Index COMPOSIÇÃO QUÍMICA DE SOLO E BIOSSÓLIDO PELA TÉCNICA DE FLUORESCÊNCIA DE RAIOS X Helder de Oliveira1, Adriana Furlan1, Virgílio F. Nascimento Filho1 e Gabriel Adrian Sarries2 Centro de Energia Nuclear na Agricultura1 Caixa Postal 96 13400-970 Piracicaba, SP Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz2 Caixa Postal 530 13400-970 Piracicaba SP RESUMO O objetivo do presente trabalho foi investigar a composição química de biossólido e solo tratado com biossólido pela técnica de fluorescência de raios x por dispersão de energia. Quantificou-se os elementos Br, Co, Cr, Cu, Fe, Ga, Mn, Ni, Pb, Se, Sr, Ti e Zn e os resultados foram comparados com as normas adotadas no Brasil para Se, Ni, Cu, Cr e Zn, apresentando teores abaixo dos valores máximos permitidos. Keywords: XRF, biosolid, elementary composition I. INTRODUÇAO O lodo de esgoto é o resíduo que se obtém após o tratamento das águas servidas (esgotos), com a finalidade de torná-las menos poluídas possível, de modo a permitir seu retorno ao ambiente sem que sejam agentes de poluição. Quando devidamente higienizado, estabilizado e seco, o lodo de esgoto recebe o nome de biossólido. Enquanto as nações industrializadas buscam alternativas para equacionar seus 400 milhões de toneladas anuais de resíduos, os países em desenvolvimento, como o Brasil, convivem com depósitos desordenados de resíduos. Em aproximadamente 75% das cidades o lixo é depositado em vazadouros a céu aberto e apenas 25% recebem tratamento mais adequado, dos quais 12% correspondem a aterros controlados, 9% a aterros sanitários e o restante em compostagem, incineração e reciclagem [1]. A maioria dos resíduos produzidos pela sociedade moderna, inclusive o lodo de esgoto, é de origem biológica. A matéria orgânica resultante é uma boa fonte de nutrientes que poderia ser reutilizada para fins agrícolas ou florestais. A aplicação de lodo de esgoto não é vista somente como um benefício para a produtividade da cultura, mas também como um efetivo método de disposição do resíduo gerado nas estações de tratamento [2]. O lodo de esgoto, embora possua baixas concentrações de P e N ao se comparar com os fertilizantes convencionais, é uma fonte potencial para suprimento de nutrientes e matéria orgânica. Por outro lado, há a preocupação com a presença de bactérias de contaminação fecal e Salmonella, sendo necessário conhecer não só as características do lodo em si, mas também do clima, do solo e do vegetal onde o mesmo será empregado. O desconhecimento dos efeitos do lodo de esgoto na comunidade de organismos, nos teores de metais pesados e nas propriedades físicas e químicas dos solos tropicais apresenta-se, atualmente, como um dos problemas relacionados com a sua utilização agrícola [3, 4]. A preocupação com os teores de metais pesados (definidos como os elementos químicos com densidade maior que 5 g cm-3) no lodo de esgoto é devido ao impacto desses elementos na saúde humana e animal e também na qualidade do alimento. Ao contrário dos patógenos e dos compostos orgânicos que o lodo geralmente apresenta, os metais pesados podem ser acumulados no solo por tempo indefinido. Nesse contexto, com esse trabalho preliminar, espera-se no futuro, poder contribuir para melhor conhecer a composição química de elementos em bissólido para a sua utilização em áreas florestais e agricultura e a retenção ou deslocamento de elementos químicos em solos semelhantes e tratados com biossólido. A técnica de análise por fluorescência raios X por dispersão de energia foi utilizada no presente estudo por apresentar como vantagens de ser uma técnica multielementar, não necessitar de nenhum pré-tratamento químico das amostras e ser rápida. II. EXPERIMENTAL A coleta de biossólido, com cerca de 300 g, foi realizada na ETE de Barueri, São Paulo. Amostras de solo nas camadas de 0 a 5 cm de profundidade, sendo