ENFERMEIRO EDUCADOR: QUAL O ENTENDIMENTO DA ENFERMAGEM BRASILEIRA ACERCA DESTA DIMENSÃO DE SUA PRÁTICA PROFISSIONAL? FÁBIA GRACIELLE DA ROCHA1 ROSA MARIA RODRIGUES 2 RESUMO: Proposta de iniciação científica que se direcionou ao estudo da ação educativa do enfermeiro manifestada no processo de formação de recursos humanos ou na atividade educativa no processo assistencial. Ao longo da trajetória histórica da área é possível perceber movimentos de valorização e secundarização, mas que nos parecem pouco sistematizadas. Trata-se de um estudo exploratório que teve como objetivo geral: identificar o entendimento da enfermagem brasileira acerca da formação do enfermeiro educador e como objetivos específicos: identificar através do catálogo de pesquisas e pesquisadores em enfermagem da Associação Brasileira de Enfermagem e na base de dados da Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde, o entendimento da enfermagem brasileira acerca da formação do enfermeiro educador; mapear a evolução histórica do pensamento da área acerca da formação do enfermeiro educador; tomar maior contato com a produção científica da área acerca da temática; desenvolver habilidade para pesquisa científica. A partir da análise dos trabalhos/artigos/textos/teses/dissertações pode-se observar que a produção realizada pelos enfermeiros brasileiros acerca da formação para a educação, teve um crescimento após o ano 2000. As dimensões educativas em grupo mostraram que a atividade educativa é importante para a mudança de comportamento, aquisição de conhecimentos, entre outros, e que isso é adquirido através da troca de saberes e do diálogo. Na modalidade individual os trabalhos têm ocorrido em maior quantidade nas atividades ambulatoriais com a finalidade de educar para a cooperação no tratamento e voltado para o autocuidado. Na classificação dos trabalhos como modalidade outros, os pesquisadores informam a importância da prática educativa realizada por enfermeiros. Apesar disso, a atividade educativa é realizada como mera transmissão de informações ou como prevenção de doenças e agravos. No que se refere à formação do enfermeiro educador, esta está vinculada a algumas disciplinas e não se identificou referência à necessidade da licenciatura na graduação. Espera-se, ao levantar dados acerca do entendimento da área da enfermagem sobre o papel educativo do enfermeiro fornecer dados para o ensino de graduação e pós-graduação e para as discussões referentes à temática em outros espaços de atuação profissional. Palavras-chave: Educação, Educação em saúde, Educação em enfermagem. 1 2 Acadêmica do 4º ano do curso de enfermagem da Universidade Estadual do Oeste do Paraná; Professora doutora do curso de enfermagem da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, e-mail: [email protected]. ENFERMEIRO EDUCADOR: QUAL O ENTENDIMENTO DA ENFERMAGEM BRASILEIRA ACERCA DESTA DIMENSÃO DE SUA PRÁTICA PROFISSIONAL? INTRODUÇÃO Esta proposta de iniciação científica se direcionou ao estudo da ação educativa do enfermeiro que pode manifestar-se no processo de formação de recursos humanos ou na atividade educativa no processo assistencial. Dilly; Jesus (1995) sistematizam estas duas possibilidades da ação educativa do enfermeiro em ensino informal e formal. O primeiro perpassa toda a ação assistencial que pode ocorrer quando o enfermeiro realiza ações assistenciais, ensino do cuidado terapêutico perpassando as ações de cunho individual, grupal e com a comunidade. Já o ensino formal se volta para a qualificação dos trabalhadores para o desenvolvimento da prática profissional de enfermagem através da formação inicial e continuada. As mesmas autoras afirmam que “o enfermeiro é um educador em assuntos de saúde. Não tem como desenvolver suas funções sem realizar atividades educativas junto ao paciente, seus familiares, e ao pessoal de enfermagem” (DILLY; JESUS, p. 108). Ao longo da trajetória histórica da área, nestas dimensões do trabalho educativo é possível perceber movimentos de valorização e secundarização, mas que nos parecem pouco sistematizadas. A dimensão da formação para a docência experimentou momentos de maior evidência ao longo dos anos de 1970 e 1980 em que se observava a defesa da licenciatura articulada aos projetos político pedagógicos dos cursos de graduação entendendo que era fundamental que o enfermeiro fosse o formador