Aula 11: Indutância Curso de Física Geral III F-328 1o semestre, 2014 F328 – 1S2014 1 Auto-Indutância e Indutância Mútua Quando estudamos campo elétrico, relacionamos a quantidade de cargas em um par de condutores com a diferença de potencial entre eles. A constante de proporcionalidade, que é a capacitância, depende apenas das geometrias dos condutores: ! Qlivre = " ∫ ε o E ⋅ n̂ dA ⎫⎪ ⇒ Q = CV ⎬ ! ! livre ΔV = − ∫ E ⋅ dl ⎪⎭ Iremos agora fazer algo análogo ao relacionar as leis de Ampère e Gauss (para campo magnético) e mostrar que poderemos escrever o fluxo magnético em função das correntes elétricas geradoras de campo magnético. Novamente a constante de proporcionalidade depende apenas da geometria dos condutores envolvidos. A grande diferença é que a proporcionalidade é feita através de uma relação matricial, dando origem a auto-indutância e indutâncias mútuas: F328 – 1S2014 ! φ B = ∫ B ⋅ n̂ dA ⎫⎪ ! ! ⎬ ⇒ φn = Ln,mim ienv = " ∫ B ⋅ dl ⎪⎭ Ln,n = Auto-Indutância; Lm,n = Indutância Mútua; 2 Solenoide: Indutância Mútua Considere o sistema ao lado. Iremos analisar quatro situações: i) i1 = constante, i2=0 à fluxo produzido na bobina 2: ! ! N1 B1 = µ0 i1ẑ φ2, (1) = N 2 ∫ B1 ⋅ n̂ dA = N 2 B1 A1 A2 l φ2(1) = L21i1 L21 = µ0 N1 N 2 A1 l i) i2 = constante, i1=0 à fluxo produzido na bobina 1: ! r N2 B2 = µ0 i2 zˆ φ1, (2) = N1 ∫ B2 ⋅ n̂ dA = N1 B2 A1 A1 l N1 N 2 φ1(2) = L12i2 L12 = µ0 A1 A unidade SI de indutância é l L12 = L21 Note que apesar de L12 =L21 não se obtém L21 de L12 trocando-se 1 à 2. o henry (H): 1T⋅ m 2 1Wb 1H = = A A 3 Solenoide: Auto-Indutância iii) i1 = constante, i2=0 à fluxo produzido na bobina 1: ! N1 B1 = µ0 i1ẑ l φ1(1) = L11i1 ! φ1, (1) = N1 ∫ B1 ⋅ n̂ dA = N1 B1 A1 A1 N 12 L11 = µ0 A1 l iv) i2 = constante, i1=0 à fluxo produzido na bobina 2: ! ! N2 B2 = µ0 i2 ẑ φ2, (2) = N 2 ∫ B2 ⋅ n̂ dA = N 2 B2 A2 A2 l 2 N φ2(2) = L22i2 L22 = µ0 2 A2 l 2 L ⎛N⎞ Solenoide L = µ0 ⎜ ⎟ lA → = µ0 n 2 A l ⎝ l ⎠ ideal: (Indutância por unidade de comprimento) F328 – 1S2014 4 Auto-Indutância e Indutância Mútua Quando ambas os solenoides carregam correntes, o fluxo total é então proporcional a estas correntes e às autoindutâncias e indutâncias mútuas. Pelo princípio de superposição podemos escrever esta relação na forma matricial como: ⎛ φ1 ⎞ ⎛ L11 ⎜⎝ φ ⎟⎠ = ⎜ L 2 ⎝ 21 L12 ⎞ ⎛ i1 ⎞ ⎟ L22 ⎠ ⎜⎝ i2 ⎟⎠ Observações: 1) As auto-indutâncias (que nomearemos apenas como indutâncias a partir deste ponto) são constantes reais positivas diferente de zero; 2) A indutância mútua pode assumir qualquer valor real (menor, maior ou igual a zero); 3) Ambas dependem apenas de fatores geométricos F328 – 1S2014 5 Indutância de um toroide Vimos que o campo magnético no interior de um toroide é: B= Nµ0 i 2π r b ! µ0 iNhdr φB = ∫ B.nˆ dA= ∫ Bhdr = ∫ = 2π r a µ0 iNh ⎛ b ⎞ = ln ⎜ ⎟ 2π ⎝a⎠ Então: F328 – 1S2014 NφB µ0 N h ⎛ b ⎞ L= = ln ⎜ ⎟ i 2π ⎝a⎠ 2 N espiras r 6 fem induzida em indutores Consideremos uma bobina de N voltas, chamada de indutor, percorrida por uma corrente i que produz um fluxo magnético ϕB através de todas as espiras da bobina. Se i = i(t), pela lei de Faraday aparecerá nela uma fem dada por: d ( NφB ) εL =− dt ( NφB = fluxo concatenado) Na ausência de materiais magnéticos, NφB é proporcional à corrente: NφB = Li ou: L = Então: NφB i d ( Li ) di εL = − = −L dt dt (L: auto-indutância) i crescendo i decrescendo (fem auto-induzida) O sentido de ε L é dado pela lei de Lenz: ela deve se opor à variação da corrente que a originou (figura). F328 – 1S2014 7 Exemplo 01 Dois cilindros maciços paralelos de mesmo comprimento l e raio a transportam correntes iguais em sentidos opostos. Sabendo-se que a distância entre os eixos dos cilindros é d, mostre que a indutância por unidade de comprimento desse sistema é: L µ0 ⎛ d − a ⎞ = ln ⎜ ⎟ l π ⎝ a ⎠ Despreze o fluxo no interior dos cilindros. O fluxo produzido pelas duas corrente na região entre os dois fios é dado por: r r ur µ0 i d − a ⎛ 1 1 ⎞ ˆ ˆ φ = ∫ BT ⋅ ndA = ∫ ( BD + B E ) ⋅ ndA = ⎜ + ⎟Ldr 2π ∫a ⎝ r d − r ⎠ = µ0 L ⎛ d − a ⎞ ln ⎜ ⎟i π ⎝ a ⎠ F328 – 1S2014 L µ0 ⎛ d − a ⎞ = ln ⎜ ⎟ l π ⎝ a ⎠ 8 Exemplo 02 Duas bobinas circulares compactas, a menor delas (raio R2 e N2 voltas) sendo coaxial com a maior (raio R1 e N1 voltas) e no mesmo plano. Suponha R1 >> R2 . a) deduzir uma expressão para a indutância mútua deste arranjo ; b) Qual o valor de M para N1 = N2 =1200 voltas, R2 = 1,1 cm e R1 = 15 cm? a) φ 21 = B1 A2 → N 2φ 21 = N 2 B1 A2 B1 = N 1 µ0 i1 2R1 N 2φ 21 = πµ 0 N 1 N 2 R2 2 2 R1 i1 Então: M 21 N 2φ 21 = =M i1 b) M = M = πµ 0 N 1 N 2 R 2 2R1 π ( 4π × 10 −7 H / m )(1200 )(1200 )( 0,011m ) 2 2 × (015 m ) 2 = 2,29 mH Circuito RL Circuitos RL são aqueles que contêm resistores e indutores. Neles, as correntes e os potenciais variam com o tempo. Apesar das fontes (fem) que alimentam estes circuitos serem independentes do tempo, a introdução de indutores provoca efeitos dependentes do tempo. Estes efeitos são úteis para controle do funcionamento de máquinas e motores. a) Fechando-se a chave S, no instante t = 0, estabelece-se uma i corrente crescente no resistor . εL Circuito básico para analisar correntes em um indutor. F328 – 1S2014 t = 0 ⇒ i (0) = 0 → t ≠ 0 ⇒ i (t ) Resolver (estudar) este circuito é encontrar a expressão para a corrente i(t) que satisfaça à equação: di ε − Ri − L = 0 dt 10 Circuito RL A equação anterior fica: a di R ε + i= dt L L Resolvendo esta equação diferencial para i(t), vamos ter: b ε L : voltagem no indutor ε i (t ) = (1− e − Rt / L ) ⇒ i (t ) = I (1− e −t /τ L ), onde R L ε ( τ L : constante de tempo indutiva) τL = e I = R R (I : corrente máxima, assintótica) Para t muito grande, a corrente atinge um valor máximo constante, como se o indutor fosse um fio de ligação comum. F328 – 1S2014 11 Circuito RL Voltagens no resistor e no indutor – figura abaixo di ε − RL t VR = Ri e VL = L dt = L L e VL = ε e − Rt / L t = 0, VL = máximo → equivalente a um circuito aberto t >>τ L , VL = 0 → equivalente a um curto−circuito Interpretação de τ L : L Para t = τ L = : R ε ε −1 i= (1 − e ) = 0,63 R −1 VL = ε e = 0,37ε F328 – 1S2014 R 12 Circuito RL b) Fechando-se a chave S2: neste caso, a equação das quedas de potencial será: di Ri + L = 0 dt i A solução desta equação é: i (t ) = ε R e − Rt / L = I 0 e −t / τ L Variações das voltagens com o tempo: Ao lado, temos gráficos das tensões Em VL, VR e VR+VL= ε para várias situações a) e b). F328 – 1S2014 2S20123 13 Energia armazenada no campo magnético Do circuito abaixo tem-se: di di 2 ε = Ri + L → ε i = R i + Li dt dt Os termos εi, Ri2 e Lidi/dt são, respectivamente, a potência fornecida pela bateria, a potência dissipada no resistor e a taxa com que a energia UB é armazenada no campo magnético do indutor, isto é: dU B di = Li → dU B = Lidi dt dt a UB ∫ 0 F328 – 1S2014 i dU B = ∫ Lidi 0 1 2 U B = Li 2 b 14 Densidade de energia do campo magnético É a energia por unidade de volume armazenada em um ponto qualquer do campo magnético. Consideremos o campo magnético de um solenoide longo de comprimento l e seção transversal A, transportando uma corrente i. A densidade de energia será dada por: U B 1 Li 2 uB = = Al 2 Al 1 Como L = µ0 n lA→ u B = µ0 n 2 i 2 2 2 Lembrando que B = µ0in resulta que: B2 uB = 2 µ0 F328 – 1S2014 (densidade de energia magnética) 15 Indutância mútua Fluxos conectados: variação de fluxo da bobina 1 produz uma fem na bobina 2 e vice-versa. Indução mútua L21 → M 21 M 21i1 = N 2φ 21 ou N2 dφ 21 dt M 21 = = M 21 N 2φ 21 i1 di1 dt A fem induzida na bobina 2: ε 2 = − M 21 A fem induzida na bobina 1: ε 1 = − M 12 di1 dt di 2 dt Pode-se provar que: M12 = M 21 = M A indução é de fato mútua F328 – 2S20123 ε1 = −M ε 2 = −M di 2 dt di1 dt 16 Lista de exercícios do Capítulo 30 Os exercícios sobre Lei de Faraday estão na página da disciplina : (http://www.ifi.unicamp.br). Consultar: Graduação ! Disciplinas ! F 328-Física Geral III Aulas gravadas: http://lampiao.ic.unicamp.br/weblectures (Prof. Roversi) ou UnivespTV e Youtube (Prof. Luiz Marco Brescansin) F328 – 1S2014 17