PREVALÊNCIA DE PROCURA AO SERVIÇO DE EMERGÊNCIA EM UM HOSPITAL DE REFERÊNCIA DO SUL DE SANTA CATARINA RELACIONADA AO USO DE MEDICAMENTOS Mariana Gaspar Mendonça1,2, Anésio Henrique Martins1, Daisson José Trevisol3, Dayani Galato4. INTRODUÇÃO O uso de medicamentos deve ser feito com cautela, pois os medicamentos em uso ou a não adesão ao tratamento farmacológico podem ser a causa de procura ao serviço de emergência. É importante ressaltar que os medicamentos utilizados podem mascarar sinais e sintomas, bem como alterar exames laboratoriais, o que pode comprometer o atendimento ao paciente em situação de urgência1. O uso racional de medicamentos ocorre quando o paciente recebe o medicamento adequado à sua condição clínica, em doses ajustadas às necessidades individuais, durante um período de tempo adequado e ao menor custo possível para a sociedade e para eles 2. No entanto, há mais de 50% de todos os medicamentos prescritos ou vendidos são utilizados indevidamente3, o que possibilita o surgimento de danos aos pacientes. A adesão ao tratamento é extremamente importante para o controle efetivo de muitas doenças, bem como ter conhecimento dos resultados que a não adesão ou uso incorreto dos medicamentos pode ocasionar ao paciente4. A automedicação também é um fator preocupante à saúde da sociedade, já que o uso inadequado de medicamentos ocasiona efeitos indesejáveis, enfermidades iatrogênicas e mascara doenças evolutivas5. O uso inadequado de medicamentos ainda é um importante problema de saúde pública mundial6. Estima-se que 92% dos casos de problemas relacionados ao uso medicamentoso no âmbito secundário e terciário da saúde poderiam ser prevenidos com o uso racional7. Palavras-chave: Uso de medicamentos, Serviços médicos de Emergência, Prevalência. OBJETIVOS O objetivo do presente estudo foi identificar a prevalência de procura ao setor de emergência relacionada ao uso de medicamentos em um Hospital do Sul do Brasil. _____________________ 1 Acadêmico de Medicina da Unisul. do PIBIC. 3 Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Unisul e Coordenador do Centro de Pesquisas Clínicas da Universidade do Sul de Santa Catarina e do Hospital Nossa Senhora da Conceição. E-mail: [email protected]. 4 Professora da Universidade de Brasília - UNB 2Bolsista MÉTODOS Estudo observacional com delineamento transversal baseado na técnica de entrevista. Participaram do estudo 383 indivíduos que procuraram a emergência do Hospital Nossa Senhora da Conceição, entre dezembro 2013 e junho 2014. Incluiu-se paciente com 18 anos de idade ou mais que procurassem o serviço de emergência do Hospital e que aceitaram participar da pesquisa. Foram excluídos pacientes em situação de urgência e que não completaram a entrevista. Realizou-se a coleta de dados por meio da aplicação de um instrumento que fora desenvolvido. A coleta de dados ocorreu na sala de espera do setor de emergência. Inicialmente foi realizado um projeto piloto com 10 % da amostra a fim de avaliar a aplicabilidade do instrumento. A análise estatística foi realizada com auxílio dos programas EpiInfo 6.0 e SPSS 19.0. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Sul de Santa Catarina sob protocolo nº 461.141. RESULTADOS E DISCUSSÃO Dos entrevistados, 47 pacientes (12,27%) apresentaram uma possível causa de procura a emergência por problemas relacionados a medicamentos (PRM), o que corrobora com outros estudos 8,9. Destes, 29 pacientes (67%) não aderiam aos medicamentos de uso contínuo (30 dias), 15 pacientes (15,9%) utilizavam automedicação com medicamento tarjado e três pacientes (6,4%) aderiram a novos medicamentos prescritos na última semana. Os medicamentos mais relacionados com a procura ao serviço por este problema foram: losartana, antibióticos, hidroclorotiazida, metformina e alenia. A losartana, o hidroclorotiazida, metformina e alenia aparecem principalmente por serem drogas utilizadas no tratamento de doenças crônicas. Em outro estudo8, os anticonvulsivantes, antidepressivos e benzodiazepínicos também são citados. Nos dados socioeconômicos e demográficos, houve correlação entre a idade e o problema relacionado ao medicamento (P=0,001) sendo que quanto maior a idade maior a quantidade de pacientes com problemas relacionados ao uso de medicamentos. A associação da idade já era esperada, uma vez que as principais causas que condicionam o surgimento de um PRM nessa faixa etária são as falhas que acontecem tanto na prescrição quanto na monitorização da farmacoterapia10. Pode correlacionar-se também pelo fato de que idosos tem maior propensão à exposição a um grande número de medicamentos11, o que gera um esquecimento e uma dificuldade para administrá-los. Verificou-se que a escolaridade, renda e a presença de doenças crônicas apresentam diferenças estatisticamente significativas quando comparados entre pacientes que apresentavam problema relacionado ao uso de medicamentos e os que não apresentavam com essas variáveis. Sendo que quanto menor a escolaridade (P=0,039), menor a renda (P=0,013) e a presença de doenças crônicas (P<0,001), maior a procura ao serviço de emergência por problemas relacionados