de recursos humanos de nível médio para a área e, conseqüentemente, a qualificação da prática assistencial (BAGNATO, 1994). Nas discussões sobre as diretrizes curriculares para os cursos de graduação em enfermagem, em fins dos anos de 1990 e início do século XXI, esta questão foi perdendo força diante das novas orientações para formação de professores que definiram que a formação na licenciatura deveria acontecer em cursos com projetos político-pedagógicos próprios (RODRIGUES, 2005). No que se refere ao papel educativo do enfermeiro como atividade inerente à assistência, nos parece que tem ganhado relevância nas últimas décadas como uma forma de produzir ações de atenção primária, portanto, como estratégia de promoção e prevenção em consonância com o Sistema Único de Saúde. A produção científica da área de enfermagem experimentou, após a década de 1970, fomentada pelo desenvolvimento da pós-graduação no país um crescimento significativo. Assim, ela já se constitui em fonte privilegiada de pesquisa e análise sobre seu fazer profissional. Esta produção já pode ser acessada em diversas bases de dados tais como as da Biblioteca Virtual em Saúde. Além dessas fontes de dados a Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn) tem reunido as produções dos enfermeiros brasileiros através do catálogo de pesquisas e pesquisadores desde a década de 1970. Estes bancos de dados se constituem em boas fontes para buscas bibliográficas acerca das mais variadas temáticas. Assim, esta proposta de iniciação científica identificou através do catálogo de pesquisas e pesquisadores da ABEn e na base de dados da Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde – Lilacs – a evolução do pensamento da enfermagem brasileira acerca da formação do enfermeiro educador. Teve como objetivo geral: identificar o entendimento da enfermagem brasileira acerca da formação do enfermeiro educador e como objetivos específicos: identificar através do catálogo de pesquisas e pesquisadores em enfermagem da Associação Brasileira de Enfermagem e na base de dados da Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde – Lilacs o entendimento da enfermagem brasileira acerca da formação do enfermeiro educador; mapear a evolução histórica do pensamento da área acerca da formação do enfermeiro educador; tomar maior contato com a produção científica da área acerca da temática; desenvolver habilidade para pesquisa científica. MÉTODO/METODOLOGIA Trata-se de um estudo exploratório que, segundo Gil (1994, p. 45) são estudos que têm como objetivo proporcionar “maior familiaridade com o problema com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses”. Tais pesquisas podem ainda, segundo o mesmo autor servir para o aprimoramento de idéias e descoberta de intuições. Conforme Triviños (1987, p. 109) os estudos exploratórios “permitem ao investigador aumentar sua experiência em torno de determinado problema”. Ele pode partir de uma hipótese e aprofundar “seu estudo nos limites de uma realidade específica, buscando antecedentes, maior conhecimentos para, em seguida, planejar uma pesquisa descritiva ou de tipo experimental”. O estudo foi realizado a partir dos dados do catálogo de pesquisas e pesquisadores da Associação Brasileira de Enfermagem e na base de dados da Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde – Lilacs identificando o entendimento da enfermagem brasileira acerca da formação do enfermeiro educador. O catálogo de pesquisas e pesquisadores de enfermagem é uma publicação da Associação Brasileira de Enfermagem reunindo grande parte da produção científica dos enfermeiros produzida em suas dissertações de mestrado e teses de doutorado desde o ano de 1979. Ele está disponibilizada do ano de 1979 a 2000 em um CD Rom comemorativo dos 70 anos da ABEn. De 2001 a 2005, os dados estão disponíveis na página eletrônica da ABEn no endereço: <http://www.abennacional.org.br/public.html>. Na base de dados da Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde – Lilacs procedemos a busca bibliográfica de trabalhos/textos/artigos que abordassem a temática relativa à formação do enfermeiro educador. Nesta busca bibliográfica foram utilizados os descritores: Educação, Educação em Saúde, Educação em Enfermagem, Educação do Paciente, Educação Profissionalizante, Licenciatura em Enfermagem que constam dos descritores desta