efeitos na precocidade, na produção e nos teores de nutrientes e

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CARLOS ALBERTO BACA MALDONADO
BIOSSÓLIDO NA IMPLANTAÇÃO DA CULTURA DA
PUPUNHEIRA: EFEITOS NA PRECOCIDADE, NA
PRODUÇÃO E NOS TEORES DE NUTRIENTES E
METAIS PESADOS DO PALMITO
Dissertação apresentada ao Curso de Pós-graduação
do Instituto Agronômico (IAC), como requisito
parcial à obtenção do título de Mestre em Tecnologia
da Produção Agrícola.
Orientador: Dra. MARILENE LEÃO ALVES BOVI
CAMPINAS
ESTADO DE SÃO PAULO
2005
ii
B12b
Baca Maldonado, Carlos Alberto
Biossólido na implantação da cultura da pupunheira:
efeitos na precocidade, na produção e nos teores de nutrientes
e metais pesados do palmito/ Carlos Alberto Baca
Maldonado. Campinas: Instituto Agronômico, 2005.
89 fls. : il.
Orientadora: Dra. Marilene Leão Alves Bovi
Dissertação (Mestrado em Tecnologia da Produção
Agrícola) – Instituto Agronômico de Campinas
1. Bactris gasipaes. 2.Biomassa aérea. 3. Cromo, 4.
Elementos tóxicos. 5. Lodo de esgoto. I. Bovi, Marilene
Leão Alves. II. Instituto Agronômico de Campinas.
III.Título
CDD – 662
iii
Aos meus pais Juana e Peter,
aos meus tios Flavia, Enrique e Liborio (in memoriam) e
à meu irmão Juanito (in memoriam),
DEDICO
À minha esposa Rosalinda pela sua
compreensão e à minha filha Carlita
cujo sorriso diário incentivou o ânimo
para culminar o projeto,
OFEREÇO
iv
AGRADECIMENTOS
- A Deus, por me fortalecer nos momentos difíceis;
- Ao Instituto Agronômico (IAC), pela oportunidade oferecida para realização do Curso
de Pós Graduação;
- À FundAg, pela concessão de bolsa de estudo para realização do curso;
- À Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo – SABESP, pelo apoio
financeiro durante a realização do experimento de campo;
- À pesquisadora e orientadora Dra. Marilene Leão Alves Bovi, pelos ensinamentos
importantes no curso e na minha vida profissional;
- À pesquisadora e amiga Dra. Maria Luiza Sant’Anna Tucci, carinhosamente Malu, pela
ajuda, amizade e atenção dispensada durante a realização deste trabalho;
- À Sandra Heiden Spiering, pela amizade e apoio moral durante esses anos. É muito
difícil explicar nestas poucas palavras a imensa gratidão que sinto;
- Aos professores da área de concentração em Tecnologia da Produção Vegetal da PGIAC, pelos conselhos e ensinamentos constantes transmitidos;
- Aos funcionários da PG-IAC, particularmente Maria Angelina dos Santos, Célia Regina
Terra e Lígia L. B. Bolognini, pelo auxílio e amizade no decorrer do curso;
- À toda a galera da pós-graduação, pela amizade, colaboração e incentivo durante o
curso;
- À minha pequena família no Brasil, pelo carinho, incentivo e paciência, compartilhando
todos os momentos alegres e difíceis no decorrer do curso;
- À minha grande família peruana, irmãos: Peter, Rafael, Erick, Alan; sobrinhos, primos,
cunhadas, pelo carinho que sempre me outorgaram.
- Aos amigos peruanos no Brasil, que de alguma maneira fizeram alegres os dias de
saudade longe de meu país;
- À Armando Buratto, trabalhador de “minha” seção, Plantas Tropicais, pelo convívio e a
grande amizade;
- Finalmente, a todos aqueles que com boa intenção, colaboraram para a realização e
finalização deste trabalho.
v
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS I........................................................................................................IV
RESUMO.................................................................................................................................VI
ABSTRACT ...........................................................................................................................VII
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 1
2. REVISÃO DA LITERATURA ........................................................................................... 6
2.1. A Pupunheira ................................................................................................................... 6
2.1.1 Ecologia e biologia da pupunheira ............................................................................ 7
2.1.2. Crescimento e produção da pupunheira.................................................................... 8
2.1.3. Solos e nutrição da pupunheira................................................................................. 9
2.2 Biossólido ....................................................................................................................... 10
2.3. Potencial de Uso Agrícola do Biossólido ...................................................................... 12
2.4. Riscos de Contaminação Pelo Uso do Biossólido ........................................................ 17
3. MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................................... 24
3.1. Caracterização do Local do Experimento...................................................................... 24
3.2. Origem e Característica das Pupunheiras ..................................................................... 25
3.3. Origem e Características do Biossólido Utilizado no Experimento .............................. 25
3.4. Cálculo e Aplicação das Doses de Biossólido.............................................................. 27
3.5. Delineamento Experimental .......................................................................................... 28
3.6. Tratos Culturais ............................................................................................................. 29
3.7. Avaliação das Respostas da Pupunheira........................................................................ 29
3.7.1. Caracteres relacionados à sustentabilidade do cultivo ........................................... 29
3.7.2. Caracteres relacionados ao rendimento e produção .............................................. 30
3.7.2. Teores de elementos no palmito ............................................................................. 32
3.8. Análises Estatísticas ...................................................................................................... 34
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................................................ 35
4.1 Efeitos do Biossólido nos Caracteres Relacionados à Sustentabilidade do Cultivo....... 35
4.1.1. Altura da planta ...................................................................................................... 35
4.1.2. Plantas aptas para o corte........................................................................................ 37
4.1.3. Número de perfilhos ............................................................................................. 40
4.1.4. Porcentagem de plantas perfilhadas ...................................................................... 43
4.2. Efeitos do Biossólido nos Caracteres Relacionados à Produção................................... 45
4.2.1. Componentes da produção de palmito.................................................................... 45
4.3. Nutrientes e Metais Pesados na Parte Comestível do Palmito e na Folha+2 ................ 51
4.3.1. Teores de macronutrientes...................................................................................... 52
4.3.2. Teores de micronutrientes ...................................................................................... 58
5. CONCLUSÕES................................................................................................................... 71
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 72
vi
MALDONADO, Carlos Alberto B. Biossólido na implantação da cultura da pupunheira:
efeitos na precocidade, na produção e nos teores de nutrientes e metais pesados do
palmito. 2005. Dissertação (Mestrado em Tecnologia da Produção Agrícola) – Pós-graduação
(IAC).
RESUMO
As respostas da pupunheira (Bactris gasipaes Kunth) à adubação orgânica são superiores às
propiciadas pela adubação química durante a fase de implantação da cultura. O emprego de
biossólido por ocasião do plantio mostrou resultados positivos na biomassa aérea e radicular
até um ano após a aplicação. No entanto, estudos complementares, relacionados ao palmito,
são necessários, antes da recomendação dessa fonte de matéria orgânica no cultivo da
pupunheira. O presente trabalho teve por objetivo avaliar o efeito da aplicação única de quatro
doses de biossólido na sustentabilidade do cultivo, na precocidade de colheita, na produção e
nos teores de nutrientes e metais pesados do palmito. O experimento, implantado na Unidade
de Pesquisa de Desenvolvimento do Pólo Regional de Desenvolvimento Tecnológico do
Agronegócio do Vale do Paraíba, localizada em Ubatuba (23o27’S, 45o04’O, a seis metros de
altitude), foi conduzido durante um ano e meio (julho/2001 a janeiro/2003), em solo
classificado como Aluvial álico (Udifluvent), com boa drenagem. O delineamento foi blocos
ao acaso, com seis repetições, quatro tratamentos, e 36 plantas por unidade experimental.
Empregou-se o espaçamento de 2 m x 1 m, e mudas de pupunheiras inermes da raça
Putumayo. As doses de biossólido foram calculadas levando-se em consideração as
recomendações de nitrogênio para o cultivo, e a composição química do lodo da Estação de
Tratamento de Esgoto de Bertioga, correspondendo a 0, 38, 76 e 152 Mg ha-1 de biossólido
fresco (79,7 % de umidade), equivalentes a 0, 100, 200 e 400 kg de N prontamente disponível
por hectare. Os tratamentos foram aplicados, no sulco de plantio, adicionando-se 15 g planta-1
de cloreto de potássio como fonte de K2O. Foram realizadas adubações trimestrais com 15 g
de cloreto de potássio e 2,4 g de Bórax por planta, visando corrigir deficiências. Foram
mensurados caracteres relacionados à precocidade para colheita (altura da haste principal e
porcentagem de plantas aptas para corte), ao rendimento em palmito (peso e dimensões) e aos
teores de alguns elementos presentes no mesmo. Características relacionadas à
sustentabilidade do cultivo, tais como número de perfilhos e porcentagem de plantas
perfilhadas também foram avaliadas. Empregou-se análise de regressão e ajuste de curva para
o estudo dos dados obtidos. A escolha da equação com melhor ajuste foi baseada na
significância do efeito da regressão, no maior coeficiente de determinação e no significado
biológico. A aplicação de doses de biossólido durante a implantação do cultivo da pupunheira
causou efeitos nas plantas que se manifestaram por até 19 meses. Houve efeito significativo
das doses de biossólido sobre todas as características avaliadas. O perfilhamento foi maior e
ocorreu mais precocemente nas doses mais elevadas de biossólido. As plantas dos tratamentos
com doses elevadas de biossólido atingiram ponto de corte para palmito precocemente, quatro
a dois meses antes da testemunha. A adição de biossólido na implantação do cultivo afetou
positivamente a produção de palmito (peso e dimensões), avaliada 15 a 19 meses após a
aplicação. Os teores de macro e microelementos variaram ao longo da porção comestível,
apresentando-se, na maior parte das vezes, bastante superiores aos da folha-teste. Os teores de
metais pesados da porção comestível estiveram dentro dos limites de tolerância impostos pela
legislação vigente, exceto pelo metal pesado cromo. Estudos mais aprofundados nesse aspecto
são necessários antes que se recomende o uso de biossólido no cultivo.
Palavras-chave: Bactris gasipaes, biomassa aérea, cromo, elementos tóxicos, lodo de esgoto.
vii
MALDONADO, Carlos Alberto B. Biosolid use on peach palm establishment: effects on
precocity, production and heart-of-palm elements and heavy metals contents. 2005.
Dissertação (Mestrado em Tecnologia da Produção Agrícola) – Pós-graduação (IAC).
ABSTRACT
Peach palm (Bactris gasipaes Kunth) responses to increasing doses of sewage sludge
(biosolid) were evaluated during an 18-month period (July/2001 to February/2003). The
experiment was carried out, under field conditions, at Unidade de Pesquisa de
Desenvolvimento do Pólo Regional de Desenvolvimento Tecnológico do Agronegócio do
Vale do Paraíba, located in Ubatuba (23o27’S, 45o04’W, 6 m a.s.l.), SP, Brazil, in an
Udifluvent type soil, with good drainage. A randomized block design was utilized, with six
replications, four treatments (sewage sludge doses), 36 plants per experimental unit, and 16
useful plants, in a 2 m x 1m planting spacing, using 10 month-old seedlings from a Putumayo
landrace. The biosolid doses (treatments) were calculated based on the nitrogen
recommendations for the culture and the chemical composition of the sewage sludge from
Bertioga. A total of 0, 38, 76 and 152 Mg ha-1 of sewage sludge were utilized (fresh basis,
with 79.7 % water content), equivalent to 0, 100, 200 and 400 kg of quickly available N per
hectare. The sludge doses were applied at once, in the planting furrow, adding 15 g plant-1 of
potassium chloride as source of K2O. Complementary fertilizer amendments, with 15 g of
potassium chloride and 2.4 g of borax per plant, were made every three months, during the
evaluation cycle, in order to correct plant deficiencies. Traits related to harvest precocity
(main stem plant height, and percentage of harvestable plants), heart-of-palm yield (weight
and dimensions), and heart-of-palm mineral composition were evaluated. Other traits related
to crop sustainability, as number of offshoots and percentage of suckered plants, were also
evaluated. Data were studied by variance and regression analysis, followed by curve fitting,
due to the quantitative nature of the traits. Best equations were selected based on regression
significance and biological meaning. Biosolid application during plant establishment causes
effects that last for until 19 months. There were significant effects for all evaluated traits. The
suckering ability of peach palm was high and precocious when large doses of biosolid were
applied. Those doses provided also precocious harvest, four to two months before the control.
The biosolid application at planting also affected positively heart-of-palm yield (weight and
dimensions), evaluated 15 to 19 months later. Macro and microelements contents varied along
the edible portion (basal residue and heart-of-palm) and, as a rule, were larger than the
contents found in the leaf used to determine nutrient status in peach palm. Heavy metal
elements detected in the edible portion were inferior to the tolerance levels presented in food
legislations, with the exception of chromium. Further studies in this aspect are needed.
Key-words: Bactris gasipaes, aboveground biomass, chromium, sewage sludge, toxic
elements.
1. INTRODUÇÃO
Uma das metas fundamentais do agronegócio brasileiro é produzir a partir do uso
racional dos recursos naturais com base num modelo de desenvolvimento que combine
critérios econômicos, de equidade social e de respeito ambiental. Essa meta implica que os
modelos sejam práticos, claros e úteis, para orientar e contribuir para solucionar problemas do
crescimento da população, e de suas restrições para utilizar e participar no processo produtivo.
Dentro desse contexto têm sido estudadas diferentes culturas perenes sob condições diversas,
uma das quais é a pupunheira (Bactris gasipaes Kunth) que vem se expandindo no Brasil
como opção de produção sustentável de palmito, produto altamente valorizado.
Originária da floresta amazônica, a pupunheira tem sido explorada como alternativa
racional e econômica para a produção de palmito. As características agronômicas que possui e
a aceitação dos produtos que oferece ao consumidor estão contribuindo para sua exploração
comercial. Bovi (1998) afirma que a pupunheira, especialmente a sem espinho, possui quase
todas as características desejáveis das palmeiras do gênero Euterpe, acrescida ainda de
algumas vantagens como crescimento acelerado (precocidade), perfilhamento, rusticidade e
alta sobrevivência no campo. Por ser cultivada, reconhece-se que o cultivo da pupunheira
fornece um produto final de melhor qualidade quando comparado àquele proveniente da
extração de palmito das palmeiras tradicionalmente utilizadas (Euterpe edulis, E. oleracea e
E. precatoria), permitindo ainda um melhor controle de qualidade no produto final. Esses
fatores estão contribuindo sensivelmente para abrir um amplo mercado para o cultivo e o
consumo da pupunheira no Brasil.
2
Embora as estatísticas não sejam muito confiáveis, estima-se que o mercado
internacional de palmito seja da ordem de US$ 210 milhões de dólares, enquanto a exportação
brasileira, que anteriormente atingia 85% do mercado internacional, agora só representa 11%
(PUPUNHA-NET, 2004; TUFFANI, 2001). No entanto, há possibilidade de expansão de
mercado, tanto internacional quanto nacional, desde que seja oferecido um produto de
qualidade, e os reflexos do cultivo tecnificado de pupunheira em vários países já se fazem
notar.
O palmito brasileiro, anteriormente proveniente apenas da exploração predatória de
palmeiras nativas da Mata Atlântica e/ou Floresta Amazônica, passou, com o advento do
cultivo tecnificado da pupunheira, a ser produzido de forma racional e sustentável, se não
eliminando, pelo menos reduzindo, a pressão de exploração sobre nossas palmeiras nativas.
