Francisco de Sousa Andrade Os movimentos sindicais e corporativos como atores da democracia Projeto de pesquisa apresentado ao Programa de PósGraduação do Cefor como parte das exigências do curso de Especialização em Instituições e Processos Políticos do Legislativo Brasília – 2007 1 IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO Título: Os movimentos sindicais e corporativos como atores da democracia Autor: Francisco de Sousa Andrade Finalidade do projeto: Projeto de pesquisa apresentado ao Programa de Pós-Graduação do Cefor como parte das exigências do curso de Especialização em Instituições e Processos Políticos do Legislativo Instituição: Centro de Formação, Treinamento e Aperfeiçoamento da Câmara dos Deputados – Cefor Data: Brasília, março/2007 Orientador: Antônio Teixeira Barros CENTRO DE FORMAÇÃO, TREINAMENTO E APERFEIÇOAMENTO 2 2 APRESENTAÇÃO DO TEMA O projeto de pesquisa ora em elaboração resulta num primeiro momento das contradições históricas que se travam no Brasil, como de resto em todo o mundo ocidental, com a crise de emergência dos problemas de desagregação econômico-social da ex-União Soviética em fins da década de 1980, culminando com a queda do muro de Berlim (9 de novembro de 1989), e com as lutas nacionalistas e de independência dos países do leste europeu, aos quais, em face do regime político adotado denominou-se chamar de países do “socialismo real”. O rompimento desse marco referencial que norteava a causa-luta de milhões de pessoas, como perspectiva real de transformação da sociedade abalou e resultou numa profunda crise de identidade para a maioria as organizações de esquerda no mundo. Nesse contexto, os sindicatos de trabalhadores, em particular aqueles que se constituíram a partir da utopia contestatória, das lutas de classe, do desejo de libertação e de igualdade, de referências históricas ainda mais longínquas, daqueles movimentos e sonhos que antes embalaram a revolução francesa de 1789, e caminharam até a revolução de outubro de 1917, na Rússia czarista, foram - entendendo seus dirigentes e militantes como protagonistas, nesse particular momento da história - instituições das mais atingidas e impactadas, talvez tanto quanto os próprios partidos comunistas ou de linha marxista. Como participante privilegiado daquela seara em que se desenrolaram os acontecimentos políticos e sociais dos fins dos anos 1980, daqueles ventos fortes que alguns autores, como o norteamericano Francis Fukuyama e o italiano Gianni Vattimo (defendiam a teoria de “o fim da história”),1 acreditavam estar varrendo a própria história, encontrava-se o autor no elenco de atores sociais diretamente envolvidos, pois militava no então Partido Comunista Brasileiro – PCB, fundado em 1922, e atuava como dirigente eleito, na Secretaria Geral do Sindicato dos Bancários de Brasília – entidade que à época reunia entre seus quadros de filiados em torno de 18 mil bancários, ou cerca de noventa por cento da categoria no Distrito Federal, e na qual pretende focar e particularizar o trabalho aqui proposto. A crença de que as lutas e conquistas sindicais eram um passo concreto no caminho das transformações sociais em nosso país, fora, de fato, o elemento que, embora naquele momento fosse 1 A teoria iniciada no século XIX por Georg Wilhelm Friedrich Hegel e posteriormente retomada, no último quartel do século XX por Francis Fukuyama e Gianni Vattimo, entre outros, sustentava o fim dos processos históricos caracterizados como processos de mudança, que para Hegel isso iria acontecer no momento em que a humanidade atingisse o equilíbrio, representado, de acordo com ele, pela ascensão do liberalismo e da igualdade jurídica, mas com prazo indeterminado para ocorrer. CENTRO DE FORMAÇÃO, TREINAMENTO E APERFEIÇOAMENTO 3 ainda muito pouco conscientizado politicamente, impulsionou o autor a ingressar na vida sindical e política no início da década mencionada no parágrafo anterior. Por outro lado, o romantismo e a paixão que tomavam conta do país, reacendendo a mobilização popular para pôr fim à ditadura militar que já se arrastava por vinte anos, na bela campanha pelas Diretas em 1984, temperavam o caldo de cultura naquelas circunstâncias da consciência nacional sedenta por liberdade. É pois, subtraindo desse rico e curto período da história que será delineado o cenário no qual se analisará as relações dos sindicatos e associações de classe de trabalhadores no Brasil, cuja entidade referencial será o Sindicato dos Bancários de Brasília, entre as décadas de 1980 e 1990 – seus dirigentes e militantes, - com o Parlamento, o governo e a sociedade. Por fim, se fará um balanço das lutas e mobilizações extra-corporativas em que os Sindicatos se fizeram presentes, no caminho da melhoria do desempenho institucional, do aprofundamento e da consolidação da democracia no Brasil. 