base de dados com alguma relação com a temática. Durante a busca bibliográfica procedemos a leitura e análise dos resumos e seleção dos trabalhos/textos/artigos/dissertações/teses que estejam tratando da temática. Após este processo de seleção os documentos foram sistematizados por convergência de conteúdo e após foram fichados para análise final a partir de autores próximos à temática. RESULTADOS E DISCUSSÕES Na primeira seleção dos trabalhos/textos/artigos/dissertações/teses foram encontrados na base de dados da ABEn oitenta e quatro teses/dissertações e na base de dados do Lilacs encontraram-se quarenta e nove trabalhos/artigos. Após a seleção, os textos foram lidos e submetidos à nova seleção identificando os que efetivamente tratavam da temática, o que resultou em um total de cento e quatro artigos/trabalhos. O foco da pesquisa era a identificação de publicações referentes à formação para a atividade educativa, entretanto, dado o pequeno volume com este enfoque optou-se por seguir a classificação de Dilly; Jesus (1995) sistematizando os textos em: ação educativa em grupo, individual e com a comunidade, além dos específicos sobre a formação para a atividade educativa. Aqueles que não se enquadraram em nenhum desses grupos foram classificados como “outros”. Constatou-se que houve aumento da produção sobre a temática a partir dos anos 2000 e que a atividade educativa com a comunidade não foi identificada em nenhum texto. No que se refere à formação do enfermeiro educador, dos cento e quatro trabalhos selecionados, nove trataram dessa temática explicitando que há uma produção pouco expressiva acerca desta dimensão na produção da enfermagem brasileira. Analisando a distribuição desta produção nos últimos anos, percebe-se que há um aumento a partir dos anos 2000, pois num intervalo de tempo de vinte e três anos, de 1977 a 2000, encontram-se quatro trabalhos. Ao mesmo tempo no espaço de cinco anos, de 2000 a 2005, encontraram-se cinco trabalhos. Ao explorar o enfoque dado pela produção da enfermagem buscando averiguar seu entendimento acerca da formação do enfermeiro educador, pode-se afirmar que há a compreensão de que a formação do educador pode ser alcançada através de disciplinas e módulos pedagógicos e que há preocupação com a formação pedagógica para o desempenho do papel de educador. Em relação aos conteúdos curriculares, as diretrizes curriculares que contemplam o ensino em enfermagem, indicam que os conteúdos pertinentes a capacitação pedagógica independe da inclusão da licenciatura na graduação em enfermagem, porém o enfermeiro formado em curso de enfermagem com licenciatura está capacitado para atuar na educação básica e na educação profissional em enfermagem (CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 2001). A compreensão de que a formação pode ser alcançada através de disciplinas/módulos pedagógicos esteve presente em quatro dos nove trabalhos identificados, o que permite afirmar que há um entendimento restrito do que seja formar para a ação educativa, uma vez que não contempla como necessário que tal formação se dê na licenciatura em enfermagem. Um dos trabalhos até expressa essa possibilidade, mas ao mesmo tempo a coloca ao lado da formação em módulo pedagógico. A necessidade de formação pedagógica foi expressada em dois trabalhos, um deles indicando a falta de clareza do enfermeiro acerca da ação educativa em saúde e a necessidade de reorientar a formação e o outro indicando a necessidade de refletir sobre a formação desses profissionais. Portanto, o entendimento dos enfermeiros brasileiros acerca da formação para a educação está voltado a algumas disciplinas pedagógicas, como prática de ensino e didática aplicada à enfermagem. Também indicam a necessidade de repensar a formação do enfermeiro como educador. Na modalidade de trabalho em grupo identificaram-se trinta e seis trabalhos com maior ocorrência a partir do ano 2000. As pesquisas realizadas na área de educação em saúde, focalizando a modalidade em grupo, foram as mais expressivas apresentando um maior número de publicações. Do total de cento e quatro trabalhos, trinta e seis pertencem a esta modalidade, sendo que um desses está presente tanto na modalidade em grupo quanto na individual. Não houve intervalos consideráveis desde a data do primeiro trabalho encontrado, em 1982. O maior deles foi entre