Estima-se atualmente que a área cultivada com a pupunheira no Brasil alcance cerca
de 60.000 hectares e esteja ainda em expansão. Até o ano 2000, aproximadamente 25% dessa
área encontrava-se em fase de colheita. Atualmente a situação é inversa, com 75% dos
cultivos já em fase de produção continuada de palmito. No Estado de São Paulo o cultivo da
pupunheira teve início em 1990 e a partir dessa data vem se expandindo em taxa geométrica,
tanto no litoral quanto no planalto (BOVI, 1998; BOVI, 2000). Supõe-se que um terço do
palmito pupunha produzido hoje no país venha do interior e do litoral paulista. O
levantamento censitário de unidades de produção agrícola do Estado de São Paulo (LUPA,
2004) contabilizava, em dezembro de 2004, acima de 18.000 hectares em cultivo com a
pupunheira em nosso Estado, sendo que cerca de 7.000 hectares estavam em fase de produção.
3
Dos motivos que levaram à adoção e expansão do cultivo da pupunheira sua
precocidade merece destaque. A pupunheira é uma espécie tropical de rápido crescimento
quando comparada às espécies tradicionalmente utilizadas para a produção de palmito,
estando apta para corte já a partir dos 14 - 18 meses (BOVI, 1998). No entanto, é cultura
exigente em características físicas do solo (JORGE e BOVI, 1994), extrai grande quantidade
de nutrientes do mesmo (BOVI e CANTARELLA, 1996; FALCÃO et al., 1998; ARES et al.,
2002) e máxima produtividade é obtida somente com uso adequado de adubação (BOVI et al.,
2002; SCHROTH et al., 2002).
A pupunheira responde à adubação orgânica de forma mais acentuada que à
adubação química e o uso de matéria orgânica, principalmente na cova ou sulco de plantio, é
altamente recomendado (CANTARELLA e BOVI, 1995; BOVI, 1998; BOVI et al, 2000).
Conforme enfatizado por Oliveira et al. (2001), a adubação orgânica da pupunheira é de suma
importância, haja vista que além de melhoria nas condições biológicas e físicas do solo, a
matéria orgânica libera nutrientes minerais prontamente absorvidos pela planta.
Resultados de pesquisa indicam que a resposta da pupunheira à adubação orgânica,
especialmente de implantação, se traduz não só na maior sobrevivência a campo, como
também no maior crescimento em altura, condição essencial para precocidade de colheita,
bem como no maior perfilhamento da touceira, fundamental para produção periódica de
palmito, longevidade da touceira e sustentabilidade do cultivo (BOVI et al., 2000) .
Várias fontes de matéria orgânica e/ou produtos comerciais vêm sendo usadas na
agricultura com o objetivo de melhorar as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo
(GIUSQUIANI et al., 1995; SERRA-WITTLING, 1996). Merecem destaque: esterco de
4
curral, composto de lixo e resíduos vegetais, entre outros. Apenas recentemente atenção tem
sido dada ao uso agrícola do lodo de esgoto, ainda que a utilização desse resíduo orgânico na
agricultura remonte ao ano de 1920. Foi nessa data que os fazendeiros começaram a usar o
lodo das estações municipais de tratamento de efluentes residenciais como fertilizante. Após
décadas de pesquisas, as comunidades científicas e agrícolas vieram compreender que esse
lodo contém nutrientes e matéria orgânica que a fertilidade do solo de maneira similar ao
esterco animal. Dá-se atualmente o nome de biossólido ao lodo de esgoto devidamente tratado
e com características desejáveis para ser usado na agricultura. Isso significa principalmente
ausência ou número reduzido de patógenos, além de baixos teores de elementos
potencialmente tóxicos, tais como metais pesados e poluentes orgânicos persistentes
(LUDUVICE, 1998; ROCHA e SHIROTA, 1999; SANEPAR, 1997).
Resultados de pesquisas com biossólido na agricultura indicam a presença de quase
todos os nutrientes exigidos pelas plantas, e que seu emprego é altamente recomendável em
culturas tais como: milho, café, cana-de-açúcar, citros, espécies florestais e outras plantas
perenes, devido aos altos teores de matéria orgânica (40 – 60%), nitrogênio (4%), fósforo
(2%), e micronutrientes em geral. O biossólido atua também como um condicionador do solo,
melhorando as características físicas, agindo ainda em processos químicos e biológicos
(MELO e MARQUES, 2000; OLIVEIRA et al., 2000). No entanto, torna-se necessário
estudar o comportamento dos cultivos, quanto à melhor dosagem e freqüência de aplicação
desse material, que deverá atender às exigências nutricionais, porém sem contaminar o solo
e/ou provocar a entrada de metais pesados na cadeia trófica (MCGRATH et al., 1994).
O primeiro estudo com biossólido em pupunheira foi feito por Vega (2003). Por
meio de experimento a campo, conduzido em área apta ao cultivo (Ubatuba, SP), Vega
5
concluiu que o emprego de biossólido na fase de implantação da cultura teve reflexos
positivos, tanto na biomassa aérea (VEGA et al., 2004) quanto na radicular (VEGA et al.,
2005), e que esses efeitos se estendiam por até 12 meses após a aplicação inicial. Esse autor
observou ainda uma diminuição da densidade aparente do solo associada a uma maior
retenção de umidade, o que deve ter contribuído para o melhor desenvolvimento da cultura.
Vega (2003) verificou também que por até doze meses o biossólido forneceu quase todos os
nutrientes essenciais para o desenvolvimento da pupunheira, dispensando a adubação química,
exceto por potássio e boro, que tiveram de ser suplementados. No entanto, alertou que em
doses elevadas de biossólido pode haver lixiviação de nitrato, contaminando o lençol freático,
podendo haver ainda acúmulo de metais pesados ao longo do perfil do solo.
Embora com resultados interessantes, o trabalho pioneiro de Vega (2003),
representou apenas uma contribuição inicial ao assunto. Como o produto final é o palmito, há
necessidade de verificar se as respostas das plantas ao biossólido se traduzem em maior
precocidade de colheita, maior produção ou mesmo alteração na composição do produto.
Esse último aspecto é de fundamental importância, pois Vega (2003) observou que embora
não tenha sido detectada fitotoxidade, mesmo na dose mais elevada (152 Mg ha-1), as análises
mostraram que houve acúmulo de alguns elementos potencialmente tóxicos nas folhas. Como
o palmito é composto por meristema apical e folhas em início de desenvolvimento
(FERREIRA et al., 1976), é imperativo saber se os teores desses elementos estão ainda mais
concentrados na parte comestível, podendo torná-lo impróprio para consumo, pela legislação
vigente.
O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito de doses de biossólido, aplicadas de uma
única vez durante a implantação da cultura da pupunheira, sobre caracteres relacionados à
6
precocidade, à sustentabilidade do cultivo, à produção de palmito, e aos teores de macro e
micronutrientes, bem como a ocorrência de metais pesados nas diferentes partes do produto.
2. REVISÃO DA LITERATURA
2.1 A Pupunheira
A pupunheira é palmeira originaria da América tropical que foi muito utilizada por
alguns povos indígenas pré-hispânicos e cujos frutos, nutritivos, eram consumidos como
fonte alimentícia (VILLACHICA, 1996; CLEMENT et al., 2003). É considerada, por suas
características de precocidade, rusticidade e perfilhamento, como uma das palmeiras com
atributos ideais para a produção de palmito (BOVI, 1998).
Pesquisas com a pupunheira (Bactris gasipaes Kunth) visando a produção de palmito
tiveram início na Costa Rica durante a década de 1960 (CAMACHO e SORIA, 1970), e no
Brasil no começo da década de 1970, no Instituto Agronômico (GERMEK, 1978), citado por
Bovi (1998), e no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (MOREIRA e ARKCOLL,
1988).
No início da década de 1990, o plantio de pupunheira destinado para palmito no
Brasil teve grande expansão e o número de grupos trabalhando com a espécie cresceu
rapidamente (BOVI, 1997).
A pupunheira propicia vários usos, tais como: consumo humano direto de seus frutos,
farinha para panificação, farinha para ração animal, entre outros. No entanto, o palmito é hoje
o produto econômico mais importante obtido da pupunheira, sendo comercializado na forma
7
de toletes de palmito em conserva (palmito de primeira), pedaços e rodelas (TONET et al.,
1999; CLEMENT, 2000), além da comercialização “in natura” feita em alguns países, tais
com Brasil, Peru, Bolívia e Costa Rica.
2.1.1 Ecologia e biologia da pupunheira
A pupunheira se adapta muito bem em terras das regiões tropicais úmidas (MOLINA,
1997). Porém, maiores rendimentos ocorrem em solos aluviais, jovens, com perfil profundo,
bem drenados, e com alto teor de matéria orgânica. Seu desenvolvimento é melhor em áreas
com chuva abundante ao longo do ano (2000-3000 mm), temperaturas moderadamente altas
(24-280 C), e elevações que variam de 5-700 metros sobre o nível do mar (CLEMENT, 1989;
VILLACHICA, 1996). É reconhecido que o crescimento e o desenvolvimento da pupunheira
dependem basicamente das condições hídricas da área de cultivo (BASSOI et al., 1999;
RAMOS, 2002; RAMOS et al., 2002) e das características físicas do solo (JORGE e BOVI,
1994).
A pupunheira é uma palmeira cespitosa (multi-caule) que pode atingir 20 m ou mais
de altura. O diâmetro do estipe pode variar de 15 a 30 cm e o comprimento médio dos
entrenós está entre 2 a 30 cm. Estes apresentam espinhos rígidos, pretos ou marrom-escuro.
Porém, existem mutações sem espinhos, selecionadas pelos ameríndios em diversas áreas de
ocorrência da espécie. O ápice do estipe sustenta uma coroa de 15 a 25 folhas pinadas, com os
folíolos inseridos em diferentes ângulos. As folhas tenras não expandidas, localizadas no
centro da coroa, formam o palmito (MORA-URPÍ et al., 1997).
8
Clement e Mora-Urpí (1983), forneceram uma descrição detalhada da folha da
pupunheira e das variações encontradas em suas dimensões e componentes. A folha da
pupunheira adulta é pinada, com os folíolos dispostos em grupos ao longo da ráquis, sendo o
primeiro folíolo de cada grupo aproximadamente perpendicular à ráquis, estando os folíolos
subseqüentes dispostos cada vez mais na posição horizontal. Essa disposição dá à folha uma
aparência desalinhada e teoricamente permite maior eficiência na absorção de luz. O
comprimento dos folíolos varia de forma imprevisível ao longo da ráquis, dificultando a
padronização dos mesmos para estimativas de área foliar. As primeiras folhas juvenis da
pupunheira são bífidas, formadas pela fusão dos folíolos.
2.1.2. Crescimento e produção da pupunheira
O cultivo de pupunheiras visando a produção de palmito é diferente daquele
destinado à produção de frutos. Devido à colheita periódica e constante, as plantas
apresentam-se em permanente estádio vegetativo (CLEMENT, 1995), e a velocidade com que
a fitomassa se acumula e é reposta após cada colheita torna-se um indicador da produtividade
e da vida econômica do cultivo. A avaliação de variáveis relacionadas ao crescimento e à
precocidade da planta é fundamental, visto estar relacionadas com a produção (CLEMENT e
BOVI, 2000).
Visando padronizar a mensuração de plantas em experimentos com pupunheira,
Clement e Bovi (2000) apresentaram uma lista de medidas a ser utilizadas, incluindo
caracteres de crescimento e produção.
Esses autores (CLEMENT e BOVI, 2000)
argumentaram que o emprego desse conjunto padronizado de medidas permite melhorar a
compreensão de como a pupunheira reage aos tratamentos aplicados, possibilitando ainda a
9
comparação direta entre diferentes genótipos e ambientes, bem como a uniformização da
terminologia usada no relato de resultados de pesquisa com essa palmeira.
2.1.3. Solos e nutrição da pupunheira
A pupunheira vem sendo cultivada intensivamente em Oxisols, Andisols e Ultisols,
tanto no Brasil quanto na Costa Rica. Via de regra, esses solos apresentam pH ao redor de 4.5,
alta saturação de Al, e baixo conteúdo de material orgânico (PEREZ et al., 1987; CLEMENT,
1989; MOLINA, 1997). No entanto, mesmo sendo uma espécie relativamente rústica, deve-se
buscar as melhores condições de fertilidade do solo para seu desenvolvimento (BOVI, 1997),
já que apresenta maior produtividade em solos de maior fertilidade. Lobo (1997), citado por
Deenik et al. (2000), relatou que solos com baixo teor de nutrientes e conteúdo de material
orgânico, limitam o crescimento da pupunheira. Portanto, uma adubação inicial adequada,
feita ainda no sulco do plantio, é determinante para o crescimento da planta, contribuindo
também para abreviar o tempo necessário para a primeira colheita (BOVI et al., 2002).
Em experimento avaliando os efeitos de diferentes níveis de adubação mineral (NPK)
e esterco bovino na pupunheira, Yuyama (1997) verificou que aos dez meses após a adubação
química, não ocorreu diferença no diâmetro, na altura da planta, no número de folhas verdes e
no número de perfilhos. Por sua vez, a adição de 5,0 kg de esterco bovino por planta
proporcionou aumentos significativos nesses mesmos caracteres. Tais resultados foram
posteriormente corroborados por Oliveira et al. (2001). Esses autores, avaliando fontes e doses
de matéria orgânica, observaram que o uso de matéria orgânica na pupunheira aumentou as
variáveis de crescimento, tais como comprimento do estipe e número de perfilhos. Esses
dados indicam a importância da matéria orgânica para a pupunheira. De fato, a matéria
10
orgânica posiciona-se como um dos fatores de maior influência nas características do solo,
sendo a principal responsável pela sua estruturação física, devido à melhoria na agregação das
partículas e na estabilidade de agregados, favorecendo assim a infiltração de água no perfil, a
aeração e a retenção de umidade, melhorando sua resistência à erosão e à seca, além de ativar
a biota do solo e possivelmente, aumentando ainda a resistência das plantas às doenças e
pragas (RAIJ, 1998; WANG et al., 1997; AYUSO et al., 1996).
2.2 Biossólido
Os lodos de esgoto são resíduos semi-sólidos, predominantemente orgânicos, com
teores variáveis de componentes inorgânicos, provenientes do tratamento de águas residuais
domiciliares ou industriais (ANDRADE, 1999). O uso agrícola desses resíduos tem sido
recomendado por proporcionar benefícios agronômicos, como elevação do pH do solo
(SILVA et al., 2001; RIBEIRO et al., 2004), redução da acidez potencial (BERTON et al.,
1989) e aumento na disponibilidade de macronutrientes (DA ROS et al.,1993; BERTON et al.,
1997). Além disso, deve ser mencionado que o uso agrícola do biossólido representa um
benefício de ordem social, pela disposição final menos impactante do resíduo no ambiente,
assim como a economia de fertilizantes químicos que esse material pode proporcionar
(MORO, 1994; SANTOS e TSUTYA, 1997; ZEN et al., 1994).
O Centro Nacional de Referência e Gestão Ambiental Urbana (2001) refere-se aos
destinos que podem ter o lodo de esgoto, uma vez que o custo da disposição desse material
chega a corresponder a até 60% dos custos de operação de uma estação de tratamento, no caso
da opção pela disposição em aterros sanitários. No entanto, o uso agrícola do biossólido deve
ser criterioso, visto que esse resíduo pode conter uma variedade de patógenos, agrupada em
bactérias, vírus, protozoários, além de helmintos (APEDAILE, 2001). Portanto, para a
11
aplicação em áreas agrícolas, os lodos devem ser submetidos a processo de redução de
patógenos e da atratividade de vetores. Para efeito de controle, a aplicação desse resíduo no
solo no Estado de São Paulo deve obedecer aos critérios estabelecidos pela Companhia de
Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo (P4. 230, CETESB 1999). Essa
norma estabelece os critérios para o uso de biossólido em áreas agrícolas, florestais, de
produção ou de re-vegetação, bem como em áreas degradadas, preconizando concentrações
máximas permitidas para elementos patogênicos e poluentes químicos, e exigindo redução da
capacidade de atração de vetores, como moscas e roedores.
