Universidade Federal do Rio de Janeiro — Instituto de Fı́sica Fı́sica I — IGM1 — 2014/1 Cap. 4 - Princı́pios da Dinâmica e suas Aplicações Prof. Elvis Soares 1 Leis de Newton Primeira Lei de Newton: Um corpo permanece em repouso ou com velocidade constante (aceleração nula) quando isolado, isto é, quando a força total sobre ele é nula. Ou seja, ~a = 0 quando F~ = 0 (1) Segunda Lei de Newton: A força total sobre um corpo é a responsável pela sua aceleração, de modo que é o produto da massa do corpo vezes a aceleração: F~ = m~a (2) Terceira Lei de Newton: Quando dois corpos interagem, a força F~AB que o corpo B faz sobre A, é igual e oposta à força F~BA que o corpo A faz sobre B: F~AB = −F~BA (3) Figura 1: Um exemplo de par ação-reação, onde podemos notar que as forças não se cancelam pois agem em corpos diferentes. As duas primeiras leis são válidas somente quando observadas em referenciais não-acelerados. De fato, quando estamos fazendo uma curva com um automóvel sentimos uma aceleração para fora da curva, sem que exista uma força agindo sobre nós, pois o próprio referencial (o carro) é um referencial acelerado. 1 2 APLICAÇÕES DAS LEIS DE NEWTON 2 2.1 Aplicações das Leis de Newton Equilı́brio de uma Partı́cula Para permanecer em equilı́brio, a força resultante que atua sobre uma partı́cula deve ser nula (Primeira Lei de Newton). X X X X F~R = 0 ⇒ F~ = 0 ⇒ Fx = 0, Fy = 0 e Fz = 0 (4) Exemplo: Corpo Suspenso Vamos considerar o problema de um bloco suspenso por dois fios (inextensı́veis e com massas desprezı́veis) presos ao teto, de modo a determinar a tensão sofrida por cada um desses fios, como mostra figura abaixo. A soma das forças que atuam no ponto P, o qual está em repouso, é obtida por X F~ = 0 ⇒ T~1 + T~2 + M~g = 0 que em termos de componentes, com a ajuda do diagrama de forças, podemos escrever X Fx = 0 ⇒ −T1 cos θ1 + T2 cos θ2 = 0 X Fy = 0 ⇒ +T1 sen θ1 + T2 sen θ2 − M g = 0 Da primeira equação podemos tirar uma relação entre T2 e T1 : T2 = cos θ1 T1 cos θ2 2 2 APLICAÇÕES DAS LEIS DE NEWTON 2.2 Dinâmica de uma Partı́cula e usando esse resultado na segunda equação, teremos: T1 = Mg sen θ1 + cos θ1 tg θ2 Obs: Para θ1 = θ2 , temos T1 = T2 2.2 Dinâmica de uma Partı́cula A força resultante sobre uma partı́cula é igual ao produto da sua massa pela aceleração impressa. (Segunda Lei de Newton). X X X X F~R = m~a ⇒ F~ = m~a ⇒ Fx = max , Fy = may e Fz = maz (5) Exemplo: Máquina de Atwood Vamos considerar o problema de dois blocos suspenso por um fio (inextensı́vel e com massa desprezı́vel) que passa por uma roldana presa ao teto, de modo a determinar as acelerações dos blocos e a tensão sofrida pelo fio, como mostra figura abaixo. As somas das forças que atuam sobre cada bloco, os quais estão acelerados, são obtidas por X F~1 = m1~a1 ⇒ T~1 + m1~g = m1~a1 X F~2 = m2~a2 ⇒ T~2 + m2~g = m2~a2 3 2.2 Dinâmica de uma Partı́cula 2 APLICAÇÕES DAS LEIS DE NEWTON Além disso, sabemos que a1 = a2 = a pois o fio é inextensı́vel, e que T1 = T2 = T pois o fio possui massa desprezı́vel. Assim, podemos escrever as equações acima em termos de X componentes cartesianas Fy = may , como T − m1 g = m1 a T − m2 g = m2 (−a) subtraindo uma equação da outra, obtemos (m2 − m1 )g = (m1 + m2 )a a= m2 − m1 m1 + m2 g De fato, se m2 > m1 , temos a > 0 e a aceleração está no sentido indicado da figura, enquanto que se m1 > m2 , temos a < 0 e a aceleração aponta no sentido contrário. Além disso, levando esse resultado de a em uma das equações, temos T = 2m1 m2 m1 + m2 g Note que a tração no fio não é igual ao peso, isso se deve ao fato de existir um movimento acelerado que requer uma força resultante agindo sobre os blocos. 