Baixar em ()

Propaganda
Avaliação da qualidade de amostras comerciais de chás de Sene (Senna
alexandrina Mill) e Cáscara Sagrada (Rhamnus purshiana D.C.)
Diogo Zambeli Fontella1, Amanda Leitão Gindri1, 2*
1
Curso de Farmácia, Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das
Missões (URI), Campus de Santiago. [email protected]
2
Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas, Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM). *[email protected]
Abstract
This study evaluated the quality of sene (Senna alexandrina) and cáscara
sagrada (Rhamnus purshiana) products, used as laxative in folk medicine. For
this purpose, two samples of each plant were acquired. The samples were
analyzed following the standard established by the Brazilian Pharmacopoeia,
about the following aspects: label information, identification, organoleptic
characteristics, determination of foreigner materials, determinations of pH,
determinations of total ashes and acid insoluble ashes. The sample labels
showed the absence of important data, such as common name and botanical
nomenclature, type of plant material used, batch, operating instructions and
Technical Manager. In the identification test all the samples was approved. In
the organoleptic characteristics, one sample of cáscara sagrada was not in the
pattern established by the literature. Sene samples were reproved in the
determination of foreign materials, while in the pH test, the results were
considered satisfactory. Only one sene sample were reproved in the total ashes
determination assay. In the acid insoluble ashes test all the samples were
approved. Sene samples did not reach the quality standards recommended by
the Brazilian Pharmacopoeia, indicating quality deviation. Conversely, cáscara
sagrada samples were in agreement with Brazilian Pharmacopoeia quality
standards. These results highlight the importance of the strict control of the
sanitary authorities
Key-words: Fabaceaee, laxative, medicinal plants, Rhamnaceae, tea.
1
Resumo
O presente estudo procurou avaliar a qualidade de produtos à base de sene
(Senna alexandrina) e cáscara sagrada (Rhamnus purshiana), usados
popularmente como laxantes. Para tal, foram adquiridas 2 amostras de sene e
2 amostras de cáscara sagrada. As amostras foram analisadas, confrontado os
dados obtidos com parâmetros contidos em suas respectivas monografias na
Farmacopéia Brasileira, sob os seguintes aspectos: rotulagem, identificação,
características
organolépticas,
determinação
de
materiais
estranhos,
determinação de pH, determinação de cinzas totais e cinzas insolúveis em
ácido. Nos rótulos de todas as amostras estavam ausentes dados importantes,
como nome popular e nomenclatura botânica, tipo de material vegetal utilizado,
lote, instruções de uso e Responsável técnico. Nos testes de identificação
todos obtiveram resultados positivos e na análise de características
organolépticas apenas uma amostra de cáscara sagrada mostrou-se fora dos
padrões. No quesito materiais estranhos as amostras de sene foram
reprovadas e quanto a determinação de pH os resultados foram considerados
satisfatórios para todas as amostras. Quanto ao teor de cinzas totais somente
uma amostra de sene foi reprovada, já na determinação de cinzas insolúveis
em ácidos todas as amostras passaram no teste. As amostras de sene não
atenderam aos critérios de qualidade preconizados em sua monografia,
indicando um desvio de qualidade. Diferentemente, as amostras de cáscara
sagrada foram consideradas dentro dos padrões. Os resultados obtidos neste
trabalho ressaltam a importância de um controle mais rigoroso das autoridades
sanitárias.
Palavras-chave: Chá, Fabaceaee, laxativo, plantas medicinais, Rhamnaceae.
2
Introdução
A utilização de plantas com fins medicinais para o tratamento, a cura e a
prevenção de doenças, é uma das mais antigas práticas medicinais da
humanidade. Com o passar dos tempos, o surgimento de novas tecnologias
possibilitou à indústria farmacêutica o processamento das matérias-primas
vegetais sob as mais diferentes formas farmacêuticas. No entanto, a forma
mais rápida e popular de se utilizar uma planta medicinal continua sendo
através de uma bebida muito antiga e bem conhecida, o chá (Santos Junior
2003, Veiga Junior, Pinto & Maciel 2005).
