enfermeiro educador: qual o entendimento da

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ENFERMEIRO EDUCADOR: QUAL O ENTENDIMENTO DA ENFERMAGEM
BRASILEIRA ACERCA DESTA DIMENSÃO DE SUA PRÁTICA
PROFISSIONAL?
FÁBIA GRACIELLE DA ROCHA1
ROSA MARIA RODRIGUES 2
RESUMO: Proposta de iniciação científica que se direcionou ao estudo da ação
educativa do enfermeiro manifestada no processo de formação de recursos humanos ou
na atividade educativa no processo assistencial. Ao longo da trajetória histórica da área
é possível perceber movimentos de valorização e secundarização, mas que nos parecem
pouco sistematizadas. Trata-se de um estudo exploratório que teve como objetivo geral:
identificar o entendimento da enfermagem brasileira acerca da formação do enfermeiro
educador e como objetivos específicos: identificar através do catálogo de pesquisas e
pesquisadores em enfermagem da Associação Brasileira de Enfermagem e na base de
dados da Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde, o
entendimento da enfermagem brasileira acerca da formação do enfermeiro educador;
mapear a evolução histórica do pensamento da área acerca da formação do enfermeiro
educador; tomar maior contato com a produção científica da área acerca da temática;
desenvolver habilidade para pesquisa científica. A partir da análise dos
trabalhos/artigos/textos/teses/dissertações pode-se observar que a produção realizada
pelos enfermeiros brasileiros acerca da formação para a educação, teve um crescimento
após o ano 2000. As dimensões educativas em grupo mostraram que a atividade
educativa é importante para a mudança de comportamento, aquisição de conhecimentos,
entre outros, e que isso é adquirido através da troca de saberes e do diálogo. Na
modalidade individual os trabalhos têm ocorrido em maior quantidade nas atividades
ambulatoriais com a finalidade de educar para a cooperação no tratamento e voltado
para o autocuidado. Na classificação dos trabalhos como modalidade outros, os
pesquisadores informam a importância da prática educativa realizada por enfermeiros.
Apesar disso, a atividade educativa é realizada como mera transmissão de informações
ou como prevenção de doenças e agravos. No que se refere à formação do enfermeiro
educador, esta está vinculada a algumas disciplinas e não se identificou referência à
necessidade da licenciatura na graduação. Espera-se, ao levantar dados acerca do
entendimento da área da enfermagem sobre o papel educativo do enfermeiro fornecer
dados para o ensino de graduação e pós-graduação e para as discussões referentes à
temática em outros espaços de atuação profissional.
Palavras-chave: Educação, Educação em saúde, Educação em enfermagem.
1
2
Acadêmica do 4º ano do curso de enfermagem da Universidade Estadual do Oeste do Paraná;
Professora doutora do curso de enfermagem da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, e-mail:
[email protected].
ENFERMEIRO EDUCADOR: QUAL O ENTENDIMENTO DA ENFERMAGEM
BRASILEIRA ACERCA DESTA DIMENSÃO DE SUA PRÁTICA PROFISSIONAL?
INTRODUÇÃO
Esta proposta de iniciação científica se direcionou ao estudo da ação educativa do
enfermeiro que pode manifestar-se no processo de formação de recursos humanos ou na
atividade educativa no processo assistencial.
Dilly; Jesus (1995) sistematizam estas duas possibilidades da ação educativa do
enfermeiro em ensino informal e formal. O primeiro perpassa toda a ação assistencial
que pode ocorrer quando o enfermeiro realiza ações assistenciais, ensino do cuidado
terapêutico perpassando as ações de cunho individual, grupal e com a comunidade. Já o
ensino formal se volta para a qualificação dos trabalhadores para o desenvolvimento da
prática profissional de enfermagem através da formação inicial e continuada.
As mesmas autoras afirmam que “o enfermeiro é um educador em assuntos de
saúde. Não tem como desenvolver suas funções sem realizar atividades educativas junto
ao paciente, seus familiares, e ao pessoal de enfermagem” (DILLY; JESUS, p. 108).
Ao longo da trajetória histórica da área, nestas dimensões do trabalho educativo
é possível perceber movimentos de valorização e secundarização, mas que nos parecem
pouco sistematizadas.
