a evolução da pólis grega

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FILOSOFIA
Professor Júlio “Che” Raizer
www.profche.blogspot.com
twitter: @juliocheraizer
e-mail: [email protected]
A Evolução da Pólis Grega
A EVOLUÇÃO DA PÓLIS GREGA E A RAZÃO
A história de civilização ocidental começa com a história de civilização grega. Apesar de sua
geografia dispersa, a Grécia antiga tem uma vida cultural relativamente homogênea, expressa no idioma
comum e em formas de organização política e crenças religiosas semelhantes. Essa unicidade resulta da
união de várias culturas, trazidas por povos que invadiram a Grécia, misturando-se aos habitantes mais
antigos.
A origem da polis a partir do século VIII a.C., com o renascimento do comércio, acaba com o
isolamento das aldeias. A sociedade torna-se mais complexa. As cidades sofrem mudanças radicais. O
local mais importante da cidade passa a ser a “ágora", a praça pública, onde o comércio se desenvolve e
as discussões sobre a vida e a sociedade acontecem. A democracia contribuiu para que “todos” tivessem
acesso à ágora, de modo que cidadania passou a ser um direito dos homens adultos e que não fossem
estrangeiros ou escravos.
A pólis é uma criação dos cidadãos e não dos deuses. Essa nova forma de organização social e
política foi fundamental para o desenvolvimento do pensamento humano. Na pólis, com os “cidadãos” em
igualdade, é vitorioso quem sabe convencer, quem utiliza o raciocínio e a exposição precisa das idéias,
não só em relação à política, mas a tudo que se referia à vida dos gregos.
SUPERAÇÃO DA MITOLOGIA
Essa nova forma de pensar a partir da formação da pólis é o oposto ao pensamento mítico. É como
se o homem grego do século VI a.C. tivesse se libertado das fantasias da religião e da mitologia para
evoluir racionalmente.
A pólis grega, criação da vontade dos homens, estabelece o desaparecimento da vontade divina e
celestial de todo um conjunto de relações, quer dos homens entre si, quer dos homens com a natureza. A
mitologia apenas narra uma sucessão de fenômenos divinos, naturais e humanos. Ela é, então, substituída
pela Filosofia na compreensão desses fenômenos. Co isso, ao utilizar a razão, o homem busca uma
explicação para entender a relação entre o caos e a ordem do mundo.
A “DEMOCRACIA” E A PRODUÇÃO CULTURAL
Os pesquisadores revelam que a cidade de Atenas tinha por volta de 300 mil habitantes. Apenas
40 mil eram considerados “cidadãos”, isto é, filhos de pais e mães atenienses. Atenas possuía, na
passagem do século VI para o século V a.C., cerca de 100 mil trabalhadores escravos. A democracia
ateniense atingia somente 40 mil cidadãos. Os benefícios políticos e sociais oferecidos pela legislação de
Clístenes não chegavam à outras classes sociais.
Na época de Péricles, existiam em Atenas três escravos para cada dois cidadãos livres. Os
escravos eram empregados em atividades domésticas, comércio, artesanato e agricultura. Com isso, os
cidadãos podiam contar com um tempo livre muito grande. Esse tempo livre era dedicado às atividades
físicas e culturais, que caracterizavam a cultura grega, mas que eram um privilégio de um grupo de
cidadãos proprietários rurais, que desfrutavam das vantagens de uma vida urbana avançada.
Relacionar escravidão e democracia pode parecer uma contradição, mas não na Grécia antiga.
Apesar de existir nos países do Oriente, a escravidão nunca foi a forma mais importante para a produção
de riquezas necessárias à sociedade. Para os gregos resumiu-se na produção de bens necessários.
Enfim, foi graças à total ausência de liberdade de uns que uma parcela da população produziu um
das manifestações culturais que mais marcaram a História Ocidental.
A DEMOCRACIA GREGA E ARISTÓTELES
Há, na espécie humana, indivíduos tão inferiores a outros como o corpo o é em relação à lama, ou
a fera ao homem; são os homens nos quais o emprego da força física é o melhor que deles se obtêm.
Partindo dos nossos princípios, tais indivíduos são destinados, por natureza, à escravidão; porque, para
eles, nada é mais fácil que obedecer. Tal é o escravo por instinto: pode pertencer a outrem (também lhe
pertence ele de fato), e não possui razão além do necessário para dela experimentar um sentimento vago;
não possui a plenitude da razão. Os outros animais dela desprovidos seguem as impressões exteriores... A
ciência do amo consiste no emprego que ele faz dos seus escravos; ele é senhor, não tanto porque possui
escravo, mas porque deles se serve. Esta ciência do amo nada tem, aliás, de muito grande ou muito
elevado; ela se reduza a saber mandar o que o escravo deve saber fazer. Também todos a que ela pode se
furtar deixam os seus cuidados a um mordomo, e vão-se entregar à Política ou à Filosofia.
ARISTÓTELES. Política II, 13-23. 14. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, s/d.
A DEMOCRACIA GREGA E PLATÃO
A massa popular é assimilável por natureza a um animal escravo de suas paixões e de seus
interesses passageiros, sensível à lisonja, inconstante em seus amores e em seus ódios; confiar-lhe o poder
é aceitar a tirania de ser um incapaz da menor reflexão e do menor rigor.
Quando a massa designa seus magistrados, ela o faz em função das competências que acredita ter
constatado – em particular, as qualidades no uso da palavra – e disso infere irrefletidamente a capacidade
política. Quanto às pretensas discussões na Assembléia, são apenas disputas contrapondo opiniões
subjetivas, inconsistentes, cujas contradições e lacunas traduzem bastante bem o seu carácter insuficiente.
Em suma, a democracia é ingovernável...
PLATÃO, apud. CHATELET, F. História das idéias políticas. Rio de Janeiro: Zahar, 1997. p. 17.
RECORDANDO HISTÓRIA
Civilização Grega – Atenas
- Transforma-se em pólis aristocrática:
1. Drácon: leis escritas (rígidas)
2. Sólon: abolição da escravidão por dívidas
3. Clístenes: pai da democracia
4. Péricles: consolidou a democracia
5. Democracia, cultura, filosofia, comércio.
- Liga de Delos: hegemonia ateniense
- Guerra do Peloponeso: Esparta x Atenas
- Decadência grega: invasão estrangeira (macedônicos)
- Fim das cidades-estado gregas independentes
A IMPORTÂNCIA DA FILOSOFIA PARA A DEMOCRACIA
Com o desenvolvimento das cidades, Atenas tornou-se o centro da vida social, política e cultural
da Grécia, vivendo seu período de esplendor durante o século V a.C., conhecido como Século de Péricles.
A democracia grega possuía, entre outras, duas características de grande importância para o futuro
da Filosofia. Em primeiro lugar, ela afirmava a igualdade de todos os homens adultos perante as leis e o
direito de todos de participar diretamente do governo da cidade, da pólis. Em segundo lugar, a
democracia, que era indireta e não previa a eleição de representantes, garantia aos cidadãos a participação
no governo, concedendo a eles o direito de discutir e defender suas opiniões sobre as decisões que a
cidade deveria tomar. Surgia, assim, a figura política do cidadão.
Ora, pra conseguir que sua opinião fosse aceita nas assembléias, o cidadão precisava saber falar e
ser capaz de persuadir.
Quando não havia democracia, mas dominavam as famílias aristocráticas, senhoras das terras, o
poder lhes pertencia. Essas famílias criaram um padrão de educação próprio dos aristocratas. Esse padrão
afirmava que o homem ideal ou perfeito era o guerreiro belo e bom.
Quando, porém, a democracia se instala e o poder vai sendo retirado dos aristocratas, esse ideal
educativo ou pedagógico vai sendo substituído por outro. O ideal da educação do Século de Péricles é a
formação do cidadão.
Ora, qual é o momento em que o cidadão mais aparece e mais exerce sua cidadania? Quando
opina, discute, delibera e vota nas assembléias. Assim, a nova educação estabelece como padrão ideal a
formação do bom orador, isto é, aquele que sabe falar em público e persuadir os outros na política.
Para dar aos jovens essa educação, surgiram na Grécia os sofistas, dos quais os mais importantes
foram: Protágoras de Abdera, Górgias de Leontini e Sócrates de Atenas. Eles diziam que os ensinamentos
dos filósofos cosmologistas (aqueles que buscavam uma explicação racional e sistemática sobre a origem
e transformação da natureza e do homem) estavam repletos de erros e contradições e que não tinham
utilidade para a vida da pólis. Apresentavam-se como mestres de oratória ou de retórica, afirmando ser
possível ensinar aos jovens tal arte para que fossem bons cidadãos. Que arte era essa? A arte da
persuasão.
O filósofo Sócrates, considerado o patrono da Filosofia, rebelou-se contra os sofistas, dizendo que
eles não eram filósofos, pois não tinham amor pela sabedoria nem respeito pela verdade, defendendo
qualquer idéia, se isso fosse vantajoso. Corrompiam o espírito dos jovens, pois faziam o erro e a mentira
valerem tanto quanto a verdade.
Sócrates concordava com os sofistas em um ponto: por um lado, a educação antiga do guerreiro
belo e bom já não atendia às exigências da sociedade grega, e, por outro, os filósofos cosmologistas
defendiam idéias tão contrárias entre si que também não eram uma fonte segura para o conhecimento
verdadeiro.
Sócrates propunha que, antes de conhecer a natureza e de querer persuadir os outros, cada um
deveria, primeiro, conhecer-se a sim mesmo. A expressão “conhece-te a ti mesmo”, gravada no pórtico do
templo de Apolo, deus da sabedoria, tornou-se a divisa de Sócrates.
Esse filósofo andava pelas ruas de Atenas, pelo mercado e pela assembléia indagando a cada um:
“Você sabe o que é isso que está dizendo? Você sabe o que isso em que você acredita?” “Você diz que a
coragem é importante, mas o que é a coragem? Você acredita que a justiça é importante, mas o que é a
justiça? Você crê que seus amigos são a melhor coisa que você tem, mas o que é a amizade?”
As perguntas de Sócrates deixavam os interlocutores embaraçados, irritados, curiosos, pois,
quando tentavam responder ao célebre “o que é?, descobriam que não sabiam responder a essa questão e
que nunca tinham pensado em suas crenças, seus valores e suas idéias.
A consciência da própria ignorância é o começo da Filosofia. O que procurava Sócrates?
Procurava a definição daquilo que uma coisa, uma idéia, um valor é verdadeiramente. Procurava a
essência verdadeira da coisa, da idéia, do valor. Procurava o conceito, e não a mera opinião que temos de
nós mesmos, das coisas, das idéias e dos valores.
Ora, as perguntas de Sócrates se referiam a idéias, valores práticas e comportamentos que os
atenienses julgavam certos e verdadeiros. Ao fazer suas perguntas e suscitar dúvidas, Sócrates os fazia
pensar não só sobre si mesmos, também sobre a pólis. Aquilo que parecia evidente acaba sendo percebido
como duvidoso e incerto.
Sabemos que os poderosos têm medo do pensamento, pois o poder é mais forte se ninguém
pensar. Para os poderosos de Atenas, Sócrates tornara-se um perigo, pois fazia a juventude pensar. Por
isso, eles o acusaram de desrespeitar os deuses, corromper os jovens e violar as leis. Diante da
assembléia, à qual foi levado, Sócrates não se defendeu e foi condenado a tomar um veneno – a cicuta – e
obrigado a suicidar-se.
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1987.
TESTES DE VESTIIBULAR
(CEFET) Texto-base para as questões 01 e 02
“A filosofia é menos difícil do que se imagina. Se parece difícil, é por uma razão simples: ela é um
gênero à parte. Conhecê-la é aprender a ler de um modo diferente. Ela tem pontos comuns com a ciência e
com a literatura, mas se distingue de ambas. Como a ciência, ela procede com rigor e costuma ter, no
horizonte, uma idéia de verdade. Mas a ciência se atualiza sempre e descarta seu passado. A filosofia não.
Como a arte ou a literatura, ela preserva seu passado como um patrimônio irrenunciável. (...)
Nos últimos 20 anos, aumentou muito a demanda por filosofia. Quem diria que, em 1968, quando
“l definitiva noche se abría sobre Latinoamérica”, a filosofia viria a ser sucesso de público? Nos colégios,
aposentava-se a escrita em favor das provas com cruzadinhas. A filosofia era acusada de perigosa, pelas
ditaduras, ou de inútil, pela tecnocracia. Mas isso mudou. A edição de filosofia, está em franca expansão.
Por isso, até eu, que crítico a ênfase excessiva que os cursos de filosofia dão aos autores (em
detrimento das questões propriamente filosóficas), recomendo começar por eles. Filosofar é caminhar por
isso, é tão importante o caminhante solitário de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) (...).
O maior erro de quem quiser conhecer filosofia será acreditar que cada conceito tem um sentido
exato, e um só. O leitor verá que cada autor lhe dá um significado diferente? E esse significado só cabe no
pensamento desse autor. Assim, os dicionários de filosofia são úteis, mas não demais. Nenhum deles
substitui a freqüentação direta de uma obra. (...)
Não tenha medo jargão filosófico. Toda disciplina tem seu rigor próprio, e na filosofia ele é
decisivo. Mas penso que ela só adota jargão bem técnico ao ser ministrada nas universidades – o que
acontece no fim da Idade Média, com a escolástica, e, modernamente, desde Emmanuel Kant (17241804). Ela então se torna mais difícil ao leigo, mas retirando esses 500 anos mais técnicos, restam pelo
menos dois milênios de filosofia feita, em larga medida, para um público não-acadêmico.
Filósofo, diz a etimologia, é o amigo do saber (do grego “filia”, “amizade”, e “Sofia”, “saber”). A
filosofia começa, na Grécia do século VI a.C., sob o signo da modéstia. O Oriente conhecia a figura do
sábio; ora, os gregos repudiavam a pretensão a serem sábios, isto é, proprietários do saber. Eles eram
apenas (apenas?) amigos do conhecimento. Não queriam ser donos da verdade.”
RIBEIRO, Renato Janine, Folha de S. Paulo, 26 ago. 2003. Caderno Sinapse. (Adaptado)
01- Observe as proposições abaixo, elaboradas a partir do texto:
IAs dificuldades para se estudar filosofia devem-se à especificidade do gênero, às poucas obras
de introdução e ao jargão filosófico.
IIA filosofia apresenta pontos em comum tanto com a literatura como com a ciência. Da
primeira, guarda relação com o passado; da segunda, a pretensão à verdade.
IIIApesar do descrédito com a filosofia no final dos anos 60, por conta das ditaduras, seu
prestígio continua alto e em ascensão.
IVO autor recomenda o estudo da filosofia por temas e/ou questões filosóficas em detrimento do
estudo dos autores.
a)
b)
c)
d)
e)
Estão corretas somente as proposições:
I e II.
II e III.
I e IV.
I e III.
II e IV.
02- Das alternativas a seguir, assinale a que NÃO se pode atribuir ao texto;
a) Uma recomendação dada pelo autor é o cuidado que se deve ter com os dicionários de filosofia
que, apesar de úteis, não dispensam a consulta direta e uma obra.
b) Dicionários de filosofia têm uso restrito, pois um conceito só pode ser interpretado a partir do
pensamento de cada autor.
c) A filosofia, ao contrário de outras disciplinas, apresenta um jargão próprio que se torna mais
técnico após a Idade Média e fora dos círculos acadêmicos.
d) Na etimologia da palavra filosofia encontra-se a intenção dos gregos em relação a essa área do
conhecimento.
e) Ao contrário dos orientais, que valorizavam a figura do sábio, os gregos não pretendiam apoderarse do saber.
