Pesquisa o Estado de São Paulo - Hanseníase

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PERIÓDICO: O ESTADO DE S. PAULO - GERAL
DATA: Ano – Terça-feira, 13 de abril de 1993. Nº
LOCAL: São Paulo
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Saúde
HANSENÍASE ATACA 1 PESSOA A CADA 17 MINUTOS
A Fundação Osvaldo Cruz desenvolveu o primeiro teste no mundo para diagnóstico precoce da
doença, que deve estar disponível em um ano
RIO- A cada 17 minutos é registrado um novo caso de hanseníase (lepra) no Brasil. Mas o rápido
avanço da doença , pode estar com os dias contados. A Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz)
desenvolveu o primeiro teste do mundo para diagnóstico precoce, que deve chegar ao mercado em
um ano e pode elucidar a cadeia de transmissão da doença, um mistério para os pesquisadores.
Há cerca de 300 mil doentes com hanseniase no Brasil. Isso coloca o País em segundo lugar em
número de vitimas, atrás da Índia, com dois milhões de infectados. Destes 60% apresentam as
formas mais graves da hanseníase (lesões nos membros) devido à identificação tardia do mal.
Os dados do Ministério da Saúde indicam que o Brasil tinha 250.066 doentes em 1991, com um
crescimento anual superior a 30 mil. De acordo com a OMS, o Brasil tem 95% dos casos
notificados nas Américas, com cerca de 10% no Rio de Janeiro, que tinha 35 mil casos
contabilizados pela Secretaria Estadual de Saúde. Especialistas, no entanto, afirmam que os
números reais do estão por volta de estimados em 60 mil.
Bloco de DNA – O desenvolvimento do kit diagnóstico levou quatro anos e teve o apoio da
Organização Mundial de Saúde (OMS). O teste amplifica de um milhão a um bilhão de vezes o
material genético (sangue, pelos, muco) dos pacientes ou partículas encontradas em sua casa
utilizando blocos de DNA (material genético) sintético criado a partir da bactéria causadora da
hanseníase (Micobacterium leprae) associado a uma enzima, explicou Wim Degrave, chefe do
laboratório de biologia molecular e diagnóstico de doenças infecciosas da Fiocruz, que
desenvolveu o teste.
O DNA sintético e a enzima agem nas amostras, duplicando seu tamanho a cada ciclo. Em 30
ciclos, essa ampliação chega a um bilhão de vezes, fazendo com que o bacilo da lepra possa ser
identificado, inclusive, visualmente.
Em cima dessa ampliação do bacilo, é aplicado um teste de confirmação radioativa, que está sendo
simplificado numa nova versão que utilizará corantes, que deve estar pronto para entrar no
mercado em um ano. “Será de manuseio mais simples”, disse Degrave. Cada teste deve Ter o custo
de US$ 2 (Crs 54.314.00, pelo câmbio comercial de ontem).
DOENÇA TEM CURA E DEVE SER TRATADA CEDO
RIO – A hanseníase tem cura, com o uso conjunto de três drogas (dapsona, rifampicina e
clofazimina), mas deve ser tratada o mais cedo possível, o que na maioria das vezes não acontece,
explicou à Agência Estado a chefe do serviço de hanseníase da Fiocruz, Elzenir Nunes Sarno. Nas
regiões do Brasil onde a incidência é maior, como no Amazonas que registra 7,91 casos por mil
habitantes – contra 1,15 de São Paulo e 1,65 do Rio -, as lesões são mais comuns. A lepra é
transmitida pela secreção nasal ou pelo contato da pele, mas o contágio é baixo, mesmo quando o
contato com pessoas doentes é grande. O mocrorganismo da lepra é de crescimento lento e pode
ser observado um longo período – entre 10 a 15 anos – da infecção pelo bacilo e o desenvolvimento
dos primeiros sinais da doença. O primeiro sinal da hanseníase é uma mancha esbranquiçada: no
local, o paciente não apresenta sensibilidade. Esse sinal é chamado de lesão dormente ou
anestésica. Se não for devidamente tratada, há o risco de se desenvolvera a forma mutilante da
doença.
Segundo a médica Elzenir Sarno, o teste desenvolvido na Fiocruz pode identificar a doença mesmo
quando os exames laboratoriais (baciloscopia) – que têm erro de 20% - apresentam resultado
negativo. Também pode ser usado nos pacientes que receberam tratamento. “Quando o número de
bacilos é pequeno não se pode descobrir se a pessoa está curada ou não”, disse. “Com o teste, isso
é possível”. (G.N)
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