Avaliação da qualidade de amostras comerciais de chás de Sene (Senna alexandrina Mill) e Cáscara Sagrada (Rhamnus purshiana D.C.) Diogo Zambeli Fontella1, Amanda Leitão Gindri1, 2* 1 Curso de Farmácia, Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI), Campus de Santiago. [email protected] 2 Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas, Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). *[email protected] Abstract This study evaluated the quality of sene (Senna alexandrina) and cáscara sagrada (Rhamnus purshiana) products, used as laxative in folk medicine. For this purpose, two samples of each plant were acquired. The samples were analyzed following the standard established by the Brazilian Pharmacopoeia, about the following aspects: label information, identification, organoleptic characteristics, determination of foreigner materials, determinations of pH, determinations of total ashes and acid insoluble ashes. The sample labels showed the absence of important data, such as common name and botanical nomenclature, type of plant material used, batch, operating instructions and Technical Manager. In the identification test all the samples was approved. In the organoleptic characteristics, one sample of cáscara sagrada was not in the pattern established by the literature. Sene samples were reproved in the determination of foreign materials, while in the pH test, the results were considered satisfactory. Only one sene sample were reproved in the total ashes determination assay. In the acid insoluble ashes test all the samples were approved. Sene samples did not reach the quality standards recommended by the Brazilian Pharmacopoeia, indicating quality deviation. Conversely, cáscara sagrada samples were in agreement with Brazilian Pharmacopoeia quality standards. These results highlight the importance of the strict control of the sanitary authorities Key-words: Fabaceaee, laxative, medicinal plants, Rhamnaceae, tea. 1 Resumo O presente estudo procurou avaliar a qualidade de produtos à base de sene (Senna alexandrina) e cáscara sagrada (Rhamnus purshiana), usados popularmente como laxantes. Para tal, foram adquiridas 2 amostras de sene e 2 amostras de cáscara sagrada. As amostras foram analisadas, confrontado os dados obtidos com parâmetros contidos em suas respectivas monografias na Farmacopéia Brasileira, sob os seguintes aspectos: rotulagem, identificação, características organolépticas, determinação de materiais estranhos, determinação de pH, determinação de cinzas totais e cinzas insolúveis em ácido. Nos rótulos de todas as amostras estavam ausentes dados importantes, como nome popular e nomenclatura botânica, tipo de material vegetal utilizado, lote, instruções de uso e Responsável técnico. Nos testes de identificação todos obtiveram resultados positivos e na análise de características organolépticas apenas uma amostra de cáscara sagrada mostrou-se fora dos padrões. No quesito materiais estranhos as amostras de sene foram reprovadas e quanto a determinação de pH os resultados foram considerados satisfatórios para todas as amostras. Quanto ao teor de cinzas totais somente uma amostra de sene foi reprovada, já na determinação de cinzas insolúveis em ácidos todas as amostras passaram no teste. As amostras de sene não atenderam aos critérios de qualidade preconizados em sua monografia, indicando um desvio de qualidade. Diferentemente, as amostras de cáscara sagrada foram consideradas dentro dos padrões. Os resultados obtidos neste trabalho ressaltam a importância de um controle mais rigoroso das autoridades sanitárias. Palavras-chave: Chá, Fabaceaee, laxativo, plantas medicinais, Rhamnaceae. 