuta formas
de promover os alimentos.
Resultados: - Lista de pratos conhecidos e merendas que se podem preparar com os alimentos
da horta;
- Lista de ideias sobre a preparação, distribuição e promoção dos alimentos.
Dicas para promover os alimentos
Torná-los atrativos
• Tornar os alimentos saborosos.
•Organizar provas de comida para provar sabores,
texturas, cores e cheiros diferentes dos alimentos.
•Empratar a comida de forma atrativa (por exemplo,
uma embalagem atraente: enrolar uma batata
assada doce numa folha verde, colocar um sumo de
fruta numa caneca de bambu, fazer placas de palha
entrançada ou folhas costuradas.
•Criar lanches diferentes, como pipocas, sementes de abóbora germinadas e cenouras em
formato de flores.
• Decorar a comida da mesa com folhas e flores do jardim.
• Fazer um ritual especial à hora do lanche com alimentos da horta.
• Chamar exemplos (heróis desportivos locais, professores populares ou pessoas conhecidas)
para falar sobre o quanto gostam da comida e como a comem.
• Se necessário, disfarçar os alimentos em sopas, guisados ou fritos.
Fazer uma boa divulgação
• Criar um lema, por exemplo “Queremos vegetais frescos todos os dias”.
• Fazer um cartaz com um prato que se queira promover, para que toda a gente o recorde.
• Criar um pequeno livro sobre os alimentos, com desenhos, informações e receitas.
•Fazer cartazes junto dos alimentos da horta, com uma imagem e informação adicional
sobre o seu valor nutritivo.
• Fazer dos alimentos da horta os protagonistas da alimentação escolar. Expor o menu semanal,
ressaltando quais os alimentos que são da horta e felicitar as turmas que participaram na
sua conceção.
• Inventar nomes novos para os pratos com alimentos das hortas.
•Convidar familiares e colaboradores deste projeto a um almoço escolar especial, onde se
destaquem os produtos da horta.
Envolver as crianças e as famílias
• Permitir que as crianças decidam o que se deve cultivar.
•Pedir às crianças que façam uma réplica da horta nas suas casas, com as mesmos plantas,
processos, calendários e produtos.
•Envolver os alunos no planeamento dos menus escolares, que incluam os alimentos da
horta.
• Explicar o projeto da horta aos pais e tutores, pedindo-lhes conselhos. Pedir aos alunos que
informem os pais que não estiveram nestas reuniões.
• Envolver os pais no cultivo, preparação, apresentação, distribuição e promoção dos alimentos.
110
COMO VAMOS COMER OS ALIMENTOS DA NOSSA HORTA?
NA SALA DE AULA
Preparar os alimentos
Nesta aula, os alunos aprendem a guardar e a conservar os alimentos, conceitos
de higiene alimentar e como se cozinham os alimentos para conservar o seu valor
nutritivo.
1. Guardar os alimentos Nesta aula, os alunos experimentam os princípios da decomposição e da
conservação dos alimentos.
Objetivos
Os alunos partilharem os seus conhecimentos sobre a manutenção dos alimentos
frescos, reconhecendo as causas da sua decomposição e observando o próprio processo.
Atividades Os alunos lavam as mãos. O professor lava algumas peças de fruta e vegetais
recém-colhidos em frente dos alunos; corta-as ao meio, colocando uma metade de lado e cortando
a outra metade em bocados mais pequenos, dando a cada um dos alunos um bocado para
provar. Essa é a melhor forma de consumir os alimentos: recém-colhidos e limpos, para comer
no próprio dia. Mas o que
fazer se quiserem comer o
restante no dia seguinte?
Os alunos sugerem formas
de manter os alimentos
frescos (por exemplo, no
frio, protegidos do sol, em
recipientes fechados, secos e
no escuro). Descrevem o que
acontece quando a comida fresca não é protegida (fica seca, estraga-se, apodrece e cheira mal).
Os restos de comida que estavam à parte são usados para o “caminho do apodrecimento”: os
alunos põem os restos num papel e fazem uma previsão do que irá suceder. Depois, acompanham
a evolução dos alimentos durante uma semana, observam o que acontece e fazem a descrição
detalhada.
2. Higiene alimentar Esta aula realiza-se melhor na cozinha, com utensílios reais.
Objetivos Os alunos aprendem os perigos da “sujidade invisível” (bactérias) e como evitálos, e começam a praticar atividades diárias de higiene alimentar.
Atividades Os alunos observam um copo de água turva e outro com água limpa, e discutem
qual dos dois tem água boa e limpa para beber. O propósito desta experiência é provar que até
o copo com água limpa pode ter “sujidade invisível” (bactérias) que pode provocar doenças.
Os alunos terão que procurar na cozinha, ou num desenho de uma cozinha, o lugar onde as
bactérias podem estar escondidas (qualquer lugar com
humidade, calor e restos de comida). Para combater as
bactérias, a regra é “limpo, frio e tapado”. O professor
faz uma demonstração de uma atividade de preparação e
cozedura de alimentos de forma higiénica (por exemplo,
ralar cenouras), fazendo pausas frequentes para que os
alunos proponham e expliquem os seguintes passos:
111
COMO VAMOS COMER OS ALIMENTOS DA NOSSA HORTA?
a)Comprovar que há água limpa e equipamento de limpeza (detergente, esfregão e balde).
b)Comprovar que não há insetos perto.
c)Lavar as mãos e unhas com detergente e água da torneira.
d)Ter os utensílios e comprovar que estes e a superfície de trabalho estão limpos.
e)Lavar os alimentos com água limpa. Preparar os alimentos (os restos vão para o compostor).
Cozer, se for necessário.
f)Cobrir os alimentos preparados e colocá-los num local fresco. Quando se voltar a usar,
reaquecer até ao ponto de ebulição.
g)Limpar e lavar os pratos e utensílios depois de comer.
Os grupos de alunos praticam este exercício preparando outros alimentos da mesma forma. Para
continuar, os alunos fazem uma demonstração dos sete passos anteriores em casa.
3. Preparar os alimentos Esta aula será para compreender como se obtém o máximo valor nutritivo
dos alimentos. Deve realizar-se numa cozinha, se for possível.
Objetivos Os alunos descrevem métodos locais para preparar e cozinhar os alimentos,
apreciam o valor nutritivo dos alimentos crus, compreendem como se cozinha para conservar o
seu valor nutritivo e ensaiam métodos de cozedura saudáveis.
Espinafres cozidos
a vapor
Espinafres cozidos
em água
AtividadesOs alunos lavam as mãos, depois começam a observar
exemplos de alimentos crus e cozinhados e descrevem as diferenças de
sabor. Dizem quais os alimentos crus que gostam e explicam como se
preparam (por exemplo, ralados, triturados, etc.). O professor mostra
a sua aprovação sobre os alimentos crus e explica que geralmente são
mais saudáveis. As hortaliças cozinhadas devem estar estaladiças e não
devem ser aquecidas mais do que uma vez. Os alunos dizem o que
sabem cozinhar e descrevem como se preparam algumas hortaliças
em particular. O professor ensina aos alunos mais velhos métodos
diferentes para cozinhar (ferver, cozer a vapor, saltear e guisar). Os
alunos discutem qual o melhor método para conservar os nutrientes
dos vegetais (com a fervura perdem-se muitos nutrientes, porque se
dissolvem na água). Depois, os alunos observam a água depois de
cozer as cenouras, espinafres e abóbora a vapor ou fervidas (a cor da
água demonstra que parte dos nutrientes se perde com a cozedura).
Experimentam cozinhar a vapor, fritar na frigideira ou saltear em casa
e contam a experiência à turma toda.
(Experiência cenoura-água de Kiefer and Kemple, 1998).
4. Cozinhar na horta Esta aula é um acontecimento social que dá uma atenção especial aos produtos
da horta.
Objetivos Os alunos aprendem quais os principais combustíveis para cozinhar (os alunos
mais velhos comparam os custos) e utilizam um método de cozedura ao ar livre que poupe
combustível (os alunos mais velhos podem explicar como funciona).
112
COMO VAMOS COMER OS ALIMENTOS DA NOSSA HORTA?
NB: O “fogão bruxa” utilizado nesta lição é uma panela com uma tampa que se encaixa numa
outra caixa ou saco grande cheio com material isolante. Por exemplo, feno, palha, folhas de
bananeira ou chips de poliestireno. A panela é aquecida até ao ponto de ebulição e em seguida
colocada na caixa/saco. E aí fica várias horas para cozinhar no seu próprio calor.
Atividades Os alunos descrevem e desenham
as cozinhas da sua casa e dizem qual os
combustíveis que usam; os alunos mais velhos
decidem qual é o combustível mais caro. O
professor faz uma demonstração de como se
cozinha num fogão com lume aberto; os alunos
sentem e experimentam o calor e reconhecem
que se desperdiça combustível. O professor
prepara um prato na caixa de palha e fecha-a;
de novo, os alunos aproximam-se e comprovam
com as mãos que este método conserva o calor e
usa-o para cozer. Os alunos mais velhos discutem
como se mantém o calor (por isolamento). A
turma fixa uma hora (várias horas depois) para
abrir a caixa de forma solene. Os alunos fazem
depois uma demonstração desta caixa de palha a
familiares e visitantes.
Tampa isoladora
panela
material
isolador: palha,
jornais, etc.
caixa de
madeira ou
cartão, etc.
5. Conservação Fazer conservas é interessante, educativo e uma boa publicidade para os produtos.
Objetivos Ensinar aos alunos alguns princípios do modo de conservação de alimentos,
descrever as práticas locais de conservação, ajudar a conservar os alimentos e explicar o processo
(tarefa desempenhada pelos alunos mais velhos).
Atividades Os alunos irão recordar-se de pratos recentes, pratos realizados com alimentos
frescos e pratos realizados com alimentos conservados; depois comentam exemplos de alimentos
conservados e métodos de conservação tendo em conta as suas experiências. Observam amostras
de alimentos conservados ou processados (veja-se o
anexo D) e determinam os processos para cada um.
Os alunos mais velhos irão discutir como se para a
decomposição dos alimentos (por exemplo, retirando
a água do alimento, acrescentando conservantes,
aquecendo-o até matar as bactérias, engrossando
a pele, diminuindo a temperatura). O melhor será
realizar um projeto de conservação de alimentos em
pequena escala, utilizando os alimentos da horta
(veja-se algumas propostas em Conservar os Alimentos
da Horta, nas Notas de Horticultura).
113
NOTAS
114
CAPÍTULO 10
QUAL É O PLANO?
Envolver a família e a comunidade
Objetivos
• Estabelecer identidade
• Decidir os objetivos
• Monitorizar e registar
• Avaliar
• Publicitar
• Celebrar
• Decidir o calendário
• Fazer um sumário e um plano visual
Já estudámos muitos aspetos do planeamento da horta escolar. Mas há algumas questões que não
devemos desprezar. Nomeadamente:
•O que é que pretendemos atingir?
•Como é que acompanhamos a evolução?
•Como é que vamos decidir o que correu bem e como melhorar?
•Como é que vamos celebrar?
•Quando é que as atividades terão lugar e quanto tempo durarão?
•Como é que devemos apresentar todo o projeto?
115
QUAL É O PLANO?
Mas antes de pensar em qualquer destas questões é preciso definir a identidade do projeto. Os
alunos devem procurar:
•Um nome para o projeto que seja memorável e cativante – por exemplo “Folhas verdes”,
“Cenouras de cabelo encaracolado”, Feijões grandes”;
•Um lema – por exemplo: “Quatro frutas por dia” ou “Os vegetais mantêm-te saudável”;
•Um logótipo ou emblema.
Junte-os num cartaz, por exemplo:
Grão de bico
Couve
Projeto
Os Cinco
Boa forma com
vegetais frescos!
Pepino
Cenouras
Composto
A. OBJETIVOS
O projeto irá refletir os principais objetivos, práticos e educativos. Vamos ver primeiro os objetivos
práticos.
1. Objetivos práticos
Procurar ser específico no que se pretende atingir é um exercício de realismo e pensamento
prático. Pergunte a si mesmo e ao grupo que irá trabalhar na horta o seguinte:
•O que queremos produzir e quanto?
•Porque é que estamos a cultivar (isto é, como é que vamos utilizar os produtos)?
•Que mais vamos fazer para melhorar a horta durante este período?
•Como é que vamos envolver toda a escola, família e comunidade?
•Quais são os nossos planos para o futuro?
Registe as respostas, como na tabela ao lado, para que possam ser comparadas com o que
realmente acontece.
Os alunos mais velhos também podem fazer este exercício. Devem ser encorajados a estimar os
rendimentos das colheitas – número de couves, peso de cenouras... Os alunos mais novos podem
designar as culturas e alimentos que o projeto se propõe a cultivar, mas não se deve esperar que
consigam quantificar.
116
QUAL É O PLANO?
Objetivos e metas para o projeto Os Cinco
Objetivo geral
Metas específicas (1º ano)
Fruta/vegetais ricos em
vitaminas e minerais.
1 canteiro de couves, 2 de cenouras, 4 de feijão-frade,
2 de pepino e 1 de abóbora. Alguns tomates, cebolas
e pimentos. Hortelã para bebidas e para afastar as
pragas.
Porque é que
estamos a cultivar?
Como complemento à
refeição da escola.
Um prato de vegetais por semana para todos, durante
dez semanas, incluindo folhas de feijão-frade, folhas
de abóbora, quiabo e amaranto. Merendas/bebidas
da manhã (abóbora, cenoura, bebida de hortelã,
leite de feijão e sumo de tomate).
O que vai ser feito
para melhorar a
horta neste período?
Iniciar uma vedação
viva contra as cabras,
fazer composto.
20 metros de iucas plantadas ao longo da estrada.
Pilhas de composto criadas para cada turma.
Como é que vamos
envolver toda a
gente?
Envolver as famílias
e a comunidade no
programa da horta.
3 eventos da horta: a) limpeza do espaço da horta
(com merenda), b) sessão de degustação dos lanches
escolares, c) teatro sobre os insetos amigos e inimigos.
Qual é o nosso plano
para os próximos
dois anos?
Plantar árvores de fruto (mamão, maracujá) e de sombra. Criar mais canteiros.
Começar um jardim de aromáticas. Construir uma cozinha ao ar livre.
O que vai ser
produzido no
primeiro ano?
Pratos do projeto Os Cinco
Vamos cultivar feijão frade, cenouras, couves, pepinos e abóboras, e apanhar quiabo e amaranto.
Estes são os pratos que vamos preparar.
Pratos
Caril de feijão frade, com tomate, cebola, cenoura e abóbora.
Feijão frade com quiabo selvagem, tomate e cebola.
Prato de amaranto, com molho de cenouras e tomates.
Pepino cozido a vapor com óleo e cebola.
Molho de folhas de feijão-frade com tomate, cebola e amendoim.
Sopa de couve com cenoura, cebola e tomate.
Feijão-frade assado com tomate, cebola, folhas de abóbora e arroz.
Molho de pepino com folhas de abóbora, amendoim e tomate.
Salada de couve – couve crua com cenoura ralada, cebola, óleo e sal.
Lanches
Abóbora assada
Cenoura crua e
paus de pepino
Bebidas
Chá de hortelã
Sumo de tomate
Leite de soja
É necessário ter em mente que a horta escolar não é um projeto que esteja dependente de se
atingir ou não as metas de produção. É uma experiência de aprendizagem, por isso o processo
é tão importante quanto o produto. O sucesso é bom para a motivação, mas os pequenos
contratempos são interessantes e instrutivos. Os objetivos de produção não são estáticos. Podemos
ter de deixar cair alguns devido às circunstâncias, ou substitui-los por outros mais interessantes.
De igual modo, pode ser necessário abandonar algumas ambições hortícolas, se as necessidades
educativas forem mais importantes. Fazer uma revisão a meio do processo dos objetivos e do
progresso é sempre uma boa ideia.
117
QUAL É O PLANO?
2. Objetivos educativos
Os objetivos educativos devem ter tanta atenção como os objetivos práticos, ou mais. É necessário
colocar estas questões:
•O que vão as crianças aprender (competências específicas,
comportamentais)?
•Que informação específica, conceitos e atitudes vão
aprender sobre:
- nutrição?
- negócio?
- ambiente?
- outros assuntos?
•Que competências para a vida? Que atitudes e
comportamentos?
Aqui ficam algumas respostas do projeto Os Cinco:
Objetivos gerais
As crianças irão aprender:
O que vão as
crianças aprender
durante o projeto?
Que outras coisas
é que as crianças
vão aprender?
(nutrição,
negócio,
ambiente, outros)
Que competências
para a vida vão
aprender?
118
Metas específicas
(informação, conceitos, atitudes, competências
e comportamento).
As crianças irão aprender:
A cultivar cenouras, feijão
frade, couves e pepino.
A transplantar e desbastar; conservar sementes;
regar de forma adequada; plantar; podar; e
fazer estacas.
A encontrar e utilizar quiabo
e amaranto para comerem.
A saber encontrar e preparar quiabo e
amaranto.
A usar métodos biológicos.
A fazer e usar composto; rotação de colheitas;
controlo de pestes; cobrir o solo.
A preparar e servir pratos,
lanches e bebidas.
A cozinhar ao vapor; higiene na preparação de
alimentos; lanches decorativos.
A conservar alimentos.
A secar e armazenar feijões frade; fazer picles
de pepino.
O valor nutricional de alguns
frutos, vegetais, refeições.
O valor das cenouras, feijão frade e couve.
A utilizar frutos secos com cenouras, abóbora e
folhas verdes.
A apreciar e degustar as
refeições confecionadas.
A saborear cenouras cruas, couve e pepino,
temperadas com óleo e sal.
O custo das refeições.
O custo de determinados ingredientes
(por exemplo frutos secos, óleo e arroz) e
determinar o custo por aluno por prato.
A importância de manter e
enriquecer o solo.
A conhecer os nutrientes do solo e como são
utilizados pelas plantas e substituídos.
Biologia: partes das plantas.
As raízes, folhas, caules, frutas e semente.
A tomarem conta de si/ a
colaborarem/ a registarem
eventos/ a falarem do que
fazem/ a trabalhar com
adultos/ a agirem sobre a sua
saúde e a dos outros.
A terem responsabilidade pelos seus talhões; a
organizarem o trabalho em equipa; a manter
atualizada a informação sobre a horta; a
manter os pais informados; a fazer prendas
para os ajudantes; a decidir como melhorar a
sua própria dieta.
QUAL É O PLANO?
A palavra-chave é flexibilidade. Podemos ter apenas uma ideia do que vai ser aprendido. Os
alunos podem aprender menos do que o esperado, ou mais, ou (quase de certeza) outras coisas. O
resultado, na melhor das hipóteses, será um programa individualizado de aprendizagem dinâmico
e evolutivo, conduzido em parte pelo professor, pelo aluno e pelas atividades, experiência e
ambiente. A tarefa do professor é manter-se a par do que está a acontecer, seguir o fluxo dos
acontecimentos e encorajar o que for de valor.
B. MONITORIZAR E MANTER REGISTOS
“Monitorizar” é verificar que estamos a fazer o que pretendíamos.
Cada gestor acompanha o progresso. Por exemplo, podem reparar
que um canteiro de plantas não está bem porque tem demasiadas
ervas, ou que a Equipa Verde arranjou a vedação de forma a que
as galinhas já não conseguem sair, que existe uma árvore de fruto
que está a produzir mais do que as outras, ou que os membros da
Equipa Azul do 3º ano já não falam uns com os outros.
Pode ser pedido aos gestores da horta que mantenham um arquivo
de informação sobre a mesma ou enviem relatório regulares. Pode
ser apenas um diário da horta, pois este é útil caso um professor seja substituído, ou para preparar
relatórios, aulas, conversas.
Manter registos é um aspeto educativo importante para os alunos. Adquirem o hábito de fazer
balanços, de acompanhar e manter o controlo, que são ações-chave nas empresas de sucesso.
Ajuda-os a observar atentamente, a recordar o que já fizeram, a perceber o que têm de fazer,
e no futuro podem recuperar informação. Reforça a aprendizagem e torna-os conscientes do
significado dos vários momentos. Por último, produz algo que se pode mostrar aos pais, visitantes,
alunos e à escola em geral.
Existem diversas evoluções que podem ser monitorizadas. Por exemplo:
•O crescimento das plantas, a meteorologia, precipitação, etc.;
•O estado do composto;
•O estado da infraestrutura da horta (caminhos, sebes, sistemas de irrigação, equipamento,
etc.);
• A presença de insetos benéficos e prejudiciais e os seus efeitos;
•A quantidade de fruta e vegetais produzidos (por planta, por metro quadrado, por talhão,
no total);
•A quantidade e tipos de ervas daninhas;
•O trabalho e tempo despendido;
•O dinheiro gasto e recebido.
Com idades diferentes e de formas diferentes, os alunos podem fazer todas estas coisas. Os
instrumentos de monitorização podem ser:
•Medições e controlo físico (precipitação e
crescimento, por exemplo);
•Contagens (ervas daninhas arrancadas e
plântulas, por exemplo);
• Diagramas (planos do projeto, por exemplo);
•Gráficos (do crescimento, por exemplo);
•Cálculos (da produção);
•Desenhos e fotografias;
•Diários de trabalho;
•Relatórios escritos e orais;
•Livros de balanço financeiro;
•Listas de tarefas do trabalho realizado.
119
QUAL É O PLANO?
O Livro da Horta ou um diário de parede pode ser um projeto da turma, com entradas semanais
e com os melhores trabalhos de casa das crianças publicados. Um jornal da horta, realizado por
um grupo ou uma só pessoa, pode ser valorizado na sua avaliação. Algumas das atividades de
registo podem ser feitas na horta, outras como trabalho de casa.
C. AVALIAR
Porquê avaliar?
A avaliação conduz ao planeamento (o que vamos fazer a
seguir?) e por isso completa o ciclo do projeto. Também
tem um grande valor educativo e psicológico, uma vez
que, do ponto de vista da aprendizagem, o insucesso é
tão instrutivo como o sucesso. No ciclo da aprendizagem
experimental, a avaliação é parte do processo de reflexão.
O que avaliar?
A avaliação olha retrospetivamente para o projeto à luz dos seus objetivos práticos e educativos
(o que queríamos fazer? Fizemo-lo? O que esperávamos aprender? Aprendemos?). Outra questão
que deveria ser colocada frequentemente é “E gostámos?”. Contudo, no final do ano as pessoas
não têm uma visão clara de tudo o que aconteceu. Por isso, a primeira questão a colocar na
avaliação é “O que aconteceu?”. Pode revelar resultados que não constavam nos objetivos
originais – alguns deles errados, mas que vale a pena reconhecer retrospetivamente em relação
ao esperado.
Quem deve avaliar?
A avaliação deve ser uma responsabilidade partilhada. Um dos seus objetivos é incrementar o
sentido de pertença, sendo que todos os que contribuem devem por isso dar o seu contributo:
crianças, pessoal da escola, pais, ajudantes, cozinheiros... Todos devem conhecer os objetivos
desde o início e manterem-se atentos ao seu progresso ao longo do ano. E ninguém, pessoa ou
grupo, deve ser culpado se os resultados não forem os esperados.
Como avaliar?
A avaliação pode ser feita através de discussão na sala de aula, através de grupos de discussão
focal, num fórum alargado, através de uma caixa de comentários, de conversas informais, ou de
uma combinação destes. Não é relevante se grupos diferentes o fazem em alturas diferentes, mas é
importante manter o registo do que é dito. Normalmente é preferível fazê-la em grupos pequenos,
com um membro do grupo a tomar nota do que é dito. Também é útil ter um facilitador para
os grupos de discussão focal que não está diretamente envolvido no projeto – por exemplo, um
professor que todos respeitam.
D. DIVULGAR
É preciso divulgar! Se estamos a fazer algo bom, devemos torná-lo
do conhecimento de todos. É preciso pensar em quem é que gostaria
de ser informado: os locais, os patrocinadores e as instituições. E
como é que gostavam de ser informados. As crianças devem ser
envolvidas nesta partilha de informação. A fórmula é simples:
•Dizer-lhes o que irá ser feito.
•Dizer-lhes o que está a ser feito.
•Dizer-lhes o que foi feito.
•Convidá-los para a festa!
120
QUAL É O PLANO?
E. CELEBRAR
Celebrar é essencial, tanto psicologicamente como
socialmente.
Deve-se tentar terminar com uma comemoração,
provavelmente na altura das colheitas. Pode ser
uma feira de comida, um festival das colheiras,
uma festa, um serviço religioso, uma venda, uma
refeição especial, uma atuação ou apresentação,
uma distribuição de presentes, etc. Todos os que
contribuíram devem ser convidados.
F. DECIDIR O CALENDÁRIO
Qual é o calendário – quando é que o trabalho na horta começa e termina? Quais os tempos
de cada atividade? As culturas devem ser plantadas de forma a serem colhidas em alturas
diferentes? Quanto tempo se deve deixar no final para avaliação e celebração? É necessário
planear antecipadamente.
Se estamos a fornecer alimentos da horta:
•Temos de saber quando devemos plantar
cada variedade em particular;
•Temos de nos assegurar que não vamos
colher tudo no mesmo momento;
•Temos que planear os tempos certos, pois
queremos os alimentos para serem usados
na época de carência alimentar.
Passar esta informação para um formato visual torna-a mais fácil de utilizar como ferramenta
de planeamento, ponto de referência, ajuda à apresentação, forma de relembrar os objetivos ou
pedido de ajuda. As possibilidades são um diagrama de fluxos, um cartaz ou um calendário, com
ilustrações das atividades propostas e com a indicação dos participantes.
G. SUMÁRIO DO PROJETO
Quando todos os aspetos do projeto tiverem sido discutidos, devem ser registadas as conclusões
num sumário do projeto. Deve ser um trabalho feito em conjunto com os alunos, bem como com
o grupo da horta e colegas. As questões são:
Missão
Quais são os objetivos gerais? Qual a missão?
Projeto
Que projeto em particular será realizado este ano? Qual o seu nome?
Objetivos
Quais são os objetivos práticos e metas? O que queremos produzir?
Metas
Quais são os objetivos de aprendizagem e metas? O que queremos aprender?
Parceiros
Quem vai ajudar e como?
Como é que vamos envolver a família e a comunidade (trabalho/conhecimentos/
contribuições/visitas)?
Quem mais é que vamos envolver e como?
InputsQue inputs serão necessários e de onde virão (sementes, ferramentas, etc.)?
Quanto tempo dos professores e alunos será necessário utilizar?
Atividades
O que vamos fazer na horta (trabalho e brincadeira)? Quem é que o vai fazer?
O que vamos plantar, quanto e onde?
Que eventos haverá na horta? Quem vamos convidar?
121
QUAL É O PLANO?
Calendário
Como vamos calendarizar as atividades?
Monitorização O que vamos monitorizar e como? Que registos vamos manter?
Informação
Como é que o projeto vai manter as pessoas informadas (especialmente pais,
ajudantes, o professor, o diretor e a escola)?
Publicidade
Como é que serão divulgadas as atividades da horta e criadas atitudes positivas?
Avaliação
Quando é que fazemos a avaliação? Quem é que envolvemos? Em que formato?
Celebração
Quando e como vamos celebrar?
SUGESTÕES PARA A AÇÃO
•Utilizar a declaração de missão da horta para encabeçar
os documentos.
•Encontrar um nome, lema e emblema para o projeto.
•Discutir e decidir os objetivos práticos e os objetivos
educativos.
•Simplificar os principais objetivos e divulgá-los de
forma atrativa – por exemplo, num cartaz ou numa
apresentação aos alunos do grupo da horta. Deve-se
colocar a declaração de missão no topo.
•Certificar-se que todos os participantes conhecem os principais objetivos. Pedir-lhes que
os recordem para que possam avaliar o projeto no final. Lembrá-los a meio do ano.
•Discutir e decidir que registos devem ser mantidos das atividades na horta e quem é que
os deve manter. Se os registos são feitos pelos alunos, deve-se planear e discutir esses
registos nas aulas da horta.
•Discutir e decidir como é feita a avaliação.
•Produzir um pequeno sumário do projeto (encabeçado pela declaração de missão),
colocar uma cópia do dossiê da horta e distribuir pelo conselho diretivo, associação de
pais, autoridade local, etc.
Resultados: - Nome do projeto, lema e logótipo;
- Apresentação dos objetivos e atividade num formato visual interessante;
- Sumário do projeto.
Dicas e ideias
•Organizar um concurso para escolher o melhor nome para o projeto.
•Pedir às crianças que copiem os principais objetivos para o seu caderno, levem
para casa e expliquem às respetivas famílias.
•Com os alunos mais velhos, criar um plano visual do projeto em conjunto, discutir
as ações necessárias e colocá-las num diagrama de fluxo, calendário ou cartaz.
•Colocar cada parte do plano do projeto numa folha de papel separada e pedir a
grupos de alunos diferentes que a ilustrem. Unir as diferentes partes num diagrama
de fluxo e colocar setas feitas de papel ou paus, e colocar na parede.
122
QUAL É O PLANO?