03- “No ano 500 a.C., os gregos viviam em pequenos Estados independentes que consistiam em uma
cidade e propriedades agrícolas à sua volta: as cidades-Estados como eram chamadas. No centro da
cidade havia um espaço aberto, chamado ágora. A palavra ágora, inicialmente, significava reunião. Mas
os gregos começaram a usá-la para significar a praça pública da cidade, pois era ali que eles se
encontravam para discutir os assuntos importantes da cidade-Estado”.
COLEÇÃO Povos do Passado, Os Gregos. São Paulo: Melhoramentos, 1992. p.8.
A cidade-Estado de Atenas destacou-se pelo seu regime democrático, tornando-se um exemplo
para muitas cidades gregas e passou a ser o centro político e cultural da Grécia no séc. V a.C.
Leia as seguintes afirmações sobre a democracia ateniense:
IEra o regime no qual toda a população podia se fazer ouvir na ágora.
IIAo povo pertenciam apenas os que tinham direitos políticos e eram considerados, por isso,
cidadãos atenienses.
IIIA democracia fez com que o poder, antes dominado pelos eupátridas, passasse a ser exercido
pelos pequenos proprietários, artesãos e comerciantes.
IVAs reformas de Clístenes limitavam o poder do arcontado e do areópago, concentrando o
poder na assembléia popular (Eclésia).
a)
b)
c)
d)
e)
Pode-se afirmar que estão corretas somente:
I, II e III.
I, III e IV.
I e III.
II, III e IV.
II e IV.
DESAFIO
01- (UnB) A peça Édipo-Rei de Sófocles permite diversas interpretações. Talvez a mais famosa seja a de
Freud, que propõe o desenrolar dramático da peça – a descoberta pelo filho de que assassinara seu pai e
casara com a mãe – como a realização do desejo inconsciente comum a quase todos os homens. Como
afirma Jocasta a Édipo na peça: “Não tenhas medo da cama da tua mãe: quantas vezes em sonho um
homem dorme com a mãe! É bem mais fácil a vida para quem dessas coisas não cogita. “Há uma segunda
leitura, provavelmente menos sutil, que resgata Édipo-Rei como uma das primeiras histórias de mistério
conhecidas. Trata-se de um drama policial em que o responsável pela identificação do culpado de um
assassinato descobre ser ele mesmo o assassino.
LISBOA, Marcos de Barros. Um país de pobres. Valor, 13 fev. 2002. Caderno Eu&Fim de Semana. (Adaptado).
Com o auxílio do texto acima, julgue os itens que se seguem:
01- (
) Tragédia e comédia eram os gêneros básicos do teatro grego, uma das grandes criações
culturais da civilização helênica. Sófocles, o autor de Édipo-Rei, entre outras peças marcantes. É
considerado o maior tragediógrafo grego.
02- (
) O surgimento do teatro ocidental na Grécia antiga integra um contexto cultural tão amplo
quanto expressivo, em que o antropocentrismo comanda as mais diversas formas de expressão
cultura, daí decorrendo o desenvolvimento da Filosofia, da História e das técnicas da arquitetura e
da escultura.
03- (
) Citado no texto como autor da “talvez mais famosa” interpretação de Édipo-Rei, Sigmund
Freud é figura central da História contemporânea: seu livro A interpretação do sonhos inaugura
um inovador caminho de análise do ser humano, a partir da valorização do inconsciente.
04- (
) O “drama policial” de que fala o texto é um gênero literário que encontrou as melhores
condições para se desenvolver com as mudanças verificadas na sociedade contemporânea a partir
da Revolução Industrial e a acentuada urbanização dela decorrente.
Os Pré-Socráticos
OS PRÉ-SOCRÁTICOS – OS FILÓSOFOS DA NATUREZA
Denominamos de pré-socráticos os filósofos que antecederam os três grandes ícones da filosofia
ocidental: Sócrates, Platão e Aristóteles.
TALES DE MILETO – A AGUA – (623 – 546 a.C)
ANAXIMANDRO DE MILETO – O INFINITO – (610 – 547 a.C)
Segundo ele, não é possível considerar uma única substância como o princípio de todos os seres.
Entende que algo “ilimitado” deu origem ao mundo e ao universo – o “ápeiron”.
ANAXIMENES DE MILETO – O AR – (588 – 524 a.C)
Tentou conciliar as concepções de Tales e Anaximandro. Para ele, o “ar” é o princípio de todas as
coisas. O “ar” é invisível, é a própria vida.
HERÁCLITO DE ÉFESO – A ETERNA MUDANÇA – (entre 500 – 400 a.C)
É um dos maiores filósofos pré-socráticos. De acordo com esse pensador, a realidade é dinâmica,
está em permanente transformação. Todas as coisas se opõem umas às outras. A diversidade e a
contradição produzem a unicidade e a transformação do mundo.
PITÁGORAS DE SAMOS – O CULTO À MATEMÁTICA – (570 – 490 a.C)
TESTES DE VESTIBULAR
01- (UEL) “Entre os físicos da Jônia, o caráter positivo invadiu de chofre a totalidade do ser. Nada existe
que não seja natureza, physis. Os homens, a divindade, o mundo formam um universo unificado,
homogêneo, todo ele no mesmo plano: são as partes ou os aspectos de uma só e mesma physis que põem
em jogo, por toda parte, as mesmas forças, manifestam a mesma potencia de vida. As vias pelas quais
essa physis nasceu diversificou-se e organizou-se são perfeitamente acessíveis à inteligência humana: a
natureza não operou ‘no começo’ de maneira diferente de como o faz ainda, cada dia, quando o fogo seca
uma vestimenta molhada ou quando, num crivo agitado pela mão, as partes mais grossas se isolam e se
reúnem.”
(VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego. Tradução de Ísis Borges B. da Fonseca, 12 ed. Rio de Janeiro:
Difel, 2002, p. (110).
Com base no texto, assinale a alternativa correta.
a) Para explicar o que acontece no presente, é preciso compreender como a natureza agia “no
começo”, ou seja, no momento original.
b) A explicação para os fenômenos naturais pressupõe a aceitação de elementos sobrenaturais.
c) O nascimento, a diversidade e a organização dos seres naturais têm uma explicação natural e esta
pode ser compreendida racionalmente.
d) A razão é capaz de compreender parte dos fenômenos naturais, mas a explicação da totalidade
destes está além da capacidade humana.
e) A diversidade de fenômenos naturais pressupõe uma multiplicidade de explicações e nem todas
essas explicações podem ser racionalmente compreendidas.
02- (UEL) “Mais que saber identificar a natureza das contribuições substantivas dos primeiros filósofos é
fundamental perceber a guinada de atitude que representam. A proliferação de óticas que deixam de ser
endossadas acriticamente, por força da tradição ou da ‘imposição religiosa’, é o que mais merece ser
destacado entre as propriedades que definem a filosoficidade”.
(OLIVA, Alberto; GUERREIRO, Mario. Pré-socráticos: a invenção da filosofia. Campinas: Papirus, 2000. p. 24).
Assinale a alternativa que apresenta a “guinada de atitude” que o texto afirma ter sido promovida
pelos primeiros filósofos.
a) A aceitação acrítica das explicações tradicionais relativas aos acontecimentos naturais.
b) A discussão crítica das idéias e posições, que podem ser modificadas ou reformuladas.
c) A busca por uma verdade única e inquestionável, que pudesse substituir a verdade imposta pela
religião.
d) A confiança na tradição e na “imposição religiosa” como fundamentos para o conhecimento.
e) A desconfiança na capacidade da razão em virtude da “proliferação de óticas” conflitantes entre si.
03- (UFU) “Só é possível pensar e dizer que o ente é, pois o ser é, mas nada é; sobre isso, eu te peço,
reflita, pois esta via de inquérito é a primeira de que te afasto; depois afasta-se daquela outra, aquele em
que erram os mortais desprovidos de saber e com dupla cabeça, pois, no peito, a hesitação dirige um
pensamento errante: eles se deixam levar surdos e cegos, perplexos, multidão inepta, para quem ser e não
ser é considerado o mesmo e não mesmo, para quem todo o caminho volta sobre si mesmo”.
PARMÊNIDES, Sobre a Natureza
IIIIIIIV-
Sobre esse trecho do poema de Parmênides, é correto afirmar que:
Só pode pensar e dizer o que o ser é.
Para os mortais o ser é diferente é considerado diferente do não ser.
É possível dizer o não ser, embora não se possa pensá-lo.
Duas vias de inquérito devem ser afastadas: a do não ser e a dos mortais.
a)
b)
c)
d)
Assinale a alternativa que contém todas as afirmações corretas.
II e III.
II e IV.
I e III.
I e IV.
04- (UFU) Parmênides (515 – 440 a.C) deixou seus pensamentos registrados no poema “Sobre a
natureza”, do qual restaram apenas fragmentos cultivados pelos filósofos do mundo antigo. Uma das
passagens célebres preservada é a seguinte:
“Necessário é o dizer e pensar que (o) ente é; pois é ser, e nada não é; isto eu te mando considerar.
Pois primeiro desta vida de inquérito eu te afasto, mas depois daquela outra, em que mortais que
nada sabem
erram, duplas cabeças, pois o imediato em seu peito dirige errante entre pensamentos,(...)”
Analise as assertivas abaixo:
IA opinião humana busca o que é (ser) naquilo que não é (ser)
IIO mundo dos sentidos é (ser), portanto, o único digno de ser conhecido.
IIINão se pode dizer “Não-ser é”, porque “não ser” é impensável.
IVDizer “não-ser é não não-ser”, é o mesmo que afirmar “não-ser não é”.
Assinale a alternativa que contém as assertivas corretas.
a) I e II.
b) II e III.
c) II e IV.
d) I e IV.
05- (UFU) “Do arco o nome é vida e a obra é a morte”.
HERÁCLITO. Sobre a natureza. Tradução de : José Cavalcante de Souza. São Paulo: Nova Cultural, 1989, p. 56. Coleção
“Os pensadores”.
Esse fragmento ilustra bem o pensamento de Heráclito, que acreditou ser o mundo o eterno fluir,
comparando a um rio no qual “entramos e não entramos”.
Assinale a alternativa que explica o fragmento mencionado anteriormente.
a) Todas as coisas estão em oposição uma à outras, o que explica o caráter mutável da realidade. A
unidade do mundo, sua razão universal resulta da tensão, entre as coisas, daí o emprego freqüente,
por parte de Heráclito, da palavra guerra para indicar o conflito com o fundamento do eterno
fluxo.
b) A harmonia que anima o mundo é aberta aos sentidos, sendo possível ser conhecida na
multiplicidade daquilo que é manifesto, uma vez que a realidade nada mais é que o eterno fluxo da
multiplicidade do Logos Heraclitídeo.
c) A unidade dos contrários, a vida e a morte, é imóvel, podendo ser melhor representada para o
entendimento humano por intermédio da imagem do fogo, que permanece sempre do mesmo
modo, imutável e continuamente interte, e não se oculta aos olhos humanos.
d) O arco, instrumento de guerra, indica que a idéia de eterno fluxo universal, é o fundamento da
teoria do caos, pois o fogo se expande sem medida, tornando a realidade sem nenhuma harmonia
ou ordem.
06- (UFU) O fragmento seguinte é atribuído a Heráclito de Éfeso:
“O mesmo é em (nós?) vivo e morto, desperto e dormindo, novo e velho; pois estes tombados
além, são aqueles de novo, tombados além, são estes”.
COLEÇÃO Os Pensadores. Os Pré-Socráticos. Tradução de: José Cavalcante de Souza, São Paulo: Abril Cultural, 1973, p.93.
A partir do fragmento citado a alternativa que melhor representa o pensamento de Heráclito.
a) Não existe a noção de “oposto” no pensamento de Heráclito, pois todas as coisas constituem um
único processo de mudança que expressa a concórdia e a harmonia do “fluxo” contínuo da
natureza.
b) A equivalência de estados contrários com “o mesmo” exprime a alternância harmônica de pólos
opostos, pela qual um estado é transposto no outro, numa sucessão mútua como o dia e a noite.
Todas as coisas são: “Um”, toda a multiplicidade dos postos constituí uma unidade, e todos os
seres estão num fluxo eterno de opostos em guerra.
c) Se o morto é vivo, o velho é novo, é o dormente é desperto, então não existe o múltiplo, mas
apenas o “Um”, como verdade profunda do mundo. A unidade primordial é a própria da physis e a
multiplicidade, apenas aparência.
d) A alternância entre pólos opostos constitui um fluxo eterno, regido pela “guerra” e pela
“discórdia”, que ocorre sem qualquer medida e proporção. A guerra entre contrários evidencia que
a physis é católica e denota o fato de que o pensamento de Heráclito é irracionalista.
07- (UFU) A relação entre mitos e logos pode ser ilustrada a partir do seguinte fragmento do poema
“Sobre a Natureza” de Parmênides.
“É a deusa ma acolheu benévola, e na sua a minha mão direita tomou, e assim dizia e me
interpretava: ó jovem, companheiro de aurigas imortais, tu que assim conduzido chegas à nossa morada,
salve! Pois não foi mau destino que te mandou perlustrar esta via (pois ela está fora da senda dos
homens)...”
COLEÇÃO Os Pensadores. Os Pré-Socráticos. Tradução de: José Cavalcante de Souza. 1a ed. São Paulo: Abril Cultural, 1973,
p. 147.
Após ler o fragmento, escolha a alternativa que melhor representa a relação mito – logo nas
origens da filosofia.
a) A verdade filosófica aparece no poema de Parmênides como relação divina e experiência mística,
que são incompatíveis com o pensamento filosófico racional. A deusa do poema mostra que o
conhecimento supremo está fora do alcance da razão humana.
b) A verdade filosófica no poema de Parmênides é apresentada por meio de representações místicas
que o filósofo retira de uma tradição religiosa. Essas imagens se transpõem sem deixar de ser
místicas, em uma filosofia do Ser que busca o objeto inteligível do logos, ou seja, do pensamento
racional e do Uno.
c) A verdade filosófica, por ser revelação da deusa, é obtida apenas pela experiência religiosa. As
representações místicas do poema de Parmênides indicam que a filosofia grega do século V a.C. é
irracional, pois não usa as categorias lógicas do rigor argumentativo.
d) A filosofia representa o pensamento estritamente racional, que busca uma explicação de mundo
somente por meio de princípios materiais. Por essa razão, o poema de Parmênides ainda não
representa o pensamento filosófico do século V. a.C., caracterizado pela ruptura com todas as
imagens místicas da tradição cultural grega.
A Consolidação da Filosofia
OS SOFISTAS – A VERDADE É RELATIVA
Podemos situar os sofistas entre os séculos V e IV a.C. na Atenas de Péricles, depois da vitória
dos gregos sobre os persas.
Mestres da sabedoria prática, professores ambulantes, os sofistas não constituíram uma escola
filosófica, mas influenciaram profundamente a vida intelectual grega. Estavam empenhados em preparar
os mais jovens para a prática política. Desenvolveram a arte da retórica, da argumentação da realidade.
