EFEITO DO TIPO DE SUBSTRATO NA MICROESTAQUIA DE AMOREIRA-NEGRA Leonardo Albuquerque Marenga de Arruda1, André da Silva Xavier1, Ana Paula Oliveira de Barros1, Augusto Pontes Almeida1, Aldenir de Oliveira Alves²; Rosa Maria Nunes Galdino3 Introdução A amoreira-negra (Morus nigra L.) é utilizada tanto como medicinal quanto alimentícia, e é pertencente a família Moraceae, em que se incluem também a jaca, figo, fruta-pão e a umbaúba [1]. O gênero Morus é também conhecido por conter inúmeros compostos fenólicos incluindo flavonóides, isoprenilados, cumarinas, cromonas e xantonas, sendo estes em sua maioria detentores de propriedades, tais como atividades antiinflamatória, diurética e efeitos hipotensores [2]. Além de fatores internos relacionados com o enraizamento na propagação de plantas, alguns fatores externos também estão relacionados com o processo, como é o caso do substrato, que apresenta um papel fundamental para o desenvolvimento das raízes nas estacas. O substrato deve possuir baixa densidade, boa capacidade de absorção e retenção de água, boa aeração e drenagem para evitar o acúmulo de umidade em excesso, além de ser isento de pragas, patógenos e substâncias tóxicas [3]. Um substrato apropriado para enraizamento deve apresentar algumas outras características básicas, como promover a sustentação das estacas durante o período de enraizamento, proporcionar um ambiente escuro e opaco, reduzindo a penetração da luz na base da estaca e permitir aeração. É importante que tenha boa porosidade a fim de haver oxigenação, um dos fatores importantes na atividade celular durante o processo de formação de calos e da emissão de raízes [4]. Diante do exposto, a presente pesquisa teve como objetivo avaliar o efeito de diferentes tipos de substratos na produção de mudas de amoreira-negra através de microestaquia. Material e métodos A) Preparo das microestacas Durante o período de março de 2009, foram coletadas microestacas caulinares herbáceas foram padronizadas medindo cerca de 6 cm de comprimento e 2 mm de diâmetro, deixando-se as folhas das mesmas. A planta matriz de onde foram obtidas as estacas é do município de Camaragibe (Aldeia) (08º01'18" S e 34º58'52" W). B) Preparo dos substratos e plantio Os tratamentos compreendidos por diferentes tipos de substratos consistiram em T1: Solo + Pó de coco + cama aviária (1:2:1); T2: Solo + Pó de coco + Esterco de bovino (1:2:1); T3: Solo + Pó de coco + Esterco de caprino (1:2:1); T4: Areia lavada e T5: Areia lavada + Pó de coco (1:1). As microestacas foram plantadas em bandejas plásticas contendo os diferentes tratamentos, sendo submetidas a uma câmara úmida confeccionada com saco plástico transparente umedecido, a qual permaneceu por um período de 96 horas. Após 60 dias foram, avaliados os seguintes parâmetros: número de folhas, comprimento da maior raiz e percentagem de sobrevivência das estacas. O experimento foi conduzido durante o período de março a junho de 2009. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, constituído de cinco tratamentos, com quatro repetições, sendo a unidade amostral constituída por vinte microestacas de amoreira-negra. Os dados foram submetidos à análise de variância para comparação das médias pelo de Tukey (P≤ 0,05), utilizando o programa SAEG® 9.0. (Sistema para Análises Estatísticas e Genéticas – Universidade Federal de Viçosa), transformados em log (x +1) e considerados significativos os resultados com probabilidade menor que 5%. Resultados e discussão O tratamento com areia lavada e pó de coco (T5) foi o que apresentou um melhor desenvolvimento das estacas de amoreira-negra, quanto a sobrevivência, com uma percentagem média de 77,5% de estacas vivas e comprimento da maior raiz, com uma média de 4,55 cm, quando comparado com os demais tratamentos (Tabela 1). Na sobrevivência das estacas os demais tratamentos não diferiram entre si, a citar o solo + pó de coco e os diferentes tipos de esterco, bem como a areia lavada. A areia lavada + pó de coco obteve uma maior quantidade de folhas, no entanto não diferiu do T1 e T3. Quanto ao comprimento da maior raiz, o T5 teve um melhor resultado, seguido da areia lavada, e os demais tratamentos não diferiram entre si significativamente. Segundo Couvillon [5] o substrato pode ser determinante para o sucesso do enraizamento de estacas, muito embora para algumas espécies vegetais, e/ou mesmo cultivares, o substrato não lhe cause qualquer efeito. Entretanto, sabe-se que não existe um _____________________________________ 1. Leonardo A. M. de Arruda, André da S. Xavier, Ana Paula O. de Barros, Augusto P. Almeida são estudantes de Graduação em Engenharia Agronômica, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Av. Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife-PE. CEP: 52171-900. E-mail: [email protected]. 2. Aldenir O. Alves é Aluna do Doutorado em Fitopatologia, UFRPE. 3. Rosa Maria N. Galdino é Bióloga do Departamento de Biologia, Área de Microbiologia, UFRPE. E-mail: [email protected]. substrato ideal ou universal para o enraizamento de estacas. A areia lavada é um dos melhores substratos para o enraizamento de algumas plantas de interior e sempreverdes, que deve ser fina o suficiente para reter umidade ao redor das raízes e ao mesmo tempo, permitir uma boa drenagem. Dessa forma, vem sendo muito utilizada no enraizamento de estacas, tanto isoladamente como em misturas, sendo um dos melhores [6]. O pó de coco, por sua vez, é um material vegetal natural, renovável, muito leve, que apresenta uma estrutura física vantajosa, proporcionando alta porosidade e alto potencial de retenção de umidade, além de ser biodegradável [7]. A junção destes dois substratos com características peculiares permitiu um melhor desenvolvimento das estacas de amoreiranegra. De acordo com Oliveira et al. [8] em um trabalho testando diferentes substratos para o enraizamento de estacas de oliveira, foi observado que o substrato constituído de areia/terra 1:1(v/v) foi o que ofereceu melhores condições para o enraizamento dessa espécie. A baixa porcentagem de sobrevivência observada nas mudas de amoreira-negra em boa parte dos substratos estudados é indício de que esta difícil adaptabilidade a estes substratos está ligada provavelmente as condições desfavoravés promovidas por estes na propagação deste espécie. Segundo Fachinelo et al. [9] a época de coleta dos ramos é outro fator que afeta o enraizamento, estritamente relacionado com a consistência do caule, sendo que as estacas coletadas num período de crescimento vegetativo mais intenso mostram maior capacidade de enraizamento. É fundamental descobrir quais as condições ideais de substrato para o bom desenvolvimento das estacas, cujo teste nos fornece informações sobre o potencial de determinada amostra em condições ideais de ambiente. Agradecimentos Ao CNPq e a FACEPE pelo apoio financeiro e a UFRPE pelas infra-estruturas dos laboratórios e casa de vegetação, onde foi desenvolvida a pesquisa. Referências [1] BALBACH, A. & BOARIM, D.S.F. 1995. As Frutas Na Medicina Natural. São Paulo, 1:54-59. [2] NOMURA, T. & HANO, Y. 1994. Nat Prod Rep. 11:205. [3] KÄMPF, A.N. 2005. Produção comercial de plantas ornamentais. Guaiba: Agrolivros. 2: 256p. [4] HARTMANN, H.T.; KESTER, D.E.; DAVIS JUNIOR, F.T. & GENEVE, R. L.2002. Plant propagation: principles and practices. New York: Englewood Clipps,. 7:880p. [5] COUVILLON, G.A. 1988. Rooting response to different treaments. Acta Horticulturae, 227:187-196. [6] HILL, L. Segredos da propagação de plantas. 1996. São Paulo: Nobel, 245 p. [7] DUTRA, L. & KERSTEN, E. 1996. Efeito do substrato e da época de coleta dos ramos no enraizamento de estacas de ameixeira (Prunus salicina Lindl). Ciência Rural, 26:361-366. [8] OLIVEIRA, A.F. et al. 2003. Enraizamento de estacas semilenhosas de Oliveira sob efeito de diferentes épocas, substratos e concentrações de ácido indolbutírico. Ciência Agrotécnica, 27:117-125. [9] FACHINELO, J.C. et al. 1994. Propagação de plantas frutíferas de clima temperado. Pelotas: Editora Gráfica UFPEL, 179 p. Tabela 1. Efeito de diferentes substratos na percentagem de sobrevivência de mudas de amoreira-negra, número de folhas e comprimento da maior raiz. PERCENTAGEM DE COMPRIMENTO DA TRATAMENTO SOBREVIVÊNCIA DAS NÚMERO DE FOLHAS RAIZ (CM) MUDAS Solo + Pó de coco + cama 37,51 b2 2,75 ab 2,075 c aviária Solo + Pó de coco + 37,5 b 2,25 b 2,075 c Esterco de bovino Solo + Pó de coco + 37,5 b 2,75 ab 2,3 bc Esterco de caprino Areia lavada 50,0 b 2,25 b 2,9 b Areia lavada + Pó de coco 77,5 a 4,00 a 4,55 a 12,028 20,620 13,217 CV. % 1 2 Média de 4 repetições. Dados transformados em log (x.+1). Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem significativamente entre si pelo teste de Tukey (P=0,05).