2 Introdução A utilização de plantas com fins medicinais para o tratamento, a cura e a prevenção de doenças, é uma das mais antigas práticas medicinais da humanidade. Com o passar dos tempos, o surgimento de novas tecnologias possibilitou à indústria farmacêutica o processamento das matérias-primas vegetais sob as mais diferentes formas farmacêuticas. No entanto, a forma mais rápida e popular de se utilizar uma planta medicinal continua sendo através de uma bebida muito antiga e bem conhecida, o chá (Santos Junior 2003, Veiga Junior, Pinto & Maciel 2005). No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), através da Resolução nº 14 de 2010, considera os chás como: “produtos constituídos de partes vegetais, inteiras, fragmentadas ou moídas, obtidas por processos tecnológicos adequados a cada espécie, utilizados exclusivamente na preparação de bebidas alimentícias por infusão ou decocção em água potável, não podendo ter finalidades farmacoterapêuticas” (Brasil 2010). Sendo assim, os mesmos não podem ser enquadrados como fitoterápicos, devendo ser comercializados como alimentos e, portanto, regulamentados e fiscalizados pelo Ministério da Agricultura. A composição química dos chás pode variar, não somente quanto à espécie e idade do vegetal, estação, clima, condições de cultivo, mas também pelas condições de armazenamento e tipo de processamento a que são submetidos (Scotti et al. 2007, Melo et al. 2009, Oliveira et al. 2009, De Azevedo 2011). Procedimentos inadequados de manipulação e o incorreto acondicionamento da planta medicinal tendem a aumentar a umidade do mesmo provocando o surgimento de bactérias e fungos. As toxinas produzidas por esses microrganismos podem representar riscos à saúde do consumidor, que variam desde a ausência dos efeitos benéficos até possíveis efeitos colaterais, uma vez que estes levam à destruição e/ou alteração dos princípios ativos do material vegetal tornando o chá impróprio para o consumo (Amaral et al. 2003). 3 Devido à grande demanda por produtos à base de plantas medicinais, consequência do significativo aumento do interesse do público brasileiro por terapias naturais, faz-se necessário investigar como os mesmos estão sendo oferecidos ao consumidor. Para tanto, as indústrias devem realizar o controle de qualidade desses produtos através de uma série de testes, preconizados por diferentes literaturas, como a Farmacopeia Brasileira, que tem início a partir da obtenção da matéria-prima, passando por todo o processo de produção, culminando com a análise do produto final. No entanto, a qualidade da matériaprima vegetal não garante a eficácia do produto, mas é fator determinante da mesma (Farias 2001, Nascimento et al. 2005). Vale lembrar ainda que, os chás medicinais vendidos em feiras e mercados populares na maioria das vezes não passam por nenhum tipo de controle de qualidade. Assim o consumidor corre o risco ingerir, juntamente com a planta desejada, misturas de outras plantas, muitas vezes sem finalidade terapêutica. A ingestão de metais pesados ou outros contaminantes que podem estar presentes acidentalmente nas amostras comercializadas também pode ocorrer (Veiga Junior, Pinto & Maciel 2005). Considerando o exposto, este projeto tem a finalidade de avaliar a qualidade de amostras de chás sene (Senna alexandrina Mill.) e cáscara sagrada (Rhamus purshiana) comercializadas no município de Santa Maria (RS), através das seguintes analises: testes de identificação, características organolépticas, pH, teor de cinzas totais e de cinzas insolúveis em ácido, bem como análise de rotulagem. A realização deste trabalho justifica-se pelo fato destas plantas, amplamente utilizadas pela medicina popular devido a seu efeito laxativo, serem de ampla comercialização no comércio popular. Com a realização deste estudo espera-se obter resultados dentro dos padrões de qualidade estabelecidos pelo compendio oficial no pais, a Farmacopeia Brasileira, 5ª edição (2010). Amostras dentro dos padrões de qualidade garantem à população a aquisição e uso de uma matéria-prima vegetal livre de adulterantes e contaminantes, o que previne, dessa forma, potenciais danos à saúde do consumidor. 