Valorizavam a linguagem como uma capacidade essencialmente humana, embora afirmassem que os
valores e as verdades são instáveis e relativos. Para os sofistas, “o bom orador é capaz de convencer
qualquer pessoa sobre qualquer coisa”.
São considerados os primeiros humanistas da cultura ocidental. O grande mérito desses
pensadores é ter chamado a atenção dos sábios para os problemas humanos. Embora a problemática do
homem esteja presente nas concepções dos pré-socráticos, ela não é central. Nos sofistas, ela é
praticamente exclusiva. Eram preocupados com problemas de toda ordem: políticos, morais, estéticos,
jurídicos, lingüísticos.
O termo “sofista” ganhou o sentido de “demagogo”, e “sofisma”, de “argumentos falsos”. Eram
considerados inimigos dos filósofos, apesar de não conseguirem ignorá-los. Odiados, eles procuravam
acumular conhecimentos sobre as mais diversas atividades humanas. Argumentam que na democracia a
linguagem é a única força que os homens possuem, pois as diferenças sociais e econômicas não contam.
O maior entre todos os sofistas foi Protágoras de Abdera (480 – 410 a.C.) o qual afirma que “o
homem é a medida de todas as coisas, das que são enquanto são e das que não são enquanto não são”.
Segundo ele, o mundo é o que o homem constrói ou destrói, não havendo verdades absolutas. A verdade
seria condicionada a pessoas, grupos sociais ou cultura.
SÓCRATES DE ATENAS – (469 – 399 a.c.) – “SEI QUE NADA SEI”
Sócrates tornou-se um mito. Teria sido ele de carne e osso? Houve quem negasse a sua existência,
transformando-o numa criação de seus discípulos, fanáticos por sinal. Não deixou nada por escrito, e o
que se sabe sobre o seu pensamento é oriundo de seus discípulos e adversários.
Não acompanhou o pensamento dos filósofos pré-socráticos em relação à natureza. Concentra-se
na problemática humana. Opõe-se ao relativismo dos sofistas, questionando a utilização da linguagem
como meio de atingir interesses de classe.
Sócrates não fazia distinção entre os seus discípulos, não os separando pela condição social. Era
uma ameaça social, pois desrespeitava a ordem vigente na cidade de Atenas. Constantemente contrariava
os valores da sociedade ateniense, pois estava interessado apenas na busca da verdade e das virtudes. Foi
acusado de corromper a juventude e de ser injusto para com os deuses, sendo condenado à morte.
O método socrático baseava-se na “ironia” e na “Maiêutica”. Habilidoso em seu raciocínio
ironizava seus discípulos, levando-os a tomar consciência de sua ignorância, com o objetivo de purificar
os seus pensamentos. Questionador formulava inúmeras perguntas para desmontar as certezas do outro,
para em seguida conceber novas idéias – a Maiêutica - que em grego significa “parto”, luz para novas
idéias.
O MÉTODO DE SÓCRATES
Afirmando ironicamente que nada sabia, Sócrates, logo de início, desarmava seu interlocutor,
encorajando-o a expor seus pontos fracos. Por meio de perguntas introduzia ora um, ora outro conceito,
até que a pessoa via-se em tal conflito que já na podia prosseguir. Embaraçada, percebia que não sabia o
que julgava saber e que apenas cultivava preconceitos. A partir daí, Sócrates podia guiá-la para o
verdadeiro conhecimento, fazendo com que extraísse de si mesma a resposta.
Certa vez, um rico comerciante de Larissa chamado Mênon viajou até Atenas para aprender a
retórica dos sofistas. Ao encontrar Sócrates na praça, descalço e com ar de zombeteiro, não resistiu a
provocá-lo:
- “Poderias me dize, Sócrates, se a virtude pode ser ensinada? Ou se ela se adquire por exercício?”
“Muito me honras, estrangeiro, se julgas que sei se a virtude pode ser ensinada ou se ela se adquire
de outro modo. Na realidade, confesso-te, Mênon que não o sei. Aliás, nem sei o que é a virtude. E não
sabendo o que é uma coisa, como queres que saiba como ela é?”
Disponível em: www.geocities.com/Atenas/4539/socrat/Socrates.htm (Adaptado)
“Ele supõe saber alguma coisa e não sabe, enquanto eu, se não sei, tampouco suponho saber.
Parece que sou um pouco mais sábio que ele exatamente por não supor que saiba o que não sei.”
Sócrates
RECORDANDO A HISTÓRIA
Civilização Grega:
- Guerras Médicas
- Governo de Péricles
- Desenvolvimento da arte grega
- Hipócrates - medicina
- Heródoto - história
- Teatro – tragédias e comédias
PLATÃO DE ATENAS – (427 – 347 a.C)
Discípulo de Sócrates foi o responsável pela divulgação da obra de seu mestre. Dá à filosofia a sua
primeira grande sistematização. Especula sobre o homem e também a problemática do espírito e matéria,
alma e corpo. O mundo real, o mundo da luz, é o mundo das idéias, infinitas, eternas imutáveis. O nosso
mundo, com suas limitações, males, mudanças, é o mundo das aparências, das sombras.
Para explicar o seu pensamento filosófico e fazer com que as pessoas entendessem sua filosofia,
Platão criou uma série de mitos. Um dos mais importantes é, sem dúvida, uma alegoria, conhecida como
o mito da caverna, como objetivo de explicar a evolução do processo de conhecimento. Fundou em
Atenas uma escola conhecida como Academia.
O MITO DA CAVERNA
Imagine se você, desde o seu nascimento ficasse preso em uma caverna que possuísse apenas uma
abertura por onde penetrasse a luz do sol.
Segundo Platão, “a maioria dos seres humanos se encontra como prisioneira de uma caverna,
permanecendo de costas para a abertura luminosa e de frente para a parede escura do fundo. Devido a
uma luz que entra na caverna, o prisioneiro contempla na parede do fundo as projeções dos seres que
compõem a realidade. Acostumado a ver somente essas projeções, assume a ilusão do que vê, as sombras
do real, como se fosse a verdadeira realidade. Se escapasse da caverna e alcançasse o mundo luminoso da
realidade, ficaria livre da ilusão. Mas, estando acostumado às sombras, às ilusões, teria de habituar os
olhos à visão do real: primeiro olharia as estrelas da noite, depois as imagens das coisas refletidas nas
águas tranqüilas, até que pudesse encarar diretamente o Sol e enxergar a fonte de toda a luminosidade.”
COTRIM, Gilberto. Fundamentos da Filosofia. São Paulo: Saraiva, 2000. (Adaptado)
Para Platão, somente os filósofos, fiéis amantes da sabedoria, chegariam a sair da caverna e
atingiriam o mundo luminoso da realidade. A Filosofia é o único caminho capaz de conduzir o homem,
do mundo das sombras e das aparências, para o mundo das idéias.
“Será a violência justa, por ser rico o seu autor, e injusta, por ser ele pobre? Ou seria melhor dizer
que o chefe pode ou não lançar mão da persuasão, se rico ou pobre, ater-se à leis escritas ou livrar-se
delas, desde que governe utilmente? Não é nisso que reside a verdadeira fórmula de uma administração
correta da cidade, segundo a qual o homem sábio e bom administrará os interesses de seu povo? Da
mesma forma como o piloto que conduz o barco, longe de escrever um código mas tendo sempre sua
atenção voltada para o bem do navio e seu marinheiros, estabelece a sua ciência como lei e salva tudo o
que com ele navega, assim também, de igual modo, os chefes capazes de praticar esse método realizarão a
constituição verdadeira, fazendo de sua arte uma força mais poderosa do que leis. E não será verdade que
os chefes sensatos podem fazer tudo, sem risco de erro, desde que observem essa única e grande regra:
distribuir em todas as ocasiões, entre todos os cidadãos, uma justiça perfeita, penetrada de razão e ciência,
conseguindo não somente preservá-la, mais também, na medida do possível, torná-la melhor”?
PLATÃO, Político.
ARISTÓTELES DE ESTAGIRA – (384 – 322 a.C)
Aristóteles tem na história da filosofia uma influencia decisiva. Homem inteligente e realista,
discípulo de Platão reage contra o mestre, pois para ele o mundo da caverna é também real. O mundo das
idéias não existe, mas constitui sua essência. Fundou a sua própria escola, conhecida como Liceu.
A influencia do pensamento aristotélico vem até nossos dias. É considerado o verdadeiro fundador
da ciência moderna. Escreveu sobre todas as ciências. Criador da lógica é o autor dos primeiros estudos
sobre psicologia científica e historia da Filosofia, estudioso das ciências naturais, da metafísica e da
política.
Aristóteles, ao tratar de política não se interessa em idealizar uma cidade justa, ao contrário de seu
mestre, Platão. Para ele, o homem é um animal político, que vive naturalmente em sociedade. Classifica
três formas de governo: monarquia e despotismo (governo de um só indivíduo), aristocracia e oligarquia
(de alguns), e a democracia (governo de todos). Esclarece que cada regime político apresenta suas
vantagens e desvantagens, formas boas ou corrompidas.
O ANIMAL POLÍTICO
O homem é naturalmente um animal político, destinado a viver em sociedade e aquele que, por
instinto, e não por qualquer circunstância o inibe deixa de fazer parte de uma cidade, é um ser vil, ou
então superior ao homem. Tal indivíduo, como disse Homero, merece a censura cruel de ser um semfamília, sem-leis, sem-lar... Claramente se compreende a razão de ser o homem um animal sociável em
grau, mais elevado que as abelhas e todos os outros animais que vivem reunidos... Só o homem, entre
todos os animais, tem o dom da palavra; a voz é o sinal da dor e do prazer, e é, por isso que ela foi
também concedida aos outros animais... O que distingue o homem de um modo específico é que ele sabe
discernir o bem do mal, o justo do injusto, e assim todos os sentimentos da mesma ordem cuja,
comunicação constitui precisamente a família do Estado... Aquele que não pode viver em sociedade, ou
que nada precisa para bastar-se a si próprio, não faz parte do Estado; é um bruto ou um deus. A natureza
compele, assim, todos os homens a se associarem... Terrível calamidade é a injustiça que tem armas na
mão. As armas que a natureza dá ao homem são a prudência e a virtude. Sem a virtude, ele é o mais ímpio
e mais feroz de todos os seres vivos; nada mais sabe, por sua vergonha, que amar e comer. A justiça é a
base da sociedade. Chama-se julgamento a aplicação do que é justo.
ARISTÓTELES, A Política.
A POLÍTICA – PARADIGMA CLÁSSICO
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PLATÃO: dirigentes devem ser recrutados entre os mais “sábios” da sociedade.
ARISTÓTELES: o homem é um “animal” político.
Os gregos entendem o poder político como a distinção entre o chefe familiar e o chefe político.
ORGANICISTA: a política é vista no corpo social.
DEVE ESTAR VINCULADA À ÉTICA – a política não se separa da visão ética.
RELAÇÕES DE PODER – forma vertical
RECORDANDO A HISTÓRIA
- Surgimento do Estado – fato remoto – 2.500 a.C – com os gregos.
- Segundo Aristóteles, a origem do poder político estatal é a família. Exemplo da família aristotélica: pai,
mãe, filhos e escravos.
- Par Aristóteles, a natureza do surgimento do Estado é a necessidade de proteção e segurança.
- Crises políticas em Atenas.
- Helenismo.
TESTES DE VESTIBULAR
01- (UEL) Observe a charge e leia o texto a seguir.
“É evidente, pois, que a cidade faz parte das coisas da natureza, que o homem é naturalmente um
animal político, destinado a viver em sociedade, e que aquele que, por instinto, e não porque qualquer
circunstância o inibe, deixa de fazer parte de uma cidade, é um ser vil ou superiro ao homem [...].”
(ARISTÓTELES. A política. Tradução de: Nestor Silveira Chaves. Rio de Janeiro: Ediouro, 1997. p. 13.)
Com base no texto de Aristóteles e na charge, é correto afirmar:
a) O texto de Aristóteles confirma a idéia exposta pela charge de que a condição humana de ser
político é artificial e um obstáculo à liberdade individual.
b) A charge apresenta uma interpretação correta do texto de Aristóteles segundo a qual a política é
uma atividade nociva à coletividade devendo seus representantes serem afastados do convívio
social.
c) A charge aborda o ponto de vista aristotélico, de que a dimensão política do homem independe da
convivência com seus semelhantes, uma vez que o homem bastasse a si próprio.
d) A charge, fazendo alusão à afirmação aristotélica de que o homem é um animal político por
natureza, sugere uma crítica a um tipo de político que ignora a coletividade privilegiando
interesses particulares e que, por isso, deve ser evitado.
e) Tanto a charge quanto o texto de Aristóteles apresentam a idéia de que a vida em sociedade
degenera o homem, tornando-o um animal.
02- (UEL) “Uma vez que constituição significa o mesmo que governo, e o governo é o poder supremo em
uma cidade, e o mando pode estar nas mãos de uma única pessoa, ou de poucas pessoas, ou da maioria,
nos casos em que esta única pessoa, ou as poucas pessoas, ou a maioria, governam tendo em vista o bem
comum, estas constituições devem ser forçosamente as corretas; ao contrário, constituem desvios os casos
em que o governo é exercido com vistas ao próprio interesse da única pessoa, ou das poucas pessoas, ou
da maioria, pois ou se deve dizer que os cidadãos não participam do governo da cidade, ou é necessário
que eles realmente participem.”
(ARISTÓTELES. Política. Tradução de: Mário da Gama Kury. 3. ed. Brasília: Editora UNB, 1997. p. 91.)
Com base no texto e nos conhecimentos sobre as formas de governo em Aristóteles, analise as
afirmativas a seguir.
IA democracia é uma forma de governo reta, ou seja, um governo que prioriza o exercício do
poder em benefício do interesse comum.
IIA democracia faz parte das formas degeneradas de governo, entre as quais se destacam a
tirania e oligarquia.
IIIA democracia é uma forma de governo que desconsidera o bem de todos; antes porém, visa a
favorecer indevidamente os interesses dos mais pobres, reduzindo-se, desse modo, a uma
acepção demagógica.
IVA democracia é a forma de governo mais conveniente para as cidades gregas, justamente
porque realiza o bem do Estado, que é o bem comum.
a)
b)
c)
d)
e)
Estão corretas apenas as afirmativas:
I e III.
I e IV.
II e III.
I, II e III.
II, III e IV.