O elevado conteúdo de matéria orgânica do biossólido, pode melhorar as
propriedades físicas, químicas e biológicas do solo (AGGELIDES e LONDRA, 2000;
BENITES et al., 2001; SELIVANOVSKAYA et al., 2001). Diversos trabalhos têm
demonstrado o seu potencial como fertilizante, fornecendo nutrientes e elevando a produção
de massa seca de várias culturas agrícolas (BETTIOL et al., 1983; BERTON et al., 1989;
MOLINA, 2004; RAPPAPORT et al., 1988;). A eficiência do biossólido para fornecer N, P,
Ca, S, e Zn para várias espécies foi reconhecida por vários autores, entre eles Berton et al.
(1997; 1989), Carvalho e Barral (1981), Marques (1997) e Silva et al. (1998).
Entretanto, é preocupante o potencial de acumulação de metais pesados em solos
tratados com biossólido, que em elevadas concentrações, podem causar toxidez às plantas e
atingir o homem por meio da cadeia alimentar (MCBRIDE, 1995; KELLER et al., 2002).
Nuvolari (1996) argumentou que a matéria orgânica presente no lodo de esgoto, ao ser
degradada, aumenta a porcentagem de húmus no solo. Com isso aumenta também a
capacidade de troca catiônica (CTC) e a capacidade de reter íons metálicos que, de outra
forma, poderiam ser carregados através do movimento da água pluvial que percola,
12
contaminando os lençóis subterrâneos. Essa maior capacidade de retenção, no que se refere à
aplicação de lodos contendo metais, em solos agrícolas, resulta em acumulação de metais que
deve ser controlada, para evitar a possibilidade de passagem para a cadeia alimentar, através
das plantas.
2.3. Potencial de Uso Agrícola do Biossólido
Segundo Harrison et al. (1996), a maior parte das áreas agrícolas e florestais do
Brasil está localizada em solos de baixa fertilidade, degradados ou em processo de
degradação. Muitos desses processos são, de alguma forma, provocados pela própria atividade
florestal. O aumento da mecanização e o uso prolongado de fertilizantes minerais (fontes de
NPK) são os principais indutores de resultados indesejáveis para o ambiente, como
compactação do solo, contaminação de águas subterrâneas e perda de outros nutrientes, via
exportação, pelo aumento da produção.
Conforme relatado por Melo e Marques (2000), a aplicação direta de biossólido na
agricultura é uma alternativa mais sensata e útil, por ser constituído por componentes
benéficos ao solo e às plantas. A matéria orgânica, pela sua capacidade de melhorar as
características físicas e biológicas do solo, é uma das razões importantes para seu uso na
agricultura. Assim, o biossólido pode ser considerado um material com certas propriedades e
características próprias da matéria orgânica, tais como, elevada superfície específica, carga
líquida negativa dependente do pH do meio, facilidade de embebição de água e da solução do
solo e capacidade de formar quelatos orgânicos (BERTONCINI e MATTIAZZO, 1999;
SIMÃO e SIQUEIRA, 2001).
13
Segundo Cardoso (2002), quando o lodo de esgoto tratado é aplicado na camada
arável do solo, são observadas alterações nas características fisico-químicas nos 30 primeiros
centímetros, tais como neutralização da acidez, incremento da condutividade elétrica, da
matéria orgânica, da CTC e da porosidade. Barbosa et al. (2002), após dois anos de
incorporação de lodo anaeróbico em Latossolo vermelho eutrófico, concluíram que existe uma
tendência de aumento da agregação do solo e da macroporosidade e de redução da densidade
do solo e da microporosidade.
Efeitos benéficos na porosidade, agregação, retenção e infiltração de água em
Latossolo Vermelho, distrófico, textura argilosa, foram observados por Jorge et al. (1991)
após as aplicações de 40 e 80 Mg ha-1 de biossólido, com ou sem calcário. Houve alteração na
relação entre os micro e macroporos, na retenção de água e no índice de agregação, mesmo
em solo com alta estabilidade de agregado, não alterando significativamente a densidade, a
porosidade total e a infiltração de água nas dosagens aplicadas parceladamente (20 Mg ha-1),
ou de uma única vez.
Melo e Marques (2000) confirmaram que, a presença de macronutrientes, com
destaque para o nitrogênio, fósforo, enxofre, cálcio, e micronutrientes como o cobre, ferro,
zinco, manganês, boro e molibdênio, tornam atrativa a disposição do biossólido em solos
cultiváveis. Entretanto, a sincronia entre a reação de mineralização dos nutrientes, entre eles o
nitrogênio fornecido pelo biossólido, e a absorção desses nutrientes pelas plantas, é um fator
importante que deve ser considerado no cálculo da dose de biossólido a ser aplicada ao solo
agrícola, conforme evidenciado em alguns trabalhos como o de Medalie et al. (1994).
14
Cox (1995), estudando o aporte de nitrogênio procedente de diferentes fontes relatou
que o biossólido forneceu quantidades adequadas de N para plantas de crescimento lento e
baixa taxa de absorção do nutriente. Entretanto, para plantas de rápido crescimento e elevadas
taxas de absorção de N, o biossólido deveria ser combinado com fertilizantes nitrogenados
solúveis, pois o biossólido não se mostrou fonte eficiente de liberação rápida de N (ANJOS e
MATTIAZZO, 2000).
Outro aspecto importante diz respeito à imobilização dos nutrientes, especialmente
do N, e à aceleração de seu processo de mineralização. Vieira e Cardoso (2003) em
experimento com doses crescentes de biossólido em Latossolo Vermelho Distrófico plantado
com milho, não encontraram diferenças significativas nos teores de N contido na biomassa
microbiana, nos primeiros 20 cm do solo, descartando assim a possibilidade de que grandes
quantidades de N tenham sido imobilizadas pela microbiota do solo nos primeiros 150 dias
após a emergência do milho. Já Silva et al. (1999), observaram que a correção da acidez do
solo (Latossolos Vermelho-Amarelos) mediante utilização de CaCO3 , resultou em aceleração
do processo de mineralização e em diminuição das quantidades de N imobilizado. Nyborg e
Hoyt (1978) e Dancer et al. (1973), citados por Molina (2004), também observaram o efeito
temporário da calagem no sentido de acelerar o processo de mineralização de N, efeito que
tem sido associado à elevação dos valores de pH e à diminuição do Al, com conseqüente
aumento da atividade de organismos mineralizadores.
Pelas características favoráveis descritas acima, o biossólido apresenta potencial para
ser empregado em várias culturas. Diversas pesquisas têm sido desenvolvidas, mostrando que
as gramíneas (milho, trigo, cana-de-açúcar, etc) são ideais para o uso do biossólido, pois além
15
de aproveitarem bem seus nutrientes, apresentam colheita realizada mecanicamente, o que
elimina o risco de qualquer tipo de contaminação (SANEPAR, 1997).
Resultados interessantes com o uso de biossólido têm sido obtidos para a cana-de
açúcar. Por exemplo, Melo et al. (1994) cultivaram essa planta em Latossolo Vermelho,
distrófico, utilizando biossólido nas dosagens de 4, 8, 16, 32 Mg ha-1 e verificaram que a dose
de 32 Mg ha-1 promoveu aumento significativo na CTC e no teor de C-orgânico até os 230
dias da aplicação do resíduo. Nas dosagens menores, o efeito do resíduo sobre o C-orgânico
permaneceu até os 77 dias, para retornarem após, a seus valores originais. Por sua vez,
Oliveira et al. (2002), após duas aplicações anuais de biossólido em Latossolo Amarelo
distrófico cultivado com cana-de-açúcar, verificaram aumentos nos teores de C-orgânico, na
condutividade elétrica e no pH do solo, evidenciando a possibilidade de incrementos de Corgânico e pH através de aplicações sucessivas e elevadas de resíduo orgânico. Com relação
ao fornecimento de nutrientes essenciais aos vegetais, os maiores benefícios estão no
fornecimento de nitrogênio, fósforo e cálcio.
Outra gramínea que tem mostrado resultados interessantes com a aplicação de
biossólido é o milho. Por exemplo, em pesquisas efetuadas por Martins et al. (2003), o
acúmulo de macronutrientes e a produção de matéria seca aumentaram com a aplicação de
biossólido, especialmente quando houve adição de K mineral. A necessidade de
complementação com potássio quando do uso de biossólido foi reportada por vários autores.
Utilizando diferentes espécies vegetais, Tsutiya (2001a), Oliveira et al. (1995), Silva et al.
(2000; 2001) e Melo e Marques (2000), concluíram que lodos de esgoto não são boas fontes
de K para grande parte das culturas de interesse agronômico. Portanto, sua utilização, seja na
composição de substrato ou como fertilizante na agricultura, fica dependente da
16
complementação com outras fontes de nutrientes como P e K, restringindo seu uso (RIBEIRO
et al., 2004). Em outro trabalho Silva et al. (2002), aplicando biossólido, com 10% de
umidade, em doses únicas de 54, 108 e 216 Mg ha-1 em Latossolo Vermelho distrófico,
verificaram que na dose 54 Mg ha-1 o fornecimento de nutrientes foi suficiente para três anos,
com produtividade média de grãos de 4,7 Mg ha-1, e que a dosagem de 189,5 Mg ha-1 seria
suficiente para o rendimento máximo de milho.
Também em outras culturas têm sido relatados os efeitos benéficos do uso de
biossólido. Por exemplo, Pedreno et al. (1996) relatou alto rendimento do tomateiro
fertilizado com lodo de esgoto encontrando além disso, que não existia nenhuma diferença
com outros fertilizantes orgânicos.
Efeitos benéficos do biossólido em culturas perenes também têm sido observados.
Para a macieira, Solov e Khamyakov (1989), assim como Awad et al. (1995), citados por
Bozkurt e Yarilgac (2003), observaram grandes benefícios na cultura da macieira adubada
com lodo de esgoto, ocorrendo alta produção de biomassa nas árvores, assim como aumento
de crescimento nas mudas.
Assim, monitorando os teores de metais pesados, presença de organismos
patogênicos e atração de vetores, e conhecendo-se as condições do solo que irá receber o
biossólido, assim como a taxa de aplicação nas culturas, é possível o uso de biossólido sem a
possibilidade de prejuízo à saúde ou ao ambiente, por ser um produto semelhante a outros de
uso agrícola, tais como os estercos bovino, avícola, suíno, caprino, etc.
17
Dessa maneira, seguindo as recomendações das pesquisas, a utilização do biossólido
pode trazer benefícios aos cultivos agrícolas, e logicamente ao produtor, por ser uma fonte de
nutrientes, e por aliviar a carga de esgotos poluentes nos mananciais de água.
2.4. Riscos de Contaminação Pelo Uso do Biossólido
Segundo Berton (2000) e SANEPAR (1997), citando Page et al. (1983), os patógenos
(Tabela 1) contidos no biossólido apresentam pouco tempo de sobrevivência, e quando
incorporados ao solo, tendem a desaparecer, pois estarão em meio pouco adequado. Por sua
vez, os compostos orgânicos e os metais pesados podem permanecer no solo durante muito
tempo, dificultando a sua remoção. No biossólido de origem urbana, adicionado de água de
chuva e de esgoto industrial, os metais comumente encontrados são cádmio (Cd), cromo (Cr),
cobre (Cu), ferro (Fe), mercúrio (Hg), manganês (Mn), molibdênio (Mo), níquel (Ni), chumbo
(Pb), cobalto (Co) e zinco (Zn) dos quais Cu, Fe, Ni, Mn, Mo, e Zn são essenciais aos vegetais
e o Co às bactérias fixadoras de nitrogênio. São indispensáveis aos animais: Co, Cr, Cu, Fe,
Mn, Mo, e Zn contidos no biossólido. Já quando o biossólido é proveniente de áreas
estritamente residenciais, a presença de metais pesados é reduzida.
Tabela 1. Tempo de sobrevivência de diversos tipos de patógenos no solo e nas plantas.
PATÓGENOS
BACTÉRIA
Tempo máximo Tempo médio Tempo máximo Tempo médio
no solo
no solo
na planta
na planta
1 ano
2 meses
6 meses
1 mês
VÍRUS
6 meses
3 meses
2 meses
1 mês
PROTOZOÁRIOS
10 dias
2 dias
5 dias
2 dias
HELMINTOS
7 anos
2 anos
5 meses
1 mês
Fonte: Page et al. (1983)
18
Chang e Page (2003) alertaram que as quantidades de metais pesados adicionados no
campo pela aplicação de biossólido são sempre maiores que as quantidades que podem ser
removidas pela absorção das plantas e lixiviação pelo solo. Como resultado, metais pesados
são acumulados e suas concentrações aumentam a cada aplicação. Assim, o nível de metal e
suas correspondentes concentrações na solução do solo poderá permanecer elevado por longa
data, mesmo com a suspensão da aplicação de biossólido. Esses autores, informaram ainda
que a absorção de Cr, Cu, Ni e Pb pelas plantas, em área que recebeu biossólido,
provavelmente não vá ser afetada pelo elevado nível de metal dissolvido. Uma vez presente
nos solos, os metais permanecerão neles por longo período, podendo se tornar um legado
permanente.
Segundo Molina (2004), a toxicidade dos metais pesados ou elementos
potencialmente tóxicos depende do teor e da forma química na qual eles se apresentam no
biossólido, e uma vez no solo, é dependente das diferentes interações existentes no meio.
Porém, a concentração de metais nas partes aéreas das plantas, em relação à concentração
existente no solo, pode ser indicativa de sua fitodisponibilidade e tem sido demonstrado pela
pesquisa que Cd e Zn apresentam os maiores coeficientes de transferência para as plantas,
enquanto metais como Cu e Cr são menos disponíveis (ALLOWAY e AYRES, 1997;
LASAT, 2000).
MacDowell et al. (1993) relataram que as concentrações de elementos químicos nas
plantas dependem da interação de um certo número de fatores, incluindo tipo de solo, espécie
vegetal, estádio de maturação, rendimento, manejo da cultura e clima. No entanto, o principal
fator é o potencial de absorção, específico e geneticamente fixado para os diferentes nutrientes
e diferentes espécies vegetais (MENGEL e KIRKBY, 1987). Além disso, o acúmulo de
19
metais pesados, é também muito variável de um determinado órgão para outro da mesma
planta, como enfatiza Porto (1986), citado por Anjos e Mattiazzo, 2000.
Deve-se levar em conta que a absorção em solos contendo diversos metais pode ser
diferente daquela verificada com elementos isolados, pelas diversas interações entre esses, que
podem ser independentes, antagonísticas, aditivas ou sinergísticas (BARCELÓ e
POSCHENRIEDER, 1992; KAHLE, 1993). Outro fator a ser levado em consideração diz
respeito às respostas das espécies ao excesso de metais, são diferenciadas em função dos tipos
de solo (MELO e MARQUES, 2000). Sobre esse aspecto, existem trabalhos interessantes.
Boaretto et al. (1992) encontraram teores de 7,2 mg kg-1 de Ni nos grãos de feijão com
aplicações acima de 10 Mg ha-1 de lodo de esgoto. André et al. (1994), trabalhando com
sorgo, observaram que plantas que receberam 64 Mg ha-1 de lodo de esgoto, apresentaram
maior teor de Cr, indicando que o lodo de esgoto contribuiu para elevar o teor desse metal nos
grãos. Por sua vez, Oliveira et al. (1995) verificaram
que a adição de lodo de esgoto
aumentou os teores de Cd, Cu, Cr, Ni e Zn nos tratamentos aplicados, mas, evidências do
aumento da disponibilidade desses metais para plantas de milho, só foram observadas na dose
40,5 Mg ha-1 de biossólido (base seca).