NA SALA DE AULA
Pontos iniciais
Estas quatro lições devem ser distribuídas ao longo do ano letivo. O plano do
projeto é desenhado quando o projeto começa, o trabalho de divulgação pode
ser feito em qualquer altura, a avaliação e a celebração são realizadas no final do
projeto.
1. Plano do projeto Deve ser feito depois de tomadas as principais decisões.
Objetivos
Os alunos devem tomar consciência das suas expectativas, os alunos mais velhos
criam um sumário do plano do projeto para partilhar com o mundo exterior.
Planear
Preparar
Avaliar
Celebrar
Plantar
Cuidar
Comer/usar
Colher
Atividades Os alunos souberam que o Sr/Sra X quer ter informação sobre o projeto. Esta aula
deve servir para preparar o sumário. Os alunos discutem uma série de questões sobre o projeto
e registam as respostas. Os alunos mais velhos, em grupo, nomeiam um secretário e esboçam
uma resposta. A versão final é lida para aprovação de toda a turma. A informação é entregue ao
Sr/Sra X, que deve responder por escrito ou pessoalmente. Para dar seguimento, os estudantes
mais velhos usam a informação para criar um sumário visual na forma de diagrama de fluxos,
calendário de culturas ou plano de trabalho.
2. Mostrar e contar Aproxima a escola da comunidade e as crianças aprendem ao falar.
Objetivos Os alunos gostam de contar às pessoas
sobre a horta e escolhem conteúdos e canais para as suas
mensagens. (N.B. O professor deve preparar o ambiente
investigando quem na escola ou na comunidade estará
disposto a ouvir os alunos).
Atividades Os alunos explicam o que acontece na horta
e discutem quem gostaria de ter esta informação e porquê
(pais, família, pessoas da escola, ajudantes da horta, media
local, outras escolas, o público em geral e organizações
locais, por exemplo). Penduram figuras em papel com os
nomes e discutem o que vão dizer e mostrar a cada uma.
123
QUAL É O PLANO?
3. A avaliação Ajuda a diagnosticar os problemas, a planear
o futuro e a envolver a comunidade.
Objetivos Os alunos relembram-se das atividades ao
longo do ano e refletem sobre elas. Reconhecem a ajuda
uns dos outros e felicitam-se pelo trabalho realizado
(o professor deve assegurar que todos os registos estão
disponíveis e que todos contribuem para a avaliações e
partilham as suas impressões).
Atividades Os alunos relembram-se dos eventos ao longo do ano e das atividades, triunfos
e desastres, e expressam a sua satisfação ou insatisfação. Os alunos mais velhos relembram-se
dos objetivos e metas do plano, e se foram ou não cumpridos, porquê e dizem quais as lições
aprendidas. Os alunos relembram todos os que ajudaram e decidem como agradecer. A turma
elege os melhores três hortelões e dá-lhes um prémio. Finalmente, premeiam de acordo com
Excelente, Muito bom, Satisfatório.
4. Celebrações Deve haver sempre uma celebração e as crianças devem ajudar na organização.
Objetivos
Os alunos devem estar conscientes da necessidade de celebrar,
de pensar em quem deve participar e ajudar a planear e organizar o evento.
Atividades O professor anuncia a celebração e data, local e hora
respetivos. A turma pensa num nome para o evento, lista os participantes
Hortelão
e decide como convidá-los. Planeia o programa, discute bebidas,
do Ano!
presentes, decorações e mostras. E organiza o trabalho a realizar.
Algumas formas de celebrar são feiras de alimentos, dia aberto, festival
de colheitas, refeição especial e uma festa. Algumas formas de celebração
são competições, decorações, demonstrações, exposições, bandeiras,
visitas guiadas, apresentações, cartazes, canções e danças, etc.
NOTAS
124
CAPÍTULO 11
COMO É QUE COMEÇAMOS?
Organizar o trabalho
Objetivos
• Distribuir o trabalho pela escola
• Organizar equipas e grupos
• Calendarizar o trabalho
• Estabelecer as regras
• Lidar com a segurança
• Assegurar as férias
A organização do trabalho na horta depende dos seus objetivos, das regras da própria escola, da
idade das crianças, de quantos professores e turmas estão envolvidas, de quanto tempo poderá
ser dispensado para a horta e das suas próprias preferências. A maioria das escolas com hortas
solicitam a cada turma que dispense uma a duas horas por semana, e os alunos poderão ter
responsabilidades extra, ocasionais, que lhes ocupam meia a uma hora por semana, numa base
de voluntariado ou por rotatividade. A maioria também organiza sessões especiais quando
está prevista uma maior carga de trabalho, como limpezas do terreno, por exemplo, e convida
voluntários e ajudantes, das famílias e também da comunidade.
Seja como for, na organização é importante envolver os alunos, pois esta é uma oportunidade para
desenvolver o seu sentido de responsabilidade, independência e capacidade para colaboração e
organização.
125
COMO É QUE COMEÇAMOS?
A. COMO É QUE ORGANIZAMOS O TRABALHO?
É necessário ter presente que o papel da escola é proteger, respeitar e facilitar o direito das
crianças à educação. As crianças estão na horta para aprender, não para serem mão de obra
barata, e o trabalho na horta deve ser visto como uma experiência de aprendizagem. Há muitas
maneiras de distribuir o trabalho da horta pela escola, mas é necessário avaliá-lo à luz do que foi
referido anteriormente. Aqui ficam algumas possibilidades:
1. Todos na escola tomam conta da horta
As turmas vão rodando pelos diferentes talhões e diferentes
tarefas (por exemplo, esta semana a turma 1 toma conta das
couves, ou fica responsável pela rega). Os registos da horta
dizem respeito a todos os envolvidos no projeto e as turmas
contribuem de acordo com as tarefas distribuídas.
Esta programação faz com que seja mais fácil organizar as
tarefas comuns (por exemplo, as turmas têm turnos para
misturar o composto) e também permite que todas as turmas
adquiram experiência em todo o tipo de colheitas. Funciona
bem quando existe um forte sentido de responsabilidade
partilhada. As desvantagens são:
•Não existe responsabilidade pessoal ou de pequenos grupos e por isso menos espaço para
um sentimento de pertença e orgulho pessoal;
•Não existe uma grande variedade de trabalho para cada criança – e por isso menos para
aprender, e menos interesse;
•Não é possível ter competições entre turmas, grupos ou indivíduos;
•É necessário a coordenação de toda a escola.
2. Cada turma tem a sua horta
Cada turma trabalha separadamente, com alguma
coordenação para evitar a sobreposição. Cada turma pode
ser dividida em equipas ou grupos que podem trabalhar os
seus canteiros e também contribuir para as tarefas comuns.
É feito um diário da horta para cada turma.
Esta forma de organização pode promover o orgulho
da turma. Hortas separadas facilitam a distribuição do
trabalho de acordo com a idade das crianças e dificuldade
do projeto. Por exemplo, uma turma júnior pode fazer
vasos de flores, enquanto uma turma com alunos mais
velhos pode produzir, embalar e vender fruta. Isto faz com que seja possível desenvolver um
projeto hortícola mais complexo e que abranja todos os anos letivos.
3. Grupos/equipas têm os seus próprios talhões
Pequenos grupos de alunos têm os seus próprios talhões.
Escolhem o nome para o seu grupo (por exemplo, “os dedos
verdes”). Um grupo pode produzir apenas uma colheita (fácil
de organizar) ou várias (mais interessante e educativo). Cada
grupo mantém os seus próprios registos – um dossiê, um
diário, etc. As tarefas comuns da horta são partilhadas entre
os grupos.
126
COMO É QUE COMEÇAMOS?
Esta forma de organização tem várias vantagens:
•Dá um sentido de pertença e continuidade;
•Encoraja a responsabilidade individual e de grupo;
•Facilita a avaliação do trabalho;
•Torna possível ter experiências de controlo;
•É flexível – os talhões podem adequar-se ao tamanho do grupo;
•Encoraja a competitividade – a maioria dos agricultores aprende a ver o que o seu vizinho
faz!
4. Talhões individuais
Se o espaço o permite, um ou dois alunos podem experimentar as suas próprias colheitas e
métodos. O que dá lugar a várias possibilidades. Por exemplo, dar talhões individuais a bons
horticultores, selecionados pelo professor ou pela turma. Ou separar alguns talhões e todos
os anos solicitar aos alunos para se candidatarem apresentando uma proposta de projeto bem
desenvolvida.
5. Designar gestores e monitores
Delegar algum do trabalho de gestão a alunos mais velhos.
Uma equipa de dois rapazes e duas raparigas pode ajudar
a organizar e a supervisionar as atividades. Este trabalho
deve ser visto como uma honra: crachás poderão ajudar.
Todos os meses a equipa faz um resumo dos resultados e
passa a gestão a outra equipa.
Um só aluno ou pequenas equipas especializam-se em
determinadas tarefas comuns, com nomes apelativos como
“engenheiro de bombas”, “gestor de ferramentas”, “equipa
de segurança” e “rei do composto”. Os alunos poderão
recorrer a estes “especialistas” em vez de recorrerem sempre aos professores para informações e
conselhos. Estes especialistas deverão preparar a formação dos seus sucessores.
6. Criar o Clube da Horta
Os alunos mais entusiastas podem participar
num Clube da Horta, encontrando-se uma vez
por semana como atividade extracurricular. Os
pais e voluntários também podem participar
e acompanhar os alunos mais novos. A
desvantagem é que o grupo pode ser pequeno,
a vantagem é que todos estarão empenhados e
haverá muita partilha de experiências.
As crianças menores de seis ou sete anos
podem ficar com as tarefas mais simples, como
levar ervas para o composto, regar e lavar os
vegetais. Mas eles também devem ter as suas responsabilidades para que se preparem para tarefas
mais exigentes quando forem mais velhos. Para isso devem-lhes ser dados projetos pequenos, mas
completos – por exemplo, ficar responsáveis por três vasos de flores e dois arbustos de bagas,
acompanhar o crescimento de uma couve ou seis cenouras que crescem ao lado das principais
culturas.
§ Qual destas possibilidades seria a mais adequada?
127
COMO É QUE COMEÇAMOS?
B. EQUIPAS E GRUPOS
Para organizar o trabalho, devem ser criadas equipas ou grupos de cinco a sete alunos. Há várias
maneiras de organizar equipas, mais ou menos flexíveis e mais ou menos autónomas.
Por exemplo:
•Cada equipa tem um líder.
•As equipas e líderes elegem-se a si
próprios.
•Os líderes de equipa são permanentes.
•
As equipas mantêm-se por uma
estação.
•As equipas escolhem os seus talhões.
•As equipas escolhem os seus nomes,
cores e emblemas.
•Os professores informam os líderes de
equipa, que por sua vez informam as
equipas.
•
Os voluntários adultos trabalham
com as equipas como ajudantes e
conselheiros.
•As equipas trabalham sem líder.
•
As equipas são selecionadas pelo
professor.
•Os líderes de equipa são rotativos no
grupo.
•As equipas mudam a meio da estação.
•As equipas vão rodando por diferentes
talhões.
•Os nomes das equipas são dados pelos
professores.
• Os professores informam toda a turma.
•As equipas trabalham sem a ajuda de
adultos.
§ Qual destas opções seria mais indicada para si e para os alunos?
C. PROGRAMAÇÃO DAS ATIVIDADES
A programação das atividades pode incluir viagens, entrevistas, pesquisa de mercado, venda de
produtos, cozinhar, demonstrações, festas, feiras e receber visitantes.
Mas na maioria das sessões as crianças estarão a fazer:
•trabalho de horticultura de rotina (retirar ervas daninhas, regar e controlar as pragas, por
exemplo);
•tarefas comuns (manutenção das ferramentas, compostagem, vedações);
• monitorizar, registar, documentar (manter registos, medir e escrever diários, por exemplo);
•recreação, atividades criativas e socialização.
1. Trabalho de rotina e tarefas comuns
Tentar manter a horta a funcionar sozinha.
Uma estrutura regular
Esta irá ajudar a dividir as sessões por segmentos e a ter uma
estrutura organizada – por exemplo:
•Uma ronda de planeamento para começar (com uma
pergunta por semana);
•Atividades de rotina – trabalhar na horta, observar,
escrever diários, etc;
•Um intervalo para um jogo, cantiga, etc;
•Mais atividades de rotina;
•Arrumar;
•Fechar ronda (discutir e congratular).
(Adaptado de Kiefer and Kemple, 1998)
Quando as crianças têm uma ideia sobre o que fazer, pergunte-lhes que tarefas são necessárias
(em vez de mandá-las cumprir as tarefas) e encoraje-as a dar sugestões.
128
COMO É QUE COMEÇAMOS?
Tarefas rotativas
Se uma tarefa requer a presença de um professor, organize as atividades de forma a que cada
grupo venha ter com o professor separadamente. Por exemplo, podem existir blocos de 20
minutos a) escrever os jornais de campo, b) retirar as ervas/regar, c) trabalhar com o professor
sobre como lidar com determinado problema, com blocos com ordens diferentes para cada
grupo. Da mesma forma, se o equipamento ou as instalações têm de ser partilhadas, organizar
os grupos de forma a que enquanto um usa o equipamento os outros estão a fazer outra coisa.
Planear a semana de trabalho
Se a semana de trabalho precisar de ser programada, ponha as crianças a fazê-lo. Para tal é
necessário mostrar a lista ou roda de tarefas (ver caixa em baixo) e discutir quais é que será
necessário fazer esta semana, quantas pessoas serão necessárias para cada uma e quanto tempo
levarão. As equipas escolhem as tarefas, organizam o seu calendário e decidem como partilham
o trabalho. Se as rotações de trabalho não podem ser evitadas, então é necessário envolver toda
a gente, para que o entendam.
Roda de tarefas na horta
Preparação do
solo/Lavrar
Regar
Plantar/
Transplantar
Eventos/
Divulgação
da Horta
Mondar;
Cobrir o solo e
Composto
Entregar/Distribuir
Caminhos
e Vedações
Embalar e
Rotular
Insetos e
Pragas
Preparar/
Cozinhar/
Preservar
Colher
Observar e
Registar
§ O que é necessário fazer esta semana? Os grupos escolhem as tarefas colocando uma
identificação da sua equipa no segmento apropriado.
129
COMO É QUE COMEÇAMOS?
Programação do trabalho de equipa
Os alunos mais velhos podem usar uma lista proforma, datá-la, indicar as tarefas realizadas
e colocar essa informação no dossiê da horta. As equipas podem estabelecer a sua própria
programação (ver caixa em baixo).
Programação do trabalho da Equipa A
Três alunos, J, K e P, têm o seu talhão. Trabalham duas meias horas por semana na horta
com a turma, meia hora de uma aula e meia hora do seu tempo. Esta semana eles querem
regar o talhão, medir o crescimento, verificar se existem pestes e pulverizar com o spray
caseiro se necessário.
As suas tarefas comuns serão misturar o composto e ajudar a reparar a vedação. P e K
planeiam ficar na sexta-feira depois das aulas para regar, para que as plantas não sequem
durante o fim de semana. J, que vive perto da escola, vai lá passar no Sábado para ver
se a pulverização teve efeito. Ele também vai escrever o relatório da semana. Na aula de
quinta-feira, o grupo irá preparar uma mostra de insetos e pragas encontrados na horta.
Este é o calendário que eles fizeram para a semana:
INÍCIO DA SEMANA…
2ªF
Trabalho
na horta
Regar
K
Observar
e registar
Medir o
crescimento J
Tarefas
comuns
Misturar o
composto
P
3ªF
4ªF
5ªF
Regar &
pulverizar
PJ
6ªF
Sáb.
Dom.
Procurar
pragas J
Escrever o
relatório J
Regar &
retirar
ervas PK
Reparar a
vedação
K
Trabalho
na aula
2. Monitorizar, registar e documentar
Mostra de
insetos
JKP
As crianças devem supervisionar as suas culturas todos os dias – a caminho das aulas, durante os
intervalos e quando vão para casa. É necessário estabelecer o hábito no início do ano levando à horta
toda a turma durante cinco minutos todas as manhãs, até os
alunos perceberem a ideia. Nessa altura, estas visitas deverão
ser feitas de forma independente e o relatório de retorno
deverá ser dado à turma pelo grupo ou individualmente. Os
alunos mais novos podem observar e fazer o relato oralmente,
os alunos mais velhos podem registar medidas, informação
e produzir relatórios semanais que devem ser guardados
no dossiê da horta (ver caixa da próxima página). Deve-se
manter o interesse da turma no tema, questionando sobre a
saúde de determinadas plantas, usando o nome das mesmas
e pedindo sugestões.
130
COMO É QUE COMEÇAMOS?
Se os alunos quiserem, podem especializar-se e organizar:
•a patrulha das pragas (insetos, lagartas, etc.);
•a patrulha da saúde das plantas (crescimento e qualidade);
•a patrulha da proteção das plantas (humidade do solo, ervas, cobertura do solo, vedação).
Relatório da semana
Início da semana
Tarefas cumpridas
........................................................
Progresso
Problemas
Outras observações
...........................................................
(assinado)
3. Recreação, criatividade e socialização
Tornar as sessões no jardim agradáveis e sociais. Fazer
intervalos para o lanche, um jogo, uma cantiga, um
espetáculo de marionetas, uma leitura, observar um inseto
interessante ou planta, uma atividade de sensibilização
sensorial, trabalho artístico.
§ Que rotinas serão mais adequadas para os alunos e
permitirão cumprir o trabalho?
D. REGRAS/ ETIQUETA DA HORTA
Algumas “Regras da Horta”
•Caminhar nos caminhos e não nos canteiros;
•Manter as ferramentas fora dos caminhos;
•Limpar as ferramentas antes de arrumá-las;
•Lavar as mãos depois de trabalhar na horta;
•Lavar fruta ou vegetais antes de comê-los;
•Perguntar antes de colher qualquer coisa;
•Colocar as partes afiadas das ferramentas a
apontar para o chão.
131
COMO É QUE COMEÇAMOS?
As regras da horta não são leis para serem aplicadas por polícias, mas é necessário ter um
código de prática, uma cultura de comportamento na horta que todos entendam. Mas a maioria
das práticas precisam de treino e os alunos precisam de ser lembrados antes de se tornarem
automáticas. Com isto em mente, encoraje as crianças a praticarem e a manterem as regras. Por
exemplo:
•No início, leve os alunos para a horta. Peça-lhes para demonstrarem como se faz e porquê.
•Peça aos alunos mais velhos para treinarem os mais novos, ou aos líderes de equipa para
explicarem tudo às suas equipas.
•Peça a determinados alunos para lembrarem outros.
•Deixe que as crianças tenham turnos enquanto monitores da horta.
•Deixe emergir novas regras e discuta com os alunos.
•Pergunte aos alunos se se lembram das regras ou se é necessário escrevê-las.
•Caso se torne necessário escrever as regras, escolha uma escrita positiva e que inclua as
crianças – por exemplo, “nós caminhamos nos caminhos e nunca nos canteiros!” em vez
de “não caminhem nos canteiros”.
§ Qual é a atitude da escola em relação a regras? A que é que as crianças estão habituadas?
E. SEGURANÇA DA HORTA
Os predadores podem ser galinhas, pássaros, cabras, porcos selvagens,
búfalos, elefantes e macacos – só para nomear alguns. Ou pessoas!
Discuta a segurança da horta com todos e decida quais as medidas a
tomar e quando podem ser necessárias (ver Proteger a horta, nas Notas
Horticultura). Encontrar ou construir o espantalho mais eficaz pode ser
um bom jogo.
Foto © Mel Futter
Criar um “restaurante” utilizando a sobra de vegetais, fruta
velha, etc. pode ajudar a manter os animais fora da horta.
Como recompensa eles deixarão estrume valioso. Prestar
atenção aos hábitos de outras “pestes”. Existem muitos
pássaros que comem fruta e que preferem a que já está muito
madura, a começar a fermentar. Não só vão ajudar a terminar
com restos de fruta, como também os seus dejetos irão dar
origem a germinações, isto porque existem variados tipos de
sementes que precisam de passar pelo sistema digestivo para
que possam germinar.
F. FÉRIAS
Se os projetos na horta começam logo no início do ano,
não é necessário mantê-los durante as férias grandes. Caso
contrário, discuta com os alunos, pais, ajudantes e cuidadores
que manutenção é necessária durante as férias. Algumas das
precauções são:
132
COMO É QUE COMEÇAMOS?
•Retirar as ervas antes das férias.
•Cobrir o solo para o manter húmido.
•Pedir às famílias voluntárias para ser as guardiãs, adotando a horta uma semana cada
uma.
•Estabelecer um registo das equipas que durante as férias virão duas vezes por semana.
Algumas das hortas têm verbas para pagar aos estudantes para fazerem estas tarefas, em
dinheiro ou géneros.
•Tomar medidas de segurança.
§ Que medidas podem ser tomadas para proteger a horta? Como podem os alunos e as
famílias ajudar?
SUGESTÕES PARA A AÇÃO
•Discutir e decidir como é que o trabalho no jardim pode ser distribuído, organizado e
programado.
Resultado: Planos da organização, calendário e documentação do trabalho na horta.
Dicas e ideias
•Ter uma cerimónia de inauguração da horta:
- Convidar uma celebridade local para “inaugurar a horta plantando a primeira
planta”.
- Convidar toda a gente, incluindo a imprensa local.
- Disponibilizar um refresco.
- Mostrar uma imagem ou mapa da horta.
- Apresentar o programa anual da horta.
•As crianças mais novas podem cantar as regras da horta. Por exemplo:
Nós caminhamos nos caminhos e não nos canteiros.
Nós partilhamos as ferramentas e ajudamo-nos.
Nós mantemos as ferramentas fora dos caminhos e as partes afiadas para baixo.
Nós limpamos as ferramentas e guardamo-las.
Nós sabemos o que estamos a fazer; nós jardinamos bem!
Nós lavamos as mãos e a comida.
E agora estamos prontos para comer!
133
NOTAS
134
CAPÍTULO 12
COMO VAMOS MANTER A HORTA?
Motivação e sentimento de pertença
Objetivos
• Motivar os professores, os ajudantes e as crianças
• Criar um sentimento de pertença
Em alguns sítios, a horticultura é vista como um
Perspetivas
trabalho que vale a pena e como um passatempo
A horticultura é um prazer para
fascinante. Noutros é um trabalho manual com pouco
alguns, mas para outros é lembrar
reconhecimento. Por vezes, o trabalho agrícola até
um passado traumático.
pode ser associado ao colonialismo e à escravatura.
(Payne, 1998)
Existem casos em que a horta escolar adquiriu má
reputação porque as crianças trabalhavam como
castigo ou para produzir para o professor.
Contudo, a maioria dos pais e encarregados de educação apreciam o valor prático que tem uma
horta escolar. Conseguem perceber que as crianças ganham capacidades práticas, conhecimento
e habilidades para a vida, que os poderão ajudar a olhar por si e pelas suas famílias no futuro. As
escolas também estão a reconhecer que as crianças envolvidas na horta escolar têm um melhor
desempenho em todas as disciplinas.
135
COMO VAMOS MANTER A HORTA?
Aqueles que adoram este trabalho nunca se fartam de ver a germinação das sementes, de provar
aquilo que produziram, experimentar novas plantas e métodos, combater pragas e doenças.
A melhor motivação é o sentimento de realização. Contudo, podem ser necessárias outras
motivações para vencer o preconceito, para levar os alunos
a descobrirem o prazer de acompanhar o crescimento das
plantas, ou apenas cumprirem as tarefas menos interessantes.
Se existe uma atitude negativa em relação à horta na
escola ou comunidade, as escolas terão de ser geradoras de
motivação. Podem fazer isto demonstrando o valor do que
estão a fazer e demonstrando que acreditam nisso. Se por
outro lado existe entusiasmo, pode ser necessário mantêlo, uma vez que estes projetos demoram bastante tempo e
envolvem trabalho repetitivo.
Estas são algumas das razões pelas quais os bons gestores de
hortas mantêm as motivações em mente.
A. MOTIVAÇÃO PARA TODOS
Toda a gente precisa de motivação. Manter o interesse de todos num programa anual de eventos
na horta. Divulgar o programa com um cartaz ou calendário ilustrado. Por exemplo:
•Realizar uma cerimónia de abertura.
•
Celebrar os principais eventos ao longo do ano
(plantações, colheitas) e ter visitantes e dias abertos.
•Celebrar dias nacionais e internacionais (ver caixa).
• Propor aos alunos a criação de cartazes sobre alimentos,
culturas, projetos de horta, insetos, composto, etc. e
fazer apresentações desses cartazes na respetiva turma,
outras turmas e para visitantes.
•Ter o dia da Cenoura ou da Couve quanto estas estão
no seu pico (ver caixa na próxima página).
•Fornecer refrescos em todos os eventos. Nas sessões
de trabalho, fazer intervalo para um lanche. Pedir
aos ajudantes que tragam comida e bebida para
partilharem. Aproveitar para mostrar aos alunos formas
agradáveis
de
apresentar comida.
Organize um Dia da Cenoura ou Dia da Couve (ou Dia da Abóbora ou Dia
do Feijão) quando as suas colheitas estão no seu auge (ver caixa abaixo).
Dias especiais
Ideias para o dia da Cenoura
• Dia mundial da Água - 22 Março
•Cada turma prepara cenouras para serem
comidas de forma diferente.
• Realizar um concurso para o melhor prato de
cenoura, a melhor fotografia de cenouras.
•Todos os participantes levam cenouras para
casa.
•Conversar sobre o valor nutricional das
cenouras.
•Criar uma música e uma dança sobre
cenouras.
• Apresentar uma dramatização sobre como as
cenouras são plantadas, tratadas, protegidas e
colhidas.
• Dia Mundial da Saúde – 7 Abril
• Dia Mundial do Ambiente – 5 Junho
•Dia internacional da luta contra o trabalho
infantil – 12 Junho
• Dia Mundial contra a desertificação e a seca –
17 Junho
• Dia Mundial do Habitat – 5 Outubro
• Dia Mundial da Alimentação – 16 Outubro
(C. Ssekyewa, personal communication, 2003)
136
COMO VAMOS MANTER A HORTA?
B. MOTIVAÇÃO PARA PROFESSORES E GESTORES DA HORTA
O que motiva professores, funcionários da escola e gestores da horta? Para eles, a horta pode ser
uma destas coisas:
•Uma responsabilidade especial com uma compensação apropriada em termos de tempo
ou remuneração;
•Uma fonte de orgulho e louvor por parte dos diretores da escola ou das autoridades locais
de educação;
•Algo que podem colocar no seu CV;
•Uma forma de dar vida às aulas;
•Uma forma de ganhar competências e qualificações em horticultura, nutrição, etc;
•Uma forma de ter a escola toda junta num interesse comum;
•Uma forma de desfrutar comida saudável.
Certifique-se que alguns destes são verdade na sua escola. Por exemplo:
•Fale com a autoridade para a educação sobre cursos de formação certificados em
horticultura, gestão de hortas, nutrição e trabalho no projeto;
•Organize formação informal com peritos locais no tema (eles sentir-se-ão lisonjeados por
serem convidados);
•Entre em contacto com outras escolas com hortas e tente arranjar fundos para seminários
sobre hortas;
•Organize um concurso com outras escolas para o melhor plano de aula sobre a horta;
•Adote um tema (água e milho, por exemplo) e discuta como o integrar ao longo do
currículo.
Claro que também precisa de ser apreciado. Certifique-se que o seu
grupo de horta e o diretor da escola sabem o que está a acontecer. Se a
horta é um crédito para a escola, a autoridade local irá visitá-la e trará
visitantes. A sua fama vai crescer, pode até ter de lidar com inveja! Se
existirem referências na imprensa e aparições públicas, partilhe a sua
glória, mas fique com um bocadinho para si. Você merece!
C. MOTIVAÇÃO PARA AJUDANTES, PAIS E PATROCINADORES
Cultivar as pessoas é tão importante como cultivar plantas. Os pais e ajudantes que dão apoio
podem fazer toda a diferença. Aqui ficam algumas formas de captar e manter o seu interesse.
Envolva-os
Na discussão e planeamento do projeto da horta, para que eles fiquem comprometidos com o seu
sucesso. Apresente o plano para a horta no início do ano e recolha sugestões. Depois peça para
eles explicarem o projeto a outros: as pessoas convencem-se rapidamente se tiverem de convencer
outros!
Proporcione escolha
Os voluntários têm motivações e talentos diferentes. Discuta as tarefas que são necessárias
realizar, mas dê oportunidade para que sejam eles a escolhê-las.
Receba donativos
Peça e aceite donativos para as plantas e sementes. Mostre a quem dá
como ajudam. Se possível, mostre-lhes a horta, ou pelo menos uma
fotografia. Apresente-os às crianças, que poderão falar sobre o que estão
a fazer. Delegue num aluno a manutenção do registo das sementes e
estacas doadas e reporte a quem as deu. Peça aos pais para contribuírem
com pequenas coisas (por exemplo, cascas de vegetais para o composto
e sementes). A frequência e a regularidade são mais importantes que a
quantidade ou valor.
137
COMO VAMOS MANTER A HORTA?
Mantenha o contacto
Convide as famílias para eventos na horta. Mantenha-os informados sobre o que está a acontecer.