03- Leia os textos abaixo:
I“A constituição que nos rege nada tem a invejar aos outros povos; serve a eles de modelo e
não os imita. Recebe o nome de democracia, porque o seu intuito é o interesse do maior
número e não de uma minoria. Nos negócios privados, todos são iguais perante a lei; mas a
consideração não se outorga senão àqueles que se distinguem por algum talento. É o mérito
pessoal, muito mais do que as distinções sociais, que franqueia o caminho das honras. Nenhum
cidadão capaz de servir à pátria é impedido de fazê-lo por indigência ou por obscuridade de
sua posição. Livres em nossa vida pública, não pesquisamos com curiosidade suspeita a
conduta particular de nossos cidadãos... Somos cheios de submissão às autoridades
constituídas, assim como às leis, principalmente as que têm por objeto a proteção dos fracos e
as que, por não serem escritas, não deixam de atrair àqueles que as transgridem a censura
geral... Ouso dizê-lo, Atenas é a escola da Grécia”. (Discursos de Péricles – fragmento)
II“Alguns pretendem que o poder do senhor seja contra a natureza, que se um é escravo, e o
outro livre, é porque a lei o quer, que pela natureza não há diferença entre eles e que a servidão
é obra não da justiça, mas da violência. A família, para ser completa, deve compor-se de
escravos e de indivíduos livres. Com efeito, a propriedade é uma parte integrante da família,
pois sem os objetos de necessidade é impossível viver e viver bem. não se saberia, pois,
conceber lar sem certos instrumentos. Ora, entre os instrumentos, uns são inanimados, outros
vivos. O escravo é uma propriedade que vive, um instrumento que é o homem. Há homens
assim, feitos por natureza? Existem homens inferiores, tanto quanto a alma é superior ao corpo
e o homem ao bruto; o emprego das forças corporais é o melhor partido a esperar do seu ser:
são os escravos por natureza... útil ao próprio escravo, a escravidão é justa”.
ARISTÓTELES. Política.
Com base nos textos I e II nos seus conhecimentos sobre a Antigüidade grega, você pode concluir
que:
a) os textos I e II se contradizem, pois Péricles (texto I) afirma que “todos são iguais perante a lei”,
enquanto Aristóteles (texto II), ao discutir a existência do escravo, declara que “existem homens
inferiores”;
b) os textos I e II se contradizem, pois Péricles afirma que as leis “têm por objetivo a proteção dos
fracos”, enquanto Aristóteles diz que “se um é escravo, e o outro é livre, é porque a lei o quer”;
c) os textos não podem ser confrontados, pois Péricles viveu um período que antecede de muitos
séculos o nascimento de Aristóteles.
d) os textos I e II tratam de temas diferentes e não se contradizem, pois Péricles discute as relações
entre lei e cidadania (e os escravos não eram considerados cidadãos), enquanto Aristóteles
justifica a existência da escravidão;
e) o texto desmente o texto I, pois não pode haver democracia se observamos a existência de
escravos em Atenas.
04- (UNIFESP) “Nunca temi homens que têm no centro de sua cidade um local para reunirem-se e
enganarem-se uns aos outros com juramentos. Com essas palavras, Ciro insultou todos os gregos, pois
eles têm suas ágoras (praças) onde se reúnem para comprar e vender; os persas ignoram completamente o
uso de ágoras e não têm lugar algum com essa finalidade”;
(HERÓDOTO, Histórias, séc. V a.C).
O texto expressa:
a) a inferioridade dos persas que, ao contrário dos gregos, não conheciam ainda a vida em cidades;
b) a desigualdade entre gregos e persas, apesar dos mesmos usos que ambos faziam do espaço
urbano;
c) o caráter grego, fundamentado no uso específico do espaço cívico, construído em oposição aos
outros;
d) a incapacidade do autor de olhar com objetividade os persas e descrever seus costumes diferentes;
e) a complacência dos persas para com os gregos decorrente da superioridade de seu poderio
econômico e militar.
05- (UFU) “Todo aquele que ama o sabe conhece por experiência que, quando a filosofia toma conta de
uma alma, vai encontrá-la prisioneira do seu corpo, totalmente grudada a ele. Vê que, impelida a observar
os seres, não em si i por si, por meio desse seu caráter, paira por isso na mais completa ignorância. Mas
mais e dá ainda assim levado a colaborar da maneira mais segura no seu próprio encarceramento.”
PLATÃO, Fédon. Tradução de: Maria Tereza S. de Azevedo. Brasília: UnB, 2000, p. 66.
Após analisar o texto acima, assinale a alternativa correta.
a) A ignorância é fruto da observação do que é em si por si.
b) A filosofia para Platão é inata, não sendo necessário nenhum esforço de quem a ele se dedica para
obtê-la.
c) A alma encontra-se prisioneira do corpo por desejo do próprio homem.
d) A alma do filósofo encontra-se desde o início liberta do corpo como o demonstram, claramente, a
Alegoria da Caverna e o texto acima.
06- (UFU) Observe a seguinte afirmação: “Todo homem é animal”
É correto afirmar que, para Aristóteles, tal assertiva:
Ié uma enunciação verdadeira, pois parte de uma premissa também verdadeira;
IIé uma proposição verdadeira;
IIIrelaciona dois termos, sendo ambos, quanto às categorias, substâncias segundas;
IVé um raciocínio válido.
a)
b)
c)
d)
Assinale a ÚNICA alternativa que contém as assertivas verdadeiras.
I e IV.
I e II.
II e III.
II e IV.
DESAFIOS
01- “... aquele que não faz parte de cidade alguma [a pólis], por natureza e não por acaso, é inferior ou
superior a um homem”.
ARISTÓTELES Política. 1253 a.C.
Com base na leitura desse trecho e em outras informações presentes nessa obra de Aristóteles,
redija um texto, justificando, do ponto de vista do autor, essa afirmação.
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Leia os textos a seguir para responder ao desafio.
A VIRTUDE NÃO É DA NATUREZA NEM CONTRA A NATUREZA
(...) é igualmente manifesto que nenhuma das virtudes éticas se gera em nós por natureza: nenhum, com
efeito, dos seres naturais toma hábitos diversos: por exemplo, a pedra, levada pela natureza para baixo,
nunca se habituaria a alçar-se para cima, mesmo que alguém, para habituá-la, a atirasse para o alto dez
mil vezes; (...). Logo as virtudes não se geram nem por natureza nem contra a natureza, mas nascem em
nós, que, aptos pela natureza a recebê-las, nos tornamos perfeitos mediante o hábito.
ARISTÓTELES. A ética. Rio de Janeiro, Ediouro, s/d. p. 61-63.
ONTEM E HOJE
Para Platão, o real existia no plano das idéias e as coisas concretas, perceptíveis aos sentidos, eram
sombras ou projeções das idéias. Leia, a seguir, o mito da caverna, formulado por Platão.
MITO DA CAVERNA
Imaginem-se escravos algemados desde sempre com o rosto voltado para o fundo da caverna. O
Sol que brilha fora projeta a superfície rochosa as sombras dos que passam pela abertura. Os escravos, por
não terem tido outro tipo de contato com a realidade senão as sombras moventes, não admitem a
existência de outros seres além destes. Ocorre que um deles se liberta e busca a luminosidade exterior. No
primeiro instante, os raios de sol o cegam. Habituando-se, porém, à luz, percebe o mundo verdadeiro do
qual apenas conhecia as sombras, tidas como reais. A alegria da descoberta o faz retornar à prisão para
denunciar o mundo de ilusões em que todos vivem. Os companheiros, tomando-o como insolente, o
matam ofendidos. Na alegoria platônica, a caverna sombria é o nosso mundo cotidiano percebido pelos
sentidos. O Sol é a luz da verdade a iluminar essências eternas (as idéias) de que apenas percebemos
sombras móveis. Libertar-se das impressões sensoriais, para vermos as coisas como realmente são, é
tarefa dos filósofos. A turba ignara e revoltada, preferindo a ilusão dos sentidos à luz da verdade, silencia
os arautos da suprema sabedoria.
PLATÃO. Mito da Caverna. In: SCHULER Donaldo. Literatura grega. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1985. p. 78.
02- Analise o mito e, depois, reflita sobre as possibilidades de aplicação dele no mundo atual. Considere
também a seguinte questão: O conhecimento da realidade é acessível a todos ou é privilégio de uns
poucos “iluminados”?
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A Helenização e os Romanos
O HELENISMO
Como resultado das conquistas de Alexandre Magno, forma-se uma estrutura cultural, homogênea,
que influenciou a civilização romana. Após as conquistas, não houve o desaparecimento da cultura grega,
mas a sua expansão e difusão para além de suas fronteiras.
O Helenismo foi mais do que uma simples transposição das tradições gregas. Assim como outros
povos se adaptaram à cultura dos helenos, a própria cultura grega sofreu modificações. Politicamente
houve uma evolução para o despotismo. Na religião, os cultos orientais misturaram-se aos gregos,
desacreditando os tradicionais deuses do Olimpo.
Essas modificações contribuíram para uma nova interpretação dos gregos sobre suas idéias.
Conceitos relativos ao homem, a cidadania, a liberdade e a pólis foram mescladas com as novas culturas,
apesar de prevalecer os valores gregos. Desse modo a cultura helenística não é mais grega ou bárbara, e
sim cosmopolita.
O CETICISMO
O termo ceticismo (“olhar cuidadoso” ou “ser cuidadoso”), poderia equivaler a duvidar da
existência do conhecimento. Formulado por Pirro de Elida (360 – 270 a.C.), destaca que a verdade das
coisas é inacessível. Tudo é ilusório e passageiro. Só podemos assegurar aparências. Devemos suspender
todos os juízos sobre as coisas e nos calar. Não podemos alcançar a certeza de absolutamente nada. Mas,
o cético é incoerente, pois não fica calado. Duvida do conhecimento, mas quer a plena felicidade.
O EPICURISMO
Epicuro (341 – 270 a.C.) afirma a idéia de que a felicidade é prazer, basicamente a satisfação de
todos os desejos físicos. Para ele, o ser humano deve buscar o prazer em sua vida. Mas os prazeres podem
ser momentâneos ou duradouros, acarretar dor e sofrimento. Devem estar vinculados a virtudes, pois o
verdadeiro prazer é o da intelectualidade, associado ao controle das paixões.
O ESTOICISMO
Para os estóicos a busca da felicidade é o problema fundamental da existência humana. A
preocupação é como o indivíduo deve agir para viver bem, estando em sintonia com a sociedade.
Defendem que o homem deve resistir ao sofrimento e aos males da humanidade, devendo estabelecer
comportamentos dignos, ausentes de paixão e apatia. Essa filosofia foi fundada em Atenas por Zenão de
Cítio (336 – 263 a.C.).
RECORDANDO A HISTÓRIA
- Guerras Públicas (Roma – Cartago)
- Início do Império Romano
A CONTRIBUIÇÃO ROMANA
Quando as Guerras Púnicas entre Roma e Cartago terminara, praticamente todo o mundo
“civilizado” estava sob o domínio romano. Riquezas e imigrantes chegavam a Roma, juntamente com os
mais variados valores culturais.
A FILOSOFIA DE CÍCERO (106 – 43 a.C)
Ao contrário dos valores gregos, as atividades intelectuais dos romanos pecam pela falta de
originalidade. Na filosofia, predomina um pensamento eclético, mas com princípios moralizantes. O
único pensamento que pode ser comparado em profundidade aos dos gregos é o do direito.
O pensamento de Cícero é marcado pelo ecletismo. Sua preocupação é a relação dos homens em
sociedade. Assegura a necessidade de um conhecimento para equilibrar a relação entre os homens.
Admite a existência de um monoteísmo religioso, mas acha conveniente a prática do politeísmo.
O DIREITO
O direito foi à área do conhecimento mais aperfeiçoada pelos romanos.
É uma das grandes contribuições dos romanos pra a civilização ocidental. Desenvolveu-se na
medida em que uma das preocupações básicas do Estado era regular e normalizar o comportamento da
numerosa população do Império.
Podemos dividir o direito romano em dois ramos fundamentais: direito público (ius publicum), que se
referia às relações jurídicas em que o Estado atuava como parte, e direito privado (ius privatum), que se
referia às relações jurídicas entre particulares.
Essa classificação ainda é utilizada em nossos dias, da mesma forma que muitos preceitos do
direito romano constituem uma das fontes básicas de inspiração para os juristas modernos. Até hoje, é
muito freqüente os advogados e juízes citarem frases latinas, que refletem princípios jurídicos formulados
na antiga Roma.
FRASES E PRINCÍPIOS JURÍDICOS
Conheça algumas frases e princípios jurídicos utilizados até nossos dias:
1. In dúbio pro reo: se houver dúvida no momento da decisão, o juiz deve decidir em favor
do réu;
2. Ciuque suum: a cada um o que é seu, princípio fundamental da justiça;
3. Dura lex, sed lex: a lei é dura, mas é a lei;
4. Nullum crimen, nulla poena sine lege: não há crime nem pena sem prévia prescrição legal;
5. Actori onus probandi incumbit: compete ao autor o dever de provar suas alegações.
COTRIM, Gilberto. História e Consciência do Mundo. São Paulo: Saraiva, 1997. (Adaptado)
DESAFIOS
01- Leia este trecho:
Dependendo das condições anteriores, o mesmo vinho parece azedo pra aqueles que acabaram de
comer tâmaras ou figos, mas parece ser doce para aqueles que consumiam nozes ou grão-de-bico. E o
vestíbulo da casa de banhos esquente os que entram, mas esfria os que saem, se ficam esperando nele.
Dependendo de se estar com medo ou confiante, o mesmo objeto parece temível ou terrível ao covarde,
mas de forma alguma a alguém mais corajoso.
Dependendo de se estar em sofrimento ou em situação agradável, as mesmas coisas são irritantes
para os que sofrem, e agradáveis pra os que estão bem.
Se, então, não se pode preferir uma aparência à outra, com ou sem uma demonstração ou um
critério, as diferentes aparências que ocorrerem, em diferentes condições, serão indecidíveis. De modo
que a suspensão do juízo com relação à natureza dos existentes externos é introduzida também desse
modo.
SEXTO EMPÍRICO. Hipóteses pirrônicas I, 110-117.
Com base na leitura desse trecho, redija um texto caracterizando a corrente filosófica que defende
as afirmações nele contidas.
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02- (FUVEST) “Cada um deve observar as religiões e os costumes, as leis e as convenções, os dias
festivos e as comemorações que observavam nos dias de Dario. Cada um deve permanecer persa em seu
modo de vida, e viver em sua cidade (...). Porque eu desejo tornar a terra bastante próspera e usar as
entradas persas como pacíficos e tranqüilos canais de comércio.”
Edito de Alexandre para os cidadãos das cidades persas conquistadas: 331 a.C.
A partir do texto, responda:
a) Quem foi Alexandre e quais os objetivos de suas conquistas?
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b) Indique algumas características do “helenismo”;
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03- Cícero, o mais conhecido orador romano, viveu no tempo de César. Entre os vários escritos que
deixou, chegou até nós uma obra denominada. Das leis, escrita em forma de diálogo, da qual extraímos o
seguinte texto:
Quinto: [...] A verdade é que, quando se ensina o Direito Civil, não se ensina o modo de conhecer
a justiça, mas sim o modo de litigiar.
Marco: Não creiais nisso, Quinto. Pois o que nos leva ao litígio é antes a ignorância do que o
conhecimento do Direito. Mas voltaremos a tratar disso. Por enquanto, examinemos os princípios do
Direito. Eis que os autores mais sábios julgam ser convenientes começar pela lei e, parece-me, não se
enganam-se – conforme própria definição – a lei é a razão suprema da Natureza, que ordena o que se deve
fazer e proíbe o contrário. Esta mesma razão, uma vez confirmada e desenvolvida pela mente humana, se
transforma em lei. Por isso afirmam que a razão prática é uma lei cuja missão consiste em exigir as boas
ações e vetar as más. Julgam que esta lei deveria seu nome grego da idéia de dar a cada um o que é seu, e
eu julgo que o nome latino está vinculado à idéia de “escolher” pois sobre a palavra lei eles apresentam
um conceito de equidade e nós um conceito de escolha, e ambos são atributos verdadeiros da lei. Se tudo
isso é certo, como creio que é, de um modo geral, então para falar de Direito devemos começar pela lei; e
a lei é a força da Natureza, é o espírito e a razão do homem dotado de sabedoria prática, é o critério do
justo e do injusto. Mas, como esta discussão trata de assuntos de interesse do povo, às vezes teremos de
nos expressar de forma popular e imitar o povo que chama a lei a disposição escrita que permite ou proíbe
tudo o que deseja. Sem dúvida, para definir Direito, nosso ponto de partida será a lei suprema que
pertence a todos os séculos e já era vigente quando não havia lei escrita nem estado constituído.