o ano de 1984 a 1990, sendo que os outros textos ocorreram, na maioria das vezes, anualmente. Quanto ao número de pesquisas realizadas e o intervalo de tempo entre estas, observou-se que entre o ano 2000 a 2004, houve uma maior quantidade, totalizando 15. Anterior a essa data, entre 1982 a 1999, encontrou-se 20 trabalhos. A educação em saúde realizada em grupos tem a vantagem de conseguir trabalhar com vários tipos de pessoas, porém estas devem ter características em comum. Segundo Dilly; Jesus (1995), “são características de um grupo: a identificação entre as pessoas, a percepção coletiva da unidade, objetivos comuns, ajuda mútua, grande comunicabilidade e consistência interna”. Observou-se que as mulheres são os indivíduos mais procurados para a realização desta atividade, em especial as adolescentes puérperas, mulheres primigestas, gestantes, entre outras. Seguido destas, pacientes com diabetes mellitus e pacientes com hanseníase e seus familiares, também foram alvos de alguns trabalhos. A procura maior pela atividade em grupo com mulheres pode se dar pelo fato destas, ao repassarem as informações adquiridas, atingir um maior número de pessoas devido à própria característica que possuem na sociedade. Nas pesquisas realizadas com os grupos, estes relataram que a atividade educativa serviu como aquisição de conhecimentos, manifestado em quatro trabalhos; mudança de comportamento ou mudança interna, em cinco trabalhos; mudança de ações, em dois trabalhos. Também foi citado como ação educativa o objetivo de prevenção, suporte, aprendizagem, fonte de conscientização, compreensão e reconhecimento. Através disso, pode-se observar que a educação tem um papel importante na vida de cada indivíduo. Segundo Fernandes (2004) a educação é capaz de transformar os paradigmas da existência humana e com ela o homem é capaz de compreender o que ocorre na sociedade, ampliando sua visão sobre o mundo em que está inserido. Dessa maneira, a educação seria a solução para os problemas da sociedade, porém Valla (1986) diz que a população não terá saúde enquanto não tiver emprego, salário digno, casa confortável, água, luz, saneamento básico, ou seja, atendimento médico e remédios não são o suficiente se a população não tiver condições para seguir as orientações dadas pelos profissionais da saúde. A maneira como se deu as práticas educativas em grupo é um fato importante a ser mencionado. Dos trinta e quatro trabalhos desta modalidade, seis relataram isso. Desses, quatro realizaram através do diálogo e dois através da troca de saberes. Para Dilly; Jesus (1995), o diálogo deve estar presente no trabalho de educação para a saúde desenvolvida pelo enfermeiro, pois é dessa maneira que se processa a verdadeira educação. Ainda, de acordo com estas autoras citando Freire, diz que “o indivíduo encontra no grupo um lugar, um papel, uma forma de estar que por sua vez constitui sua maneira de ser e, nesse espaço desempenha seu papel, segundo sua história e as marcas que traz consigo”. O enfermeiro, quando se propõe a realizar educação em saúde com grupos, deve levar em conta que os participantes possuem uma história, uma vivência, um saber popular. Desta maneira, é importante que o profissional não despreze esses conhecimentos, e sim o integre aos novos que serão adquiridos. Em dois trabalhos foi verificada a preocupação em integrar a ciência com a experiência dos indivíduos. Segundo Dilly; Jesus (1995) “deixar de lado a sabedoria popular invalida todo o trabalho que se pretende realizar junto à comunidade. Adotar a postura do educadoreducando é a maneira correta de exercer o nosso trabalho”. Na dimensão educativa individual, dos cento e quatro trabalhos coletados, trinta e um pertencem a esta modalidade. Na década de 70 não houve uma produção expressiva de trabalhos nesta área, realizada pelos enfermeiros brasileiros, pois foi encontrado um no ano de 1975 e outro em 1976. Na década de 80 foi encontrado o dobro dos trabalhos da década anterior, ou seja, quatro, sendo que um desses pertence tanto a dimensão educativa individual quanto em grupo. Nos anos 90 as pesquisas realizadas totalizaram oito trabalhos. A partir do ano 2000 houve um aumento considerável, comparado aos anos anteriores, com dezesseis trabalhos, observando que o ano de 2003 é destaque nas produções, com seis trabalhos. Assim, o aumento na realização