A dimensão da formação para a docência experimentou momentos de maior
evidência ao longo dos anos de 1970 e 1980 em que se observava a defesa da
licenciatura articulada aos projetos político pedagógicos dos cursos de graduação
entendendo que era fundamental que o enfermeiro fosse o formador de recursos
humanos de nível médio para a área e, conseqüentemente, a qualificação da prática
assistencial (BAGNATO, 1994).
Nas discussões sobre as diretrizes curriculares para os cursos de graduação em
enfermagem, em fins dos anos de 1990 e início do século XXI, esta questão foi
perdendo força diante das novas orientações para formação de professores que
definiram que a formação na licenciatura deveria acontecer em cursos com projetos
político-pedagógicos próprios (RODRIGUES, 2005).
No que se refere ao papel educativo do enfermeiro como atividade inerente à
assistência, nos parece que tem ganhado relevância nas últimas décadas como uma
forma de produzir ações de atenção primária, portanto, como estratégia de promoção e
prevenção em consonância com o Sistema Único de Saúde.
A produção científica da área de enfermagem experimentou, após a década de
1970, fomentada pelo desenvolvimento da pós-graduação no país um crescimento
significativo. Assim, ela já se constitui em fonte privilegiada de pesquisa e análise sobre
seu fazer profissional. Esta produção já pode ser acessada em diversas bases de dados
tais como as da Biblioteca Virtual em Saúde. Além dessas fontes de dados a Associação
Brasileira de Enfermagem (ABEn) tem reunido as produções dos enfermeiros
brasileiros através do catálogo de pesquisas e pesquisadores desde a década de 1970.
Estes bancos de dados se constituem em boas fontes para buscas bibliográficas acerca
das mais variadas temáticas.
Assim, esta proposta de iniciação científica identificou através do catálogo de
pesquisas e pesquisadores da ABEn e na base de dados da Literatura Latino-Americana
e do Caribe em Ciências da Saúde – Lilacs – a evolução do pensamento da enfermagem
brasileira acerca da formação do enfermeiro educador.
Teve como objetivo geral: identificar o entendimento da enfermagem brasileira
acerca da formação do enfermeiro educador e como objetivos específicos: identificar
através do catálogo de pesquisas e pesquisadores em enfermagem da Associação
Brasileira de Enfermagem e na base de dados da Literatura Latino-Americana e do
Caribe em Ciências da Saúde – Lilacs o entendimento da enfermagem brasileira acerca
da formação do enfermeiro educador; mapear a evolução histórica do pensamento da
área acerca da formação do enfermeiro educador; tomar maior contato com a produção
científica da área acerca da temática; desenvolver habilidade para pesquisa científica.
MÉTODO/METODOLOGIA
Trata-se de um estudo exploratório que, segundo Gil (1994, p. 45) são estudos
que têm como objetivo proporcionar “maior familiaridade com o problema com vistas a
torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses”. Tais pesquisas podem ainda, segundo
o mesmo autor servir para o aprimoramento de idéias e descoberta de intuições.
Conforme Triviños (1987, p. 109) os estudos exploratórios “permitem ao investigador
aumentar sua experiência em torno de determinado problema”. Ele pode partir de uma
hipótese e aprofundar “seu estudo nos limites de uma realidade específica, buscando
antecedentes, maior conhecimentos para, em seguida, planejar uma pesquisa descritiva
ou de tipo experimental”.
O estudo foi realizado a partir dos dados do catálogo de pesquisas e
pesquisadores da Associação Brasileira de Enfermagem e na base de dados da Literatura
Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde – Lilacs identificando o
entendimento da enfermagem brasileira acerca da formação do enfermeiro educador.
O catálogo de pesquisas e pesquisadores de enfermagem é uma publicação da
Associação Brasileira de Enfermagem reunindo grande parte da produção científica dos
enfermeiros produzida em suas dissertações de mestrado e teses de doutorado desde o
ano de 1979. Ele está disponibilizada do ano de 1979 a 2000 em um CD Rom
comemorativo dos 70 anos da ABEn. De 2001 a 2005, os dados estão disponíveis na
página eletrônica da ABEn no endereço: <http://www.abennacional.org.br/public.html>.