Anjos e Mattiazzo (2000), observaram que plantas de milho cultivadas em solos
tratados com biossólido durante vários anos, podem apresentar problemas relacionados com
fitotoxicidade. Isso foi também observado por Oliveira et al. (1995). No entanto, Rappaport et
al. (1988) verificaram que ainda que a aplicação de Zn, via biossólido, tenha excedido o limite
estabelecido pelo USEPA, não se observou fitotoxicidade desse elemento nas plantas de milho
nos diversos solos estudados. Anjos e Mattiazzo (2000), observaram ainda que os maiores
teores de Cr foram encontrados no sabugo do milho, não constando aumento dos teores em
20
outras partes da planta, divergindo de André et al. (1994) em sorgo granífero, Oliveira et al.
(1995) e Pierrisnard (1996) em milho. Bidwell e Dowdy (1987) observaram que as
concentrações de Cr nos colmos e grãos oscilaram anualmente, independentemente das doses
de lodo de esgoto aplicadas. Nesse sentido, também é importante considerar o trabalho de Isea
et al. (2000), que verificaram que Cd e Ni se movimentaram em profundidade no solo, sendo
que esse fenômeno não foi observado para o Cr, que se acumulou na superfície.
Mattiazzo-Prezotto (1994) estudando o comportamento de Cd, Cu, Cr, Ni e Zn, sob
formas de sais solúveis adicionados a solos contidos em tubos de percolação, concluiu que os
teores de óxidos de ferro e alumínio do solo foram fundamentais na retenção dos metais
adicionados. O autor recomendou que, em solos arenosos com baixo conteúdo de óxidos, não
deveriam ser usados resíduos contendo metais, entre os quais inclui-se o biossólido.
Martins et al. (2003), confirmaram o acúmulo de metais nas folhas, caules e raízes,
em oposição aos grãos e sabugos de milho. Esse fato já tinha sido observado anteriormente
por diversos autores (ANJOS, 1999; GARCIA et al., 1979; REED et al., 1991). Mesmo com
as grandes quantidades de metais adicionadas ao solo pelo biossólido, as concentrações de Cu,
Fe, Mn e Zn nos grãos ficaram abaixo dos limites máximos permitidos para contaminantes
químicos em alimentos, estabelecidos pela Portaria 685 do Ministério da Saúde (BRASIL,
1998).
Para o Estado de São Paulo ainda está em vigor a norma CETESB P4.230 (CETESB,
1999), que estabelece as exigências para a aplicação de biossólido, visando ao atendimento de
parâmetros ambientais. A norma determina as concentrações-limite de metais e também as
cargas cumulativas máximas permitidas para aplicação em solos agrícolas (Tabela 2).
21
Tabela 2. Concentrações máximas de metais no biossólido, taxa anual máxima de metais e
cargas acumulativas máximas permissíveis para aplicação em solos agrícolas, em mg kg-1,
base seca. (CETESB, 1999)
Metal
Concentrações
Taxa de Aplicação Anual
Carga Máxima Acumulada de
Máximas
Máxima.(kg ha-1)
Metais pela Aplicação de
(mg kg-1)
Lodo (kg ha-1)
Arsênio
75
2,0
41
Cádmio
85
1,9
39
Cobre
4300
75
1500
Chumbo
840
15
300
Mercúrio
57
0,85
17
Níquel
420
21
420
Selênio
100
5,0
100
Zinco
7500
140
2800
Fonte: CETESB, P.4.230, 1999.
Por sua vez, a ocorrência de metais pesados nos alimentos, é regulamentada
internacionalmente pelo CODEX ALIMENTARIUS (2002), que inclui normas preparadas
por uma comissão da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO)
e pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Essas normas, aprovadas pela comissão do
CODEX Alimentarius, são consideradas de caráter obrigatório, estimulando os paísesmembros a inseri-las nas legislações nacionais. Na legislação brasileira, os metais pesados
estão incluídos juntamente com pesticidas, na categoria dos aditivos incidentais (ABIA, 2003;
VIANA et al., 1997), sendo designados como contaminantes inorgânicos. Limites máximos
de contaminantes em alguns produtos como frutas em conserva, coco ralado, geléia de frutas,
frutas cristalizadas e hortaliças em conserva, de acordo com o disposto nas resoluções
22
publicadas entre 1977 e 1979, ainda estão vigentes. Para todos esses produtos, os limites
máximos, expressos em mg kg-1, são: Hg: 0,01; Cr: 0,1; As e Cd: 0,2; Se: 0,3; Pb: 0,5; Ni e
Sb: 1,0;
Cu: 15; Zn: 25; e Sn: 250. Além disso existem duas portarias recentes que
estabelecem limites máximos para o cromo de 0,10 mg kg-1, em qualquer alimento (BRASIL,
1990a), bem como limites máximos para o chumbo em diferentes produtos (BRASIL 1990b).
Ainda assim as normativas não estão completas, pelo que é conveniente recomendar a
implementação de medidas, visando à diminuição dos limites máximos (VIANA et al., 1997).
Outro aspecto interessante é a comercialização de produtos através do Mercosul, o que obriga
o estabelecimento e a padronização de regras, normas e/ou decretos relacionados com os
alimentos.
Especificamente para o palmito não existem ainda normas sobre limites máximos.
No entanto, como palmito é comercializado como hortaliça não convencional (BOVI et al.,
2004; CLEMENT e MANSHARDU, 2000), os valores utilizados para determinar o limite
máximo de contaminantes inorgânicos são os referentes às hortaliças em geral. A Tabela 3
apresenta os limites máximos permitidos pelo CODEX Alimentarius, bem como legislações
específicas, brasileira e chilena.
23
Tabela.3. Concentrações máximas de metais no produto permitidas pelo Decreto 55871 da
Associação Brasileira de Indústrias Alimentícias, da Legislação Brasileira, do Codex para
Palmito enlatado e do Decreto S. 977/96 do Chile. Dados em mg kg-1, com base em material
“in natura”.
Elementos
Decreto 55871* Legislação
Brasileira**
mg kg-1
Cd
1,00
0,20
Pb
0,80
0,50
Cu
30,00
15,00
Hg
0,01
0,05
Zn
50,00
5,00
Cr
0,10
Ni
5,00
25,00
Se
0,30
0,30
As
1,00
Sn
CODEX*** D.S.977/96
STAN 144-85 Chile
1,00
0,30
5,00
0,30
250,00
250,00
*Associação Brasileira das Industrias Alimentarias, **Legislação Brasileira
***Codex-Palmito Enlatado.
Fonte: Viana et al., 1997
24
3. MATERIAL E MÉTODOS
3.1. Caracterização do Local do Experimento
O experimento foi instalado, em julho de 2001, no campo da Unidade de Pesquisa de
Desenvolvimento do Pólo Regional de Desenvolvimento Tecnológico do Agronegócio do
Vale do Paraíba, localizada em Ubatuba, SP (23º27’S, 45º04’O, a seis metros de altitude). O
clima da região é “Cfa”, pela classificação de Köppen, tropical quente e úmido (SETZER,
1966), com pluviosidade anual normal de 2841 mm, evapotranspiração potencial normal de
992 mm, excedente normal de 1849 mm, temperatura média anual de 20,8 ºC e déficit hídrico
nulo.
O solo, próprio da área agricultável da região, é classificado como Aluvial álico
(Udifluvent), com boa drenagem. É arenoso, com a seguinte composição granulométrica na
profundidade de 0-15 cm: 100 g kg-1 de argila, 140 g kg-1 de silte, 130g kg-1 de areia fina e
630 g kg-1 de areia grossa. À maiores profundidades há progressiva diminuição na
porcentagem de areia grossa e aumento da areia fina. A porosidade total na profundidade de
0-20 cm é de 49,97%, havendo 29,65% de macroporos e 20,32% de microporos. A densidade
global do solo está em torno de 1,20 g cm-3 (JORGE e BOVI, 1994).
O local apresenta baixa saturação por bases (21,3 %), tendo sido feita aplicação de
calcário dolomítico (7 t ha-1) em toda a área experimental, de forma a elevar a saturação
teórica por bases a 60 %. Segundo Vega (2003), o solo apresentou, após a calagem, as
seguintes características químicas a 0-20 cm de profundidade: pH CaCl2 5,4; MO 22,18 g dm3
; Presina 7,94 mg dm-3; K 1,60 mmolc dm-3; Ca 19,85 mmolc dm-3; Mg 8,88 mmolc dm-3; CTC
25
66,92 mmolc dm-3; V 47,5%; SB 30,33 mmolc dm-3; Fe 27,15 mg dm-3; Mn 1,46 mg dm-3; Cu
0,25 mg dm-3; Zn 0,24 mg dm-3; B 0,17 mg dm-3; Cd 0,03 mg dm-3; Cr 0,03 mg dm-3; e Ni
0,11 mg dm-3.
3.2. Origem e Característica das Pupunheiras
Foram utilizadas mudas de pupunheira da raça Putumayo (Yurimaguas – Peru),
formadas em viveiro e com 10 meses de idade por ocasião do plantio. Esse material genético é
a base do cultivo comercial de pupunheira para palmito no Brasil (BOVI, 1998).
As plantas foram cultivadas no espaçamento de 2 x 1 m (5000 plantas ha-1), densidade
recomendada para a espécie, visando à produção de palmito (BOVI, 1998).
3.3. Origem e Características do Biossólido Utilizado no Experimento
O biossólido utilizado no presente trabalho foi proveniente da Estação de Tratamento
de Esgoto de Bertioga, SP, gerado pelo processo de batelada (aeróbio) e apresentou umidade
média de 79,7%. Resultados da análise química média desse biossólido foram relatados por
Vega (2003) e encontram-se sumarizados na Tabela 4.
26
Tabela 4. Resultados médios (no material seco) da análise química do biossólido utilizado no
experimento. ETE Bertioga, SP, 2001. Os valores de concentração para o nitrogênio nas
formas amoniacal e nitrato foram determinados na amostra nas condições originais.
Amostra
Parâmetro
MÉDIA
g kg-1
Fósforo
Potássio
Sódio
Arsênio
VMA(1)
Unidade
26,1
---
g kg
-1
3,3
---
g kg
-1
---
<0,01
75,0
-1
mg kg
0,5
-1
Cádmio
mg kg
2,3
85,0
Chumbo
mg kg-1
55,2
840,0
-1
163,6
4300,0
-1
29,7
3000,0
-1
<0,01
57,0
-1
<0,01
75,0
-1
16,9
420,0
Selênio
mg kg
-1
<0,01
100,0
Zinco
mg kg-1
555,1
7500,0
9,4
---
302,8
---
8,2
---
79,7
---
59,8
---
40,1
---
933,8
---
mg kg
9,9
---
-1
Cobre
mg kg
Cromo total
Mercúrio
Molibdênio
Níquel
mg kg
mg kg
mg kg
mg kg
-1
Boro
mg kg
Carbono orgânico
g kg
-1
pH
Umidade
%
Sólidos Voláteis
%
Nitrogênio Kjehldahl
Nitrogênio NH4+
-
N – NO3 e NO2
Enxofre
Manganês
Ferro
Magnésio
Alumínio
g kg
-1
mg kg-1
-1
g kg
7,3
---
-1
793,2
---
-1
63,9
---
7,0
---
12,0
---
mg kg
mg kg
g kg
-1
-1
mg kg
Cálcio
g kg-1
21,3
--1
VMA (Valor Máximo Aceitável) LE – CETESB P 4.230.
27
3.4. Cálculo e Aplicação das Doses de Biossólido
As doses empregadas foram calculadas levando-se em consideração as recomendações
para o cultivo, presentes no boletim 100 do IAC (200 kg N ha-1) (BOVI e CANTARELLA,
1996), e a composição química do lodo da Estação de Tratamento de Esgoto de Bertioga,
apresentando valores de nitrogênio: Nkj (40,1 g kg-1), NNH4 (4.600 mg kg-1), NNO3+NO2 (48,9
mg kg-1) em matéria seca. Assim, segundo as fórmulas apresentadas por Tsutiya (2001b),
calcularam-se as doses a serem aplicadas, que foram 0, 38, 76 e 152 Mg ha-1 de biossólido
fresco (79,7 % de umidade), equivalentes a 0, 100, 200 e 400 kg de N prontamente disponível
por hectare. Detalhes desses cálculos podem ser encontrados em Vega (2003).
Durante o plantio das mudas, foram adicionados 15 g por planta de cloreto de potássio,
como fonte de K. O lodo foi aplicado de uma única vez, posteriormente ao plantio das mudas,
na linha (sulco), ocupando o espaço entre uma planta e outra. Esse procedimento facilitou a
aplicação, ao mesmo tempo em que impediu o contato direto com o lodo, tanto da muda
plantada, quanto do trabalhador que a plantou.
Foram feitas adubações complementares, em todos os tratamentos, com 15 g de
cloreto de potássio e 2,4 de Bórax por planta, a partir do terceiro mês do plantio, e repetidas a
cada três meses, visando corrigir deficiências detectadas por meio de sintomas típicos de
carência de potássio e boro.
28
3.5. Delineamento Experimental
O experimento foi delineado em esquema de blocos ao acaso, com seis blocos, e
quatro tratamentos, totalizando 24 parcelas, tendo 36 plantas por parcela, das quais as 16 mais
internas foram mensuradas periodicamente. Foram utilizadas bordaduras duplas ao redor de
toda a área experimental. Cada parcela tinha as dimensões de 6 m de comprimento por 12 m
de largura, totalizando uma área de 72 m2. As doses de nitrogênio prontamente disponível do
biossólido, correspondentes a 0, 100, 200, 400 kg N ha-1, foram distribuídas por sorteio dentro
da área experimental (Figura 1).
200
0
100
400
100
400
0
200
400
100
200
0
100
0
400
200
200
400
0
100
400
200
100
0
Figura 1- Diagrama esquemático da área experimental com a distribuição ao acaso das
diferentes doses de biossólido. Ubatuba, SP, 2001-2003.
29
3.6. Tratos Culturais
Para evitar a competição de ervas daninhas, foi realizado controle com o uso de
roçadeira mecânica, repetido a cada duas ou três semanas, dependendo do grau de
crescimento.
Não foi feito controle de doenças e pragas, devido à ausência significativa de agentes
causais durante todo o período de avaliação do experimento.
3.7. Avaliação das Respostas da Pupunheira
Foram avaliadas mensalmente, no decorrer do experimento (julho de 2001 a
fevereiro de 2003), as respostas da pupunheira às doses de biossólido referentes à produção de
palmito e alguns caracteres a ela relacionados, tais como: sustentabilidade do cultivo;
rendimento e produção; composição química comparativa do palmito e folha-teste. As
características avaliadas serão descritas pela ordem de tomada de medidas.
3.7.1. Caracteres relacionados à sustentabilidade do cultivo
Altura da planta (cm) – Foi avaliada mensalmente em todas as plantas úteis (16 por
parcela). De acordo com a padronização proposta por Clement e Bovi (2000), foi medida na
haste principal (planta-mãe), do solo até o ponto entre a flecha e a folha mais nova (a
forquilha formada entre a folha flecha, denominada folha 0, e a primeira folha expandida,
denominada folha+1). A altura da planta está altamente correlacionada com a biomassa e a
área foliar (CLEMENT, 1995; VEGA et al., 2004), assim como com a produção de palmito
30
(BOVI et al., 1992; 1993; MOREIRA e ARKCOLL, 1988), sendo uma das características
mais facilmente mensuráveis em experimentos visando à produção de palmito.
Plantas aptas para corte (%) – Essa variável foi avaliada, mensalmente, do 10o ao
18o mês após a implantação do experimento, levando em conta a média das plantas úteis de
cada parcela. Considerou-se como estando apta para colheita de palmito toda haste com altura
mínima de 160 cm (avaliada de acordo com descrição acima) e diâmetro mínimo (avaliado a
50 cm de altura do solo) acima de 9 cm, segundo critérios propostos por vários autores, entre
eles Bovi (1998), Villachica (1996) e Oliveira et al. (2001).