A forma mais barata e efetiva de passar informação é o chamado “boca-a-boca”. Peça a cada
pessoa que vê para falar com mais duas. Consulte pessoas frequentemente e peça o seu conselho.
Agradeça
Reconheça todas as contribuições e conselhos calorosamente. Deve agradecer individualmente a
todos os que ajudam e mostram interesse. Algumas formas de mostrar apreço:
•Incluir nomes num quadro de honra (estas foram as pessoas que
ajudaram na nossa horta…);
•Visitas guiadas personalizadas pelos alunos (será necessário
praticar previamente);
•Oferecer pequenos presentes da horta, numa embalagem bonita;
•
Colocar placas comemorativas para comemorar ofertas
importantes;
• Escrever notícias no jornal da escola ou jornal local, mencionando
os nomes;
•Escrever cartas de agradecimento, escritas pelas crianças (ver Mostrar e contar, capítulo 10);
•Convidar para visitar a horta aquando das celebrações:
•Valorizar pessoalmente e calorosamente, quer em privado quer em público.
D. MOTIVAÇÃO PARA AS CRIANÇAS
Para as crianças, a horta deve ser um local com muitas associações positivas, onde podem:
•Produzir algo de que podem ficar orgulhosos;
•Aprender a fazer coisas e orgulharem-se das suas competências;
•Mostrar aos outros o que fizeram e falar sobre isso;
•Obter algo bom para comer;
•Fazer as suas próprias observações e falar sobre elas;
•Divertirem-se com a terra e água, jogar e relaxar;
•Fazer exercício e socializar com outras crianças.
Muito poderá ser feito para criar e manter essas motivações. Aqui ficam
algumas possibilidades:
Criar valor
•Mostre o que pensa sobre a horticultura e como vale a pena produzir os seus próprios
alimentos.
•Faça do trabalho na horta uma recompensa. Por exemplo,
a turma que apresentar o melhor projeto deve prosseguir
com esse projeto. Dê individualmente pequenos talhões para
recompensar o bom trabalho.
•Faça da horta da escola um local atrativo para estar.
•Não deixe que trabalhar numa horta escolar seja uma
punição.
•Deixe que as crianças, através de histórias e teatro, imaginem
criaturas da horta inspiradas pelas plantas.
•Dê às crianças uma participação material da horta – por
exemplo, parte das colheitas, parte dos lucros, receberem um
pagamento por cuidarem da horta durante as férias.
•Reserve alguns projetos de horta para alunos mais velhos,
para que estas atividades estejam associadas ao crescimento.
138
COMO VAMOS MANTER A HORTA?
Criar variedade
•Trate o trabalho de cada ano como um projeto individual e altere-o de ano para ano.
•Planeie eventos interessantes durante o período de crescimento, quando o trabalho de
rotina se pode tornar enfadonho.
•Plante tanto pelo interesse como pela beleza e utilidade.
Destaque estágios e eventos
•Divida o projeto em fases curtas. Marque
cada uma como realizada à medida que isso
acontecer.
•Verificar frequentemente os objetivos do
projeto e encaminhar para os resultados.
•Dar grande destaque aos “primeiros frutos”,
colocá-los em exposição, fotografa-los, proválos.
•Marque os resultados através de cerimónias
(festival da colheita, exposição da horta) com a contribuição dos alunos. Mantenha os
alunos a par destes eventos e discuta a sua contribuição.
Encorajar as crianças a promover a horta
•As crianças podem colocar sinalética na horta.
•Encoraje as crianças a falarem às famílias e amigos sobre
as atividades.
•As crianças poderão explicar os seus talhões aos visitantes.
Forme-os para agirem como “guias da horta” e distinga-os
quando terminarem a formação.
Recompensar o sucesso
•Dê recompensas a indivíduos e grupos – o elogio pessoal,
elogios públicos, prémios, estrelas douradas e boas notas.
Dê notas para o trabalho prático, registos, diários, desenhos
produzidos por equipas e grupos.
•Tenha um esquema de créditos para a horta. As crianças
ganham créditos pelo trabalho na horta ao longo do ano, com
um certificado no final.
•Encoraje os alunos a darem os parabéns uns aos outros, e os
alunos mais velhos a ajudarem e louvarem os mais novos.
•Ter concursos e prémios – por exemplo, para a primeira
cenoura, para a maior colheita, para as folhas verdes mais
saudáveis, para as plantas sem pragas, o talhão mais bem
cuidado, as flores mais bonitas e um prémio de consolação
para aqueles com mais ervas daninhas. As crianças podem
decidir quem deve ter os prémios e organizar a entrega dos
mesmos.
Concurso da Horta
O Clube 4H organizou um concurso nas Caraíbas para a melhor refeição ou lanche
inventado por uma criança com os produtos da horta. Um dos vencedores foi um sumo de
kallaloo com gengibre. (C. Power, personal communication, 2003)
139
COMO VAMOS MANTER A HORTA?
E. SENTIMENTO DE PERTENÇA
Uma das motivações mais eficazes é o sentimento de pertença. Esta é também uma condição
importante para o desenvolvimento pessoal.
Ter responsabilidade Lema: “a nossa horta, o meu talhão”
As crianças devem:
•Ver a horta como delas e sentir que os adultos respeitam
esse sentimento;
•Ter sempre acesso aos seus talhões;
•Ter responsabilidade pessoais e comuns (a minha planta,
a nossa vez para regar, etc.);
•Ajudar a proteger a horta face a predadores e ladrões.
Tomar decisões e iniciativas Lema: “o nosso plano, a minha ideia”
Os adultos e professores terão de tomar algumas das principais decisões, mas os alunos também
devem fazer escolhas e decisões reais, quer individualmente quer por turma/grupos. Ajudá-los
nas suas escolhas: por exemplo, certificarem-se que têm informação suficiente, dar-lhes uma
seleção de escolhas viáveis, encorajar a discussão dos prós e contras.
Partilhar conhecimento e competências Lema: “Perguntar
e dizer”
Os alunos devem ser encorajados a procurar informação e
aconselhar os outros, e a partilhar os seus conhecimentos com
a família, crianças mais novas e colegas. Isto vai reforçar o
conhecimento.
Saiba o que está a acontecer Lema: “Estar por dentro do
que acontece”
Os alunos mais velhos em particular podem ver o projeto como
um todo desde o início. Isso ajuda-os a planear e organizar, a falar sobre o projeto e a avaliálo. Quando as ações não podem ser realizadas pelos alunos sozinhos (instalar o fornecimento
de água, por exemplo), eles devem ser informados, consultados e dar-lhes a oportunidade de
observarem e documentarem o evento.
F. UMA PALAVRA FINAL
A saúde das crianças é uma preocupação de toda a escola e comunidade. O currículo escolar,
as atividades extracurriculares, a comunidade escolar deve coordenar-se com as famílias e
comunidade, para se certificarem que as crianças têm acesso aos seus direitos básicos de educação
e nutrição adequada.
O Manual das Hortas Escolares funciona em todas estas
frentes – o cultivo de alimentos na horta, a aprendizagem
na sala de aula, o envolvimento na confeção de refeições
e o convite às famílias e à comunidade para apoiar o
programa. Esta abordagem multifacetada é a melhor
forma para uma educação bem-sucedida, para uma
melhor nutrição e saúde a longo prazo. Mais do
que isso, pode constituir uma parte importante
em promover não só a saúde das crianças,
mas também a saúde das suas famílias e do
ambiente.
140
COMO VAMOS MANTER A HORTA?
Este manual poderá não dar resposta a todas as necessidades e
circunstâncias, contudo esperamos que tenha informação prática
suficiente para que seja possível começar a pensar e a planear, e que
sirva de inspiração e bons exemplos, para que leve para a frente o
projeto. Também esperamos que possa usar algumas das palavras de
ordem deste manual.
Gostaríamos de lhe dar os parabéns por ter chegado até aqui
e desejamos muita sorte para o seu projeto para a horta.
Palavras de ordem
Foto cortesia de S. Paulick
Usar as hortas escolares para
•aprender
•ter interesse
•ter boa comida
•ter prazer
Dar à horta
•água
•proteção
•bom solo
•insetos amigáveis
Ver as pessoas como
•guias e peritos
•ajudantes
•amigos do jardim
•ouvintes atentos às crianças
Ajudar os alunos a
•aprender, trabalhar, observar
•comer bem
• crescer responsável e cooperativamente
•respeitar o ambiente
MOSTRE AO MUNDO O QUE A SUA HORTA PODE FAZER!
SUGESTÕES PARA A AÇÃO
•Escolha algumas ideias para construir e manter a motivação de todos os intervenientes.
•Discuta as questões de motivação com todo o grupo da horta.
•Obtenha ideias para o programa da horta e eventos ao longo do ano.
•Inclua motivação (de todas as partes) como um elemento de avaliação do projeto.
Resultado: Programa da Horta.
Dicas e ideias
•Apresentar os quatro lemas e discuti-los com os
alunos, professores, país e ajudantes de jardim.
•Discutir o programa da horta com as crianças e
pedir-lhes para o divulgarem.
141
NOTAS
142
ANEXO
FICHAS INFORMATIVAS DE ALIMENTOS
Informação Básica sobre 15 alimentos
Abóbora
144
Ananás
146
Árvores de fruta tropical
148
Banana
150
Batata doce
152
Cebolas e os seus primos
154
Cenoura
156
Couve e os seus primos
158
Ervas aromáticas
160
Feijões, ervilhas e os seus primos
162
Hortaliça de folha verde escuro
164
Oleaginosas
166
Papaia
169
Quiabo
172
Tomate
174
143
ANEXO │ FICHAS INFORMATIVAS DE ALIMENTOS
ABÓBORA
(Cucurbita moschata, Cucurbita maxima)
A abóbora é uma planta rasteira com fruto nutritivo.
Algumas variedades são pequenas, outras grandes. O fruto
é a parte mais consumida. Tem uma casca verde, laranja,
amarela ou riscada. As folhas tenras e as flores grandes
são também alimentos saudáveis, mas muitas pessoas
desconhecem tal facto... Sementes de abóbora tostadas são
um ótimo aperitivo. A abóbora pode ser cultivada na estação
quente, ou, nos trópicos, ao longo de todo o ano.
Nomes, variedades,
parentes
Que alimento é este? Existem diferentes variedades?
Outros nomes incluem abóbora-amarela, abobrinha, jerimu e jerimum.
Variedades como a abóbora-menina têm fruto com casca dura e polpa laranja
firme e seca. Em climas temperados ou frios, crescem melhor no verão. Algumas
variedades têm a polpa pálida e uma casca cerosa. Variedades como a curgete
têm geralmente a polpa pálida e são mais pequenas. Em locais quentes podem
crescer todo o ano. Pepino, melão, melancia e chuchu são parentes nutritivos da
abóbora, mas mais doces e sumarentos. Todos crescem de forma semelhante.
As sementes da melancia são alimentos populares nalguns países.
Valor nutricional
Faz-nos bem? Qual o seu valor nutricional?
Faz muito bem! A fruta tem muita vitamina A e fornece energia. Os rebentos
folhosos têm proteínas, ferro, vitaminas C e A. As sementes são ricas em óleos
essenciais e proteínas. A polpa da abóbora é boa para bebés, crianças e pessoas
doentes porque está repleta de vitaminas e é fácil de digerir.
Pratos, combinados,
lanches, preparação
Como é comido habitualmente? E que outras formas existem?
A abóbora pode comer-se assada, cozida a vapor ou fervida. Cozinhar pedaços
em sopas, fritos, guisados, ou servir cozinhada com outros alimentos. Tarte
doce de abóbora é uma delícia. Deitar algumas flores nos salteados. Os
rebentos folhosos podem ser cozidos a vapor ou ligeiramente cozidos depois
de retirar a pele fibrosa da haste. As sementes são melhores secas ou tostadas
como aperitivo.
Facilidade de cultivo
É fácil de cultivar?
É muito fácil de cultivar. As abóboras gostam do calor e do sol. Em lugares
tropicais cresce todo o ano, mas em lugares frios apenas no verão. Precisa
de chuva regular ou de rega. Cresce melhor em solos drenados e com muito
composto ou estrume.
Calendário
Quanto tempo demora a crescer? Quando deve ser plantado e colhido?
Depois de plantar, o tempo até à primeira colheita é de dois a quatro meses.
Em sítios tropicais, plantar em qualquer altura do ano, mas evitando a época
das monções fortes. Em zonas frias, plantar na primavera e colher durante o
verão e outono.
Instruções para
propagação/
plantação
Que tamanho pode ter? De quanto espaço necessita?
As gavinhas trepam e as raízes espalham-se amplamente, por isso precisam de
estar 1 a 2 metros separadas entre si.
144
FICHAS INFORMATIVAS DE ALIMENTOS │ ANEXO
Instruções para
propagação/
plantação
Cuidados/cultivo
Onde plantar e como?
As abóboras crescem a partir de sementes. Usar sementes comerciais ou
sementes de uma abóbora madura. Não é necessário transplantar. Plantar duas
a três sementes juntas em “camas” elevadas na estação chuvosa ou em buracos
rasos no clima seco. Desbastar deixando uma ou duas gavinhas em cada sítio.
De que cuidados precisa? Precisa de estacas? De muita água? Sombra?
Algumas espécies de abóboras pequenas crescem bem em latadas suficientemente
fortes para suportar o seu peso. A abóbora tropical comum pode ser cultivada
em latadas, por cima de um telhado de capim, ou entre o milho. A maioria
fica satisfeita espalhando-se pelo chão, e as suas folhas grandes fazem sombra
às ervas daninhas. Quando as gavinhas ficam cobertas de flores, os rebentos
podem ser colhidos para ajudar a estabelecer o fruto. Regar regularmente no
tempo quente para mantê-la em crescimento, mas sem afogar as raízes. Fazer
cobertura vegetal com palha ou folhas em volta do caule, especialmente se a
abóbora estiver a trepar uma latada. Alimentar as raízes espalhando um pouco
de estrume ou composto todos os meses.
O que é que o ataca? O que deve ser feito?
Diferentes pragas atacam a planta em diferentes locais. As variedades duras
são mais resistentes que as macias. Caracóis, lesmas, afídios e algumas baratas
atacam as plântulas, mas as plantas adultas são mais resistentes. Tal como as
crianças, uma planta bem alimentada, regada e com luz solar suficiente pode
resistir à maioria dos ataques. O míldio ataca as folhas se houver demasiada
chuva, sombra ou frio. Retirar as flores velhas e murchas depois de o fruto
começar a crescer; por vezes, apodrecem e o apodrecimento pode espalhar-se
para a abóbora.
Produtividade
Quanto é que vai produzir?
As variedades duras podem produzir quatro a cinco abóboras de 5 kg cada,
e 100-200 gramas de sementes para aperitivo. As abóboras macias produzem
frutas em poucos dias. Cada planta pode produzir semanalmente um molho de
rebentos folhosos e flores para refeições.
Durante quanto tempo produz?
A maioria das abóboras produzem regularmente por 2 ou 3 meses, mas as
variedades duras são colhidas uma única vez, no final da estação de crescimento.
Colheita/
armazenamento
Como é que podemos colher, limpar e armazenar?
As flores, sozinhas ou agarradas a abóboras bebés, são cortadas ou arrancadas.
Colher os rebentos que crescem rapidamente quando tiverem entre 15 e 30 cm
de comprimento. Ambos devem ser consumidos em poucos dias. Apanhar as
abóboras pequenas quando o fruto tem cerca de 10 cm de diâmetro. Cortar ou
remover o caule da gavinha. A abóbora macia seca e murcha, por isso deve ser
comida em poucos dias. As abóboras mais duras são colhidas quando a gavinha
morre. Limpar de sujidade e armazenar num local fresco até quatro meses.
Variedades com casca cerosa podem durar seis meses.
Conservação/
processamento
Pode ser conservado mantendo o seu valor nutritivo? Como?
As abóboras de variedades mais duras e as sementes secas mantêm-se bem se
forem mantidas em local fresco e longe de ratos. Polpa de abóbora cortada em
fatias finas pode também ser seca.
Outros usos
Que outros usos lhe podemos dar?
Uma boa dose de sementes de abóbora vai expelir parasitas intestinais.
Cultura
No ocidente, no Halloween, as pessoas retiram a polpa da abóbora, esculpem
uma face num dos lados e colocam uma vela no interior para fazer uma
lâmpada festiva. No sul da Ásia, as abóboras são usadas em festivais religiosos.
As sementes de melão e abóbora, por vezes de cor vermelha, são aperitivos
especiais no Novo Ano Lunar Chinês.
145
ANEXO │ FICHAS INFORMATIVAS DE ALIMENTOS
ANANÁS
(Ananas comosus)
Os ananases são frutas saborosas e saudáveis. Podem
multiplicar-se através dos rebentos laterais por muitos anos.
Nomes, variedades,
parentes
Que alimento é este? Existem diferentes variedades?
O ananás (também chamado abacaxi) veio da América tropical e é agora
cultivado em muitos países tropicais. Variedades populares são Smooth
Cayenne, Victoria (grande, usado para enlatar, mas bom para as hortas
escolares), Queen e Pérola.
Valor nutricional
Faz-nos bem? Qual o seu valor nutricional?
Faz muito bem. O ananás maduro tem muitos açúcares, que dão energia, e
vitaminas A e C, bem como minerais necessários.
Pratos, combinados,
lanches, preparação
Como é comido habitualmente? E que outras formas existem?
Descascar e fatiar o fruto. Comer fresco como snack ou em salada de fruta, ou
adicionar fatias ou o sumo para dar sabor a sopas, condimentos ou cozinhados.
Para fazer sumo de ananás, cortar e triturar fruta madura e pressionar através
de um coador de rede limpo ou um pano limpo, depois adicionar água fresca
previamente fervida. Não adicionar açúcar.
Facilidade de cultivo
É fácil de cultivar?
Muito fácil de cultivar no sítio adequado. O ananás gosta de solos drenantes,
chuva e calor moderados.
Calendário
Quanto tempo demora a crescer? Quando deve ser plantado e colhido?
Plantar nos meses mais frescos. As primeiras frutas estarão prontas para a
colheita em 15-20 meses.
Instruções para
propagação/
plantação
146
Que tamanho pode ter? De quanto espaço necessita?
Os ananases crescem menos do que um metro de altura e meio metro
quadrado de largura. As raízes são superficiais e por isso precisam de solos
bem drenados. Plantar num lugar exposto ao sol – podem tolerar algum vento
e seca. Variedades com picos nas folhas podem não ser adequadas para serem
trabalhadas por crianças pequenas.
Onde plantar e como?
O ananás não se cultiva a partir de sementes, mas através de material vegetativo
obtido da planta:
a) pequenos rebentos que crescem do caule na base do fruto;
b) rebentos laterais (“ladrões”) fortes que crescem perto do solo;
c) os topos folhosos do fruto.
FICHAS INFORMATIVAS DE ALIMENTOS │ ANEXO
Retirar o material vegetativo de plantas com bons frutos e poucos rebentos.
Se se usarem rebentos, escolher os maiores. Plantar em camas elevadas com
estrume ou composto. Espaçar 0,3 metros entre si em duas linhas por cama – os
ananases gostam de crescer juntos.
De que cuidados precisa? Precisa de estacas? De muita água? Sombra?
Fazer cobertura vegetal nas linhas para manter a humidade e adicionar estrume
ou composto a cada dois meses. Se houver pouca chuva, regar moderadamente.
Manter limpo de ervas.
Cuidados/cultivo
O que é que o ataca? O que deve ser feito?
Pragas: a cochonilha-algodão é a praga mais comum. É um pequeno inseto,
com uma carapaça viscosa, que se instala sobre as folhas e frutos, e suga a seiva.
Controlar com um spray de água e sabão, ou um spray de óleo a 3% – “óleo de
verão” ou “óleo de petróleo”, que se encontram facilmente numa drogaria. Ou
simplesmente usar óleo de cozinha.
Doenças: as raízes podem apodrecer se não houver boa drenagem ou por causa
de um pequeno verme chamado nemátodo. A única coisa a fazer é remover
as plantas afetadas (e queimá-las), “compostar” muito bem a área em causa e
plantar outra cultura nessa zona.
Quanto é que vai produzir?
Cada planta vai produzir um fruto por ano, algumas na estação fria, outras nos
meses mais quentes.
Produtividade
Durante quanto tempo produz?
Cada planta produz muitos “ladrões” e rebentos para replantação. Devese replantar através dos “ladrões” para ter boa fruta. Desbastar e replantar
“ladrões” a cada dois ou três anos, pelo menos, caso contrário produzirão frutos
muito pequenos por alguns anos e depois tornam-se muito fracos.
Colheita/
armazenamento
Como é que podemos colher, limpar e armazenar?
Colher o fruto quando começa a ficar amarelo ou a cheirar bem – ou
imediatamente antes de ficar amarelo, se estiver certo que está maduro (se ficar
completamente amarelo antes da colheita, o interior vai ficar castanho). Usar
uma faca para cortar o pé pela base do fruto. Lavar a poeira do fruto.
Conservação/
processamento
Pode ser conservado mantendo o seu valor nutritivo? Como?
A maioria dos ananases são comidos frescos. O fruto desenvolvido de cor verde
pode ser guardado num lugar fresco por três a quatro semanas. Podem ser
mergulhadas fatias em xarope forte de açúcar por um dia e depois secas em
folhas de bananeira limpas, em tabuleiros ou num secador solar. Virar as fatias
duas a três vezes por dia. Armazenar num recipiente com pouco ar. Também se
pode usar ananás para fazer doce, chutney ou condimentos.
Outros usos
Que outros usos lhe podemos dar?
Plantar ananases como vedação viva ao longo dos limites do jardim, para
manter afastados pequenos animais. O sumo de ananás é bom para o estômago.
Cultura
Nalguns países, o ananás é cultivado em grandes plantações para enlatar,
secar, fazer sumo ou para fruta fresca, e exportado para todo o mundo. O seu
sabor especial leva um “toque” dos trópicos a pessoas que vivem em países
frios. Juntamente com o coco, este é um dos frutos tropicais mais conhecidos e
saboreados – mas a maioria das pessoas nunca viu um ananás a crescer!
147
ANEXO │ FICHAS INFORMATIVAS DE ALIMENTOS
ÁRVORES DE FRUTA
As árvores de fruto dão alimentos saudáveis e saborosos por
muitos anos. E existem muitos tipos diferentes adequados
para uma horta escolar. Elas dão sombra e abrigo, e podem
ser usadas para definir limites no espaço escolar. Uma vez
estabelecidas, precisam de poucos cuidados.
Nomes, variedades,
parentes
Que alimento é este? Existem diferentes variedades?
Citrinos (Citrus sp.) – toranja, laranja (na imagem), lima, limão e muitas outras
variedades pelo mundo.
Anona (Annona sp.) – anona, pinha e graviola, todas originárias da América
Central.
Star Apple (Chrysophyllum cainito) da América Central e Ásia tropical, e de
África (C. alba, C. Magalismontanum).
Existem muitas outras árvores adequadas, por exemplo: mangueiras, tamareiras
e jujuba; e árvores de frutos secos como coqueiro, nogueira de Iguape (Aleurites
sp.) e amendoeira indiana (Terminalia sp.). Em climas temperados pode usar-se
ameixeira, macieira, nogueira e castanheiro.
Valor nutricional
Faz-nos bem? Qual o seu valor nutricional?
Muito boas para nós. As frutas têm muitos açucares energéticos e vitaminas A
e C, bem como outras de que as crianças precisam diariamente para proteção
perante doenças. Elas deviam consumir três a quatro peças de fruta por dia.
Pratos, combinados,
lanches, preparação
Como é comido habitualmente? E que outras formas existem?
Comer fruta fresca ao lanche ou juntamente com a refeição. Cortar diferentes
tipos de fruta para uma salada de fruta. Adicionar fatias ou sumo para dar
sabor a sopas, cozinhados, ou tornar o peixe e carne mais tenros (ver também
papaia). Fruta e carne são muitas vezes combinadas: manga e cordeiro, pato e
laranja, maçã e porco. Um prato típico do Pacífico é peixe cortado e marinado
em sumo de lima, servido com leite de coco. Para fazer sumo, pressionar fruta
madura num coador de rede limpo ou num pano limpo, depois adicionar água
fresca previamente fervida. Não adicionar açúcar.
Facilidade de cultivo
É fácil de cultivar?
Muito fácil de cultivar no local certo. As frutas tropicais crescem bem em climas
quentes, abrigadas do vento quando são novas, com chuva regular ou rega. A
maioria cresce bem em solos bem drenados e ricos em matéria orgânica.
Calendário
Quanto tempo demora a crescer? Quando deve ser plantado e colhido?
Plantar nos meses mais frescos. Os frutos estarão prontos para colher dentro
de dois a três anos.
148
FICHAS INFORMATIVAS DE ALIMENTOS │ ANEXO
Instruções para
propagação/
plantação
Que tamanho pode ter? De quanto espaço necessita?
Citrinos, Anona e Star Apple crescem entre dois e seis metros de altura. Plantar
pelo menos dois a três metros afastadas de árvores grandes ou edifícios. Um bom
lugar é a zona de drenagem de um poço ou furo. Podem incluir-se no desenho
de um espaço escolar para fornecer sombra e abrigo, ou como delimitantes de
zonas.
Onde plantar e como?
As melhores frutas são as de boas variedades enxertadas nos viveiros. Anona
e carambola podem facilmente cultivar-se através de sementes de um fruto
maduro (nem sempre funciona com os citrinos). Semear as sementes em sacos
ou vasos com buracos para drenagem. Plantar quando tiverem 15 a 30 cm de
altura. Espaçar as árvores pequenas como os citrinos 2 a 3 metros afastadas. A
carambola e outras árvores grandes devem espaçar-se 3 a 5 metros. Em solos
pesados, plantar em canteiros elevados para uma boa drenagem.
De que cuidados precisa? Precisa de estacas? De muita água? Sombra?
Proteger as árvores do sol e vento por alguns meses, para que se estabeleçam
bem. Regar bem durante os meses quentes, mas sem alagar o solo. Fazer
cobertura vegetal em torno de cada árvore desde o tronco para fora um metro,
para manter o solo fresco e alimentar as raízes. Adicionar estrume, se possível.
À medida que crescem, podar de forma a deixar a luz solar incidir nos frutos e
permitir o arejamento. Cortar os ramos mortos para manter a árvore saudável.
Cuidados/cultivo
Produtividade
O que é que o ataca? O que deve ser feito?
As pestes incluem ácaros, escaravelhos, traças e cochonilhas que se introduzem
na fruta e sugam o sumo; e larvas da mosca da fruta que eclodem mesmo
debaixo da pele da fruta e atacam o fruto quando está quase maduro. Também
os morcegos da fruta, pássaros e pequenos animais trepadores atacam a fruta
quase madura. Numa horta diversificada, as pragas são geralmente controladas
por outros insetos. Um spray com 3% de óleo de cozinha ou água com sabão
pode reduzir os ácaros e cochonilhas, mas pode também afastar os insetos
predadores.
Doenças: o apodrecimento da raiz pode surgir devido a excesso de rega ou
fraca drenagem. A antracnose provoca manchas pretas nas flores e frutos.
Remover e queimar os ramos ou árvores fortemente afetados, para evitar que
a infeção se espalhe. Reduzir os espaços onde as pestes e doenças se escondem
através da poda dos ramos interiores, para permitir uma boa circulação do ar
através da árvore.
Quanto é que vai produzir?
Uma árvore adulta produz 10 kg ou mais de fruta por ano. Algumas produzem
fruta na estação fria, outras nos meses quentes.
Durante quanto tempo produz?
As árvores podem produzir fruta durante dez a 20 anos ou mais.
Colheita/
armazenamento
Como é que podemos colher, limpar e armazenar?
Quando a fruta passa de verde para amarela, se torna macia ou cheira bem,
está madura e pronta para colher. Manusear a fruta madura cuidadosamente,
para não danificar. Usar uma vara com um pequeno cesto amarrado na ponta
para colher a fruta das árvores mais altas. Elevar a vara para que a borda do
cesto toque na fruta e empurrá-la para o cesto. Se for fácil de trepar à árvore,
pode ser que não se veja muita fruta – as crianças já terão ido lá apanhá-la e
comê-la!
149
ANEXO │ FICHAS INFORMATIVAS DE ALIMENTOS
BANANA
(Musa acuminata)
As bananas são um bom alimento para o lanche das crianças.
Crescem e são colhidas durante todo o ano.
Nomes, variedades,
parentes
Valor nutricional
Pratos, combinados,
lanches, preparação
Facilidade de cultivo
Calendário
Que alimento é este? Existem diferentes variedades?
As bananas têm origem nas florestas do sudoeste asiático. Crescem na chamada
cintura tropical, entre os 30º de latitude norte e sul. Existem fundamentalmente
dois tipos de banana: a de mesa e a de cozinhar. E quase mil variedades.
Faz-nos bem? Qual o seu valor nutricional?
As bananas são um bom alimento, fonte de energia e de vitamina C e B6.
Como é comido habitualmente? E que outras formas existem?