No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), através
da Resolução nº 14 de 2010, considera os chás como:
“produtos constituídos de partes
vegetais, inteiras, fragmentadas ou
moídas, obtidas por processos
tecnológicos adequados a cada
espécie, utilizados exclusivamente
na
preparação
de
bebidas
alimentícias por infusão ou decocção
em água potável, não podendo ter
finalidades
farmacoterapêuticas”
(Brasil 2010).
Sendo assim, os mesmos não podem ser enquadrados como
fitoterápicos, devendo ser comercializados como alimentos e, portanto,
regulamentados e fiscalizados pelo Ministério da Agricultura.
A composição química dos chás pode variar, não somente quanto à
espécie e idade do vegetal, estação, clima, condições de cultivo, mas também
pelas condições de armazenamento e tipo de processamento a que são
submetidos (Scotti et al. 2007, Melo et al. 2009, Oliveira et al. 2009, De
Azevedo 2011). Procedimentos inadequados de manipulação e o incorreto
acondicionamento da planta medicinal tendem a aumentar a umidade do
mesmo provocando o surgimento de bactérias e fungos. As toxinas produzidas
por esses microrganismos podem representar riscos à saúde do consumidor,
que variam desde a ausência dos efeitos benéficos até possíveis efeitos
colaterais, uma vez que estes levam à destruição e/ou alteração dos princípios
ativos do material vegetal tornando o chá impróprio para o consumo (Amaral et
al. 2003).
3
Devido à grande demanda por produtos à base de plantas medicinais,
consequência do significativo aumento do interesse do público brasileiro por
terapias naturais, faz-se necessário investigar como os mesmos estão sendo
oferecidos ao consumidor. Para tanto, as indústrias devem realizar o controle
de qualidade desses produtos através de uma série de testes, preconizados
por diferentes literaturas, como a Farmacopeia Brasileira, que tem início a partir
da obtenção da matéria-prima, passando por todo o processo de produção,
culminando com a análise do produto final. No entanto, a qualidade da matériaprima vegetal não garante a eficácia do produto, mas é fator determinante da
mesma (Farias 2001, Nascimento et al. 2005). Vale lembrar ainda que, os chás
medicinais vendidos em feiras e mercados populares na maioria das vezes não
passam por nenhum tipo de controle de qualidade. Assim o consumidor corre o
risco ingerir, juntamente com a planta desejada, misturas de outras plantas,
muitas vezes sem finalidade terapêutica. A ingestão de metais pesados ou
outros contaminantes que podem estar presentes acidentalmente nas amostras
comercializadas também pode ocorrer (Veiga Junior, Pinto & Maciel 2005).
Considerando o exposto, este projeto tem a finalidade de avaliar a
qualidade de amostras de chás sene (Senna alexandrina Mill.) e cáscara
sagrada (Rhamus purshiana) comercializadas no município de Santa Maria
(RS), através das seguintes analises: testes de identificação, características
organolépticas, pH, teor de cinzas totais e de cinzas insolúveis em ácido, bem
como análise de rotulagem. A realização deste trabalho justifica-se pelo fato
destas plantas, amplamente utilizadas pela medicina popular devido a seu
efeito laxativo, serem de ampla comercialização no comércio popular. Com a
realização deste estudo espera-se obter resultados dentro dos padrões de
qualidade estabelecidos pelo compendio oficial no pais, a Farmacopeia
Brasileira, 5ª edição (2010). Amostras dentro dos padrões de qualidade
garantem à população a aquisição e uso de uma matéria-prima vegetal livre de
adulterantes e contaminantes, o que previne, dessa forma, potenciais danos à
saúde do consumidor.
4
Material e Métodos
Amostras
Foram adquiridas 2 amostras dos chás de cada espécie vegetal, sene
(Senna alexandrina) e cáscara sagrada (Rhamnus purshiana), no formato a
granel, comercializadas em mercados da cidade de Santa Maria, em março de
2014. Neste trabalho, as amostras estão determinadas como SE01 e SE02
para o sene e CS01 e CS02 para a cáscara sagrada.