das pesquisas na dimensão educativa individual, realizada por enfermeiros brasileiros, ocorreu de forma gradual até o ano 2000. A partir de então, teve uma aceleração da produção de pesquisas na educação em saúde nesta modalidade. É interessante ressaltar que três pesquisas relataram que a educação voltada para a saúde é função do profissional enfermeiro. Uma delas cita que é o enfermeiro o mediador do processo ensino-aprendizagem. O enfermeiro é o elemento que desenvolve a tarefa de ensinar questões relativas à saúde, pois a sua formação na graduação, tem como objetivo capacitá-lo para tal atividade, bem como abordar aspectos pedagógicos em diversas situações de ensino-aprendizagem no curso (DILLY; JESUS, 1995). O enfermeiro é ou deveria ser preparado durante a sua formação, para a atuação na educação, tanto a nível escolar como diretamente com a comunidade. Mas se observa que essa função é desvalorizada pelos próprios profissionais ou as suas atividades são desvinculadas do sentido se educar. Para Dilly; Jesus (1995) “a instrumentalização do enfermeiro para o exercício de atividade de ensino, quer no magistério, quer nas atividades profissionais, poderá resultar em uma prática mais reflexiva e, consequentemente, possibilitar um melhor desempenho de suas funções de educador”. Da análise dos artigos, um mostrou que o processo educativo é o trabalho dominante na profissão de enfermagem. Na atuação do enfermeiro, as suas atividades são voltadas para a educação com o intuito de promover a saúde dos indivíduos. No caso do trabalho educativo individual, ocorre uma comunicação interpessoal por interação direta pessoa a pessoa (DILLY; JESUS, 1995). A não importância que os profissionais de enfermagem dão ao processo educativo ou ao seu papel de educador pode ser explicada pela falta de preparo que estes têm, durante a sua formação, que pode os deixar inseguros para atuar nessa função. Um trabalho nos informa que o despreparo dos enfermeiros foi identificado através da falta de planejamento das atividades educativas. Mesmo possuindo um excelente nível de conhecimento e competência técnica, no que tange a competência pedagógica, fica a desejar. Um outro trabalho, analisando as possibilidades e limites que os enfermeiros possuem ao desenvolver ações educativas, evidenciou que apesar de reconhecerem a importância dessa prática, estes necessitam de aprofundamento teórico. Contrapondo ao que diz sobre a desvalorização da função de educador por parte dos enfermeiros, dois artigos revelam que a atividade educativa é importante no cotidiano dos indivíduos que participam dessa ação, pois dessa maneira existe a possibilidade de melhorar a sua qualidade de vida e consequentemente a sua saúde. Apesar de alguns profissionais não valorizarem a sua função de educador durante as suas atividades, um trabalho revela a preocupação com o papel educativo e com a sua qualidade. Isso acorre porque o enfermeiro quando desenvolve a educação, esta acontece de forma rotineira e condicionadora ou é delegada a outros profissionais, como o auxiliar de enfermagem. Isso se dá devido à multiplicidade e superposição de funções que o enfermeiro exerce. Além de condicionadora e rotineira, pesquisas relatam que a educação também é realizada de forma fragmentada, pois o enfermeiro não se sente seguro para dar orientações, ou a desenvolve de maneira depreciadora, como um ritual. Um outro fator que deve ser levado em conta são os obstáculos que os profissionais enfrentam na realização da educação em saúde, como o modelo assistencial da instituição em que trabalham, que apesar desses profissionais terem vontade ou um bom propósito para desenvolver a educação, esta só acontece como repasse de informações, deixando de lado o desenvolvimento de uma consciência crítica. Pretende-se especificamente com a educação em saúde fazer com que as pessoas considerem a saúde como um valor; estimular a utilização dos serviços de saúde; estimular as pessoas a conseguirem saúde através de seus próprios esforços e ações (DILLY; JESUS, 1995). Para alguns indivíduos que participaram das pesquisas, a educação é a aquisição de conhecimentos ou um repasse de informações, muitas vezes de forma vertical, ou seja, do profissional para o paciente. Já para alguns dos textos, a atividade educativa vai além disso, ou seja, é o desenvolvimento de uma consciência