3 OBJETO DE ESTUDO As relações e o comportamento do movimento sindical no período referenciado, a partir do objeto de sua finalidade – a defesa dos interesses específicos, de classe -, refletindo princípios de caráter ideológico, que norteiam as lutas por transformação social, aspectos que podem ser conducentes a antagonismos intestinais, na etnografia e experiências acumuladas no período em análise pelo autor, no Sindicato dos Bancários de Brasília. Em apoio, serão realizadas pesquisas documentais, enfocando e comparando as concepções políticas dos atores, relacionamento com as demais organizações sociais, nas lutas econômicas e nas de caráter político-institucional (avanços, recuos, disputas internas), destacando a intervenção sindical por meio da pressão exercida junto ao Congresso Nacional, especialmente no período constituinte recente de 1987/1988. 4 PROBLEMA DE PESQUISA A historia da construção das organizações sindicais no Brasil remonta a fins do século XIX, momento em que já se registraram algumas manifestações de protesto, ainda que absolutamente isoladas e desprovidas de um caráter político e orgânico mais elaborado. Foram lutas contra as formas mais ásperas de exploração do trabalho humano, em que as relações de emprego tinham como modelo basicamente os modos das relações escravistas, da servidão, de jornadas 4 CENTRO DE FORMAÇÃO, TREINAMENTO E APERFEIÇOAMENTO extenuantes, do trabalho infantil sem nenhuma proteção, da ausência, muitas vezes, indistinta de direitos. O Brasil foi o último país da América Latina a abolir a escravatura, a despeito da proibição do tráfico internacional de escravos - em 1831, por pressão inglesa, acabou sendo assinado um acordo internacional proibindo o tráfico de escravos para o Brasil, acordo que pela pressão maior das forças hegemônicas do Estado Nacional nascido em 1822 jamais foi cumprido. O país de fato, somente veio a acatar esta exigência em maio de 1888, com a Lei Áurea, após um semnúmero de revoltas, fugas em massa para os quilombos e lutas intensas apoiadas e empreendidas pelo movimento abolicionista, composto pela intelectualidade da época e por parte do operariado urbano que então ia se constituindo, especialmente no Rio de Janeiro e em São Paulo. Após a proclamação da República, intensificaram-se ainda mais os movimentos migratórios, já que era grande a necessidade de mão-de-obra, com o fim do regime escravagista, especialmente para as lavouras de café no interior paulista. Os italianos, em fins do século XIX e início do século XX, formaram os maiores grupos migratórios, que se destinaram, conforme já mencionamos, principalmente para o Estado de São Paulo. Foram justamente desses trabalhadores, que aqui chegaram já “contaminados” pelas lutas sindicais em seu país de origem, as maiores contribuições para a organização sindical no Brasil. As primeiras greves de que se tem notícia, deflagradas por aumentos de salários e por uma jornada de trabalho menos estafante, datam ainda de fins do século XIX. Contudo, movimentos organizados claramente com caráter de classe, e de reivindicações mais definidas e específicas ocorreram por volta de 1906. Já em 1907, São Paulo foi paralisada por uma manifestação iniciada pelos trabalhadores da construção civil, da indústria de alimentos e metalúrgicos, que acabou atingindo outras cidades do estado, como Santos, Ribeirão Preto e Campinas.( Greves Operárias – Wikipédia, a Inciclopédia livre). Em julho de 1917, outra grande greve também se iniciou em São Paulo, e teve início em duas fábricas têxteis. O movimento se espalhou rapidamente e paralisou a cidade, contando inclusive com trabalhadores do setor público, numa adesão estimada em cerca de 50.000 pessoas. Entre os resultados, os patrões concederam um aumento imediato de salário e prometeram estudar as demais reivindicações. Mas o destaque dessas primeiras conquistas foi, sem dúvida, o reconhecimento do movimento operário como instância representativa. Quase todas essas lutas do início do século XX foram conduzidas e sustentadas pelo chamado anarco-sindicalismo, movimentos de inspiração anarquista e socialista, e que dominarão a cena política/trabalhista até a