Análise de rótulos
Os rótulos dos chás foram analisados de acordo com a RDC n°13/13
(Brasil 2013), que preconiza, no mínimo, a presença das seguintes
informações:
•
Nomenclatura popular seguida de nomenclatura botânica;
•
Tipo de material vegetal utilizado, quando não se tratar de preparações
extemporâneas;
•
Quantidade;
•
Número de lote;
•
Data de validade;
•
Informações sobre condições de armazenagem ou precauções de
manuseio especiais que possam ser necessárias;
•
Instruções de uso, bem como avisos e precauções que possam ser
necessários, conforme legislação sanitária específica;
•
Nome e endereço da empresa fabricante e seu responsável técnico.
Identificação
Para identificação do Sene (SE) seguiu-se técnica padronizada pela
Farmacopéia Brasileira (2010) onde, a 25 mg da droga pulverizada foram
adicionados 50 ml de água e 5 ml de ácido nítrico. Após aquecimento em
banho-maria por 15 minutos, foram adicionados 40 ml de éter etílico. Após
dessecação da fase etérea com sulfato de sódio anidro, transferiu-se 5 ml da
5
solução restante para um cadinho de porcelana, que foi levado a secura total
em banho-maria (40°C). O cadinho contendo o resíduo seco foi alcalinizado
com hidróxido de amônio (Farmacopeia Brasileira 2010).
Para identificação de cáscara sagrada (CS) foram utilizados dois testes,
o primeiro em corte transversal da amostra e o segundo com a droga
pulverizada. No primeiro teste, a droga foi umedecida com hidróxido de
amônio. No segundo teste foi adicionado a 0,1 g da droga pulverizada, 10 ml
de água fervente. Esta mistura foi agitada durante 5 minutos, resfriada e
filtrada. O filtrado foi diluído com 10 ml de água e 10 ml de hidróxido de amônio
6M (Farmacopeia Brasileira 2010).
Características organolépticas
Cor
Os chás foram examinados à luz do dia, a olho nú, antes do início dos ensaios
(Farmacopeia Brasileira 2010).
Odor
Uma pequena amostra do material foi analisada em placa de Petri, onde
foi inalada lenta e repetidamente. Quando o odor foi indistinto, parte do material
foi pressionado entre os dedos e inalado novamente. Os resultados foram
expressos em relação à intensidade (nenhum, fraco, distinto ou forte) e
sensação (odor aromático, frutoso, mofado ou rançoso) causados pelo odor
(Farmacopeia Brasileira 2010).
Determinação de materiais estranhos
As drogas vegetais – 2 g de cada amostra – foram dispostas em placas
de Petri e analisadas macroscopicamente. Os materiais estranhos foram
separados manualmente e pesados. O conteúdo de matéria estranha não deve
ultrapassar 1% para cáscara sagrada e 5% para sene, conforme o compêndio
6
oficial (Farmacopeia Brasileira 2010). Os resultados serão expressos em média
± Desvio padrão (DP).
Determinação do pH
Esta determinação foi realizada em infusões à 1% (m/v) das drogas
vegetais. Após a filtragem e resfriamento das soluções, as leituras foram
analisadas em pHmetro (TECNOPON, mPA210, Piracicaba, SP, Brasil)
previamente calibrado (Farmacopeia Brasileira 2010). Os resultados serão
representados pela média de 3 determinações ± Desvio padrão (DP).
Determinação de cinzas totais
Previamente, o cadinho de porcelana foi calcinado em mufla a 450 ºC,
por 30 minutos. Após o resfriamento em dessecador por 15 minutos, seu peso
foi determinado em balança analítica. A seguir, foram pesados exatamente 3 g
do pó das amostras, os quais foram uniformemente distribuídos e submetidos à
calcinação em mufla à temperatura de 450 °C, por 2 horas. Os cadinhos foram
deixados em dessecador para arrefecimento, durante 30 minutos, e pesados a
seguir (Farmacopeia Brasileira 2010). A análise foi realizada em duplicata. Os
resultados serão expressos na forma de porcentagem por peso (%, p/p) de
cinzas na droga seca e representados a média de duas determinações para
cada amostra vegetal ± Desvio padrão (DP).
