CONGRESO CONAMET/SAM 2004 PROTÓTIPO DE CONVERSÃO DE ENERGIA ELÉTRICA UTILIZANDO O POLÍMERO PVDF-β Viktor O. Cárdenas-Concha (1) e João Sinézio C. Campos (2) (1) Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Faculdade de Engenharia Química, Cx. Postal 6066, CEP 13083-970, Campinas/SP, Brasil, [email protected] ;(2) [email protected] RESUMO Este trabalho apresenta uma revisão bibliográfica sobre o polímero polifluoreto de vinilideno (PVDF) e sua utilização como transdutores na conversão de energia elétrica, envolvendo suas propriedades ferroelétricas. Neste trabalho além da revisão bibliográfica, são apresentados resultados da estabilidade do coeficiente piezoelétrico d31 em função do tempo, temperatura e campo elétrico para sua polarização ferroelétrica, resultados do coeficiente piezoelétrico d31 em função de tais parâmetros de polarização. São apresentados resultados da influencia dos parâmetros (freqüência do “chopper”, distância lâmpada-sensor e diâmetro da superfície irradiada no sensor) na obtenção de sinais elétricos usando o protótipo de geração de energia. Palavras-Chave: PVDF, piezoeletricidade, transformação de energia. 1. INTRODUÇÃO Nas últimas décadas os polímeros vêm substituindo os materiais tradicionais na suas diversas atividades. Com a síntese de novos compostos poliméricos, os polímeros começaram a ser utilizados como elementos ativos na construção dos mais diversos dispositivos. Sendo que um dos que tem recebido maior atenção é o polifluoreto de vinilideno (polyvinylidene fluoride), também conhecido como PVDF ou PVF2. Esse destaque do PVDF pode ser verificado pelo enorme número de trabalhos e patentes desenvolvidos e publicados, mostrando suas inúmeras aplicações. O interesse por este polímero começou, quando suas propriedades piezoelétricas começaram a ser estudadas, verificando-se assim que o PVDF tornava-se altamente piezoelétrico, após ter sido mecanicamente estirado e submetido à ação de campo elétrico[1][2]. Posteriormente foi descoberta sua atividade piroelétrica[3]. Cabe ressaltar que o PVDF não é um material polimérico sintetizado recentemente, mas já era conhecido desde a década de 40 como um polímero de alta constante dielétrica e diversas fases cristalinas[4]. 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1. Poli (Fluoreto de Vinilideno) O PVDF é um material de particular interesse científico e tecnológico[5]., pois consegue combinar as características de um plástico com as de um elemento piezoelétrico e piroelétrico, além de apresentar uma excelente combinação de processabilidade, resistência mecânica, resistência a agentes químicos, leveza, moldabilidade, baixo custo de produção e ser quimicamente inerte[6]. Todas essas propriedades fazem com que sua produção seja em larga escala conferindo-lhe algumas vantagens sobre os transdutores cerâmicos convencionais. Enquanto as cerâmicas são quebradiças, rígidas e densas, o PVDF é flexível, de baixa densidade (≈ 1,9 g/cm3) e facilmente produzido na forma de filmes finos. São essas propriedades que o qualificam para as inúmeras aplicações tecnológicas como transdutores eletromecânicos e eletro-térmicos[5][7]. Dentre os materiais poliméricos o PVDF é um dos que exibe maior coeficiente piezo e piroelétricos. Atualmente este material é utilizado numa variedade de aplicações como transdutor. O seu sucesso nestas aplicações deve-se a algumas vantagens, como por exemplo: flexibilidade, baixa densidade, resistência a ataques químicos, possibilidade de fabricação em forma de filmes finos e áreas maiores que 1m2, além do seu baixo custo de produção. Estas características não são apresentadas por materiais convencionais (PZT, TGS), os quais são quebradiços e rígidos. O PVDF é um polímero semi-cristalino (50% amorfo, 50% cristalino) com unidades repetidas de CH2-CF2. O monômero possui momento de dipolo, em torno de 7,56x10-30C.m. Os monômeros