Número de perfilhos por planta – Foi avaliado, mensalmente, a partir da implantação
do experimento, levando em conta a média das plantas úteis de cada parcela. Perfilhos de
todos os tamanhos foram computados. Segundo Clement e Bovi (2000), o número de
perfilhos por planta está diretamente relacionado com a duração econômica do cultivo e com a
capacidade de regeneração da touceira após a colheita.
Plantas perfilhadas (%)
–
A porcentagem de plantas perfilhadas foi avaliada,
mensalmente, a partir da implantação do experimento, levando em conta a média de cada
parcela.
3.7.2. Caracteres relacionados ao rendimento e produção
A colheita foi iniciada em outubro de 2002, 15 meses após a implantação do
experimento. Nessa ocasião foram cortadas as hastes que atendiam o critério de altura mínima
de 160 cm e diâmetro mínimo acima de 9 cm. Durante a colheita foi utilizado o fluxograma
31
apresentado na Figura 2. Das plantas colhidas avaliaram-se os seguintes caracteres, todos
com base em massa fresca:
Peso bruto do palmito (kg) – Após o corte da haste, ainda no campo, os pecíolos e
limbos foliares foram cortados, bem como a folha flecha (primeiro desbaste). O palmito,
devidamente etiquetado e ainda protegido pelas bainhas externas, foi levado para galpão
protegido onde foi feita a pesagem.
Peso do estipe tenro (resíduo basal ou coração) (g) – Foi obtido durante o segundo
desbaste do palmito, após a retirada das bainhas externas. Esse componente é a porção do
estipe imediatamente abaixo do meristema, que é bastante tenro para ser comido “in natura”.
Peso do palmito (g) – Foi considerado exclusivamente o peso do palmito tipo
exportação, que corresponde ao peso fresco dos toletes inteiros, extraídos imediatamente
acima do meristema apical. Cada tolete tinha 9 cm de comprimento. Segundo Clement e Bovi
(2000), determina-se a característica "qualidade de exportação" por meio da pressão exercida
por faca bem afiada sobre a seção mais grossa do tolete. A faca não encontrará resistência à
penetração se aquela seção do palmito contiver apenas fibras macias.
Comprimento do palmito (cm) - Este é o comprimento do palmito de exportação e é
um múltiplo de 9, pois é simplesmente o número de toletes inteiros multiplicado pelo tamanho
padrão do tolete (9 cm).
Diâmetro do palmito na base (cm) - É o diâmetro do primeiro tolete de palmito de
exportação, medido na separação entre o estipe tenro e o meristema apical.
32
Diâmetro do palmito no ápice (cm) – É o diâmetro do último tolete inteiro.
Colheita do palmito
Primeiro Desbaste
- Peso bruto
Transporte
Segundo Desbaste ou Descascamento
Corte
Separação das amostras para caracterização
Coração
Palmito
- Toletes
Figura 2. Fluxograma utilizado para caracterização da produção inicial de palmito. Ubatuba
SP, 2002 – 2003.
3.7.2. Teores de elementos no palmito
A colheita do palmito para a determinação dos teores de macro e micronutrientes,
bem como de metais pesados, foi realizada em dois tratamentos contrastantes (dose 0 e dose
400), em fevereiro de 2003, decorridos 18 meses da implantação do experimento. Foram
colhidas 32 hastes principais, das quais foram coletados folíolos da porção média da folha +2,
33
usualmente utilizada para monitoramento do estado nutricional da cultura da pupunheira
(BOVI e CANTARELLA, 1996). As hastes ainda em estado bruto foram encaminhadas ao
laboratório da Unidade Plantas Tropicais, em Campinas, SP. Depois da retirada das bainhas
externas, a porção aproveitável foi separada em resíduo basal ou coração e palmito
propriamente dito (tipo exportação). O palmito foi cortado em toletes de 9 cm de
comprimento, que foram classificados em três categorias, denominadas primeiro tolete, tolete
mediano e tolete apical, de acordo com a maior ou menor proximidade do meristema apical
(FERREIRA et al., 1976).
Após a separação das diferentes partes estruturais do palmito, estas foram pesadas e
medidas individualmente, conforme anteriormente descrito. Após essas avaliações, as
diferentes partes foram cuidadosamente picadas no sentido longitudinal, obtendo-se quatro
repetições de cada uma delas, que juntamente com amostras homogêneas de folíolos, foram
encaminhadas ao Laboratório de Fertilidade do Solo e Nutrição de Plantas do IAC para
análise de seus teores de nutrientes e de metais pesados.
O procedimento para as análises do material vegetal consistiu na lavagem das
amostras em solução de detergente (0,1 % v/v), e depois em água destilada até remoção do
detergente, com lavagem novamente em água deionizada. Após a lavagem, as amostras foram
deixadas secar ao ar, sendo posteriormente colocadas em sacos de papel e secadas a 65 ºC em
estufa de ventilação forçada, até massa constante. Depois de seco, o material foi moído em
moinho tipo Wiley, com câmara de aço inoxidável, com peneira de 1 mm de abertura,
segundo metodologia descrita por Bataglia et al. (1983).
34
O extrato das amostras foi preparado por via seca (incineração de 1g de material em
mufla por 2 horas a 500º C e dissolução da cinza em HCl 2 mol L-1). A determinação dos
metais Cu, Cd, Fe, Mn, Ni, e Zn foi feita por espectrometria do plasma e do boro por método
colorimétrico, segundo Bataglia et al. (1983).
3.8. Análises Estatísticas
Para a análise estatística das características qualitativas foram efetuadas análises de
variância e comparação de médias, com o auxilio do software STATGRAPHICS
6.0
(STATISTICAL GRAPHICS CORPORATION, 1985 – 1992), segundo as fontes de variação
presentes no experimento (delineamento em blocos ao acaso, com quatro tratamentos e seis
blocos).
As análises foram complementadas com a análise de regressão e ajuste de equações,
quando do estudo de caracteres quantitativos (doses). As análises foram efetuadas com o
auxílio do programa Origin 6.0 (Microcal Software, 1999), obtendo-se uma série de equações,
das quais foram selecionadas as mais adequadas, levando-se em conta o alto grau de
correlação entre variáveis (coeficiente de determinação) e o significado biológico. O ajuste de
equações para modelar a resposta das doses crescentes do biossólido às características
avaliadas foi efetuado com base na média dos tratamentos.
35
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Efeitos do Biossólido nos Caracteres Relacionados à Sustentabilidade do Cultivo
4.1.1. Altura da planta
A Figura 3 apresenta a resposta da pupunheira em altura da planta em função das
quatro doses de biossólido aplicadas, de uma única vez, durante o plantio. A altura média da
haste principal variou de 7,24 cm, obtida um mês após o plantio, até 265 cm, alcançada aos 18
meses no tratamento de máxima aplicação de biossólido (dose 400). Esses valores são
superiores aos encontrados por Molina et al. (2002), em experimento sobre fertilização
mineral da pupunheira mediante diferentes doses de nitrogênio, conduzido em andisolo
(Andic Dystrudept) na Costa Rica. Os andisolos são mais férteis que o solo de Ubatuba, como
pode ser comprovado pelos resultados da análise química apresentada pelos autores, bem
como pelo maior desenvolvimento em altura do tratamento testemunha, quando comparado
com a pesquisa aqui relatada (101,7 cm contra 83,8 cm aos 13 meses, para as testemunhas).
No entanto, não é possível concluir que a menor resposta obtida por Molina et al. (2002) seja
devido à menor eficiência da adubação química em comparação com a orgânica (biossólido),
pois pode ter sido decorrente do material genético utilizado por esses autores (raça
Tucurrique, com espinhos), bem como por tratar-se de medidas efetuadas nos perfilhos e não
na haste principal.
Observa-se pela Figura 3 que a resposta da planta em altura em função de doses de
biossólido foi inicialmente lenta. Tal fato deve-se à fase de adaptação das plantas às condições
de campo, na qual há primeiramente um desenvolvimento radicular para depois esse se
traduzir em desenvolvimento em biomassa aérea. Apenas a partir do quinto mês após o
36
plantio, diferenças entre os tratamentos começaram a ser visualizadas, devido provavelmente
à liberação gradual dos nutrientes disponíveis no biossólido para as plantas. No quinto e no
sexto mês as doses 0, 100 e 200 foram estatisticamente iguais entre si, porém inferiores à dose
400. A partir do sétimo mês a dose 400 foi superior às demais, enquanto as doses 200 e 100
não diferiram entre si, mas se apresentaram estatisticamente superiores quando comparadas
com o tratamento onde não foi aplicado biossólido (dose 0). A análise de variância para o
caráter altura revelou coeficientes de variação adequados para experimento a campo, variando
de 12,68 a 23,22%. Coeficientes de variação iguais ou mesmo superiores a esses foram
anteriormente reportados por vários autores em experimentos a campo com o mesmo material
genético (BOVI et al., 1992; RAMOS et al., 2004; VEGA, 2003).
Várias funções foram empregadas para descrever o crescimento em altura da haste
principal da pupunheira ao longo do tempo de avaliação e em função das doses de biossólido
utilizadas. A equação de melhor ajuste foi a logística, expressa como Y = A2 + (A1-A2) / (1 +
(x/x0)p), de acordo com Richards (1969), com um coeficiente de determinação (R2) de 0,99
para todos os tratamentos.
37
300
300
DOSE 100
DOSE 0
250
2,5
250
Y=121288,01 + (10,60-121288,01)/(1+(x/257,23) )
2
2
R =0,99
R =0,99
200
ALTURA (cm)
200
ALTURA (cm)
2,2
Y=72330,3 + (8,2-72330,3)/(1+(x/262,78) )
150
100
150
100
50
50
0
0
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
0
20
2
4
DOSE 200
12
14
16
18
20
DOSE 400
250
2,3
Y=61608,9 + (9,22-61608,9)/(1+(x/211,5) )
2
R =0,99
200
150
100
100
50
0
0
2
4
6
8
10
12
14
MESES APÓS PLANTÍO
16
18
20
R =0,99
150
50
0
2
Y= 30235,3 + (6,33-30235)/(1+(x/196,6) )
2
ALTURA (cm)
ALTURA (cm)
10
300
300
200
8
MESES APÓS PLANTIO
MESES APÓS PLANTIO
250
6
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
MESES APÓS PLANTIO
Figura 3. Ajuste de equação do tipo logística Y = A2 + (A1-A2) / (1 + (x/x0)p) para altura
média da haste principal da pupunheira ao longo de 18 meses e em função das doses de
biossólido utilizadas na implantação do experimento. Ubatuba, SP, 2001-2003.
4.1.2. Plantas aptas para o corte
Os efeitos de doses de biossólido sobre a precocidade de colheita da pupunheira
podem ser visualizados na Figura 4. Essa variável, avaliada pela porcentagem de hastes aptas
à colheita começou a ser contabilizada a partir do 10o mês do plantio. Nota-se logo aos doze
meses uma superioridade da dose 400, significativa a 1% de probabilidade. Um ano após o
plantio, cerca de 27% das plantas que receberam a dose máxima de biossólido estavam aptas
20
38
para colheita de palmito. Por sua vez, na testemunha (dose 0) nenhuma planta tinha alcançado
o ponto de corte, enquanto nas doses 100 e 200 a porcentagem de plantas aptas também era
reduzida (2,08% e 1,04%, respectivamente). Os efeitos das doses mais baixas de biossólido
(doses 100 e 200) mostraram-se estatisticamente diferentes da testemunha a partir do 15o mês
após a aplicação. Nessa idade, acima de 59% das plantas do tratamento 400 estavam aptas
para corte. Por sua vez, as doses 200 e 100 apresentavam, respectivamente, 43 e 34% de
plantas aptas à colheita.
Tratando-se do primeiro experimento feito com biossólido em pupunheira, não foram
encontrados resultados comparativos na literatura. No entanto, as porcentagens de plantas
aptas à colheita obtidas no presente experimento foram superiores às encontradas por Bovi et
al. (2000) quando do uso de composto de lixo urbano no cultivo dessa palmeira. Esse estudo
foi conduzido na mesma região climática (Ubatuba, SP), com material genético da mesma
origem, porém em solo com menor fertilidade. Para doses de composto de lixo aplicadas,
também de uma única vez no sulco de plantio, Bovi et al. (2000) obtiveram, aos 17 meses
após o plantio, efeito linear crescente em função das doses, com máximo de 45,73% de
plantas aptas para corte obtido na dose de 40 Mg ha-1 de composto de lixo. Nessa mesma
idade as porcentagens de plantas aptas à colheita no ensaio de biossólido eram superiores a
80%. Mesmo na testemunha (dose 0) a porcentagem de plantas aptas aos 17 meses mostrou-se
elevada (58,89%), sendo significativamente maior que os 9,47% encontrados na dose 0 de
composto de lixo. Essa diferença surpreendente, pode ser explicada pelo estudo anterior
realizado por Vega (2003) na área experimental. Usando técnicas de Geoestatística, aplicadas
a dados de fitomassa e de análises químicas do solo, Vega (2003) identificou uma provável
movimentação sub-superficial horizontal dos constituintes do biossólido. Ao longo de 12
meses Vega (2003) observou, além do deslocamento de alguns elementos ao longo do perfil
39
do solo, também um
deslocamento horizontal (especialmente de cálcio, manganês e
nitrogênio amoniacal e nítrico), que esteve sempre correlacionado com a fitomassa aérea das
plantas.
O melhor ajuste de regressão para o caráter porcentagem de plantas aptas à colheita
foi obtido aplicando-se o modelo logístico, expresso pela equação Y = A2 + (A1-A2) / (1 +
(x/x0)p). Usando-se dados médios do experimento obteve-se um excelente ajuste, com
coeficiente de determinação elevado (R2= 0,99), para cada uma das doses empregadas (Figura
4). Os resultados encontrados demonstram que o uso do biossólido pode acelerar o tempo de
colheita do palmito, o que é concordante com Vega (2003) que sugere ser possível obter-se
precocidade na época de início de corte do palmito, considerando que, segundo a literatura,
esta se dá ao redor dos 18-24 meses após plantio (BOVI, 1998). Conforme relatado por vários
autores (BOVI, 1998; MORA-URPÍ et al., 1997; VILLACHICA, 1996; FLORI et al., 2001 e
2004), a colheita de palmito de um cultivo de pupunheira deve ser iniciada assim que pelos
menos 10% das plantas possuam hastes em ponto de corte. Verificando a Figura 4 pode-se
concluir que isso seria atingido aos 12 meses na dose 400, aos 14 meses nas doses 100 e 200 e
somente entre os 15 e 16 meses na dose 0. Com o uso de biossólido na implantação do cultivo
ganha-se, portanto, de dois a quatro meses em precocidade de corte.
40
100
100
DOSE 0
80
DOSE 100
22,24
)
80
PLANTAS APTAS (%)
PLANTAS APTAS (%)
24,93
Y=81,21 + (-0,38-81,21)/(1+(x/16,28)
2
R =0,99
60
40
20
0
Y=90,01 + (-0,22-90,01)/(1+(x/15,35)
2
R =0,99
60
40
20
0
10
12
14
16
18
10
MESES APÓS PLANTIO
100
100
24,01
)
14
16
18
DOSE 400
11,33
2
80
R =0,99
PLANTAS APTAS (%)
PLANTAS APTAS (%)
12
MESES APÓS PLANTIO
DOSE 200
Y=91,97 + (0,3-91,97)/(1+(x/15,13)
80
)
60
40
20
0
Y=93,6 + (-1,2-93,6)/(1+(x/14,03)
)
2
R =0,99
60
40
20
0
10
12
14
16
MESES APÓS PLANTIO
18
10
12
14
16
18
MESES APÓS PLANTIO
Figura 4. Ajuste de equação do tipo logística Y = A2 + (A1-A2) / (1 + (x/x0)p) à porcentagem
de plantas aptas à colheita do palmito, avaliada no período de 10 a 18 meses, e em função das
doses de biossólido utilizadas na implantação do experimento. Ubatuba, SP, 2001-2003.