Determinação de cinzas insolúveis em ácidos
Os resíduos obtidos na determinação de cinzas totais foram fervidos, por
5 minutos, com 25 mL de solução de ácido clorídrico a 7% (m/v) em cadinhos
cobertos com vidro de relógio. Em seguida, o vidro de relógio foi lavado com 5
mL de água quente, sendo esta transferida para o cadinho. O resíduo insolúvel
em ácido foi recolhido em papel de filtro isento de cinzas, e lavado com água
quente até que o filtrado se mostrasse neutro. O papel de filtro contendo o
resíduo foi então transferido para o cadinho original, que sofreu secagem
prévia em chapa quente com posterior incineração a 500ºC, até peso
7
constante. Por fim, a porcentagem de cinzas insolúveis em ácido em relação à
droga foi calculada (Farmacopeia Brasileira 2010). Os resultados serão
representados pela média de 2 determinações ± Desvio padrão (DP).
Resultados
Todas as amostras analisadas apresentaram não conformidades com
relação às informações consideradas pertinentes ao rótulo (Tabela I). A
amostra SE01 foi a que mais apresentou irregularidades ou ausência de
informações, três no total, seguida pelas amostras de cáscara sagrada, com
duas irregularidades cada e por último a amostra SE02 com uma
irregularidade. Cabe ressaltar que também foram verificadas falhas na
impressão dos rótulos nas amostras SE02 e CS02, comercializados pela
mesma empresa. Isto dificulta a leitura das informações, podendo levar a riscos
na identificação e/ou uso dos chás.
Tabela I. Análise de rótulos das amostras de sene e cáscara sagrada.
Itens analisados
SE01
SE02
CS01
CS02
Nome popular seguido de
Ausente Presente* Presente
Presente
nomenclatura botânica
Tipo de material vegetal utilizado Ausente Presente Ausente
Ausente
Quantidade
Presente Presente Presente
Presente
Lote
Presente Presente Presente
Ausente
Validade
Presente Presente Presente
Presente
Condições de armazenagem
Presente Presente Presente
Presente
Instruções de uso
Ausente Presente Ausente
Presente
Nome e endereço da empresa
Presente Presente Presente
Presente
fabricante
Responsável técnico
Presente Ausente Presente
Presente
*Nome científico apresentado em sua sinonímia: Cassia angustifólia.
De acordo com a análise das características organolépticas (Tabela II),
as amostras de sene mostraram-se dentro dos padrões da Farmacopéia
Brasileira (2010) para cor e odor, bem como a amostra de cáscara sagrada
CS01. Somente a amostra CS02 apresentou resultados fora dos padrões do
referido compêndio (Farmacopeia Brasileira 2010).
8
Tabela II. Características organolépticas dos chás de sene (SE) e Cáscara
sagrada (CS).
Característica
Cor
Odor
SE01
Verde
Acinzentado
Fraco e
aromático
SE02
Verde
acinzentado
Fraco e
aromático
CS01
Marrom
púrpura
Distinto e
aromático
CS02
Marrom
Púrpura
Forte e
mofado
Todas as amostras obtiveram resultado positivo nos testes de
identificação propostos por suas respectivas monografias. As amostras de sene
apresentaram coloração avermelhada idêntica (Figura I). As amostras de
cáscara sagrada, no teste de corte transversal apresentaram colorações
avermelhadas semelhantes no primeiro teste de identificação (Figura IIA),
entretanto foi evidenciada uma diferença significativa na intensidade de cor no
segundo teste, com as amostras pulverizadas, com CS01 apresentando
coloração alaranjado fraco e CS02 coloração alaranjado forte (figura IIB).
Figura I. Teste de identificação do Sene
A
B
Figura II. Testes de identificação com a cáscara sagrada. A. Primeiro teste
com droga em corte transversal. B. Segundo teste com droga pulverizada.