unitários tendem a polimerizar predominantemente na forma “head to tail”, isto é, -(CH2-CF2)-(CH2CF2)-. O PVDF pode cristalizar-se em pelo menos quatro formas distintas, denominadas de fases α, β, γ e δ. A fase β (polar) é de maior interesse por apresentar propriedades piezo e piroelétricas, no entanto a fase α (não polar) é a mais facilmente obtida industrialmente. Existem vários mecanismos que transformam a fase α em fase β, sendo o mais comum por deformação mecânica da fase α em temperaturas inferiores a 80˚C. resultando num material polar com momento de dipolo total da ordem de 6,9x10-30C.m. CONGRESO CONAMET/SAM 2004 2.2 Detectores piroelétricos 2.2.1. O efeito piroelétrico 2.2.2. O sensor piroelétrico Consiste de uma fatia de material piroelétrico com eletrodos de metal em suas superfícies. O sensor piroelétrico somente responde a variações de temperatura e, portanto deve ser utilizado no modo A.C., em outras palavras, o sensor somente detecta variações na potencia radiante incidente, desta forma se a fonte a ser estudada irradiar de forma continua faz-se necessário uma modulação mecânica (“chopper”). 3. MATERIAL E MÉTODOS 3.1. Estabilidade piezoelétrica do PVDF Amostra de PVDF-β (Bemberg Fölien, 20 μm), obtidas por estiramento mecânico (razão 4) e confirmadas por medidas de IR-transmissão. Posteriormente os contatos elétricos são feitos por depositar eletrodos de alumínio, evaporados em vácuo, sobre as superfícies. Permitindo assim investigar a dependência do coeficiente piezoelétrico (d31) em função dos parâmetros campo elétrico, temperatura e tempo, bem como a estabilidade do d31 em função do tempo. As medidas do coeficiente piezoelétrico foram efetuadas em um detector síncrono (IFQSC/USP), durante um período de 5 anos. 3.2. Geração de sinais elétricos e influência dos parâmetros estudados Basicamente o aparato utilizado é constituído por: fonte de radiação, “chopper”, detector piroelétrico, pré-amplificador, amplificador e sistemas de aquisição de dados. A figura 1 apresenta uma visão esquemática do aparato experimental. Figura 1. Aparato experimental O eletrodo utilizado é com posto por uma membrana de PVDF-β com deposição de alumínio em ambas as superfícies, foi assentada sobre um suporte no formato de um pino (Eletrodo 2), com uma pequena curvatura (raio = 2 cm) na superfície em contato com o PVDF. Tal configuração facilita manter a membrana esticada evitando as deformações (enrugamento). A outra superfície do PVDF é presa pela tampa do BCN (Eletrodo 1), a qual assemelha-se a um tubo com um orifício na parte superior que serve de delimitador da área sensível. Utilizou-se uma lâmpada incandescente (12 volts e 50 watts). Um modulador mecânico se faz necessário pois o sensor piroelétrico opera no modo A.C., e um osciloscópio como instrumento de aquisição de dados. Estudam-se os sinais elétricos gerados pela absorção da radiação incidente em função dos parâmetros estudados (freqüência do “chopper”, distancia lâmpada-sensor, área de incidência no sensor). Trabalhou-se utilizando a superfície do sensor enegrecido, com a finalidade de ter uma maior absorbância da energia radiante. Usou-se um planejamento experimental com o objetivo de otimizar o número de ensaios a serem realizados 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES 4.1. Estabilidade piezoelétrica do PVDF – d31 em função do campo de polarização (Ep) Condições de polarização em T=80°C, tp=10 min. 25 d31 (pC/N) Efeito piroelétrico é definido como a carga elétrica gerada, em determinados materiais, como resposta a variações de temperatura. Materiais piroelétricos são aqueles que apresentam uma polarização elétrica, cuja magnitude é função da temperatura. Neste trabalho utilizou-se o efeito térmico sobre o polímero PVDF, para a produção do sinal elétrico. No qual o sensor ao absorver a energia radiante aumenta sua temperatura de T para T+ΔT. Este aumento de temperatura, em certos materiais, causam o aparecimento de sinais elétricos. Sensores térmicos são utilizados em situações onde se exige uma resposta espectralmente plana e tempos de resposta não muito rápidos. Entretanto, sensores piroelétricos além de apresentarem respostas espectralmente plana e neutra podem ter tempos de resposta rápidos (~0,01 s). 