Na base de dados da Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da
Saúde – Lilacs procedemos a busca bibliográfica de trabalhos/textos/artigos que
abordassem a temática relativa à formação do enfermeiro educador. Nesta busca
bibliográfica foram utilizados os descritores: Educação, Educação em Saúde, Educação
em Enfermagem, Educação do Paciente, Educação Profissionalizante, Licenciatura em
Enfermagem que constam dos descritores desta base de dados com alguma relação com
a temática.
Durante a busca bibliográfica procedemos a leitura e análise dos resumos e
seleção dos trabalhos/textos/artigos/dissertações/teses que estejam tratando da temática.
Após este processo de seleção os documentos foram sistematizados por convergência de
conteúdo e após foram fichados para análise final a partir de autores próximos à
temática.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Na primeira seleção dos trabalhos/textos/artigos/dissertações/teses foram
encontrados na base de dados da ABEn oitenta e quatro teses/dissertações e na base de
dados do Lilacs encontraram-se quarenta e nove trabalhos/artigos.
Após a seleção, os textos foram lidos e submetidos à nova seleção identificando
os que efetivamente tratavam da temática, o que resultou em um total de cento e quatro
artigos/trabalhos. O foco da pesquisa era a identificação de publicações referentes à
formação para a atividade educativa, entretanto, dado o pequeno volume com este
enfoque optou-se por seguir a classificação de Dilly; Jesus (1995) sistematizando os
textos em: ação educativa em grupo, individual e com a comunidade, além dos
específicos sobre a formação para a atividade educativa. Aqueles que não se
enquadraram em nenhum desses grupos foram classificados como “outros”.
Constatou-se que houve aumento da produção sobre a temática a partir dos anos
2000 e que a atividade educativa com a comunidade não foi identificada em nenhum
texto.
No que se refere à formação do enfermeiro educador, dos cento e quatro
trabalhos selecionados, nove trataram dessa temática explicitando que há uma produção
pouco expressiva acerca desta dimensão na produção da enfermagem brasileira.
Analisando a distribuição desta produção nos últimos anos, percebe-se que há
um aumento a partir dos anos 2000, pois num intervalo de tempo de vinte e três anos, de
1977 a 2000, encontram-se quatro trabalhos. Ao mesmo tempo no espaço de cinco anos,
de 2000 a 2005, encontraram-se cinco trabalhos.
Ao explorar o enfoque dado pela produção da enfermagem buscando averiguar
seu entendimento acerca da formação do enfermeiro educador, pode-se afirmar que há a
compreensão de que a formação do educador pode ser alcançada através de disciplinas e
módulos pedagógicos e que há preocupação com a formação pedagógica para o
desempenho do papel de educador.
Em relação aos conteúdos curriculares, as diretrizes curriculares que
contemplam o ensino em enfermagem, indicam que os conteúdos pertinentes a
capacitação pedagógica independe da inclusão da licenciatura na graduação em
enfermagem, porém o enfermeiro formado em curso de enfermagem com licenciatura
está capacitado para atuar na educação básica e na educação profissional em
enfermagem (CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 2001).
A compreensão de que a formação pode ser alcançada através de
disciplinas/módulos pedagógicos esteve presente em quatro dos nove trabalhos
identificados, o que permite afirmar que há um entendimento restrito do que seja formar
para a ação educativa, uma vez que não contempla como necessário que tal formação se
dê na licenciatura em enfermagem. Um dos trabalhos até expressa essa possibilidade,
mas ao mesmo tempo a coloca ao lado da formação em módulo pedagógico.
A necessidade de formação pedagógica foi expressada em dois trabalhos, um
deles indicando a falta de clareza do enfermeiro acerca da ação educativa em saúde e a
necessidade de reorientar a formação e o outro indicando a necessidade de refletir sobre
a formação desses profissionais.
Portanto, o entendimento dos enfermeiros brasileiros acerca da formação para a
educação está voltado a algumas disciplinas pedagógicas, como prática de ensino e
didática aplicada à enfermagem. Também indicam a necessidade de repensar a
formação do enfermeiro como educador.