fundação do Partido Comunista em 1922. Ainda que já se houvessem constituídas outras organizações sindicais, como a COB – Confederação Operária CENTRO DE FORMAÇÃO, TREINAMENTO E APERFEIÇOAMENTO 5 Brasileira e diversos núcleos sindicais em formação, é a partir desse momento que efetivamente vão se consolidar as raizes para a formação dos sindicatos livres, os quais, mais tarde, na sua grande maioria, vão aderir, entre fins da década de 1930 e início de 1940, ao modelo sindical corporativista, o sindicato oficial, instituído por Vargas, (Boito Junior, 1991), cooptados pela proposta de regulamentação da CLT – Consolidação das Leis do Trabalho, que seria institucionalizada em maio de 1943. Data, entretanto, ainda de 1907, conforme menciona o ex-Ministro do Trabalho do governo Sarney e advogado trabalhista nas décadas de 1970 a 1980, Almir Pazzianotto, em lançamento recente de (100 anos de sindicalismo, 2007), a primeira tentativa de regulamentação da criação de sindicatos profissionais e de cooperativas no País, quando o presidente Affonso Pena assinou o decreto número 1.637, instituindo os Conselhos Permanente de Conciliação e Arbitragem, no âmbito dos sindicatos, órgãos que não chegaram a ser efetivamente implementados. Essa contextualização se faz necessária para que possamos delinear historicamente o problema de estudo para o tema abordado, na sua centralidade, qual seja: como se organizou e estruturou o movimento sindical brasileiro e em que bases filosóficas se inspirou? Quais as contribuições das organizações sindicais/corporativas no decorrer de sua evolução para o processo de construção e consolidação da democracia brasileira? De que modo essas entidades e seus dirigentes se relacionaram com o conjunto das outras organizações sociais no Brasil? E por fim, algumas perguntas mais diretas merecem ser respondidas, tais como: nesse cenário, estariam os sindicatos que representam categorias fortes economicamente e de grande poder de pressão se elitizando hoje? as conquistas econômicas dessas categorias historicamente bem organizadas e mobilizadas avançam o terreno meramente econômico/corporativista? Os sindicatos interagem com outras organizações da sociedade civil no sentido da inclusão social, do combate aos preconceitos e da conquista da plena cidadania? Quais as relações do movimento sindical brasileiro com organizações congêneres internacionalmente? A despeito do amplo campo de observação em que se insere o problema de pesquisa do tema em estudo, procurar-se-á conquanto desafiantes são, oferecer respostas para as perguntas acima formuladas. CENTRO DE FORMAÇÃO, TREINAMENTO E APERFEIÇOAMENTO 6 5 OBJETIVOS 5.1 Objetivo gerais 5.1.1 Estudar o modo de organização das entidades representativas dos trabalhadores brasileiros e suas relações extra-corporativas (com o parlamento, os governos e a sociedade em geral); 5.1.2 Analisar a situação vivida pelo movimento sindical brasileiro, centrada na reconquista dos sindicatos por direções independentes, e do chamado “novo sindicalismo” no período pós ditadura militar. 5.2 Objetivos específicos 5.2.1 Avaliar o nível de representatividade e de legitimidade das entidades sindicais pesquisadas, destacando o seu trabalho entre os grupos de pressão, enfocando em particular a atuação dos Sindicatos de Bancários no Congresso Nacional. 5.2.2 Analisar e comparar as novas estratégias dos movimentos corporativistas/sindicais, no contexto da globalização e dos desafios impostos pela chamada revolução tecnocientífica, refletindo a partir de vivências próprias do autor e de pesquisas documentais realizadas, a crise de identidade que se abateu sobre amplos setores do sindicalismo, com o fim da bipolaridade política mundial a partir do início da década de 1990. 6 JUSTIFICATIVA A sociedade brasileira resulta da miscigenação de um conjunto eclético de raças que a partir de meados do século XVI, com a chegada dos portugueses aqui foram se encontrando e se relacionando, especialmente para cumprir o objetivo primeiro e único da colonização, abastecer a metrópole e sustentar o comércio dos produtos primários extraídos da nova terra. Caio Prado Júnior, em Formação do Brasil Contemporâneo, sobre o espírito com que os povos da Europa abordam a América: CENTRO DE FORMAÇÃO, TREINAMENTO E APERFEIÇOAMENTO 7 “A idéia de povoar não ocorre inicialmente a nenhum. É o comércio que os interessa, e daí o relativo desprezo por este território primitivo e vazio que é a América; e inversamente o prestígio do Oriente, onde não faltava objeto para atividades mercantis{...