9
As amostras de cáscara sagrada obtiveram resultados satisfatórios no
ensaio de presença de materiais estranhos (Tabela III), apresentando resultado
inferior ao limite de 1% preconizado pela Farmacopeia Brasileira (2010). Já as
duas amostras de Sene ultrapassaram o limite de 5% determinado pela
literatura, destacando-se a amostra SE01, que apresentou um valor 25% acima
do limite estabelecido em sua monografia.
Tabela III. Presença de materiais estranhos.
Amostras
Quantidade de material
estranho (g) ± DP
SE01
0,156 ± 0,001
SE02
0,118 ±0,001
CS01
0,0176 ±0,001
CS02
0,0138 ±0,002
DP: Desvio Padrão
%
7,8%
5,9%
0,88%
0,69%
Os resultados obtidos na análise de pH (Tabela IV) foram considerados
satisfatórios, pois, apesar de não existirem valores de referência para este
ensaio na Farmacopeia Brasileira (2010) as infusões preparadas apresentaram
valores na mesma faixa de pH - entre 6,1 e 6,4.
Tabela IV. Resultados obtidos na determinação de pH.
SE01
pH ± DP 6,1 ± 0,07
DP: Desvio Padrão
SE02
6,3 ± 0,01
CS01
6,4 ± 0,1
CS02
6,1 ± 0,1
Na tabela a seguir estão descritos os resultados de teor de cinzas totais
(Tabela V). As amostras de sene apresentaram teores de cinzas totais
superiores às da cáscara sagrada. A amostra SE01 foi aprovada no teste,
entretanto SE02 apresentou valor superior ao limite máximo estabelecido pela
Farmacopéia Brasileira (2010) para esta droga (12%). Para cáscara sagrada,
ambas as amostras apresentaram valores satisfatórios, com relação à sua
monografia neste compêndio oficial (Farmacopeia Brasileira 2010) (6%).
10
Tabela V. Teor de cinzas totais.
Amostra
Repetição
Quantidade
de cinzas
Teor (%)
Teor Médio
(%) ± DP
1
2
0,300 g
0,322 g
10 %
10,7 %
10,35 ± 0,15
SE01
1
0,374 g
12,46 %
12,36 ± 0,004
0,368 g
0,133 g
0,132 g
12,26 %
4,4 %
4,41 %
4,4 ± 0,001
CS01
2
1
2
CS02
1
2
0,149 g
0,153 g
4,96 %
5,1 %
SE02
5 ± 0,028
DP: Desvio Padrão
Sene e Cáscara Sagrada apresentaram resultados satisfatórios para o
teor de cinzas insolúveis em ácidos (Tabela VI), mostrando resultados ínfimos.
Dessa forma, as drogas foram aprovadas neste teste, pois não ultrapassaram
os limites máximos descritos pela Farmacopéia Brasileira (2010), que são 3%
para o sene e 2% para a cáscara sagrada.
Tabela VI. Teor de cinzas insolúveis em ácidos.
Amostra Repetição
SE01
SE02
CS01
CS02
1
2
1
2
1
2
1
2
Quantidade de
cinzas
insolúveis
0,005 g
0,004 g
0,002 g
0,002 g
0,002 g
0,003 g
0,001 g
0,003 g
Teor
(%)
Teor médio
(%)± DP
0,16% 0,145 ±0,001
0,13%
0,06%
0,06 ±0,00
0,06%
0,06%
0,08 ±0,001
0,1%
0,03% 0,065 ± 0,001
0,1%
DP: Desvio Padrão
11
Discussão
O comércio de plantas embaladas e rotuladas ainda é bastante precário
no Brasil (Bochner et al. 2012). Os rótulos devem ter dimensões necessárias à
fácil leitura e ser redigido de modo a facilitar o entendimento do consumidor
(Farmacopéia Brasileira 2010). A análise de rotulagem todas as amostras
(SE01, SE02, CS01, CS02) evidenciaram problemas de rotulagem. Dessa
forma, o consumidor não recebe as informações necessárias sobre o produto,
caracterizando um descaso por parte dos fabricantes. A ausência do lote
verificada na amostra CS02 é preocupante, pois esta informação é essencial
para rastreio do produto por parte do fabricante (Brasil 2013). As instruções de
uso, ausentes nas amostras SE01 e CS01 são informações necessárias para
que a população saiba usar corretamente o fitoterápico. Erros de utilização de
plantas medicinais já foram descritos em vários trabalhos (Bochner et al. 2012,
Silveira, Bandeira & Arrais 2008, Veiga Junior, Pinto & Maciel 2005). Outros
dados que não constaram nas embalagens foram nomenclaturas botânicas,
tipo de derivado utilizado e responsável técnico, reforçando a não
conformidade com a RDC n°13/2013.