uma testemunha e uma tratada com dose de 375 t ha-1, foram coletadas em canteiros experimentais na Estação Experimental de Itatinga, SP. Index Os materiais solo e biossólido após secos a 60 oC, por 48 horas, foram moídos em moinho orbital, homogeneizados e acondicionados em recipiente hermeticamente fechado, para análises no Laboratório de Instrumentação Nuclear do CENA (LIN). Alíquotas de aproximadamente 50 mg de amostra e material de referência certificado NIST 2781 “domestic sludge”, foram filtradas em membrana éster de celulose, com 0,22 ìm de poro, 47 mm de diâmetro da marca Millipore, adicionando-se água destilada e deionizada. Após secagem a 60 °C e mantidas em dessecador, foram irradiadas utilizando-se tubo de Mo com filtro de Zr e tensão/corrente de 25 kV/10 mA por 300 s. Para a detecção dos raios X característicos, utilizou-se de um detector de Si(Li), acoplado a uma placa analisadora de pulsos, inserida em um microcomputador. Os ajustes dos espectros de pulsos obtidos foram realizados com o auxílio do software AXIL (Analysis of X-Ray Spectra by Iterative Least Squares). A quantificação dos resultados foi efetuada pelo Método de Parâmetros Fundamentais [5]. III. RESULTADOS E DISCUSSÃO A Tabela 1 ilustra a composição química das amostras de solo, biossólido e do material de referência certificado NIST 2781 “Domestic Sludge”. A avaliação do significado desses teores do ponto de vista ambiental pode ser feita através de um solo sem o tratamento com biossólido, solo testemunha ou não contaminado, amostra #1 da Tabela 1. É importante salientar que o tipo de solo e as condições experimentais foram semelhantes entre as amostras #1 e #2, e o biossólido disposto sobre o solo (amostra #2), teve uma dose extremamente alta, de 375 t ha1 , quando comparada com a taxa de aplicação em culturas agrícolas como o milho, cana de açúcar e café 6; 5,5 e 11 t ha-1, respectivamente. [6] Considerando a razão entre os teores da amostra #1 e #2 da Tabela 1, constatou-se que os elementos Br, Co, Cu, Cr, Fe, Se, Ti, e Sr diferem entre si de até 30%, entretanto, razões acima de 70% foram encontratadas para Ga, Mn, Ni, Pb e Zn. Os resultados das razões nos induz a afirmar que esses elementos podem ter translocados do biossólido para camadas superficiais de solo. Porém, isso não é verdadeiro para Ga por não se ter os teores no biossólido e o Zn, os teores determinados na amostra #1, foram maiores do que a amostra #2, apesar do teor de Zn ser superior em 88 vezes às amostras de solo. Entretanto, estes resultados para Mn e Ni que tiveram razões acima de 100% entre as amostras #1 e #2 podem indicar possível translocação por água de chuva, contaminação das amostras, variação no conteúdo de matéria orgânica e pH. TABELA 1. Composição elementar (em µg g-1, exceto para o Fe em %) em amostras de solo (#1 e #2), biossólido (#3 e 4), determinados por XRF. #3 #4 #5 Teores 22 Ti 9610 10947 6072 3809 3200 24 Cr 139 162 1136 181 202 25 Mn 67 154 248 632 26 Fe (%) 3,8 4,2 4,0 2,4 2,8 27 Co 212 277 258 109 28 Ni 11 23 415 71 80 29 Cu 22 17 935 539 627 30 Zn 49 27 3354 1063 1273 31 Ga 10,9 18,2 ND ND 34 Se 17 16 30 19 16 35 Br 78 80 61 67 38 Sr 180 188 429 408 82 Pb 31 54 239 168 202 Z = número atômico do elemento # 1 = solo testemunha (0 –5 cm) # 2 = solo sotoposto com dose de 375 t ha-1 de biossólido # 3 = biossólido (Barueri, SP) # 4 = biossólido (NIST 2781) # 5 = valor fornecido do NIST 2781 N.D. = não determinado Z Elemento #1 #2 Neste estudo preliminar, a afirmação de teores anômalos entre as camadas de solo tratado, necessita de análises mais consistentes como repetições, testes estatísticos, etc. que futuramente serão efetuados, inclusive se está havendo a retenção no solo sotoposto ao resíduo disposto em camadas mais profundas. Com relação aos teores do biossólido analisado, pode-se fazer uma comparação entre os valores da