4.1.3. Número de perfilhos
O perfilhamento teve inicio a partir do 5o mês após o plantio (Figura 5), com algumas
plantas perfilhadas apenas no tratamento de maior dose de biossólido (dose 400). Diferenças
estatísticas entre os tratamentos para esse caráter somente foram observadas a partir do 7o
mês, quando a dose 400 diferiu significativamente das demais. Discriminação entre as demais
doses foi observada no 9o mês, detectando-se um efeito linear positivo e significativo em
41
função das doses empregadas. Esse efeito perdurou até o 12o mês, quando então os
tratamentos começaram a se igualar. Dessa forma, embora continue havendo um efeito linear
em função de doses, as diferenças entre elas foram muito pequenas, especialmente a partir do
15o mês, não sendo estatisticamente significativas. Aos 18 meses após a aplicação dos
tratamentos o número médio de perfilhos por touceira era 4,15, 4,13, 4,52 e 4,81, para as
doses 0, 100, 200 e 400, respectivamente.
O coeficiente de variação ao longo do tempo para o caráter número de perfilhos
variou de 21,26 a 129,45%, bastante elevado quando comparado com as características
anteriormente relatadas (altura e porcentagem de plantas aptas à colheita). Isto significa que
provavelmente há uma maior variação genética para o número de perfilhos por plantas quando
comparada, por exemplo, à altura, o que corrobora os trabalhos de Bovi et al., (1992; 1993)
que também relataram grande variabilidade, com coeficientes de variação superiores a 46%
em avaliações feitas em amostras de pupunheiras.
A resposta do número médio de perfilhos por touceira em função de doses de
biossólido pode ser mais bem descrita pelo modelo de Hill (RICHARDS, 1969), expresso pela
função Y=(Vmax)(xn /kn +xn ), com coeficientes de determinação variando de 0,96 a 0,98
(Figura 5).
42
5
5
DOSE 100
DOSE 0
4,4
3,41
Y=7,55(x
2
R =0,97
3,41
/(18,1
3,41
+x
4
))
Nº PERFILHOS
Nº PERFILHOS
4
3
2
1
0
4,4
3
2
1
0
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
0
2
4
MESES APÓS PLANTIO
5
DOSE 200
3,8
3,8
8
10
12
14
16
18
20
16
18
20
DOSE 400
5,32
Y=4,14(x
3,8
Y=4,72(x /(12,02 +x ))
4
2
Nº PERFILHOS
R =0,96
Nº PERFILHOS
6
MESES APÓS PLANTIO
5
4
4,4
Y=4,33(x /(11,7 +x ))
2
R =0,97
3
2
1
0
5,32
5,32
6
8
/(9,33
+x
))
2
R =0,97
3
2
1
0
0
2
4
6
8
10
12
14
MESES APÓS PLANTIO
16
18
20
0
2
4
10
12
14
MESES APÓS PLANTIO
Figura 5 - Ajuste de equação de Hill (Y=(Vmax)(xn /kn +xn )) ao número médio de perfilhos
por planta ao longo de 18 meses e em função das doses de biossólido utilizadas na
implantação do experimento. Ubatuba, SP, 2001-2003.
O efeito linear positivo entre perfilhamento e doses de biossólido, especialmente na
fase de maior emissão dos mesmos (entre o 9o e o 12o mês após a implantação), foi
provavelmente reflexo da alteração das características físicas do solo proporcionadas pela
adição de biossólido e não só da maior disponibilidade de elementos essenciais ao cultivo.
Vega et al. (2005), avaliando algumas características do solo deste mesmo experimento,
detectaram alterações significativas na densidade e na umidade do solo em função das doses
43
de biossólido empregadas. Esses autores (VEGA et al., 2005) reportaram também diferenças
marcantes nessas características quando compararam linha (onde foram aplicados os
tratamentos) e entrelinha. Visto que a pupunheira perfilha melhor em solos mais leves
(VILLACHICA, 1996; BOVI, 1998), aventa-se que a diminuição da densidade do solo,
proporcionada pelo biossólido, contribuiu para a maior e mais precoce expressão desse
caráter.
4.1.4. Porcentagem de plantas perfilhadas
As respostas das plantas em porcentagem de plantas perfilhadas em função das doses
de biossólido (Figura 6) apresentaram melhor ajuste à função de Gompertz (RICHARDS,
1969), expressa pela função Y = aexp(-bexp(-kx)), com coeficientes de determinação variando
de 0,98 a 0,99. Observa-se pela Figura 6, que as respostas da pupunheira em porcentagem de
plantas perfilhadas, em função das doses de biossólido utilizadas, foram mais acentuadas entre
o 7o e o 10o mês após a aplicação dos tratamentos. Houve nesse período diferenças
estatisticamente significativas entre as doses, com efeito linear positivo, mais evidente no 9o
mês. Nessa idade a porcentagem de plantas perfilhadas foi 61,46, 51,04, 41,67 e 21,88% para
as doses 400, 200, 100 e 0, respectivamente.
Os coeficientes de variação para a porcentagem de plantas perfilhadas foram baixos
para os últimos meses (mínimo de 2,40%) e altos (máximo de 73,52%) para os primeiros
meses de avaliação. Isso é devido a desuniformidade do perfilhamento inicial, fato que já foi
reportado também por diversos autores, como por exemplo Bovi et al. (2002). Além disso, as
plantas não demonstraram uma linearidade, como foi encontrado em experimentos conduzidos
por Bovi et al. (2002). Pode-se notar na dose 400 uma certa estabilidade já a partir do 10o mês
44
de avaliação, sendo esta mais evidente após o 16º mês. Isto significa que na maior dose de
biossólido a porcentagem máxima de plantas perfilhadas foi alcançada já aos 10 meses,
enquanto nas demais doses isso ocorreu apenas após o 14o mês. Conforme constatado
anteriormente (BOVI 1998; BOVI et al. 2002), nem todas as plantas perfilham, haja vista que
a porcentagem máxima de plantas perfilhadas foi 93,75%.
Comparando os resultados ao longo do tempo, verifica-se que as porcentagens finais
de plantas perfilhadas em função de doses de biossólido foram semelhantes às obtidas por
Bovi et al. (2002) empregando doses similares de nitrogênio, aplicado como fertilizante
químico, parcelado cinco vezes ao ano. A divergência entre os dois estudos diz respeito à
precocidade de obtenção da porcentagem máxima. Para melhor entendimento dessa afirmativa
é preciso ser mencionado que não foram encontradas diferenças significativas entre as
porcentagens obtidas entre o 10o e o 18o mês para a dose 400 de biossólido. Por sua vez, Bovi
et al. (2002) relataram que também não foram detectadas diferenças estatisticamente
significativas entre o 15o e o 30o. Ou seja, considerando apenas a dose de maior resposta em
ambos os estudos (equivalente a 400 kg de N ha-1), observa-se que enquanto máximo
perfilhamento por parcela foi detectado no ensaio de adubação química no 15o mês após o
plantio, o mesmo foi obtido no ensaio de biossólido já no 10o mês. Conclui-se portanto que o
uso de biossólido em pupunheira proporcionou precocidade acentuada também para essa
característica.
45
100
100
80
Y=90,89exp(-10,02exp(-0,35x))
PLANTAS PERFILHADAS (%)
PLANTAS PERFILHADAS (%)
DOSE 0
2
R =0,99
60
40
20
0
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
80
DOSE 100
Y=86,42exp(-8,48exp(-0,45x))
2
R =0,98
60
40
20
0
20
0
2
4
MESES APÓS PLANTIO
10
12
14
16
18
20
100
DOSE 400
PLANTAS PERFILHADAS (%)
DOSE 200
PLANTAS PERFILHADAS (%)
8
MESES APÓS PLANTIO
100
80
6
Y=80,0exp(-7,95exp(-0,50x))
2
R =0,98
60
40
20
0
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
MESES APÓS PLANTIO
80
Y=86,17exp(-7,21exp(-0,54x))
2
R =0,99
60
40
20
0
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
MESES APÓS PLANTIO
Figura 6. Ajuste de equação de Gompertz (Y = aexp(-bexp(-kx)), à porcentagem média de
plantas perfilhadas ao longo de 18 meses e em função das doses de biossólido utilizadas na
implantação do experimento. Ubatuba, SP, 2001-2003.
4.2. Efeitos do Biossólido nos Caracteres Relacionados à Produção
4.2.1. Componentes da produção de palmito
Devido à variabilidade genética, a colheita do palmito da pupunheira é seletiva e
escalonada, devendo ser iniciada assim que pelo menos 10% das plantas alcancem o ponto de
20
46
corte (BOVI, 1998). A idade com que o cultivo alcança este estádio é função do material
genético, aliado a fatores tais com clima, solo, adubação, irrigação, entre outros. A produção
de palmito é freqüentemente expressa em quilos ou toneladas por hectare, sendo o somatório
de todas as colheitas efetuadas durante um período de doze meses. Embora uma única colheita
não deva ser considerada para extrapolar os dados por área e por ano (rentabilidade da
cultura), muitas vezes ela é adequada para identificar as respostas aos diferentes tratamentos.
Nesse caso ela deve ser preferencialmente expressa em gramas ou quilos por planta.
No presente estudo foram utilizados dados das primeiras colheitas, efetuadas no
período de outubro de 2002 a fevereiro de 2003, ou seja do 15o mês ao início do 19o mês, após
a implantação do experimento. Para a avaliação da produção foram utilizados os critérios
descritos por Clement e Bovi (2000), conforme especificado no capítulo anterior,
representando a produção média individual das plantas dos diferentes tratamentos.
A análise de variância dos dados de colheita referente ao palmito bruto (composto
pela haste desprovida dos pecíolos, limbos foliares e folha flecha) mostrou efeitos
significativos de dose para essa variável. A dose 400 apresentou maior peso (média de 5,16
kg planta-1), sendo seguida pelas doses 200 (4,85 kg planta-1) e dose 100 (4,82 kg planta-1),
com menores valores obtidos para a dose 0 (4,54 kg planta-1). A análise de regressão desses
mesmos dados mostrou efeito linear positivo e significativo em função das doses de
biossólido (Figura 7). A equação que representa essa relação é: Y = 4,6 + 0,0014 x, onde x é a
dose de N aplicada, com coeficiente de determinação de 0,97. O coeficiente de variação para
o peso bruto do palmito foi 5,16%, estando dentro da faixa considerada como baixa, tendo em
conta que o coeficiente de variação dá uma idéia da precisão do experimento (PIMENTEL,
1987). Embora essa variável tenha alguma utilidade para a estimativa da produção, e seja
47
possível de ser mensurada no campo ou na indústria de processamento, nem sempre ela é
muito adequada para estimar a produção de palmito, pois inclui uma quantidade muito
variável de tecidos fibrosos que serão descartados durante a industrialização (CLEMENT e
BOVI, 2000).
Após o segundo desbaste, feito em laboratório, foi pesada a porção denominada
coração, estipe tenro ou resíduo basal. Esse componente é a porção do estipe imediatamente
abaixo do meristema, geralmente composta por um ou dois nós, desde que seja bastante tenra
para ser comida “in natura”. A análise de variância não detectou diferença entre as doses
quando foi avaliada essa variável, que esteve, em média, entre 209,58 e 237,10 g planta-1.
Observou-se apenas uma ligeira variação entre doses, sendo que a dose 400 apresentou o
maior peso (Figura 7). Representando em porcentagem, constata-se que a dose 400 propiciou
5%, 9% e 12% a mais de peso em gramas que as doses 200, 100 e 0, respectivamente. Embora
a variação seja pequena, a análise de regressão aplicada aos dados constatou um efeito linear
positivo e significativo em função das doses de biossólido utilizadas. A equação que
representa essa relação é: Y = 209,15 + 0,07 x, onde x é a dose de N aplicada, com coeficiente
de determinação de = 0,99 e um coeficiente de variação de 5,49%.
O peso do palmito propriamente dito, correspondente apenas ao peso fresco dos
toletes inteiros, extraídos imediatamente acima do meristema apical, também apresentou
variação no que se refere às doses de biossólido empregadas (Figura 7). A análise de variância
dos dados de peso do palmito mostrou efeitos significativos de dose para essa característica,
com coeficiente de variação de 10,58%. Como no caso anterior, a dose 400 mostrou maior
peso (322,71g planta-1), seguindo em ordem decrescente a dose 200 (285,84 g planta-1), a dose
100 (270,59 g planta-1) e a dose 0 (209,58 g planta-1). Se considerarmos que aos 18 meses o
48
palmito de primeira está entre 120 e 300 gramas (BOVI, 1998), veremos que os valores
encontrados no experimento estão dentro da faixa estabelecida. Da mesma forma que a
variável anterior, se obteve um efeito linear na análise de regressão, com um coeficiente de
determinação elevado (R2 = 0,99). A função Y = 252,19 + 0,18 x, expressa essa relação
(Figura 7). Os resultados aqui apresentados estão em acordo com os obtidos por vários autores
quando do estudo do efeito de doses de adubação química e/ou orgânica na pupunheira.
Merece destaque o relato de Molina et al. (2002), no qual a dose 400 kg-1 de N por ha-1
produziu palmitos de maior peso em andisoles de Costa Rica.
Além do peso do palmito foram avaliados também o seu diâmetro e comprimento. O
diâmetro foi mensurado na base (primeiro tolete, próximo ao meristema apical) e no ápice
(último tolete completo, ainda envolto por bainha). A análise de variância não detectou efeitos
significativos de dose para o diâmetro do tolete mais apical, que variou de 2,61 a 2,79 cm. Já
para o diâmetro do primeiro corte, houve diferenças significativas, com a dose 200 sendo
significativamente superior à dose 0 (Figura 8). Mesmo assim, as diferenças entre doses foram
pequenas, variando de 3,50 a 3,72 cm. O coeficiente de variação foi baixo, com valores de
2,75% para diâmetro do tolete no ápice e 2,57% para diâmetro do tolete na base.
Diferentemente dos diâmetros, o comprimento do palmito mostrou efeito significativo
de dose, tanto na análise de variância quanto na análise de regressão. O coeficiente de
variação para essa variável foi de 4,76%. O comprimento variou de 35,28 cm (dose 0) a 39,28
cm (dose 400), com efeito quadrático significativo e elevado coeficiente de determinação (R2
= 0,99). A equação Y = 35,27 + 0,03x – 3,71x2 expressa essa relação, onde x é a dose de N
aplicada (Figura 7). O comprimento do palmito é um dos parâmetros mais importantes na
avaliação da produção, porque determina o número de toletes inteiros que vão ser obtidos.
49
Nesse caso, toma-se em consideração o comprimento do palmito de exportação que é um
múltiplo de 9 (CLEMENT e BOVI, 2000).
PESO BRUTO (Kg)
5,1
5,0
240
PESO BRUTO
CORAÇÃO
235
Y=4,6+0,0014x
2
R =0,97
PESO CORAÇÃO (g)
5,2
4,9
4,8
4,7
4,6
230
Y=209,15+0,07x
2
R =0,99
225
220
215
210
4,5
0
100
200
300
205
400
O
DOSES
340
100
400
200
DOSES
40
PALMITO
COMPRIMENTO DO PALMITO
PESO PALMITO (g)
320
310
COMPRIMENTO (cm)
330
Y=252,19+0,18x
2
R =0,99
300
290
280
270
39 Y=35,27+0,03x-3,71x2
2
R =0,99
38
37
36
260
35
250
0
100
200
DOSES
400
0
100
200
300
400
DOSES
Figura 7. Ajuste de equações para o peso do palmito bruto (a), peso do coração ou resíduo
basal (b), peso (c) do palmito propriamente dito e (d) comprimento do palmito, em função das
doses de biossólido utilizadas na implantação do experimento. Ubatuba, SP, 2002-2003.