As bananas podem ser comidas frescas ao pequeno almoço e lanche. Podem ser
comidas secas em batidos com leite e mel. Desfeita, é um ótimo alimento para
os bebés.
É fácil de cultivar?
Muito fácil no local certo. As bananas gostam de lugares moderadamente
quentes e húmidos. Desenvolvem-se melhor em solos ricos e bem drenados.
Quanto tempo demora a crescer? Quando deve ser plantado e colhido?
As bananas podem ser plantadas e colhidas todo o ano, sendo o intervalo de
crescimento entre oito e dez meses.
Que tamanho pode ter? De quanto espaço necessita?
Instruções para
propagação/
plantação
As bananeiras crescem até 15 metros de altura. A distância entre plantas pode
variar entre 2 × 2 e 5 × 5 metros, dependendo da variedade.
Onde plantar e como?
São plantadas usando rebentos da base das plantas-mãe. Estes rebentos devem
ser deixados a secar durante dois dias antes de plantar.
150
FICHAS INFORMATIVAS DE ALIMENTOS │ ANEXO
De que cuidados precisa? Precisa de estacas? De muita água? Sombra?
As hastes não são de madeira, mas sim das próprias folhas enroladas, pelo que
podem cair facilmente. Usar corta-ventos para proteger dos ventos fortes.
Cuidados/cultivo
O que é que o ataca? O que deve ser feito?
O gorgulho da banana, um besouro negro cuja larva perfura o tronco, é um
dos mais sérios constrangimentos à produção de bananas. As plantas devem
ser mantidas limpas e o saneamento do terreno deve ser tido em conta. Usar
materiais de plantio apropriados e plantar os rebentos bastante cedo para evitar
uma re-infestação de gorgulho.
Quanto é que vai produzir?
Produtividade
Cada caule produz um enorme grupo de flores e depois morre. Cada cacho é
feito de muitas “mãos”, que dão muitos frutos. Cada cacho pode ter centenas
de frutos e pesar até 50 kg.
Durante quanto tempo produz?
Pode produzir desde os três anos até aos 20 anos, em média. A planta-mãe é
cortada a cada colheita e a planta-filha toma o seu lugar.
Colheita/
armazenamento
Conservação/
processamento
Outros usos
Cultura
Como é que podemos colher, limpar e armazenar?
As bananas podem ser colhidas quando cerca de 3/4 dos frutos já atingiram o
tamanho final. Para amadurecer penduram-se num lugar arejado.
Pode ser conservado mantendo o seu valor nutritivo? Como?
As bananas são normalmente consumidas frescas, mas podem ser mantidas por
muito tempo se forem secas.
Que outros usos lhe podemos dar?
As folhas grandes são usadas como guarda-chuva, pratos, toalhas de mesa, etc.
Pensa-se que as bananas foram o primeiro fruto no planeta. São um dos mais
importantes frutos tropicais e fonte de rendimento nas grandes plantações para
exportação.
151
ANEXO │ FICHAS INFORMATIVAS DE ALIMENTOS
BATATA DOCE
(Ipomoea batatas)
A batata doce é uma planta com raízes saborosas e folhas
verde escuro. A principal parte comestível são as raízes
grandes ou os tubérculos. As folhas tenras são um alimento
saudável, mas as pessoas que não sabem disso apenas as dão
aos animais. A batata doce pode ser cultivada na estação
quente ou durante todo o ano nos trópicos.
Nomes, variedades,
parentes
Que alimento é este? Existem diferentes variedades?
Podem-se distinguir diversas variedades pela forma das folhas e cor da polpa,
raiz e pedúnculo. Variedades com polpa laranja crescem melhor em lugares
quentes. Variedades com polpa pálida e pele roxa podem crescer em climas
mais frios. A batata doce é parente do espinafre de água (Ipomoea aquatica), que
cresce de forma semelhante mas gosta de zonas com mais água. Tem folhas
verde escuro comestíveis. O inhame é outro alimento nutritivo. Os inhames
são cultivados como a batata doce, plantados um pouco mais afastados e
necessitando de uma estaca para treparem.
Valor nutricional
Faz-nos bem? Qual o seu valor nutricional?
Faz muito bem! Os tubérculos fornecem muita energia, os amarelos e laranja
são ricos em vitamina A, e os rebentos têm ferro e vitaminas. São bons para
bebés, crianças e pessoas doentes e fáceis de digerir.
Pratos, combinados,
lanches, preparação
Como é comido habitualmente? E que outras formas existem?
Comer os tubérculos assados, cozidos em água ou a vapor. Podem ser a base
de uma refeição ou também comidos como aperitivo. Cozinhar pedaços do
tubérculo fritos, no caril, em guisados ou em sopas. Cozer os rebentos ou
refogar com alho.
Facilidade de cultivo
É fácil de cultivar?
A batata doce veio da América tropical e gosta de calor e sol. Nos trópicos
cresce todo o ano, mas em lugares mais frios apenas no verão. Cresce melhor
durante o tempo seco, em solos arenosos com suficiente composto ou estrume,
mas até cresce em solos pouco férteis. Pode sobreviver à seca ou a períodos com
muita água se houver boa drenagem.
Calendário
Quanto tempo demora a crescer? Quando deve ser plantado e colhido?
Os tubérculos estão prontos para a colheita quatro a seis meses depois de
plantados. Os rebentos folhosos podem ser colhidos a partir das seis a oito
semanas. Plantar em qualquer altura do ano no clima tropical, exceto numa
forte estação das chuvas. Em lugares frios, plantar na primavera e colher depois
do meio do verão. Os tubérculos formam-se melhor quando os dias se tornam
menores. Dias longos favorecem a produção de folhas.
Instruções para
propagação/
plantação
152
Que tamanho pode ter? De quanto espaço necessita?
As gavinhas de cada planta vão crescer para cobrir cerca de meio metro
quadrado de solo.
Onde plantar e como?
Plantar numa cama elevada bem drenada em local com exposição solar. Em
sítios com sombra vão crescer folhas, mas não bons tubérculos.
FICHAS INFORMATIVAS DE ALIMENTOS │ ANEXO
Preparar cristas ou camas elevadas afastadas cerca de um metro, em solo
húmido, e juntar matéria vegetal verde, composto ou estrume. Plantar topos
de tubérculos germinados ou gavinhas cortadas meio metro afastadas ao
longo das camas elevadas.1) Topos dos tubérculos: cortar peças de 3-4 cm dos
topos (pedunculares) de tubérculos armazenados que tenham gemas brotadas.
Colocá-los num prato com água ou solo húmido até brotarem, depois plantar
nas camas elevadas. 2) Gavinhas: usar gavinhas de cerca de 30 cm de plantas
bem desenvolvidas e que tenham já lançado raízes nas junções (nós). Remover
as folhas da metade inferior. Plantar as estacas nas camas elevadas inclinandoas para baixo com metade da estaca enterrada. Manter o solo húmido por uma
semana até as raízes se estabelecerem.
De que cuidados precisa? Precisa de estacas? De muita água? Sombra?
Fazer cobertura das plantas com composto e alimentar com estrume ou
composto mensalmente. À medida que as gavinhas crescem, levantá-las do solo
ocasionalmente para evitar que as raízes cresçam para o solo nas zonas das
junções. Manter limpo de ervas daninhas até que a planta se tenha espalhado o
suficiente para fazer sombra e assim evitar as ervas daninhas. Regar com pouca
quantidade de água regularmente na estação quente.
Cuidados/cultivo
O que é que o ataca? O que deve ser feito?
Uma das piores pragas é o gorgulho da batata doce. Vive no solo, enterra-se
no caule e danifica os tubérculos. É muito pequeno e deixa pequenos buracos
ou linhas pretas ou castanhas no tubérculo, que geralmente só se detetam
depois da colheita. Espalhar cinza à volta da planta para o manter afastado.
Os ratos também escavam no solo arenoso para comer as raízes. Protegem-se
assegurando que a base da planta está bem coberta com solo, especialmente
se o solo abre rachas. Não esquecer – se as plantas têm doenças, destruí-las e
plantar outro tipo de planta nesse local.
Produtividade
Quanto é que vai produzir? Durante quanto tempo produz?
Cada caule produz um enorme grupo de flores e depois morre. Cada cacho é
Um corte ligeiro dos rebentos pode ser feito regularmente quando a planta está
a crescer bem e os dias são longos. Uma boa planta de batata doce produz 2 a
3 kg de tubérculos.
Colheita/
armazenamento
Como é que podemos colher, limpar e armazenar?
Cortar os topos folhosos tenros das gavinhas com cerca de 10 cm. Eles murcham,
por isso devem ser comidos dentro de um ou dois dias. Desenterrar (colher) os
tubérculos quando estão suficientemente grandes. Se forem deixados crescer
tempo demais. tornam-se fibrosos e duros. Com cuidado, lavar ou escovar
o solo que fica agarrado. Armazenar durante três a cinco meses em covas
cobertas com solo arenoso seco e fresco, ou embrulhadas em papel de jornal
num lugar fresco e seco. As variedades com a pele mais grossa armazenam-se
por mais tempo.
Conservação/
processamento
Pode ser conservado mantendo o seu valor nutritivo? Como?
Fazem-se chips de batata doce fritando ou assando fatias muito finas e polvilhando
com um pouco de sal. Conservar em sacos de plástico limpos e selados. Podem
durar cinco meses ou mais. Algumas fábricas produzem farinha a partir dos
tubérculos ou congelam-nos.
Outros usos
Que outros usos lhe podemos dar?
Todas as partes da planta podem ser usadas para alimentação animal.
Cultura
A batata doce, como muitas outras plantas de tubérculos, pode ser armazenada,
por isso era um dos alimentos que as pessoas levavam quando faziam viagens
marítimas. Os cientistas pensam que foi assim que se espalharam desde a
América do Sul, através das Ilhas do Pacífico, para o Sudeste Asiático. Em
África e na Melanésia, fazem-se cerimónias importantes quando se plantam e
colhem inhames e batata doce. A batata doce foi tão importante na Papua Nova
Guiné que as tribos fizeram guerras pela melhor terra para as plantar! Em
alguns países do Este Asiático, as pessoas costumavam achar que toda a planta
só era boa para porcos... Como esses porcos prosperaram!
153
ANEXO │ FICHAS INFORMATIVAS DE ALIMENTOS
CEBOLA E OS SEUS PRIMOS
(Allium cepa) e outros da família Allium
Enquanto crescem, as cebolas parecem erva, mas têm folhas
redondas e ocas. Os bolbos de cebola que estão ao nível do
solo também são folhas, espessas e sumarentas, em camadas,
com folhas exteriores finas como papel, que protegem o
bolbo. Muitos países consideram a cebola e os seus parentes
essenciais para adicionar sabor, saúde e um ótimo sabor às
refeições. Contudo, por vezes são esquecidas nas hortas.
Nomes, variedades,
parentes
Que alimento é este? Existem diferentes variedades?
Existem três variedades principais. A cebola comum, da Ásia Central, que
forma um único bolbo e pode ficar tão grande como a palma da nossa mão.
O alho e as chalotas, também de climas temperados, formam um conjunto de
pequenos bolbos que se encaixam. Já o cebolinho é originário da Ásia Oriental.
No caso deste último, comem-se as folhas e não os bolbos, que são pequenos.
Se o solo não for barrento, os bolbos crescem mais facilmente nos climas
temperados.
Valor nutricional
Faz-nos bem? Qual o seu valor nutricional?
As folhas de cebola fresca têm quantidades apreciáveis de vitaminas A e C, de
que as crianças precisam todos os dias. As cebolas de bolbo maduras não têm
muito valor nutritivo, mas adicionam sabor. A cebola é pungente e não deve
ser dada a bebés.
Pratos, combinados,
lanches, preparação
Como é comido habitualmente? E que outras formas existem?
Na salada, cortada às fatias. Cozinhada com arroz, feijões e carne, em guisados,
sopas e molhos. O alho ou a cebola são ótimos com tomate e molho de pimentos
picantes.
Facilidade de cultivo
É fácil de cultivar?
As cebolas e os alhos crescem facilmente em locais com estações frescas. E as
cebolas frescas crescem mais facilmente em locais quentes. Crescem na maioria
dos solos, mas precisam de uma boa drenagem.
Calendário
Quanto tempo demora a crescer? Quando deve ser plantado e colhido?
A cebola e o alho demoram quatro a seis meses a estarem prontos para ser
colhidos. Devem ser plantados em regiões temperadas no inverno e no início da
primavera. Os bolbos formam-se à medida que os dias ficam mais compridos:
devemos colhê-los a meio do verão. O cebolinho pode ser plantado nos trópicos
e em qualquer altura. Deixar passar cerca de meses desde a sementeira até à
primeira apanha de folhas.
154
FICHAS INFORMATIVAS DE ALIMENTOS │ ANEXO
Instruções para
propagação/
plantação
Que tamanho pode ter? De quanto espaço necessita?
Plantar num local quente e solarengo. São plantas esguias que podem crescer
próximas umas das outras, por isso é possível ter muitas num canteiro pequeno.
Onde plantar e como?
No caso das cebolas, é melhor comprar sementes. As sementes são pequenas,
mas podem ser semeadas diretamente nos canteiros e em filas com 10 a 20 cm
de distância. E deixar 4 a 10 cm entre sementes.
De que cuidados precisa? Precisa de estacas? De muita água? Sombra?
Os germinados são frágeis e precisam de proteção. Crescem mais depressa se
lhes dermos fertilizante (estrume, composto ou cinza) e regarmos regularmente.
Não se deve usar demasiado estrume nem plantar demasiado tarde.
Cuidados/cultivo
Produtividade
O que é que o ataca? O que deve ser feito?
As cebolas não são habitualmente atacadas por pragas ou doenças. Se chover
muito e o solo ficar alagado, o bolbo pode apodrecer. Por isso, não se deve
cobrir em demasiado o solo em redor das cebolas. Não se deve plantar cebolas
no mesmo local no ano seguinte, para evitar propagar as doenças para o ano
seguinte.
Quanto é que vai produzir?
1 a 5 kg de cebolas por metro quadrado. O alho e a cebola fresca produzem 0.5
a 2 kg por metro quadrado.
Durante quanto tempo produz?
A cebola e o alho são colhidos uma vez, mas o cebolinho produz novas folhas
semanalmente durante seis meses.
Colheita/
armazenamento
Como é que podemos colher, limpar e armazenar?
Os bolbos de cebola e alho podem ser armazenados. Deixam de ser regados
quando estão grandes e os topos das folhas começam a ficar amarelos quando
aparecem flores. Nesta fase, é simples arrancar as cebolas. No caso do alho,
pode ser necessário soltar o solo com um ancinho antes de puxar. Limpar os
bolbos com cuidado para não ferir ou partir as folhas secas exteriores (que
protegem o bolbo durante o armazenamento). Secam-se ao sol e estão prontos
para o armazenamento. Cortar as folhas mais baixas das cebolas frescas
semanalmente, deixar algumas folhas para manter a planta a crescer.
Conservação/
processamento
Pode ser conservado mantendo o seu valor nutritivo? Como?
As cebolas e os alhos podem ser guardados durante seis meses, antes de voltarem
a rebentar. Logo após a colheira, quando o topo folhoso dos bolbos ainda está
macio, podem-se formar réstias e pendurar num local seco. Também se pode
secar as camadas exteriores dos bolbos ao sol, num local arejado. Desde que as
camadas exteriores estejam secas, o interior está protegido.
Outros usos
Que outros usos lhe podemos dar?
As cebolas pequenas podem ser apanhadas para fazer picles. O alho tem
propriedades antibióticas e é tomado para curar gripes e infeções respiratórias.
Cultura
O alho é usado há muito tempo como medicamento. Na Europa antiga, as
pessoas usavam fios e colares com dentes de alho para afastar os maus espíritos.
Provavelmente o cheiro forte afastava toda a gente!
155
ANEXO │ FICHAS INFORMATIVAS DE ALIMENTOS
CENOURA
(Daucus carota)
Estes vegetais são um alimento comum e nutritivo na
maioria dos locais temperados e quentes.
São estaladiças, sumarentas e um bocadinho doces, e podem
ser armazenadas até dois meses.
Nomes, variedades,
parentes
Que alimento é este? Existem diferentes variedades?
A cenoura tem uma suculenta raiz laranja ou vermelha. As variedades comuns
são Chantenay, Oxheart, Kuroda e Vermelha. A cenoura tem alguns primos
apetitosos: cherivia, aipo, salsa e coentros. O nabo e o rabanete são raízes da
família da cenoura e têm folhas nutritivas, bem como raízes, igualmente. Todas
estas plantas crescem de forma semelhante.
Valor nutricional
Faz-nos bem? Qual o seu valor nutricional?
As cenouras são um dos vegetais mais saudáveis. Têm vitamina A e outras
vitaminas e minerais, são importantes para contribuir para uma boa visão,
pele, cabelo e desenvolvimento do cérebro. Também têm um elevado teor de
açúcar. Deve-se comer uma cenoura todos os dias, para que a vida escolar corra
bem!
Pratos, combinados,
lanches, preparação
Como é comido habitualmente? E que outras formas existem?
As cenouras são mais nutritivas quando são ingeridas cruas, sozinhas ou em
salada. Pauzinhos de cenoura, aipo e pepino crus são lanches refrescantes e
estaladiços. Cenouras cruas raladas ficam bem misturadas com muitos pratos.
As cenouras também podem ser cozidas em água, a vapor, adicionadas em
sopas, guisados, refogados e caril. É necessário lavá-las bem. Raspar a pele com
uma faca se estiver suja ou estragada ou se esteve armazenada há algum tempo.
Se é fresca, basta lavá-la – a pele também é nutritiva.
Facilidade de cultivo
É fácil de cultivar?
É muito fácil produzir cenoura, mas é necessário que seja a variedade certa
para o clima e solo em questão. As variedades de climas temperados podem
não formar a raiz em climas quentes com solos pouco profundos – em vez de
raiz são os caules que se desenvolvem e geram sementes. Variedades pequenas
e gordas são adequadas em solos calcários, variedades longas precisam de solos
profundos.
Calendário
Quanto tempo demora a crescer? Quando deve ser plantado e colhido?
As cenouras são plantadas na primavera e colhidas três a quatro meses mais
tarde. As variedades tropicais são plantadas no outono e colhidas no início da
estação quente.
156
FICHAS INFORMATIVAS DE ALIMENTOS │ ANEXO
Que tamanho podem ter? De quanto espaço necessita?
Precisa de 30 a 50 cm² por planta.
Instruções para
propagação/
plantação
Onde plantar?
As cenouras gostam de solo rico e arejado. Devem ser plantadas num local
solarengo e bem drenado. Num sistema de rotação de culturas, a cenoura deve
ser plantada a seguir a um vegetal de folha.
Como plantar? Precisa de ser transplantada?
Devem ser compradas boas sementes ou devem ser guardadas sementes que
a planta gera no segundo ano (as cenouras no primeiro ano dão a raiz e no
segundo sementes). As sementes devem ser enterradas 1 a 2cm de profundidade
em canteiros com 40 a 50cm de largura.
De que cuidados precisa? Precisa de estacas? De muita água? Sombra?
As cenouras crescem devagar no início. Deve-se ir colocando composto ou
estrume de vez em quando. Regar regularmente. Retirar as ervas daninhas.
Cuidados/cultivo
Produtividade
O que é que o ataca? O que deve ser feito?
a) Os pulgões e as cigarras atacam por vezes as folhas e podem fazer adoecer
as plantas, tornando as suas folhas amarelas e contorcidas. Borrife com
água e sabão se estiverem muito doentes.
b) As larvas da mosca da ferrugem da cenoura desenvolvem-se nas raízes da
planta. Os seus ovos chocam em fendas no solo. Para mantê-los longe, devese cavar melhor o solo e praticar uma boa rotação de culturas.
Quanto é que vai produzir?
Cada caule produz um enorme grupo de flores e depois morre. Cada cacho é
As cenouras grandes (Chantenay e Kuroda) têm cerca de 0,3 kg, enquanto as
variedades mais finas têm 0,1 kg.
Durante quanto tempo produz?
As cenouras devem ser retiradas à medida que são necessárias (até dois meses)
ou então todas de uma vez.
Colheita/
armazenamento
Como é que podemos colher, limpar e armazenar?
Com cuidado, retirar o solo de cada um dos lados da cenoura e puxar pela
rama. Lavar e escovar. Armazenar num local fresco, escuro, num saco húmido
ou de plástico, para não as deixar secar.
Conservação/
processamento
Pode ser conservado mantendo o seu valor nutritivo? Como?
Se protegidas do calor e da seca, as raízes frescas podem durar um a dois meses.
Outros usos
Que outros usos lhe podemos dar?
Alimentar os animais com as folhas e caules.
Cultura
As cenouras selvagens têm servido de alimento desde tempos imemoriais.
Os antigos gregos escreveram que as cenouras são benéficas para a vista e
tornam as pessoas amigáveis. Durante a Segunda Guerra Mundial, soldados e
pilotos alimentavam-se de muitas cenouras, que os ajudavam a ver melhor no
escuro. Hoje em dia, os cientistas desenvolveram cenouras com 300 vezes mais
vitamina A do que as selvagens, para bem da saúde. Quem precisa de armas
quando temos super cenouras?
157
ANEXO │ FICHAS INFORMATIVAS DE ALIMENTOS
COUVES E OS SEUS PRIMOS
(espécie Brassica)
Estes vegetais são comuns e nutritivos em muitos países
de climas frios ou moderados. São também deliciosos! São
muito resistentes e podem ser armazenadas durante mais de
dois meses.
Nomes, variedades,
parentes
Que alimento é este? Existem diferentes variedades?
A couve forma uma cabeça apertada de folhas. Outros produtos hortícolas
da família da couve têm folhas saborosas e caules floridos, entre os quais
encontramos a mostarda, os brócolos e a couve chinesa.
Valor nutricional
Faz-nos bem? Qual o seu valor nutricional?
Tem vitaminas A e C e minerais de que precisamos todos os dias. E os tipos
com caules e folhas verdes têm ainda mais vitaminas. Os vegetais crus têm uma
grande quantidade de vitamina C.
Pratos, combinados,
lanches, preparação
Como é comido habitualmente? E que outras formas existem?
A cabeça de couve é comida principalmente cortada e cozida, a vapor ou
adicionada a sopas e ensopados. Folhas ou pequenos botões das flores de alguns
tipos de couve são cortados em pedaços e cozidos, fritos ou adicionados a sopas
e caril. Todos os tipos de couves podem ser comidos cortados como salada, crus
ou levemente cozidos para torná-los mais macios, mas crocantes.
Facilidade de cultivo
É fácil de cultivar?
Muito fácil de crescerem, mas deve optar por uma variedade adequada ao seu
clima local. Couve e brócolos são para lugares mais frios. Mostarda e couve
chinesa crescem nos trópicos, por exemplo.
Calendário
Quanto tempo demora a crescer? Quando deve ser plantado e colhido?
Plante couve e brócolos após o calor do verão e a colha dois a três meses mais
tarde, no inverno e na primavera. Plante e colha a mostarda durante todo o ano,
mas não cultive a couve chinesa na estação mais quente. Começar a colher as
folhas ao fim de cerca de quatro semanas.
Que tamanho podem ter? De quanto espaço necessita?
São precisos 30 a 50 centímetros quadrados por planta.
Instruções para
propagação/
plantação
158
Onde plantar e como?
Plantar em solo rico. Precisa de chuva ou de rega, mas é resistente ao sol,
frio e vento. É fácil comprar boas sementes. Sementes de mostarda podem
ser guardadas de uma planta deixada na horta, para darem flor. Sementes
de repolho, brócolos e couve chinesa podem ser semeadas em bandejas de
sementes. Transplantar para canteiros em linhas de 30 a 50 cm de distância
quando tiverem as primeiras folhas. A mostarda e as outras variedades também
podem ser semeadas diretamente em linhas e desbastadas a 25 cm de distância.
FICHAS INFORMATIVAS DE ALIMENTOS │ ANEXO
De que cuidados precisa? Precisa de estacas? De muita água? Sombra?
Adicionar estrume ou composto para a cobertura. Regar regularmente, mas
não inundar o solo! Sem ar, as raízes apodrecem e a planta morre.
Cuidados/cultivo
Produtividade
O que é que o ataca? O que deve ser feito?
Caracóis, lesmas e lagartas da borboleta branca vão roer os rebentos, folhas e
pequenos botões de flores. Tirá-los com a mão, esfregar as plantas com cinza,
usar um spray de sabão ou um pesticida adequado.
Não se esqueça de olhar por baixo das folhas! Afídios podem ser controlados
do mesmo modo. Geralmente, para evitar pragas e doenças devemos usar solo
limpo, eliminando as ervas daninhas e lavrando o solo para que não fique
muito quente. Remover plantas infetadas, para evitar a propagação da infeção.
E efetuar rotação de culturas: não plantar qualquer espécie de couve no mesmo
lugar no próximo ano.
Quanto é que vai produzir?
Uma cabeça de repolho típico é arredondada, pesada e com 40 cm de diâmetro.
A couve chinesa cresce como um cilindro sólido e apertado de folhas e caules
carnudos, com cerca de 30 cm de altura e 10 cm de largura. Os brócolos podem
produzir uma haste principal com um botão de flor de 15 cm ao todo, numa
haste carnuda de 15-20 cm de comprimento. Após o primeiro broto principal,
pequenos botões de flores colaterais podem ser colhidos. Dez a 15 rebentos
de mostarda irão produzir folhas suficientes para uma refeição a cada três ou
quatro dias.
Durante quanto tempo produz?
Couve e couve chinesa são colhidas uma vez apenas, mas brócolos e mostarda
irão continuar a produzir após o primeiro corte durante cerca de um mês.
Colheita/
armazenamento
Como é que podemos colher, limpar e armazenar?
Cortar o caule da couve e as cabeças da couve chinesa perto da terra e lavar
a sujidade. Armazenar as couves cobrindo com um saco num local frio até
dois meses. Corte o talo central dos brócolos quando este ainda está firme e
com aparência suave: fica fibroso se a cabeça começar a abrir. Corte os brotos
laterais quando atingirem dois centímetros de diâmetro. Couve chinesa e
brócolos podem ser armazenados num lugar fresco entre sete a dez dias. Folhas
verdes de mostarda podem ser cortadas junto ao caule, ou toda a planta colhida
de uma só vez. As folhas murcham após dois ou três dias.
Conservação/
processamento
Pode ser conservado mantendo o seu valor nutritivo? Como?
Couve e couve chinesa podem ser fermentados ou conservados. Para fermentar,
corte e coloque os vegetais numa panela com um pouco de água. Cubra com
um pano húmido e coloque uma pedra limpa em cima para esmagar a couve.
Esta vai amolecer e azedar, e pode ser mantida por um mês. Outra maneira
de preservá-la é colocar grandes pedaços de folhas em vinagre e guardar em
frascos esterilizados (ferver os frascos em água para esterilizar, primeiro).
Outros usos
Que outros usos lhe podemos dar?
Usar os talos e folhas descartadas para alimentar os animais ou colocar tudo
na compostagem.
Cultura
Couve fermentada (sauerkraut) e couve chinesa (pak-choi) são comidas
tradicionais populares no noroeste europeu e no este asiático. Os antigos
romanos gostavam de couve; para os antigos egípcios, era um alimento sagrado.
159
ANEXO │ FICHAS INFORMATIVAS DE ALIMENTOS
ERVAS AROMÁTICAS
Hortelã (Mentha sp.) e outras
As ervas aromáticas adicionam sabor e nutrientes extra às
refeições. Algumas têm propriedades medicinais e outras
dão bons sumos. Em todos os países existe uma variedade
local muito popular de ervas de cozinha. E a maioria das
ervas é fácil de cultivar numa pequena horta. Um jardim de
ervas aromáticas pode até estar num pequeno vaso, o que é
ótimo para escolas sem espaço para uma horta grande.
Nomes, variedades,
parentes
Que alimento é este? Existem diferentes variedades?
As ervas de aromáticas são habitualmente plantas com muitas folhas e que têm
sabores e cheiros especiais. As muitas variedades de hortelã e ervas ácidas (como
a erva-príncipe ou a sálvia-limão) incluem também óleo nas folhas. Primas das
cenouras, as folhas de coentros, o aipo e a salsa também são populares. Outras
folhas como as de urtiga e flores como as de jasmim são usadas para fazer chá,
usado como refresco ou como recuperador de saúde. Algumas ervas como os
coentros, o anis e os cominhos dão sementes altamente aromáticas.
Valor nutricional
Faz-nos bem? Qual o seu valor nutricional?
As folhas de todas as ervas aromáticas são nutritivas e medicinais. São ricas em
vitaminas A, B e C e em minerais, ferro e cálcio, especialmente importantes
para as crianças e suas mães. A hortelã é boa para a atividade respiratória,
nariz e pulmões. A salsa e as urtigas são ricas em ferro e ajudam a tornar o
sangue mais forte.
Pratos, combinados,
lanches, preparação
Como é comido habitualmente? E que outras formas existem?