CÍCERO. Das leis. São Paulo: Cultrix, 1967. p. 40-41.
Desde o século IVII, com Galileu e Newton, firmou-se a idéia de que e a lei é uma relação
necessária que deriva das coisas em si, portanto, uma relação objetiva, independente da vontade das
pessoas. Por exemplo, a lei da gravidade existe independentemente de você querer ou não. Já os antigos
pensavam de outra maneira. Para eles, a lei era algo imposto pelos homens ou deuses, uma espécie de
mandamento, conforme se constata nos trechos que destacamos no texto acima. Porém, Cícero nos fala de
um conceito de lei que é diferente do conceito popular. Esclareça essa diferença:
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Filosofia Medieval
A PATRÍSTICA – SANTO AGOSTINHO (354 – 430)
Chamamos de Patrística a influência dos padres da Igreja Católica e na cultura em geral. É um
período de confronto entre o pensamento cristão e as idéias pagãs. A proposta era conciliar a cultura pagã
com os ensinamentos do cristianismo. Não houve, porém, uma unicidade. Enquanto os padres latinos
condenavam a cultura pagã como nociva, os padres gregos consideravam os valores culturais pagãos
como válidos para o cristianismo.
Após o Edito de Milão (313 – Constantino), os pensadores aproveitaram a ocasião para esclarecer
o verdadeiro sentido das verdades cristãs. A filosofia dessa época foi dominada por Santo Agostinho.
Suas idéias se inspiram em Platão, por isso é considerado como o traço de união entre o pensamento
clássico e o pensamento cristão.
-
Eis alguns pensamentos da obra de Santo Agostinho:
Defendeu a superioridade da alma humana, a supremacia do espírito sobre o corpo. A alma foi criada
por Deus pra reinar sobre o corpo.
A verdadeira liberdade está na harmonia das ações humanas como a vontade de Deus. Ser livre é
servir a Deus. O pecado é a escravidão. A liberdade é própria da vontade e não da razão.
Sem a graça de Deus, o homem nada pode conseguir. Nem todas as pessoas são dignas de receber a
graça de Deus, somente os predestinados, os escolhidos para a salvação.
A vontade é uma força determinante da vida. Não há relação com a inteligência.
O mal é o estado em que o homem se afasta de Deus, de seus preceitos e de seu amor. O mal é
perversão.
O homem não pode conduzir livremente sua vida norma.
A fé nos faz crer em coisas que nem sempre compreendemos pela razão. A fé ilumina os caminhos da
razão.
O amor é a essência de Deus. É a energia que sustenta o comportamento humano.
Deus é a origem suprema da verdade.
SANTO AGOSTINHO E A REFLEXÃO SOBRE O MAL
“Senti e experimentei não ser para admirar que o pão, tão saboroso ao paladar saudável, seja
enjoativo ao paladar enfermo, e que a luz, amável aos olhos límpidos, seja odiosa aos doentes.
Se a vossa justiça desagrada aos maus, com muito mais razão lhes desagradam a víbora e o
caruncho que criastes bons e adaptados às partes inferiores dos seres criados, às quais os próprios
malvados são tanto mais semelhantes quanto são mais diferentes de Vós. Do mesmo modo são os maus
tanto mais parecidos com os elementos superiores da criação quanto mais se tornam semelhantes a Vós”.
SANTO AGOSTINHO, Confissões.
SANTO AGOSTINHO E A REFLEXÃO SOBRE O TEMPO
“É impróprio afirmar que os tempos são: pretérito, presente e futuro. Mas talvez fosse próprio
dizer que são: presente das coisas passadas, presente das presentes, presente das futuras. Existem, pois,
esses três tempos na minha mente que não vejo em outra parte: lembrança presente das coisas passadas,
visão presente das coisas presentes e esperança presente das coisas futuras”.
SANTO AGOSTINHO, Confissões.
RECORDANDO A HISTÓRIA
Alta Idade Média:
- Guerras constantes
- Descentralização política
- Decadência da produção e comércio
- Ruralização
- Clericalização
- Decadência cultural da Antigüidade Clássica
- Morte – experiência cotidiana
- Divisão do Império Romano (Ocidente en Oriente)
- Cristianismo: religião oficial
A IDADE DAS FÉS
Durante a Idade Média, as religiões se tornaram o centro do pensamento e da reflexão filosófica.
O texto a seguir mostra as principais características das religiões daquela época.
As condições feudais de produção reduziram ao mínimo os incentivos pra a criação de uma
ciência útil. Esses incentivos só viriam a aumentar depois de o comércio e a navegação, na fase final da
Idade Média, terem criado novas necessidades. O esforço intelectual seguiria em direções diferentes, em
grande parte ao serviço de uma característica radicalmente nova da civilização – as religiões organizadas.
Entre os séculos III e VII verificamos a ascensão do poderio e influencia do Cristianismo, do
Islamismo e do Budismo, na China e no Sudeste asiático.
A característica central das novas religiões organizadas é a coerência social da Igreja e do credo
que esta define e impõe que repousa sobre um ritual comum e sobre crenças filosóficas comuns. O fato de
todas essas religiões serem, na frase de Maomé, “Povos do Livro”, mostra-nos que implicam certo grau
de cultura literária difundida por uma classe numerosa, ainda que restrita. O fato de o ritual e de as
ministrações da Igreja serem extensíveis a todo povo mostra que, ao mesmo tempo, os sacerdotes
pretendiam conseguir o assentimento universal ou católico. Na verdade, as novas religiões, uma vez
ultrapassada a sua fase formativa, revolucionária, foram organizações estabilizadoras essenciais.
Pretendiam, muitas vezes inconscientes, mas às vezes com plena consciência, tornar a ordem social
aceitável à generalidade das pessoas mostrando-as como parte integrante de um universo imutável. Ao
mesmo tempo, a introdução de deuses, mitos, visões de uma vida futura, serviam de distrações e de
compensações celestes pra as injustiças desse mundo.
BERNAL, J. D. Ciência na história. Lisboa: Livros-Horizonte, 1976.
A ESCOLÁSTICA – SANTO TOMÁS DE AQUINO (1925 – 1274)
A escolástica é o ultimo período da história do pensamento cristão. Chama-se Escolástica porque
era a filosofia ensinada nas escolas.
O pensamento filosófico da Baixa Idade Média ainda era dominado pela religião, embora a
teologia de Santo Agostinho (natureza humana corrompida) fosse sendo substituída pelo livre-arbítrio de
Santo Tomás de Aquino. Professor da Universidade de Paris foi o mais influente filósofo escolástico.
Santo Tomás de Aquino tenta romper com a visão de homem agostiniana (pessimista), declarando
que o progresso do homem depende de se esforço e não apenas da vontade divina. Com isso procura
conciliar fé e razão, negando a teoria de Santo Agostinho baseada na predestinação.
Como ser racional, o homem poderia encontrar o caminho da salvação, evitando o pecado por
meio do livre-arbítrio. A noção de liberdade estava condicionada às concepções cristãs, permitindo ao
clero indicar o caminho correto da salvação, que deveria ser buscada em vida por meio da realização de
boas obras.
Quando a contribuição filosófica de Aristóteles chega ao Ocidente por intermédio dos árabes, a
Igreja manifestou o seu desacordo. A Igreja condena muitos trechos da obra aristotélica. Mas, Tomás de
Aquino buscou, em parte da filosofia grega, elementos racionais para explicar a fé cristã. Fez da filosofia
de Aristóteles um instrumento a serviço da fé cristã.
Em um de seus mais famosos livros, a Suma Teológica, propõe cinco provas de existência de
Deus:
1. O primeiro motor – que mova sem ser movido.
2. As causas da existência – Deus é a primeira.
3. Deus é necessário – é a causa e sua própria existência.
4. A perfeição – um ser máximo e perfeito é Deus.
5. A ordem do mundo – um ser inteligente ordena e controla todas as coisas.
Quem analisa as provas da existência de Deus elaborada por Tomás de Aquino, tem a preocupação
de estar diante de um racionalista. Para ele a filosofia deve servir à fé, submeter-se a ela. Quando a fé e a
razão estão em desacordo, é a razão que está equivocada. Tomás de Aquino não visualiza crises entre fé e
razão – a tal ponto que possibilita a demonstração da existência de Deus.
“Não só transportou para o domínio do pensamento cristão a filosofia de Aristóteles na sua
integridade, para fazer dela o instrumento de uma síntese teológica admirável, como também e ao mesmo
tempo superelevou e, por assim dizer, transfigurou essa filosofia. Purificou-a de todo o vestígio de
erro(...) sistematizou-as poderosa e harmoniosamente, aprofundando-lhe os princípios, destacando as
conclusões, alargando os horizontes, e se nada cortou, muito acrescentou, enriquecendo-a com o imenso
tesouro da tradição latina e cristã”.
Jacques Maritain
RECORDANDO A HISTÓRIA
Baixa Idade Média
- Cruzadas - expansionismo
- Renascimento comercial e urbano
- Unidade política – monarquias centralizadas
- Retomada dos valores culturais da Antigüidade Clássica
- Arte gótica
- Pré-Renascimento
- Ordens religiosas: Dominicanos e Franciscanos
O PAPEL DE SANTO TOMÁS DE AQUINO
Platão e Agostinho tinham dito o que era necessário para compreender os problemas da alma, mas
quando se tratava de saber o que era uma flor ou o nó nas tripas que os médicos de Salerno exploravam na
barriga de um doente, e por que era saudável respirar ar fresco em uma noite de primavera, as coisas se
tornavam obscuras. Tanto que era melhor conhecer as flores nas iluminuras dos visionários, ignorar que
existiam tripas, e considerar as noites de primavera uma perigosa tentação. Desse modo dividia-se a
cultura européia: quando se entendia o céu, não se entendia a terra. se alguém ainda quisesse entender a
terra deixando de lado o céu, a coisa ia mal. (...)
A essa altura os homens da razão aprendem dos árabes que há um antigo mestre (um grego) que
poderia fornecer uma chave para unificar esses membros esparsos da cultura: Aristóteles. Aristóteles
sabia falar de Deus, mas classificava os animais e as pedras, e se ocupava com o movimento dos astros.
Aristóteles sabia lógica, preocupava-se com psicologia, falava de física, classificava os sistemas políticos.
Mas Aristóteles, sobretudo, oferecia as chaves (e Tomás nisso saberá tirar dele o máximo) para inverter a
relação entre a essência das coisas (e isso significava aquela porção das coisas que pode ser entendida e
dita, mesmo quando as coisas não estão ali debaixo dos nossos olhos) e a matéria de que as coisas são
feitas (...)
Tomás não era nem herege nem revolucionário. Tem sido chamado de “concordista”. Para ele
tratava-se de afinar aquela que era a nova ciência da revelação, e de mudar tudo para que nada mudasse.
Mas nesse plano ele aplica um extraordinário bom senso e (mestre em sutilezas teológicas) uma
grande aderência à realidade natural e ao equilíbrio terreno. Fique claro que Tomás não aristoteliza
cristianismo, mas cristianiza Aristóteles. Fique claro que nunca pensou com a razão, e que, portanto, era
até possível dar-se ao luxo de raciocinar, saindo do universo da alucinação. E assim compreende-se Deus,
dos anjos, da alma, da virtude, da vida eterna: mas no interior desses capítulos tudo encontra um lugar,
mais que racional, “razoável”. (...)
Não se esqueça de que antes dele, quando se estudava o texto de um autor antigo, o comentador ou
o copista, quando encontrava algo que não concordava com a religião revelada, ou apagava as frases
“errôneas” ou as assimilava em sentido dubitativo, para pôr em guarda o leitor, ou as deslocavam para a
margem. O que faz Tomás, por sua vez? Alinha as opiniões divergentes, esclarece o sentido de cada uma,
questiona até o dado da revelação, enumera as objeções possíveis, tenta a mediação final. Tudo deve ser
feito em público, como pública era justamente a disputa na sua época: entra em função o tribunal da
razão.
Que depois, lendo com atenção, se descubra que em cada caso o dado de fé acabava prevalecendo
sobre qualquer outra coisa e guiava o deslindar da questão, ou seja, que Deus e a verdade revelada
precediam e guiavam o movimento da razão laica, isso foi esclarecido pelos mais agudos e aficionados
estudiosos tomistas, como Gilson. Nunca ninguém disse que Tomás era um Galileu, Tomás simplesmente
fornece à Igreja um sistema doutrinatário que a concilia com o mundo natural.
ECO, Umberto. Viagem na irrealidade cotidiana, p.335-36 e 339-40.
TESTES DE VESTIBULAR
01- (UFU) A teoria da iluminação divina, contribuição original de Agostinho à filosofia da cristandade,
foi influenciada pela filosofia de Platão, porém, diferencia-se dela em seu aspecto central.
Assinale a alternativa abaixo que explica essa diferença;
a) A filosofia agostiniana compartilha com a filosofia platônica do dualismo, tal como este foi
definido por Agostinho na Cidade de Deus. Assim, a luz da teoria da iluminação está situada no
plano supra-sensível e só é alcançada na transferência da existência terrena para a vida eterna.
b) A teoria da iluminação agostiniana como a filosofia platônica do dualismo, tal como sugere o
nome, está fundamentada na luz de Deus, luz interior dada ao homem interior na busca da verdade
das coisas que não são conhecidas pelos sentidos; esta luz é Cristo, que ensina e habita no homem
interior.
c) Agostinho foi contemporâneo da Terceira Academia, recebendo os ensinamentos de Arcesilau e
Carnéades, o que resultou na posição dogmática do filósofo cristão quanto à impossibilidade do
conhecimento da verdade, sendo o conhecimento humano apenas verossímil.
d) A alma é a morada da verdade, todo o conhecimento nela repousa. Assim, a posição de Agostinho
afasta-se da filosofia platônica, ao admitir que a alma possui uma existência anterior, na qual ela
contemplou as idéias, de modo que o conhecimento de Deus é anterior à existência.
02- (UFU) Agostinho escreveu a história de sua vida aos 43 anos de idade. Nas confissões, mais do que o
relato da conversão ao cristianismo, Agostinho apresenta também as teses centrais da sua filosofia. Tanto
é assim que, ao narrar os primeiros anos de vida e a aquisição da linguagem, o autor já fazia a teoria de
iluminação.
Vejamos:
“Não eram pessoas mais velhas que me ensinavam as palavras, com métodos, como pouco depois
o fizeram para as letras. Graças à inteligência que vós, Senhor, me destes, eu mesmo aprendi, quando
procurava exprimir os sentimentos do meu coração por gemidos, gritos e movimentos diversos dos
membros, para que obedecessem à minha vontade.”
