2. Abordagens empíricas da Comunicação • A Abordagem Empírico-Experimental (ou da Persuasão) é o nome dado a um conjunto de estudos de base psicológica (ainda sob forte influência behaviorista, mas já se utilizando de princípios da psicologia cognitiva) sobre campanhas eleitorais e comerciais, realizados nos Estados Unidos principalmente na década de 40, que apresentam um novo esquema comunicativo, centrando-se nos indivíduos, não mais nas massas sociais. • Apesar desse enfoque, as abordagens empíricas fazem parte de um conjunto de teorias, iniciadas pela Teoria Hipodérmica, denominado Mass Communication Research, de base funcionalista e caráter administrativo. • Por sua vez, a Mass Communication Research faz parte de um grupo maior, chamado de Communication Research, que tem início com a Teoria da Informação (Teoria Matemática da Comunicação) nos primeiros anos do século XX. • De acordo com essa abordagem, as Causas/estímulos (propaganda/publicidade), só realizarão os seus Efeitos se forem levados em consideração os Processos Psicológicos Intervenientes (interferências no processo de comunicação que podem levar a resultados pretendidos ou não.) E – Processos Psicológicos Intervenientes – R (ESTÍMULO GERA RESPOSTA DE ACORDO COM AS CONDIÇÕES PSICOLÓGICAS DO RECEPTOR ) • Os pesquisadores partem do princípio de que as audiências têm ou não interesse na obtenção de informação, e não são passivas como se registrava na Teoria Hipodérmica. Para se conseguir a persuasão, deve-se ter em conta três elementos chave: 1. A exposição é seletiva: o destinatário seleciona as informações ás quais ele quer ser exposto; as campanhas tendem a reforçar idéias preexistentes, e não a “plantar” novas idéias. 2. A percepção (interpretação) é seletiva: os ouvintes captam as mensagens e adaptam-na (interpretam) de acordo com seus próprios valores / pode ocorrer compreensão aberrante 3. A memorização é seletiva: • os ouvintes tendem a fixar primeiro os argumentos com os quais concordam. • Efeito Latente (sleeper effect): determina que “a eficácia persuasiva aumenta à medida que o tempo passa.” A aceitação da mensagem será tanto maior quanto mais confiável for a fonte. Mesmo a credibilidade da fonte não sendo tão alta, de acordo com o sleeper effect, à medida que o tempo vai passando, a resistência do público a uma fonte não crível vai diminuindo. 2.2 Abordagem Empírica de Campo (ou dos efeitos limitados) • A perspectiva que caracteriza este estudo diz respeito a todos os mass media do ponto de vista da sua capacidade de influência sobre o público. O problema – ou seja, o motivo das pesquisas continuam a ser os efeitos dos meios de massa sobre o público. • O coração da teoria sobre os mass media ligada à pesquisa sociológica de campo consiste, de fato, em associar os processos de comunicação de massa às características do contexto social em que esses processos se realizam. 2.2.1 O contexto social e os efeitos dos mass media • Os efeitos dos meios dependem de forças sociais que predominam num determinado período. • Os líderes de opinião representam a parcela da opinião pública que procura influenciar o resto do eleitorado, e que demonstra uma capacidade de reação e de resposta mais atentas aos acontecimentos da campanha eleitoral. •Two-step flow: modelo comunicativo da Abordagem Empírica de Campo •A função dos líderes de opinião é de mediação entre os meio de comunicação e os outros indivíduos menos interessados e menos participativos na campanha. • Na pesquisa, observou-se que os efeitos de reforço prevalecem sobre os efeitos de conversão • Acima de tudo, a influência pessoal que se desenvolve nas relações entre indivíduos parece mais eficaz do que a que deriva diretamente dos mass media. TEORIA FUNCIONALISTA • Émile Durkheim (1858-1917): “cada instituição exerce uma função específica na sociedade, e seu mau funcionamento significa um desregramento da própria sociedade”. • Estrutural-funcionalismo, ou