4 Material e Métodos Amostras Foram adquiridas 2 amostras dos chás de cada espécie vegetal, sene (Senna alexandrina) e cáscara sagrada (Rhamnus purshiana), no formato a granel, comercializadas em mercados da cidade de Santa Maria, em março de 2014. Neste trabalho, as amostras estão determinadas como SE01 e SE02 para o sene e CS01 e CS02 para a cáscara sagrada. Análise de rótulos Os rótulos dos chás foram analisados de acordo com a RDC n°13/13 (Brasil 2013), que preconiza, no mínimo, a presença das seguintes informações: • Nomenclatura popular seguida de nomenclatura botânica; • Tipo de material vegetal utilizado, quando não se tratar de preparações extemporâneas; • Quantidade; • Número de lote; • Data de validade; • Informações sobre condições de armazenagem ou precauções de manuseio especiais que possam ser necessárias; • Instruções de uso, bem como avisos e precauções que possam ser necessários, conforme legislação sanitária específica; • Nome e endereço da empresa fabricante e seu responsável técnico. Identificação Para identificação do Sene (SE) seguiu-se técnica padronizada pela Farmacopéia Brasileira (2010) onde, a 25 mg da droga pulverizada foram adicionados 50 ml de água e 5 ml de ácido nítrico. Após aquecimento em banho-maria por 15 minutos, foram adicionados 40 ml de éter etílico. Após dessecação da fase etérea com sulfato de sódio anidro, transferiu-se 5 ml da 5 solução restante para um cadinho de porcelana, que foi levado a secura total em banho-maria (40°C). O cadinho contendo o resíduo seco foi alcalinizado com hidróxido de amônio (Farmacopeia Brasileira 2010). Para identificação de cáscara sagrada (CS) foram utilizados dois testes, o primeiro em corte transversal da amostra e o segundo com a droga pulverizada. No primeiro teste, a droga foi umedecida com hidróxido de amônio. No segundo teste foi adicionado a 0,1 g da droga pulverizada, 10 ml de água fervente. Esta mistura foi agitada durante 5 minutos, resfriada e filtrada. O filtrado foi diluído com 10 ml de água e 10 ml de hidróxido de amônio 6M (Farmacopeia Brasileira 2010). Características organolépticas Cor Os chás foram examinados à luz do dia, a olho nú, antes do início dos ensaios (Farmacopeia Brasileira 2010). Odor Uma pequena amostra do material foi analisada em placa de Petri, onde foi inalada lenta e repetidamente. Quando o odor foi indistinto, parte do material foi pressionado entre os dedos e inalado novamente. Os resultados foram expressos em relação à intensidade (nenhum, fraco, distinto ou forte) e sensação (odor aromático, frutoso, mofado ou rançoso) causados pelo odor (Farmacopeia Brasileira 2010). Determinação de materiais estranhos As drogas vegetais – 2 g de cada amostra – foram dispostas em placas de Petri e analisadas macroscopicamente. Os materiais estranhos foram separados manualmente e pesados. O conteúdo de matéria estranha não deve ultrapassar 1% para cáscara sagrada e 5% para sene, conforme o compêndio 6 oficial (Farmacopeia Brasileira 2010). Os resultados serão expressos em média ± Desvio padrão (DP). Determinação do pH Esta determinação foi realizada em infusões à 1% (m/v) das drogas vegetais. Após a filtragem e resfriamento das soluções, as leituras foram analisadas em pHmetro (TECNOPON, mPA210, Piracicaba, SP, Brasil) previamente calibrado (Farmacopeia Brasileira 2010). Os resultados serão representados pela média de 3 determinações ± Desvio padrão (DP). Determinação de cinzas totais Previamente, o cadinho de porcelana foi calcinado em mufla a 450 ºC, por 30 minutos. Após o resfriamento em dessecador por 15 minutos, seu peso foi determinado em balança analítica. A seguir, foram pesados exatamente 3 g do pó das amostras, os quais foram uniformemente distribuídos e submetidos à calcinação em mufla à temperatura de 450 °C, por 2 horas. Os cadinhos foram deixados em dessecador para arrefecimento, durante 30 minutos, e pesados a seguir (Farmacopeia Brasileira 2010). A análise foi realizada em duplicata. Os resultados serão expressos na forma de porcentagem por peso (%, p/p) de cinzas na droga seca e representados a média de duas determinações para cada amostra vegetal ± Desvio padrão (DP). Determinação de cinzas insolúveis em ácidos Os resíduos obtidos na determinação de cinzas totais foram fervidos, por 5 minutos, com 25 mL de solução de ácido clorídrico a 7% (m/v) em cadinhos cobertos com vidro de relógio. Em seguida, o vidro de relógio foi lavado com 5 mL de água quente, sendo esta transferida para o cadinho. O resíduo insolúvel em ácido foi recolhido em papel de filtro isento de cinzas, e lavado com água quente até que o filtrado se mostrasse neutro. O