4 3 FORÇAS DE ATRITO 3 Forças de Atrito Uma força de contato que atua sempre que dois corpos entram em contato e há tendência de deslizamento. É gerada pela rugosidade das superfı́cies dos corpos, conforme figura abaixo. Figura 2: Um exemplo de contato entre superfı́cies e a origem do atrito. A força de atrito é sempre paralela às superfı́cies em interação e contrária ao movimento relativo entre elas. 3.1 Atrito Estático Impede o movimento do objeto até um valor máximo de força resultante aplicada sobre o mesmo. fate ≤ µe N 3.2 (6) Atrito Cinético Atua durante o deslizamento do corpo sobre a superfı́cie. fatc = µc N (7) Figura 3: O módulo da força de atrito em função do módulo da força resultante aplicada sobre o corpo. 5 3.2 Atrito Cinético 3 FORÇAS DE ATRITO Exemplo: Plano Inclinado Consideremos um bloco sobre um plano inclinado com atrito. Os coeficientes de atrito estático e cinético são, respectivamente, µe e µc . Vamos considerar primeiramente o caso em que o bloco fica estático sobre o plano innclinado, tal que F não induz deslizamento sobre a superfı́cie. X ~ + f~at + m~g = 0 F~ = F~ + N que em termos de componentes, com a ajuda do diagrama de forças, podemos escrever X Fx = 0 ⇒ fat − F − mg sen θ = 0 X Fy = 0 ⇒ N − mg cos θ = 0 Assim, a força de atrito estático é dada por fat = F + mg sen θ e lembrando que fate ≤ µe N , podemos escrever F + mg sen θ ≤ µe (mg cos θ) E assim, a força F deve obedecer a seguinte condição para que o bloco não delize sobre a superfı́cie. F ≤ mg(µe cos θ − sen θ) Agora, vamos estudar o caso em que o bloco desce com velocidade constante o plano inclinado. Dessa forma, as equações de dinâmica são idênticas as anteriores. Assim, a força de atrito cinético é dada também pela equação fat = F + mg sen θ e lembrando que no caso de atrito cinético, tem-se fatc = µc N , podemos escrever F + mg sen θ = µc (mg cos θ) E portanto, a força F deve obedecer a seguinte condição para que o bloco deslize sobre a superfı́cie com velocidade constante. F = mg(µc cos θ − sen θ) 6 4 DINÂMICA DO MOVIMENTO CIRCULAR 4 Dinâmica do Movimento Circular Sabemos que durante um movimento circular, uma partı́cula possui aceleração que aponta para o centro da trajetória, que é a famosa aceleração centrı́peta ~ac = ω 2 R(−r̂) E de acordo coma a Segunda Lei de Newton, toda aceleração tem origem devido as forças que atuam no corpo durante o movimento, de modo que na direção radial num movimento circular devemos ter X Fr = mac Exemplo: Pêndulo cônico Consideremos um corpo de massa m preso a um fio fixo no teto e posto a girar, como mostra a figura abaixo. Vamos obter uma relação entre a velocidade angular de rotação e o ângulo θ do fio com a vertical. A força resultante sobre o corpo é X F~ = T~ + m~g = m~ac usando o diagrama de forças, podemos decompor as forças na forma X Fx = ma ⇒ T sen θ = mac X Fy = 0 ⇒ T cos θ − mg = 0 Divindo uma equação pela outra temos uma relação entre a aceleração centrı́peta e o ângulo θ, ac ω2R então tg θ = = onde usamos que ac = ω 2 R, e olhando a figura podemos perceber que g g R = l sen θ, de modo que podemos escrever: r ω= 7 g l cos θ