crítica. Como conseqüência dessa educação conscientizadora, pode haver uma melhoria na qualidade de vida e no tratamento da pessoa, assim como uma maior cooperação desta. Uma pesquisa arrisca afirmar que a atividade educativa desenvolvida pelo enfermeiro pode resultar na transformação da realidade. Na dimensão educativa individual, o profissional de enfermagem utiliza da educação em saúde como preparo para o autocuidado do paciente. Como foi mostrado em alguns trabalhos, quando a educação está voltada a esse fim, o enfermeiro orienta e ensina o indivíduo, para que este, por si só, seja independente do profissional para a realização do seu cuidado. O governo brasileiro, no início dos anos de 1990, seguindo as orientações do Banco Mundial, implementou programas como o PACS – Programa de Agentes Comunitários de Saúde e o PSF – Programa Saúde da Família, que atenderiam as necessidades básicas da população. Porém não necessitariam de profissionais qualificados e nem de ações sofisticadas. Isso faria com que o indivíduo se responsabilizasse pela sua saúde através do autocuidado (CONTERNO, 2002). Este dado talvez explique em parte o aumento significativo de trabalhos voltados à ação educativa a partir dos anos 2000. Em contrapartida, Dilly;Jesus (1995) dizem que o enfermeiro pode fazer a educação individual visando o autocuidado e a participação do cliente no cuidado, não necessariamente num aspecto negativo. Ou seja, é importante que o usuário participe da ação de saúde em que a atividade educativa pode despertar para a aquisição de comportamentos saudáveis, mas ao mesmo tempo não é possível que elas depositem sobre a pessoa toda a responsabilidade sobre sua condição de saúde que, como já explicitado anteriormente tem outros determinantes como as condições de existência como expresso pelo próprio conceito de saúde presente na legislação de base do Sistema Único de Saúde do Brasil. A atividade educativa individual, na sua maioria, foi desenvolvida a nível ambulatorial, que foi exposto em seis dos trabalhos selecionados para esta modalidade. Em relação ao modo como se dá a educação, um trabalho relata que é importante ser realizada através do diálogo, sendo vantagem tanto para o profissional quanto para o cliente. Um outro informa que o diálogo é importante, porém entre os profissionais, pois dessa maneira refletiriam sobre a co-responsabilidade no processo ensinoaprendizagem. Através do diálogo entre o profissional e o indivíduo é que irá fortalecer o aprendizado de ambos. Ambos porque o enfermeiro não deve ter o pré-conceito de que possui o conhecimento sobre tudo, ou que o seu saber científico é o que prevalece. Um trabalho citou que essa integração do saber popular com o saber científico não ocorre na educação em saúde. Os outros trabalhos não mencionaram este aspecto. Segundo Vasconcelos (1997), o profissional deve valorizar a medicina popular, pois esta possui riquezas que ainda não são compreendidas pela medicina oficial. Afirma, ainda, que a valorização do conhecimento que o indivíduo tem juntamente com o diálogo estabelecido entre profissional e paciente, é que este último se sentirá mais a vontade para colocar as suas dúvidas, o que facilitará no tratamento. Portanto, o enfermeiro deve valorizar o saber popular e também aperfeiçoá-lo. Nos trabalhos classificados como “outros”, o primeiro foi encontrado no ano de 1984 e, a partir de então houve uma publicação na área de educação para a saúde em todas as décadas. Evidenciou-se que a produção de pesquisas aumentou a partir dos anos 2000, com quatorze trabalhos num intervalo de tempo de cinco anos, enquanto que anterior a essa data, de 1984 a 1999, encontraram-se quinze trabalhos. Dos vinte e nove artigos presentes nesta classificação, cinco identificaram a educação em saúde desenvolvida pelo enfermeiro como uma atividade importante. Porém, na prática essa ação está sendo desvalorizada. Isso ocorreria porque os profissionais enfermeiros atuaram de maneira descomprometida com o sentido de educar. Observou-se isso através da maneira como seria realizada a educação em saúde, que ocorreria como mera transmissão de informações ou apenas como caráter preventivo. Um artigo revelou que a educação dos indivíduos realizada pelo profissional enfermeiro acorre sem planejamento, assistemática e com inexistência de respaldo teórico. Tal atitude