As características organolépticas (cor, sabor e odor) são parâmetros que
devem ser avaliados no controle de qualidade de drogas vegetais
(Farmacopéia Brasileira 2010, Ferreira 2008). Drogas vegetais devem estar
isentas de fungos, insetos e outros materiais contaminantes, bem como não
devem apresentar aspecto ou odor anormal, descoramento ou quaisquer
indícios de deterioração (Farmacopéia Brasileira 2010). A diferença encontrada
no odor da amostra CS02, que a deixou fora do padrão estabelecido pela
literatura possivelmente deve-se ao local e época de coleta, ou processo de
secagem e armazenagem (Simões et al. 2010; Cechinel Filho & Yunes, 1998)
Cabe ressaltar que todas as amostras se encontravam dentro do prazo de
validade estabelecido, portanto, a diferença de odor não pode ser considerada
um fator de decomposição da amostra, e sim, pode ter sido promovida por um
processo de secagem e armazenamento da planta ou embalagem e
armazenamento do produto no local de comércio.
Os testes de identificação são reações usadas no auxílio da
caracterização de uma substância. São testes inespecíficos, mas suficientes
12
para estabelecer ou confirmar a identidade da droga vegetal somente quando
em conjunto com outros testes e especificações constantes na monografia
(Farmacopéia Brasileira 2010) Diferenças na intensidade de coloração foram
observadas no teste de identificação com a cáscara sagrada. Apesar de poderse considerar o resultado satisfatório devido ao fato do padrão de cor descrito
pela Farmacopéia Brasileira para esta planta ser alaranjado, há uma hipótese
de estar ocorrendo uma variação na composição e/ou concentração de
metabólitos secundários nas duas drogas vegetais em questão. Estudos mais
aprofundados de composição química seriam necessários a fim de comprovar
esta teoria.
Materiais estranhos à droga podem ser partes do organismo o qual a
droga deriva (além dos incluídos na definição da droga), acima do limite
especificado na monografia, qualquer organismo, porção ou produto de
organismos estranhos e impurezas de natureza mineral não inerente à droga
(Farmacopéia Brasileira 2010). Na análise de materiais estranhos as amostras
SE01 e SE02 foram reprovadas, pois apresentaram uma quantidade de
material estranho acima do limite máximo de 5% (Farmacopéia Brasileira
2010), com destaque para SE01 que apresentou um valor muito acima do
permitido (7,8%) mostrando um grau baixo de pureza. Os índices superiores ao
permitido de matéria estranha para os produtos se devem possivelmente ao
manejo, limpeza e separação inadequadas, sendo um problema frequente nos
produtos à base de plantas medicinais comercializados no Brasil (Zuccolotto et
al.1999, Barbosa et al. 2001, Amaral et al. 2003, Brandão et al. 2002, Melo et
al. 2004).
A determinação do teor de cinzas totais destina-se a estabelecer a
quantidade de substância residual não volátil no processo de incineração
especificado. Nas cinzas totais incluem as derivadas do tecido vegetal,
denominadas cinzas fisiológicas, e de materiais estranhos, como areia e terra
aderente à superfície da droga, sendo denominadas cinzas não fisiológicas
(Farmacopeia Brasileira 2010). O valor elevado de SE02 indica uma
irregularidade nesta droga vegetal. Este valor elevado pode ser relacionado
com um consequente processo de produção ineficiente, uma contaminação
com outras plantas ou por impurezas inorgânicas.