} A idéia de ocupar surge apenas e exclusivamente com fins mercantis “(17ª edição, São Paulo, 1981)”. Mais adiante, no capítulo que trata da organização social, Prado Júnior parece querer se referir já naquela época à origem da desocupação e dos graves problemas sociais no Brasil: “Nas cidades, os vadios são mais perigosos e nocivos, pois não encontram, como no campo, a larga hospitalidade que lá se pratica, nem chefes sertanejos prontos a engajarem sua belicosidade. (...) No torvelinho das paixões e reivindicações então desencadeadas, pelo rompimento do equilíbrio social e político que provoca a transição de colônia para império livre, aquela massa deslocada, indefinida, mal enquadrada na ordem social, e na realidade produto e vítima dela, se lançará na luta com toda a violência de instintos longamente refreados, e com muitas tintas da barbárie ainda tão próxima que lhe corria nas veias em grandes correntes. Não resta a menor dúvida que as agitações anteriores e posteriores à Independência, as do tormentoso período da minoridade e do primeiro decênio do Segundo Império, todas elas ainda tão mal estudadas, são fruto em grande parte daquela situação que acabamos de analisar. É naquele elemento desenraizado da população da população brasileira que se recrutará a maior parte da força armada para a luta das facções políticas que se formam; e ela servirá de aríete das reivindicações populares contra a estrutura maciça do Império, que apesar da força do empuxo resistirá aos seus golpes (...) “ p.284 e 285. Ao recorrer às observações de Caio Prado Júnior sobre os meandros da formação e da organização social do povo brasileiro, na origem, pretende-se situar no lugar adequado, o debate acerca do reconhecimento da importância das lutas sociais e populares ao longo da história, pois, é fato, elas nasceram e ganharam forma de luta de classe, por justiça e liberdade, a partir desse desprezo2 que bem acentua o autor, do alheiamento às mínimas condições humanas com que foram tratadas as massas referidas, causas que, por certo, muito contribuíram para a gama de problemas sociais ainda não adequadamente enfrentados por nossas elites políticas, que mostram-se ainda renitentes. É a partir dessa observação da formação inicial das primeiras elites brasileiras, e por conseguinte do nascimento quase sem berço algum da vasta camada social de ancestrais tupiniquins, (índios e depois caboclos, negros africanos e brancos portugueses sem posses), 2 Grifo do autor para reforçar e caracterizar a categoria literária utilizada por Caio Prado Júnior, quanto à forma com que foram tratadas as populações escravas, indígenas e seus decendentes, desde o período colonial. CENTRO DE FORMAÇÃO, TREINAMENTO E APERFEIÇOAMENTO 8 elementos que junto aos imigrantes que aqui chegaram de todas as partes vão formar a raiz social de nossa gente, que se deseja chamar a atenção e assim justificar o porquê da escolha do tema ora em debate. Ao longo, pois, dessa dissertação sobre “os movimentos corporativos e sindicais e suas contribuições para a construção e consolidação da democracia brasileira”, procurar-se-á realçar tanto as inegáveis contribuições que estes movimentos deram efetivamente para a melhoria das condições de vida do conjunto das categorias que representam quanto para a conquista de fato e de direito da cidadania que hoje alcançamos. Por outro lado, serão questionados os seus vícios e desvios, a divisão interna, recordando a utopia transformadora que em outros tempos despertou mentes e corações para um engajamento, ainda que fortemente movido pelas disputas partidárias, mas não menos vigoroso nos ideais de mudança e de justiça social. Estabelecidos esses pressupostos buscaremos aprofundar sobre a hipótese que sugere os Sindicatos, em especial aqueles economicamente mais poderosos, hoje estarem caminhando de modo meio que alienado para certa elitização. 