20 15 10 5 0 0 150 200 300 350 400 450 500 550 600 Ep (Kv/cm ) Figura 2. Coeficiente piezoelétrico em função do campo de polarização. CONGRESO CONAMET/SAM 2004 – Medidas de d31 em função de temperatura de polarização (Tp) Condições de polarização: Ep= 450 kV/cm e tp=10 minutos. d31 (pC/N) 25 20 15 10 5 0 40 50 60 70 80 90 100 4.2. Geração de sinais elétricos e influência dos parâmetros estudados 110 T p (º C ) Figura 3. Coeficiente piezoelétrico em função da temperatura de polarização. – Medidas de d31 em função do tempo de polarização (tp) Condições de polarização: Ep=450 kV/cm, Tp=80°C 20 d31 (pC/N) o aumento não é linear, mas tendem assintóticamente para uma saturação. Os resultados da fig. 4 mostram que durante um período de 5 anos a estabilidade do d31 foi muito boa em função das condições ambientais de armazenamento, sendo que ocorre uma perda de no máximo 15% nas primeiras 24 h em relação ao valor inicial. Observação: A continuidade destas medidas, estabilidade de d31 em função do tempo, ainda estão em andamento. 15 10 Neste trabalho foi realizado um planejamento fatorial de 23, com ponto central (quadruplicata). Com a finalidade encontrar o ponto ótimo de operação. Tabela 1. Níveis de operação do planejamento Fatores 1: Freqüência do “chopper”(Hz) 2: Distância lâmpada–sensor (cm) 3: Diâmetro do sensor (cm) (-) 11 16 (0) 20 19 (+) 29 22 0,5 0,9 1,3 5 0 20 40 60 80 tp (m i n u to s) Figura 4. Coeficiente piezoelétrico em função do tempo de polarização. – Medidas de estabilidade do d31 em função do tempo (t) Condições de polarização: t=50 min, T=80°C e E=450 kV/cm. Tabela 2. Matriz de planejamento experimental Ensaio 1 2 3 4 5 6 7 8 1 + + + + 2 + + + + d31 (pC/N) 25 d31 (pC/N) 30 25 20 15 10 0 1 2 4 5 t (dia s ) 20 15 10 0.001 0.01 0.1 1 10 log t (anos) Figura 5. Coeficiente piezoelétrico em função do tempo de armazenamento. Os resultados (fig. 1, 2 e 3) mostram que o coeficiente piezoelétrico depende das condições de polarização (campo, temperatura e tempo), nos quais percebe-se que quanto maior o tempo, temperatura e campo elétrico há uma tendência do módulo do d31 ser maior. No entanto observa-se que Figura 6. Distância por diâmetro. 3 + + + + CONGRESO CONAMET/SAM 2004 Figura 7. Freqüência por diâmetro. 5. CONCLUSÕES 1 - Dos resultados obtidos, ao longo de 5 anos de medida do coeficiente piezoelétrico (d31), pode-se afirmar que o material tem excelente estabilidade com o tempo. 2 - Constatou-se a geração de sinais elétricos. 3 - Observou-se que o parâmetro que mais influência no processo é o diâmetro. Então, quanto maior a área atingida, maior o rendimento do sinal de saída. 4 - Observa-se que para freqüências menores o ganho no sinal de saída e maior. 5 - Segundo os gráficos obtidos mostra que as faixas de distancia entre lâmpada e sensor em que se trabalhou não influencia o sinal de saída. 6. REFERÊNCIAS [1] Sinézio, JCC. Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo, Instituto de Física e Química de São Carlos, 1990. [2] Kawai H., Japan J. Appl. Phys, 8, 1978 (1969). [3] BERGMAN, J. G., Jr McFEE, and G. R. CRANE, Pyroelectricity and optical second harmonic generation in polyvinylidene fluoride films, Appl.Phys.Let, 18, 5, 203-205, 1971. [4] NAKAMURA, K. And Y. WADA, J. Polym. Sc., A-2, 9, 161, 1971. [5] Furukawa T., Ferroelectrics Properties of Vinylidene Fluoride Copolymers, Phase Transitions, 18, 143, 211, (1980). [6] Sessler e Wang, 1987. [7] SESSLER, G. M., Pyezoelectricity in Polyvinylidene Fluoride, J. Acoust. Soc. Am., 70 (6), 1596-1608, 1981.