pode ser explicada, como mostra uma pesquisa, pelo fato de que a grande maioria dos profissionais não obteve uma formação voltada para a educação. CONSIDERAÇÕES SOBRE O ESTUDO A partir da análise dos trabalhos/artigos/textos/teses/dissertações pode-se observar que a produção realizada pelos enfermeiros brasileiros acerca da formação para a educação, teve um crescimento após o ano 2000. As dimensões educativas em grupo foram desenvolvidas, na sua maioria, com mulheres o que pode ser explicado pela característica própria deste grupo como cuidadora e responsável pelas questões de saúde da família. Os grupos mostraram que a atividade educativa é importante para a mudança de comportamento, aquisição de conhecimentos, entre outros, e que isso é adquirido através da troca de saberes e do diálogo. É importante ressaltar que o profissional de enfermagem deve considerar o conhecimento prévio dos participantes e ensinar e aprender com os mesmos. Na modalidade individual os trabalhos relataram que a prática educativa acontece de forma rotineira, fragmentada, condicionadora e nem sempre valorizada. Tem ocorrido em maior quantidade nas atividades ambulatoriais com a finalidade de educar para a cooperação no tratamento, repasse de informações, desenvolvimento da consciência crítica, melhoria na qualidade de vida, transformação da realidade, melhoria no tratamento, assim como voltado ao autocuidado. Alguns textos mostram a importância da atividade educativa ao mesmo tempo em que outros denunciam o despreparo do enfermeiro para tal atividade. Na classificação dos trabalhos como modalidade outros, assim como na modalidade individual e em grupo, os pesquisadores informam a importância da prática educativa realizada por enfermeiros, sendo que um trabalho cita a inserção desse profissional na saúde do escolar como fundamental. Apesar dessa consciência, a atividade educativa é realizada como mera transmissão de informações ou como prevenção de doenças e agravos, o que provoca a desvalorização desse papel. Talvez, isso ocorra, pois a grande maioria dos enfermeiros não tem na sua formação enfoque em conhecimentos pedagógicos, como relata uma das pesquisas selecionadas. No que se refere à formação do enfermeiro educador, esta está vinculada a algumas disciplinas e não se identificou referência à necessidade da licenciatura na graduação, porém indicam a importância de repensar como está sendo realizada a formação. É possível afirmar que a partir dos anos 2000, houve substancialmente, o aumento da produção acerca da educação na área da enfermagem seja ela na modalidade individual ou em grupo, como indicado na introdução deste texto quando se pressupunha que o papel educativo do enfermeiro teria ganhado relevância nas últimas décadas como “forma de produzir ações de atenção primária em consonância com o Sistema Único de Saúde”. Esta é uma questão importante que o texto sistematiza, ao demonstrar que ela efetivamente aconteceu. Ao mesmo tempo mostra que não foi acompanhada de ações efetivas, especialmente as de preparo profissional para o exercício desta dimensão. Assim, obriga a problematizar que ainda há a atuação desprovida de elementos pedagógicos que possam contribuir com a sistematização desta prática sendo este um aspecto importante a ser considerado no encaminhamento futuro desta discussão. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA BAGNATO, M. H. Licenciatura em enfermagem. Para quê? Tese de Doutorado, Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas, 1994. CONTERNO, S. F. R. (2002). O Banco Mundial e a atualização da retórica da satisfação das necessidades humanas básicas expressas nas áreas de educação e saúde nos anos de 1990. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Maringá, 2002. DILLY, C. M. L.; JESUS, M. C. P. Processo educativo em enfermagem: das concepções pedagógicas à prática profissional. São Paulo: Robe Editoral, 1995. FERNANDES, C. N. S. Refletindo sobre o aprendizado do papel de educador no processo de formação do enfermeiro. Revista Latino Americana de Enfermagem, julho-agosto, 2004. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1994. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. CÂMARA DE EDUCAÇÃO SUPERIOR. Resolução CNE/CES Nº 3, de 07 de novembro de 2001. Brasília, DF. TRIVIÑOS, A. N. S. 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