Funcionalismo Estrutural: variação do funcionalismo que ganhou força após a Segunda Guerra Mundial. Fusão entre o funcionalismo tradicional e a valorização crescente da cultura e da perspectiva dialética e crítica na análise das sociedades. • Podemos afirmar que o funcionalismo serve de base para todo o grupo de pesquisas da Communication Research. Apesar de cada uma das frentes interagir também com outros paradigmas (na teoria hipodérmica, com o behaviorismo, por exemplo), o funcionalismo é responsável pela tentativa de descrever objetivamente, positivamente a sociedade estudada. • O conceito de massa (grupo composto por indivíduos que trabalham para o equilíbrio social, e nunca contra ele) é chave para todas as teorias funcionalistas da primeira metade do século XX, que excluem a discussão sobre o conflito social – eixo das teorias marxistas que ganhariam espaço após a teoria funcionalista. • De acordo com o Funcionalismo, existem imperativos funcionais (funções básicas comuns) que todo sistema social (e por conseguinte todas as suas estruturas, inclusive a mídia) deve enfrentar para manter o próprio equilíbrio. São eles: • A manutenção de modelos e o controle das tensões; • A adaptação ao ambiente; • A perseguição de objetivos; • A integração entre estruturas e indivíduos • Por sua vez, a Teoria Funcionalista (estudos funcionalistas com abordagem sociológica, que valorizam a ação dos grupos menores e têm base também na psicologia cognitiva – nome dado por Mauro Wolf a esse grupo de estudos) representa um marco, a passagem para uma nova metodologia a ser utilizada nas pesquisas em comunicação. • A Teoria Funcionalista abandona a ligação direta e estreita com temas estratégicos para o Estado norte-americano, como guerras e campanhas eleitorais, e passa também a estudar a presença cotidiana dos mass media na sociedade. Preocupa-se com os estudos sobre as funções dos meios de comunicação de massa na sociedade, já numa perspectiva mais ampla, em que se analisa a possibilidade de integração da mídia e dos indivíduos a outras estruturas sociais. • A Teoria Funcionalista discute, mais do apenas a função da mídia, a dinâmica do sistema social, as motivações de emissores e receptores em grupos, e o papel que nele desempenham as comunicações de massa. Os meios de comunicação tem funções específicas de: • exprimir e transmitir valores culturais e simbólicos; • vigiar o ambiente social; • Estabelecer relações entre os componentes da sociedade para produzir respostas ao meio. ( funções propostas por Lasswell) Os sociólogos Paul F. Lazarsfeld (1901-1976) e Robert K. Merton (1910 – 2003) acrescentam a essas três funções as seguintes: • entreter o espectador; • atribuir status social; • Reforçar as normas sociais • Segundo Robert Merton e Lazarsfeld, as funções podem ser manifestas ou evidentes(que são as compreendidas e desejadas pelos participantes do sistema) ou latentes (aquelas nem compreendidas nem buscadas). • Processos mal-sucedidos da comunicação: disfunções • A disfunção narcotizante, ou indiferença social, seria a paralisia social produzida no indivíduo pelo excesso de contato com os meios de comunicação e com a informação transmitida por eles. Em vez de utilizar o conhecimento para agir socialmente, e contribuir para o bom funcionamento das estruturas sociais, o sujeito se vê anestesiado, impossibilitado de responder a qualquer estímulo, gerando apatia política das massas. • Outros tipos de disfunção também podem ocorrer, como pânico e histeria coletiva em situações de doenças, catástrofes, mudanças políticas, guerras, enfim, em situações em que os meios de comunicação têm a função de informar, e muitas vezes geram medo e desagregação entre indivíduos. • Por isso, muitas vezes os gestores dos meios de comunicação avaliam se é funcional ou não divulgar determinada informação, para que em vez de promover o equilíbrio do sistema, possa haver