Na maioria dos países, alguns rebentos e folhas são adicionados a saladas,
sopas e guisados. Acrescentam sabor e nutrientes. A hortelã e outras podem
ser utilizadas para chá ou bebidas frias. Colocar hortelã e coentros na sopa
do pequeno almoço é muito comum para os asiáticos. Em países com climas
temperados: a hortelã cortada e a salsa são adicionadas às batatas cozidas,
cominhos e coentros aos feijões. Erva príncipe também é muito apetitosa com
galinha e peixe.
Facilidade de cultivo
É fácil de cultivar?
Muito fácil. A menta e os coentros precisam de ser regados regularmente, mas
a erva príncipe é muito mais resistente.
Calendário
Quanto tempo demora a crescer? Quando deve ser plantado e colhido?
Pode-se plantar e colher ao longo do ano. Começar a apanhar folhas após
quatro semanas.
Instruções para
propagação/
plantação
Que tamanho pode ter? De quanto espaço necessita?
Estas plantas são habitualmente pequenas arbusto folhosos, com menos de 0,4
metros de altura e largura.
160
FICHAS INFORMATIVAS DE ALIMENTOS │ ANEXO
Onde plantar?
Instruções para
propagação/
plantação
Cuidados/cultivo
Plantam-se num lugar abrigado do jardim ou perto de um rego ou poço,
em canteiros elevados. As ervas também podem ser plantadas como plantas
companheiras noutros locais da horta, para afastar afídios e outras pragas.
Como plantar?
Misturar estrume ou composto antes de plantar no solo. É fácil comprar boas
sementes. Semear as sementes em caixas e transplantar quando tiverem 5 cm de
altura, ou semeá-las diretamente a 1 cm de profundidade, com uma distância
de 10 cm. Algumas conseguem propagar-se por estaca, como a hortelã e a erva
príncipe; é necessário que o solo esteja húmido: regar muitas vezes e as raízes
irão crescer.
De que cuidados precisa? Precisa de estacas? De muita água? Sombra?
Deve cobrir-se o solo à volta das plantas para manter o solo húmido e impedir
que cresçam outras no mesmo local. Mensalmente, adicionar composto. As
plantas devem ser regadas regularmente (no caso da hortelã pode mesmo
alagar-se).
O que é que o ataca? O que deve ser feito?
As ervas não são habitualmente atacadas por pragas ou doenças. De facto, o
seu sabor e aroma afastam a maioria dos insetos, por isso é bom tê-las na horta.
Quanto é que vai produzir?
Dez plantas irão produzir um molho de ervas todos os dias. As ervas não são
utilizadas em grande quantidade.
Produtividade
Durante quanto tempo produz?
Muitas ervas aromáticas, como a hortelã, voltam a crescer, e pode-se apanhar
folhas durante vários anos. Outras, como os coentros, por exemplo, crescem,
dão semente e morrem passados quatro a cinco meses.
Colheita/
armazenamento
Como é que podemos colher, limpar e armazenar?
Para colher a planta inteira, cortar o caule junto ao solo. Limpar a terra. Caso
contrário, cortar e apanhar as folhas e rebentos.
Conservação/
processamento
Pode ser conservado mantendo o seu valor nutritivo? Como?
Usar as folhas frescas para obter o melhor valor alimentar. A hortelã e muitas
outras podem ser secas à sombra, penduradas em molhos e depois armazenadas
em jarros ou sacos em vácuo.
Outros usos
Que outros usos lhe podemos dar?
Ervas aromáticas como o cravo e a alfazema podem ser utilizadas em casa
para aromatizar as divisões e afastar insetos de roupas e armários. Os caules e
folhas que não forem utilizadas podem ser dados como alimento aos animais,
colocados no compostor ou junto a sementeiras, para afastar pragas.
Cultura
No passado, muitas culturas sabiam muito sobre as ervas locais e os seus
usos. Atualmente, e em especial nas grandes cidades, as pessoas compram
comida embalada, aromatizada artificialmente, e portanto esqueceram. Um
bom projeto escolar é encontrar histórias locais sobre aromáticas e como são
utilizadas na alimentação e na medicina. Perguntar às pessoas mais velhas do
local onde vivem... Na lenda grega, Hortelã era filha de um espírito do rio.
Apaixonou-se por Plutão, deus do mundo subterrâneo, mas outro espírito
ciumento transformou-a em planta. É por isso, dizem, que a hortelã gosta de
crescer em solo alagado, junto a linhas de água, por exemplo.
161
ANEXO │ FICHAS INFORMATIVAS DE ALIMENTOS
FEIJÕES, ERVILHAS E OS SEUS PRIMOS
(Phaseolus vulgaris)
Os feijões e as ervilhas crescem em trepadeiras ou em
arbustos. As partes comestíveis são as sementes e as vagens
carnudas. São fáceis de crescer na estação quente ou todo
o ano, na zona dos trópicos. Além de darem origem a um
alimento saboroso, as leguminosas são boas para o solo.
Nomes, variedades,
parentes
Que alimento é este? Existem diferentes variedades?
Existem vários tipos de feijões e ervilhas muito nutritivos. a) Do tipo vegetal,
apanhados quando as vagens ainda estão macias, para consumo imediato. Estes
incluem ervilhas, feijão tipo francês, feijão frade, feijão lablab, feijão-chicote,
favas e ervilhas tortas. b) Secos, para guardar, incluindo feijão, lentilha, feijão,
feijão mungo, feijão preto, grão, lentilhas, ervilha-de-pombo e ervilha azul. c)
Muitas ervilhas e feijões com vagem carnuda e saborosa, podem ser apanhados
secos ou frescos – por exemplo, feijão verde, ervilha de pombo e feijoca.
Valor nutricional
Fazem-nos bem? Qual o seu valor nutricional?
Os feijões e as ervilhas fazem muito bem! Possuem proteínas base da constituição
do corpo humano, são muito energéticas e contêm vitamina A, C e ferro.
Pratos, combinados,
lanches, preparação
Como é comido habitualmente? E que outras formas existem?
Podemos comer feijões e ervilhas e afins fritos, a vapor e cozidos. Estes vegetais
mais jovens são deliciosos quando comidos crus ou em saladas. Secos devem
ser primeiro demolhados e de seguida cozidos. São perfeitos para caril ou sopa.
O feijão cozido pode ser comido frio em saladas, ou em puré com chili à moda
do México. Secos e fritos são um ótimo snack. Muitos feijões e ervilhas têm
folhas comestíveis. A vapor ou fritos com alho podem acompanhar qualquer
refeição. Feijão alado ou feijão verde também possuem tubérculos comestíveis.
Alguns feijões, como o de soja, por exemplo, ainda produzem óleo alimentar.
O feijão-da-china e outros feijões pequenos são germinados e comidos como
germinados em saladas.
Facilidade de cultivo
É fácil de cultivar?
Os feijões crescem praticamente em qualquer tipo de solo de horta, dos
arenosos aos argilosos. Crescem em locais amenos, com exceção das favas, que
crescem no inverno e na primavera, em climas frescos. Variedades secas como
as lentilhas necessitam de climas secos na altura da apanha.
Calendário
Quanto tempo demora a crescer? Quando deve ser plantado e colhido?
Demoram dois a seis meses a crescer, são plantados no inicio da estação quente.
E colhidos entre 6 a 8 semanas ainda verdes, ou 3 a 4 meses já secos.
Instruções para
propagação/
plantação
Que tamanho pode ter? De quanto espaço necessita?
Feijões e ervilhas do tipo arbustivo precisam de cerca de meio metro quadrado
cada. Os trepadores precisam de guias verticais de cerca de 2 metros.
162
FICHAS INFORMATIVAS DE ALIMENTOS │ ANEXO
Instruções para
propagação/
plantação
Cuidados/cultivo
Onde plantar e como?
Em terrenos bem drenados, com boa exposição solar e protegidos do vento.
Deve-se misturar composto e cinza antes de plantar.
Ensopar as sementes por uma hora e semear diretamente. Os arbustivos devem
ficar separados cerca de 5 a 10cm em filas separadas por cerca de 50cm. O feijão
verde é semeado numa fila única separado por 5cm numa latada. Germinam
em cerca de uma a duas semanas. Não se deve enterrar a semente demasiado
fundo, nem em solos secos e duros, nem regar demasiado.
De que cuidados precisa? Precisa de estacas? De muita água? Sombra?
Esta cultura não precisa de muito composto, pois os alimentos possuem raízes
que fixam o azoto do ar e que outras plantas utilizam, etc.
Para o feijão trepador, colocar uma latada de cerca de 1,5 metros de altura.
Regar regularmente no tempo quente, pelo menos 1 ou 2 vezes por semana.
O que é que os ataca? O que deve ser feito?
Pode haver doenças de plantas velhas que permanecem no solo. Não plantar
feijão no mesmo lugar no próximo ano. Se houver plantas infetadas, deverá
destruí-las.
Produtividade
Quanto é que vai produzir? Durante quanto tempo produz?
Dez feijões verdes ou dez plantas de feijão longo poderão produzir cachos de
quatro a cinco vagens de feijão fresco. Cerca de um quilo por semana, durante
quatro a oito semanas.
Colheita/
armazenamento
Como é que podemos colher, limpar e armazenar?
a) Variedades vegetais devem ser colhidas a cada dois dias, para colher as vagens
verdes suculentas antes do feijão ficar velho e fibroso. Podem ser armazenados
por apenas uma ou duas semanas num local frio e húmido. Não devem ser
colocados em sacos herméticos, pois vão começar a apodrecer. b) deixe as
variedades mais rijas secarem assim que as sementes das vagens estão maduras.
Mas certifique-se de as colhe antes das vagens abrirem e de as sementes caírem.
Após a colheita, espalhar as vagens numa esteira a secar ao sol, para que as
sementes possam cair das vagens. Peneirar as vagens ou remover à mão. Secar
ao sol por alguns dias para que eles se conservem bem e para ajudar a proteger
das pragas. Virá-los diariamente, para que todos eles sequem, e remover os
doentes. Armazene em sacos, caixas, urnas ou armazéns de grãos, e certifiquese que os roedores são mantidos ao largo.
Conservação/
processamento
Podem ser conservado mantendo o seu valor nutritivo? Como?
O feijão tem uma duração de dois anos ou mais, se for seco. Mas as cascas
podem endurecer no armazenamento e tornar o cozinhar mais difícil. Algumas
fábricas congelam feijão fresco e ervilhas.
Outros usos
Que outros usos lhes podemos dar?
Feijão ou ervilhas são uma parte essencial do ciclo de rotação de culturas.
Fixam azoto no solo.
Cultura
O feijão fornece proteínas essenciais e ferro para pessoas vegetarianas e para
aqueles que não comem muita carne. Na Índia e no México, o feijão é um
alimento diário. Na Ásia, é usado para farinha em bolos especiais para festas.
Para os indianos, o guandu dahl é o prato nacional. A soja é transformada
em requeijão, em tofu ou num bolo fermentado. E num tipo de leite, bebida
popular e nutritiva.
163
ANEXO │ FICHAS INFORMATIVAS DE ALIMENTOS
HORTALIÇAS DE FOLHAS VERDE ESCURO
Os vegetais de folhas verdes são importantes para um corpo
saudável. Espinafres, couve e alface são fáceis de cultivar. E
existe uma grande variedade de folhas verdes comestíveis.
Algumas crescem em árvores, outras são ervas e plantas,
e podem crescer em pântanos ou lagos. Não devemos
negligenciar este legume! Muitos são semisselvagens, como
o lótus e o tamarindo. As árvores nas escolas dão sombra e
abrigo, mas também podem dar alimento.
Nomes, variedades,
parentes
Que alimento é este? Existem diferentes variedades?
Os vegetais com folha verde mais comuns são a couve, os espinafres e a alface.
Existem ainda algumas folhas que são boas para comer, como as da mandioca,
batata doce, feijão, trigo sarraceno, urtigas, nabo e beterraba, e até algas.
Valor nutricional
Faz-nos bem? Qual o seu valor nutricional?
As folhas contêm mais proteínas do que o rebento, flor, fruta, raiz ou tubérculo.
São muito ricas em vitaminas A, B e C (“Para saberes o ABC, come folhas
verdes!”). Também são das melhores fontes de ferro e cálcio – especialmente
importante para as crianças e para mães. As folhas verdes escuras são a parte
da planta com mais vitaminas e minerais.
Pratos, combinados,,
lanches, preparação
Como é comido habitualmente? E que outras formas existem?
Na maioria dos países, as folhas verdes são adicionadas a guisados que são
acompanhados por arroz, milho, inhame ou batatas. Acrescentam não só
nutrientes como sabor! E um bocadinho de óleo no cozinhado ajuda a obter
mais vitamina A.
A alface é muito popular enquanto salada temperada com sumo de limão (ou
vinagre) e óleo vegetal ou azeite.
Facilidade de cultivo
É fácil de cultivar?
Muito fácil de cultivar. Os espinafres e a alface precisam de ser regularmente
regadas.
Calendário
Quanto tempo demora a crescer? Quando deve ser plantado e colhido?
Plantam-se e colhem-se durante todo o ano. Pode começar a apanhar folhas ao
fim de quatro semanas.
Instruções para
propagação/
plantação
164
Que tamanho pode ter? De quanto espaço necessita?
O amaranto é um vegetal que se abre e que tem muitas folhas, enquanto a
alface forma uma cabeça de folhas, como a couve. São baixos e precisam de
10 a 25 cm entre plantas, dependendo da variedade. Os espinafres de água são
rasteiros e cobrem o solo, como a batata doce. Devem ser plantados com 25 cm
de distância uns dos outros.
Onde plantar?
O amaranto e a alface, em canteiros elevados de solo arenoso. Os espinafres
gostam de estar perto da água, de uma torneira ou de um poço.
FICHAS INFORMATIVAS DE ALIMENTOS │ ANEXO
Instruções para
propagação/
plantação
Como plantar? Precisa de ser transplantado?
Antes de plantar, colocar estrume animal ou composto. No caso da alface, é
fácil comprar boas sementes. As sementes de amaranto podem ser guardadas
caso se deixe a planta florescer. Devem ser semeadas em caixas, ou plantadas
a 2 cm de profundidade diretamente no canteiro, com 25 cm de distância. Os
espinafres crescem a partir do caule ou podem ser semeados diretamente no
canteiro, a 25 cm de distância uns dos outros.
De que cuidados precisa? Precisa de estacas? De muita água? Sombra?
Em locais solarengos deve-se cobrir o solo junto às alfaces, para arrefecer o
ambiente ao seu redor. Deve-se colocar composto junto aos espinafres todos os
meses. Estas plantas devem ser regadas regularmente (no caso dos espinafres,
pode-se mesmo alagar o local).
Cuidados/cultivo
Produtividade
O que é que o ataca? O que deve ser feito?
Estas plantas não são habitualmente atacadas por doenças ou pragas. Mas as
lagartas e os afídios podem atacá-las, tal como as lesmas e os caracóis podem
atacar os rebentos e alfaces já desenvolvidas. Evitar doenças que têm origem no
solo, cobrindo para manter o solo frio. No caso dos afídios, borrifar com água e
sabão, ou plantar hortelã como planta de companhia para os afastar.
Quanto é que vai produzir?
20 plantas darão um molho de folhas todos os dias. Algumas variedades de
alfaces formam uma cabeça com 20 cm de diâmetro.
Durante quanto tempo produz?
A alface e o amaranto podem ser colhidas uma vez, ou as folhas podem ser
apanhadas regularmente durante três meses ou mais.
Colheita/
armazenamento
Como é que podemos colher, limpar e armazenar?
Para colher toda a planta, corta-se o caule junto ao solo. Limpa-se a terra. No
caso dos espinafres, colhem-se a ponta dos rebentos e deixa-se uma parte do
caule com algumas folhas, para que volte a crescer.
Conservação/
processamento
Pode ser conservado mantendo o seu valor nutritivo? Como?
Para obter o melhor valor nutritivo, devem-se comer frescas. Outras, como a
beterraba e as urtigas, podem-se secar à sombra, prensar e armazenar em vácuo.
Outros usos
Que outros usos lhe podemos dar?
Os caules e as folhas que não forem usados podem ser dados aos animais ou
colocados no compostor. E as sementes do amaranto podem ser utilizadas para
fazer pão.
Cultura
Muitas culturas apresentam histórias sobre o poder nutritivo das folhas verde
escuro.
Os asiáticos contam a lenda do santo Milarepa, que viveu cerca de dez anos
numa gruta nas montanhas apenas a comer urtigas. Além de saudável, tornouse sábio. Durante a Depressão no ocidente, quando muitas pessoas eram pobres
e passavam fome, criou-se um desenho animado cómico de seu nome Popeye,
cuja força incrível que possuía devia-se ao facto de comer muitos espinafres. Até
hoje o Popeye é popular entre as crianças, ao promover a ideia que comer folhas
verdes as fazem fortes.
165
ANEXO │ FICHAS INFORMATIVAS DE ALIMENTOS
OLEAGINOSAS
Amendoim (Arachis hypogaea), Girassol (Helianthus annuus),
Sésamo (Sesamum indicum), Coco (Cocos nucifera)
As oleaginosas podem ser cozinhadas e comidas, ou
processadas para serem utilizadas como óleo. Há óleo de
diferentes sementes e frutos.
Nomes, variedades,
parentes
Que alimento é este? Existem diferentes variedades?
Algumas das variedades adequadas para hortas e processamento na cozinha
são: amendoim, uma planta baixa e espessa, com sementes subterrâneas;
girassol, uma planta alta com uma única e enorme flor cheia de sementes;
sésamo, uma pequena planta vertical com muitas vagens; coco, uma palmeira
alta com frutos grandes.
Valor nutricional
Faz-nos bem? Qual o seu valor nutricional?
As oleaginosas têm óleos essenciais nutritivos e energéticos, mas também
proteínas e vitaminas valiosas. Por exemplo, as sementes de girassol contêm
20 a 40% de óleo, e cerca de 40 % de proteína facilmente digerida. Por isso, as
oleaginosas fazem parte de uma dieta equilibrada. Mas óleo em demasia pode
tornar as pessoas gordas, ou gerar problemas de coração. Os amendoins podem
ser infetados por fungos que os tornam tóxicos quando são armazenados. Não
se devem comer se estiverem bolorentos.
Pratos, combinados,
lanches, preparação
Como é comido habitualmente? E que outras formas existem?
As sementes podem ser comidas frescas, após a colheita, mas são melhores
depois de secas ao sol ou assadas. Os amendoins podem ser cozidos. As
sementes podem ser comidas como lanches, colocadas em saladas, arroz, pão e
panquecas. Ou acrescentadas a sopas, guisados e outros pratos. O óleo extraído
pode ser utilizado para temperar pratos ou fritar alimentos, e também pode ser
misturado com vinagre para temperar saladas. O líquido dos cocos ainda novos
é uma bebida refrescante; já o interior do coco pode ser ralado e pressionado
para fazer creme de coco.
Facilidade de cultivo
É fácil de cultivar?
Crescem facilmente em climas temperados. O amendoim e o sésamo crescem
em locais tropicais, solos bem drenados. Os coqueiros preferem planícies. Os
girassóis crescem no verão em locais frescos e têm raízes profundas que os
ajudam a tolerar secas.
Calendário
Quanto tempo demora a crescer? Quando deve ser plantado e colhido?
Os amendoins, sésamo e girassol devem ser plantados no final da época das
chuvas e colhidos três a quatro meses mais tarde. Os coqueiros, em qualquer
altura, pois demoram cinco a sete anos a produzirem cocos. Para obter cocos
ricos em óleo, deve-se esperar que amadureçam e caiam da árvore.
166
FICHAS INFORMATIVAS DE ALIMENTOS │ ANEXO
Que tamanho pode ter? De quanto espaço necessita?
Devem ser plantadas em locais quentes e solarengos.
Os amendoins devem crescer em solo arenosos. Os coqueiros precisam de muito
espaço para as suas raízes e não devem estar muito próximos de edifícios. Os
girassóis podem crescer sozinhos, em linha ou todos juntos num local onde as
crianças possam ver as grandes flores, mas onde não sejam derrubados pelo
vento ou brincadeiras.
Instruções para
propagação/
plantação
Onde plantar e como?
Prepare um canteiro para as sementes com composto ou estrume.
Amendoim: retirar as cascas. Plantar a 7 cm de profundidade, 20 cm de
distância, em linhas afastadas de 10 cm.
Sésamo: semear a 2-5 cm de profundidade, a 20 cm de distância, em linhas
afastadas de 10 cm.
Girassol: semear diretamente nos canteiros ou começar por semear em vasos e
transplantar quando as primeiras folhas de girassol aparecerem. Plantá-los de
50 a 70 cm de distância.
O girassol e o sésamo podem ser misturados com vegetais ou cereais.
Cocos: usar apenas os cocos recém-caídos. Deitá-los com o lado plano para
cima em solo arenoso, com sombra, e regar regularmente. Quando tiverem
quatro a cinco folhas, plantar num buraco com 40 cm de profundidade, meio
cheio com composto. Cobrir o topo do coco com folhas em vez de solo.
De que cuidados precisa? Precisa de estacas? De muita água? Sombra?
Todas as sementes oleaginosas crescem melhor se colocarmos composto ou
estrume um mês depois de plantarmos. Devemos retirar outras plantas que
cresçam junto às oleaginosas. Enquanto os amendoins crescem, amontoar solo
junto à base das plantas e regá-las bem. O girassol e o sésamo não precisam de
tanta água. Não é necessário pôr estacas nos girassóis.
Cuidados/cultivo
Produtividade
O que é que o ataca? O que deve ser feito?
Os cocos e os girassóis não têm pragas. A praga mais importante nos amendoins
e no sésamo são os afídios e a lagarta. Apanhe as lagartas; no caso dos afídios,
borrifar com água com sabão ou limpar com cinza. As doenças podem ser um
problema se as plantas estiverem muito juntas ou muito húmidas. A melhor
forma de controlo é a rotação de colheitas: fazer uma cultura diferente no
mesmo sitio, no ano seguinte. Se houver muita murchidão, o solo precisa de
descansar. No caso do amendoim e do sésamo, esse descanso deve durar cinco
anos.
Quanto é que vai produzir?
Amendoim: 0,2 a 0,4 kg por metro quadrado.
Girassol: 0,2 a 0,3 kg por planta.
Sésamo: 0,1 kg por metro quadrado.
Coqueiros: cerca de 40 frutos por ano.
Durante quanto tempo produz?
O amendoim, o girassol e o sésamo são anuais.
Os coqueiros produzem cocos mensalmente durante cerca de 40 anos.
167
ANEXO │ FICHAS INFORMATIVAS DE ALIMENTOS
Colheita/
armazenamento
Como é que podemos colher, limpar e armazenar?
Os amendoins estão prontos quando os topos começam a ficar amarelos.
Devemos cavá-los cuidadosamente. Espalhar os arbustos numa cerca ou em
chão seco, ao sol, durante duas a três semanas, após as quais podemos remover
os frutos.
As sementes de girassol e de sésamo devem ser colhidas quando estão duras.
As cápsulas das sementes de sésamo começam por ficar maduras por baixo,
por isso deve-se cortar a planta junto à base logo que as cápsulas mais baixas
comecem a abrir.
Deve-se cortar a cabeça da flor do girassol e o caule do sésamo e secá-los ao sol.
Para retirar as sementes, pode-se abanar, bater ou esfregar para um tapete. Em
todos os países em que há coco, as crianças e os adultos podem facilmente subir
e cortar os frutos mais jovens para beber o líquido que está no seu interior. Os
cocos maduros caem quando estão prontos e podem ser armazenados.
Pode ser conservado mantendo o seu valor nutritivo? Como?
As sementes secas podem ser mantidas durante um ano num local seco e
protegidas de roedores e insetos.
Conservação/
processamento
Extração de óleo na escola
Torrar as sementes e remover a pele joeirando. Moer ou esmagar as sementes
de forma a obter uma pasta macia e misturar gradualmente pequenas
quantidades de água quente. Aquecer e o óleo irá subir à superfície. Retirar o
óleo (as proteínas ficam juntas por baixo). O bolo proteico pode ser usado para
cozinhar ou dado aos animais.
Outros usos
Que outros usos lhe podemos dar?
A folhas de amendoim podem ser comidas e o resto da planta pode ser dada
aos animais, pois é nutritiva. As cascas do coco podem ser transformadas em
objetos úteis, as folhas de coco podem ser utilizadas para fazer vasos para
sementeiras, etc.
Cultura
Arqueólogos descobriram que os amendoins já eram cultivados há 4.000 anos
atrás, no Peru. Ensopado picante de amendoim é um prato popular na Nigéria
e no Senegal, onde as folhas são adicionadas a sopas e ensopados. O coco é tão
importante nas ilhas do Pacífico que é considerado símbolo nacional.
168
FICHAS INFORMATIVAS DE ALIMENTOS │ ANEXO
PAPAIA
(Carica papaya)
A papaia é uma fruta tropical muito saborosa e saudável,
apreciada em várias partes do mundo. Pode comer-se
a madura, verde ou até as flores macho em saladas. A
papaeira é fácil de cultivar numa horta escolar e todas as
casas deveriam ter várias papaeiras.
Nomes, variedades,
parentes
Que alimento é este? Existem diferentes variedades?
Existem três tipos de planta de papaia. Papaeiras fêmeas, com flores largas
e frutos num curto caule. Estes frutos são comestíveis, claro. Já as papaeiras
macho têm muitas flores pequenas e pequenos frutos em caules longos e
pendentes. Podemos comer as flores, mas precisamos delas para fertilizar a
papaeira fêmea (um macho para cada oito a dez fêmeas). Existem também
papaeiras hermafroditas, com ambas partes florais macho e fêmea: neste caso
só precisamos de um tipo de árvore. As variedades comerciais são geralmente
hermafroditas (exemplos: Hawaian Solo, Thailand Red, Richter Gold e
Jamaican Sweetie). Mamão-da-montanha e babaco são parentes da papaia.
Valor nutricional
Faz-nos bem? Qual o seu valor nutricional?
Muito bem! Meia fatia de papaia madura fornece 21% da vitamina A e quase
200% da vitamina C diárias necessárias para uma criança. A papaia madura
tem a maior quantidade de vitaminas. A papaia é muito boa para bebés,
crianças e pessoas doentes porque está cheia de vitaminas e é fácil de digerir.
Pratos, combinados,
lanches, preparação
Como é comido habitualmente? E que outras formas existem?
Comer fresca ao pequeno almoço com sumo de lima ou limão. Comer em
saladas de fruta, com ananás e um pouco de sumo de lima ou limão. Cozinhar
a papaia verde com carne ou feijões, ou com caril. Ralar a papaia verde com um
pouco de sumo de lima e adicionar à salada. Comer cubos ou fatias de papaia
seca como snack.
Para fazer sumo de papaia, pressionar um pouco de papaia madura através
de um coador de rede limpo ou de um pano limpo, depois adicionar água fria
previamente fervida. Não juntar açúcar.
Facilidade de cultivo
É fácil de cultivar?
Muito fácil. A papaia cresce bem em climas quentes, abrigada do vento, com
chuvas regulares ou rega. Cresce melhor em solos bem drenados e ricos em
matéria orgânica.
Calendário
Quanto tempo demora a crescer? Quando deve ser plantado e colhido?
Plantar nos meses quentes. No clima quente, as primeiras frutas estarão prontas
para a colheita em seis a oito meses.
169
ANEXO │ FICHAS INFORMATIVAS DE ALIMENTOS
Instruções para
propagação/
plantação
Que tamanho pode ter? De quanto espaço necessita?
Cresce rapidamente entre três e seis metros. Plantar pelo menos a um metro de
árvores ou edifícios.
Onde plantar e como?
Pegar num fruto maduro e separar a polpa das sementes. Semear as sementes
em sacos ou numa cama de viveiro. Transplantar as plântulas em grupos de
quatro. Depois da primeira floração, desbastar para cerca de 1,5 a 2 metros de
distância. Deixar um macho para cerca de nove fêmeas.
De que cuidados precisa? Precisa de estacas? De muita água? Sombra?
Cobrir o solo à volta de cada árvore até meio metro de distância desde o colo.
Juntar estrume, se possível. Regar bem durante os meses de crescimento, mas
sem encharcar o solo. Árvores com mais de três anos podem ser cortadas a
cerca de 1 metro, para facilitar a colheita.
Cuidados/cultivo
Produtividade
O que é que o ataca? O que deve ser feito?
Entre as pragas incluem-se ácaros, escaravelhos, traças e cochonilhas, que
perfuram ou mancham o fruto para se alimentarem do sumo. Larvas da mosca
da fruta eclodem mesmo por baixo da pele da fruta.
A maioria das pragas ataca a fruta quando está quase madura. Morcegos da
fruta, pássaros e pequenos trepadores atacam a fruta assim que esta começa a
ficar amarela.
Numa horta diversificada, os ácaros são geralmente controlados por outros
insetos. Um spray com 3% de óleo de cozinha em água pode reduzir ácaros e
cochonilhas, mas pode também afastar os predadores. Se cortarmos as folhas
e o fruto verde, o sumo esbranquiçado (latex) que sai detém os insetos. Mas
cuidado, porque também irrita a pele humana.