13
As cinzas insolúveis em ácidos são os resíduos obtidos na fervura de
cinzas totais ou sulfatadas com ácido clorídrico diluído, após filtragem, lavagem
e incineração. Este método destina-se à determinação de sílica e constituintes
silicosos
da
droga
(Farmacopeia
Brasileira
2010).
Estes
resultados
demonstram qualidade dos produtos neste aspecto, já que uma quantidade de
cinzas insolúveis em ácido acima da estabelecida para a matéria-prima vegetal
influencia negativamente na qualidade do chá (Simões et al. 2004, De Azevedo
2011).
Através dos resultados obtidos a partir dos produtos à base de sene
(Senna alexandrina mill) e cáscara sagrada (Rhamnus purshiana) foi
observado que a rotulagem se mostrou deficiente em vários pontos, o que é
preocupante, pois a ausência de informações essenciais pode causar vários
danos à população que o utiliza. As informações obtidas nos ensaios de
características organolépticas e identificação indicam que as plantas utilizadas
são realmente o que o rótulo retrata. A presença de um excesso de materiais
estranhos em sene, pode ser o indicio de uma contaminação cruzada com
outras espécies vegetais ou uma falha no processo de fabricação e controle de
qualidade desta planta, o que é reafirmado pelo teor de cinzas elevado em
SE02. Entretanto, os resultados de cinzas insolúveis em ácido dentro dos
padrões estabelecidos são indicativos de qualidade. Os valores de pH obtidos
demonstraram estabilidade das infusões destas plantas.
Por fim, certificou-se que as amostras de sene não atenderam aos
critérios de qualidade preconizados em sua monografia, podendo oferecer um
risco a população. Já as amostras de cáscara sagrada foram consideradas
dentro dos padrões, podendo ser comercializadas sem risco. Entretanto, se faz
essencial um controle de qualidade mais rígido por parte dos órgãos
regulatórios e da fiscalização, bem como a criação de leis mais severas para
este tipo de produto, a fim de aumentar a segurança e eficácia dos mesmos.
14
Referências bibliográficas
AMARAL, F.M.M., COUTINHO, D.F., RIBEIRO, M.N.S. & OLIVEIRA, M.A.
2003. Avaliação da qualidade de drogas vegetais comercializadas em São
Luís/Maranhão. Revista Brasileira de Farmacognosia, 13: 27-30.
BARBOSA, M.C.S., BELLETTI, K. M. S., CORRÊA, T. F. & SANTOS, C. A. M.
2001. Avaliação da qualidade de folhas de boldo-do-chile (Peumus boldus
Molina) comercializadas em Curitiba, PR. Revista Brasileira de
Farmacognosia, 11:1-4.
BOCHNER, R., FISZON, J.T., ASSIS, M.A. & AVELAR, K.E.S. 2012.
Problemas associados ao uso de plantas medicinais comercializadas no
Mercadão de Madureira, município do Rio de Janeiro, Brasil. Revista
Brasileira de Plantas Medicinais.14: 537-547.
BRANDÃO, M.G.L., ALVES, R.M.S., MOREIRA, R.A., OLIVEIRA, P., VIEIRA,
M.T. & MOREIRA-CAMPOS, L.M. 2002. Qualidade de amostras comerciais de
chás de plantas medicinais. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, 5: 5659.
CECHINEL FILHO, V. & YUNES, R.A. 1998. Estratégias para obtenção de
compostos farmacologicamente ativos a partir de plantas medicinais. Conceitos
sobre modificação estrutural para otimização da atividade. Química nova, 21:
99-105.
BRASIL. 2010. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA). Resolução – RE n° 14, de 31 de março de 2010, dispõe sobre Lista
de Registro Simplificado de Fitoterápicos. Diário Oficial da União, Poder
Executivo, Brasília, DF, 5.
BRASIL. 2013. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA). Resolução – RE n° 13, de 14 de março de 2013, dispõe sobre As
Boas Práticas de Fabricação de Produtos Tradicionais fitoterápicos. Diário
Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 19.