Na modalidade de trabalho em grupo identificaram-se trinta e seis trabalhos com
maior ocorrência a partir do ano 2000. As pesquisas realizadas na área de educação em
saúde, focalizando a modalidade em grupo, foram as mais expressivas apresentando um
maior número de publicações. Do total de cento e quatro trabalhos, trinta e seis
pertencem a esta modalidade, sendo que um desses está presente tanto na modalidade
em grupo quanto na individual.
Não houve intervalos consideráveis desde a data do primeiro trabalho
encontrado, em 1982. O maior deles foi entre o ano de 1984 a 1990, sendo que os outros
textos ocorreram, na maioria das vezes, anualmente. Quanto ao número de pesquisas
realizadas e o intervalo de tempo entre estas, observou-se que entre o ano 2000 a 2004,
houve uma maior quantidade, totalizando 15. Anterior a essa data, entre 1982 a 1999,
encontrou-se 20 trabalhos.
A educação em saúde realizada em grupos tem a vantagem de conseguir
trabalhar com vários tipos de pessoas, porém estas devem ter características em comum.
Segundo Dilly; Jesus (1995), “são características de um grupo: a identificação entre as
pessoas, a percepção coletiva da unidade, objetivos comuns, ajuda mútua, grande
comunicabilidade e consistência interna”.
Observou-se que as mulheres são os indivíduos mais procurados para a
realização desta atividade, em especial as adolescentes puérperas, mulheres primigestas,
gestantes, entre outras. Seguido destas, pacientes com diabetes mellitus e pacientes com
hanseníase e seus familiares, também foram alvos de alguns trabalhos.
A procura maior pela atividade em grupo com mulheres pode se dar pelo fato
destas, ao repassarem as informações adquiridas, atingir um maior número de pessoas
devido à própria característica que possuem na sociedade.
Nas pesquisas realizadas com os grupos, estes relataram que a atividade
educativa serviu como aquisição de conhecimentos, manifestado em quatro trabalhos;
mudança de comportamento ou mudança interna, em cinco trabalhos; mudança de
ações, em dois trabalhos. Também foi citado como ação educativa o objetivo de
prevenção, suporte, aprendizagem, fonte de conscientização, compreensão e
reconhecimento.
Através disso, pode-se observar que a educação tem um papel importante na
vida de cada indivíduo. Segundo Fernandes (2004) a educação é capaz de transformar
os paradigmas da existência humana e com ela o homem é capaz de compreender o que
ocorre na sociedade, ampliando sua visão sobre o mundo em que está inserido. Dessa
maneira, a educação seria a solução para os problemas da sociedade, porém Valla
(1986) diz que a população não terá saúde enquanto não tiver emprego, salário digno,
casa confortável, água, luz, saneamento básico, ou seja, atendimento médico e remédios
não são o suficiente se a população não tiver condições para seguir as orientações dadas
pelos profissionais da saúde.
A maneira como se deu as práticas educativas em grupo é um fato importante a
ser mencionado. Dos trinta e quatro trabalhos desta modalidade, seis relataram isso.
Desses, quatro realizaram através do diálogo e dois através da troca de saberes. Para
Dilly; Jesus (1995), o diálogo deve estar presente no trabalho de educação para a saúde
desenvolvida pelo enfermeiro, pois é dessa maneira que se processa a verdadeira
educação. Ainda, de acordo com estas autoras citando Freire, diz que “o indivíduo
encontra no grupo um lugar, um papel, uma forma de estar que por sua vez constitui sua
maneira de ser e, nesse espaço desempenha seu papel, segundo sua história e as marcas
que traz consigo”.
O enfermeiro, quando se propõe a realizar educação em saúde com grupos, deve
levar em conta que os participantes possuem uma história, uma vivência, um saber
popular. Desta maneira, é importante que o profissional não despreze esses
conhecimentos, e sim o integre aos novos que serão adquiridos. Em dois trabalhos foi
verificada a preocupação em integrar a ciência com a experiência dos indivíduos.
Segundo Dilly; Jesus (1995) “deixar de lado a sabedoria popular invalida todo o
trabalho que se pretende realizar junto à comunidade. Adotar a postura do educadoreducando é a maneira correta de exercer o nosso trabalho”.