7 REVISÃO CRÍTICA DA LITERATURA O debate em torno das questões que envolvem as entidades sindicais e corporativas, suas conquistas e suas crises, o modo de se relacionarem com o parlamento e com os governos, como exercem o seu poder de pressão, a busca efetiva de reconhecimento, não se reduz às fronteiras de simples observações. A luta dos trabalhadores e trabalhadoras pela institucionalização de seus mais elementares direitos, que num primeiro momento foram lutas quase que essencialmente libertárias, ao longo de suas históricas jornadas logrou extenso campo de pesquisa e de estudos. As transformações sociais que vimos sofrendo nas últimas décadas, as mudanças estruturais e paradigmáticas impostas requerem de fato um novo pensar e talvez uma reinvenção de métodos. A propósito desses desafios, o professor Marcio Pochman, do Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Universidade de Campinas, assim se referia, no Jornal Valor, Pag. A19: “Nas duas últimas décadas, a combinação entre o baixo crescimento econômico e a inserção globalizada pela especialização produtiva de contido valor agregado e pífio conteúdo tecnológico vem conformando uma nova estruturação na sociedade brasileira. O segmento dos trabalhadores urbanos, por exemplo, vem passando por transformações inquestionáveis.(artigo Nova classe trabalhadora)”. CENTRO DE FORMAÇÃO, TREINAMENTO E APERFEIÇOAMENTO 9 No citado artigo, o professor Pochman desenvolve a idéia do que chama de “nova classe trabalhadora urbana”, que conforme ele: “(...) caracteriza-se por maior escolaridade, idade média avançada, ampliada presença feminina e baixa taxa de fecundidade.(...)” Pretende-se pois, com base nas análises e estudos da Carta Constitucional de 1988, da Consolidação das Leis do Trabalho de 1943, de autores como Armando Boito Júnior, Leôncio Martins Rodrigues, Lucia Avelar, Luiz Werneck Viana, e especialmente das obras de Caio Prado Júnior (Formação do Brasil Contemporâneo), Boaventura de Souza Santos, Boris Fausto (história do Brasil), Celso Furtado, Antonio Gramsci (A revolução Passiva, cadernos para o Brasil), Norberto Bobbio, além das reminiscências do autor quando de seus primeiros anos de militância no Partido Comunista Brasileiro, por meio das leituras de (Karl Marx, Máximo Gorki, Brecht, Lenin, Hobbsbaw, Leôncio Martins, entre outros), estabelecer um intercâmbio de visões, sobretudo com essas novas caracterizações e do paradoxo dessa nominada “nova classe trabalhadora urbana”, e assim poder sustentar as hipóteses formuladas. Ao trabalho serão acrescentadas, ainda, menções de artigos colhidos na internet, jornais e revistas especializadas sobre o tema, como os de Valter Duarte (Neocorporativismo, FMI e o primeiro ano do governo Lula), e José Ricardo Ramalho, analisando Leôncio Martins em (Destino do Sindicalismo), Simon Schwartzman, ( Atualidade do Liberalismo e do corporativismo, 1987), Emerson Urizzi Cervi ( As sete vidas do Populismo), Marcio Pochmann (Nova classe trabalhadora), além de materiais que serão pesquisados junto às entidades sindicais e ao DIAP – Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar. 8 METODOLOGIA O trabalho será desenvolvido por meio de análise documental, pesquisa bibliográfica e à base de experiências próprias acumuladas pelo autor, ao longo de sua vida, em particular, no curso de sua atuação como dirigente sindical, no Sindicato dos Bancários de Brasília. Na busca do contraponto de visões, do respeito à parcialidade e à ética, serão realizadas algumas entrevistas com personalidades e lideranças sindicais das diversas correntes políticas que atuam no interior do movimento e nas diferentes entidades. O propósito das entrevistas é situar e centralizar os questionamentos nos seguintes CENTRO DE FORMAÇÃO, TREINAMENTO E APERFEIÇOAMENTO 10 temas: a) como o conceito de luta de classe é tratado? b) Quais contribuições poderiam oferecer hoje as entidades sindicais mais organizadas para a inclusão daqueles setores informais e inorgânicos ao mercado formal de trabalho? c) Como se relacionam essas entidades com o parlamento e quais suas estratégias de pressão? d) O que acham da afirmação: crise de identidade, vivida pela maioria das organizações de esquerda com o fim da bipolaridade e que, na visão do autor, atinge também boa parte dos movimentos sociais? e) Como estão enfrentando a crise do desemprego e os problemas gerados pelo avanço das inovações tecnológicas em suas categorias? Como pretendem enfrentar, ou se já estão enfrentando, o problema da desconfiança nas instituições e da descrença política? Como construir um outro espaço de atuação e representação sindical que respeite as diferenças ideológicas e políticas no conjunto de seus representados? O que pensam os dirigentes pesquisados, das propostas em pauta no Congresso Nacional sobre as Reformas Trabalhista e Sindical? f) Na perspectiva das Reformas referidas, o que pensam de unicidade e de liberdade sindical, considerando a permanência do imposto sindical? 