50
3,75
a
Diâmetro da base (cm)
3,70
3,65
ab
ab
3,60
3,55
3,50
b
0
100
200
300
400
Doses
a
2,80
Diâmetro do ápice (cm)
2,78
2,76
2,74
a
2,72
2,70
a
2,68
2,66
2,64
2,62
a
2,60
0
100
200
300
400
Doses
Figura 8. Diâmetro (cm) do palmito na base e no ápice em função de doses de biossólido
utilizadas na implantação do experimento. Letras iguais denotam ausência de significância
estatística pelo teste de Tukey a 5%. Ubatuba, SP, 2002-2003.
51
4.3. Nutrientes e Metais Pesados na Parte Comestível do Palmito e na Folha+2
Considerando-se os principais componentes da produção (peso do palmito e do
coração) avaliados durante a primeira colheita (outubro de 2002 a fevereiro de 2003) e
apresentados no tópico anterior, conclui-se que a adição de biossólido, mesmo que uma única
vez durante a implantação da cultura, afeta positivamente a produção de palmito, avaliada 15
a 19 meses após essa aplicação. No entanto, é preocupante o potencial de acumulação de
metais pesados e outros elementos potencialmente tóxicos em solos tratados com biossólido,
os quais, em elevadas concentrações, podem causar toxidez às plantas e atingir o homem por
meio da cadeia alimentar (KELLER et al., 2002; McBRIDE, 1995). Esse último aspecto é de
fundamental importância, pois Vega (2003) observou que, embora não tenha sido detectada
fitotoxidade em pupunheiras com até 12 meses de idade (mesmo na dose 400), as análises
mostraram que houve acúmulo de alguns metais pesados, potencialmente tóxicos, nas folhas.
Portanto, torna-se imperativo saber se os teores desses elementos estão ainda mais
concentrados na parte comestível, podendo torná-la imprópria para consumo pela legislação
vigente. Por isso, além da produção, foi realizada uma avaliação da distribuição de alguns
metais pesados na porção comestível comparando-a com os teores detectados nos folíolos da
folha+2 (segunda folha completamente expandida), usualmente utilizada para a avaliação do
status nutricional da pupunheira (CANTARELLA e BOVI, 1995). Foram contrastados teores
obtidos na dose máxima (dose 400, equivalentes a 152 Mg ha-1 de biossólido, base úmida)
com a dose 0 (testemunha, sem adição de biossólido). Para facilidade de apresentação os
resultados dessas análises foram divididos em macronutrientes, micronutrientes e alguns
metais pesados.
52
4.3.1. Teores de macronutrientes
A análise estatística dos dados referentes aos teores de macronutrientes nas diferentes
partes do produto comestível e nos folíolos da folha+2 (Tabela 5) mostrou diferenças
estatísticas entre as partes analisadas para todos os macronutrientes, com exceção de enxofre.
Foram detectadas também diferenças entre as doses para grande parte deles, exceto para
magnésio e enxofre. O coeficiente de variação para os macronutrientes variou de 17,4% (para
nitrogênio) a 39,2% (para potássio), estando na faixa adequada para esse tipo de análise.
Os macronutrientes presentes em maiores teores nas diferentes partes da porção
comestível da pupunheira são, em ordem decrescente: nitrogênio, potássio, magnésio e
fósforo. Cálcio e enxofre vêm logo a seguir, com teores muito próximos entre si nas diferentes
partes analisadas. Os mais altos teores de nitrogênio (Figura 9) foram encontrados no corte
(tolete) médio do palmito (51,5 g kg-1 base seca na dose 400 e 47,15 g kg-1 base seca para a
dose 0), enquanto a parte que apresentou o teor mais baixo desse nutriente foi a folha (43,25 g
kg-1 base seca para a dose 400 e 30,40 g kg-1 base seca para a dose 0).
Pela Figura 9 pode-se observar de certa maneira a mobilidade que tem o nitrogênio
dentro da planta da pupunheira. Segundo Marschner (1998), a mobilidade deste nutriente vai
da folha mais velha para as mais novas. Como o palmito é a folha ainda não desenvolta, podese ter uma idéia da mobilização do nitrogênio antes de sair a folha já desenvolta da
pupunheira. Alem disso, concorda com a conclusão expressa por Deenik et al. (2000), que no
cultivo da pupunheira a concentração de N nas folhas é maior nos tecidos jovens, decrescendo
com a idade.
53
Tabela 5- Análise de variância, coeficiente de variação e teores médios de macronutrientes
encontrados na parte comestível do palmito e dos folíolos da folha+2 de pupunheira, para as
doses de biossólido equivalentes a 0 e 400 kg ha-1 de N prontamente disponível. Ubatuba, SP,
2003.
N
P
K
Ca
Mg
S
-------------------------------------------------------- g kg-1 -----------------------------------------CORAÇÃO
36,63b
5,88c
29,53a
2,68b
8,58a
3,21a
1º CORTE
47,43ab
7,66ab
29,25a
3,69ab
6,90a
3,35a
CORTE MÉDIO
49,34a
8,11a
29,36a
3,79a
6,20ab
3,50a
CORTE APICAL
40,60ab
6,98b
30,54a
3,20ab
6,01ab
3,28a
FOLÍOLOS
36,83b
2,28d
8,44b
2,94ab
3,00b
2,98a
F
10,67*
281,98***
12,59*
8,31*
14,11*
0,76ns
DOSE 0
38,97b
5,99b
29,42a
3,03b
6,57a
3,50a
DOSE 400
45,36a
6,38a
21,43b
3,49a
5,71a
3,03a
F
15,50*
9,79*
11,09*
9,90*
3,22ns
5,75ns
CV%
17,40
35,40
39,20
17,80
32,10
12,60
Valores seguidos de letras iguais na vertical não diferem entre si estatisticamente, pelo teste
de Tukey a 5%; * , ** e *** estatisticamente significativo a 5%, 1% e 0,1%, respectivamente,
pelo teste F; ns, não significativo.
O acúmulo de fósforo nos tecidos que compõem o palmito e a folha-diagnose (folha
+2) seguiu o mesmo padrão do encontrado para o nitrogênio. Maiores teores de P foram
detectados no tolete mediano, com valores da ordem de 8,03 g kg-1 para a dose 0 e 8,20 g kg-1
para a dose 400. O teor presente na folha+2, usualmente utilizada para monitoramento do
estado nutricional da cultura da pupunheira, mostrou os resultados mais baixos nos dois
54
tratamentos avaliados (dose 0 e dose 400), quando comparado com os teores da porção
comestível.
O teor mais alto de potássio foi encontrado no corte apical do palmito para a dose 0,
com valores de 37,60 g kg-1 (sempre com base em matéria seca) e no coração para a dose 400
(27,40 g kg-1). Observa-se, pela Figura 9 e pela Tabela 5, que a dose 0 mostrou teores de K
estatisticamente maiores que a dose 400 em todas as partes do produto e da folha externa
(folha+2) analisada. Isso possivelmente seja decorrente das adubações trimestrais feitas com
esse elemento ao longo da duração do experimento.
55
DOSE 0
DOSE 400
50
-1
NITROGÊNIO (g kg )
60
40
30
20
10
0
CORA
1º CORTE C.MEDIO C. APICE
FOLIOLO
12
DOSE 0
DOSE 400
-1
FÓSFORO (g kg )
10
8
6
4
2
0
CORA
40
C.MEDIO C. APICE FOLIOLO
DOSE O
DOSE 400
30
-1
POTÁSSIO (g kg )
35
1º CORTE
25
20
15
10
5
0
CORA
1º CORTE C.MEDIO
C. APICE
FOLIOLO
Figura 9. Teores de nitrogênio, fósforo e potássio nas diferentes partes comestíveis do palmito
e na folha-diagnose para as doses de biossólido equivalentes a 0 e 400 kg ha-1 de N
prontamente disponível. Ubatuba, SP, 2003.
56
Os teores de cálcio foram baixos, variando em média de 2,68 a 3,69 g kg-1, com
diferenças estatísticas entre as partes analisadas e entre as doses (Tabela 5). Maiores teores
desse elemento foram encontrados na porção média do palmito propriamente dito (primeiro
corte e corte mediano), com valores de 3,63 g kg-1 para a dose 0 e 3,95 g kg-1 para a dose 400
(Figura 10).
No caso do magnésio, terceiro nutriente com teores mais elevados na pupunheira
(teores entre 3,00 e 8,58 g kg-1), não foram detectadas diferenças entre as doses de biossólido,
mas apenas entre as partes consideradas (Tabela 5). A distribuição de Mg ao longo dos tecidos
analisados (Figura 10) apresentou um efeito linear negativo, com maior concentração no
resíduo basal (coração), decaindo ao longo da porção comestível, até a folha+2, também
conhecida como folha-teste ou folha-diagnose. Os teores variaram de 2,63 a 8,85 g kg-1 para a
dose 0 e de 3,38 a 8,30 g kg-1 para a dose 400. Tal fato é esperado, pois existem efeitos
antagônicos desse nutriente com outros elementos. Segundo Malavolta et al. (1997), altas
concentrações de Ca e principalmente K, inibem competitivamente a absorção deste nutriente.
Da mesma forma Rocha et al. (2004) trabalhando com eucalipto, corroboram a afirmação de
Malavolta et al. (1997), afirmando que houve diminuição dos teores ao longo do experimento
devido à translocação interna desse nutriente, ou então devido à absorção antagônica entre o
Mg, Ca e K. Mesmo na parte já expandida das folhas parece ocorrer translocação, uma vez
que Falcão et al. (1994) encontraram em análises foliares de pupunheira maiores
concentrações de Mg nos folíolos apicais quando comparados aos folíolos basais.
57
5
DOSE 0
DOSE 400
-1
CALCIO ( g kg )
4
3
2
1
0
CORA
1º CORTE C.MEDIO
C. APICE FOLIOLO
12
-1
MAGNÉSIO ( g kg )
10
DOSE 0
DOSE 400
8
6
4
2
0
CORA
1º CORTE C.MEDIO C. APICE
FOLIOLO
4,5
4,0
DOSE 0
DOSE 400
ENXOFRE ( g kg-1)
3,5
3,0
2,5
2,0
1,5
1,0
0,5
0,0
CORA
1º CORTE C.MEDIO C. APICE
FOLIOLO
Figura 10. Teores de cálcio, magnésio e enxofre nas diferentes partes comestíveis do palmito
e na folha-diagnose para as doses de biossólido equivalentes a 0 e 400 kg ha-1 de N
prontamente disponível. Ubatuba, SP, 2003.
58
Os teores de enxofre nas diferentes partes analisadas foram elevados, apresentando
praticamente a mesma magnitude encontrada para o cálcio (Tabela 5). Não foram detectadas
diferenças significativas entre as partes analisadas, com valores médios do elemento variando
de 2,98 a 3,50 g kg-1. Também não houve diferenças estatisticamente significativas entre as
doses, encontrando-se 3,03 g kg-1 para a dose 400 e 3,50 g kg-1 para a dose 0. Segundo
Malavolta et al. (1997), o S é absorvido ativamente pelas raízes preferencialmente na forma
altamente oxidada de sulfato (S042-). Por sua vez, Silva et al. (2003), observaram em plantas
de soja que o S, absorvido tanto pelas raízes quanto pelas folhas, foi transportado em maiores
proporções, para as folhas superiores, não sendo distribuído para outras partes da planta.
Assim também, Herschbach e Rennenberg (1995) e Hartmann et al. (2000) reportaram que
compostos de S reduzido podem ser transportados na direção acrópeta para as folhas em
desenvolvimento. Os valores encontrados no experimento estão acima dos teores adequados
dados por Malavolta et al. (1997), para tecidos foliares em pupunheira. No entanto, deve-se
considerar que esses valores são indicações muito gerais.
4.3.2. Teores de micronutrientes
Entre os micronutrientes, os elementos com maiores teores nas diferentes partes da
porção comestível da pupunheira são, em ordem decrescente: zinco (Zn), ferro (Fe), manganês
(Mn), boro (B) e cobre (Cu). Dentre eles, o boro tem especial interesse para as palmeiras, com
sintomas de deficiência típicos, expressos por diminuição do limbo e da ráquis foliar, maior
espessura dos folíolos, plissamento do limbo foliar e ponta dos folíolos em baioneta (LA
TORRACA et al., 1984; MALAVOLTA, 1980). Os sintomas de deficiência de boro no
presente experimento tiveram início no primeiro trimestre após a instalação do mesmo e
persistiram por todo o tempo, daí a necessidade de suplementação periódica com B. Por isso
59
não houve muita variação dos teores médios desse micronutriente entre os tratamentos, com
médias de 29,85 mg kg-1 para a dose 0 e 27,45 mg kg-1 para a dose 400, sem diferenças
estatísticas entre as doses (Tabela 6). Não houve também diferenças estatisticamente
significativas entre as partes analisadas, com o teor de B variando em média de 22,93 a 31,37
mg kg-1. Na dose 400 o maior teor de B (37,53 mg kg-1) foi encontrado nos folíolos externos e
o menor (22,60 mg kg-1) no coração (Figura 11). Por sua vez, na dose 0, embora o teor mais
baixo tenha sido detectado também no coração (23,25 mg kg-1), o mais elevado foi obtido nos
toletes mediano e apical (34,10 mg kg-1). Segundo Malavolta et al. (1997), o boro é muito
pouco móvel na planta, sendo que normalmente é conduzido no xilema. Esse elemento é
encontrado também no floema, embora em baixas concentrações, através do qual é
redistribuído para satisfazer a demanda de órgãos-dreno, que não transpiram muito.
Também para o cobre não houve diferenças significativas entre as partes e entre as
doses, com valores de 14,46 mg kg-1 para a dose 0 e 15,52 mg kg-1 para a dose 400 (Tabela 6).
Para a dose 400 o valor mínimo foi obtido nas folhas (8,30 mg kg-1), enquanto o teor máximo
foi detectado no primeiro tolete (18,05 mg kg-1). Distribuição praticamente inversa foi
detectada na dose 0 para esse micronutriente (Figura 11), sendo o teor máximo (17,68
mg kg-1) observado no segundo tolete e também no tolete mediano, enquanto o mínimo foi
detectado na folha (6,03 mg kg-1).
60
Tabela 6. Resumo da análise de variância para os teores de micronutrientes e elementos
potencialmente tóxicos na porção comestível e na folha +2 para as doses de biossólido
equivalentes a 0 e 400 kg ha-1 de N prontamente disponível. Ubatuba, SP, 2003.
B
Cu
Fe
Mn
Zn
---------------------------------------mg kg-1 -------------------------------CORAÇÃO
22,93a
16,16a
34,00b
24,88c
116,86a
1º CORTE
28,35a
17,86a
42,38b
33,88bc
82,78ab
CORTE MÉDIO
30,58a
17,35a
57,13b
49,50a
83,14ab
CORTE APICAL
30,01a
15,73a
56,63
46,50ab
91,49ab
FOLÍOLOS
31,37a
7,16b
110,75a
58,00a
32,01b
F
0,59ns
35,52*
28,56*
28,56*
9,29*
DOSE 0
29,85a
14,46a
46,15a
46,15a
81,57a
DOSE 400
27,45a
15,25a
38,95b
38,95b
80,95a
F
0,37ns
1,45ns
0,18ns
10,73*
0,005ns
CV%
19,70
27,90
49,90
31,90
38,70
Valores com letras iguais na vertical não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5%.
* significativo a 5% , pelo teste F; ns - não significativo.