Na dimensão educativa individual, dos cento e quatro trabalhos coletados, trinta
e um pertencem a esta modalidade. Na década de 70 não houve uma produção
expressiva de trabalhos nesta área, realizada pelos enfermeiros brasileiros, pois foi
encontrado um no ano de 1975 e outro em 1976. Na década de 80 foi encontrado o
dobro dos trabalhos da década anterior, ou seja, quatro, sendo que um desses pertence
tanto a dimensão educativa individual quanto em grupo. Nos anos 90 as pesquisas
realizadas totalizaram oito trabalhos. A partir do ano 2000 houve um aumento
considerável, comparado aos anos anteriores, com dezesseis trabalhos, observando que
o ano de 2003 é destaque nas produções, com seis trabalhos.
Assim, o aumento na realização das pesquisas na dimensão educativa individual,
realizada por enfermeiros brasileiros, ocorreu de forma gradual até o ano 2000. A partir
de então, teve uma aceleração da produção de pesquisas na educação em saúde nesta
modalidade.
É interessante ressaltar que três pesquisas relataram que a educação voltada para
a saúde é função do profissional enfermeiro. Uma delas cita que é o enfermeiro o
mediador do processo ensino-aprendizagem. O enfermeiro é o elemento que desenvolve
a tarefa de ensinar questões relativas à saúde, pois a sua formação na graduação, tem
como objetivo capacitá-lo para tal atividade, bem como abordar aspectos pedagógicos
em diversas situações de ensino-aprendizagem no curso (DILLY; JESUS, 1995).
O enfermeiro é ou deveria ser preparado durante a sua formação, para a atuação
na educação, tanto a nível escolar como diretamente com a comunidade. Mas se observa
que essa função é desvalorizada pelos próprios profissionais ou as suas atividades são
desvinculadas do sentido se educar. Para Dilly; Jesus (1995) “a instrumentalização do
enfermeiro para o exercício de atividade de ensino, quer no magistério, quer nas
atividades profissionais, poderá resultar em uma prática mais reflexiva e,
consequentemente, possibilitar um melhor desempenho de suas funções de educador”.
Da análise dos artigos, um mostrou que o processo educativo é o trabalho
dominante na profissão de enfermagem. Na atuação do enfermeiro, as suas atividades
são voltadas para a educação com o intuito de promover a saúde dos indivíduos. No
caso do trabalho educativo individual, ocorre uma comunicação interpessoal por
interação direta pessoa a pessoa (DILLY; JESUS, 1995).
A não importância que os profissionais de enfermagem dão ao processo
educativo ou ao seu papel de educador pode ser explicada pela falta de preparo que
estes têm, durante a sua formação, que pode os deixar inseguros para atuar nessa
função. Um trabalho nos informa que o despreparo dos enfermeiros foi identificado
através da falta de planejamento das atividades educativas. Mesmo possuindo um
excelente nível de conhecimento e competência técnica, no que tange a competência
pedagógica, fica a desejar. Um outro trabalho, analisando as possibilidades e limites que
os enfermeiros possuem ao desenvolver ações educativas, evidenciou que apesar de
reconhecerem a importância dessa prática, estes necessitam de aprofundamento teórico.
Contrapondo ao que diz sobre a desvalorização da função de educador por parte
dos enfermeiros, dois artigos revelam que a atividade educativa é importante no
cotidiano dos indivíduos que participam dessa ação, pois dessa maneira existe a
possibilidade de melhorar a sua qualidade de vida e consequentemente a sua saúde.
Apesar de alguns profissionais não valorizarem a sua função de educador
durante as suas atividades, um trabalho revela a preocupação com o papel educativo e
com a sua qualidade. Isso acorre porque o enfermeiro quando desenvolve a educação,
esta acontece de forma rotineira e condicionadora ou é delegada a outros profissionais,
como o auxiliar de enfermagem. Isso se dá devido à multiplicidade e superposição de
funções que o enfermeiro exerce.
Além de condicionadora e rotineira, pesquisas relatam que a educação também é
realizada de forma fragmentada, pois o enfermeiro não se sente seguro para dar
orientações, ou a desenvolve de maneira depreciadora, como um ritual. Um outro fator
que deve ser levado em conta são os obstáculos que os profissionais enfrentam na
realização da educação em saúde, como o modelo assistencial da instituição em que
trabalham, que apesar desses profissionais terem vontade ou um bom propósito para
desenvolver a educação, esta só acontece como repasse de informações, deixando de
lado o desenvolvimento de uma consciência crítica.