AGOSTINHO. Confissões. Tradução de: J. de Oliveira Santos e A. Agostinho de Pina. São Paulo: Nova Cultural, 1987, p. 15.
Analise as assertivas abaixo:
A condição humana é mutável e perecível, por isso não pode ser a mestra da verdade que o
homem busca conhecer, ou seja, o conhecimento da verdade não pode ser ensinado pelo
homem, somente a Luz imutável pode conduzir à verdade.
IIA inteligência, dada por Deus, é idêntica à Luz imutável, que conduz ao conhecimento da
verdade. Ambas proporcionam a certeza de que o entendimento humano é divino e dotado da
mesma força do Verbo de Deus, que a tudo criou.
IIIA razão humana é iluminada pela luz interior da verdade. Assim, Agostinho formulou, pela
primeira vez, na história da filosofia, a teoria das idéias inatas, cuja existência e certeza são
independentes e autônomas em relação ao intelecto divino.
IVO conhecimento daquilo se dá exclusividade à inteligência não é alcançado com as palavras de
outros homens, porque elas soam de fora da mente de quem precisa aprender. Portanto, esta
verdade só é ensinada pelo mestre interior.
I-
a)
b)
c)
d)
Assinale a alternativa que contém as assertivas verdadeiras:
I e III.
I e IV.
II e III.
II e IV.
03- (UFU) Em O ente e a essência, Tomás argumenta sobre a existência de Deus, refutando teses de
outras doutrinas da filosofia escolástica. Com esse propósito ele escreveu:
“Tampouco é inevitável que, se afirmamos que Deus é exclusivamente ser ou existência, caiamos
no erro daqueles que disseram que Deus é aquele ser universal, em virtude do qual todas as coisas existem
formalmente. Com efeito, este ser que é Deus é de tal condição, que se lhe pode adicionar. (...) Por este
motivo afirma-se no comentário à nona proposição do livro Sobre as causas, que a individuação das causa
primeira, a qual é puro ser, ocorre por causa de sua bondade. Assim como o ser em comum em seu
intelecto não inclui nenhuma adição, da mesma forma não inclui no seu intelecto qualquer precisão de
adição, pois, se isto acontecesse, não poderia ser compreendido como ser, nele algo pudesse ser
acrescentado.”
AQUINO, Tomás. O ente e a essência. Tradução de: Luiz João Braúna. São Paulo: Nova Cultural, 1988, p 25. Coleção “Os
Pensadores”.
Tomás de Aquino está seguro de que nada se pode acrescentar a Deus porque:
a) sua essência, composta de essência e existência é auto-suficiente para gerar indefinidamente
matéria e forma, criando todas as coisas;
b) sua essência simples é gerada incessantemente. Embora não seja composta de matéria e forma,
multiplica-se em si mesma na pluralidade dos seres;
c) é essência divina, absolutamente simples e idêntica a si mesma, constituindo-se necessariamente,
em uma essência única;
d) é ser contingente, no qual essência e existência não dependem do tempo, por isso, gera a si mesmo
eternamente, dando existência à criaturas.
04- (UFU) Considerar o trecho abaixo.
“Quando, pois, se trata das coisas que percebemos pela mente (...), estamos falando ainda em
coisas que vemos como presentes naquela luz interior da verdade, pela qual é iluminado e de que frui o
homem interior.”
SANTO AGOSTINHO. Do Mestre. São Paulo: Abril Cultural, 1973, p. 320. (Os Pensadores).
Segundo o pensamento de Santo Agostinho, as verdades contidas na filosofia pagã provêm de que
fonte?
Assinale a alternativa correta;
a) da fonte de onde emanam as verdades cristãs, pois há oposição entre as verdades pagãs e as
verdades cristãs.
b) da mesma fonte de onde emanam as verdades cristãs, pois não há oposição entre as verdades
pagãs e cristãs.
c) de Platão, por ter chegado a conceber a Idéia Suprema do Bem.
d) de Aristóteles, por ter concebido o Ser Supremo como primeiro motor imóvel.
05- (UFU) Uma das tendências fundamentais de pensamento da Idade Média é a Escolástica. A
Escolástica caracteriza-se por vários elementos, tais, como:
a) A filosofia aristotélico – tomista, o pensamento de Descartes, o ensino trivium e quadrivium e o
pensamento de Santo Agostinho.
b) O pensamento de Patrística, a valorização da indagação empírica, as universidades e a filosofia
platônica.
c) O ensino do trivium e quadrivium, filosofia platônica, o pensamento de Descartes e as
universidades.
d) A influencia da filosofia grega, o ensino do trivium e quadrivium, as universidades e a filosofia
aristotélico-tomista.
Filosofia Moderna
“O Homem é o modelo do mundo”, declarou um dia Leonardo da Vinci. Com essa frase
praticamente sintetizamos o grande objetivo da Renascença. É o fim da Idade Média e o início da Idade
Moderna. Começamos a sentir a renovação e os ideais da cultura greco-romana: a busca da compreensão
da natureza. Temos presente um sentimento de maior liberdade e preocupação com o homem. É a ruptura
da era medieval. As rígidas estruturas religiosas são contestadas. Surge o Renascimento.
O declínio da influência católica, que se torna marcante desde o início do século IVI, coincide
com a ascensão dos comerciantes desde o final da Idade Média. Estes passaram a proteger e financiar as
artes e a cultura. Os artistas passaram a divulgar as suas idéias de liberdades e humanismo.
Entre as inúmeras novidades trazidas pela Renascença, está a descoberta de que a Terra não era o
centro do Universo – Heliocentrismo (em oposição ao Geocentrismo). Foi um grande golpe para a cultura
da época, baseada fundamentalmente em valores e ensinamentos cristãos. O mundo das certezas absolutas
tinha chegado ao fim. O desmoronamento das inúmeras teorias medievais deixa o homem com dúvidas.
Sua perplexidade é levada para os campos da filosofia. Descrente do passado, ele deseja recomeçar. Os
filósofos tinham inúmeras interrogações. E como responder a elas sem incorrer nos erros do passado? O
pensamento seria o único instrumento para dar essas respostas.
A filosofia Moderna interrompe o pensamento filosófico cristão, desenvolvendo suas doutrinas
sem se prender à Igreja. Revelava-se crítica e profana. O objetivo é alcançar a verdade somente com o
auxílio da razão e do conhecimento científico.
DO MUNDO FECHADO AO UNIVERSO INFINITO
Admite-se de maneira geral que o século XVII sofreu, e realizou, uma radicalíssima revolução
espiritual de que a ciência moderna é ao mesmo tempo a raiz e o fruto. Essa revolução pode ser descrita, e
foi de várias maneiras diferentes. Assim, por exemplo, alguns historiadores viram seu aspecto mais
característico na secularização da consciência, seu afastamento de metas transcendentes para objetivos
imanentes, ou seja, a substituição da preocupação do outro mundo e pela outra vida pela preocupação
com esta vida e com este mundo. para outros autores, sua característica mais assinalada foi a descoberta,
pela consciência humana, de sua subjetividade essencial e, por conseguinte, a substituição do objetivismo
dos medievos e dos antigos pelo subjetivismo dos modernos; outros ainda crêem que o aspecto mais
destacado, daquela revolução terá sido a mudança de relação entre a teoria e práxis, o velho ideal da vita
contemplativa, cedendo lugar ao da vita ativa. Enquanto o homem medieval e o antigo visavam à pura
contemplação da natureza e do ser, o moderno deseja a dominação e a subjugação.
Tais características não são de nenhum modo falsas, e certamente destacam alguns aspectos
bastante importantes da revolução espiritual – ou crise – do século IVII, aspectos que nos são
exemplificados e revelados, por exemplo, por Montaigne, Bacon, Descartes ou pela disseminação geral
do ceticismo e do livre pensamento.
Em minha opinião, no entanto, esses aspectos são concomitantes e expressões de um processo
mais profundo e mais fundamental, em resultado do qual o homem, como às vezes se diz, perdeu seu
lugar no mundo, ou dito talvez mais corretamente, perdeu o próprio lugar em que vivia e sobre o qual
pensava, e teve de transformar e substituir não só seus conceitos e atributos fundamentais, mas até mesmo
o quadro de referencia de seu pensamento.
Pode-se dizer, aproximadamente, que essa revolução cientifica e filosófica – é de fato impossível
separar o aspecto filosófico do puramente cientifico desse processo, pois um e outro se mostram
interdependentes e estreitamente unidos – causou a destruição do Cosmos, ou seja, o desaparecimento dos
conceitos válidos, filosófica e cientificamente, da concepção do mundo como um todo finito, fechado e
ordenado hierarquicamente (um todo no qual a hierarquia de valor determina a hierarquia e a estrutura do
ser, erguendo-se da terra escura, pesada e imperfeita, para a perfeição cada vez mais exaltada das estrelas
e das esferas celestes), e a sua substituição por universo indefinido e até mesmo infinito que é mantido
coeso pela identidade de seus componentes e leis fundamentais, e no qual todos esses componentes são
colocados no mesmo nível de ser. Isto por seu turno implica o abandono, pelo pensamento científico, de
todas as considerações baseadas em conceitos de valor, como perfeição, harmonia, significado e objetivo,
e, finalmente, a completa desvalorização do ser, o divórcio do mundo do valor e do mundo dos fatos.
KOYRÉ, Alexandre. Do mundo fechado ao universo infinito. Rio de Janeiro/São Paulo: Forense Universitário/Edusp, 1979.
p. 13 – 14-
NICOLAU MAQUIAVEL E O PRÍNCIPE
“Nasce daí uma questão: se é melhor ser amado que temido ou o contrário. A resposta é que seria
necessário ser uma coisa e outra; mas, como é difícil reuni-las, em tendo que faltar uma das duas é muito
mais seguro ser temido do que amado. Isso porque dos homens pode-se dizer, geralmente, que são
ingratos, volúveis, simuladores, tementes do perigo, ambiciosos de ganho; e, enquanto lhes fizeres bem,
são todos teus, oferecem-te o próprio sangue, os bens, a vida, os filhos, desde que como se disse acima, a
necessidade esteja longe de ti, quando esta se avizinha, porém, revoltam-se. E o príncipe que confiou
inteiramente em suas palavras, encontrando-se destituído de outros meios de defesa, está perdido: as
amizades que se adquirem por dinheiro, e não pela grandeza e nobreza de alma, são compradas, mas com
elas não se pode contar e, no momento oportuno, não se torna possível utilizá-las. E os homens têm
menos escrúpulo em ofender a alguém que se faça amar do que a quem se faça temer, posto que a
amizade é mantida por vínculo de obrigação que, por serem os homens maus, é quebrado em cada
oportunidade que a eles convenha; mas o temor é mantido pelo receio de castigo que jamais se
abandona”...
(MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. Rio de Janeiro: Bertrand, 1996, 1996, p. 96)
Nicolau Maquiavel (1469-1527) é um observador atento e participante da vida política da cidade
de Florença e, como embaixador, observa os acontecimentos de outros países. Vê como os governos se
mantêm e como são derrubados, e disso faz sua reflexão. Em sua principal obra, O Príncipe, defende a
separação entre política e moral, sendo inconciliáveis seus objetivos. Sua base moral é naturalista, oposta
à moral cristã. Reafirma a autonomia e a prioridade da política.
Segundo a sua concepção, a política e a arte de governar é um fenômeno puramente humano. O
Estado é o centro das atenções, sendo o Rei detentor do poder supremo e absoluto.
Sua obra O Príncipe (uma espécie de manual para governar) contribuiu para a organização de
justificativas para os governos absolutistas dos séculos XVII e XVIII, rompendo definitivamente com a
estrutura política medieval.
“A boa política consiste naquela que consegue atingir, não importa como, os resultados almejados
na busca do bem comum.”
Maquiavel
O PODER REAL SEGUNDO BOSSUET
“Três razões fazem ver que este governo é o melhor. A primeira é que é o mais natural e se
perpetua por si próprio. A segunda razão é que esse governo é o que interessa mais na conservação do
Estado e dos poderes que o constituem: o príncipe que trabalha para o seu Estado trabalha para os seus
filhos, e o amor que tem pelo seu reino, confundido com o que tem pela família, torna-se-lhe natural. A
terceira razão tira-se da dignidade das casas reais. A inveja, que se tem naturalmente daqueles que estão
acima de nós, torna-se aqui em amor e respeito; os próprios grandes obedecem sem repugnância a uma
família que sempre viram como superior e à qual não se conhece outra que se possa igualar. O trono real
não é o trono de um homem, mas o trono do próprio Deus. Os reis são deuses e participam de alguma
maneira da independência divina. O rei vê de mais longe e de mais alto, deve acreditar-se que ele vê
melhor, e devem obedecer-lhe sem murmurar, pois o murmúrio é uma disposição para a sedição”.
BOSSUET, Jacques Bénigne. Política tirada da Sagrada Escritura. In: FREITAS, Gustavo de. 900 textos e documentos de
história. Lisboa: Plátano, s.d. p. 201.
RECORDANDO HISTÓRIA
- Grandes Navegações
- Descobrimento da América e do Brasil
- Formação das Monarquias Nacionais
- Reformas Copernicana (Heliocentrismo)
THOMAS MORUS E A UTOPIA
Enquanto Maquiavel é um frio analista da realidade, outros pensadores projetam sonhos e utopias.
Thomas Morus (1418 – 1535), com a obra Utopia (lugar nenhum), relata uma sociedade em estado
perfeito onde não há propriedade privada, nem injustiças e perseguições religiosas. Morus analisa a
sociedade inglesa do século XVI mergulhada em uma situação desesperadora; a consolidação do poder
absoluta, riqueza e corrupção com uma minoria, escassez e pobreza com a maioria.
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Aspectos principais da sociedade idealizada por Thomas Morus:
Inexistência de propriedade privada – os bens pertencem a todos
Na há divisão do trabalho
O bem público está acima de tudo
Liberdade religiosa – não há apenas uma religião ou um Deus
O poder é exercido pelos mais sábios
O poder e os que o exercem devem ser transparentes
Satisfação plena da sociedade
FRANCIS BACON – SABER É PODER
Francis Bacon (1561-1626) nasceu em Londres e pertencia a uma família da lata burguesia.
Ocupou grandes cargos no governo inglês. É o iniciador do empirismo – “A experiência é a mãe da
ciência”, embora continue ligado à filosofia tradicional. A obra de Bacon busca renovar a pesquisa
científica. Eis os principais aspectos de sua obra:
 Sobre a natureza da pesquisa científica: deve o cientista, por meio da experiência, recolher
informações suficientes sobre a sua pesquisa, para que possa organizar noções gerais e leis universais.
 Sobre a divisão da ciência: classifica as ciências entre as que se baseiam na memória (história
natural), as que se baseiam na fantasia (poesia) e as que se baseiam na razão (a filosofia e a ciência
experimental).
 Sobre o fim da ciência: deve ajudar o homem a ter um controle mais perfeito sobre a natureza. Estudar
a ciência não para contemplá-la, mas para torná-la útil ao homem.
 Sobre o objeto da ciência: a causa das coisas naturais. A descoberta dos fins pode servir para louvar a
Deus, mas não para conquistar o domínio da humanidade. A ciência deve servir ao progresso das
civilizações.
 A questão do método: a necessidade de buscar um método que interprete a natureza. O método é o
indutivo – o qual ordena a experiência.