Quando o fruto está quase maduro, pode-se atar um saco em torno de cada fruto
para manter as pestes afastadas, ou colhê-lo e deixá-lo continuar a amadurecer
dentro de casa, longe das pragas.
Doenças: as raízes podem ser atacadas por doenças como dumping off (pythium)
e pelo apodrecimento de raízes. Antracnose ou míldio infetam pontas e folhas,
sendo que estas doenças não podem ser controladas de forma efetiva. Remover
as árvores fortemente afetadas e “compostá-las” longe de árvores saudáveis,
para evitar que a infeção se espalhe.
Quanto é que vai produzir?
Uma árvore adulta produz de 15 a 30 frutos por ano. Nos meses quentes, a
árvore cresce mais depressa e produz mais fruta do que na estação mais fria.
Durante quanto tempo produz?
A árvore normalmente produz fruta durante cinco a oito anos.
Colheita/
armazenamento
170
Como é que podemos colher, limpar e armazenar?
Quando a fruta começa a passar de verde para amarela, está madura e pronta
para a colheita. Cortar o pé perto do tronco da árvore, para que outras frutas não
sejam danificadas pela ponta afiada do coto. A papaia verde pode ser colhida
quando a fruta está quase no tamanho máximo, mas a sua polpa é ainda dura e
branca. Na árvore ou fora dela, o fruto vai amadurecer rapidamente, tornandose mais amarelo e macio. Manusear a fruta madura cuidadosamente, para que
não fique pisada.
FICHAS INFORMATIVAS DE ALIMENTOS │ ANEXO
Conservação/
processamento
Pode ser conservado mantendo o seu valor nutritivo? Como?
Cortar papaia madura fresca em fatias ou cubos e secá-la em folhas de bananeira
limpas em tabuleiros ou num secador solar. Virar os pedaços duas ou três vezes
por dia. Armazenar num recipiente com pouco ar. Comer como snack, usar em
doces, chutney ou condimento.
Outros usos
Que outros usos lhe podemos dar?
As folhas da papaia e as frutas verdes contêm papaína, que tem muitos usos:
- Para tornar a carne mais macia, embrulhá-la em folhas de papaia durante a
noite.
- Para afastar a dor de picadas de insetos, esfregar com o sumo de papaia verde.
Mas manter esse sumo afastado dos olhos.
- Para indigestão ou parasitas intestinais, misturar ¾ colheres de chá do sumo
leitoso da papaia verde com a mesma quantidade de mel. Misturar num copo
com água quente e beber.
- Usar folhas de papaia jovens em vez de sabão para remover manchas na roupa.
Esfregar as roupas com folhas de papaia esmagadas, depois esfregar as roupas
umas nas outras enquanto se lavam.
Cultura
Há muito tempo, os índios centro-americanos descobriram que podiam tornar
a carne mais tenra se a esfregassem com papaia ou a enrolassem em folhas
de papaia antes de cozinhar. Também descobriram que nas festas podiam
comer grandes quantidades de comida e não sofrer de indigestão se também
comessem papaia!
171
ANEXO │ FICHAS INFORMATIVAS DE ALIMENTOS
QUIABO
(Abelmoschus esculentus L, Hibiscus esculentus L)
O quiabo é uma planta arbustiva comum em muitos países
tropicais.
O principal alimento desta planta é a vagem jovem, mas as
sementes maduras também podem ser comidas. É fácil de
cultivar numa horta escolar, desde que seja na altura certa
do ano.
Nomes, variedades,
parentes
Que alimento é este? Existem diferentes variedades?
O quiabo, também chamado de bhindi, gumbo e lady’s finger. Alguns dos seus
primos também são alimentos: uma variedade de mandioca da África ocidental
(A. manihot), as sementes aromáticas de outra variedade da Africa Oriental
(A. moschatus) e o fruto suculento e as sementes amargas da Roselle (Hibiscus
sabdariffa). Crescem todos da mesma forma.
Valor nutricional
Faz-nos bem? Qual o seu valor nutricional?
É uma boa fonte da maioria dos nutrientes, incluindo proteínas, energia,
vitaminas e minerais.
Pratos, combinados,
lanches, preparação
Como é comido habitualmente? E que outras formas existem?
As vagens podem ser comidas cozidas a vapor ou fervidas, como o vegetal, ou
em ensopados e caris. Algumas pessoas cozinham quiabos com um bocadinho
de soda, mas isso torna-o menos nutritivo. As sementes das vagens já maduras
devem ser cozinhadas para que seja seguro comê-las (para remover as toxinas).
Depois podem ser esmagadas e transformadas em pasta rica em proteínas e
óleo. As folhas dos quiabos podem ser utilizadas para dar sabor a ensopados e
sopas.
Facilidade de cultivo
É fácil de cultivar?
São muito fáceis de cultivar. O quiabo e o quiabo-roxo crescem na maioria dos
países tropicais. Conseguem sobreviver à seca e a solo pobres se necessário.
Calendário
Quanto tempo demora a crescer? Quando deve ser plantado e colhido?
O quiabo começa a produzir passadas seis a oito semanas da sua plantação.
Deve-se plantar no início da estação seca (primavera e verão); quando os dias
começam a ficar mais pequenos, a planta floresce e produz vagem no fim do
verão e outono.
Instruções para
propagação/
plantação
172
Que tamanho pode ter? De quanto espaço necessita?
Plantar num local solarengo. O quiabo e o quiabo-roxo crescem com cerca de 1
metro de largura e 1,5 metros de altura.
Onde plantar e como?
Comprar as sementes ou obtê-las de outra planta. Guardar semente é fácil –
deve-se retirá-las da vagem e secá-las. Antes de semear, deve-se demolhar as
sementes previamente e depois semeá-las a 1-2 cm de profundidade diretamente
nos canteiros, afastadas 0,75 a 1 metros de distância.
FICHAS INFORMATIVAS DE ALIMENTOS │ ANEXO
Cuidados/cultivo
De que cuidados precisa? Precisa de estacas? De muita água? Sombra?
O quiabo é bastante resistente. Se o solo for pobre, a planta vai-se desenvolver,
mas produzir menos vagens do que se estiver num solo rico. Para ter uma
boa colheita, adicionar estrume ou composto durante a floração. O quiabo é
tolerante à seca, mas a rega regular melhora a colheita.
O que é que o ataca? O que deve ser feito?
Apanhar lagartas, que atacam os frutos e folhas, ou borrifar com água com
sabão. A maioria das doenças resulta de plantar a mesma planta no mesmo
sítio ano após ano.
Produtividade
Quanto é que vai produzir?
1 kg de quiabo ou quiabo-roxo por planta.
Durante quanto tempo produz?
Produz durante um a dois meses.
Colheita/
armazenamento
Como é que podemos colher, limpar e armazenar?
Apanhar os quiabos quando as vagens estão tenras, cerca de 10 cm de
comprimento, e comê-las durante os três dias seguintes. O quiabo-roxo pode
ser armazenado num local escuro, fresco e arejado durante duas semanas.
Conservação/
processamento
Pode ser conservado mantendo o seu valor nutritivo? Como?
As sementes de quiabos maduros (que se deixaram amadurecer na planta)
podem secar-se e ser armazenadas para esmagar mais tarde. O fruto do quiaboroxo pode ser seco, para um armazenamento mais prolongado.
Outros usos
Que outros usos lhe podemos dar?
O quiabo-roxo pode ser usado para geleias e bebidas, para dar uma coloração
vermelha.
Cultura
O quiabo-roxo é muito difundido na África tropical, Ásia e Pacífico, onde
tem sido encontrado em modo selvagem durante milhares de anos. Algumas
variedades especiais têm sido selecionadas para dar sabores ácidos e cor
vermelho forte. Infelizmente tem-se esquecido o valor destes alimentos. Muitas
pessoas compram bebidas com coloração artificial – poucas experimentaram a
bebida de quiabo-roxo, que é muito mais saudável!
173
ANEXO │ FICHAS INFORMATIVAS DE ALIMENTOS
TOMATE
(Lycopersicon esculentum)
O tomate é um fruto muito saboroso e saudável, apreciado
em muitas partes do mundo. O tomate pode ser facilmente
cultivado numa horta escolar, na altura certa do ano.
Nomes, variedades,
parentes
Que alimento é este? Existem diferentes variedades?
O tomate é um fruto vermelho e geralmente arredondado, cheio de sumo e
polpa saborosos. Os tomates-cereja são pequenos como bagas, variedades como
Grosse Lisse são tão grandes como um punho. As variedades para processamento,
como a Roma, por exemplo, estão no meio, com mais polpa e menos sumo e
acidez. Parentes saborosos e saudáveis do tomate são os capsicum (pimento
doce e chili) e a beringela. As plantas são mais pequenas e resistentes do que o
tomate, mas o seu cultivo é semelhante.
Valor nutricional
Faz-nos bem? Qual o seu valor nutricional?
Tem valiosos minerais e vitaminas A e C, de que as crianças precisam
diariamente. O tomate maduro tem mais vitaminas. O tomate é bom para
bebés, crianças e pessoas doentes.
Pratos, combinados,
lanches, preparação
Como é comido habitualmente? E que outras formas existem?
Podem comer-se tomates frescos sozinhos. Colocar tomate fresco ou seco em
saladas, sandes, tortilhas, lanches ou refeições. Cozinhar tomate com peixe,
carne ou feijões, em caril, guisados, ou como molho. Para fazer sumo de
tomate: mergulhar tomates maduros em água a ferver para separar a pele.
Quando arrefecerem, remover a pele. Pressionar a polpa através de uma rede
metálica limpa ou um pano limpo, depois adicionar um pouco de água fresca
previamente fervida. Não é necessário adicionar açúcar.
Facilidade de cultivo
É fácil de cultivar?
Muito fácil de cultivar. Os tomates vieram da América Central, mas agora
cultivam-se em todas as regiões tropicais e temperadas. Gostam de dias
quentes, noites frias e chuva regular ou rega. Crescem na maioria dos solos,
mas preferem solos ricos e bem drenados.
Calendário
Quanto tempo demora a crescer? Quando deve ser plantado e colhido?
O fruto começa a estar pronto para a colheita dois a três meses depois de
plantado. A altura da plantação depende do clima. Precisam de calor para
crescer, mas de noites frias para dar fruto. Nas áreas subtropicais, plantar em
qualquer altura do ano, nos trópicos na estação fria, nos climas temperados no
verão.
Instruções para
propagação/
plantação
Que tamanho pode ter? De quanto espaço necessita?
Plantar num lugar abrigado, quente e solarengo. O tomateiro cresce cerca de
meio metro. Algumas variedades crescem menos de meio metro de altura, mas
outras trepam um a dois metros quando suportadas por uma estaca.
174
FICHAS INFORMATIVAS DE ALIMENTOS │ ANEXO
Instruções para
propagação/
plantação
Onde plantar e como?
Comprar sementes da melhor qualidade. Se não estiverem disponíveis, arranjar
as suas próprias. Pegar num fruto maduro e separar a polpa das sementes.
Plantar as sementes em pequenos sacos ou em camas de viveiro, 2 cm afastadas
entre si. Quando as mudas tiverem cerca de 2 cm de altura e a base do caule
for roxa, transplantar para canteiros a cerca de um metro de distância entre si.
De que cuidados precisa? Precisa de estacas? De muita água? Sombra?
Os tomateiros crescem melhor se os ramos com frutos pesados forem mantidos
afastados do chão. Atá-los a uma estaca de dois metros. Remover alguns ramos,
para que as folhas e frutos não fiquem apertados. Colocar cobertura vegetal à
volta da planta (folhas, palha, papel de jornal ou outro material orgânico), até
meio metro da base. Adicionar composto ou estrume. Regar regularmente, mas
sem alagar o solo. Sem ar, as raízes vão apodrecer e a planta morre.
Cuidados/cultivo
Produtividade
O que é que o ataca? O que deve ser feito?
Muitas doenças (apodrecimento da raiz, gorgulho e apodrecimento do fruto,
por exemplo) podem ser evitadas usando solo limpo, mantendo as ervas
daninhas afastadas e cobrindo o solo para que não se torne demasiado quente.
Não plantar tomateiros na mesma área no ano seguinte. Remover e destruir as
plantas afetadas, para evitar que a infeção se espalhe. Quando o fruto estiver
quase maduro, a água pode levar os frutos podres para fendas ou buracos de
insetos. Remover os frutos danificados antes que o apodrecimento se espalhe.
Caracóis, lesmas e algumas lagartas vão comer as plântulas e rebentos, e comer
o fruto quando está quase maduro. Removê-los manualmente, vaporizar as
plantas com cinza ou usar um pesticida adequado. Numa horta diversificada,
a maioria das outras pestes vai ser naturalmente controlada pelos insetos
predadores.
Quanto é que vai produzir?
10 a 30 kg de tomates das variedades grandes, como a Grosse Lisse, por exemplo.
Durante quanto tempo produz?
Uma planta pode produzir tomates por dois a três meses.
Colheita/
armazenamento
Como é que podemos colher, limpar e armazenar?
Colher o fruto quando a maior parte do verde já mudou para vermelho ou
laranja. O fruto vai continuar a amadurecer fora da planta. O fruto fresco pode
ser armazenado num local com sombra, fresco e arejado até três semanas.
Conservação/
processamento
Pode ser conservado mantendo o seu valor nutritivo? Como?
O molho ou puré de tomate são fáceis de conservar. Cozinhar ligeiramente
tomate cortado em pedaços sozinho ou com cebola, alho e ervas aromáticas.
Armazenar em frascos ou garrafas esterilizadas (através da fervura em água).
Para secar tomate, cortar em fatias, colocar em tabuleiros, polvilhar com sal
e secar num local arejado e com exposição solar ou num secador solar. Virar
as fatias duas a três vezes por dia. O tomate tem muita água e provavelmente
não vai secar completamente, por isso colocar as fatias em jarros esterilizados
e cobrir com óleo alimentar para manter o ar afastado – eles tendem a ser
afetados por bolores quando colocados em sacos plásticos.
Outros usos
Que outros usos lhe podemos dar?
As folhas do tomateiro são venenosas e não devem ser consumidas.
Cultura
Os peruanos já tinham tomateiros há 2.500 anos. Quando os ocidentais
descobriram os tomateiros na América Central, foram cautelosos devido à cor
vermelho brilhante e ao odor das folhas – pensaram que eram venenosos. Mas
o sabor era delicioso e em breve foram chamados “maçã dourada” em Itália e
“maça do amor” em Inglaterra.
175
ANEXO │ FICHAS INFORMATIVAS DE ALIMENTOS
Conservação/
processamento
Pode ser conservado mantendo o seu valor nutritivo? Como?
A maioria da fruta é comida fresca. Algumas, como a manga, por exemplo,
podem ser fatiadas e secas em folhas de bananeira limpas, em tabuleiros ou
secadores solares. Virar as fatias duas a três vezes por dia. Armazenar num
recipiente com pouco ar. Comer como lanche ou usar para fazer doce, chutney
ou condimentos. Citrinos e anona não são fáceis de secar.
Outros usos
Que outros usos lhe podemos dar?
Colocar a fruta danificada na pilha de composto ou dar como alimento aos
animais.
Cultura
Um tipo especial de citrino, o kumquat, é caracteristicamente usado nas
festividades de Ano Novo no Este Asiático. No Este de África, a casca da
carambola é usada em cerimónias para aplacar os espíritos ancestrais. No
Ocidente, as laranjas eram cravejadas de cravinho e penduradas nos armários
para dar bom cheiro à roupa.
NOTAS
176
ANEXO
FICHAS INFORMATIVAS DE NUTRIÇÃO
Informações importantes sobre uma boa nutrição e nutrientes essenciais
1. FOME E SUBNUTRIÇÃO
178
2. DIETA SAUDÁVEL PARA CRIANÇAS EM IDADE ESCOLAR
180
3. NUTRIENTES NOS ALIMENTOS
183
4. NECESSIDADES DE NUTRIENTES E ENERGIA
187
177
ANEXO │ FICHAS INFORMATIVAS DE NUTRIÇÃO
FOME E SUBNUTRIÇÃO
Ficha 1
Água e alimentos são elementos essenciais, que todos os seres humanos devem ter para
poderem sobreviver. O acesso ao “mínimo essencial de comida que seja suficiente,
adequada nutricionalmente e segura” é considerado um direito humano. A fome e a
subnutrição são problemas globais.
Fome é a condição de uma pessoa que não tem acesso a suficiente alimento diariamente.
Subnutrição é causada pela falta de alimentação, pela alimentação em pouca qualidade e pouco
variada e pela doença. Apesar de uma pessoa poder estar a ingerir a quantidade correta de
quilocalorias (energia) por dia, pode continuar com falta de alguns nutrientes vitais à sua dieta.
Muitas crianças em comunidades e países mais pobres têm dietas desadequadas ou desequilibradas
que resultam em subnutrição. Para este facto contribuem vários fatores, tais como a pobreza, a
falta de saneamento, doenças e instabilidade política e económica.
O crescimento e comportamento das crianças são bons indicadores do seu estado de saúde.
Se forem pequenas para a sua idade, magras, andarem cansadas e frequentemente doentes, e
tiverem dificuldades de concentração, podem ser crianças subnutridas. Existem três principais
tipos de subnutrição. Estes são:
•Desnutrição
Acontece quando as crianças não estão a receber quantidade
suficiente de uma mistura adequada de alimentos, mostrando-se
cansadas e sem energia suficiente para brincar. O seu sistema
imunitário fica fraco, o que faz com que adoeçam facilmente.
A desnutrição pode também resultar num crescimento mais
lento do que o de uma criança normal e causar dificuldades de
aprendizagem na escola. As crianças que estão subnutridas são
muitas vezes mais baixas do que as crianças saudáveis, podendo
também ter braços e pernas finas. Os seus corpos são fracos.
•Excesso de Peso
Se uma criança come demasiado, não recebe a mistura
adequada de alimentos e não pratica exercício suficiente, pode
ficar com excesso de peso. Isto pode transformá-la mais tarde
num adulto com excesso de peso e vários problemas de saúde,
tais como doenças cardíacas, diabetes e certos tipos de cancro.
O excesso de peso é um problema crescente em muitos países
desenvolvidos e em desenvolvimento.
•Subnutrições em micronutrientes
Muitas crianças não recebem a quantidade suficiente de algumas vitaminas e minerais
essenciais. As carências na dieta mais comuns são falta de vitamina A, ferro, iodeto e zinco.
Estes micronutrientes são responsáveis por tarefas vitais para o correto funcionamento do nosso
organismo. Dão boa visão, pele saudável, protegem o organismo de doenças, ajudam a absorver
a energia dos alimentos e permitem que o corpo e cérebro se desenvolvam corretamente.
178
FICHAS INFORMATIVAS DE NUTRIÇÃO │ ANEXO
QUAIS SÃO AS PRINCIPAIS CAUSAS DA FOME E SUBNUTRIÇÃO?
As pessoas que vivem na pobreza têm acesso limitado a comida. Para muitos, a subnutrição
resulta da falta de dinheiro para comprar comida em quantidade suficiente. Outros podem
não ter terras para produzir os seus próprios alimentos, sendo que, por vezes, as pessoas que
têm terras podem não produzir alimentos suficientes para durarem todo o ano. As famílias que
não podem produzir ou comprar a sua comida são consideradas em situação de insegurança
alimentar. Nestas famílias, muitas vezes, as mulheres e crianças tem menos comida do que os
homens.
A quebra na produção ou na distribuição de comida é outra grande causa de fome e
subnutrição. Desastres naturais como secas, cheias, tremores de terra e furacões podem
interromper a produção, distribuição e comercialização de alimentos. Catástrofes causadas
pelo Homem, como a guerra, por exemplo, interrompem o movimento e distribuição
regular de alimentos, muitas vezes limitando o acesso a alguns alimentos. Durante alguns
conflitos, a comida pode ser usada como uma arma, sendo retirada às populações civis e
causando fome intencionalmente.
Foto @ Mel Futter
A subnutrição também é causada, e muitas
vezes agravada, pelas más condições de
vida, incluindo falta de água ou existência
de água contaminada, falta de saneamento e
falta de cuidados dentro de casa. As crianças
mais novas são mais suscetíveis a doenças
infeciosas como diarreia, malária, sarampo
e gripes. As crianças que ficam doentes
frequentemente não absorvem todos os
nutrientes necessários, fazendo com que o
seu organismo se torne mais fraco.
HIV/SIDA pode ser outra das causas de fome e subnutrição. Quando um adulto fica doente com
HIV/SIDA, tem menos capacidade para trabalhar no campo ou ganhar dinheiro para comprar
alimentos. Podem também ter que vender os seus bens, como ferramentas e gado, de modo a
poderem comprar comida e medicamentos. As crianças órfãs ficam muitas vezes subnutridas
quando um ou ambos os pais ficam doentes ou morrem. Isto pode acontecer por falta de cuidado
e comida, ou também por comerem menos devido ao sofrimento e depressão.
Os efeitos imediatos da HIV/SIDA são também causadores de subnutrição. Tal como acontece
com outro tipo de doenças, as pessoas infetadas com HIV/SIDA que não comem adequadamente
ou não absorvem nutrientes suficientes vão buscar energia e nutrientes aos tecidos do próprio
organismo, perdendo peso e tornando-se subnutridos. Uma dieta saudável e equilibrada, bons
cuidados de higiene e saneamento e o tratamento atempado de doenças infeciosas podem
prevenir a subnutrição nos doentes de HIV/SIDA, aumentando a sua esperança de vida.
179
ANEXO │ FICHAS INFORMATIVAS DE NUTRIÇÃO
DIETA SAUDÁVEL PARA CRIANÇAS EM IDADE ESCOLAR
Ficha 2
Uma dieta equilibrada e variada é importante para promover um crescimento físico e
desenvolvimento mental adequado. A curto prazo, pode ajudar as crianças e jovens a
melhorarem a sua concentração e rendimento escolar, reduzindo riscos de saúde como a
carência de vitamina A, a anemia e outros défices de micronutrientes. Uma dieta saudável
na infância minimiza também o aparecimento de infeções e doenças crónicas na idade
adulta. Uma alimentação equilibrada é especialmente importante no caso das raparigas,
para que quando forem adultas estejam bem nutridas e possam gerar bebés saudáveis.
O QUE ACONTECE SE AS CRIANÇAS NÃO SE SENTEM BEM?
As crianças que têm fome ou dietas pobres crescem mais devagar que crianças bem nutridas e
têm menos energia para brincar, estudar ou para trabalhos físicos. Estas crianças tendem a ter
períodos de atenção curtos e mais dificuldades na aprendizagem. O seu rendimento escolar é
fraco e tendem a desistir dos estudos precocemente. Uma alimentação pobre durante a infância
não só diminui o potencial individual como, a longo prazo, pode afetar negativamente o
desenvolvimento de comunidades e nações.
O QUE É UMA DIETA SAUDÁVEL?
Para crianças de cinco anos e mais velhas,
uma dieta saudável significa uma dieta
equilibrada, com muita variedade e
energia suficiente para o crescimento e
desenvolvimento a cada dia.
Isto consiste em:
•Alimentos ricos em fibras e amido,
como arroz, milho, pão, massas,
mandioca e inhame.
•Vegetais, tais como vegetais de folha
verde escura e vegetais de cor laranja.
Feijões, ervilhas e, se possível,
•
pequenas quantidades de carne e
peixe.
Guia de Refeições variadas
•Produtos lácteos, leite, ovos, iogurte e queijo.
•Um pouco de gordura dá sabor aos guisados e sopas, e ajuda a absorver a vitamina A das
frutas e vegetais.
•Muita fruta, várias vezes ao dia, como lanche ou como sobremesa depois das refeições. A
fruta fornece muitas vitaminas, sendo que a vitamina C ajuda a absorver o ferro de vegetais
como espinafres e outros de folha verde escura.
•Doces, comida e bebidas com açúcar devem ser limitados. Este tipo de comida é bastante
saboroso e calórico e pode ser consumido apenas em ocasiões especiais. Os doces e comida
açucarada não são essenciais à saúde, mas aumentam o prazer de comer.
180
FICHAS INFORMATIVAS DE NUTRIÇÃO │ ANEXO
QUANTAS REFEIÇÕES DEVE TER UMA CRIANÇA EM IDADE ESCOLAR?
As crianças devem ter três refeições, e pequenos lanches entre as refeições, todos os dias.
•O pequeno-almoço, a primeira refeição é
sempre importante, especialmente quando
uma criança ainda tem que andar bastante
até a escola e não come muito a meio do dia.
Exemplos de um bom pequeno-almoço são
alimentos com amido (pão, flocos de aveia,
batata doce ou mandioca) com leite, manteiga
de amendoim ou feijões cozinhados e fruta.
•Um lanche a meio da manha dá energia às
crianças para brincarem e estudarem.
• Uma refeição a meio do dia contendo alimentos variados. Se não forem fornecidas refeições
nas escolas, os pais devem dar às crianças uma refeição para levarem para a escola (por
exemplo: pão, tortilha, batata doce ovos e fruta). Se a escola fornecer refeições, estas devem
ser as mais ricas em nutrientes possível. Comida da horta de casa ou da escola aumenta a
variedade e o valor nutricional da refeição (ver receitas para refeições escolares com produtos
hortícolas, nas Fichas de nutrição 3).
•Uma refeição ao fim do dia é muitas vezes a maior refeição para a maioria das crianças
e como tal deve ser uma boa mistura de alimentos (ver guia). Os pais devem saber que
crianças em crescimento são crianças com muito apetite e não estão apenas a ser gulosas.
Dar às crianças os seus próprios pratos ajuda a controlar se estão a receber o suficiente de
cada tipo de alimento.
NECESSIDADES NUTRICIONAIS DE CRIANÇAS EM IDADE ESCOLAR
As crianças em idade escolar precisam de bastantes alimentos, uma vez que as suas necessidades
de energia e nutrientes são particularmente elevadas em relação ao seu tamanho. Na sua dieta
geral, muitas vezes é difícil garantir que ingerem quantidades suficientes de energia vitamina A,
cálcio, ferro zinco e iodo. Os pais, professores e pessoal responsável pela cantina escolar devem
certificar-se que as crianças recebem alimentos ricos em nutrientes em abundância.
•O cálcio é importante para os ossos.
•Alimentos ricos em ferro são importantes para prevenir a anemia. Particularmente
as raparigas adolescentes têm bastante necessidade de alimentos ricos em ferro, tais
como carne e peixe. Esta necessidade duplica quando começam a ser menstruadas.
Desde então e até à menopausa, as raparigas e mulheres têm maior necessidade de
ferro que os rapazes e homens. A fruta e vegetais que contenham vitamina C devem
ser comidos todos os dias, especialmente se a dieta for pobre em carne e peixe, uma
vez que a vitamina C ajuda a absorver o ferro dos alimentos vegetais.
•Alimentos ricos em vitamina A são importantes para uma boa visão, pele saudável e
um bom sistema imunitário, que protege o organismo de infeções. Vegetais de folha
verde escura e frutos de cor alaranjados e amarela são fontes de vitamina A.
•Algum óleo ou gordura é essencial na dieta pois permite que o organismo utilize a
vitamina A presente nos vegetais.
•Alimentos ricos em folato são especialmente importantes para raparigas adolescentes
ou jovens mulheres na preparação de futuras gravidezes. Feijões, vegetais de folha
verde, sumo de laranja, fígado e amendoins são boas fontes de folato.
181
ANEXO │ FICHAS INFORMATIVAS DE NUTRIÇÃO
•Alimentos ricos em zinco, como a carne e o peixe, são importantes para o correto
funcionamento do organismo, mas nem todas as crianças ingerem quantidades
suficientes de zinco.
•Logo desde a escola primária, as crianças devem ser habituadas a comer bastantes
vegetais e fruta.
Uma lista de alimentos ricos nestes e noutros nutrientes importantes está descrita na Ficha
informativa de Nutrição 3: Nutrientes nos Alimentos.
ORIENTAÇÕES E PADRÕES DE NUTRIÇÃO PARA AS REFEIÇÕES ESCOLARES
Alguns países têm valores nutricionais mínimos nacionais para as refeições escolares. Estes
valores indicam o teor de nutrientes recomendado numa refeição normal para a criança durante
o período de uma semana. Servem também como orientação no tipo e qualidade de alimentos
que devem ser servidos. Nalguns desses países, essas linhas orientadoras são obrigatórias e estão
estipuladas na lei. Consulte o Ministério de Educação ou de saúde nacional de forma a perceber
quais as indicações existentes no seu país. Caso não existam indicações para as refeições escolares,
procure saber se está definida alguma norma para uma dieta nacional. Este tipo de normas são
uma boa base para promover as dietas saudáveis dentro e fora das escolas. Podem também
orientar o pessoal da cantina escolar a planear o menu e as refeições escolares.
RECOMENDAÇÕES ADICIONAIS PARA SERVIR COMIDA E BEBIDAS NAS
ESCOLAS
•
Água potável deve estar
sempre disponível para todos
os alunos.
•
Também deve haver leite
todos os dias.
•As escolas devem oferecer
alimentos variados e uma
seleção de refeições diferentes
no decorrer da semana.
•As escolas devem usar sempre
sal iodado na preparação das
refeições.