Tabela 1 com os da Tabela 2 que são adotados como norma no Brasil pela CETESB e foram elaborados pela norma norteamericana 40 CRF Prat 503 [7, 8]. TABELA 2. Concentrações máximas permitidas (µg g-1) de metais pesados em biossólidos. Elemento As Cd Cu Hg Mo Ni Pb Se Zn Teores (base seca) 75 85 4300 57 75 420 840 100 7500 Os resultados encontrados para os teores de Cu, Ni, Se, Pb e Zn no biossólido analisado, estão abaixo do estabelecido pela norma da legislação brasileira. Index Estes resultados apresentaram, para a maioria dos elementos, boa concordância com os valores certificados dos elementos Ti, Cr, Fe, Ni, Cu, Zn, Se e Pb, com diferenças de 20% no máximo, em relação a amostra de biossólido NIST 2781. É importante ressaltar que os teores dos elementos no biossólido gerado pela estação de tratamento de esgoto (ETE) de Barueri, SP, já estiveram acima da normas permitidas. A ETE de Barueri, trata os esgotos gerados da região metropolitana de São Paulo e atualmente está em torno de 200 m3 de lodos residuais por dia. Em estudo do comportamento geoquímico de metais contidos em lodos residuais gerados na estação de tratamento de esgoto de Barueri, São Paulo, no período de maio de 1991 a junho de 1994, foi encontrado os teores máximos (µg g-1) para Cd (97), Cr (2388), Cu (3510), Pb (710), Hg (48), Ni (2815), Zn (5105). Nota-se que para Ni, a concentração foi anômala e superou os limites máximos permitidos pela norma brasileira apresentada na Tabela 2 [9]. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao PRONEX/FINEP, CNPq e à FAPESP pelos auxílios concedidos. REFERÊNCIAS [1] ANDREOLI, C.V., PEGORINI, E.S., Proposta de roteiro para elaboração de planos de distribuição de lodo. In: BETTIOL, W.; CAMARGO, O. A., ed. Impacto ambiental do uso agrícola do lodo de esgoto. Jaguariúna, SP: EMBRAPA Meio Ambiente, 2000. cap.18, p.297. [2] GUEDES, M.C., POGGIANI F., Nutrição de eucalipto cultivado com biossólido. In: Gonçalves Al., Simpósio sobre Fertilização e Nutrição Florestal, Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais, Piracicaba, ESALQ, 1999, p.30-45. [3] GLORIA, N. A., Uso agronômico de resíduos. In: Anais da XX Reunião Brasileira de Fertilidade do Solo e Nutrição de Plantas, Piracicaba, 1992. Resumos expandidos. Piracicaba, ESALQ, 1992, p.195 -212. [4] MAZUR, N., Níquel, chumbo, zinco e cobre em solos que receberam composto de resíduos urbanos. Viçosa, 1997, 129p. Tese (Doutorado), Universidade Federal de Viçosa. [5] NASCIMENTO FILHO, V.F., Técnicas analíticas nucleares de fluorescência de raiox X por dispersão de energia (ED-XRF) e reflexão total (TXRF). Piracicaba: ESALQ-CENA, 1999, 31p. [6] TSUTIYA, M.T., Alternativas de disposição final de biossólidos. In: SABESP. Biossólidos na agricultura. 1a ed. – São Paulo: SABESP, 2001, p.133-180. [7] CETESB., Aplicação de lodos de sistemas de tratamento biológico em áreas agrícolas – Critérios para projeto e operação (Manual Técnico). Norma P 4 230., São Paulo (1999). 32p. [8] U.S.EPA., Standards for the use and disposal of sewage sludge. In: BETTIOL, W.; CAMARGO, O. A., ed. Impacto ambiental do uso agrícola do lodo de esgoto. Jaguariúna, SP: EMBRAPA Meio Ambiente, 2000. cap.13, p.217. [9] Assunção, J.C.B., Análise mineralógica, geoquímica e textural de lodos gerados e dispostos pela ete de Barueri SP: associações com metais pesados e seus efeitos no solo. São Paulo, 1996, 120p. Dissertação (Mestrado), Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo. ABSTRACT The objective of the present work was to investigate the chemical composition of biosolid and soil treated with biosolid using the energy dispersive X-ray fluorescence. The elements Br, Co, Cr, Cu, Fe, Ga, Mn, Ni, Pb, Se, Sr, Ti and Zn were quantified and the results had been compared with Brazilian legislation. The Ni, Cu, Cr and Zn amounts were below the maximum values allowed.