A REVOLUÇÃO COPERNICANA
A passagem da ciência medieval para a modernidade ocorreu com o Renascimento. Esse
movimento, que teve início na Itália no século XV, trouxe uma nova concepção para as artes e a ciência,
gerando uma nova compreensão do Universo e do papel do homem nesse Universo. Vários pensadores,
como Nicolau Copérnico falavam de suas teorias como hipóteses, para fugir da rejeição e perseguição da
Igreja Católica através da Inquisição. Assim, Copérnico simplifica o sistema astronômico medieval
baseado na teoria de Ptolomeu (Geocentrismo). O Heliocentrismo surge por meio de cálculo matemáticos
e não pela observação astronômica. As idéias de Copérnico provocaram mudanças em toda a ciência.
Mais tarde, sua teoria será aperfeiçoada por Kepler e defendida por Galileu Galilei e Giordano Bruno.
A chamada revolução copernicana foi uma revolução de idéias nos conceitos sobre o Homem e o
Universo. A Teoria Heliocêntrica teve conseqüências físicas e religiosas. O sistema de astronomia de
Copérnico não permitia a aceitação dos teoremas da física tradicional, ligados a Aristóteles. A teoria
Heliocêntrica, colocando a Terra em movimentação em relação aos outros planetas, anulava as posições
aristotélicas.
A Ciência Moderna começou com Galileu Galilei. A partir dele as teorias científicas não se
sustentavam na autoridade dos filósofos, nem dos dogmas da Igreja, devendo ter respaldo e aceitação
cientifica. Em 1616 a teoria de Galileu foi incluída pela Igreja na Lista dos Livros Proibidos (Index). É
aconselhado a se manter em silencio sobre suas teorias. Mais tarde é intimado a renegar as suas idéias:
“Eu Galileu Galilei, florentino, de setenta anos de idade, acusado de heresia, isto é, de haver
sustentado e acreditado que o Sol está no centro do mundo e imóvel, e que a Terra não está no centro, mas
se move; abjuro, amaldiçôo e detesto os citados erros e heresias, e juro que no futuro nunca mais direi
nem afirmarei, verbalmente nem por escrito, nada que proporcione motivo para tal suspeita a meu
respeito”.
As idéias de Galileu terão influencia em praticamente todos os campos da ciência até o início do
século XX.
RENÉ DESCARTES – “PENSO, LOGO EXISTO”
René Descartes (1596-1650) é considerado o fundador do racionalismo moderno. É o filósofo que
põe em dúvida as verdades estabelecidas pela Escolástica. “A razão seria o único caminho para o
conhecimento, excluindo todo o conhecimento baseado nas autoridades e tradições”. Devem-se a ele as
idéias de um novo conceito mecanicista do universo. Expressava que todo o mundo material, orgânico ou
inorgânico, pode ser definido em função da extensão e do movimento.
Físico e matemático francês, afirmava que, na filosofia, era necessário partir de algumas verdades
indiscutíveis, que não precisam ser demonstradas, para depois atingir verdades mais amplas. A intuição é
ponto de partida para o conhecimento. Disse que a dúvida universal é o ponto de partida de seu método:
“Enquanto queria pensar que tudo era falso, era preciso, necessariamente, que eu, que tinha tal
pensamento, fosse alguma coisa; e, observando que essa verdade ‘Penso, logo existo’ (Cogito ergo sum)
era tão sólida e tão certa que todas as mais extravagantes suposições dos céticos não eram capazes de
derrubá-la, considerei que podia recebê-la sem escrúpulo como primeiro princípio da filosofia que eu
procurava”.
DOUTRINAS PRINCIPAIS
 Preocupação dominante do filósofo: o ser humano, a capacidade de conhecer o mundo e sua
transformação.
 O único conhecimento válido é aquele que se encontra intato na alma e não provém dos sentidos.
 Quanto ao método: colocar em dúvida qualquer conhecimento que não demonstra clareza e distinção
(propriedades essenciais do conhecimento verdadeiro).
 O conhecimento racional: o universal e o necessário.
 O conhecimento de Deus: Deus existe; se não existisse, não teríamos a idéia de perfeição que existe
nele. A idéia de Deus é a inata, isto é, nasceu e foi conduzida desde o momento em que fomos criados.
 A felicidade: a hegemonia da razão sobre os instintos e as paixões.
 A moral: possibilita uma moral provisória (instrumentos da filosofia) e definitiva (a ciência do fim do
homem).
 A religião: embora católico praticante, separa inteiramente a filosofia da religião.
“A essência do homem consiste no pensamento”
René Descartes
RECORDANDO HISTÓRIA
- Fim do Renascimento Artístico
- Renascimento Científico
- Absolutismo e Mercantilismo
- Revolução Gloriosa na Inglaterra
PASCAL – A FRAGILIDADE DA RAZÃO
Blaise Pascal (1623-1662), filósofo francês, ferrenho crítico do racionalismo cartesiano, é contra
“o Deus dos filósofos e dos sábios”, um deus reprodutor do mundo, um deus mecanicista. O seu alvo é
Descartes e a concepção do método geométrico, o qual pretende reduzir tudo a idéias claras e distintas.
Para Pascal, esse método é válido apenas para as ciências exatas, pois para as ciências humanas
prevalecem idéias complexas carregadas de verdades. Não rejeita totalmente o método, mas a decisão de
aplicá-lo a toda e qualquer verdade.
Pascal foi um pensador que constatou a dualidade da natureza humana: a grandeza e a miséria. O
homem – bem e mal, digno de desprezo e respeito. Opõe uma desconfiança total na razão como modelo
de salvação do homem. A salvação não se encontra fora das verdades ensinadas no evangelho. A
racionalidade pode até tornar conhecimento dessa dualidade, mas nada pode fazer para superá-la.
Somente a fé em Deus pode superar esse dualismo, sendo a razão insuficiente para provar a existência de
Deus – “o supremo passo da razão está em reconhecer que há uma infinidade de coisas que a
ultrapassam”.
ESPINOSA – O RACIONALISMO ABSOLUTO
Filho de imigrantes judeus, sucessor de Descartes, denominado gênio da liberdade, Baruch
Espinosa, (1632-1677) declara que a filosofia é a ciência que soluciona o problema da vida. Precursor do
Iluminismo francês, luta pelos direitos do homem.
Destaca-se que o ser humano não é substância, nem corpórea, nem espiritual, mas um complexo
de fenômenos, derivados da substância única – Deus ou a natureza. A alegria e a tristeza são as paixões
fundamentais, sendo impossível ao homem livrar-se delas. É virtuoso o homem que consegue alcançar
um verdadeiro conhecimento de suas paixões. Mas o que é virtude? É ter idéias claras do que se passa em
nossas vidas, sua dinâmica, ou seja, a verdadeira liberdade do homem.
Espinosa foi vitima de inúmeras perseguições, sendo excomungado e deserdado pela família.
Desenvolveu um racionalismo radical, sendo defensor da separação entre Estado e a Igreja, religião e
política. Rejeita todo e qualquer tipo de supertição, seja filosófica, política ou teológica. Em sua obra, fez
várias interpretações da Bíblia, classificando-a como conteúdos escritos ligados a um determinado
momento da história. Conclui que são regras de comportamento organizadas em um contexto específico,
e que não constituem verdades absolutas.
Algumas de suas principais idéias:
 O homem é co-criador de seus problemas devido à sua imperfeição.
 Na vida humana tudo é interpretado segundo os valores e os desejos do próprio homem.
 Viver de forma correta e harmoniosa – somente segundo a harmonia da natureza – a própria expressão
visível de Deus.
 Em relação à Ética: os acontecimentos são racionalmente necessários. São espontâneos.
LEIBNIZ – A BUSCA DA HARMÔNIA
Nesse início de milênio, observamos os enormes esforços dos países europeus em busca de uma
unidade continental. O filósofo Leibniz é lembrado nesse momento, pois em sua época buscou caminhos
para encaminhar os soberanos europeus para a unicidade, principalmente para evitar as guerras que
devastaram a Europa.
Gottfried Wihelm Leibniz (1646-1716) tentou construir uma ciência universal, assim como
Descartes. Infelizmente nunca conseguiu. Dedicou-se à matemática, tornando-se um dos maiores
matemáticos do seu tempo. Contribuiu nas áreas de física e fez doutorado em direito. Sonhava em
harmonizar católicos e protestantes com o objetivo de reunificar os cristãos. Ocupou cargos públicos e
destacou-se como diplomata.
Alguns elementos sobre a sua teoria:


-
As verdades de razão e as verdades de fato:
Verdades de razão: conclusões obtidas pela análise lógica – pertencem ao domínio da lógica e da
matemática. – são eternas.
Verdades de fato: conclusões pela análise dos fatos – pertencem ao domínio das ciências. São
consideradas válidas para determinadas condições. Não podem ser demonstradas logicamente.
O mundo possível
Analisando as várias possibilidades de verdade, questiona se o mundo poderia ser diferente. Depende
de Deus. Somente ele pode fazer o melhor dos mundos possíveis. Deus é o criador desse mundo –
possível. Se há imperfeição no mundo (mal), é uma conseqüência da limitação do homem.
THOMAS HOBBES – A SOBERANIA
THOMAS HOBBES: CONCEPÇÃO NEGATIVA DO HOMEM
Obra: Leviatã (monstro marinho bíblico)
Objetivo: arrancar a sociedade do seu estado natural onde os homens devoravam uns aos outros
como se fossem feras. O objetivo era levar a sociedade a um patamar superior – sociedade civil – baseada
na lei e na ordem.
A ORIGEM DO ESTADO ESTÁ NO INDIVÍDUO
→ O INDIVÍDUO PARA THOMAS HOBBES
 Estado de natureza: selvagem
 Igual ao semelhante: intelectual e espiritualmente.
 Agressividade: negativismo humano.
 Paranóia: competitividade.
 Escravo de uma paixão: instinto.
→ O ESTADO PARA THOMAS HOBBES
 Não é harmonioso. Guerra de todos contra todos.
 Só com o surgimento do Estado, o homem poderá controlar seus instintos e suas paixões.
 A razão é a salvação do homem.
 Estado: terceiro poder. O homem renuncia a liberdade em favor do estado.
RELAÇÃO ENTRE ESTADO E SOCIEDADE
1o MOMENTO: THOMAS HOBBES
 Consolidação com o absolutismo monárquico (França, Inglaterra) – séc. XVII E XVIII.
 Lógica do estado absoluto: o indivíduo não tinha direitos.
 O indivíduo renuncia a seus direitos (com exceção do direito à vida).
 Intervenção do Estado.



HOBBES
o homem é negativo
o estado é positivo
o estado é o reino da razão
O DECLÍNIO DOS ESTADOS DO OCIDENTE
Thomas Hobbes escreveu no século IVII: a única coisa que nenhum Estado, nem mesmo o
Leviatã, pode é obrigar as pessoas a matarem ou estarem dispostas a ser mortas. No entanto, os Estados
modernos conseguiram fazer exatamente isso e não poucas vezes. Embora muitas vezes tenham
conseguido isso por alistamento compulsório, também o fizeram apelando a cada cidadão e convencendoo de que, se ele se identificasse com a coletividade deveria estar pronto para o ato supremo de abdicar de
sua liberdade de vida. A obediência voluntária ao Estado foi um elemento essencial na capacidade de
mobilizar as populações [...]
Esse processo desenrolou-se ao longo dos séculos e alcançou seu ápice em 1960, quando todos os
países do mundo, até mesmo os de capitalismo mais avançado, estruturam-se sob a forma de Estados
dotados dos mais amplos poderes. E isso vale, sobretudo para os Estados Unidos.
Essa tendência parece ter chegado ao seu limite. Não sei se houve uma inversão, mas em dúvida
ela perdeu impulso. [...] Não é o poder de Estado que foi restringido como parece na teoria. [...] Ele (o
Estado) perdeu, em certa medida, seu monopólio sobre os meios de coerção. Isso s explica em parte pela
disponibilidade de certos tipos de armamento, mas também por ter diminuído a relutância dos cidadãos
em utilizá-los, o que é bastante significativo. Em outras palavras, a mudança é que hoje os cidadãos estão
menos dispostos do que antes a obedecer às leis do Estado.
HOBSBAWN, Eric. O novo século. Entrevista com Antônio Polito. São Paulo: Companhia das Letras. 1999.
TESTES DE VESTIBULAR
01- (UFPR) Em 1516 foi publicado o livro Utopia, do humanista inglês Thomas Morus. A respeito das
idéias humanistas, é correto afirmar:
( ) Morus defendia a sociedade aristocrática inglesa; seu livro foi um elogio às elites e ao estilo de vida
dos nobres, sendo a ilha Utopia uma representação da Inglaterra.
( ) Os humanistas ingleses e dos Países Baixos escreveram críticas impiedosas à sociedade e aos vícios
humanos, aos homens da Igreja e aos maus governantes, como se pode ler, por exemplo, no livro O
Elogios da Loucura, de Erasmo.
(
) Uma das principais características do pensamento humanista é a crença na ligação entre
conhecimento e governo justo. Isso explica a divulgação de obras de aconselhamento dos príncipes e de
obras voltadas para a crítica social.
( ) Um elemento importante na formulação do pensamento humanista foi a defesa do bem público.
( ) Para os humanistas cristãos, a república perfeita era a república cristã fundada nas virtudes do povo
e do príncipe.
02- (UEL) “Que ninguém espere um grande progresso nas ciências, especialmente no seu lado prático, até
que a filosofia natural seja levada às ciências particulares e as ciências particulares sejam incorporadas à
filosofia natural. [...] De fato, desde que as ciências particulares se constituíam e se dispersaram, não mais
se alimentaram da filosofia natural, que lhes poderia ter transmitido as fontes e o verdadeiro
conhecimento dos movimentos, dos raios, dos sons, da estrutura e do esquematismo dos corpos, das
afecções e das percepções intelectuais, o que lhes teria infundido novas forças para novos progressos.”
(BACON, Francis. Novum Organum. Trad. de José Aluysio Reis de Andrade. 4 ed. São Paulo: Nova Cultural, 1988, p. 48.)
a) afirma que a única finalidade da filosofia natural é contribuir para o desenvolvimento das ciências
particulares;
b) defende que o que há de mais importante nas ciências particulares é o seu lado prático;
c) propõe que o progresso da filosofia natural depende de que ela incorpore as ciências particulares;
d) constata a impossibilidade de progresso no lado prático das ciências particulares;
e) vincula a possibilidade do progresso nas ciências particulares à dependência destas à filosofia
natural.
03- (UEL) “[...] a maneira pela qual Galileu concebe um método cientifico correto implica uma
predominância da razão sobre a simples experiência, a substituição de uma realidade empiricamente
conhecida por modelos ideais (matemáticos), a primazia da teoria sobre os fatos. Só assim é que [...] um
verdadeiro método experimental pôde ser elaborado. Um método no qual a teoria matemática determina a
própria estrutura da pesquisa experimental, ou, para retomar os próprios termos Galileu, um método que
utiliza a linguagem matemática (geométrica) para formular suas indagações à natureza e para interpretar
as respostas que ela dá.”