9 CRONOGRAMA Coleta de Dados Análise e Interpretação Realização de entrevistas Checagem das entrevistas Redação do Trabalho Final Revisão metodológica Conclusão e defesa monografia JUL/2007 X X AGO/2007 X X X SET/2007 OUT/2007 NOV/2007 X X X X X X X X 10 ESTRUTURAÇÃO - SUMÁRIO O trabalho será desenvolvido e elaborado em capítulos, inicialmente com a seguinte ordenação: 1. Origens do Sindicalismo e da legislação sindical e formação dos Sindicatos livres no Brasil – Um olhar e um breve histórico sobre as primeiras lutas e greves de trabalhadores no Brasil, enfocando a importância da contribuição dos imigrantes italianos com suas idéias do CENTRO DE FORMAÇÃO, TREINAMENTO E APERFEIÇOAMENTO 11 anarco-sindicalismo; as lutas sindicais e corporativas na 1ª República (1889-1930), abordando as grandes agitações populares do início do século XX, a fundação do Partido Comunista Brasileiro, em 1922, e seu papel na organização dos sindicatos livres e de classe no Brasil 2. Da participação dos sindicatos nas lutas contra a ditadura militar de 1964 à Constituinte de 1987/1988 - Neste capítulo situar-se-á o comportamento do movimento sindical nos momentos antecedentes ao golpe de 31 de março de 1964 (Comício da Central do Brasil de 13 de março de 1964), como se comportaram nos anos mais duros do regime, (os chamados anos de chumbo), as intervenções do Ministério do Trabalho nos Sindicatos, até as primeiras articulações para a retomada do movimento por direções independentes, os embriões do chamado “novo sindicalismo”, estruturados a partir de fins da década de 1970, principalmente no ABC paulista, por melhores condições de vida e aumento salarial, com o então metalúrgico Luis Inácio Lula da Silva à frente. Abordar-se-á, também, a participação dessas organizações, nas mobilizações por eleições diretas para presidente, em apoio à Emenda Dante de Oliveira e posterior campanha presidencial indireta de Tancredo Neves. No capítulo será destacada, ainda, a pressão exercida pelo conjunto das organizações sindicais para as conquistas consignadas na Constituição de 1988, referenciando em particular os seus artigos 6º, 7º, 8º e 9º. 3. As Associações e posteriormente Sindicatos de servidores públicos – Neste ponto, se fará uma breve passagem pelas lutas por reconhecimento sindical das entidades (Associações ainda sem caráter reivindicatório e de classe) dos servidores públicos, abordando, também, o seu poder de pressão, especialmente junto ao Congresso Nacional, quando da Reforma Administrativa do primeiro governo Fernando Henrique Cardoso, pelo Ministro Bresser Pereira. 4. O Sindicato dos Bancários de Brasília, da retomada até os dias atuais – Este capítulo será dedicado à história dos bancários de Brasília, destacando o período em que o Sindicato é retomado das mãos dos interventores do Ministério do Trabalho (1980), cuja direção foi liderada pelo hoje deputado federal Augusto Carvalho, na época militante do PCB, as grandes greves da categoria por reajustes salariais e por melhorias nas condições de trabalho, sobretudo no período inflação alta, seu papel como protagonista e muitas vezes patrocinador dos principais movimentos populares, culturais e políticos de Brasília. 5. Desafios da globalização e da revolução tecnológica para o mundo do trabalho – Aqui serão analisadas as conseqüências da crise de referências para a ampla maioria da esquerda mundial, verificada a partir da desintegração da ex-União Soviética, da queda do muro de Berlim e das lutas de independência e nacionalistas das repúblicas socialistas do leste europeu. Por fim, se buscará refletir sobre as respostas oferecidas às entrevistas realizadas e sobre a pesquisa documental agendada, analisando as propostas e as novas estratégias do movimento sindical para enfrentar os desafios a ele impostos pelo processo de globalização dos mercados e pelas mudanças paradigmáticas introduzidas no mundo do trabalho em particular, impactando as relações laborais, gerando uma crise de desemprego sem precedentes, em especial nas categorias onde houve maciços investimentos em tecnologia de informação, como a dos bancários. Toda a análise será feita com o intuito de contribuir para esse debate dos novos tempos e da resistência sindical, que resta como um desafio à parte, em toda a história das lutas dos trabalhadores e de sua busca por cidadania plena e por uma sociedade mais justa e humana. CENTRO DE FORMAÇÃO, TREINAMENTO E APERFEIÇOAMENTO 12 11 REFERÊNCIAS AVELAR, Lúcia. Participação Política. In_________& CINTRA, Antonio Octávio (org). 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