O teor de ferro variou de 24,88 a 58,00 mg kg-1 entre as partes, com diferenças
significativas entre elas, bem como entre as doses de biossólido aplicadas (Tabela 6). Teores
médios mais altos foram detectados na dose 0 (46,15 mg kg-1). Em ambas as doses, entretanto,
foi observado um gradiente positivo em função do desenvolvimento do tecido foliar (Figura
12), ou seja, menores teores no coração (média de 34,00 mg kg-1 para a média das doses), e
maiores na folha completamente expandida (folha+2), também chamada de folha-diagnose,
61
com média de 110,75 mg kg-1. Malavolta et al. (1997) observou que a absorção de ferro é
influenciada por outros cátions tais como K, Ca, e Mg.
Para o manganês foi observada distribuição entre as partes analisadas semelhante às
descritas para o ferro (Tabela 6). No entanto, a amplitude dos valores foi menor, com mínimo
de 24,88 mg kg-1, obtida no coração, e máximo de 58,00 mg kg-1, detectado nos folíolos da
folha-diagnose (Figura 12).
Distribuição inversa a dos dois micronutrientes descritos acima foi observada para o
zinco, com teores máximos no coração (média de 116,86 mg kg-1 para as doses) e mínimo de
32,01 mg kg-1 para a folha+2 (Tabela 6). Embora não tenham sido detectadas diferenças entre
as doses, foram obtidas diferenças estatisticamente significativas entre as partes analisadas.
Para a dose 0 o teor mínimo desse elemento foi obtido na folha (29,68 mg kg-1), enquanto o
teor máximo (119,13 mg kg-1) foi detectado no coração (Figura 12). Distribuição semelhante
foi observada para a dose 400, com mínimo de 34,35 (folha+2) e máximo de 114,60 mg kg-1
(coração). Outro aspecto interessante é a maior concentração do Zn na parte comestível do
palmito (Figura 4) em comparação com a folha-teste ou folíolo, embora o zinco represente
pouco risco para a saúde humana e/ou animal (CHANEY, 1980). A absorção desse
micronutriente depende muito do pH e da CTC do solo (CUNHA et al., 1994). Segundo Vega
(2003), o pH do solo da área experimental era 5,4,
podendo isto explicar a maior
disponibilidade desse elemento. Além do que, conforme Saeed e Fox (1979), existe uma
interação entre o zinco e o fósforo, uma vez que aplicações de P tendem a aumentar a
adsorção de Zn.
62
40
36
DOSE 0
DOSE 400
32
-1
BORO (mg kg )
28
24
20
16
12
8
4
0
CORA
22
20
1º CORTE
C.MEDIO C. APICE
FOLIOLO
DOSE 0
DOSE 400
18
-1
COBRE (mg kg )
16
14
12
10
8
6
4
2
0
CORA
1º CORTE C.MEDIO
C. APICE
FOLIOLO
Figura 11. Teores de boro e cobre nas diferentes partes comestíveis do palmito e na folhadiagnose para as doses de biossólido equivalentes a 0 e 400 kg ha-1 de N prontamente
disponível. Ubatuba, SP, 2003.
63
120
-1
FERRO (mg kg )
100
DOSE 0
DOSE 400
80
60
40
20
0
CORA
FOLIOLO
1º CORTE C. MEDIO C. APICE
FOLIOLO
DOSE 0
DOSE 400
-1
MANGANÊS (mg kg )
60
PONTA
1º CORTE C.MEDIO
40
20
0
140
CORA
DOSE 0
DOSE 400
-1
ZINCO (mg kg )
120
100
80
60
40
20
0
CORA
1º CORTE C.MEDIO C. APICE
FOLIOLO
Figura 12. Teores de ferro, manganês e zinco nas diferentes partes comestíveis do palmito e
na folha-diagnose para as doses de biossólido equivalentes a 0 e 400 kg ha-1 de N prontamente
disponível. Ubatuba, SP, 2003.
64
Os coeficientes de variação, tanto para macro quanto para micronutrientes, estão
dentro da faixa considerada como alta e muito alta por Pimentel (1987). Porém, destaca-se em
forma crescente N com 20,41%; S com 21,19% e Ca com 26,49%. Os coeficientes de
variação para os macroelementos K, P e Mg estão entre os considerados muito altos (31,97,
35,44 e 39,21%, respectivamente). Dentre os micronutrientes o Cu apresenta o CV mais
baixo, sendo ainda considerado alto (23,97%), enquanto os demais micronutrientes
apresentam CVs ainda mais elevados, estando entre 34,17 e 42,76% (em forma crescente, Zn,
Mn, Fe e B). A magnitude dos coeficientes de variação, considerada alta para análises de
laboratório, pode ser explicada pela variabilidade genética do material utilizado, pela possível
distribuição heterogênea dos elementos ao longo dos tecidos analisados, bem como por falhas
na amostragem efetuada no campo ou mesmo nas análises laboratoriais.
4.3.3. Teores de metais pesados
Foram analisados os metais pesados cádmio (Cd), cromo (Cr), níquel (Ni) e chumbo
(Pb). Teores mais elevados desses metais pesados na porção comestível foram obtidos para o
cromo, seguido do chumbo, do níquel e por último o cádmio (Tabela 7).
Os teores médios de cádmio variaram de 0,18 a 0,67 mg kg-1 ao longo das partes
analisadas, sem diferenças estatísticas entre elas (Tabela 7 e Figura 14). A dose 400
apresentou teores médios significativamente mais baixos que a dose 0 (0,17 e 0,83 mg kg-1,
respectivamente).
Os teores médios de cromo foram elevados, variando de 2,36 a 5,21 mg kg-1, sem
diferenças estatisticamente significativas entre partes e entre doses (Tabela 7 e Figura 13).
65
Ausência de significância entre ambas foi detectada também para o níquel, com valores
médios variando de 0,95 a 2,04 mg kg-1 (Tabela 7 e Figura 14).
Tabela 7. Resumo da análise de variância para os teores de metais pesados na porção
comestível e na folha +2 para as doses de biossólido equivalentes a 0 e 400 kg ha-1 de N
prontamente disponível. Ubatuba, SP, 2003.
Cd
Cr
Ni
Pb
----------------------------mg kg-1-------------------------CORAÇÃO
0,52a
3,49a
1,40a
1,08a
1º CORTE
0,53a
4,02a
1,24a
2,26a
CORTE MÉDIO
0,67a
5,21a
0,96a
2,42a
CORTE APICAL
0,60a
4,15a
2,04a
3,42a
FOLÍOLOS
0,18a
2,36a
0,95a
0,09a
F
1,45ns
0,69ns
0,58ns
1,30ns
DOSE 0
0,83a
5,12a
1,84a
3,28a
DOSE 400
0,17b
2,57a
0,79a
0,43b
F
22,5*
5,23ns
4,16ns
7,99*
CV%
111,90
85,90
107,40
165,70
Valores seguidos por letras iguais na vertical não diferem entre si pelo
teste de Tukey a 5%. * significativo ao 5% pelo teste F; ns – não significativo.
66
10
9
-1
CROMO ( mg kg )
8
7
DOSE 0
DOSE 400
6
5
4
3
2
1
0
CORA
1º CORTE C.MEDIO C. APICE FOLIOLO
Figura 13. Teores de cromo nas diferentes partes comestíveis do palmito e na folha-diagnose
para as doses de biossólido equivalentes a 0 e 400 kg ha-1 de N prontamente disponível.
Ubatuba, SP, 2003.
Embora sem variação estatisticamente significativa entre as partes analisadas (Tabela
7), foram verificadas para o metal pesado chumbo, diferenças entre doses, com a dose 0
inesperadamente sendo bastante superior a dose 400 (3,28 e 0,43 mg kg-1, respectivamente)
(Figura 14). Esse é, sem dúvida um fenômeno pouco explicável, já que de acordo com os
resultados da análise química, o solo na dose 0 (testemunha) não apresentava teores elevados
deste metal (VEGA, 2003). No entanto, como pode ser observado na Tabela 8, os coeficientes
de variação para as análises de metais pesados foram extremamente elevados, variando de
85,9% à 165,7% para o Pb. Não obstante a baixa precisão dessas análises, observa-se pelas
Figuras 13 e 14, bem como pela Tabela 7, que para todos os metais pesados as partes
comestíveis apresentaram teores bem mais elevados que a folha+2.
Os resultados das análises químicas de macro e microelementos, expressos nas
Figuras 9 a 14, com base em matéria seca, indicam que há variação de grande parte dos
minerais e metais pesados ao longo das diferentes partes do palmito. Em alguns casos, teores
67
duas a quatro vezes superiores aos encontrados na folha+2, utilizada rotineiramente para
avaliar o status nutricional da pupunheira, foram detectados. Especialmente para o chumbo, os
teores no palmito foram extremamente superiores aos da folha+2, com valores até 38 vezes
mais elevados. O monitoramento desses teores em longo prazo, especialmente dos metais
pesados, é necessário antes de se recomendar o uso de biossólido para essa cultura. Os metais
pesados são de fato uma das maiores preocupações quando se trabalha com plantas que vão
ser destinadas para o consumo humano. Não foram encontradas referências bibliográficas
sobre a presença de metais pesados em palmito, exceto para o metal cromo referido no
trabalho de Yuyama et al. (1999). No entanto, os valores encontrados pelos autores são
inferiores aos obtidos no presente trabalho. Para outras culturas, valores também inferiores
aos aqui observados têm sido reportados. Por exemplo, Anjos e Mattiazzo (2000) encontraram
em sabugos de milho valores inferiores de Pb (1,85 mg kg-1) aos obtidos no
presente
experimento. No entanto, cuidados devem ser tomados quando da comparação dos teores. O
palmito pode ser consumido “in natura” ou em conserva, e em ambas as formas apresenta
cerca de 90% de água (BOVI, 1998; YUYAMA et al., 1999). Portanto, é em base úmida que
devem ser comparados os teores dos elementos potencialmente tóxicos. Na ausência de
legislação específica para palmito, valores relativos a contaminantes em frutas e hortaliças em
conserva podem ser utilizados como referência. Na Tabela 3, estão os limites de tolerância da
Legislação Brasileira (LB), na resolução 22/77 de 6-9-77 e 1979 (BRASIL, 1989), para
contaminantes em frutas e hortaliças em conserva. Limite similar é dado pelo decreto Nº
55871 da ABIA (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS DE ALIMENTOS,
1990). Pela Tabela 3 observa-se que os limites máximos para Cd são amplos, variando de
1,00 mg kg-1 pela ABIA a 0,2 mg kg-1 pela LB. Os valores observados no presente
experimento para o cádmio, convertidos para base úmida, são da ordem de 0,009 a 0,11 mg
kg-1, portanto inferiores aos limites de tolerância.
68
1,2
DOSE 0
DOSE 400
-1
CÁDMIO (mg kg )
1,0
0,8
0,6
0,4
0,2
0,0
CORA
C.MEDIO C. APICE
FOLIOLO
1º CORTE C.MEDIO C. APICE
FOLIOLO
1º CORTE
4
DOSE 0
DOSE 400
-1
NÍQUEL (mg kg )
3
2
1
0
CORA
7
-1
CHUMBO (mg kg )
6
DOSE 0
DOSE 400
5
4
3
2
1
0
CORA
1º CORTE C.MEDIO C. APICE
FOLIOLO
Figura 14. Teores de cádmio, níquel e chumbo nas diferentes partes comestíveis do palmito e
na folha-diagnose para as doses de biossólido equivalentes a 0 e 400 kg ha-1 de N prontamente
disponível. Ubatuba, SP, 2003.
69
Os valores referenciais máximos de zinco variam pela legislação vigente entre 25 mg
kg-1 (LB) e 50 mg kg-1 (ABIA, 2003). Os teores verificados no presente experimento, em base
úmida, estiveram entre 2,97 a 11,91 mg kg-1, portanto bem abaixo dos limites de tolerância.
Merece ser mencionado, que a legislação brasileira é muito mais permissiva que algumas
legislações de outros países. Por exemplo, no Chile o limite máximo para o Zn em alimentos
semelhantes ao palmito é de apenas 5,00 mg kg-1 (Tabela 3). Portanto, pela legislação chilena,
a maior parte das porções comestíveis analisadas neste estudo estaria acima do limite, sendo
consideradas, por eles, impróprias para consumo.
Para alguns elementos potencialmente tóxicos, como o cobre, os limites referenciais
dados pelas diferentes legislações e portarias são bastante amplos (Tabela 3). Limites
máximos variando de 10 a 30 mg kg-1 são relatados para esse elemento. Os valores
observados no presente estudo para Cu (variando entre 0,60 a 1,81 mg kg-1) estão bem abaixo
dos limites permitidos pela legislação brasileira, bem como pela legislação chilena, que é bem
mais restritiva (Tabela 3).
Também para o chumbo os limites dados pelas diferentes legislações e portarias são
amplos, variando de 0,2 a 1,00 mg kg-1. Se considerarmos o limite máximo permitido para
palmito processado pelo CODEX da FAO, o produto estaria dentro dos padrões. No entanto,
se levarmos em consideração a resolução 22/77 de setembro de 1977, com adendo 1879, da
legislação brasileira (Brasil, 1989) que estabelece como valor máximo de Pb 0,5 mg kg-1,
observa-se que pelo menos uma amostra estaria fora de padrão (0,62 mg kg-1).
70
Levando-se em conta a legislação vigente, os limites máximos para níquel estão entre
1,0 a 5,0 mg kg-1. Como os valores observados no presente estudo para esse elemento estão
entre 0,062 a 0,197 mg kg-1, pode-se inferir que todas amostras estão dentro do padrão.
A legislação brasileira não estabelece limites máximos para o elemento ferro. Por sua
vez, a legislação chilena cita limite de 15,00 mg kg-1. Tendo em vista esse limite, pode-se
inferir que para Fe todo o produto estava apto para consumo.
Especial atenção deve ser dada ao cromo. Para esse metal pesado, o limite de
tolerância é 0,10 mg kg-1 (Tabela 3), enquanto os valores encontrados em todas as partes
comestíveis estão entre 0,125 a 0,705 mg kg-1. O cromo no presente estudo foi determinado
como cromo total. No entanto, ele pode se apresentar na forma trivalente ou hexavalente. Na
forma trivalente o cromo é essencial ao metabolismo humano e, sua carência, causa doenças.
Na forma hexavalente é tóxico e cancerígeno. Os limites máximos para consumo são
estabelecidos basicamente em função do cromo hexavalente. Por sua vez, reconhece-se que o
cromo apresenta a mais baixa absorção pelo organismo humano, menos de 1% de cromo
ingerido é absorvido Silva e Pedrozo (2001). Como o cromo foi encontrado em teores acima
do limite referencial em todas as partes do palmito, mesmo na dose 0 de biossólido, e como o
coeficiente de variação encontrado nas análises de metais pesados foi extremamente elevado
(85,9% para o cromo e acima de 100% para Cd, Ni e Pb), infere-se que o assunto necessita de
estudos mais aprofundados para dissipar dúvidas a esse respeito.
71
5. CONCLUSÕES
A aplicação de doses de biossólido durante a implantação do cultivo da pupunheira
causou efeitos nas plantas que se manifestaram por até 19 meses.
As plantas dos tratamentos com doses elevadas de biossólido atingiram
precocemente o ponto de corte para palmito.
O perfilhamento foi maior e ocorreu mais precocemente nas doses mais elevadas de
biossólido.
A adição de biossólido na implantação do cultivo afetou positivamente a produção
de palmito, avaliada 15 a 19 meses após a aplicação.
Os teores de macro e microelementos variaram ao longo da porção comestível, mas
apresentaram-se, na maior parte das vezes, bastante superiores aos da folha-teste.
Os teores de elementos potencialmente tóxicos da porção comestível estão dentro
dos limites de tolerância, exceto pelo metal pesado cromo.
72
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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