Pretende-se especificamente com a educação em saúde fazer com que as pessoas
considerem a saúde como um valor; estimular a utilização dos serviços de saúde;
estimular as pessoas a conseguirem saúde através de seus próprios esforços e ações
(DILLY; JESUS, 1995). Para alguns indivíduos que participaram das pesquisas, a
educação é a aquisição de conhecimentos ou um repasse de informações, muitas vezes
de forma vertical, ou seja, do profissional para o paciente. Já para alguns dos textos, a
atividade educativa vai além disso, ou seja, é o desenvolvimento de uma consciência
crítica. Como conseqüência dessa educação conscientizadora, pode haver uma melhoria
na qualidade de vida e no tratamento da pessoa, assim como uma maior cooperação
desta. Uma pesquisa arrisca afirmar que a atividade educativa desenvolvida pelo
enfermeiro pode resultar na transformação da realidade.
Na dimensão educativa individual, o profissional de enfermagem utiliza da
educação em saúde como preparo para o autocuidado do paciente. Como foi mostrado
em alguns trabalhos, quando a educação está voltada a esse fim, o enfermeiro orienta e
ensina o indivíduo, para que este, por si só, seja independente do profissional para a
realização do seu cuidado.
O governo brasileiro, no início dos anos de 1990, seguindo as orientações do
Banco Mundial, implementou programas como o PACS – Programa de Agentes
Comunitários de Saúde e o PSF – Programa Saúde da Família, que atenderiam as
necessidades básicas da população. Porém não necessitariam de profissionais
qualificados e nem de ações sofisticadas. Isso faria com que o indivíduo se
responsabilizasse pela sua saúde através do autocuidado (CONTERNO, 2002). Este
dado talvez explique em parte o aumento significativo de trabalhos voltados à ação
educativa a partir dos anos 2000.
Em contrapartida, Dilly;Jesus (1995) dizem que o enfermeiro pode fazer a
educação individual visando o autocuidado e a participação do cliente no cuidado, não
necessariamente num aspecto negativo. Ou seja, é importante que o usuário participe da
ação de saúde em que a atividade educativa pode despertar para a aquisição de
comportamentos saudáveis, mas ao mesmo tempo não é possível que elas depositem
sobre a pessoa toda a responsabilidade sobre sua condição de saúde que, como já
explicitado anteriormente tem outros determinantes como as condições de existência
como expresso pelo próprio conceito de saúde presente na legislação de base do Sistema
Único de Saúde do Brasil.
A atividade educativa individual, na sua maioria, foi desenvolvida a nível
ambulatorial, que foi exposto em seis dos trabalhos selecionados para esta modalidade.
Em relação ao modo como se dá a educação, um trabalho relata que é importante ser
realizada através do diálogo, sendo vantagem tanto para o profissional quanto para o
cliente. Um outro informa que o diálogo é importante, porém entre os profissionais, pois
dessa maneira refletiriam sobre a co-responsabilidade no processo ensinoaprendizagem.
Através do diálogo entre o profissional e o indivíduo é que irá fortalecer o
aprendizado de ambos. Ambos porque o enfermeiro não deve ter o pré-conceito de que
possui o conhecimento sobre tudo, ou que o seu saber científico é o que prevalece. Um
trabalho citou que essa integração do saber popular com o saber científico não ocorre na
educação em saúde. Os outros trabalhos não mencionaram este aspecto. Segundo
Vasconcelos (1997), o profissional deve valorizar a medicina popular, pois esta possui
riquezas que ainda não são compreendidas pela medicina oficial. Afirma, ainda, que a
valorização do conhecimento que o indivíduo tem juntamente com o diálogo
estabelecido entre profissional e paciente, é que este último se sentirá mais a vontade
para colocar as suas dúvidas, o que facilitará no tratamento. Portanto, o enfermeiro deve
valorizar o saber popular e também aperfeiçoá-lo.