papel de filtro contendo o resíduo foi então transferido para o cadinho original, que sofreu secagem prévia em chapa quente com posterior incineração a 500ºC, até peso 7 constante. Por fim, a porcentagem de cinzas insolúveis em ácido em relação à droga foi calculada (Farmacopeia Brasileira 2010). Os resultados serão representados pela média de 2 determinações ± Desvio padrão (DP). Resultados Todas as amostras analisadas apresentaram não conformidades com relação às informações consideradas pertinentes ao rótulo (Tabela I). A amostra SE01 foi a que mais apresentou irregularidades ou ausência de informações, três no total, seguida pelas amostras de cáscara sagrada, com duas irregularidades cada e por último a amostra SE02 com uma irregularidade. Cabe ressaltar que também foram verificadas falhas na impressão dos rótulos nas amostras SE02 e CS02, comercializados pela mesma empresa. Isto dificulta a leitura das informações, podendo levar a riscos na identificação e/ou uso dos chás. Tabela I. Análise de rótulos das amostras de sene e cáscara sagrada. Itens analisados SE01 SE02 CS01 CS02 Nome popular seguido de Ausente Presente* Presente Presente nomenclatura botânica Tipo de material vegetal utilizado Ausente Presente Ausente Ausente Quantidade Presente Presente Presente Presente Lote Presente Presente Presente Ausente Validade Presente Presente Presente Presente Condições de armazenagem Presente Presente Presente Presente Instruções de uso Ausente Presente Ausente Presente Nome e endereço da empresa Presente Presente Presente Presente fabricante Responsável técnico Presente Ausente Presente Presente *Nome científico apresentado em sua sinonímia: Cassia angustifólia. De acordo com a análise das características organolépticas (Tabela II), as amostras de sene mostraram-se dentro dos padrões da Farmacopéia Brasileira (2010) para cor e odor, bem como a amostra de cáscara sagrada CS01. Somente a amostra CS02 apresentou resultados fora dos padrões do referido compêndio (Farmacopeia Brasileira 2010). 8 Tabela II. Características organolépticas dos chás de sene (SE) e Cáscara sagrada (CS). Característica Cor Odor SE01 Verde Acinzentado Fraco e aromático SE02 Verde acinzentado Fraco e aromático CS01 Marrom púrpura Distinto e aromático CS02 Marrom Púrpura Forte e mofado Todas as amostras obtiveram resultado positivo nos testes de identificação propostos por suas respectivas monografias. As amostras de sene apresentaram coloração avermelhada idêntica (Figura I). As amostras de cáscara sagrada, no teste de corte transversal apresentaram colorações avermelhadas semelhantes no primeiro teste de identificação (Figura IIA), entretanto foi evidenciada uma diferença significativa na intensidade de cor no segundo teste, com as amostras pulverizadas, com CS01 apresentando coloração alaranjado fraco e CS02 coloração alaranjado forte (figura IIB). Figura I. Teste de identificação do Sene A B Figura II. Testes de identificação com a cáscara sagrada. A. Primeiro teste com droga em corte transversal. B. Segundo teste com droga pulverizada. 9 As amostras de cáscara sagrada obtiveram resultados satisfatórios no ensaio de presença de materiais estranhos (Tabela III), apresentando resultado inferior ao limite de 1% preconizado pela Farmacopeia Brasileira (2010). Já as duas amostras de Sene ultrapassaram o limite de 5% determinado pela literatura, destacando-se a amostra SE01, que apresentou um valor 25% acima do limite estabelecido em sua monografia. Tabela III. Presença de materiais estranhos. Amostras Quantidade de material estranho (g) ± DP SE01 0,156 ± 0,001 SE02 0,118 ±0,001 CS01 0,0176 ±0,001 CS02 0,0138 ±0,002 DP: Desvio Padrão % 7,8% 5,9% 0,88% 0,69% Os resultados obtidos na análise de pH (Tabela IV) foram considerados satisfatórios, pois, apesar de não existirem valores de referência para este ensaio na Farmacopeia Brasileira (2010) as infusões preparadas apresentaram valores na mesma faixa de pH - entre 6,1 e 6,4. Tabela IV. Resultados obtidos na determinação de pH. SE01 pH ± DP 6,1 ± 0,07 DP: Desvio Padrão SE02 6,3 ± 0,01 CS01 6,4 ± 0,1 CS02 6,1 ± 0,1 Na tabela a seguir estão descritos os resultados de teor de cinzas totais (Tabela V). As amostras de sene apresentaram teores de cinzas totais superiores às da cáscara sagrada. A amostra SE01 foi aprovada no teste, entretanto SE02 apresentou valor superior ao limite máximo estabelecido pela Farmacopéia Brasileira (2010) para esta droga (12%). Para cáscara sagrada, ambas as amostras apresentaram valores satisfatórios, com relação à sua monografia neste compêndio oficial (Farmacopeia Brasileira 2010) (6%). 