•As escolas devem comprar a
maioria dos ingredientes localmente. Isto garante que os vegetais e frutas são frescos e reduz
os custos de transporte, bem como contribui para a comunidade local.
•As escolas devem ter uma refeição quente, particularmente nos meses de inverno em climas
frios. O almoço não tem obrigatoriamente que ser quente, mas uma refeição cozinhada pode
ser mais reconfortante nos meses frios.
•As refeições escolares devem ter em conta os gostos das crianças.
•As mensagens de alimentação saudável e as refeições escolares devem complementar-se
e reforçarem-se mutuamente, de modo a criar sinergias e promover práticas alimentares
saudáveis ao longo da vida.
•Refrigerantes, doces e comidas muito gordas e salgadas, tais como hambúrgueres e batatas
fritas, não devem existir no ambiente escolar, uma vez que tem pouco valor nutritivo.
182
FICHAS INFORMATIVAS DE NUTRIÇÃO │ ANEXO
NUTRIENTES NOS ALIMENTOS
Ficha 3*
Um alimento ser ou não uma boa fonte de nutrientes depende de:
• A quantidade de nutrientes no alimento. Os alimentos que contêm grandes quantidades
de vitaminas e minerais (micronutrientes) em comparação com o seu teor energético
são chamados de alimentos “ricos em nutrientes”. Estes alimentos são aconselháveis
porque ajudam a garantir que a dieta contem todos os nutrientes necessários. Nesta
ficha estão listados alimentos que fornecem quantidades apreciáveis de diferentes
nutrientes.
•A quantidade desse alimento que se come habitualmente.
Tabela 1. Fontes úteis de nutrientes
HIDRATOS DE CARBONO
Amidos
•Cereais
• Raízes e tubérculos
• Frutas ricas em amido
• Legumes maduros
Açucares
•Frutas doces
•Açúcar
•Mel
•Alimentos doces
Fibra
• Cereais integrais e raízes
•Legumes
•Vegetais
•Frutas
Ricas em ácidos gordos
saturados
• Manteiga, banha e manteiga
clarificada
• Leite gordo (fresco ou azedo)
• Gordura de aves
•Coco
• Óleo de palma
Ricas em trans-ácidos gordos
• Margarina e manteiga
clarificada vegetal
•Banha
GORDURAS
Ricas em ácidos gordos
insaturados
• Maioria dos óleos vegetais
(girassol, milho, amendoim e
azeite)
• Cereais integrais
• Amendoins, soja, sementes de
girassol sementes de sésamo
e outras oleaginosas,
• Peixe gordo
•Abacate
PROTEÍNAS
ZINCO
• Leite materno
• Leite de animais
•Ovos
• Carne e vísceras de animais, aves e peixes
• Feijões e ervilhas
• Amendoins e soja
• Cereais quando ingeridos em grandes
quantidades
• Carne e vísceras
• Peixe e aves
•Insetos
* - A Informação desta ficha foi retirada da publicação da FAO (2004) Family Nutrition Guide (Appendix 1 and 2), por Ann Burgess e Peter Glasauer.
183
ANEXO │ FICHAS INFORMATIVAS DE NUTRIÇÃO
FERRO
Facilmente absorvido
• Fígado, sangue e outras vísceras
• Carne e peixe (quanto mais vermelha a carne,
mais ferro contem)
• Leite materno
Pouco absorvido, exceto quando comido com
carne, vísceras, aves ou porco ou alimentos
ricos em vitamina C
• Cereais integrais, particularmente milho-miúdo
e sorgo
•Legumes
• Amaranto, espinafres e outros vegetais de folha
verde escura
VITAMINA A
FOLATO
• Fígado e rins
• Gemas de ovo
• Leite materno, em particular o colostro
• Natas, manteiga e queijo
• Peixe seco (incluindo o fígado)
• Óleo de palma cru
• Vegetais cor de laranja como cenoura e abóbora
• Mangas maduras e papaias
• Batatas-doces amarelas/laranja
• Vegetais de folha verde médio/escuro:
espinafres, amarantos e couve (quanto mais
escura a folha, mais vitamina A contem)
• Milho e bananas, se comidos em grandes
quantidades
• Feijões e amendoins
• Vegetais frescos, particularmente de folha verde
• Fígado e rins
• Leite materno
•Ovos
• Cereais, se comidos em grandes quantidades
184
VITAMINA C
• Fruta fresca
• Vegetais, folhas verdes, tomate e pimentos
• Leite materno
• Leite fresco de animais
• Frutas e raízes com amido, quando comidas em
grandes quantidades
FICHAS INFORMATIVAS DE NUTRIÇÃO │ ANEXO
Tabela 2. Conteúdo energético, proteico e de gordura em alguns alimentos
ALIMENTO
CEREAIS
Pão branco
Milho
Farinha integral
Farinha refinada
Papas grossas*
Papas finas*
Millet
Arroz branqueado
Cru
Cozido*
Farinha integral de sorgo
RAÍZES COM AMIDO E FRUTAS
Mandioca
Fresca
Seca ou farinha
Cozida*
Banana de cozinhar
Batata irlandesa crua
Batata doce crua
Inhame fresco cru
LEGUMES
Feijões e ervilhas secos ou crus
Amendoins secos ou crus
Soja seca ou crua
Sementes de girassol
ALIMENTOS DE ORIGEM ANIMAL
Leite materno
Leite de vaca
Ovos
Carne gorda (cabra)
Galinha/aves
Carne e peixe frescos
Carne, peixe secos ou salgados
ÓLEOS GORDURAS E AÇUCARES
Óleos/banha
Manteiga/margarina
Açúcar
%EP
Numa porção de 100 gramas comestíveis de alimentos
Energia
Proteina
Gordura
kcal
MJ
gramas
gramas
100
261
1.09
7.7
2.0
100
100
100
100
100
353
368
105
54
341
1.48
1.54
0.44
0.23
1.43
9.3
9.4
2.6
1.4
10.4
3.8
1.0
0.3
4.0
100
100
100
361
123
345
1.51
0.51
1.44
6.5
2.2
10.7
1.0
0.3
3.2
74
100
100
66
80
80
84
149
344
149
135
79
105
118
0.62
1.44
0.62
0.56
0.33
0.44
0.49
1.2
1.6
1.2
1.2
2.1
1.7
1.5
0.2
0.5
0.3
0.1
0.3
0.2
100
100
100
100
333
567
416
605
1.39
2.37
1.74
2.53
22.6
25.8
36.5
22.5
0.8
45.0
20.0
49.0
100
100
88
100
67
100
100
70
61
158
161
140
90
255
0.29
0.26
0.66
0.67
0.59
0.38
1.07
1.0
3.3
12.0
19.5
20.0
18.4
47.0
4.4
3.3
11.2
7.9
7.0
0.8
7.4
100
100
100
900
718
400
3.76
3.00
1.67
0
0
0
100.0
82.0
0
Fonte: FAO. 1993 Alimentação e nutrição na gestão do grupo de programas de alimentação. Roma.
kcal = kilocalorias.
MJ = megajoules (joules é a unidade moderna de medida de energia. 1 000 kcal = 4.18 MJ).
%EP = percentagem de porção comestível = proporção da porção de alimento comprador que pode ser ingerido expresso como percentagem.
- = vestigial.
* = Valor calculado. A quantidade de farinha nas papas grossas ou finas é variável. Estes são apenas valores aproximados.
185
ANEXO │ FICHAS INFORMATIVAS DE NUTRIÇÃO
Tabela 3. Nutrientes presentes em alguns alimentos
ALIMENTO
RICO EM:
TAMBÉM CONTEM:
Amido, fibra
Proteínas
Vitaminas do grupo B
Alguns minerais
Raízes com amido e frutas
Amido, fibra
Alguns minerais
Vitamina C quando frescos
Vitamina A quando são
amarelos
Feijões e ervilhas maduros
Amido, proteína e fibra
Vitaminas do grupo B
Alguns minerais
Oleaginosas
Gordura, proteína e fibra
Vitaminas do grupo B
Alguns minerais
Carne e peixe
Proteína, ferro e zinco
Outros minerais
Algumas vitaminas
Fígado
Proteína
Ferro
Zinco
Vitamina A
Folato
Outras vitaminas
-----
Leite e lacticínios
Gordura
Proteína
Alguns minerais
Algumas vitaminas
-----
Leite materno
Gordura
Proteína
Maioria de vitaminas e
minerais à exceção do ferro
Ferro
Ovos
Proteína
Vitaminas
Gordura
Minerais (que não ferro)
Gorduras e óleos
Gorduras
Vegetais folha verde média/
escura
Vitaminas
Folato
Proteínas
Algum ferro
Fibra
Vitamina A
Vegetais cor de laranja
Vitamina A
Vitamina C
Minerais
Fibra
Frutas laranjas
Frutose
Vitamina A
Vitamina C
Fibra
Citrinos
Frutose
Vitamina C
Cereais
-----
-----
Fonte: adaptado de Burgess et al., Community nutrition for Eastern Africa, AMREF, Nairobi (1994)
186
FICHAS INFORMATIVAS DE NUTRIÇÃO │ ANEXO
NECESSIDADES DE NUTRIENTES E ENERGIA
Ficha 4*
Use esta tabela para comparar as diferentes necessidades
de energia e nutrientes dos vários membros da família.
Dose diária recomendada de energia e nutrientes
SEXO/IDADE PESO
ANOS
kg
Ambos os sexos
0–6 meses
6.0
6–11 meses
1.1
1–3
8.9
4–6
12.1
7–9
18.2
Raparigas
10–17
Rapazes
10–17
Mulheres
18–59
Grávidas
Durante a
amamentação
60 e mais
Homens
18–59
60 e mais
ENERGIA
kcal
MJ
PROTEÍNAS FERRO
gramas
mg
ZINCO VIT A VIT C FOLATO
mg
mcg RE
mg
mcg DFE
524
375
708
1022
1352
2.19
25
2.97
4.28
5.66
11.6
80
14.1
14.0
22.2
0a
9
9
6
6
1.1
0.8
0.8
8.4
10.3
375
400
400
400
450
25
30
30
30
30
80
80
80
160
200
46.7
2326
9.73
42.6
14/32b
15.5
600
40
400
49.7
2824
11.81
47.8
17
19.2
600
40
400
55.0
55.0
2408
+278
10.08
+1.17
41.0
+6.0
29/11c
Highd
9.8
15.0
500
800
45
55
400
600
55.0
+450
+ 1.90
+17.5
15
16.3
850
70
500
55.0
2142
8.96
41.0
11
9.8
600
45
400
65.0
65.0
3091
2496
12.93
10.44-
49.0
49.0
14
14
14.0
14.0
600
600
45
45
400
400
Fontes: Energia- FAO. 2004. Human energy requirements. Report of a Joint FAO/WHO/UNU Expert Consultation. FAO Food and Nutrition
Paper No. 1. Rome; Proteínas - WHO. 1985. Energy and protein requirements. Technical Report Series 724. Geneva; Micronutrientes - FAO/
WHO. 2002. Human vitamin and mineral requirements. Report of a Joint FAO/WHO Expert Consultation. Rome.
NOTAS
kcal = kilocalorias
MJ = megajoule (joules são a unidade moderna da medida de energia 1 000 kcal = 4.18 megajoule
RE = equivalentes de retinol
DFE = equivalentes dietéticos de folato
Estes valores assumem que:
•As crianças são amamentadas pelo menos no primeiro ano;
•As crianças mais velhas e adultos comem pequenas doses de alimentos ricos em ferro
(carne, por exemplo), alimentos ricos em vitamina C e outras proteínas animais, e grande
quantidade de alimentos básicos, como milho. Os valores de biodisponibilidade utilizados
para ferro correspondem a “10% da biodisponibilidade” e os utilizados para o zinco são de
“baixa biodisponibilidade”;
•Os adultos têm uma atividade física moderada.
* - A Informação desta ficha foi retirada da publicação da FAO (2004) Family Nutrition Guide (Appendix 1 and 2), por Ann Burgess e Peter Glasauer.
a - Bebés nascidos no tempo correto tem reservas suficientes de ferro até aos seis meses
b - Quantidades necessárias depois da menstruação
c - Quantidades necessárias depois da menopausa
d - As necessidades são tão elevadas que o suplemento de ferro é habitualmente recomendado para mulheres grávidas e adolescentes grávidas
187
NOTAS
188
ANEXO
NOTAS DE HORTICULTURA
CRIATURAS BENÉFICAS PARA A HORTA
190
PLANTAS COMPANHEIRAS
191
COMPOSTO
192
CONSERVAR ALIMENTOS DA HORTA
193
ROTAÇÃO DE COLHEITAS
194
CANTEIROS
195
COLHEITA
196
PLANTAS SAUDÁVEIS
196
PULVERIZADORES CASEIROS
197
CULTURA INTERCALAR
198
COBRIR O SOLO
199
NUTRIENTES E FERTILIZANTES
199
AGRICULTURA BIOLÓGICA
200
PRAGAS
201
PROBLEMAS DAS PLANTAS
203
PLANTAR E TRANSPLANTAR
204
PROTEGER A HORTA
205
LANCHES E BEBIDAS DO JARDIM
206
GESTÃO DA ÁGUA
206
IRRIGAÇÃO
206
ERVAS DANINHAS
207
189
ANEXO │ NOTAS DE HORTICULTURA
CRIATURAS BENÉFICAS PARA A HORTA
Muitos insetos benéficos são predadores ou parasitas que consomem insetos nocivos.
Estes são a ”polícia anti pragas”! Alguns são polinizadores que fertilizam as plantas, para
que estas possam produzir frutos. Sem eles, não haveria agricultura.
(Adaptado de “Beneficial insects” Virginia State Univ., www.ext.vt.edu/departments/entomology).
1. Toda a gente conhece a joaninha. Algumas joaninhas comem pulgões, outras
preferem cochonilhas e ácaros. São muito eficientes em manter afastadas ou
livrarem-se de pragas, sendo que as larvas da joaninha também atacam os pulgões.
São muito coloridas e parecem agressivas, por isso as pessoas muitas vezes pensam
que devem ser prejudiciais para as plantas. Nada poderia ser menos verdade.
2. O louva-deus, com as patas pegadas em posição de reza, é outro conhecido inseto
predador. Tanto os adultos como as crias estão sempre à espera de insetos que se
desviem da sua rota e se coloquem ao seu alcance, para capturá-los com as suas
patas da frente.
3. Os insetos assassinos encontram-se em países tropicais. A maioria tem corpos
delgados e cores sombrias, para que não sejam notados. Têm um “bico” curvo que
usam para furar besouros, gafanhotos e lagartas.
4. Os escaravelhos (Carabidae) são frequentemente encontrados debaixo de troncos
e lixo. Tanto os adultos como as larvas alimentam-se de insetos, lesmas, caracóis,
ovos de caracol e ácaros.
5. As crisopas tem asas de verde filigrana e olhos metálicos. De perto, as larvas
parecem monstros em miniatura. Tanto os adultos como as larvas caçam pulgões,
ácaros e mosca branca. As larvas comem pulgões, à taxa de 60 pulgões por hora,
e às vezes usam os corpos vazios das suas vítimas para servirem de camuflagem!
6. Os besouros soldados ou insetos piratas são magros, vermelhos acastanhados
ou amarelados, com longas antenas. São muitas vezes vistos em flores, mas tanto
adultos como as larvas são carnívoros. Segregam um material que liquefaz a sua
presa. Têm um bico curvado que perfura e suga as suas vítimas até deixá-las secas.
Cada adulto pode comer cinco a 20 larvas por dia.
7. As moscas ladras são uma família grande e útil. Alguns tipos são muito volumosos
e com parecenças às abelhas, os outros com a cintura mais fina imitam as vespas.
Ficam suspensas no ar antes de tirarem o néctar e o pólen às flores. As suas larvas
alimentam-se de pulgões (uma larva pode comer até 900 pulgões). Os adultos são
melhores predadores do que as joaninhas.
8. As centopeias alimentam-se de lesmas, caracóis (os seus ovos), ácaros e insetos.
Temos que ter cuidado, podem dar mordidelas dolorosas.
9. Aranhas e escorpiões também são caçadores dedicados. As aranhas usam seis
olhos, oito pernas, prendem em venenosas e pegajosas teias transparentes, para
caçar no solo ou no ar. Se encontrar teias em seu jardim, deixe-as onde estão!
190
NOTAS DE HORTICULTURA │ ANEXO
10. Muitas vespas e moscas são pequenos parasitas de outros insetos. E são aliados
valiosos. Alguns traquinídeos, por exemplo, põem os ovos em lagartas. Quando
estes eclodem, as larvas da mosca passam através da pele da lagarta e alimentamse dela.
11. Polinizadores Muitos insetos polinizam flores: abelhas selvagens, moscas e
borboletas. O mais conhecido é a abelha, que também nos dá o mel e a cera de
abelha. Sem polinizadores não haveria citrinos, frutos secos, frutas, café, melão,
pepino, abóbora ou outras frutas e vegetais. Sem eles, os agricultores não podem
cultivar, na verdade.
Fotos: Ken Gray, Oregon State University, www.govlink.org.
PLANTAS COMPANHEIRAS
O cultivo conjunto de certas variedades de plantas atraem insetos benéficos e mantém
afastadas as pragas. Geralmente, os cultivos mistos e os aromas intensos repelem os
inimigos da horta, e as flores atraem os insetos benéficos. As “culturas companheiras”
são uma forma natural de proteger as plantas.
Flores que atraem insetos benéficos
Como a camomila, cenoura, alho francês, trevo, coentros, margaridas, endro, cana, citrinos,
hortelã, capuchinhas, salsa, nabo, alecrim, arruda, tomilho e milefólio. Deixar que algumas das
suas hortaliças floresçam.
Plantas com cheiros fortes
Deixam os insetos “zonzos” com o seu odor forte são: aloé vera, artemísia,
manjericão, calêndula, camomila, erva-dos-gatos, pimentão, cebolinha,
citronela, alho, gengibre, marroio, lantana, lavanda, alho em pó, capimlimão, hortelã, cebola, atanásia, tomilho e tabaco.
Plantas que repelem as pragas do solo
O alho mata alguns fungos do solo. Algumas variedades de calêndulas
eliminam os nemátodos no solo. Deve-se plantar um tipo adequado. O
cheiro a repolho repele pragas do solo.
Combinações especiais
Algumas pessoas dizem que estas combinações funcionam bem. Experimente e veja!
•O manjericão repele as lagartas do tomate.
•As chagas repelem os insetos das abóboras.
•A calêndula, a hortelã, o tomilho e a camomila afastam as traças.
• Os nabos apanham escaravelhos que atacam o pepino e a abóbora.
•O tomilho e a alfazema afastam lesmas.
•A atanásia e o poejo afastam as formigas.
•Os tomates afastam os escaravelhos dos espargos.
•Os feijões quando plantados com forrageiras sachadas baralham
as pestes um do outro.
Fotos: Ken Gray, © Oregon State University, www.govlink.org.
191
ANEXO │ NOTAS DE HORTICULTURA
COMPOSTO
Composto, “ouro castanho”, é um ingrediente mágico para uma boa jardinagem. O
composto providencia nutrientes para que o solo se torne mais rico e fértil, mantem-no
húmido e arejado ao abri-lo, capturando e drenando a água.
Ingredientes do composto
A maioria dos materiais orgânicos podem ir para compostagem: palha, relva cortada, resíduos
orgânicos da cozinha, ervas, plantas, folhas, estrume animal, cinzas de madeira, animais e ossos
de peixe, penas, tecido de algodão, pedaços de couro ou de papel, solo. Não use alimentos cozidos,
pedaços grandes de madeira, plástico, metal, vidro, louça, arame, nylon, tecidos sintéticos, cinzas
de carvão, ervas com sementes e ervas daninhas muito resistentes.
Contentores para o composto
O composto pode fazer-se num cubo de plástico com uma tampa a protegê-lo. É melhor termos
três caixas: uma para fazê-lo, uma para movê-lo e uma para armazená-lo. Também pode ser feito
num buraco, numa caixa de cartão ou num saco de plástico grande e forte com orifícios para
entrar ar. O importante é mantê-lo a “cozinhar”, mantendo-o húmido e arejando-o.
Fazer o composto
Inicie o processo com uma camada de paus de madeira para a drenagem, depois uma camada
de relva, folhas e estrume e terra. Misture castanhos secos e molhados, e algum verde. Corte
as folhas muito grandes. Adicione uma última camada de terra, faça um buraco no meio para
deixar entrar o ar e a água, e cubra com erva ou com um pano para manter a pilha húmida.
Depois de passarem cinco dias, a pilha vai aquecer e ter bactérias a trabalhar para degradá-la.
Para manter a humidade do composto, ao fim de cerca de seis semanas virar a compostagem –
tirar o composto e colocá-lo de volta, ou movê-lo para a próxima bandeja, mantendo-o sempre
húmido. Virá-lo novamente dentro de poucas semanas. Depois de três meses, testá-lo. Se estiver
escuro, friável, leve e húmido, está pronto a ser usado.
Utilização do composto
Usar o composto assim que estiver pronto. Espalhar antes de plantar e no envasamento, e colocálo em torno de plantas que crescem a cada duas semanas. Não deixe secar: utilize-o no início da
noite, quando está frio, e cubra-o com palha para mantê-lo húmido.
Composto (folhas, relva, ervas
daninhas, restos vegetais, etc)
relva para o
manter húmido
192
ramos para
drenagem
Um pouco de
água para o
manter húmido
buraco
para o ar
camadas
de solo
NOTAS DE HORTICULTURA │ ANEXO
CONSERVAR ALIMENTOS DA HORTA
As regras gerais para processar alimentos são:
•Colher numa altura fresca do dia, por exemplo ao anoitecer.
•Escolher o que estiver maduro e em boas condições.
•Retirar qualquer parte que esteja estragada ou podre.
•Esterilizar o equipamento e lavar as mãos.
Dez projetos simples para a conservação de alimentos:
Pendurar réstias de cebolas, alhos, pimentos, ervas ou tomates cereja num local arejado e à
sombra.
Curar batatas doces, inhames e abóboras deixando-os num local quente e arejado durante uma
semana após a colheita. A pele vai endurecer e os alimentos duram mais tempo. Armazenar num
local escuro e seco.
Secar fruta e vegetais num local arejado. Colocar fatias de alimentos num tabuleiro/tapete
acima do solo e com as pernas dentro de água para prevenir a subida de insetos. Virar os alimentos
todos os dias até estarem secos (vegetais) e tipo couro, no caso da fruta. Os alimentos mais finos
(folhas de couve, por exemplo) podem ser secos inteiros. As legumes e frutos secos secam na
planta. Armazenar num local seco e protegido.
Usar um secador solar. Um secador solar é basicamente
uma caixa ou uma moldura com uma cobertura plástica. É
fácil de construir. O secador solar é mais rápido e conserva
melhor os alimentos. Demora cerca de três dias para fruta/
vegetais em fatias e dois dias para folhas. Armazenam-se os
alimentos em recipientes hermeticamente fechados.
Fazer farinha (abóbora, banana, batata doce, feijão frade) e
usar em bolos, biscoitos, panquecas. Secar os alimentos, moer,
peneirar e armazenar em recipientes hermeticamente fechados. No caso da farinha de banana,
apanhar a banana a ¾ de estar madura. Aquecer, descascar, fatiar e depois secar. Moer até obter
farinha, peneirar e armazenar. (FAO, 1995)
Fazer pele de fruta cozinhando-a, fazendo polpa e depois secando-a.
Para fazer com abóbora deve-se lavar, descascar, cortar e cozinhar, fazer
puré, escorrer, adicionar mel e especiarias, espalhar num tabuleiro
untado e secar num secador solar. Cortar em quadrados e embrulhar
em película aderente.
Picles de pepino. Lavar 3 kg de pepinos médios, frescos e rijos.
Colocá-los numa taça larga, misturar sal e água suficiente para cobrir
os pepinos. Deixar durante dois dias. Escorrer, enxaguar e fatiar.
Colocar dez chávenas de açúcar, dez chávenas de vinagre branco e especiarias num tacho e, a
lume brando, ferver até dissolver o açúcar. Adicionar os pepinos ao xarope quente durante uns
segundos e depois verter para jarros esterilizados e selar. (Cooks Com 2004)
193
ANEXO │ NOTAS DE HORTICULTURA
Fazer sumo de cenoura. Muito popular na Índia. Lavar 1 kg de cenouras e ralar para um
frasco. Adicionar 7 litros de água, 200 gramas de sal e especiarias picantes (chili ou sementes
de mostarda, por exemplo). Fechar bem, deixar uma pequena saída para os gases. Fermentar
durante uma a dez dias. Escorrer. Consumir em três a quatro dias.
(Battcock and Azam-Ali, 1998)
Fazer sumo de goiaba
Escolher goiabas maduras. Lavar, cortar as pontas e fatiar. Cobrir com água num tacho grande.
Ferver até estarem macias (15 a 20 minutos). Verter para um saco de pano cru e deixar coar.
Beber de seguida. Para engarrafar é preciso esterilizar as garrafas e as tampas, ferver o sumo
novamente e verter para as garrafas quentes, e selar. (FAO, 2004 website)
Tomates em frascos
Utilizar tomates chucha, maduros mas rijos. Lavar bem e retirar o que
estiver estragado. Mergulhar em água a ferver durante 30 segundos e
retirar a pele. Encher os frascos com o tomate. Adicionar uma colher
de sobremesa de sumo de limão/vinagre a cada frasco. Selar enquanto
estiver quente. Cobrir os frascos com água numa panela grande. Ferver
durante 30 minutos (frascos pequenos) e 50 minutos (frascos grandes).
Deixar arrefecer e etiquetar.
(FAO Rural Processing & Preserving)
ROTAÇÃO DE COLHEITAS
Quando plantamos as mesmas colheitas regularmente, precisamos de as rodar. Cada
colheita precisa de determinados nutrientes do solo e usa-os a um determinado nível. Em
simultâneo, cada planta atrai as suas pestes e doenças, que rapidamente se instalarão ao
redor da colheita. Se plantamos a mesma colheita época após época, os nutrientes que
a planta precisa rapidamente se esgotam, as plantas ficarão mais fracas e sensíveis ao
ataque de várias pestes e doenças.
A rotação de colheitas restaura o solo e afasta pestes e doenças. As principais famílias de colheitas
que devem ser rodadas são:
Legumes
leguminosae
Feijões e ervilhas
Solanáceas
solanaceae
Tomates, pimentos, batatas, pimentos picantes,
beringelas
Cucurbitáceas
cucurbitaceae
Pepinos, abóboras, melão
Brássicas
brassicaceae
Brócolos, couve, couve-flor, nabo
Cereais
gramineae
Milho, millet, sorgo, trigo
Bolbos
amaryllidaceae
Cebolas, alho-francês, alho, cebolinha
Umbelíferas
umbellifereae
Cenouras, funcho, chicória, cherivia, salsa, sésamo
Verduras
chenopodiaceae
and compositae
Beterraba, acelga, espinafre, alface
(Adaptado de Coleman, 1989)
194
NOTAS DE HORTICULTURA │ ANEXO
Algumas dicas para a rotação:
1.Fazer a rotação pelo menos durante três estações (cinco ou seis é melhor).
2.Mudar a família da planta de todas as vezes, não apenas a planta individualmente.
3.Deixar pelo menos um metro de distância quando for plantada a mesma colheita.
4.Plantar adubo verde como parte da rotação – cereais, feijões,
ervilhaca. Devolver matéria orgânica e recuperar o solo.
Cortá-los antes da floração e deixar como cobertura do
solo.
5.Deixar uma parte do terreno sem culturas (pousio)
como parte da rotação, para o solo descansar.
6.Plantar girassóis (ou alfafa) como parte da rotação. As
raízes são profundas e procuram nutrientes e água a
níveis mais profundos do solo.
7.Boas combinações:
- Milho depois dos legumes;
- Batatas depois do milho;
- Couve depois das cebolas.
As crianças mais velhas, com alguma experiência de horticultura, podem aprender os princípios
da rotação de colheitas e aplicar quando têm de tomar decisões sobre o que vão cultivar.
CANTEIROS
Canteiros elevados permanentes
Neste manual advogamos os canteiros elevados permanentes, que são fáceis de manter,
altamente produtivos e excelentes para melhorar o solo.
Fazer canteiros elevados
Marcar os canteiros
Cavar os canteiros, cerca de
40 cm de profundidade
Aplanar o topo
dos canteiros
Não andar por cima,
nem pisar o solo
Adicionar composto/
estrume/matéria
orgânica (30 cm) e regar
e colocar o solo por cima
Adicionar a primeira
camada de solo dos
caminhos aos canteiros
Proteger a estrutura
do solo, não o virando,
adicionar composto e
cobertura do solo
Plantar densamente:
reduz as ervas e
conserva a humidade
195
ANEXO │ NOTAS DE HORTICULTURA
Usar canteiros elevados
• Nao andar ou ajoelhar-se em cima dos
canteiros espezinhando o solo. Poderia
danificar a sua estrutura.
• Adicionar composto e cubrir com matéria
orgánica, mas nunca escavar de novo o
canteiro.