Nos trabalhos classificados como “outros”, o primeiro foi encontrado no ano de
1984 e, a partir de então houve uma publicação na área de educação para a saúde em
todas as décadas. Evidenciou-se que a produção de pesquisas aumentou a partir dos
anos 2000, com quatorze trabalhos num intervalo de tempo de cinco anos, enquanto que
anterior a essa data, de 1984 a 1999, encontraram-se quinze trabalhos.
Dos vinte e nove artigos presentes nesta classificação, cinco identificaram a
educação em saúde desenvolvida pelo enfermeiro como uma atividade importante.
Porém, na prática essa ação está sendo desvalorizada. Isso ocorreria porque os
profissionais enfermeiros atuaram de maneira descomprometida com o sentido de
educar. Observou-se isso através da maneira como seria realizada a educação em saúde,
que ocorreria como mera transmissão de informações ou apenas como caráter
preventivo.
Um artigo revelou que a educação dos indivíduos realizada pelo profissional
enfermeiro acorre sem planejamento, assistemática e com inexistência de respaldo
teórico. Tal atitude pode ser explicada, como mostra uma pesquisa, pelo fato de que a
grande maioria dos profissionais não obteve uma formação voltada para a educação.
CONSIDERAÇÕES SOBRE O ESTUDO
A partir da análise dos trabalhos/artigos/textos/teses/dissertações pode-se
observar que a produção realizada pelos enfermeiros brasileiros acerca da formação
para a educação, teve um crescimento após o ano 2000.
As dimensões educativas em grupo foram desenvolvidas, na sua maioria, com
mulheres o que pode ser explicado pela característica própria deste grupo como
cuidadora e responsável pelas questões de saúde da família. Os grupos mostraram que a
atividade educativa é importante para a mudança de comportamento, aquisição de
conhecimentos, entre outros, e que isso é adquirido através da troca de saberes e do
diálogo. É importante ressaltar que o profissional de enfermagem deve considerar o
conhecimento prévio dos participantes e ensinar e aprender com os mesmos.
Na modalidade individual os trabalhos relataram que a prática educativa
acontece de forma rotineira, fragmentada, condicionadora e nem sempre valorizada.
Tem ocorrido em maior quantidade nas atividades ambulatoriais com a finalidade de
educar para a cooperação no tratamento, repasse de informações, desenvolvimento da
consciência crítica, melhoria na qualidade de vida, transformação da realidade, melhoria
no tratamento, assim como voltado ao autocuidado. Alguns textos mostram a
importância da atividade educativa ao mesmo tempo em que outros denunciam o
despreparo do enfermeiro para tal atividade.
Na classificação dos trabalhos como modalidade outros, assim como na
modalidade individual e em grupo, os pesquisadores informam a importância da prática
educativa realizada por enfermeiros, sendo que um trabalho cita a inserção desse
profissional na saúde do escolar como fundamental. Apesar dessa consciência, a
atividade educativa é realizada como mera transmissão de informações ou como
prevenção de doenças e agravos, o que provoca a desvalorização desse papel. Talvez,
isso ocorra, pois a grande maioria dos enfermeiros não tem na sua formação enfoque em
conhecimentos pedagógicos, como relata uma das pesquisas selecionadas.
No que se refere à formação do enfermeiro educador, esta está vinculada a
algumas disciplinas e não se identificou referência à necessidade da licenciatura na
graduação, porém indicam a importância de repensar como está sendo realizada a
formação.
É possível afirmar que a partir dos anos 2000, houve substancialmente, o
aumento da produção acerca da educação na área da enfermagem seja ela na
modalidade individual ou em grupo, como indicado na introdução deste texto quando se
pressupunha que o papel educativo do enfermeiro teria ganhado relevância nas últimas
décadas como “forma de produzir ações de atenção primária em consonância com o
Sistema Único de Saúde”. Esta é uma questão importante que o texto sistematiza, ao
demonstrar que ela efetivamente aconteceu. Ao mesmo tempo mostra que não foi
acompanhada de ações efetivas, especialmente as de preparo profissional para o
exercício desta dimensão. Assim, obriga a problematizar que ainda há a atuação
desprovida de elementos pedagógicos que possam contribuir com a sistematização desta
prática sendo este um aspecto importante a ser considerado no encaminhamento futuro
desta discussão.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
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