10 Tabela V. Teor de cinzas totais. Amostra Repetição Quantidade de cinzas Teor (%) Teor Médio (%) ± DP 1 2 0,300 g 0,322 g 10 % 10,7 % 10,35 ± 0,15 SE01 1 0,374 g 12,46 % 12,36 ± 0,004 0,368 g 0,133 g 0,132 g 12,26 % 4,4 % 4,41 % 4,4 ± 0,001 CS01 2 1 2 CS02 1 2 0,149 g 0,153 g 4,96 % 5,1 % SE02 5 ± 0,028 DP: Desvio Padrão Sene e Cáscara Sagrada apresentaram resultados satisfatórios para o teor de cinzas insolúveis em ácidos (Tabela VI), mostrando resultados ínfimos. Dessa forma, as drogas foram aprovadas neste teste, pois não ultrapassaram os limites máximos descritos pela Farmacopéia Brasileira (2010), que são 3% para o sene e 2% para a cáscara sagrada. Tabela VI. Teor de cinzas insolúveis em ácidos. Amostra Repetição SE01 SE02 CS01 CS02 1 2 1 2 1 2 1 2 Quantidade de cinzas insolúveis 0,005 g 0,004 g 0,002 g 0,002 g 0,002 g 0,003 g 0,001 g 0,003 g Teor (%) Teor médio (%)± DP 0,16% 0,145 ±0,001 0,13% 0,06% 0,06 ±0,00 0,06% 0,06% 0,08 ±0,001 0,1% 0,03% 0,065 ± 0,001 0,1% DP: Desvio Padrão 11 Discussão O comércio de plantas embaladas e rotuladas ainda é bastante precário no Brasil (Bochner et al. 2012). Os rótulos devem ter dimensões necessárias à fácil leitura e ser redigido de modo a facilitar o entendimento do consumidor (Farmacopéia Brasileira 2010). A análise de rotulagem todas as amostras (SE01, SE02, CS01, CS02) evidenciaram problemas de rotulagem. Dessa forma, o consumidor não recebe as informações necessárias sobre o produto, caracterizando um descaso por parte dos fabricantes. A ausência do lote verificada na amostra CS02 é preocupante, pois esta informação é essencial para rastreio do produto por parte do fabricante (Brasil 2013). As instruções de uso, ausentes nas amostras SE01 e CS01 são informações necessárias para que a população saiba usar corretamente o fitoterápico. Erros de utilização de plantas medicinais já foram descritos em vários trabalhos (Bochner et al. 2012, Silveira, Bandeira & Arrais 2008, Veiga Junior, Pinto & Maciel 2005). Outros dados que não constaram nas embalagens foram nomenclaturas botânicas, tipo de derivado utilizado e responsável técnico, reforçando a não conformidade com a RDC n°13/2013. As características organolépticas (cor, sabor e odor) são parâmetros que devem ser avaliados no controle de qualidade de drogas vegetais (Farmacopéia Brasileira 2010, Ferreira 2008). Drogas vegetais devem estar isentas de fungos, insetos e outros materiais contaminantes, bem como não devem apresentar aspecto ou odor anormal, descoramento ou quaisquer indícios de deterioração (Farmacopéia Brasileira 2010). A diferença encontrada no odor da amostra CS02, que a deixou fora do padrão estabelecido pela literatura possivelmente deve-se ao local e época de coleta, ou processo de secagem e armazenagem (Simões et al. 2010; Cechinel Filho & Yunes, 1998) Cabe ressaltar que todas as amostras se encontravam dentro do prazo de validade estabelecido, portanto, a diferença de odor não pode ser considerada um fator de decomposição da amostra, e sim, pode ter sido promovida por um processo de secagem e armazenamento da planta ou embalagem e armazenamento do produto no local de comércio. Os testes de identificação são reações usadas no auxílio da caracterização de uma substância. São testes inespecíficos, mas suficientes 12 para estabelecer ou confirmar a identidade da droga vegetal somente quando em conjunto com outros testes e especificações constantes na monografia (Farmacopéia Brasileira 2010) Diferenças na intensidade de coloração foram observadas no teste de identificação com a cáscara sagrada. Apesar de poderse considerar o resultado satisfatório devido ao fato do padrão de cor descrito pela Farmacopéia Brasileira para esta