• Plantar densamente para evitar ervas
daninhas e preservar a humidade do solo.
Outros tipos de canteiros
Canteiros planos são fáceis de fazer, mas não muito produtivos.
Canteiros fundos para recolher água são bons em climas secos ou nas estações secas.
Canteiros sulcados são bons para culturas de raízes. Os cumes ajudam a chuva a escorrer e a
não tornar o solo pesado.
Permacultura quando o solo é pobre, os canteiros de permacultura são feitos por cima do solo.
Vasos/recipientes são móveis, bons para espaços limitados e para demonstrar.
COLHEITA
Os hortelões devem saber se o que vão colher deve
amadurecer na planta ou se também amadurece
sem estar na planta.
A colheita deve assegurar que os produtos são
frescos e não estão estragados. Deve ser feita
numa altura fresca do dia. Os produtos devem
ser manuseados com cuidado. Deve-se armazenar
apenas os alimentos que estão em bom estado, e
usar mais rapidamente os que estão danificados. O
armazenamento deve ser feito em condições de temperatura baixa e ar seco. A fruta deve
ser cuidadosamente embalada para o transporte. As plantas que não são colhidas devem
ser deixadas no solo como composto.
PLANTAS SAUDÁVEIS
A gestão integrada de pestes implica uma série de métodos naturais no sentido de reduzir
o controlo necessário. Deve-se assegurar que as plantas são saudáveis, isto como primeira
estratégia. As plantas devem ser monitorizadas regularmente e tratadas imediatamente.
De seguida, apresenta-se uma lista de tarefas com os principais pontos a verificar
196
NOTAS DE HORTICULTURA │ ANEXO
Tarefas | Patrulhar as plantas
1. Crescimento
As plantas cresceram? Em que fase estão? Há fruta/sementes?
2. Saúde
Estão com bom aspeto? Existem sinais de pestes ou doenças? Existem plantas
murchas? Existem folhas caídas, folhas comidas, amarelas, com fungos?
3. Criaturas da horta
Que insetos/minhocas/animais é que existem? Existem bastantes criaturas
benéficas (crisopas, joaninhas, sapos, lagartos)?
4. Solo/Água
O solo está seco? Que plantas ou canteiros precisam de água? Há demasiada
humidade?
5. Cobertura do solo
A cobertura do solo é suficiente? Onde é que é necessária mais?
6. Proteção
A nossa proteção é eficaz contra os predadores (vedações, muros, espantalhos)?
7. Vento e sol
Há demasiado vento, sol ou sombra em alguma zona?
8. Espaço
Há algum espaço superlotado? Alguma planta precisa de ser transplantada?
9. Ervas
Existem muitas ervas perto das plantas?
10. Apoio
Há alguma coisa a precisar de apoio?
11. Higiene
Alguma coisa a precisar de ser cortada? Queimada?
12. Composto
Existe composto suficiente? E cobertura de solo?
PULVERIZADORES CASEIROS
Os pulverizantes indicados de seguida são baratos e eficazes contra uma grande variedade
de pestes, e também relativamente seguros para as crianças fazerem e usarem.
Pesticida feito de chili
Para controlar os afídios e outros insetos sugadores. Fatiar uma mão cheia de chilis secos e
algumas cebolas ou alhos, misturar num litro de água. Ralar uma mão cheia de sabão. Deixar
durante a noite, coar por um pano e adicionar cinco litros de água. Escorrer, borrifar ou pulverizar
as plantas afetadas, mas sem luz solar direta. Não deixar que
toque a pele ou os olhos. Se a planta deixar uma queimadura, é
preciso tornar a mistura mais fraca adicionando água. Repetir
o tratamento as vezes que forem necessárias. (Adaptado da FAO, 2001)
Água com sabão
Para insetos sugadores. Usar uma a duas colheres de sopa de
detergente líquido normal para 4,5 litros de água. Pulverizar
as vezes necessárias, especialmente por baixo das folhas.
Aumentar a quantidade de sabão, se necessário. (Guy et al., 1996)
197
ANEXO │ NOTAS DE HORTICULTURA
Farinha ou cinza
Dica
Espalhada nas folhas para sufocar as lagartas.
Os pulverizadores nem sempre são
A farinha é também um veneno para os
fáceis de encontrar. Um pincel largo,
estômagos delas. (Chris Landon-Lane, 2004)
uma vassoura ou um ramo de ervas
Pulverizante de chá ou café
funciona bem. Mergulhar num balde
Para afastar os insetos. Diluir café em pó ou
com a mistura e passar nas plantas.
folhas de chá em água e pulverizar as plantas.
Pulverizante de óleo branco
ara sufocar os insetos que sugam e roem. Fazer uma mistura de concentrado com meio litro de
óleo vegetal e meia chávena de detergente ou sabão dissolvido em água. Para pulverizar, misturar
uma colher de sopa da mistura num litro de água. Se armazenar a mistura, deve ser agitada
antes de usar. (Adaptado de ABC Brisbane, 2004)
Sumo de folha de tomate
É utilizado para controlar afídios e lagartas em muitas plantas. Ferver 500 gramas de folhas
de tomate em 5 litros de água. Coar e dissolver 30 gramas de sabão à mistura. Para pulverizar,
usar uma parte de mistura para quatro partes de água. Não usar esta mistura em tomateiros ou
membros da família do tomate.(ABC Brisbane, 2004)
Sumo de folhas de calêndula
Feito da mesma forma que o sumo de folhas de tomate, é um pesticida de espectro largo (até
afasta moscas e cães!). A calêndula selvagem, que aparece nos prados, na beira da estrada ou em
qualquer caminho, é muito mais eficaz que uma variedade de jardim.
CULTURA INTERCALAR
A cultura intercalar (cultivar diferentes culturas ao pé umas das outras) ajuda à conservação
do solo e protege as plantas. Uma horta multicamada, com plantas em diversos estratos,
a diferentes alturas, é uma forma de cultura intercalar que aproveita bem o espaço
disponível e o sol.
Juntar plantas com diferentes necessidades elimina a competição entre elas. Nomeadamente:
• Plantas altas ao pé de plantas pequenas,
por exemplo milho e couve, brócolos e
espinafres ou alface, árvores de frutos
e vegetais;
•Plantas com raízes profundas ao pé
de plantas com raízes superficiais, por
exemplo milho, sorgo e ervilha;
•Plantas trepadeiras ao pé de plantas
rasteiras, por exemplo maracujá,
feijões e milho com alface, cebolas,
cenouras e abóbora;
Milho, abóbora, feijão, milho, abóbora, feijão, milho
•Folhas largas ao pé de folhas estreitas, por exemplo couve e cenouras.
198
NOTAS DE HORTICULTURA │ ANEXO
COBRIR O SOLO
Cobrir o solo significa colocar matéria orgânica seca (erva,
palha, folhas) numa camada de cerca de 6 cm à volta da base
das plantas. Assim mantém-se a humidade do solo, a superfície
do solo fresca e solta, previne-se o crescimento de ervas junto à
planta e a decomposição lenta dessa matéria orgânica enriquece
o solo. É particularmente útil quando o solo é pobre ou onde
há pouca água, em climas quentes e nas estações quentes. A
melhor cobertura do solo é clara e reflete a luz. As ervas devem
ser usadas antes de produzirem sementes, caso contrário
estaremos a introduzir competição em vez de reduzirmos.
NUTRIENTES E FERTILIZANTES
As plantas precisam de:
•Potássio para a saúde e força;
•Azoto para as folhas e crescimento;
•Fósforo para as raízes, flores e fruta.
Os fertilizantes fornecem estes nutrientes. Existem:
•Fertilizantes inorgânicos (por exemplo, nitrato de amónio, sulfato e fosfato de amónio)
são bastante caros. Dão resultados rápidos, mas não contribuem para a estrutura do solo.
• Fertilizantes orgânicos (por exemplo, algas, estrume, sangue e osso). Estes são mais baratos
que os inorgânicos. Melhoram a estrutura do solo enquanto lhe fornecem nutrientes.
•Fertilizantes biológicos caseiros (por exemplo, adubo verde, composto e estrume animal).
Estes são os mais baratos, melhoram a estrutura do solo e também lhe fornecem nutrientes.
Estrume animal
Deve-se usar o estrume de animais herbívoros. O estrume fresco
de animais fere as raízes: ou deixa-se repousar durante seis meses
ou adiciona-se ao composto.
Adubo verde
Dá um solo rico e arejado. Cultiva-se leguminosas que
posteriormente se integram no solo ou são usadas para composto.
Por exemplo:
•(grandes culturas) feijões e ervilhas, tremoço, ervilhaca.
•(sebes) leucaena, flemingia sp., gliricidia sp., pigeon pea, erva guiné, setaria sp. Podar e deixar os
ramos no solo.
199
ANEXO │ NOTAS DE HORTICULTURA
Materiais orgânicos específicos fornecem nutrientes específicos. Coloque-os no composto.
Nitrogénio N
Fósforo P
Potássio K
Ossos
Cinza de madeira
Restos de peixe
Adubo verde
Folhas e caules de bananeiras
Estrume de galinha
Composto e estrume
Plantas ricas em óleo
Borras de café
AGRICULTURA BIOLÓGICA
Os hortelões que praticam agricultura biológica usam métodos
naturais para proteger e melhorar o solo, controlar as pragas
e doenças e aumentar a produção. Alguns dos métodos são a
rotação de colheitas, usar composto e estrume, fazer canteiros
elevados permanentes, cobrir o solo, retirar as ervas que estão em
competição, usar boas sementes, cultivar variedades locais, tratar
bem as plantas, ter plantas companheiras, não utilizar pesticidas e
inseticidas artificiais, captar água da chuva e usar rega gota-a-gota. A
maioria destes pontos são detalhados nestas notas; vamos sintetizar
os pontos mais importantes para demonstrar a mais valia das abordagens biológicas.
Manter o solo saudável
O solo está cheio de nutrientes, que vão para os alimentos que comemos. Quando colhemos os
alimentos estamos a remover esses nutrientes. Se não repusermos no solo o que retiramos, o solo
esgota-se e não consegue produzir boas colheitas. Os bons hortelões têm de proteger e manter
o solo. Como é que se pode fazê-lo? Os fertilizantes químicos devolvem nutrientes ao solo, mas
são prejudiciais para as minhocas e para outros microrganismos do solo que são benéficos; por
outro lado, também são dispendiosos. Podem queimar as raízes, são rapidamente dissolvidos e
lixiviados para maior profundidade.
200
NOTAS DE HORTICULTURA │ ANEXO
Os hortelões biológicos protegem e mantêm o solo de outras formas:
•Rotação de colheitas – cada colheita precisa de diferentes nutrientes do solo. Se fizermos
rotação de colheitas, estamos a dar ao solo a oportunidade de recuperar.
•Composto, estrume e cobertura de solo – os materiais orgânicos apodrecem devagar no
solo libertando nutrientes e melhorando a drenagem, mantendo o solo húmido e arejado.
•Canteiros elevados permanentes – o solo não é só uma mão cheia de nutrientes. É
uma estrutura e um sistema, cheio de vida e atividade. Uma vez que se começa a criar
um solo saudável, não se deve interferir. Por exemplo, se cavamos profundamente ou se
caminhamos por cima dos canteiros, retiramos o ar, tornamos a terra rija, destruímos as
minhocas e outros organismos vivos úteis para o solo. Por isso é importante ter canteiros
elevados permanentes e deixar as plantas e o solo cultivarem por nós.
Manter as plantas saudáveis
Uma forma conhecida de reduzir as pragas e doenças é através
de pulverizantes químicos. Mas esta é uma forma dispendiosa
e que cria outros problemas. Os pesticidas são venenos: matam
insetos que polinizam as plantas e também pássaros e insetos
que se alimentam de pragas. Também nos podem envenenar a
nós quando pulverizados nos alimentos ou inalados após a sua
aplicação.
A forma natural de lutar contras as pragas e doenças é tornar as
plantas saudáveis e resistentes. Escolher boas sementes e variedades locais, adicionar composto,
apanhar as ervas e cobrir o solo para reduzir a competição, controlar as pragas e verificar as
plantas regularmente.
Ter a certeza de que as plantas têm água suficiente, mas não em demasia. Manter o solo húmido
e adicionar composto, o que o ajuda a drenar bem. Quando se trata de um local em que a água é
escassa, deve-se recolher água da chuva ou usar as águas cinzentas – por exemplo, usar rega gota
a gota para irrigar, cobrir o solo para evitar que a água evapore. As águas cinzentas ou as águas
residuais são aquelas que resultam de lavar as mãos e a roupa, etc. Habitualmente têm sabão, por
isso são um beneficio extra para ajudar a controlar as pragas.
Os hortelões biológicos encorajam os insetos benéficos como abelhas, borboletas e joaninhas,
tendo plantas que os atraem. Afastam pragas perigosas ao terem plantas companheiras com
fortes aromas e apanhando insetos prejudiciais. Usam pulverizantes que não prejudicam pássaros
ou abelhas, são inseticidas naturais que desaparecem depois de terem feito o seu trabalho.
PRAGAS
Alguns exemplos de pragas prejudiciais:
Mastigadores
A maioria dos mastigadores são suficientemente grandes para serem vistos com facilidade. Se
houver buracos nas folhas e fruta, pontas rasgadas ou bocados que faltam, é preciso procurar
por lagartas, escaravelhos, gorgulhos, gafanhotos, lesmas e caracóis. Se a planta estiver murcha,
procurar grilos que comem as raízes, escaravelhos e centopeias.
201
ANEXO │ NOTAS DE HORTICULTURA
1. Lagartas* (Lepidoptera) Exemplo: borboletas e larvas da couve.
As lagartas verdes, com riscas pálidas nas costas. Encaracolam-se quando
andam, formando um pequeno arco. Comem folhas de toda a família das
couves.
2. Gorgulhos* (Curculionidae) Exemplo: gorgulho vegetal.
Tipicamente com 10 mm de comprimento, cinzento acastanhado. Fazem
buracos nas folhas, nas raízes de vegetais e nos topos das plantas. Alimentam-se
à noite e abrigam-se no solo durante o dia.
3. Lesmas e caracóis* (Moluscos Stylommatophora)
Escorregadios e de corpo mole. O caracol tem uma concha, a lesma não.
Deixam um rasto prateado. Comem as folhas e os rebentos.
Sugadores
Se as plantas estiverem murchas ou atrofiadas, com folhas encaracoladas, amareladas ou
destorcidas, ou se houver fumagina nos citrinos, deve-se procurar por afídios, scale, cochinilhas
farinhosas, tripes, gafanhotos ou mosca branca.
4. Afídios* (Aphididae)
Insetos pequenos, amarelados ou cinzentos/pretos, com cerca de 2 a 5 mm de
comprimento. Sugam a seiva das plantas a partir das folhas, rebentos, caules e
vagens de plantas, árvores de fruta e cereais, e deixam uma secreção pegajosa.
Atacam as famílias dos feijões e couves.
5. Mosca branca* (Aleyrodidae) Exemplo: Mosca branca dos citrinos.
Insetos minúsculos, como afídios com asas. Parecem-se com scale por baixa
das folhas e voam em nuvens se perturbados. Sugam a seiva das plantas.
6. Insetos-escama, cochinilhas-farinhentas* (Coccidae)
As escamas ou lapinhas são ovais, azuis/vermelho, encerados. Sugam a seiva
das plantas a partir dos seus caules, folhas e raízes. As cochinilhas farinhentas
são pragas pequenas brancas e felpudas que se encontram por baixo das
plantas.
7. Insetos-de-escudo, percevejos-fedorentos** (Pentatomidae) Exemplo:
percevejo-fedorento.
Verdes brilhantes, 12 mm, em forma de escudo, produzem mau cheiro quando
esmagados ou perturbados. Deixam manchas na fruta e vagens deformadas.
8. Cigarrinhas** (Cicadellidae) Exemplo: Cigarrinha-verde.
Cabeça larga, asas transparentes, com 5 mm de comprimento, por vezes com
cores brilhantes. Voam em nuvens se perturbadas. Sugam a seiva por baixo
das folhas e deixam áreas manchadas e branqueadas.
Fotos: * Ken Gray, Oregon State University, www.govlink.org
** © Robert Bercha, www.insectsofalberta.com
202
NOTAS DE HORTICULTURA │ ANEXO
PROBLEMAS DAS PLANTAS
Nem sempre é fácil dizer se uma planta está a sofrer devido a uma doença, falta de água
ou nutrientes ou pragas, uma vez que um único sintoma (murchar) pode ser sinal de
qualquer um destes fatores. Mas alguns sintomas são mais específicos.
Sintomas
Doença
Dieta
Água
Pragas
Murchidão
Marcas de mosaico
Murchidão
Podridão
Escorrer seiva
Folhas enroladas Estrias amarelas e vermelhas
Pintas
Folhas descoloradas
Manchas pretas com bordas amarelas
Pó nas folhas
Falta de azoto
- Veios amarelos nas folhas
- Crescimento atrofiado
- Folhas pálidas
- Coloração vermelha
- Plantas vizinhas com o mesmo problema
Falta de potássio
- As bordas das folhas têm um ar
chamuscado
- Manchas castanhas entre os veios das
folhas
Falta de fósforo
- Folhas ou caules roxos
Pouca
Murchar
Pontas das folhas
queimadas
Atrofiar
Folhas amarelas
Demasiada
Murchar
Amarelar
Apodrecimento das
raízes
Apodrecimento dos
caules
Insetos sugadores​
Insetos em folhas
Secreções peganhentas
Insetos em folhas
Folhas ou frutas secas, pálidas ou
castanhas
Insetos “mastigadores”
Buracos
Arestas danificadas
Cura
Destruir
Queimar as plantas infetadas e começar de novo.
Usar sementes novas.
Plantar noutro local
Deixar o canteiro secar antes de plantar novamente.
Nutrir
Para todos os problemas, adicionar composto, cobrir
o solo e fazer rotação das plantas.
Para o azoto, adicionar composto, adubo verde e
leguminosas.
Para o potássio, adicionar cinza de madeira ou casca
de árvores.
Para o fósforo, adicionar estrume de galinha ou ossos
de animais ao composto.
Regar ou Drenar
Regar regularmente ou drenar o canteiro.
Apanhar, limpar, armadilhar, pulverizar!
Apanhar à mão as lagartas, lesmas, caracóis,
escaravelhos – procurar esconderijos.
Limpar mosca branca, escamas e cochinilhas à mão.
Armadilhar mosca branca com armadilhas
pegajosas. Barrar cartão amarelo com vaselina. As
moscas brancas gostam do amarelo. Para as lesmas a
armadilha pode ser um recipiente enterrado até meio
com cerveja ou leite ou cinza/serradura à volta das
plantas.
Pulverizar com pesticidas naturais ou pó de cinza de
madeira ou farinha. Pulverizar por baixo das folhas
também.
Polícia das pragas. Deixar os patos e as galinhas à
solta. Trazer joaninhas, encorajar os sapos e lagartos.
203
ANEXO │ NOTAS DE HORTICULTURA
PLANTAR E TRANSPLANTAR
Semear em grandes canteiros ou diretamente no solo
•Deve-se preparar o solo removendo pedras, buracos e raízes.
•As sementes devem ser semeadas a uma distância que permita a coexistência das plantas
quando tiverem atingido o seu tamanho máximo. Usar fios para marcar as linhas e
paus para servirem de medidas para as
distâncias entre plantas. Fazer sulcos
com uma profundidade três vezes maior
que o diâmetro da semente.
•Adicionar um bocadinho de composto e
colocar as sementes.
•Cobrir as sementes e pressionar.
•Regar cuidadosamente e manter
húmido.
•Proteger as sementes do sol, chuva e
predadores cobrindo o solo.
Sementes pequenas
Precisam de ser semeadas em viveiros protegidos desbastadas e depois plantadas.
Os viveiros de sementes podem ser:
•Caixas, tabuleiros, sacos com buracos para drenarem. Estes são facilmente movidos.
•Um canteiro elevado sombreado e com proteção dos predadores.
•Tabuleiros de sementes com compartimentos reutilizáveis. Transplantar os germinados
com o seu torrão de solo protege as sementes.
Um tabuleiro de sementes na sala de aula é bom para estudar. Pode-se cobrir o tabuleiro com um
pano húmido até as sementes germinarem.
Preparação
Preparar um canteiro de solo rico,
sem buracos, paus ou pedras. Retirar
as ervas e aplanar com uma tábua.
Preparar uma estrutura para sombrear
o canteiro e protegê-lo do sol e da
chuva. Proteger o canteiro de sementes
dos predadores.
Semear
Misturar as sementes com solo ou areia
fino. Fazer sulcos no solo com alguns
cm de profundidade e cerca de 15 cm
de distância. Espalhar as sementes e
cobrir levemente. Regar bem, mas não
inundar. Etiquetar as filas.
Crescer
Regar cuidadosamente duas vezes por dia – de manhã e à noite. Quando as plântulas aparecem,
deve-se cobrir o solo para mantê-lo fresco e húmido e reduzir a competição.
204
NOTAS DE HORTICULTURA │ ANEXO
Fortalecer e desbastar
Quando os rebentos tiverem duas folhas. Fortalecer durante dez dias com sol todos os dias.
Quando tiverem cerca de 8 cm, desbastar para ficarem afastados cerca de 5 cm, cortando com
uma tesoura ao nível do solo.
Transplantar/plantar
Transplantar quando está fresco para canteiros elevados. Marcar as linhas e os buracos. Escolher
as plantas fortes, retirá-las com um bocadinho de solo e manter as raízes intactas. Plantá-las em
buracos, encher com solo, regar de seguida e cobrir o solo à volta das plantas.
PROTEGER A HORTA
As formas de proteger o jardim devem ter em consideração os predadores animais mais
comuns no local, o seu número e tamanho, o que é que eles vão atacar e como se movem
(voam, rastejam, escavam, saltam). Medidas locais são habitualmente as mais económicas
e eficazes porque fazem uso dos materiais disponíveis.
Algumas medidas protetoras são:
•Paredes feitas de tijolo, betão ou terra são fortes,
mas requerem muito trabalho. É necessário fazer
fundações para evitar que os animais escavadores
consigam passar. Muros de pedra seca precisam de
manutenção permanente. Paredes de taipa são fáceis
de fazer, mas precisam de telhas por cima para a
água não se infiltrar.
•Vedações feitas de ramos de arbustos, vime ou
bambo são leves e fáceis de manusear, mas precisam
de ser renovados todos os anos. Vedações mais
permanentes, de arame e com postes de cimento,
devem ser enterradas meio metro para impedir a
passagem dos escavadores. Uma vedação elétrica a
energia solar afasta animais grandes.
•Sebes vivas afastam os animais grandes. Pode-se usar
plantas com espinhos ou que formem uma estrutura
espessa. Algumas também dão frutos.
•Redes são dispendiosas e tomam algum tempo, mas são
eficazes, afastando pássaros, animais e insetos da fruta.
•Espantalhos (metal brilhante ou fitas de plástico) são
divertidos para as crianças, que podem assim observar,
desenhar e contar histórias sobre eles.
• Ao nível da raiz, mini-cercas, paus ou espinhos protegem
as plantas jovens. Cobrir com ramos secos ou paus afasta galinhas e pássaros. As galinhas
são muito benéficas para a horta porque raramente destroem as plantas, arejam o solo
escavando e ajudam a controlar pragas. As tagetes (cravos púnicos) podem ser plantadas
como mini vedações à volta das plântulas.
205
ANEXO │ NOTAS DE HORTICULTURA
LANCHES E BEBIDAS DO JARDIM
Alguns aperitivos
Fruta, cana de açúcar, batata doce, cenouras, aipo, maçaroca, bolos e
arroz, frutos secos, sementes de girassol, feijões e ervilhas jovens e crus,
germinados de alfafa, cevada, trigo, feijões, abóbora, pipocas.
Algumas bebidas
Sumos de fruta e de vegetais, chás de ervas.
GESTÃO DA ÁGUA
Para zonas e estações húmidas:
• Cavar buracos e canais para drenar a
água.
• Adicionar composto para drenar solos
calcários.
• Plantar plantas que gostam de água.
• Proteger as plantas jovens da chuva
forte.
• Ter plantas trepadeiras em vasos.
• Não cobrir demasiado o solo.
Para zonas e estações secas:
• Usar águas cinzentas da lavagem.
•Recolher água da chuva através de
canais e cisternas.
•Ter as colheitas próximas da água.
•Prevenir o escoamento de água –
colocar os canteiros ao longo das
curvas de nível e plantar vedações.
•Conservação de água – usar um
sistema de rega gota a gota, e não um
aspersor.
•Sombrear as plantas jovens.
•Remover as ervas que podem competir
pela água.
•Ter culturas apropriadas aos climas
secos (feijão mongo, beringela, manga,
amendoim, quiabo).
IRRIGAÇÃO
Métodos de irrigação de plantas
•Inundar o canteiro – em locais secos podem-se fazer canteiros cavados, para que
mantenham a água.
•Irrigação gota a gota – usar uma mangueira furada.
•Regar à mão com um regador ou uma garrafa de plástico com furos.
•Fazer armadilhas para a água – isto é, manter a água num local cavando uma caldeira à
volta da planta.
•Regar as plantas individualmente com recipientes enterrados, que libertam água
lentamente.
206
NOTAS DE HORTICULTURA │ ANEXO
Conselhos para a irrigação
•Regar cuidadosamente as sementes e
plântulas.
•
Não derrubar plantas ao regar em
excesso. Se for necessária muita água, é
melhor regar por fases.
•Deve-se regar o solo e não as plantas.
Fornecer a água às raízes. Regar as folhas
pode prejudicar a planta.
•Não deve usar um aspersor porque
desperdiça água.
•Deve-se medir a humidade todos os dias com um pau de medida. Quando os primeiros 3
cm estão secos, é altura de regar.
•Deve-se regar de manhã e à noite quando está fresco, para que a água não evapore.
•As raízes profundas não precisam de água: deve-se deixar as plantas secarem entre regas,
para promover o crescimento das raízes.
ERVAS DANINHAS
As ervas só são prejudiciais se ameaçarem as colheitas. Algumas ervas atraem pragas como
afídios e podem retirar luminosidade às colheitas, água e nutrientes, mas outras atraem insetos
benéficos como abelhas e borboletas. E outras tornam o solo mais rico em azoto. Aqui ficam
alguns elementos para uma prevenção biológica das ervas:
•Prevenir o crescimento de ervas preenchendo o espaço entre plantas com cobertura do
solo ou vegetais rastejantes ou rasteiros (por exemplo abóboras, batatas doces e outras).
Criar sombra através de culturas intercaladas.
•Remover ervas quando o solo está
húmido. Tentar apanhá-las quando são
pequenas ou pelo menos antes de darem
semente. Evitar o herbicida: pode matar
insetos benéficos e plantas, envenena o
solo e pode fazer mal às crianças.
•Usar as ervas como cobertura do solo
ou composto (se não estiverem com
sementes).
•Deixar um canteiro com ervas que dão
flores para atrair os insetos benéficos.
207
NOTAS
208
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210
UMA NUTRIÇÃO E UMA EDUCAÇÃO ADEQUADAS são fundamentais para o
desenvolvimento das crianças e para o seu futuro. No entanto, a realidade é que estes dois aspetos
essenciais não fazem parte da vida de milhões de crianças...
O futuro de um país depende da sua juventude. Contudo, as crianças que vão para a escola com fome
não aprendem bem. Apresentam uma baixa atividade física, capacidades cognitivas reduzidas e
baixa resistência a infeções, por exemplo. O seu desempenho escolar é muitas vezes fraco e podem
até desistir da escola cedo. A longo prazo, a má nutrição crónica diminui o potencial individual e
tem efeitos adversos na produtividade, na remuneração e no desenvolvimento nacional.
As escolas podem dar um contributo importante para os esforços efetuados por um país no
combate à fome e má nutrição, sendo que as hortas escolares podem ajudar a melhorar a nutrição
e a educação das crianças e das respetivas famílias, quer em meios rurais, quer em meios urbanos.
A FAO promove as hortas escolares como uma plataforma de aprendizagem, acima de tudo, mas
também como um veículo que pode dar origem a uma melhor nutrição, por assim dizer. As escolas
são encorajadas a criarem hortas para aprendizagem – estas devem ser moderadas no tamanho,
para que possam ser facilmente geridas pelos alunos, professores e pais, mas também devem
permitir a produção de uma boa variedade de vegetais e frutos. E deve ser possível igualmente
criar animais de pequeno porte, como galinhas e coelhos. Os métodos de produção são simples,
para que possam ser facilmente replicados pelos alunos e pais em suas casas.
Na preparação deste manual, com o objetivo de apoiar os professores, os pais e a comunidade
em geral, a FAO juntou experiências e as melhores práticas de iniciativas de hortas escolares
em todo o mundo. As aulas estão ligadas à aprendizagem prática na horta sobre a natureza e o
ambiente, apresentam os conceitos de produção de alimentos e marketing, implicam a preparação e
o processamento de alimentos, e ainda ajudam a tomar decisões alimentares saudáveis.
Para mais informações consultar: http://www.fao.org/nutrition/en/
A0218Pt/1/05.16
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