o desequilíbrio. • As funções contribuem para a adaptação ou o ajuste de um dado sistema; • As funções impedem que as disfunções precipitem a crise do sistema. Pelo jogo de funções e disfunções, o sistema social vivencia situações de equilíbrio e desequilíbrio, estabilidade e instabilidade. Hipótese dos “Usos e Satisfações” Por volta do final dos anos 40, as pesquisas em Comunicação passaram por mudanças de foco; deixaram de lado a questão dos efeitos, encarando a hipótese de que interagir com a mídia poderia ser uma questão de escolha, e os estudos sobre usos e gratificações (ou usos e satisfações) procuravam delinear os aspectos dessa escolha. • Estudo de Berelson, de 1949: durante greve de jornalistas, Nova York ficou seis dias sem jornais. Berelson perguntou às pessoas do que elas sentiam falta. • A partir das entrevistas, montou um quadro com os resultados, apontando as razões pelas quais as pessoas leem jornais • Informação e interpretação das questões públicas • Ferramenta de orientação para a vida cotidiana • Escapar das questões cotidianas (evasão) • Prestígio social (informação é poder) • Contato social (informação como fator de interação) • A pesquisa mostrou que a audiência era ativa, poderia não apenas escolher o que quer ver, mas também escolher não ver nada. • Por isso, na hipótese de Usos e Gratificações, a audiência é concebida ocmo elemento ativo. Grande parte do uso da mídia é entendido como sendo motivado por algum tipo de escolha. • O objetivo desses estudos é compreender como o uso dos meios de comunicação é definido por expectativas do público que se relaciona com o conteúdo da mídia. • Conclusões • A Mass Communication Research tinha como objetivo de suas pesquisas o estudo dos efeitos ou de como conseguir efeitos – a partir da ação dos meios de comunicação de massa sobre as pessoas. • Crítica: de maneira geral (suprimidas as diferenças entre cada corrente de estudos) podemos dizer que ela buscava eliminar os conflitos sociais, simplificar as categorias de status e eliminar o fator humano no contexto estrutural. Fechando as teorias clássicas americanas: Teoria da Informação A Teoria da Informação (Teoria Matemática da Comunicação) é uma das vertentes que estudam a Comunicação de maneira mecanicista, ou seja, como PROCESSO DE TRANSMISSÃO DE INFORMAÇÃO. • Possui base funcionalista e caráter sistêmico, foi desenvolvida no começo do século XX - faz parte da Communication Research, grupo de pesquisas administrativas sobre comunicação do início do século XX nos EUA. • Não faz parte da Mass Communication Research, que estudava os efeitos da comunicação de massa. • A superação dos problemas causados pelo ruído é foco central da Teoria Matemática da Comunicação Modelo de Shannon e Weaver (1948): • Os pesquisadores propõem um SISTEMA GERAL DE COMUNICAÇÃO, com os elementos necessários à transmissão de mensagens • Apresentam a COMUNICAÇÃO COMO PROCESSO LINEAR, cujo problema central é conseguir enviar uma quantidade máxima de informação, por meio de um determinado canal, evitando ruídos para garantir uma ótima qualidade de recepção. • Quanto maior a capacidade de CONTROLAR A INFORMAÇÃO dentro de um sistema de comunicação, por meio de SINAIS CONVENCIONADOS, menor a possibilidade de ruídos, menor o gasto de energia e maior a qualidade da transmissão. • A informação é considerada um SÍMBOLO CALCULÁVEL, como nas ciências exatas. Segundo Shannon, a comunicação consiste em “reproduzir em um ponto dado, de maneira exata, ou aproximada, uma mensagem selecionada em outro ponto.” • Os ruídos que acontecem no canal (RUÍDOS MECÂNICOS) eram a preocupação central de Shannon e Weaver. Segundo eles, era preciso controlar a informação é organizá-la de modo PREVISÍVEL, em seqüências previamente conhecidas, com um PADRÃO CONSTANTE de repetição, para que haja menos ruídos e gasto menor de energia na sua transmissão. • Redundância X Entropia: repetição X desordem