aos medicamentos. A baixa renda e a falta de escolaridade estão relacionadas em função de que a população com esses parâmetros podem possuir dificuldade em entender as recomendações dos profissionais de saúde, a importância da adesão aos medicamentos e até mesmo pela dificuldade de comprar os mesmos. A frequência de doença crônica aumenta com a idade, como consequência os idosos tomam mais remédios e apresentam maior chance de problemas relacionados ao uso de medicamentos. As principais queixas apresentadas pelos pacientes corroboram com outro estudo12, em que a cefaleia, dor abdominal, dor torácica, dor em membros inferiores, tosse, dispneia e problemas gastrointestinais aparecem como uma das queixas mais relatadas pelos pacientes. Verificou-se que destas, as queixas relatadas pelos pacientes com problemas relacionados ao uso de medicamentos estão presentes entre as vinte queixas mais relatadas pelos pacientes, como a crise hipertensiva (17%), cefaleia (10,6%), dispneia (10,6%), desorientado/delírios (6,4%), quedas (6,4%), fraqueza (6,4%), fraqueza (6,4%), dor no peito (6,4%), dor nas costas (4,3%), outros (25,5%). O sintoma de maior relevância foi a dor, já que esta sensação é a que mais preocupa as pessoas e as levam a procurar por auxílio médico. Os medicamentos de uso contínuo são utilizados por 214 (55,9%) dos entrevistados. Demonstrou-se uma correlação entre pacientes que faziam seu uso e aqueles que apresentavam problemas relacionados ao uso de medicamentos (P=<0,001), onde 85,1% dos pacientes com procura a emergência por problemas do uso de medicamentos utilizavam medicamentos contínuos. Isto pode ser relacionado já que pacientes que utilizam medicamentos todos os dias, tem uma maior chance de apresentar PRM. Os medicamentos mais utilizados em ordem de frequência de sua utilização (n) foram: agentes para o sistema renina angiotensina (n=91), drogas para o tratamento de diabetes (n=50), psicoanalépticos (n=47), bloqueador do canal de cálcio (n=37) e agentes antitrombóticos (n=35). A prática da automedicação fora relatada por 122 pacientes (31,9%) e não houve correlação entre a sua prática e a procura do serviço de emergência por problema relacionado ao medicamento, já que nem sempre sua prática é irracional. Os medicamentos mais usados na prática foram: analgésicos (n=96), antiinflamatórios (n=21) e drogas para distúrbios funcionais gastrointestinais (n=14). Os medicamentos prescritos adicionados à rotina nos últimos sete dias foram apontados por 80 pacientes (20,9%), não visto correlação com o problema relacionado ao uso de medicamentos. O uso inadequado de medicamentos em 142 pacientes (37,1%), evidenciando-se relação com o problema relacionado ao uso de medicamentos (P<0,001), onde pacientes que tinham práticas inadequadas no uso de medicamentos apresentaram mais problemas relacionados ao uso de medicamentos. CONCLUSÕES A procura ao serviço de emergência por problemas relacionados ao uso de medicamentos é frequente e em muitos casos evitáveis, basta que as pessoas sigam as recomendações corretamente. REFERÊNCIAS 1. Vilarino JF, Soares IC, Silveira CM, Rödel APP, Bortoli R, Lemos RR. Perfil da automedicação em município do Sul do Brasil. Revista de Saúde Pública. 1998;32(1):43– 49. 2. Who - World Health Organization. The rational use of drugs: report of the conference of experts. Report of the Conference of Experts Nairobi: Who; 1987. 3. Who - World Health Organization. The world medicines situation. Genève: Who; 2011. 4. Who- World Health Organization, Adherence to long-term therapies: policy for action. Meeting report. Geneve: Who; 2001. 5. Arrais PSD, Coelho HLL, Carvalho ML, Righi R, Batista MCD. Perfil de Automedicação no Brasil. Revista de Saúde Pública. 1997; 31(1):71-77. 6. Tejada TLM, Pastor DMP, Gutiérrez ESO. Efectividad de un programa educativo en el control del enfermo con diabetes. Investigación y Educatión en Enfermería. 2006;24(2):48-53. 7. Zargarzadeh AH, Emani MH, Hosseini F. Drug-related hospital admissions in a generic pharmaceutical system. Clinical and Experimental Pharmacology and Physiology. 2007;34(5-6):494–498. 8. Nickel CH, Ruedinger JM, Messmer AS, Maile S, Peng A, Bodmer M, Kressig RW, Kraehenbuehl S, Bingisser R. Drug-related emergency department visits by elderly patients presenting with non-specific complaints. Scandinavian Journal of Trauma, Resuscitation and Emergency Medicine 2013, 21:15-24. 9. Al-Olah YH, Al Thiab KM. Admission through the emergency department due to drugrelated problems. 2008; 28(6):426-9. 10. GURWITZ, J.H et. al. Incidence and preventability of adverse drug events among older persons in the ambulatory setting. J. Am. Med. Assoc. 2003; 289 (9):1107-16. 11. DALL’AGNOL et al. Problemas Relacionados com Medicamentos em Serviço de Emergência de Hospital Universitário do Sul do Brasil. Estudo Piloto. Acta Farm. Bonaerense. 2004; 23 (4): 540-5. 12. Oliveira GN et. al. Perfil da população atendida em uma unidade de emergência referenciada. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2011. FOMENTO O trabalho teve a concessão de Bolsa pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).