(KOIRÉ, Alexandre. Estudos de história do pensamento científico. Trad. de: Márcia Ramalho, 2. ed. Rio de Janeiro: Forense
Universitária. 1991. p. 74.)
a)
b)
c)
d)
e)
Com base no texto, é correto afirmar que o método científico de Galileu:
é experimental e necessita de uma instância teórica que antecede a experiência;
é um método segundo o qual a experiência interpreta a natureza;
é independente da experiência, pois a razão está afastada dela;
é um método no qual há o predomínio da experiência sobre a razão;
é um método segundo o qual a matemática determina a estrutura da natureza.
05- (UEL) “Tomemos [...] este pedaço de cera que acaba de ser tirado da colméia: ele não perdeu
ainda a doçura do mel que continha, retém ainda algo do odor das flores de que foi recolhido; sua
cor, sua figura, sua grandeza, são patentes; é duro,é frio, tocamo-lo e, se nele batermos, produzirá
algum som. Enfim, todas as coisas que podem distintamente fazer conhecer um corpo encontramse neste. Mas eis que, enquanto falo, é aproximado do fogo: o que nele restava de sabor exala-se o
odor se esvai, sua cor de modifica, sua figura se altera, sua grandeza aumenta, ele torna-se líquido,
esquenta-se, mal o podemos tocar, e embora nele batamos, nenhum som produzirá. A mesma cera
permanece após essa modificação? Cumpre confessar que permanece: e ninguém o pode negar. O
que é, pois, que se conhecia deste pedaço de cera com tanta distinção? Certamente não pode ser
nada de tudo o que notei, nela por intermédio dos sentidos, visto que todas as coisas que se
apresentavam ao paladar, ao olfato, ou à visão, ou ao tato, ou à audição, encontravam-se mudadas
e, no entanto, a mesma cera permanece.”
(DESCARTES, René.KOIRÉ, Alexandre. Meditações. Trad. de: Jacó Guinsburg e Bento Prado Júnior. São Paulo:
Nova Cultural. 1996. p. 272.)
Com base no texto, é correto afirmar que para Descartes:
a) os sentidos nos garantem o conhecimento dos objetos, mesmo considerando as alterações em sua
aparência;
b) a causa da alteração dos corpos se encontra nos sentidos, o que possibilita o conhecimento destes;
c) a variação no modo como os corpos se apresentam aos sentidos revela que o conhecimento destes
excede o conhecimento sensitivo;
d) a constante variação no modo como os corpos se apresentam aos sentidos comprova a inexistência
destes;
e) a existência e o conseqüente conhecimento dos corpo têm como causa os sentidos.
05- (UEL) “A idéia ilusória da vontade livre deriva de percepções inadequadas e confusas; a liberdade,
entendida corretamente, no entanto, não é o estar livre da necessidade, mas sim a consciência da
necessidade”.
( SCRUTON, Roger. Espinosa.Trad. de: Angélica Elisabeth Könke. São Paulo: Unesp, 2000. p. 41.)
Com base no texto, e nos conhecimentos sobre liberdade em Espinosa, considere as afirmativas a
seguir.
IIIIIIIV-
A liberdade identifica-se com escolha voluntária.
A liberdade significa a capacidade de agir espontaneamente, segundo a causalidade interna do
sujeito.
A liberdade e a necessidade são compatíveis.
A liberdade baseia-se na contingência, pois se tudo no universo fosse necessário não haveria
espaço para ações livres.
Estão corretas apenas as afirmativas:
a)
b)
c)
d)
e)
I e II.
I e IV.
II e III.
I, II e IV.
II, III e IV.
06- (UFU) No escrito publicado postumamente, Regras para a orientação do espírito, Descartes fez o
seguinte comentário:
“Mas, toda vez que dois homens formulam sobre a mesma coisa juízos contrários, é certo que um,
ou outro, pelo menos, esteja enganado. Nenhum dos dois parece mesmo ter ciência, pois, se as razões de
um homem fossem certas e evidentes, ele as poderia expor ao outro de maneira que acabasse por lhe
confessar o entendimento.”
DESCARTES, René. Regras para a orientação do espírito. Trad. de: Maria Ermantina Galvão. São Paulo: Martins Fontes,
1999, p. 6-7.
Para alcançar a verdade das coisas, isto é, o conhecimento certo e evidente, é necessário um
método composto de regras muito simples que evitem os enganos e as opiniões prováveis. Segundo
Descartes, somente duas ciências podem auxiliar na fundamentação do método para a investigação da
verdade. São elas:
a) teologia e filosofia
b) mecânica e física
c) filosofia e filologia
d) aritmética e geometria
07- (ENEM) “(...) Depois de longas investigações, convenci-me por fim de que o Sol é uma estrela fixa
rodeada de planetas que giram em volta dela e de que ela é o centro e a chama. Que, além dos planetas
principais, há outros de segunda ordem que circulam primeiro como satélites em redor do Sol. (...) Não
duvido de que os matemáticos sejam da minha opinião, se quiserem dar-se ao trabalho de tomar
conhecimento, não superficialmente, mas durma maneira aprofundada, das demonstrações que darei nesta
obra. Se alguns homens ligeiros e ignorantes quiserem cometer contra mim o abuso de invocar alguns
passos da Escritura (sagrada), a que torçam o sentido, desprezarei os seus ataques: as verdades
matemáticas não devem ser julgadas senão por matemáticos”.
(COPÉRNICO, N. De Revolutionibus orbium caelestium).
“Aqueles que se entregam à prática sem ciência são como o navegador que embarca em um navio
sem leme nem bússola. Sempre a prática deve fundamentar-se em boa teoria. Antes de fazer de um caso
uma regra geral, experimente-o duas ou três vezes e verifique se as experiências produzem os mesmos
efeitos. Nenhuma investigação humana pode-se considerar verdadeira ciência se não passa por
demonstrações matemáticas”.
(VINCI, Leonardo da. Carnets).
a)
b)
c)
d)
e)
O aspecto a ser ressaltado em ambos os trechos para exemplificar o raciocínio moderno é:
A fé como guia das descobertas.
O senso crítico para se chegar a Deus.
A limitação da ciência pelos princípios bíblicos.
A importância da ciência e da observação.
O princípio da autoridade e da tradição.
08- (UFU) “Portanto, um príncipe de pouco para não ser obrigado a roubar seus súditos; para poder
defender-se; para não se empobrecer, tornando-se desprezível; para não ser forçado a tornar-se rapace; e
pouco cuidado lhe dê a pecha de miserável; pois este é um dos defeitos que lhe dão a possibilidade de
bem governar”.
MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. São Paulo: Nova Cultural, 1987. Coleção Os Pensadores. P. 66.
Assinale a alternativa que interpreta corretamente o pensamento do filósofo florentino.
a) O príncipe não precisa roubar os súditos, porque a ele é reservada a fortuna, toda riqueza possível
de ser acumulada graças à capacidade de poupar os tesouros. Esta definição de fortuna, cunhada
por Maquiavel, é típica da época em que havia o apego às coisas materiais, especialmente, a prata
e o ouro da América.
b) A visão política de Maquiavel era a mesma dos seus contemporâneos, favorável ao poder absoluto
dos governantes e defensora da opressão do Estado sobre os súditos, o que resultou na
manutenção do Estado feudal, caracterizado pela expropriação da sociedade, por meio de tributos
elevados e injustos.
c) A defesa da sobriedade administrativa do príncipe evidencia a forte ligação que unia Maquiavel à
Igreja Católica, ambos imbuídos na defesa do poder divino dos soberanos. Prova disso é que, em
seu livro O Príncipe, Maquiavel exorta o novo príncipe a ser sempre impiedoso, fiel, humano,
integro e religioso.
d) Maquiavel identifica o príncipe com o homem de ação, cujo caráter é formado pela ética que lhe
permite o uso dos meios apropriados para a organização do seu Estado; o novo príncipe deve ser
corajoso e inteligente, evitando a opulência e a ostentação em favor de seu poder político.
09- (UEL) “O maquiavelismo é uma interpretação de O Príncipe de Maquiavel, em particular a
interpretação segundo a qual a ação política, ou seja, a ação voltada para a conquista e conservação do
Estado, é uma ação que não possui um fim próprio de utilidade e não deve ser julgada por meio de
critérios diferentes dos de conveniência e oportunidade.”
(BOBBIO, Norberto. Direito e Estado no pensamento de Emanuel Kant. Trad. de: Alfredo Fait. 3. ed. Brasília: Editora da
UnB, 1984. p. 14.)
a)
b)
c)
d)
e)
Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, para Maquiavel o poder político é:
independente da moral e da religião, devendo ser conduzido por critérios restritos ao âmbito
político;
independente da conveniência e oportunidade, pois estas dizem respeito à esfera privada da vida
em sociedade;
depende da religião, devendo ser conduzido por parâmetros ditados pela Igreja;
dependente da ética, devendo ser orientado por princípios morais validos universal e
necessariamente;
independente das pretensões dos governantes de realizar os interesses do Estado.
DESAFIOS
01- (UFMG) Leia os trechos:
TRECHO 1
“Senhora, algumas vezes eu coloquei a mim mesmo uma dúvida: saber se é melhor estar alegre e
contente, imaginando que os bens que possuímos são maiores e mais estimáveis do que eles são e
ignorando os que nos faltam, ou não parando para considerá-los, ou se é melhor ter mais consideração e
saber, para conhecer o justo valor de uns e de outros, e com isto tornar-se mais triste. Se eu pensasse que
o soberano bem fosse a alegria, eu nunca duvidaria de que deveríamos dedicar-nos a tornarmo-nos alegres
a qualquer preço, e eu aprovaria a brutalidade daqueles que afogam suas mágoas no vinho ou as atordoam
com o fumo. Mas eu distingo entre o soberano bem, que consiste no exercício da virtude[...] e a satisfação
do espírito que acompanha esta posse. É por isto que é uma maior perfeição conhecer a verdade, mesmo
que desvantajosa a nós, que ignorá-la, e eu confesso que é melhor estar menos alegre e ter mais
conhecimento”.
DESCARTES, R. Carta a Elizabeth, de 6 de outubro de 1645.
TRECHO 2
“Uma senhora vitoriana, mulher de um bispo, ficou famosa devido a um comentário que fez sobre
a evolução. Não era tanto a respeito da circunspecta. A origem das espécies (1859), de Darwin, mas sobre
o beligerante livro de T. H. Huxley. O lugar do homem na natureza (1863). O jovem defensor de Darwin
afirmara que o homem “não está separado dos animais por barreiras estruturais maiores do que aquelas
que separam os animais uns dos outros”. Ao ouvir isso, a referida senhora mostrou-se perfeitamente
integrada na cultura: “Descender de macacos! Meu caro, esperamos que não seja verdade, mas se for,
rezemos para que não se fique sabendo!”
SHATTUCH, Roger, Conhecimentos proibido. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 16-17.
Indique e analise a posição expressa, em cada um desses trechos, com relação à busca da verdade.
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02- (FMG) Leia estes trechos:
TRECHO 1
Afinal, que é o homem dentro da natureza? Um nada em relação ao infinito; um tudo em relação
ao nada; um meio entre nada e tudo. Infinitamente incapaz de compreender os extremos, tanto o fim das
coisas como seus princípios permanecem invencivelmente ocultos num segredo impenetrável, e é-lhe
igualmente impossível ver o nada de onde saiu e o infinito que o envolve.
Eis o nosso estado verdadeiro, que nos torna incapazes de saber com segurança e de ignorar
totalmente. Vagamos em um meio vasto, sempre incertos e flutuantes, empurrados de um extremo ao
outro. [...] É o estado que nós é natural e, no entanto, nenhum será mais contrário à nossa inclinação.
(Br72/La 199 PASCAL, B. Pensamentos)
TRECHO 2
A grandeza do homem é grande na medida em que se conhece miserável. Uma árvore não se
conhece miserável. É, pois, ser miserável conhecer-se miserável, mas é ser grande conhecer que se é
miserável.
(Br397/La 114 PASCAL, B. Pensamentos)
Com base na leitura desses trechos e em outras idéias contidas nesta obra de Pascal, redija um
texto, desenvolvendo dois aspectos concernentes à idéia de condição humana.
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03- (UNICAMP) “Todo o poder vem de Deus. Os governantes, pois, agem como ministros de Deus e
seus representantes na terra. Conseqüentemente, o trono real não é o trono de um homem, mas o trono do
próprio Deus”.
BOSSUET, Jacques. Política tirada das palavras da sagrada escritura, 1709.
“Que seja prefixada à Constituição uma declaração de que todo o poder é originalmente concedido
ao povo e, conseqüentemente, emanou do povo”.
(Emenda constitucional proposta por Madison em 08 de junho de 1789)
a) Explique a concepção de Estado em cada um dos textos.
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b) Qual é a relação entre indivíduo e Estado em cada um dos textos?
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04- “Lê-te a ti mesmo. [...] quem quer que olhe para dentro de si mesmo e examine o que faz quando
pensa, opina, raciocina, espera, receia, etc., e por que motivos o faz, poderá por esse meio ler e conhecer
quais são os pensamentos e paixões de todos os outros homens, em circunstancias idênticas.”
Na introdução de sua obra Leviatã, Thomas Hobbes demonstra a postura radical a ser tomada pra a
organização da sociedade e o poder do Estado. A que postura ele se refere? Comente nas linhas abaixo.
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05- Escreva, nas linhas abaixo, o que podemos compreender a partir das idéias de Espinosa e Leibniz a
respeito a Deus:
“Deus criou o melhor dos mundos possíveis.”
(Leibniz)
“Deus, ou a natureza?”
(Espinosa)
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REFERÊNCIAS
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4. CHALMERS, Alan. A fabricação da ciência. São Paulo: Ed. Unesp, 1994.
5. CHAUÍ, Marilena. Introdução à história da filosofia, dos pré-socráticos e Aristóteles. 2 ed. São
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6. COELHO NETTO, José Teixeira. O que é Indústria cultural. São Paulo: Brasiliense, 1980.
(Coleção Primeiros Passos).
7. COMMELIN, P. Mitologia grega e romana. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
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11. GRIMAL, Pierre. A mitologia grega. São Paulo: Brasiliense, 1987.
12. JAPIASSU, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de filosofia. Rio de Janeiro: Jorge
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13. JASPERS, Karl. Introdução ao pensamento filosófico. São Paulo: Cultrix, 1971.
14. KNELLER, George F. A ciência como atividade humana. São Paulo, Edusp; Rio de Janeiro: Zahar,
1980.
15. KOYRÉ, Alexandre. Do mundo fechado ao universo infinito. Rio de Janeiro: Forense Universitária,
2001.
16. LEBRUN, Gerard. O que é poder? 14 ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. (Coleção Primeiros Passos).
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Janeiro: Jorge Zahar, 1997.
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20. REZENDE, Antonio (org.). Curso de filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
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22. VERNANT, Jean-Pierre. Mito e pensamento entre os gregos. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.
GABARITOS
A Evolução da Pólis Grega
02- B
03- C
04- D
Os Pré-Socráticos
01- C
02- B
03- D
04- A
05- A
06- B
07- B
A Consolidação da Filosofia
01- D
02- C
03- D
04- C
05- C
06- C
Filosofia Medieval
01- B
02- B
03- C
04- B
05- D
Filosofia Moderna
01- F, V, V, V, V.
02- E
03- A
04- C
05- C
06- D
07- E
08- D
09- A
ANOTAÇÕES
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