DE AZEVEDO, F.L. 2011. Avaliação da qualidade de diferentes marcas de chá
verde (Camellia sinensis) comercializadas em Salvador-Bahia. Universidade
Federal da Bahia.
FARIAS, M.R. 2010. Avaliação da qualidade de matérias primas vegetais. In:
SIMÕES, C.M.O., SCHENKEL, E.P., GOSMANN, G. et al. (orgs.).
Farmacognosia da planta ao medicamento. Santa Catarina: Editora da
UFSC, 2010. p.199- 222.
FARMACOPÉIA Brasileira. 2010. 5ª ed. Parte 1 e 2. Brasília: Agência Nacional
de Vigilância Sanitária.
FERREIRA, A. O. 2008. Guia prático da Farmácia Magistral. v.1 ed.3,
Pharmabooks.
15
MELO, E.A., MACIEL, M.I.S., LIMA, V.L.A.G. & SANTANA, A.P.M. 2009.
Capacidade antioxidante de hortaliças submetidas a tratamento térmico.
Revista da Sociedade Brasileira de Alimentos e Nutrição. 34: 85-95.
MELO, J. G., NASCIMENTO, V. T., AMORIM, E. L. C., ANDRADE LIMA, C. S.
& ALBUQUERQUE, U. P. 2004. Avaliação da qualidade de amostras
comerciais de boldo (Peumus boldus Molina), pata-de-vaca (Bauhinia spp.) e
ginco (Ginkgo biloba L.). Revista Brasileira de Farmacognosia. 14: 111-120.
NASCIMENTO, V.T., LACERDA, E.U., MELO, J.G., LIMA, C.S.A., AMORIM,
E.L.C. & ALBUQUERQUE, U.P. 2005. Controle de qualidade de produtos à
base de plantas medicinais comercializados na cidade do Recife-PE: erva-doce
(Pimpinella anisum L.), quebra-pedra (Phyllanthusspp.), espinheira santa
(Maytenus ilicifolia Mart.) e camomila (Matricaria recutita L.). Revista Brasileira
de Plantas Medicinais. Botucatu, 7: 56-64.
OLIVEIRA, A.C., VALENTIM, I.B. & GOULART, M.O.F. 2009. Fontes vegetais
naturais de antioxidantes. Química Nova. 32: 689-702.
SANTOS JUNIOR, J. C. M. 2003. Laxantes e Purgativos – O Paciente e as
Constipações Intestinais. Revista Brasileira de Coloproctologia. 23: 30-134.
SCOTTI, L., SCOTTI, M.T., CARDOSO, C., PAULETTI, P., CASTROGAMBOA, I., BOLZANI, V.S., VELASCO, M.V.R., MENEZES, C.M.S. &
FERREIRA, E.I. 2007. Modelagem molecular aplicada ao desenvolvimento de
moléculas com atividade antioxidante visando ao uso cosmético. Revista
Brasileira de Ciências Farmacêuticas, 43: 153-166.
SIMÕES, C.M.O., SCHENKEL, E.P., GOSMANN, G., MELLO, J.C.P., MENTZ,
L.A. & PETROVICK, P.R. 2010. Farmacognosia: da planta ao medicamento.
Porto Alegre: Editora da UFRGS, Florianópolis: Editora da UFSC. 6 ed, 1
reimp. 1102 p.
SILVEIRA, P.F., BANDEIRA, M.A.M. & ARRAIS, P.S.D. 2008.
Farmacovigilância e reações adversas às plantas medicinais e fitoterápicos:
uma realidade. Revista Brasileira de Farmacognosia. 18: 618-626.
VEIGA JUNIOR, V.F., PINTO, A.C. & MACIEL M.M. 2005. Plantas medicinais:
cura segura?. Química Nova. 28: 519-528.
ZUCCOLOTTO, T., APEL, M. & RATES, S.M.K. 1999. Avaliação da qualidade
de produtos fitoterápicos comercializados em Porto Alegre- RS. Revista do
Instituto Adolfo Lutz, 58: 25-31.
16
Download