planta ser alaranjado, há uma hipótese de estar ocorrendo uma variação na composição e/ou concentração de metabólitos secundários nas duas drogas vegetais em questão. Estudos mais aprofundados de composição química seriam necessários a fim de comprovar esta teoria. Materiais estranhos à droga podem ser partes do organismo o qual a droga deriva (além dos incluídos na definição da droga), acima do limite especificado na monografia, qualquer organismo, porção ou produto de organismos estranhos e impurezas de natureza mineral não inerente à droga (Farmacopéia Brasileira 2010). Na análise de materiais estranhos as amostras SE01 e SE02 foram reprovadas, pois apresentaram uma quantidade de material estranho acima do limite máximo de 5% (Farmacopéia Brasileira 2010), com destaque para SE01 que apresentou um valor muito acima do permitido (7,8%) mostrando um grau baixo de pureza. Os índices superiores ao permitido de matéria estranha para os produtos se devem possivelmente ao manejo, limpeza e separação inadequadas, sendo um problema frequente nos produtos à base de plantas medicinais comercializados no Brasil (Zuccolotto et al.1999, Barbosa et al. 2001, Amaral et al. 2003, Brandão et al. 2002, Melo et al. 2004). A determinação do teor de cinzas totais destina-se a estabelecer a quantidade de substância residual não volátil no processo de incineração especificado. Nas cinzas totais incluem as derivadas do tecido vegetal, denominadas cinzas fisiológicas, e de materiais estranhos, como areia e terra aderente à superfície da droga, sendo denominadas cinzas não fisiológicas (Farmacopeia Brasileira 2010). O valor elevado de SE02 indica uma irregularidade nesta droga vegetal. Este valor elevado pode ser relacionado com um consequente processo de produção ineficiente, uma contaminação com outras plantas ou por impurezas inorgânicas. 13 As cinzas insolúveis em ácidos são os resíduos obtidos na fervura de cinzas totais ou sulfatadas com ácido clorídrico diluído, após filtragem, lavagem e incineração. Este método destina-se à determinação de sílica e constituintes silicosos da droga (Farmacopeia Brasileira 2010). Estes resultados demonstram qualidade dos produtos neste aspecto, já que uma quantidade de cinzas insolúveis em ácido acima da estabelecida para a matéria-prima vegetal influencia negativamente na qualidade do chá (Simões et al. 2004, De Azevedo 2011). Através dos resultados obtidos a partir dos produtos à base de sene (Senna alexandrina mill) e cáscara sagrada (Rhamnus purshiana) foi observado que a rotulagem se mostrou deficiente em vários pontos, o que é preocupante, pois a ausência de informações essenciais pode causar vários danos à população que o utiliza. As informações obtidas nos ensaios de características organolépticas e identificação indicam que as plantas utilizadas são realmente o que o rótulo retrata. A presença de um excesso de materiais estranhos em sene, pode ser o indicio de uma contaminação cruzada com outras espécies vegetais ou uma falha no processo de fabricação e controle de qualidade desta planta, o que é reafirmado pelo teor de cinzas elevado em SE02. Entretanto, os resultados de cinzas insolúveis em ácido dentro dos padrões estabelecidos são indicativos de qualidade. Os valores de pH obtidos demonstraram estabilidade das infusões destas plantas. Por fim, certificou-se que as amostras de sene não atenderam aos critérios de qualidade preconizados em sua monografia, podendo oferecer um risco a população. Já as amostras de cáscara sagrada foram consideradas dentro dos padrões, podendo ser comercializadas sem risco. Entretanto, se faz essencial um controle de qualidade mais rígido por parte dos órgãos regulatórios e da fiscalização, bem como a criação de leis mais severas para este tipo de produto, a fim de aumentar a segurança e eficácia dos mesmos. 14 Referências bibliográficas AMARAL, F.M.M., COUTINHO, D.F., RIBEIRO, M.N.S. & OLIVEIRA, M.A. 2003. Avaliação da qualidade de drogas vegetais comercializadas em São Luís/Maranhão. Revista Brasileira de Farmacognosia, 13: 27-30. BARBOSA, M.C.S., BELLETTI, K. M. S., CORRÊA, T. 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